terça-feira, 30 de agosto de 2022

PALESTRA: CINCO IDEIAS EQUIVOCADAS SOBRE OS ÍNDIOS - (FRAGMENTO) - JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE - COM GABARITO

 Palestra: Cinco ideias equivocadas sobre os índios – Fragmento 

     José Ribamar Bessa Freire

        Boa noite. Eu queria agradecer ao acadêmico Domício Proença Filho e o Marco Lucchesi pelo convite para participar desta mesa ao lado da Graça Graúna, né?, a quem eu já conheço de algum tempo. É... eu gostaria de... de situar é... o problema de uma forma até mais... é... informal, em tom de conversa mesmo. [...]

        Eu quero compartilhar com vocês o discurso de abertura da Sessão Magna do Quarto Centenário do Brasil, no dia 4 de maio de 1900. Brasil festejava seus quatrocentos anos. Aqui na Glória se realizou uma missa, cardeal veio, celebrou, etc., e as comemorações tiveram início com um discurso de um engenheiro e político carioca, que depois se tornaria prefeito da cidade, o Paulo de Frontin. Ele foi conhecido por ter ampliado o potencial de abastecimento de água do Rio de Janeiro, não é?, que era a capital do Brasil. É... no discurso de abertura do Quarto Centenário, eu vou ler bem devagar, porque eu acho que é extremamente importante esse discurso, ele diz o seguinte: “O Brasil não é o índio; este, onde a civilização ainda não se estendeu, perdura com os seus costumes primitivos, sem adiantamento nem progresso. Descoberto em 1500 pela frota portuguesa ao mando de Pedro Álvares Cabral, o Brasil é a resultante direta da civilização ocidental, trazida pela imigração, que lenta, mas continuadamente, foi povoando o solo. A religião”, continua Paulo de Frontin no seu discurso, “a religião, a mais poderosa força civilizadora da época, internou-se pelos longínquos e ínvios sertões brasileiros e, sob o influxo de Nóbrega e Anchieta, conseguiu assimilar número considerável de aborígenes, que assim se incorporaram à nação brasileira”. E aí ele arremata no final: “Os selvícolas, esparsos, ainda abundam nas nossas majestosas florestas e em nada diferem dos seus ascendentes de 400 anos atrás. Eles não são nem podem ser considerados parte integrante da nossa nacionalidade; a esta cabe assimilá-los e, não o conseguindo, eliminá-los”.

        O discurso de abertura... quer dizer, ele falou aquilo que está um pouco na boca de qualquer brasileiro, mas ele estava ali numa função oficial. Era um engenheiro, que passou pela escolaridade, teve escolaridade, teve universidade, não é?, um bom engenheiro, um bom prefeito do Rio de Janeiro, não é?, ele estava ali como presidente da... da... das comemorações dos quatrocentos anos do Brasil. [...] Eu só estou citando porque é difícil a gente acreditar que é... uma autoridade pública, abrindo o aniversário de quatrocentos anos do Brasil, diga que essa... que o Brasil não tem nada que ver com o índio, que cabe à nação brasileira assimilá-los e, se não conseguir, eliminá-los, né? Bom, o discurso choca... mas a prática, ela está aí também, seguindo um pouco essa orientação.

        Eu, eu fiquei pensando, eu escrevi um artigo, que eu trabalho também com meus alunos em sala de aula, que são os cinco equívocos, os cinco grandes equívocos, que o brasileiro comete quando pensa no índio. Todos esses equívocos e mais um sexto equívoco ainda, eles estão presentes nesse curto discurso aqui, nesse trecho curto do discurso do Paulo de Frontin.

        Ele... primeiro... primeiro grande equívoco: eliminar os índios como matriz formadora da nacionalidade brasileira. Quer dizer, a presença indígena é muito forte na cultura brasileira, embora nós não tenhamos um conhecimento, porque não foi feito um inventário dessa contribuição, não é? Teve uma tese de doutorado defendida na Unicamp alguns anos atrás que mostra que aquele “r” caipira do interior de São Paulo, de “morte”, “porta”, “Dirceu”, que esse “r” retroflexo, ele é um som da língua ofaié xavante, que era falada no interior de São Paulo, em Bauru. Quando eu li isso, quer dizer, eu me dei conta de como essa enorme variedade dialetal existente no Brasil, ela poderia ser explicada se nós fizéssemos um inventário da contribuição que os índios deram na formação do Brasil moderno, contemporâneo. Então, é um erro, um equívoco muito grande, um preconceito excluir os índios da matriz formadora de nossa nacionalidade, mas é o que acontece com muita frequência. [...]

        No discurso do Paulo de Frontin tem também um outro equívoco, que é de situar os índios apenas no passado, é considerar como é... é... integrantes de um passado que não existe mais e o que passou, passou. Num texto escrito em 1997 sobre a biodiversidade vista do ponto de vista de um índio, o Jorge Terena, que é um índio que morreu há alguns atrás, grande sociólogo indígena, índio Terena, ele escreveu que uma das consequências mais graves do colonialismo foi justamente tachar de primitivas as culturas indígenas, considerá-las como obstáculos à modernidade e ao progresso. Eu quero compartilhar uma pequena citação do que ele disse, do que ele escreveu. Ele disse: “Eles veem a tradição viva como primitiva, porque não segue o paradigma ocidental. Assim, os costumes e as tradições, mesmo sendo adequados para a sobrevivência, deixam de ser considerados como estratégia de futuro, porque são ou estão localizadas no passado. Tudo aquilo que não é do âmbito do Ocidente é considerado do passado, desenvolvendo uma noção equivocada em relação aos povos tradicionais, sobre o seu espaço na história”. Então, os índios efetivamente fazem parte do nosso passado, mas eles estão encravados aqui no nosso presente e, queira Deus, que no futuro desse país, porque, se não, nós estaríamos muito mais empobrecidos seguramente, não é?

