Diário ficcional: O QUE LELÊ VAI SER QUANDO CRESCER?
José Roberto Torero
Ontem foi o maior chato.
É que eu tive que ir numa festa de
adulto porque a minha mãe não tinha com quem me deixar. E festa de adulto é o
maior chato.
Mas o
pior é que em festa de adulto eles falam com a gente como se a gente fosse meio abobado.
Tipo assim, quando eu perguntei onde
era o banheiro, a dona da casa respondeu:
-- “O banheiro é ali. Você já vai
sozinho?”.
Depois, um cara com cara de velho, mas
cabelo bem preto me perguntou:
-- “Quantos anos você tem? Seis ou
sete?”
E uma mulher com unha comprida falou:
-- “Sabe que você está a cara da sua
mãe?”
Deu vontade de responder: “A cara da
minha mãe?! Então eu vou fazer plástica porque eu sou menino e ela é mulher!”.
Para o homem de cabelo preto eu ia
dizer: “Eu tenho quase nove, mas um dia vou ter cento e vinte que nem você!”.
E para a dona da casa eu ia falar:
“Não, não sei ir ao banheiro sozinho. Eu uso fralda!”
Pô, adulto não sabe conversar direito!
Mas o pior mesmo é que todo mundo quer
saber o que você vai ser quando crescer.
Parece que é só o que eles sabem falar:
“O que você vai ser quando crescer?”, “O que você vai ser quando crescer?”, “O
que você vai blá-blá-blá…”
Teve um casal que chegou perto de mim e
aí ela falou assim:
-- “O que você vai ser quando crescer,
Leocádio? Acho que você vai ser médico. Aposto que você vai ficar superbem de
branco.”
E aí o marido dela disse:
-- “Que nada! Ele vai ser é jogador de
futebol.”
-- Médico!
-- Jogador de futebol!
-- Médico!
-- Jogador de futebol!
-- Médico!
-- Jogador de futebol!
E aí eles começaram a brigar e eu saí
dali porque eu sei que não vou ser nenhuma dessas coisas porque eu sou grosso
no futebol e, quando eu uso roupa branca, eu sempre fico o maior sujo.
Bom, eu ainda não sei o que eu quero
ser quando crescer, mas eu já pensei em um monte de coisas:
·
eu podia ser palhaço porque é legal fazer os
outros darem risada;
·
podia ser astronauta porque fazer viagens
espaciais é bacana;
·
podia ser escritor que nem o meu tio porque ele
trabalha em casa e sempre dá uma paradinha para jogar Playstation;
·
e podia ser motorista de táxi porque eles
passeiam o dia todo e ainda ganham dinheiro para isso (sem falar que eles devem
ser o maior inteligente porque sempre sabem a solução para tudo).
Depois eu fiquei pensando que, quando
os adultos perguntam o que você vai ser quando crescer, eles querem saber é “em
que você vai trabalhar quando crescer.” Mas isso é esquisito porque a gente não
é um trabalho.
Os adultos não querem saber se eu vou
querer morar numa praia ou num morro, se eu vou querer ter um monte de filho ou
nenhum, se eu vou ser engraçado ou sério, se eu vou querer ler muitos livros ou
ver muita tevê, se eu vou ser alegre ou triste, se eu vou ser alto ou baixinho.
Eles só querem saber no que eu vou trabalhar.
Então eles tinham que perguntar: “No
que você vai trabalhar?”, e não “O que você vai ser?”.
Da próxima vez que um adulto me
perguntar o que que eu quero ser quando crescer, eu não vou responder uma
profissão porque eu não quero ser um trabalho, eu quero ser outras coisas
também.
Quando eu crescer eu quero ser sabido
(que nem motorista de táxi), quero saber fazer piada (que nem palhaço), viajar
muito que nem astronauta (pode ser aqui na Terra mesmo), e jogar Playstation
que nem o meu tio (que nem ele, não, melhor, porque ele é meio ruim).
E também quero ser altão, alegre, morar
na praia, ler livro e ver tevê ao mesmo tempo.
Ah, e eu quero ser legal. Mesmo que eu
não seja palhaço, astronauta, escritor ou motorista de táxi.
JOSÉ ROBERTO TORERO. As
primeiras histórias de Lelê. São Paulo: Panda Books, 2007. P.12-14. (Adaptado).
