POEMA:
ISMÁLIA
Quando
Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na
torre a sonhar
Viu uma
lua no céu,
Viu outra
lua no mar
No sonho
em que se perdeu,
Banhou-se
toda em luar...
Queria
subir ao céu,
Queria
descer ao mar
E, no
desvario seu,
Na torre
pôs-se a cantar
Estava
perto do céu,
Estava
longe do mar...
E como um
anjo pendeu
As asas
para voar.
Queria a
lua do céu,
Queria a
lua do mar...
As assas
que Deus lhe deu
Ruflaram
de par em par...
Sua alma
subiu ao céu,
Seu corpo
desceu ao mar...
GUIMARAENS,
Alphonsus de. Ismália. In: Roteiro da poesia brasileira –
Simbolismo Seleção e prefácio de Lauro Junkes. São Paulo: Global, 2006. P.
62-3.
ENTENDENDO O POEMA
1 – O
poema “Ismália” é bastante sonoro Identifique, nele, elementos responsáveis por
essa sonoridade.
O uso da rendondilha maior, versos de sete sílabas poéticas e o uso recorrente
de palavras rimando com final – eu e –ar em todas as estrofes.
2
- O poema trabalha com inúmeras antíteses. Identifique-as.
Céu/mar;
subir/descer; perto/longe; alma/corpo; alto/baixo (em relação a torre).
3
- Qual o tema trabalhado no poema? De que forma as antíteses
acentuam essa temática?
O tema do poema é a loucura de Ismália. As antíteses acentuam essa temática porque
deixam clara a divisão de Ismália, sua loucura. O fato de ela sentir-se
perdida, insatisfeita, incapaz de escolher entre desejos contrários.
4
- Explique o sentido da última estrofe do poema.
Ismália não consegue suportar a loucura e se suicida Dessa maneira, realiza seu
desejo de alcançar o céu e o mar ao mesmo tempo, já que seu corpo se lança ao
mar e sua alma sobe ao céu.
5
- Uma das marcas centrais do Simbolismo é a sugestão, levar o
leitor a perceber o que está por trás e além das palavras usadas pelo poeta. A
partir disso, é possível afirmar que o poema “Ismália” apresenta essa marca?
Justifique sua resposta.
Sim. O poeta trabalha com símbolos, como a partição em dois desejos
inconciliáveis para retratar a loucura Do mesmo modo, o suicídio vem sugerido
nas entrelinhas, cabe ao leitor captar a atmosfera do poema e compreender o que
se passou com Ismália.
06 – Alguns poemas de
Alphonsus de Guimaraens ligam-se à tradição medieval. Observe no texto os
seguintes aspectos formais: métrica, ritmo e paralelismos.
a)
O poema em estudo liga-se ou não a essa
tradição? Justifique.
Sim, liga-se a tradição medieval, devido aos aspectos formais do
texto, segue as características do Simbolismo, onde os poemas possuem um
triângulo, misticismo, amor e morte.
b)
Que outro movimento literário perseguiu a
mesma tradição medieval?
O movimento que seguiu a mesma tradição medieval foi o Romantismo.
07 – Todo o poema é
constituído com base em antíteses. As antíteses articulam-se em torno dos
desejos contrários de Ismália, que se dividem entre a realidade espiritual e a
realidade concreta.
a)
Identifique dois pares de antíteses no texto.
As antíteses no poema estão nas últimas estrofes: “Sua ALMA subiu ao
céu / Seu CORPO desceu ao mar”. Antíteses são ideias contrárias, opostas. Corpo
e alma são palavras contrárias entre si.
b)
Reconheça o elemento que representa a
realidade espiritual e o que representa a realidade concreta.
Espiritual – “Sua Alma subiu ao céu”.
Concreto – “Seu Corpo desceu ao mar”.
08 – O Simbolismo, por ser um
movimento anti-lógico e anti-racional, valoriza os aspectos interiores e pouco
conhecidos da alma e da mente humana. Retire do texto palavras ou expressões
que comprovem essa característica simbolista.
As
características do simbolismo com os verbos: enlouqueceu, sonhar, além de
desvario, “Como um anjo” e “As asas que Deus lhe deu”.
09 – Tal qual no Barroco e
no Romantismo, o poema estabelece relações entre corpo e alma ou matéria e
espírito. Com base no desfecho do poema, responda:
a)
Céu e mar relacionam-se ao universo material
ou espiritual?
Universo espiritual é representado pela lua do céu e o universo
concreto é representado pela lua do mar.
b)
Ismália conseguiu realizar o desejo
simbolista de transcendência espiritual?
Sim, porque a morte, no período simbolista é vista como elemento
libertador. Quando Ismália cai ao mar, ela realiza esse desejo.
c)
Pode-se afirmar que, para os simbolistas,
sonho e loucura levam à libertação? Justifique.
Sim, para os simbolistas, sonho e loucura tornam os homens livres, pois
a razão e a lógica prendem o homem a este duro mundo real, e transpassar os
limites significa a libertação da alma.
10 – Identifique alguns
elementos responsáveis pela intensa musicalidade que caracteriza o poema,
considerando antológico tanto em relação à produção do autor quanto em relação
ao Simbolismo brasileiro.
As rimas, os versos curtos (sete sílabas
métricas), as assonâncias, as aliterações, as reticências e os paralelismos
atribuem intensa musicalidade ao texto.
11 – Relendo a 1ª e 2ª estrofes,
percebemos que o texto tem a loucura e a morte como tema.
a)
A 1ª estrofe desencadeia uma sequência de
imagens com as quais o sujeito poético atribui uma dimensão lírica e metafísica
à loucura de Ismália. Identifique e explique essas imagens.
A partir do momento em que enlouqueceu, Ismália “Pôs-se na torre a
sonhar...”, isto é, tornou-se como que superior em relação ao real e
entregou-se a um onirismo – “Viu uma lua no céu, / Viu outra lua no mar” – que
pode significar busca de unidade cósmica, de reunião do corpo (a lua do mar)
com a alma (a lua do céu).
b)
Na 2ª estrofe quais são os desejos de Ismália
e o que representam?
Os desejos de Ismália – querer subir ao céu / querer subir ao mar –
parecem representar a morte, aqui entendida como reunião entre corpo e alma,
integração com a natureza.
12 – Mencione e interprete
as características temáticas simbolistas da 3ª estrofe.
Na 3ª estrofe o
canto de Ismália associa-se à manifestação de sua loucura, e também à
proximidade em que se encontra do céu, da transcendência espiritual,
caracterizando fortemente a presença do estilo Simbolista.
13 – Na 4ª estrofe, o que
acontece com Ismália?
a)
Do ponto de vista de uma visão racional da
existência.
Ismália se suicida.
b)
Do ponto de vista de uma visão simbolista da
existência.
Ao morrer, a alma de Ismália “sobe ao céu”, enquanto seu corpo
“desce ao mar”, com o movimento das “asas que Deus lhe deu”. Ou seja, ela
reencontra a unidade perdida, a transcendência, a transfiguração para a
dimensão esoiritual e metafísica da existência.