        É... os dados revelados pelo IBGE na semana passada, o Censo de 2010, mostra a existência de mais de 830 mil índios. A população indígena está crescendo no Brasil. Tem um fenômeno novo que é o fato de que mais de 350 mil índios estão vivendo hoje nas cidades, né? E aí isso gera um outro equívoco, que é aquele equívoco de considerar como índio autêntico, né?, só aquele índio que foi descrito pelo Pero Vaz de Caminha, né?, e tal como ele descreveu. Aquele que tá lá no mato, na floresta, né? É... o José Saramago ou o Alçada Batista, aqui citado, nenhum dos dois escrevia como o Pero Vaz de Caminha, mas ninguém diz que eles não eram portugueses autênticos. Também não se vestiam como Pedro Álvares Cabral, os portugueses de hoje... ninguém diz que não são autênticos. Então, a gente aceita, quer dizer, que, como qualquer cultura, todas as culturas são vivas e mudam, mas, quando se trata da questão indígena, está tão internalizada aquela imagem do índio nu, na floresta, etc., etc., que a gente não percebe que pas... que quinhentos anos, cinco séculos passaram e que os índios, no contato com a sociedade colonial, depois com a sociedade imperial, com a sociedade nacional brasileira, eles, como todas as outras culturas, também foram se modificando. No discurso do Paulo de Frontin citado aqui no início, ele também congela essas culturas e ele considera essas culturas como culturas atrasadas. Ele faz isso por pura ignorância, ele desconhece, na época também não existia uma... Hoje já existe, quer dizer, hoje nós temos uma quantidade expressiva de trabalhos na área de Antropologia, Etnologia, que nos dão conta dos conhecimentos que os índios trouxeram para a... a... a sociedade nacional. Portanto, considerar essas culturas como culturas atrasadas é desconhecer que esses povos produziram saberes, ciência, arte refinada, literatura, poesia, música, religião, não é?

        [...]

        Bom, meu tempo se esgotou. Eu me... coloco à disposição depois, na discussão, para conversar e responder às perguntas. Muito obrigado.

BESSA FREIRE, José Ribamar. Seminário realizado em abril de 2012. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PcDsQE223sg. Acesso em: 24 nov. 2015.

       Fonte: Língua Portuguesa – Se liga na língua – Literatura, Produção de texto, Linguagem – 2 Ensino Médio – 1ª edição – São Paulo, 2016 – Moderna – p. 173-8.

Entendendo a palestra:

01 – Que cuidados o falante tem ao inserir esse discurso?

      O palestrante o contextualiza, informando quando ocorreu o discurso, onde e quem o proferiu.

02 – Diga que tese é essa.

      Tese: criticar o tratamento da questão indígena no Brasil, mostrando que continua a existir uma visão excludente.

03 – Em que outro trecho do parágrafo se faz o mesmo tipo de referência?

      Outra referência é feita no trecho em que o falante comenta sua leitura de uma tese universitária.

04 – O que pretende José Bessa ao se referir aos limites do conhecimento sobre os índios no início do século XX?

      Ao reconhecer os limites do conhecimento sobre os índios, o falante evita que a crítica seja considerada inadequada e reforça a ideia de que ela se aplica inteiramente na atualidade.

05 – Releia os parágrafos iniciais das duas exposições, os quais aludem à situação de produção dos textos.

I. “Bom dia a todos. Ahn... é um prazer tá aqui de volta. Eu tive aqui há umas... quatro semanas atrás falando pra pais. [...] É uma experiência nova para mim falar pra pessoas na faixa de idade de vocês. Eu, em geral, tenho como interlocutores pessoas mais velhas. Então, vocês, ahn..., por favor, me desculpem se eu ficar um pouco mais formal do que vocês tão acostumados a se relacionar, né?”

II. “Boa noite. Eu queria agradecer ao acadêmico Domício Proença Filho e o Marco Lucchesi pelo convite para participar desta mesa ao lado da Graça Graúna, né?, a quem eu já conheço de algum tempo. É... eu gostaria de... de situar é... o problema de uma forma até mais... é... informal, em tom de conversa mesmo. [...]”

a)   As duas aberturas fazem referência à questão da linguagem. Qual é a preocupação comum aos dois falantes?

A preocupação de explicar ao público o nível de linguagem que empregarão: Pompeia admite que talvez seja formal demais para seus ouvintes, e Bessa afirma que deseja um tom de conversa.

b)   De que maneira Guto Pompeia procurou conquistar a simpatia do público adolescente a quem se dirige?

Ele se desculpa por não estar habituado a conversar com jovens, já que geralmente conversa com interlocutores mais velhos.

c)   Veja uma fotografia da palestra de Guto Pompeia e responda: em sua opinião, o espaço ocupado pelo palestrante e sua posição favorecem essa aproximação com o público? Por quê?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A análise do espaço, constituído por uma mesa, e da posição do falante, sentado, sugere uma apresentação menos dinâmica, aparentemente menos atraente para o público.

06 – Leia o trecho correspondente ao momento registrado.

        “Eu só estou citando porque é diFÍcil a gente a-cre-di-tar que é... uma autori- DAde PÚblica, aBRINdo o aniverSÁrio de quatrocentos anos do Brasil, diga que essa... que o Brasil não tem nada que ver com o índio, que cabe à nação brasileira assimilá-los e, se não conseguir, e-li-mi-ná-los, né? Bom, o discurso choca... mas a prática, ela está aí também, seguindo um pouco essa orientação.”

a)      Nesse trecho, destacamos em maiúsculas as sílabas pronunciadas com bastante intensidade pelo falante e dividimos as palavras cujas sílabas foram ditas separadamente. Relacione esses recursos de pronúncia ao conteúdo do texto.

Os recursos de pronúncia chamam a atenção para a atitude de indignação do falante diante do conteúdo que ele explora, reforçando sua crítica à maneira como a causa indígena era compreendida pela autoridade pública citada.

b)      Observe, na foto, que o palestrante gesticula enquanto fala. Que efeito um gestual mais enfático tem na interação com o ouvinte?

