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sexta-feira, 1 de agosto de 2025

DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: COMO, ONDE E QUANDO NASCEU A LÍNGUA PORTUGUESA? FRAGMENTO - ATALIBA T. DE CASTILHO - COM GABARITO

 Divulgação Científica: Como, onde e quando nasceu a língua portuguesa? – Fragmento

            Ataliba T. de Castilho (USP, CNPq)

        [...]

        Para saber como, onde e quando nasceu a Língua Portuguesa, precisaremos em primeiro lugar entender o que é a Europa Latina.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWH8-7IStAW0mwItCkWDRzc3wmIQsaTozyvU2rjoxJs4Y6rdCFvHPC54IK8faUp1CBIyqp3RXVB1ctcYvRPAY8Fexm5AwKt0YnNxRbfrA1Qhmnr2nmVRcZ-TEJHksjPQAFWgLEFkwnGOcG4tXdo2Ffy6vVDhA-aoxVz92Z34iSbYMz9KId-molIT4uRss/s320/maxresdefault.jpg


        [...]

        Tópico 1

        Pra começo de conversa, você sabia que existe a América Latina, mas sabia também que existe uma Europa Latina? Pois é, além de América Latina também existe uma Europa Latina. É isso mesmo, só que ao contrário. É porque existiu uma Europa Latina que temos hoje uma América Latina, onde se falam o Português, o Espanhol e o Francês, trazidos pelos colonizadores.

        A Europa Latina é a parte europeia do que sobrou do Império Romano. O Império Romano desapareceu enquanto organização política e administrativa, mas sua cultura continua viva, sendo cultivada, por exemplo, aqui no Brasil! Daí a importância em conhecer a Europa Latina.

        [...]

        Tópico 2

        Os romanos invadiram a Península Ibérica entre 197 antes de Cristo e 400 depois de Cristo. Quem diria, dois mil anos mais tarde, nós aqui no Brasil estamos falando uma língua latina! Quando os romanos conquistaram a Península Ibérica eles atiraram (lanças e flechas) no que viam (os coitados dos ibéricos) e acertaram no que não viam (os povos da América Latina).

        [...]

        Mas enfim, o que levou os romanos a invadirem a Península Ibérica foi uma razão tão simples quanto antiga: a ambição humana.

        [...]

        O sul da Península foi rapidamente submetido, mas o norte e o centro permaneceram por muito tempo na mão dos antigos donos do negócio. O norte foi particularmente resistente, graças à chefia de Viriato, chefe dos Lusitanos. Em 139 a.C. eles foram atraiçoados e eliminados pelos romanos. Um ano antes tinha sido fundada a cidade de Felicitas Julia Olisipo, atual Lisboa.

        [...]

        A Hispânia Citerior foi colonizada por militares, tendo-se ali desenvolvido uma cultura mais rural, menos desenvolvida economicamente, mais ligada a Roma, de onde era accessível por terra. Em consequência, o Castelhano ou Espanhol, ali desenvolvido, seria mais inovador, transformando mais fortemente o Latim Vulgar. O Catalão se constitui num caso à parte, com sua natureza de “língua-ponte”, assumindo propriedades linguísticas da Ibero-România e da Galo-România: Baldinger (1962).

        [...]

        Tópico 3

        Agora que ficou clara a importância do Latim Vulgar, seria o caso de ler algum texto escrito nessa língua.

        Pois é, meu caro, desta vez não vai dar! O Latim Vulgar era só falado, e falado por quem não dominava a escrita – sendo que naqueles tempos, ainda por cima, poucos indivíduos dominavam a escrita. Para piorar as coisas, os japoneses ainda não tinham inventado o gravador eletrônico portátil. O jeito então é comparar as línguas românicas entre si, pois sendo descendentes do Latim Vulgar, guardaram traços dele. É como diziam os antigos: “quem sai aos seus não degenera”. [...]

        Para ajudar na reconstituição do Latim Vulgar, também se pode buscar por aí um ou outro texto latino que tenha documentado essa variedade, como as comédias romanas, as inscrições em arcos-do-triunfo e em pedras tumulares, os grafitti em paredes que tenham sobrevivido (como em Pompéia, por exemplo), e por aí vai. Mas é preciso tomar cuidado com esses testemunhos, pois é evidente que quem os escreveu sabia Latim Culto, e pode ter misturado sem querer as duas variedades.

        [...]

        Tópico 4

        A latinização da Península Ibérica pelos romanos e a existência de povos e culturas pré e pós-romanos no território criaram as condições para o surgimento do Português. Vamos ver isso passo a passo. A expansão romana pela Europa teria como resultado o surgimento de um grande conjunto de línguas, denominadas línguas românicas, derivadas do Latim Vulgar. Entre os últimos tempos do Latim e o surgimento das línguas românicas, aproximadamente entre os anos 600 e 1000, falou-se na Europa o Romance. [...]

        Subtópico 4.1

        Os cidadãos romanos tinham consciência das variedades de Latim que estavam usando, tal como hoje, quando distinguimos o Português Culto do Português Popular. Naquele tempo, as variedades do Latim eram reconhecidas e designadas pelas expressões latine loqui, isto é, falar Latim Culto, e romanice loqui, isto é, falar o Latim Vulgar dialetado que se espalharia pela Europa.

