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quarta-feira, 4 de junho de 2025

TEXTO: A CONTEMPORANEIDADE DO "PANIS ET CIRCENSES"- COM GABARITO

 Texto: A contemporaneidade do “Panis et circenses”

        No período denominado “século de ouro”, na Roma Antiga, instituiu-se o chamado “Panis et circenses”. A população recebia o alimento, a diversão, e tudo estava resolvido. Posteriormente, com a Revolução Industrial, deu-se a ideia do imediatismo, da rapidez nas linhas de produção. A história expõe que as ações e os pensamentos a longo prazo são cada vez menos priorizados pelo ser humano, em decorrência de uma construção ideológica que preza pela síntese, pelo veloz. Mas por quais razões isso ocorre?

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjH_cpsIzBPA81RIgqXuZNr1Yg1msVQaHLYDi_FGy_GY-F6RGIGDL7C8OmLI98PJrvlPV6Y378EkY3fT38gGDXUmTHEqF0a6lajBa3WRYN1-l5DZ6Qi4JjWx3RZQBRPYmXHXbsPXFZFdkhbtDWwQIrnTCloXqoW_UEpk5etVIU7p0SN4rMGgHc8ULCdB2k/s1600/PaniseCircenses.jpeg


        O tempo é tido – ou dado – como o agente condicionante da vida contemporânea. Ou melhor, a falta dele. Tornamo-nos escravos dos ponteiros, tornamo-nos vítimas de medidas que nós mesmos criamos. Esperar tornou-se uma tortura: deve-se viver – ou simplesmente “existir” – de acordo com o modelo just-in-time. Quando G. Lipovetsky afirma que a cultura do sacrifício está morta, é possível aplicar tal ideia ao fato de que a cultura do agora destruiu paulatinamente o poder do ser humano sobre o tempo, fazendo-o temer o passar dos dias, dos meses, do ano. Teme-se o envelhecimento, teme-se a morte.

        Mas o que verdadeiramente morre, se morrer o homem? O legado humano reduz-se porque não há tempo para deixar registro. Deve-se ler o jornal, pegar o metrô, trabalhar. Práticas como a leitura vêm sendo abandonadas pelas novas gerações que nasceram com um cronômetro instalado em suas mentes. O altruísmo e o amor natural e desinteressado já não existem, pois vive-se em prol do individual, do singular, não havendo, portanto, o estabelecimento de um “todo” harmonioso e relativamente equilibrado que leva o nome de “coletivo”. Levaria.

        Sucumbir ao paradoxo dos instantes, em prol da ascensão dos valores pregados por aqueles que defendem o estilo de vida que somos condicionados a levar, é anular a essência do ser humano como item imprescindível para o estabelecimento e disseminação da condição animal a que pertencemos. Exigir o veloz, o imediato e o sintético, sem ter a consciência de que estes valores são injetados em nossas mentes, é ter a confirmação de que o “Panis et circenses” da Roma Antiga é tão contemporâneo quanto o advento da globalização.

Candidato da FUVEST. Disponível em: https://document.onl/documents/a-contemporaneidade-do-panis-et-circenses.html. Acesso em 26/06/2021.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 309.

Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

-- Altruísmo: interesse pelo bem-estar do próximo.

-- Panis et circenses: expressão latina que significa “pão e circo”.

02 – Qual o conceito de "Panis et circenses" e como o texto o relaciona com a contemporaneidade?

      "Panis et circenses" refere-se à prática da Roma Antiga de fornecer alimento e diversão à população para mantê-la controlada. O texto argumenta que esse conceito é contemporâneo porque, assim como no passado, a sociedade atual é condicionada a valorizar o imediato e o sintético, distraindo-se das questões mais profundas, o que se assemelha ao "pão e circo" moderno.

03 – Como a Revolução Industrial e a ideia do "just-in-time" contribuíram para a valorização do imediatismo na sociedade atual?

      A Revolução Industrial introduziu a ideia de rapidez nas linhas de produção, criando uma cultura do imediatismo. O conceito de "just-in-time" intensifica essa mentalidade, fazendo com que a espera se torne "tortura" e as ações a longo prazo sejam menos priorizadas, transformando as pessoas em "escravas dos ponteiros".

04 – De acordo com o texto, quais são os impactos da cultura do "agora" no legado humano e nas práticas sociais?

      A cultura do "agora" reduz o legado humano porque não há tempo para deixar registros significativos. Práticas como a leitura são abandonadas, e o altruísmo e o amor desinteressado deixam de existir, pois a vida se torna focada no individual, desestruturando a ideia de um "coletivo" harmonioso.

05 – O que o autor quer dizer com a afirmação de G. Lipovetsky de que "a cultura do sacrifício está morta" no contexto da crônica?

      No contexto da crônica, essa afirmação significa que a cultura da gratificação instantânea e da velocidade destruiu a capacidade humana de lidar com o tempo e a paciência. As pessoas não estão mais dispostas a "sacrificar" o presente pelo futuro, temendo o envelhecimento e a morte, o que as leva a valorizar o imediato.