Um gestual enfático torna a apresentação mais dinâmica, o que contribui para manter a atenção do ouvinte.

07 – Releia um trecho da parte inicial da mesma palestra.

        “Eu quero compartilhar com vocês o discurso de abertura da Sessão Magna do Quarto Centenário do Brasil, no dia 4 de maio de 1900. Brasil festejava seus quatrocentos anos. Aqui na Glória se realizou uma missa, cardeal veio, celebrou, etc., e as comemorações tiveram início com um discurso de um engenheiro e político carioca, que depois se tornaria prefeito da cidade, o Paulo de Frontin. Ele ficou conhecido por ter ampliado o potencial de abastecimento de água do Rio de Janeiro, não é?, que era a capital do Brasil.”

a)   Explique a seguinte afirmação: O trecho “Aqui na Glória se realizou uma missa, cardeal veio, celebrou, etc.” é pouco importante do ponto de vista da informação, mas eficiente para conquistar o ouvinte.

A narração do momento de enunciação do discurso é dispensável para sua compreensão, mas ajuda a criar uma imagem daquela situação. Essa imagem torna o discurso mais concreto para o ouvinte, que está sendo introduzido no assunto.

b)   Reflita sobre a lógica do texto e explique: por que é fundamental apresentar Paulo de Frontin ao público?

A intenção do produtor do texto é mostrar que mesmo uma autoridade pública bem conceituada e com boa formação tinha dificuldade para analisar a questão indígena sem equívocos ou preconceitos, uma prática que se estende aos demais brasileiros.

08 – Veja outro recurso empregado na mesma palestra para mobilizar o ouvinte.

        “O José Saramago ou o Alçada Batista, aqui citado, nenhum dos dois escrevia como o Pero Vaz de Caminha, mas ninguém diz que eles não eram portugueses autênticos. Também não se vestiam como Pedro Álvares Cabral, os portugueses de hoje... ninguém diz que não são autênticos.”

a)   Que ideia o palestrante quer tornar clara para o ouvinte?

A ideia de que a identificação de um povo não depende de reconhecer nele características de seu passado. Portanto, é equivocada a visão que mantém o indígena como um ser preso à floresta e a formas ancestrais de vida e de pensamento.

b)   Por que a comparação empregada é um recurso argumentativo eficaz?

A comparação constrói um raciocínio lógico incontestável: se a ideia de evolução é válida para os portugueses, aplica-se igualmente ao povo indígena.

09 – Compare agora dois trechos da palestra de Guto Pompeia.

I. “E você poder fazer o que quer é aquilo que é caracterizado pelo fato de você ter liberdade, mas você usar a liberdade é diferente de você ter a liberdade. Porque você ter a liberdade é você PODER fazer o que quer; você usar a liberdade é você FAZER o que quer, né?”

II. “Se vocês entram num restaurante, pegam um cardápio, no cardápio tem trinta pratos que vocês podem comer... Vocês não vão comer os trinta pratos, por isso vocês têm que escolher um prato, né?, pra comer.”

a)   De que modo a analogia com o restaurante explica a relação entre “ter liberdade” e “usar a liberdade”, abordada na fala?

Em um restaurante, o cliente tem a liberdade de escolher qualquer prato disponível, mas o uso dessa liberdade corresponde à escolha de um único prato, exigindo uma seleção e uma série de abdicações.

b)   Levando em conta o público a que se destina a palestra, qual é a função do uso desse tipo de analogia?

A exposição de Guto Pompeia trata de um tema de ordem filosófica e analogias como essa favorecem a compreensão dos dados por torná-los mais concretos e próximos do público, no caso, os adolescentes.

c)   Observe o uso do termo “você/vocês” nos dois exemplos. Por que a função de “você” no primeiro trecho está mais próxima da função de um pronome indefinido do que de um pronome de tratamento?

Como pronome de tratamento, “você” se refere ao interlocutor, como ocorre no segundo trecho em estudo. No primeiro trecho, “você” generaliza, tendo uso similar a “alguém”.

d)   Toda a palestra é marcada pela repetição de “você” e “vocês”. Essa repetição parece ser involuntária, constituindo um defeito de estilo? Justifique.

Não. A repetição cumpre um papel de ênfase e aproxima o texto, que traz uma verdade filosófica geral, para um universo mais particular, concreto e próximo do ouvinte.

PALESTRA: MANUAL DE INSTRUÇÃO PARA O USO DA LIBERDADE - (FRAGMENTO) - JOÃO AUGUSTO POMPEIA - COM GABARITO

 Palestra: Manual de instrução para o uso da liberdade – Fragmento

               João Augusto Pompeia

         Bom dia a todos. Ahn... é um prazer tá aqui de volta. Eu tive aqui há umas... quatro semanas atrás falando pra pais. [...] É uma experiência nova para mim falar pra pessoas na faixa de idade de vocês. Eu, em geral, tenho como interlocutores pessoas mais velhas. Então, vocês, ahn..., por favor, me desculpem se eu ficar um pouco mais formal do que vocês tão acostumados a se relacionar, né?

        [...] Por que falar deste tema agora para vocês, né? E a razão disso é exatamente o momento de vida que vocês estão vivendo. Vocês estão começando a exercer uma liberdade que tende a se ampliar aí nos próximos anos. Vocês estão na iminência de começar a tomar algumas decisões que têm implicações pro resto da vida de vocês, como a escolha da profissão, e acho que, por isso, nesse momento, pensar um pouquinho sobre o uso da liberdade pode ser uma coisa interessante, né?

        E acho que a gente tinha que começar primeiro dando uma caracterização, não exatamente uma definição precisa, mas uma caracterização do que que eu tô chamando de “liberdade”. É uma palavra que vai ter muitos significados. E eu queria tomar uma... uma referência, né?, bem simples, e aí eu recorri inclusive a Aristóteles, embora ele seja um autor complexo, à definição que ele dá a uma certa altura. Ele diz assim: “Liberdade é uma pessoa poder fazer o que quer”.