        O advérbio romanice, que aparece na expressão romanice loqui, mudaria foneticamente para Romance, passando a designar primeiramente a resultante europeia da dialetação do Latim Vulgar por toda a Europa Latina, e posteriormente um gênero literário – precisamente as narrativas redigidas nessa língua, intermediária entre o Latim Vulgar e as futuras línguas românicas. É no primeiro desses sentidos que se toma aqui a palavra Romance.

        O período Romance não é conhecido em detalhes. Tudo o que se sabe é que o Romance variava geograficamente, e já não podia mais ser considerado como Latim, dadas as profundas alterações operadas na gramática da língua de Roma, nem era ainda algumas das línguas românicas que hoje conhecemos. A própria duração do Romance variou no tempo: na França, ele parece ter sido extinto em 800, quando surge o primeiro documento em Francês, os Juramentos de Estrasburgo, de 838. Na Ibéria o “prazo de validade” do Romance foi mais extenso, e ele deve ter sobrevivido até 1100. Você sabe, os bons ares do lugar, o azeite, o queijo e o vinho...

        [...]

        Subtópico 4.3

        A Ibéria não era nenhum deserto humano quando os Romanos chegaram. Eles encontraram aqui os Bascos ou Iberos, aquele povo não Indoeuropeu, e ainda os Celtas, os Ambroilírios, os Fenícios ou Cartagineses (a quem derrotaram) e os Gregos.

        [...]

        Nenhum desses povos conseguiu preservar sua língua diante do avanço romano, com exceção dos Bascos. O Latim Vulgar receberia deles contribuições lexicais, tendo preservado sua morfologia e sua sintaxe. É por isso que o Galego, o Português e o Castelhano mantêm até hoje uma gramática neolatina.

        [...]

        Subtópico 4.4

        A Península Ibérica não virou um paraíso na terra só porque os romanos tinham chegado e tomado conta do pedaço.

        Estavam os descendentes dos romanos muito felizes com suas novas propriedades hispânicas, quando o lugar entrou na mira dos germanos. Logo os germanos, que tanta confusão já tinham armado no coração mesmo do Império, e que acabariam por dar-lhe fim, em 497 d.C.! Mas não apenas os germanos fizeram estripulias no lugar! Mal começada a Era Moderna, lá vieram os Árabes acabar com a graça dos descendentes dos invasores germânicos.

        [...]

        Tópico 6

        O Português Arcaico foi falado e escrito entre os sécs. XIII e XVI, mais precisamente, até o ano de 1540.

        Se há um assunto complicado é o da datação das línguas e das fases históricas pelas quais elas passaram. Pense um pouco. A história dos povos exige datas, afinal ela é uma narrativa de eventos que se dispõem na linha do tempo. Até aí tudo bem. O problema é que na história das línguas só podemos datá-las através de documentos nos quais elas apareçam escritas. Ora, quando uma dada língua chega a ser escrita, é por que já vinha sendo falada há muito tempo! Há quanto tempo? Impossível saber. De modo que vamos olhar estas datas todas com um pé atrás, entendendo que elas são aproximativas.

        Neste quadro de dificuldades, diversos autores têm trabalhado com a hipótese de que o Português surgiu quando se deixou de escrever documentos no Romance do Noroeste da Península, adotando-se a língua que decerto já vinha sendo falada há tempos. Ora, isso se deu por volta de 1200, talvez um pouco antes, isto é, entre o séc. XII e o séc. XIII. Logo, podemos dizer – até que se descubram documentos mais antigos – que o Português se formou nessa data, e que portanto já existe há 800 anos. Velhinho, hein? Pois não é não. O Francês é pouco mais de três séculos mais velho, e o Castelhano existe desde 900 e tal. Imagine então a idade das línguas da Índia, da China e do Japão!

        [...]

        Tópico 7

        Levou tempo para que se tomasse consciência do Português como uma nova língua. Tiveram importância nesse ofício duas instituições, que agiram como centros irradiadores de cultura na Idade Média: os mosteiros, onde se levavam a cabo traduções de obras latinas, francesas e espanholas (Mosteiros de Santa Cruz e Alcobaça) e a Corte, para a qual convergiam os interesses nacionais. Escreviam ali fidalgos e trovadores, aprimorando a língua literária.

        Constituída essa consciência linguística, passamos ao século XVI, quando o debate hoje rotulado como “a questão da língua”, além da publicação das primeiras gramáticas e dicionários, focalizaram a importância do Português, sua expansão e sua oposição ao castelhano.

        Gramáticos portugueses dos séculos XVI e XVII proclamam as virtudes da língua pátria, capaz de veicular quaisquer tipos de sentimentos e arrazoados. Eles se opunham àqueles que julgavam as línguas românicas veículos toscos, insuficientes para as altas criações do espírito. E aqui entra Camões, com seus célebres versos.

        E na língua, na qual quando imagina

        Com pouca corrupção crê que é a Latina (Lus. I, 33)

        A ninguém passou despercebida a relação entre a expansão do Império e a Língua Portuguesa, que seria levada aos quatro cantos do mundo. Escritos evidenciam essa percepção, como se pode ler nos primeiros gramáticos, um dos quais, João de Barros, escreveu as Décadas da Ásia, em que trata igualmente do assunto.

        [...]

        Finalmente, o Romantismo vem encontrar os gramáticos atentos ao gênio da língua e ao papel do povo em sua elaboração. Já agora a questão da língua é entregue à ciência, personificada em Francisco Adolfo Coelho, fundador da Linguística Portuguesa. A história da língua passa a incorporar a língua não escrita. E nisto estamos.