06 – Qual a conclusão principal do autor sobre a relação entre o "Panis et circenses" e a condição humana na contemporaneidade?

      A conclusão principal é que a adesão aos valores do veloz, do imediato e do sintético, sem a consciência de que são "injetados" em nossas mentes, é a confirmação de que o "Panis et circenses" da Roma Antiga é tão presente quanto a globalização. Isso significa que o ser humano está anulando sua essência ao sucumbir a esse paradoxo dos instantes, sendo condicionado a uma "condição animal" que preza pela gratificação superficial em detrimento de uma reflexão mais profunda.

 

domingo, 1 de junho de 2025

TEXTO: MASSACRE DE ELDORADO DOS CARAJÁS - JOSÉ SARAMAGO - COM GABARITO

 Texto: MASSACRE DE ELDORADO DOS CARAJÁS

           JOSÉ SARAMAGO

        No dia 17 de abril de 1996, no estado brasileiro do Pará, perto de uma povoação chamada Eldorado dos Carajás (Eldorado: como pode ser sarcástico o destino de certas palavras...), 155 soldados da polícia militarizada, armados de espingardas e metralhadoras, abriram fogo contra uma manifestação de camponeses que bloqueavam a estrada em ação de protesto pelo atraso dos procedimentos legais de expropriação de terras, como parte do esboço ou simulacro de uma suposta reforma agrária na qual, entre avanços mínimos e dramáticos recuos, se gastaram já cinquenta anos, sem que alguma vez tivesse sido dada suficiente satisfação aos gravíssimos problemas de subsistência (seria mais rigoroso dizer sobrevivência) dos trabalhadores do campo. Naquele dia, no chão de Eldorado dos Carajás ficaram 19 mortos, além de umas quantas dezenas de pessoas feridas.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2FkMfVFKs5fQce2KUfkLj6Dj8pq9xxHG9FlAnU-q4ejzTkfTLIryyippfZjLNEl6KdHpcceODg_6f0AB-g1vnQ5BUln9MIs3XNKSzPZiuVvjMHcDBeZnVV0KIRjfHpulH97H0UjBFOzx_W69hbB_H6SwIWec7Y0IXoeVzcD3QfoqEPGEIqFtq3jr63mA/s1600/images.jpg

        Passados três meses sobre este sangrento acontecimento, a polícia do estado do Pará, arvorando-se a si mesma em juiz numa causa em que, obviamente, só poderia ser a parte acusada, veio a público declarar inocentes de qualquer culpa seus 155 soldados, alegando que tinham agido em legítima defesa, e, como se isto lhe parecesse pouco, reclamou processamento judicial contra três dos camponeses, por desacato, lesões e detenção ilegal de armas. O arsenal bélico dos manifestantes era constituído por três pistolas, pedras e instrumentos de lavoura mais ou menos manejáveis. Demasiado sabemos que, muito antes da invenção das primeiras armas de fogo, já as pedras, as foices e os chuços haviam sido considerados ilegais nas mãos daqueles que, obrigados pela necessidade a reclamar pão para comer e terra para trabalhar, encontraram pela frente a polícia militarizada do tempo, armada de espadas, lanças e alabardas. Ao contrário do que geralmente se pretende fazer acreditar, não há nada mais fácil de compreender que a história do mundo, que muita gente ilustrada ainda teima em afirmar ser complicada demais para o entendimento rude do povo.

José Saramago. In: Sebastião Salgado. Terra. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 11.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 19.

Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

-- Alabarda: arma antiga, formada por haste de madeira em ferro largo e pontiagudo, atravessando por outro em forma de meia-lua.

-- Chuço: vara ou pau armado de ponta de ferro ou de aço.

-- Simulacro: ação simulada, falsificação.

02 – Qual foi o contexto e o motivo da manifestação dos camponeses em Eldorado dos Carajás, segundo o texto de José Saramago?

      A manifestação dos camponeses ocorreu em protesto contra o atraso nos procedimentos legais de expropriação de terras, parte de uma reforma agrária que, após cinquenta anos, ainda não havia oferecido soluções significativas para os graves problemas de subsistência dos trabalhadores rurais. Eles bloquearam a estrada como forma de pressionar por seus direitos.

03 – Descreva a ação da polícia militarizada contra os manifestantes e as consequências imediatas desse confronto.

      No dia 17 de abril de 1996, 155 soldados da polícia militarizada, armados com espingardas e metralhadoras, abriram fogo contra a manifestação pacífica dos camponeses. O resultado imediato foi a morte de 19 pessoas e dezenas de feridos.

04 – Qual foi a alegação da polícia do estado do Pará três meses após o massacre, e como José Saramago a critica no texto?

      Três meses após o massacre, a polícia do Pará declarou publicamente a inocência de seus 155 soldados, alegando legítima defesa. Saramago critica essa postura ao apontar a contradição de a polícia se colocar como juíza em uma situação em que era claramente a parte acusada. Ele também ironiza a alegação ao contrastar o armamento pesado da polícia com as "armas" dos camponeses: três pistolas, pedras e instrumentos de lavoura.