        Essa definição, ela é bastante concreta e bastante simples, né? E parece que satisfaz, pelo menos num primeiro momento. E você poder fazer o que quer é aquilo que é caracterizado pelo fato de você ter liberdade, mas você usar a liberdade é diferente de você ter a liberdade. Porque você ter a liberdade é você PODER fazer o que quer; você usar a liberdade é você FAZER o que quer, né? E como o número das possibilidades que a gente tem é muito maior do que o número de coisas que a gente de fato chega a fazer, quando você vai usar a liberdade, quando você vai passar do TER LIBERDADE pra condição de SER LIVRE, você necessariamente tem que escolher, né?

        Então, o uso da liberdade impõe que necessariamente vocês façam a escolha. Se vocês entram num restaurante, pegam um cardápio, no cardápio tem trinta pratos que vocês podem comer... Vocês não vão comer os trinta pratos, por isso vocês têm que escolher um prato, né?, pra comer. Algumas vezes, nas discussões entre os filósofos aparece isso. Se a gente fosse imortal, se a gente vivesse num tempo infinito, a escolha da profissão, por exemplo, seria só uma escolha de ordem. Que profissão você quer ser primeiro? Porque, pra quem não vai morrer nunca, com o passar do tempo você acabaria fazendo todas as profissões.

        O diabo é que nós somos mortais, nós temos um tempo limitado, e esse tempo limitado impõe que as escolhas ganhem uma radicalidade muito grande. Quando você escolhe alguma coisa, você, na verdade, abre mão das demais. Então isso torna a escolha uma coisa bastante complicada.

        Por isso eu pensei já alguns anos atrás em tentar organizar um manual de instrução pro uso da liberdade, né? Para aqueles que estão começando a exercer a liberdade, que aspectos deveriam ser trazidos na presença... pra que o uso da liberdade fosse o melhor possível. Ahn... esse manual não é uma determinação, esse manual não diz o que que vocês devem fazer, ou como vocês devem usar. Apenas levanta algumas questões que estão envolvidas no uso da liberdade concretamente. E na primeira folha do manual tem uma advertência. E a advertência diz assim: “Atenção: a má utilização do produto pode acarretar danos irreparáveis ao mesmo”. Quando vocês usam a liberdade de vocês pra escolher certas opções, vocês põem em risco a liberdade de vocês, né? A experiência concreta, por exemplo, do... do uso de drogas que desenvolvem dependência. Se [...] você usa droga e se torna dependente, você teve uma severa perda de liberdade, porque o dependente químico é severamente limitado na sua liberdade. Da mesma forma, se você bebe bastante e pega sua moto para ir passear, a chance que você tem de ganhar, né?, uma lesão às vezes com caráter irrecuperável pro resto da vida e, portanto, uma privação radical de liberdade é, às vezes, bastante grande. Por isso, é conveniente que pra usar a liberdade algumas questões tenham sido refletidas.

        [...]

        Então, a primeira coisa que eu queria... quando você for usar a liberdade lembra do seguinte: ser livre não é só você fazer o que quer, é também você poder continuar querendo o que você fez. Porque quando, no desdobrar do tempo, você não quer mais ter feito o que você fez, você vai descobrir que o seu pior carcereiro é você mesmo. E isso é extremamente frustrante, isso é extremamente pesado, e por isso o exercício da liberdade obriga você a compreender a vida numa visão que vai pra além do imediato.

        [...]

POMPEIA, Guto. Palestra proferida em maio de 2012. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=LLk4jGEFP7s.  Acesso em: 24 nov. 2015.

       Fonte: Língua Portuguesa – Se liga na língua – Literatura, Produção de texto, Linguagem – 2 Ensino Médio – 1ª edição – São Paulo, 2016 – Moderna – p. 169-171.

Entendendo a palestra:

01 – A liberdade é o tema da palestra.

a)   Segundo o texto, qual é a preocupação imediata dos alunos que assistem à palestra?

A escolha profissional.

b)   De que maneira o palestrante vincula essa preocupação ao tema de sua fala?

A escolha profissional é um exercício de liberdade que pressupõe a abdicação de outras possibilidades e, por isso, exige reflexão.

c)   Que outro tema relativo à vida do jovem também foi associado à questão da liberdade? Explique como tal associação foi realizada.

O palestrante associou o tema da liberdade ao uso de drogas, cujas consequências podem restringir severamente a liberdade do usuário.

02 – Segundo o palestrante, por que o tema da liberdade está diretamente relacionado ao tema da escolha?

      O palestrante desenvolve a ideia de que as pessoas têm a liberdade de escolher, mas só são efetivamente livres quando realizam esse ato.

03 – O palestrante afirma ter organizado um “manual de instrução para o uso da liberdade”.

a)   Por que o uso do gênero “manual de instrução” parece conflitar com sua proposta?

Segundo o palestrante, sua intenção com o manual de instrução não é ditar orientações, o que contrasta com as características desse gênero.

        manual de instrução é um gênero textual voltado a apresentar explicações de como usar, manter ou fazer algo. É bastante comum nesse gênero o emprego de verbos no imperativo ou no infinitivo com valor de imperativo, já que o texto é injuntivo, ou seja, destinado a indicar procedimentos.

b)   O palestrante está ciente de que as características do gênero não se aplicam integralmente ao seu objetivo? Justifique.

Sim. Ele explicita isso ao introduzir uma ressalva: “esse manual não é uma determinação, esse manual não diz o que que vocês devem fazer, ou como vocês devem usar”.

c)   No texto da advertência — “Atenção: a má utilização do produto pode acarretar danos irreparáveis ao mesmo” —, a que se refere o termo “produto”? Justifique.

“Produto” refere-se a “liberdade”. O manual dedica-se a explicar como usar a liberdade.

04 – Releia o final do texto.

        “[...] e por isso o exercício da liberdade obriga você a compreender a vida numa visão que vai pra além do imediato.”

a)    Esse comentário alude a uma importante característica do adolescente. Qual?