        [...]

Ataliba T. de Carvalho. Como, onde e quando nasceu a língua portuguesa? Disponível em: http://www.museudalinguaportuguesa.org.br/files/mlp/texto_9.pdf. Acesso em: 3 fev. 2015. p. 01-36.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 8º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 25-28.

Entendendo a divulgação:

01 – O que é a Europa Latina e qual sua importância para a língua portuguesa?

      A Europa Latina é a parte europeia que restou do Império Romano. É importante porque, embora o Império Romano tenha desaparecido como organização política, sua cultura continuou viva, e foi dela que se originaram as línguas latinas, incluindo o português.

02 – Quando e como os romanos invadiram a Península Ibérica?

      Os romanos invadiram a Península Ibérica entre 197 a.C. e 400 d.C. O motivo principal dessa invasão foi a ambição humana, e eles gradualmente submeteram a região, enfrentando resistência no norte, como a liderada por Viriato.

03 – Qual era a diferença entre Latim Culto e Latim Vulgar?

      O Latim Culto era a variedade formal da língua, dominada pela escrita e usada por aqueles com educação. O Latim Vulgar, por sua vez, era a língua falada cotidianamente pelas pessoas que, em sua maioria, não dominavam a escrita, e foi essa variedade que se espalhou e deu origem às línguas românicas.

04 – Por que é difícil estudar o Latim Vulgar diretamente através de textos?

      É difícil estudar o Latim Vulgar diretamente porque ele era uma língua essencialmente falada e utilizada por pessoas que não dominavam a escrita. Os textos latinos que sobreviveram são geralmente em Latim Culto, e mesmo quando há vestígios do Latim Vulgar (como em comédias romanas ou grafites), é preciso cautela, pois os autores podiam misturar as variedades.

05 – O que foi o período "Romance" na formação das línguas românicas?

      O período Romance foi uma fase intermediária, aproximadamente entre os anos 600 e 1000 d.C., entre o Latim Vulgar e o surgimento das línguas românicas. Nesse período, o Latim Vulgar já havia sofrido profundas alterações gramaticais e geográficas, mas ainda não era nenhuma das línguas românicas que conhecemos hoje.

06 – Quando se estima que o português "nasceu" como uma língua distinta?

      Estima-se que o português se formou por volta de 1200 d.C., ou seja, entre os séculos XII e XIII. Essa data é aproximada, marcada pelo momento em que documentos deixaram de ser escritos no Romance do Noroeste da Península e a língua que já era falada passou a ser registrada.

07 – Quais povos habitavam a Península Ibérica antes da chegada dos romanos, e qual deles conseguiu preservar sua língua?

      Antes dos romanos, a Península Ibérica era habitada por povos como os Bascos (ou Iberos), Celtas, Ambroilírios, Fenícios (ou Cartagineses) e Gregos. Desses, apenas os Bascos conseguiram preservar sua língua diante do avanço romano.

08 – Como a invasão dos povos germânicos e árabes influenciou a Península Ibérica após a romanização?

      Após a romanização, a Península Ibérica foi invadida pelos germanos, que desestabilizaram o Império Romano. Mais tarde, com o início da Era Moderna, os árabes também invadiram a região, alterando ainda mais o cenário cultural e linguístico.

09 – Quais instituições foram importantes para a tomada de consciência do português como uma nova língua na Idade Média?

      Duas instituições foram cruciais: os mosteiros (como os de Santa Cruz e Alcobaça), que realizavam traduções e disseminavam cultura, e a Corte, para onde convergiam os interesses nacionais e onde fidalgos e trovadores aprimoravam a língua literária.

10 – Qual o papel de autores como Camões e João de Barros na valorização da língua portuguesa?

      Autores como Camões e João de Barros desempenharam um papel fundamental na valorização do português. No século XVI, eles e outros gramáticos proclamaram as virtudes da língua pátria, defendendo sua capacidade de expressar sentimentos e ideias complexas, opondo-se àqueles que a consideravam inferior. João de Barros, em suas Décadas da Ásia, também evidenciava a relação entre a expansão do Império Português e a disseminação da língua.

 

 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

ARTIGO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: NÃO HÁ LÍNGUAS PRIMITIVAS - (FRAGMENTO) - JOHN LYONS - COM GABARITO

 Divulgação científica: Não há línguas primitivas – Fragmento

                   John Lyons

        É bastante comum ouvir leigos falarem sobre línguas primitivas, repetindo até o mito já desacreditado de que há certos povos cujas línguas consistem apenas de umas poucas palavras complementadas por gestos. A verdade é que todas as línguas até hoje estudadas, não importa o quanto primitivas as sociedades que as utilizam nos possam parecer sob outros aspectos, provaram ser, quando  investigadas, um sistema de comunicação complexo e altamente desenvolvido. Evidentemente toda a questão da evolução cultural desde a barbárie até a civilização é em si mesma altamente questionável. Porém não cabe ao linguista pronunciar-se sobre sua validade. O que ele pode afirmar é que ainda não se descobriu uma correlação entre os diferentes estágios de desenvolvimento cultural por que as sociedades passam e o tipo de língua falado durante eles. Por exemplo, não há uma língua da Idade da Pedra; ou, no tocante a sua estrutura gramatical geral, um tipo de língua característico das sociedades essencialmente agrícolas por um lado, e das modernas sociedades industrializadas, por outro.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvp6a_JbiLfJuybFz0nzmC_SFJMHRw5kIa5WS84dlYdr6MNHWClVqonh7F9oN5e_ViUOAHAF9nc0MCtdpZ-gseNyWpRUpu4-S4m7aCNrMdKiGItRA59I6NYNASDuCiBxudimnHtJ5bU9hHv_scRynyo8U_4M18P_arlbZs1r8BBoWBUf_x4VMfzNtq1S8/s320/PRIMITIVAS.jpg