Fonte: Coleção Desafio
Língua Portuguesa – 5° ano – Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Roberta
Vaiano – 1ª edição – São Paulo, 2021 – Moderna – p. MP108-MP113.
Entendendo o diário ficcional:
01 – Leia, em voz alta, o
texto de José Roberto Torero. Depois, releia em voz alta o trecho a seguir
desse mesmo texto.
“É chato porque não tem outras
crianças para brincar, porque a tevê fica desligada, porque não tem vídeo game
e porque não tem cachorro-quente nem sorvete, só uns pãezinhos pequeninhos com
umas gosmas em cima.”
a) A palavra porque, nesse trecho, reforça os motivos pelos quais a personagem acha a festa chata. Reescreva esse trecho usando a palavra porque uma única vez.
É chato porque não tem outras crianças para brincar, a tevê
fica desligada, não tem vídeo game e não tem cachorro-quente nem sorvete, só
uns pãezinhos pequeninhos com umas gosmas em cima.
b) Leia, em voz alta, as palavras retiradas do trecho:
Porque
– brincar – fica – cachorro-quente – pequeninos.
· O que você observa ao pronunciar as letras c ou qu nessas palavras?
Resposta pessoal do aluno.
c) Agora complete outras palavras com c ou qu.
·
Quadro.
·
Mosquito.
·
Quatro.
·
Casaco.
·
Queijo.
·
Xerocar.
·
Turístico.
·
Aquático.
02 – Leia três vezes as
palavras do quadro abaixo o mais rapidamente que puder.
Crescer – amadurecer –
florescer – fortalecer – nascer – engrandecer – decrescer – enfraquecer –
falecer – perecer – esmorecer – esmaecer.
a) Algumas dessas palavras do quadro podem ser o antônimo uma da outra. Identifique-as e escreva-as. Em seguida, leia cada palavra e seu(s) antônimo(s) duas vezes.
Crescer: decrescer; fortalecer: enfraquecer/esmorecer; nascer:
falecer/perecer.
b) Copie no caderno as palavras do quadro, separando-as em duas colunas: palavras escritas com c e palavras escritas com sc (todas com som de s). Depois, complete as colunas com outras palavras escritas da mesma forma.
Palavras com c: amadurecer, enfraquecer, falecer, perecer,
esmorecer, engrandecer, esmaecer.
Palavras com sc: crescer, decrescer, florescer, nascer.
Outras palavras: resposta pessoal do aluno.
03 – A história contada por
Lelê parece ser um desabafo.
a) Por que Lelê está desabafando?
Ele está indignado pois teve de ir a uma festa de adultos.
b) Qual o adjetivo ele utiliza para caracterizar o tipo de festa em que estava?
Chato.
c) No terceiro e no quarto parágrafo, Lelê enumera cinco razões que justificam seu desabafo. Qual dessas razões tem maior grau de importância para ele? Justifique com uma expressão do texto.
Os adultos falam com as crianças como se elas fossem meio abobadas.
O narrador usou a expressão “o pior é” ao apresentar essa razão.
04 – Você concorda com todos
os argumentos usados pelo narrador para justificar sua indignação?
Acrescentaria outros? Comente.
Resposta pessoal do aluno.
05 – Leia estas frases e
compare-as.
“Mas o pior mesmo é que todo
mundo quer saber o que você vai ser quando crescer”.
“Mas o pior é que todo mundo
quer saber o que você vai ser quando crescer.
· A palavra mesmo provoca diferença de sentido entre os trechos? Por quê?
Sim. Ela modifica o sentido da expressão “o pior é que”,
acrescentando ao fato um grau de importância mais elevado.
06 – Releia:
“O que você vai ser quando crescer, Leocádio?
Acho que você vai ser médico. Aposto que você vai ficar superbem de branco.”
a) Por que a mulher achava que Lelê seria médico?
Porque, segundo ela, ele ficaria bem vestindo roupa branca.
b) Na sua opinião, essa justificativa foi satisfatória? Explique.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Não, uma vez que a boa
aparência do garoto usando roupa branca não significa que ele será um bom
profissional.
07 – Para Lelê, a pergunta “O
que você vai ser quando crescer?” deveria ser outra.
a) Qual seria a pergunta mais adequada na opinião do menino?
“Em que você vai trabalhar quando crescer?”.
b) Por que ele propôs essa substituição?
Porque, na opinião dele, quando os adultos fazem essa pergunta, estão interessados apenas em saber em que a criança vai trabalhar quando crescer
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