A tendência a se preocupar apenas com o momento presente, desconsiderando as questões futuras.

b)    Qual seria a intenção do palestrante ao concluir a primeira parte de sua exposição com essa reflexão?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: É importante que o aluno associe a discussão sobre liberdade e visão de futuro ao tema da escolha, tratado para abordar a escolha profissional.

NOTÍCIA: PRIMEIRO BORBOLETÁRIO DA CIDADE SERÁ INAUGURADO EM OUTUBRO - (FRAGMENTO) - MAURICIO XAVIER - COM GABARITO

 Notícia: Primeiro borboletário da cidade será inaugurado em outubro – Introdução (Fragmento)

          O Águias da Serra contará com 27 espécies e custou 1,5 milhão de reais; fica localizado na Zona Sul

        Cerca de 2 mil borboletas voando ao som de música clássica. Esse panapaná (para quem não sabe, é o coletivo do gracioso inseto) formará o primeiro borboletário da capital, o Águias da Serra, que deve ser aberto até outubro na área de proteção ambiental Capivari-Monos, na Zona Sul, a um custo de 1,5 milhão de reais. [...]

XAVIER, Mauricio. Publicada em: 5 jul. 2013. Disponível em: http://vejasp.abril.com.br/nateria/primeiro-borboletario-da-cidade/. Acesso em: 23 out. 2015. (Fragmento).

      Fonte: Língua Portuguesa – Se liga na língua – Literatura, Produção de texto, Linguagem – 2 Ensino Médio – 1ª edição – São Paulo, 2016 – Moderna – p. 231-2.

Entendendo a notícia:

01 – O termo borboletário poderia ser utilizado como sinônimo de panapaná? Justifique.

      Não, panapaná é um conjunto de borboletas, enquanto borboletário é um espaço construído para observação desses insetos.

02 – Que fato envolvendo o uso de coletivos é destacado no texto?

      O fato de que alguns coletivos não são do conhecimento de todos, já que têm uso pouco frequente.

03 – Quais coletivos deveriam ser usados caso a reportagem tratasse da observação de conjuntos de abelhas, gafanhotos e formigas?

      Enxame, nuvem e colônia.

04 – Mencione os animais que você veria se lhe fosse apresentada a fotografia de uma cáfila, de uma matilha e de uma vara.

      Camelos, cães e porcos.

05 – Você acharia estranho se fosse convidado a participar de uma banca? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Não, porque banca é o coletivo de examinadores, pessoas convidadas a avaliar algo.

06 – Um jogador de vôlei pode dizer que faz parte de um time, substantivo coletivo. Cite alguns coletivos de que você faça ou já tenha feito parte.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestões: assembleia (pessoas reunidas), banda (músicos), batalhão (soldados), coro (cantores), corpo (alunos, eleitores), elenco (atores), júri (jurados), multidão (pessoas em geral), plateia (espectadores), turma (estudantes, amigos).

NOTÍCIA: COMO NÃO PERDER OS GUIMARÃES ROSA DA INFÂNCIA - (FRAGMENTO) - PATRÍCIA GOMES - COM GABARITO

 Notícia: Como não perder os Guimarães Rosa da infância – Fragmento

             Patrícia Gomes

        Um dia, o neto do educador Severino Antônio o puxou para fora de casa. Queria se deitar no chão de braços abertos para ver o céu estrelado. Intrigado com o que via, virou-se para o avô e perguntou: “Quem é a peixa mãe de todas as estrelas?”. Se o céu é um mar, o menino estava mais do que certo de ter essa dúvida. “Isso é Guimarães Rosa puro”, emociona-se o avô. “Nas minhas aulas, pego frases ditas por crianças e atribuo a um grande autor. Ninguém duvida que eu esteja falando a verdade”, diz ele, que é professor de redação e leitura, literatura, poesia [...].

        “Todas as crianças são questionadoras, filosóficas e poéticas. Elas não são folhas em branco, são seres em formação”, diz Antônio. Mas os sistemas escolares e até mesmo os professores acabam inundando alunos muito novos com modelos pré-moldados que os desestimulam a agir conforme sua natureza, acredita. “É comum crianças perguntarem coisas como: ‘quem é o Deus de Deus?’ ou ‘quando nasceu o mundo?’. São questionamentos levados pela mais alta filosofia. Não podemos deixar que isso se perca.”

        [...]

GOMES, Patrícia. Publicada em: 7 maio 2013. Disponível em: http://noticias.terra.com.br/educacao/como-nao-perder-os-guimaraes-rosa-da-infancia,f95ce42f44f7e310VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html.  Acesso em: 5 nov. 2015. (Fragmento).

      Fonte: Língua Portuguesa – Se liga na língua – Literatura, Produção de texto, Linguagem – 2 Ensino Médio – 1ª edição – São Paulo, 2016 – Moderna – p. 254.

Entendendo a notícia:

01 – Com base no texto, caracterize a produção literária do escritor modernista mineiro Guimarães Rosa (1908-1967).

      Segundo o texto, Guimarães Rosa é um autor “questionador”, “filosófico” e “poético”, qualidades atribuídas às crianças, com as quais foi comparado.

02 – Que função tem o artigo os no título do texto?

      Com o artigo, o substantivo próprio torna-se comum e passa a designar não uma pessoa específica, mas sim um tipo de pessoa: aquela que é criativa e poética.

03 – Explique a analogia (comparação) feita pelo neto do educador.

      A criança comparou o céu a um mar e imaginou que as estrelas surgissem a partir de um ser, “a peixa mãe”.

04 – Por que essa analogia autoriza uma relação entre a criança e Guimarães Rosa?

      Essa analogia mostraria uma visão inusitada e poética do mundo, semelhante às que aparecem nas obras do autor mineiro.

05 – Peixe é um substantivo epiceno. Que recursos linguísticos o garoto empregou para indicar um peixe do sexo feminino?