        Houve muitas especulações no século XIX quanto ao desenvolvimento das línguas passando estruturalmente da complexidade à simplicidade ou, alternativamente, da simplicidade à complexidade. A maior parte dos linguistas se exime de especular sobre o desenvolvimento evolutivo das línguas em termos tão gerais. Sabem que, se tiver havido qualquer direcionamento na evolução linguística desde suas origens na pré-história até os nossos dias, não há qualquer sinal de direcionamento, recuperável a partir do estudo das línguas contemporâneas ou das do passado, das quais nos reste algum conhecimento.

        [...]

        Desde o século XIX, quase todos os linguistas, à exceção de muito poucos, abandonaram a questão da origem das línguas por estar para sempre fora do escopo de uma investigação científica. A razão para isso foi que, como acabamos de ver, durante o século XIX eles notaram que, por mais longe que se voltasse na história de determinadas línguas nos textos que duraram até nossos dias, era impossível discernir quaisquer sinais de evolução de um estado mais primitivo para outro mais avançado.

        [...]

        Permanece o fato de que não só em todas as línguas conhecidas o canal vocal-auditivo é o que é primeira e naturalmente utilizado para a transmissão de sinais, como também todas as línguas conhecidas são, grosso modo, igualmente complexas, no tocante à sua estrutura gramatical.

        [...]

        Evidentemente há diferenças consideráveis nos vocabulários das diferentes línguas. Portanto, é possível que seja necessário aprender uma outra língua ou pelo menos um vocabulário especializado para que se possa estudar um assunto específico ou discorrer satisfatoriamente sobre ele. Neste sentido uma língua pode adaptar-se melhor do que outra a determinados fins específicos. O que não significa, entretanto, que uma seja intrinsecamente mais rica ou pobre que a outra. Todas as línguas vivas, pode-se presumir, são por natureza sistemas eficientes de comunicação. À medida que se modificam as necessidades de comunicação de uma sociedade, também se modificará a língua por ela falada, para atender às novas exigências. O vocabulário será ampliado, seja tomando emprestadas palavras estrangeiras, seja criando-as a partir de seus próprios vocábulos já existentes. O fato de que muitas línguas faladas nos, por vezes, chamados países subdesenvolvidos não dispõem de palavras correspondentes a conceitos e produtos materiais oriundos da moderna ciência e tecnologia não implica que tais línguas sejam mais primitivas do que as que têm tais itens. Demonstra tão-somente que certas línguas, pelo menos até agora, não foram ainda utilizadas por aqueles que estão envolvidos no desenvolvimento da ciência e da tecnologia.

LYONS, John. Linguagem e linguística: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982, p. 37-40.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 138-139.

Entendendo a divulgação:

01 – Qual é o mito comum sobre línguas primitivas que o autor busca desmistificar?

      O mito comum é que existem povos com línguas extremamente simples, consistindo de poucas palavras e muitos gestos, e que essas línguas seriam "primitivas" em comparação com outras.

02 – O que o autor afirma sobre a complexidade das línguas estudadas, independentemente da cultura que as utiliza?

      O autor afirma que todas as línguas estudadas, mesmo aquelas faladas por sociedades consideradas "primitivas" sob outros aspectos, revelaram-se sistemas de comunicação complexos e altamente desenvolvidos.

03 – Qual é a posição do autor em relação à evolução cultural e sua suposta influência sobre a linguagem?

      O autor questiona a validade do conceito de evolução cultural da barbárie à civilização e afirma que não cabe ao linguista pronunciar-se sobre isso. No entanto, ele destaca que não há evidências de correlação entre os estágios de desenvolvimento cultural de uma sociedade e o tipo de língua que ela fala.

04 – O que os linguistas descobriram sobre a evolução das línguas ao longo do tempo?

      Os linguistas descobriram que, por mais que se investigue o passado de uma língua através de textos históricos, não é possível encontrar sinais de evolução de um estado mais primitivo para um mais avançado. Eles não encontraram nenhum "direcionamento" na evolução linguística.

05 – Qual é a principal razão para a maioria dos linguistas ter abandonado a questão da origem das línguas?

      A principal razão é que, como não é possível encontrar evidências de evolução linguística ao longo do tempo, a questão da origem das línguas permanece fora do escopo da investigação científica.

06 – Além da complexidade gramatical, o que mais o autor destaca como característica comum a todas as línguas conhecidas?

      O autor destaca que em todas as línguas conhecidas, o canal vocal-auditivo é o principal e natural meio de transmissão de sinais.

07 – O que o autor argumenta sobre as diferenças nos vocabulários das línguas e sua relação com a ideia de línguas "mais ricas" ou "mais pobres"?