      A indicação do sexo feminino deu-se com o uso do artigo feminino a, do emprego de uma desinência nominal de feminino acrescentada ao radical da palavra peixe e do acompanhamento desta pelo termo mãe, de gênero feminino, usado como determinante.

06 – Identifique no caderno a função do artigo indefinido em um dia e relacione-a ao uso comum dessa expressão.

      O artigo indefinido um é usado para indicar indeterminação, sugerindo que um dia é “qualquer dia”.

07 – Existe diferença de sentido entre as expressões nas minhas aulas, usada pelo educador, e em minhas aulas? Justifique.

      Não; trata-se de uma simples questão estilística, uma vez que o pronome possessivo já determina o substantivo, e o uso do artigo antes dele é opcional.

08 – Releia a frase que inicia o segundo parágrafo: “Todas as crianças são questionadoras, filosóficas e poéticas”. No português contemporâneo brasileiro, qual das formulações a seguir é mais adequada como equivalente da expressão destacada: toda a criança, toda criança ou ambas? Justifique sua resposta.

      No português contemporâneo do Brasil, a equivalência mais adequada com a expressão todas as crianças se dá com a formulação toda criança, uma vez que esta também contém a ideia de generalização. Já toda a criança equivale mais usualmente a “a criança inteira”.

NOTÍCIA: CASO RARO: BEBÊ NASCE GRÁVIDO NA CHINA - COM GABARITO

 Notícia: Caso raro: bebê nasce grávido na China

      Uma rara condição em seu irmão gêmeo que não se desenvolveu fez um bebê nascer “grávido” na China.

        O caso aconteceu em Changzhou, na província de Jiangsu, quando um bebê de pouco mais de três quilos foi operado. A princípio os médicos suspeitavam de um tumor de 16 cm de diâmetro em sua barriga.

        Quando a criança foi para a mesa de cirurgia, o susto. Um gêmeo que não se desenvolveu devido à não separação completa de embriões estava alojado na sua barriga.

        A anormalidade específica é classificada como “fetus in fetu”, e é extremamente rara, ocorrendo apenas em 1 a cada 500.000 nascimentos.

Publicada em: 31 maio 2015. Disponível em: http://www.meionorte.com/entretenimento/curiosidade/caso-raro-bebe-nasce-gravido-na-china-2722076. Acesso em: 29 out. 2015.

Fonte: Língua Portuguesa – Se liga na língua – Literatura, Produção de texto, Linguagem – 2 Ensino Médio – 1ª edição – São Paulo, 2016 – Moderna – p. 237-8.

Entendendo a notícia:

01 – O termo grávido recebeu um destaque no primeiro parágrafo da notícia. Considerando as informações do texto, qual é a forma mais adequada de grafar a palavra: entre aspas ou sem elas? Justifique.

      É mais adequado grafar a palavra entre aspas, já que o termo não foi usado com sentido preciso; a criança não estava grávida de fato.

02 – A palavra bebê pode se referir tanto a um menino (o bebê) quanto a uma menina (a bebê). De que modo se indicou, já no título da notícia, que o recém-nascido era do sexo masculino?

      O termo grávido apresenta uma desinência indicativa de gênero masculino (-o).

03 – O substantivo criança foi empregado no texto como hiperônimo de bebê. Se apenas aquela palavra fosse usada tanto no título da notícia quanto no resto do texto, seria possível saber o sexo do recém-nascido? Justifique.

      Não seria possível identificar o sexo do bebê, porque criança é um termo de gênero feminino, mas pode se referir tanto a meninos quanto a meninas.

04 – Explique por que o adjetivo grávido parece duplamente inadequado quando atribuído ao bebê.

      A gravidez não é um estado compatível com a condição de um ser do sexo masculino ou com a condição de alguém que não atingiu a maturidade física.

MÚSICA(ATIVIDADES): UMA CANÇÃO É PRA ISSO - SKANK - COM GABARITO

 Música(Atividades): Uma Canção É Pra Isso 

   Skank

Uma canção é pra acender o Sol
No coração da pessoa
Pra fazer brilhar como um farol
O som depois que ressoa

Uma canção é pra trazer calor
Deixar a vida mais quente
Pra puxar o fio da paixão
No labirinto da gente

Pra consertar
Pra defender a cidadela
Pra celebrar
Pra reunir bairro e favela

Uma canção me veio sem querer
Naquela hora difícil
Joguei-a logo nesse iê iê iê
Por profissão ou por vício

Pra clarear a escuridão
Que o mundo encerra
Pra balançar
Pra reunir o céu e a terra

Uma canção é pra fazer o Sol
Nascer de novo
Pra cantar o que nos encantou
Na companhia do povo

Pra consertar
Pra defender a cidadela
Pra celebrar
Pra reunir bairro e favela

Uma canção é pra acender o Sol
No coração da pessoa
Pra fazer brilhar como um farol
O som depois que ressoa

Pra clarear a escuridão
Que o mundo encerra
Pra balançar
Pra reunir o céu e a terra.

Chico Amaral / Samuel Rosa. Uma canção é pra isso. Multishow ao vivo – Skank no Mineirão, 2010. Disponível em: http://www.skank.com.br/musica/uma-cancao-e-pra-isso/. Cesso em: 6 abr. 2016.

       Fonte: Língua Portuguesa – Se liga na língua – Literatura, Produção de texto, Linguagem – 2 Ensino Médio – 1ª edição – São Paulo, 2016 – Moderna – p. 119.

Entendendo a música:

01 – De acordo com o texto, quem são os compositores desta canção? Quem canta a canção?

      Composição de Chico Amaral e Samuel Rosa. Foi gravada pelo grupo Mineiro Skank.

02 – Releia a estrofe a seguir, observando as metáforas que ela contém:

“Pra clarear a escuridão
Que o mundo encerra
Pra balançar
Pra reunir o céu e a terra.”

        Relacione esses versos ao texto de Baudelaire, especialmente ao trecho: “Na música [...] há sempre uma lacuna a ser completada pela imaginação do ouvinte”.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A palavra lacuna representa as metáforas da canção a qual devem ser completada.