      O autor argumenta que as diferenças nos vocabulários refletem as necessidades de comunicação de cada sociedade. Uma língua pode ser mais adaptada para discutir certos assuntos, mas isso não significa que ela seja intrinsecamente mais rica ou pobre do que outra. Todas as línguas vivas são sistemas eficientes de comunicação e se adaptam às necessidades de seus falantes. A falta de palavras para conceitos modernos em algumas línguas não indica primitividade, apenas que essas línguas ainda não foram utilizadas por aqueles que desenvolvem a ciência e a tecnologia.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

ARTIGO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: ALGUNS ANIMAIS, ALÉM DOS HUMANOS, PODEM AGIR PARA BENEFICIAR O OUTRO - V. SÃO PEDRO - COM GABARITO

 Artigo de divulgação científica: Alguns animais, além dos humanos, podem agir para beneficiar o outro

        Você já ajudou alguém sem querer nada em troca, só pelo impulso de fazer o bem? Altruísmo é como se chama o comportamento de agir em benefício de outros indivíduos sem esperar nenhum tipo de recompensa. Fazer um trabalho voluntário, doar sangue e ajudar um desconhecido em uma emergência são exemplos desse tipo de comportamento que, felizmente, é muito comum entre os seres humanos.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqvMilxvzWAg_98OT-nVaU56wy9Z8XcDFWx1ig44ykOwAMJneDpLQdG83KlMG9c4X79KKlnah7rs9-aKLxFXzgGa0BPxCH-Le5-1nXs5pZIviwi8-UaV-YdHLiLsCGzdI5B8uH6vRFe2MI4x7HMq9YybYnY_CjHHcwX7YSpM-aZhtzkfjHk9-Scvemqc8/s320/ALTRUISMO.jpeg


        Agora, será que outros animais também são capazes de agir em benefício de outros indivíduos? É muito difícil responder a isso com certeza, porque é complicado entender como os animais pensam. Mas observações e experimentos científicos dão fortes pistas de que pelo menos alguns animais – como elefantes, golfinhos e primatas – parecem sim agir de modo altruísta.

        Para saber se essa característica já acompanha os humanos há muito tempo durante nossa evolução, muitas pesquisas sobre altruísmo são feitas com chimpanzés, nossos “parentes evolutivos” mais próximos. Em um estudo recente, por exemplo, foi oferecido para chimpanzés um bebedouro de suco de frutas cujo botão de acionamento ficava afastado da fonte onde o líquido escorria. Isso quer dizer que o chimpanzé que acionava o botão não conseguia beber o suco, mas apenas permitir que outros pudessem tomá-lo.

        Durante dois meses de observações, os cientistas viram os chimpanzés apertarem o botão inúmeras vezes, aparentemente apenas para dar a outros membros do grupo a chance de beber o suco. Já quando o bebedouro era colocado fora do recinto, onde nenhum indivíduo podia alcançar, os chimpanzés não tinham muito interesse em apertar o botão de acionamento. Além disso, o comportamento de “doação de suco” foi mais frequente justamente nos grupos mais tolerantes de chimpanzés, em que os indivíduos costumam se reunir pacificamente em bandos maiores.

        Aprendemos a praticar o bem com a família e as pessoas do nosso convívio. Mas, pelo que a ciência anda descobrindo, aquela sensação boa que sentimos com isso parece já estar no nosso DNA há milhões de anos.

SÃO PEDRO, V. “Alguns animais, além dos humanos, podem agir para beneficiar o ouro.” Ciência Hoje das Crianças – CHC. Disponível em: http://chc.org.br/artigo/e-bom-fazer-o-bem. Acesso em: 2 jun. 2021.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 2. Língua Portuguesa – 6º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 58-59.

Entendendo o artigo:

01 – O que é altruísmo e como ele se manifesta nos seres humanos?

      Altruísmo é a ação de ajudar os outros sem esperar nada em troca. Nos humanos, ele se manifesta em diversos comportamentos, como o voluntariado, a doação de sangue e a ajuda a desconhecidos em situações de emergência.

02 – É possível afirmar que outros animais além dos humanos são capazes de agir de forma altruísta? Justifique.

      É difícil afirmar com certeza se outros animais pensam como nós e, portanto, se suas ações são motivadas por altruísmo. No entanto, observações científicas em animais como elefantes, golfinhos e primatas sugerem que eles podem apresentar comportamentos que se assemelham ao altruísmo, como compartilhar alimentos e ajudar outros membros do grupo.

03 – Quais evidências científicas existem para sugerir que chimpanzés podem apresentar comportamentos altruístas?

      Estudos com chimpanzés demonstraram que eles são capazes de realizar ações que beneficiam outros membros do grupo, mesmo sem obter ganhos diretos. Um exemplo é o experimento em que chimpanzés escolheram acionar um mecanismo para fornecer água a outros indivíduos, mesmo sem poderem beber a água eles mesmos.

04 – Qual a importância de estudar o altruísmo em animais?

      Estudar o altruísmo em animais pode nos ajudar a entender melhor a origem e a evolução desse comportamento nos seres humanos. Além disso, pode fornecer insights sobre a natureza da cooperação e da sociabilidade em diferentes espécies.

05 – O que os estudos sobre altruísmo em chimpanzés revelam sobre a natureza humana?

      Os estudos sobre altruísmo em chimpanzés sugerem que a tendência de ajudar os outros pode ter raízes evolutivas profundas e estar presente em diversas espécies, incluindo os seres humanos. Isso indica que a cooperação e a empatia podem ser características importantes para a sobrevivência e o sucesso de uma espécie.

06 – Qual a relação entre o altruísmo e a evolução?