03 – Que palavras, na letra de “uma canção é pra isso”, exemplificam a seguinte ideia de Verlaine: “O Indeciso se junta ao Preciso”?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: As palavras selecionadas deverão aludir e sugerir, mas ao mesmo tempo passar a impresso de “precisão”, isto é, a sensação de que os compositores utilizaram precisamente uma palavra ou expressão para transmitir determinada ideia ou imagem.

REPORTAGEM: INSTAPOETAS, O FENÔMENO QUE TIROU A POEIRA DA POESIA - (FRAGMENTO) - VEJA - COM GABARITO

 Reportagem: Instapoetas, o fenômeno que tirou a poeira da poesia – Fragmento

          Jovens autores impulsionam o gênero na internet – e na lista de best-sellers

        Existe amor (em forma de poesia) nas redes sociais. Transformada em um polarizado campo de batalha político, a internet também foi tomada por um movimento crescente de jovens poetas, que cravaram seu espaço no online com textos curtos, compartilháveis e fáceis de se relacionar, e acabaram refletidos com muito sucesso na literatura tradicional.

        Pela força no Instagram, os escritores acabaram apelidados de instapoetas. Nomes como João Doederlein, Ryane Leão, Lucão e Zack Magiezi exploram de forma engenhosa temas como amor, decepção, saudade e autoestima, a maioria com caráter motivacional, bebendo de fontes filosóficas e do velho formato dos provérbios, enquanto ainda se arriscam na tendência metalinguística – que fala sobre a própria poesia e a arte de escrever.

        Com centenas de milhares de seguidores, os poetas do Instagram migraram para o papel e, rapidamente, chegaram à lista de best-sellers. Na comparação entre os meses de janeiro a agosto de 2017 com o mesmo período de 2018, os livros de poesia nacionais cresceram em venda 107%*, fenômeno diretamente causado pelos autores virtuais. [...]

CARNEIRO, Raquel; KUSUMOTO, Meire. Instapoetas, o fenômeno que tirou a poeira da poesia. Veja, 12 out. 2018. Disponível em: https://veja.abril.com.br/especiais/instapoetas-o-fenomeno-que-tirou-a-poeira-da-poesia/. Acesso em: 17 jun. 2020.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 64.

Entendendo a reportagem:

01 – Por que o título da reportagem sugere que essa nova geração de poetas “tirou a poeira da poesia”?

      Porque a nova geração de poetas renovou o cenário de autores e o modo de divulgar / consumir a poesia, já há tempos “empoeirada”. Com o fenômeno dos “instapoetas”, a poesia voltou a ser um gênero lido e consumido.

02 – Você conhece algum dos “instapoetas” citados na reportagem ou outro escritor que publique seus textos em redes sociais?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Segundo a reportagem, apesar de terem adotado a internet como meio de circulação original, muitos autores virtuais passaram também a publicar livros, que chegaram, até mesmo, à lista de best-sellers. O que explicaria esse fenômeno?

      A popularidade desses escritores, gerada por sua exposição na internet, incentivou as editoras a publicar seus livros, pois a expectativa era uma boa venda desses títulos, o que se confirmou, no caso dos best-sellers.

04 – Você já pensou em seguir a profissão de escritor? Quais poderiam ser os benefícios e as dificuldades desse trabalho?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: É importante, neste momento, incentivar o diálogo entre os estudantes para aprofundar o debate sobre as dificuldades e os benefícios de ser escritor, ressaltando a dimensão afetiva e engajada do trabalho com a literatura.

05 – E alguma outra profissão relacionada à produção de livros, você já pensou em seguir? Se sim, qual(is) e por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Em sua opinião, qual é a importância da literatura para a sociedade? Por que o trabalho do escritor deve ser valorizado?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Espera-se que os estudantes reflitam sobre o impacto positivo que a literatura e as artes provocam na vida das pessoas, bem como a necessidade de valorizar o escritor, para que ele possa ter o reconhecimento do seu trabalho e o retorno financeiro para garantir o seu sustento, como se esperaria em qualquer profissão.

sábado, 27 de agosto de 2022

POEMA: TRIDENTE, O MEU PENTE - CRISTIANE SOBRAL - COM GABARITO

 Poema: Tridente, o meu pente

               Cristiane Sobral

 Meu pente é diferente

funciona muito bem
não é um pente ruim!
É próprio para o meu pixaim

Não deboche
não provoque
vou deixar você sem jeito
espetar o seu preconceito

Sim, sou negra
negra do cabelo puro
agora vou cutucar seu preconceito
com meu triunvirato da diferença

Meu cabelo não é duro
afirmo a dialética da percepção
nem bom, nem ruim, nem melhor
a alteridade de ser quem eu sou

Diferente, o meu pente
quase um tridente
transforma a ordem
sem fazer desordem

Diante do princípio do caos
convida o sistema
a refazer as suas concepções
para desafiar a história única.

SOBRAL, Cristiane. Tridente, o meu pente. In: SOBRAL, Cristiane. Não vou mais lavar os prantos. Brasília: Dulcina, 2011.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 304-5.

Entendendo o poema:

01 – O eu lírico afirma sua identidade na primeira estrofe. Que identidade é essa?

      O eu lírico identifica-se como uma mulher negra, de cabelo pixaim, desfazendo a ideia de que sua cabeleira é ruim, assim como seu pente especial.

02 – A quem o eu lírico se dirige no diálogo que se estabelece a partir da segunda estrofe?

      A partir da segunda estrofe, o eu lírico dirige-se a um interlocutor que representa as pessoas racistas e preconceituosas que têm uma ideia negativa do cabelo de afrodescendentes.

03 – O que o eu lírico afirma na quarta estrofe?

      O eu lírico afirma sua identidade, dizendo que não é melhor nem pior que ninguém, pois o que quer é afirmar sua alteridade, seu jeito de ser.