      O altruísmo, embora possa parecer contraintuitivo à luz da teoria da evolução, pode ser explicado por diversos mecanismos, como a seleção de parentesco (favorecendo o altruísmo entre indivíduos geneticamente relacionados) e a reciprocidade (onde indivíduos cooperam com a expectativa de receber benefícios no futuro).

07 – Quais são os desafios para estudar o altruísmo em animais?

      Estudar o altruísmo em animais é desafiador porque é difícil determinar se as ações de um animal são realmente motivadas por intenções altruístas ou por outros fatores, como o medo de punição ou a busca por recompensas sociais. Além disso, é complicado realizar experimentos controlados com animais em seu habitat natural.

 

 

domingo, 29 de dezembro de 2024

ARTIGO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: ROBÔ BRASILEIRO TEM SUCESSO EM PREVER MORTES POR DOENÇAS RESPIRATÓRIAS - (FRAGMENTO) - P.WATANABE - COM GABARITO

 Artigo de divulgação científica: Robô brasileiro tem sucesso em prever mortes por doenças respiratórias – Fragmento

        Com inteligência artificial, pesquisadores da USP analisaram dados de pessoas de São Paulo com 60 anos ou mais

        Imagine prever com exatidão como e quando uma pessoa irá morrer. Uma realidade tão determinista parece um tanto distante —se é que é possível —, mas pesquisadores da USP conseguiram, com uso de machine learning (aprendizado de máquina), um elevado nível de predição de mortes por doenças respiratórias.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3dbOKy5rs5KGPmVOtr_0HCyDH8y_ItdK8po0Hzto2LgJd1IRQfz3Y_a1EpvR6WQOTv-nVqoHARGP4by679_TcGuJxEjUDf0FxfCBmJ2iA6-IjRFrpFoBEbM39beyEeECCbMv0kWb7u8gCrq3AaUtbTX0V-SQxhEciSjvTPlzTTEqtiprkx8MPeAnQTXk/s320/ROBO.jpg


        A partir de inteligência artificial, os cientistas conseguiram identificar até 88% de mortes por problemas respiratórias. Dentro do grupo de pessoas estudadas, os pesquisadores também fizeram uma classificação do menor ao maior risco para mortes por essas doenças. No conjunto com maior risco (25% da amostra), estavam 100% das mortes respiratórias.

        [...]

        A essa altura, você já deve, em algum momento dos últimos anos, ter ouvido falar em machine learning. A ideia é, de modo bem resumido e geral, alimentar um programa com um determinado volume de informações como forma de treinamento. O objetivo, nessa fase, é que a aplicação consiga perceber padrões nesses dados — que talvez escapem aos olhos humanos.

        Em seguida, outro conjunto de dados é apresentado ao programa para que ele tente identificar padrões — e apresente respostas que nós, humanos, não conseguimos dar.

        Pesquisadores da USP fizeram exatamente isso com dados de paulistanos com 60 anos ou mais coletados nas últimas duas décadas.

        Os cientistas do Labdaps (Laboratório de Big Data e Análise Preditiva em Saúde) da faculdade de saúde pública da USP usaram a base de dados da pesquisa Sabe (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento), da mesma faculdade, focada em pessoas da cidade de São Paulo com 60 anos ou mais.

        Na pesquisa do Labdaps publicada esta semana na revista Age and Ageing, foram observadas as causas de mortes das pessoas nos cinco anos posteriores às entrevistas feitas pela Sabe, que teve início em 2000, com coletas de dados em anos posteriores. Para o estudo com algorítmos de machine learning, os cientistas usaram os dados coletados em 2006 e 2010 pela Sabe, o que totalizou 1.767 pessoas.

        A Sabe, porém, não foi feita para apontar mortalidade. Por isso, os pesquisadores tiveram que cruzar essas informações com os dados de mortes do município de São Paulo.

        Com o cruzamento feito, o algoritmo de machine learning foi alimentado, para treinamento, com 70% do banco de dados. Os outros 30% foram usados para o teste de predição.

        Segundo os autores, trata-se de um dos estudos mais amplos já feitos com predição de morte em populações grandes. "O que existe na literatura é aplicação de machine learning para identificação de risco em populações específicas. Por exemplo, em pessoas que já apresentam problemas cardíacos, em pessoas que já têm diagnóstico de câncer", afirma Carla Nascimento, doutoranda em saúde pública pela USP, pesquisadora do Labdaps e uma das autores do estudo.

        [...]

        "Abre um leque de possibilidades de iniciar medidas preventivas ao ponto de conseguir evitar que a morte ocorra", diz Alexandre Chiavegatto Filho, diretor do Labdaps. "Não é algo 'você vai morrer e não tem o que fazer em relação a isso'. O grande interesse de saber é evitar que isso aconteça."

        [...]

        O diretor do Labdaps imagina que, quando estiverem amplamente disponíveis, mecanismos do tipo serão bem recebidos pela comunidade médica. Ele compara a situação com o aplicativo Waze, que apresenta opções de rota de acordo com inúmeros dados coletados aos quais o condutor não necessariamente teria acesso fácil.

        "É impressionante a quantidade de decisões difíceis e complexas que os médicos tomam ao longo do seu dia", diz Chiavegatto Filho. "O médico passa muito tempo coletando informações de pacientes e recebe de volta informações dispersas. Nada que unifique essa informação toda e ajude a tomar uma decisão. É isso que a inteligência artificial está trazendo."

WATANABE, P. “Robô brasileiro tem sucesso em prever mortes por doenças respiratórias.” Folha de São Paulo. 7 maio 2021. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2021/05/robo-brasileiro-tem-sucesso-em-prever-mortes-por-doencas-respiratorias.shtml. Acesso em: 2 jun. 2021.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 2. Língua Portuguesa – 6º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 53-54.

Entendendo o artigo:

01 – Qual a principal descoberta da pesquisa realizada pela USP?

      A pesquisa conseguiu prever com alta precisão (até 88%) as mortes por doenças respiratórias em uma população idosa, utilizando técnicas de machine learning.

02 – Como os pesquisadores conseguiram essa alta taxa de precisão nas previsões?

      Os pesquisadores utilizaram um grande volume de dados de saúde de uma população idosa, alimentando um algoritmo de machine learning para identificar padrões e relações entre as variáveis, permitindo assim realizar previsões mais precisas.

03 – Qual o objetivo principal dessa pesquisa?

      O objetivo principal é desenvolver ferramentas que permitam identificar indivíduos com maior risco de morte por doenças respiratórias, a fim de implementar medidas preventivas e melhorar a qualidade de vida dessa população.

04 – Quais os benefícios dessa pesquisa para a área da saúde?

      Essa pesquisa abre caminho para o desenvolvimento de ferramentas de apoio à decisão médica, permitindo identificar precocemente pacientes de risco e implementar tratamentos personalizados, o que pode levar à redução da mortalidade por doenças respiratórias.

05 – Quais os dados utilizados na pesquisa?

      Os pesquisadores utilizaram dados da pesquisa Sabe (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento), que coletou informações de saúde de pessoas com 60 anos ou mais na cidade de São Paulo.

06 – Como o machine learning foi utilizado nessa pesquisa?

      O machine learning foi utilizado para identificar padrões nos dados de saúde da população estudada, permitindo prever a ocorrência de mortes por doenças respiratórias. O algoritmo foi treinado com uma parte dos dados e testado com outra parte, para avaliar sua precisão.

07 – Quais as implicações futuras dessa pesquisa?

      Essa pesquisa demonstra o potencial da inteligência artificial para transformar a área da saúde, permitindo a criação de ferramentas mais precisas e personalizadas para a prevenção e tratamento de doenças. No futuro, essa tecnologia pode ser aplicada a outras doenças e populações, melhorando a qualidade de vida e a expectativa de vida das pessoas.

 

 

ARTIGO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: ABELHAS EM APUROS! - CRISTINA SANTOS - COM GABARITO

 Artigo de divulgação científica: Abelhas em apuros!

                 Cristina Santos

        Já ouviu falar que as abelhas estão desaparecendo em várias regiões do nosso planeta? Infelizmente, isso não é notícia falsa. Em várias partes do mundo as abelhas não têm retornado para a colmeia, após saírem para sugar o néctar das flores. No Brasil, os apicultores – que são especialistas em criação de abelhas – informam que as abelhas estão morrendo dentro das caixas de criação. Por que isso está acontecendo? Por que o desaparecimento das abelhas é uma preocupação? A CHC ajuda você a descobrir agora!

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEix5uy2AA-qKUoPkUjxwr0A5BOs21sGbT7PFhsW-R-0flE4lfRehRDY5WJ9Eyoc1rr9RtKoM6Q_DOH17QgC4T1AzP99eEDBhrQ-4xs5ZxGU7FT6U4StxSL7PAcgMXMg94nFq6gOogm2BeP8T64qo3xJpUGSrTLC4pOmQ6q41hdjen-8SlgCR0HkvrzpIjY/s1600/ABELHA.jpg


        Para entender a importância das abelhas, vamos começar imaginando-as na colmeia. Estão todas lá reunidas quando, de repente, bate aquela fome. Para encher a barriga, elas voam, pousam numa flor e se alimentam de seu néctar. Mas ainda não ficaram satisfeitas. Então, elas pousam em outra flor e sugam mais néctar. E assim vão fazendo até que decidem voltar para a colmeia.

        Acontece que, ao pousarem em uma flor, as abelhas levam consigo diversos grãos de pólen, que ficam grudados no seu corpo. Pousando em outra flor, esses grãos de pólen podem se soltar e cair no estigma, que é a parte feminina da flor. E aí o que acontece? A polinização!

        Quando uma flor é polinizada, ela dá origem a sementes, que ficarão envoltas pela polpa de um fruto.

        Pronto: você acaba de descobrir a importância das abelhas na natureza. Elas contribuem para a reprodução das plantas!

        Existem outros polinizadores naturais, como o vento, a água e até mesmo outros insetos que também se alimentam do néctar das flores. Mas não há dúvida, as abelhas são as principais polinizadoras em todos os ambientes terrestres do mundo.

         Flores polinizadas = alimentos!

        As flores polinizadas das plantas cultivadas na agricultura se transformam em sementes, que, por sua vez, se transformam nos alimentos que consumimos, como as frutas e os legumes.

        Algodão, soja, café, laranja, tomate, melão, castanha, canola, maçã, maracujá e caju são alguns dos exemplos de culturas que dependem da polinização para maior e melhor produção de frutos e sementes.

        Na natureza, as flores das plantas silvestres polinizadas pelas abelhas resultam na produção de mais frutos, que vão servir de alimento a uma incrível diversidade de animais. Ao se alimentarem dos frutos, os animais engolem as sementes, que sairão em suas fezes e, em contato com o solo e água, farão brotar novas plantas, que irão produzir flores e serão polinizadas pelas abelhas. É um ciclo que não acaba nunca! E no qual as abelhas têm um papel importantíssimo.