04 – Busque informações em fontes confiáveis para saber alguns dos simbolismos que o tridente pode assumir. Com base nesses símbolos, explique o sentido da última estrofe.

      Entre outros significados, o tridente, um objeto de três pontas, pode simbolizar poder e força. Desse modo, a poeta afirma que eu pente, próprio para seu tipo de cabelo, representa o poder e a força das mulheres negras para afirmarem sua identidade.

05 – Por que, na última estrofe do poema, o eu lírico diz que o seu pente – e, por extensão de sentido, o seu cabelo – desafia “a história única”?

      Porque a afirmação do cabelo negro desafia a concepção estética dominante de que bonito é o cabelo liso, das mulheres brancas.

 

 

POEMA: O URAGUAI - FRAGMENTO - BASÍLIO DA GAMA - COM GABARITO

 Poema: O Uraguai – Fragmento

              Basílio da Gama     

CANTO PRIMEIRO

Fumam ainda nas desertas praias

Lagos de sangue tépidos e impuros

Em que ondeiam cadáveres despidos,

Pasto de corvos. Dura inda nos vales

O rouco som da irada artilheria.

MUSA, honremos o Herói que o povo rude

Subjugou do Uraguai, e no seu sangue

Dos decretos reais lavou a afronta.

Ai tanto custas, ambição de império!

E Vós, por quem o Maranhão pendura

Rotas cadeias e grilhões pesados,

Herói e irmão de heróis, saudosa e triste

Se ao longe a vossa América vos lembra,

Protegei os meus versos. [...]

CANTO SEGUNDO

[...]

Prosseguia talvez; mas o interrompe

Sepé, que entra no meio, e diz: Cacambo

Fez mais do que devia; e todos sabem

Que estas terras, que pisas, o céu livres

Deu aos nossos avôs; nós também livres

As recebemos dos antepassados.

Livres as hão de herdar os nossos filhos.

Desconhecemos, detestamos jugo

Que não seja o do céu, por mão dos padres.

As frechas partirão nossas contendas

Dentro de pouco tempo: e o vosso Mundo,

Se nele um resto houver de humanidade,

Julgará entre nós; se defendemos

Tu a injustiça, e nós o Deus e a Pátria.

[...]

GAMA, Basílio da; O Uraguai. Disponível em: http://objdigital.bn.br/Acervo_Digitl/livros_eletronicos/uraguai.pdf. Acesso em: 7 ago. 2020.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 301-3.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o poema, qual o significado da palavra fumam?

      Fumegam, expelem vapores.

02 – Em 1769, o luso-brasileiro Basílio da Gama escreveu o poema épico “O Uraguai”, colocando em versos, como tema central, a história da Guerra Guaranítica, que aconteceu de 1753 a 1756, no sul do Brasil. O título refere-se ao rio Uruguai, em cujas margens houve a disputa de portugueses e espanhóis pelo território ocupado pelos jesuítas. Leia os versos de abertura do poema. Como essa guerra é representada nos cinco primeiros versos do poema e quem são suas principais vítimas?

      É representada como uma guerra sangrenta, pois os cadáveres estão em um lago de sangue. Esses cadáveres estão despidos, o que indica serem os indígenas os mortos vitimados pelo conflito.

03 – Em “O Uraguai”, a proposição corresponde a todo o primeiro canto. Que versos correspondem ao início da invocação e à dedicatória? Qual é a função dessas partes do poema?

      A invocação aparece no verso e que o poeta chama pela MUSA, ou seja, ele pede inspiração para seu trabalho poético, ao mesmo tempo que se coloca a serviço dessa inspiração para alcançar seu objetivo, que é homenagear Mendonça Furtado. A esse, portanto, dirige-se a dedicatória, em que o poeta o define como herói e irmão de heróis, no caso alcançando também a louvação a Pombal, como queria.

04 – Por que e como o poeta se apropriou do gênero épico para escrever o poema?

      O gênero épico foi apropriado pelo poeta porque ele estava seguindo os modelos clássicos, já que se identificava com a estética do Arcadismo. Assim, ele manteve as partes básicas do gênero (as divisões internas e a metrificação), mas alterou sua composição ao não apresentar estrofes nem rimas.

05 – O indígena guarani Sepé Tiarajú (1723-1756) foi uma das figura histórica reais que se destacaram na Guerra Guaranítica. Leia, de acordo com parte do Canto segundo “O Uraguai”, em que ele interrompe o diálogo do cacique Cacambo com os ibéricos e toma a palavra.

a)   Qual é o principal argumento de Sepé para encerrar a conversa com seus inimigos?

O principal argumento é que não valeria a pena discutir com os ibéricos, pois os indígenas sempre seriam livres, não aceitariam a dominação de nenhum poder a não ser o religioso (do céu), intermediado pelos jesuítas. Como portugueses e espanhóis não aceitariam isso, o único caminho era o combate, por meio do qual os indígenas provariam estar do lado certo, lutando por Deus e pela pátria.

b)   Por que podemos dizer que há heroicidade nessa fala de Sepé?

Porque Sepé é altivo, tem convicção em seus argumentos (como quando afirma “detestamos jugo”) e, sobretudo, dispõe-se a colocar a vida em jogo por seus ideais.

c)   Sepé Tiarajú foi reconhecido oficialmente como “herói guarani missionário rio-grandense” pela Lei n. 12.366 de 2005 do estado do Rio Grande do Sul e “Herói da Pátria Brasileira” pela Lei Federal n. 12.032 de 2009. Debata com os colegas e o professor: Qual é a importância de iniciativas como essa que reconhecem Sepé Tiarajú como herói indígena? Esse reconhecimento é suficiente para garantir uma visão positiva dos povos indígenas? Explique.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Iniciativas como essa são importantes porque rompem com a tradição de valorizar apenas os colonizadores. No entanto, somente esse reconhecimento legal não é suficiente, pois pode ajudar a propagar a ideia de que os indígenas são do passado, que não contribuem de modo efetivo com a sociedade contemporânea.