        O sumiço das abelhas

        Há muito tempo, os apicultores vem percebendo o desaparecimento das populações de abelhas.  A primeira notícia sobre o desaparecimento delas veio dos Estados Unidos, em 2006, quando os apicultores da Califórnia observaram grande perda de colônias de abelhas. No ano seguinte, apicultores de vários países da Europa observaram o mesmo fenômeno. No Brasil, os apicultores de diversos estados também vêm percebendo isso. E o pior: o número de perdas das colônias de abelhas só aumenta! Os pesquisadores deram a este desaparecimento das abelhas nas caixas (ou colônias) de criação o nome ‘Desordem do Colapso da Colônia’ (DCC).

        A principal causa da DCC tem sido explicada pelo uso excessivo de agrotóxicos nas lavouras. Os agrotóxicos são substâncias químicas usadas para matar insetos e outros organismos que possam atacar as plantações. Além disso, por falta do devido conhecimento, os agrotóxicos têm sido aplicados no período da floração – exatamente quando as abelhas visitam as flores em busca do néctar e pólen.

        Os principais estudos sobre a diminuição das populações de abelhas foram realizados com a abelha da espécie Apis mellifera e tem indicado que produtos químicos existentes nos pesticidas contaminam o néctar e o pólen das flores.  Os inseticidas podem provocar alterações no comportamento das abelhas. Após visitarem as flores contaminadas, as abelhas perdem a sua capacidade de aprendizado e memorização, causando a sua desorientação. Por isso, não conseguem mais voltar para a colônia e desaparecem em meio à natureza.

        Colônias contaminadas

        Quando as abelhas não retornam, ocorre o enfraquecimento da colônia, restando apenas a rainha, algumas poucas operárias jovens e as larvas. Mas também há problema quando as abelhas conseguem retornar a depois de sugar o néctar de flores com agrotóxicos: elas levam pólen contaminado para dentro das colônias. Isso reduz a movimentação e a capacidade de comunicação entre as abelhas afetando a divisão de trabalho, os cuidados com as larvas e a limpeza da colônia. Como as abelhas são insetos sociais, que se organizam na divisão dos trabalhos, essas alterações podem resultar em drásticos efeitos à sobrevivência da colmeia.

        Embora a maioria dos estudos aponte para relação do uso excessivo de agrotóxicos no desaparecimento das abelhas, outros fatores precisam ser investigados: como a ação de um novo parasita que possa estar atacando as abelhas, as mudanças climáticas ou talvez uma combinação desses fatores que podem estar deixando as abelhas mais frágeis, fazendo com que adoeçam e morram.

        Sem plantas no mundo

        A polinização é considerada um serviço ambiental muito valioso na produção de sementes e frutos das plantas. É através da polinização que mais da metade das plantas do mundo conseguem se reproduzir – estamos falando tanto da vegetação natural como da agricultura. Então, grandes perdas de populações de abelhas (sejam as criadas pelos apicultores ou aquelas existentes na natureza) podem levar a extinção de plantas e de animais que dependem das plantas para viver.

        Grandes perdas econômicas também podem ser esperadas na produção agrícola, porque a diminuição de polinizadores pode não causar a extinção por completo da planta cultivada, mas resulta na diminuição da quantidade e na perda de qualidade de frutos. Ou seja: se as abelhas desaparecem, a qualidade dos alimentos piora e os países perdem muito dinheiro.

SANTOS, Cristina. “Abelhas em apuros”. Ciência Hoje das Crianças – CHC. Disponível em: http://chc.org.br/artigo/abelhas-em-apuros. Acesso em: 8 jun. 2021.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 2. Língua Portuguesa – 6º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 32-33.

Entendendo o artigo de divulgação científica:

01 – Qual o principal problema abordado no artigo?

      O desaparecimento das abelhas em diversas partes do mundo, um fenômeno conhecido como Desordem do Colapso da Colônia (DCC).

02 – Qual a principal função das abelhas para o ecossistema?

      As abelhas são os principais polinizadores do planeta, garantindo a reprodução de diversas plantas, incluindo aquelas que servem de alimento para humanos e animais.

03 – Qual a principal causa do desaparecimento das abelhas, segundo o artigo?

      O uso excessivo de agrotóxicos nas lavouras, que contaminam o néctar e o pólen das flores, afetando a saúde e o comportamento das abelhas.

04 – Quais as consequências do desaparecimento das abelhas para o meio ambiente e para a humanidade?

      A diminuição da biodiversidade, a redução da produção de alimentos e consequentes impactos econômicos são algumas das consequências do desaparecimento das abelhas.

05 – O que é a Desordem do Colapso da Colônia (DCC)?

      A DCC é um fenômeno que se caracteriza pelo desaparecimento inexplicado de abelhas operárias de uma colmeia, deixando a rainha, o alimento e as crias intactas.

06 – Quais outros fatores, além dos agrotóxicos, podem estar contribuindo para o desaparecimento das abelhas?

      Outros fatores como a ação de novos parasitas, as mudanças climáticas e a combinação desses fatores podem estar enfraquecendo as colmeias e contribuindo para o desaparecimento das abelhas.

07 – Qual a importância da polinização para a agricultura?

      A polinização é fundamental para a produção de sementes e frutos de diversas culturas agrícolas, garantindo a qualidade e quantidade dos alimentos que consumimos.