05 – Segundo o texto, qual era a principal reivindicação dos camponeses e como Saramago relaciona essa reivindicação com a história da luta por direitos?

      A principal reivindicação dos camponeses era "pão para comer e terra para trabalhar", ou seja, condições básicas de sobrevivência e dignidade através do acesso à terra. Saramago relaciona essa reivindicação com a longa história da luta por direitos, mencionando que mesmo antes das armas de fogo, instrumentos simples como pedras e foices eram considerados ilegais nas mãos daqueles que lutavam por necessidades básicas. Ele sugere que essa dinâmica de opressão persiste ao longo da história.

06 – Qual a crítica geral de José Saramago presente no texto em relação à compreensão da história e à situação dos trabalhadores do campo?

      Saramago critica a ideia de que a história é excessivamente complexa para o entendimento do povo, argumentando que, na verdade, a história do mundo é facilmente compreensível, especialmente no que diz respeito à luta dos oprimidos por seus direitos. Ele denuncia a persistente falta de atenção e solução para os gravíssimos problemas de subsistência dos trabalhadores do campo no Brasil, evidenciada pela lentidão e ineficácia da reforma agrária.

 

terça-feira, 15 de abril de 2025

TEXTO: O TESTAMENTO - ADAPTADO DE AMARO VENTURA E ROBERTO A. SOARES - COM GABARITO

 Texto: O Testamento

        Um homem rico, sem filhos, sentindo-se morrer, pediu papel e caneta e escreveu assim:

        "Deixo meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do mecânico nada aos pobres".

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLKJYvdtFDo6qC5p5OYBcqaEtr0pL-g3idJxGv0qSYQH-Kv_GiMtRoP4__wASTzR8Lu8vlT6PiWoqLrkKHWveq0fOZmXR338dEVSMeCOEiJl4M3SU4xvgVYKCw526q0AJB0V5LSvEhUjalWJIo9Vi00_lRbYbAyShE69CktXia7TDhaMMeGPPERQZkDEA/s320/TESTAMENTO.jpg


        Não teve tempo de pontuar – morreu.

        Eram quatro concorrentes. Chegou o sobrinho e fez estas pontuações numa cópia do bilhete:

        "Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do mecânico. Nada aos pobres."

        A irmã do morto chegou em seguida com outra cópia do testamento e pontuou assim:

        "Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do mecânico. Nada aos pobres."

        Apareceu o mecânico, pediu uma cópia do original e fez estas pontuações:

        "Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do mecânico. Nada aos pobres."

        Um juiz estudava o caso, quando chegaram os pobres da cidade. Um deles, mais sabido, tomou outra cópia do testamento e pontuou deste modo:

        "Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do mecânico? Nada! Aos pobres!”.

Adaptado de: Amaro Ventura e Roberto Augusto Soares Leite. Comunicação/Expressão em língua nacional. 5ª série. São Paulo: Nacional, 1973. p. 84.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 7ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 1ª ed. 15ª reimpressão – São Paulo: Atual Editora, 2003. p. 106.

Entendendo o texto:

01 – Qual é a principal causa da disputa entre os concorrentes no texto?

      A principal causa da disputa é a falta de pontuação no testamento original do homem rico, o que permite diferentes interpretações sobre a destinação de seus bens.

02 – Quantos e quais são os concorrentes que aparecem na história para reivindicar a herança?

      Aparecem quatro concorrentes: a irmã do morto, o sobrinho, o mecânico e os pobres da cidade.

03 – Como o sobrinho interpreta e pontua o testamento para beneficiar a si mesmo?

      O sobrinho pontua o testamento da seguinte forma: "Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do mecânico. Nada aos pobres." Ele nega a intenção de deixar os bens para a irmã e afirma que ele é o herdeiro.

04 – De que maneira a irmã do morto pontua o testamento para ser a beneficiária?

      A irmã pontua o testamento assim: "Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do mecânico. Nada aos pobres." Ela afirma que a intenção do falecido era deixar os bens para ela, excluindo o sobrinho.

05 – Qual é a interpretação e a pontuação que o mecânico faz do testamento?

      O mecânico pontua o testamento da seguinte maneira: "Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do mecânico. Nada aos pobres." Ele interpreta que a conta dele deveria ser paga antes de qualquer outra destinação dos bens.

06 – Como os pobres da cidade, representados pelo mais sabido, interpretam e pontuam o testamento?

      Os pobres pontuam o testamento da seguinte forma: "Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do mecânico? Nada! Aos pobres!”. Eles interpretam que, após negar os outros beneficiários, a intenção final era deixar os bens para eles.

07 – Qual a importância da pontuação na interpretação de textos, como demonstrado nessa narrativa?

      A narrativa demonstra de forma clara a importância crucial da pontuação na interpretação de textos. A ausência de sinais de pontuação no testamento original permitiu múltiplas e conflitantes interpretações, cada uma favorecendo um dos interessados. Isso ressalta como a pontuação define o sentido das frases e pode alterar completamente a intenção de um texto.

 

quarta-feira, 5 de março de 2025

TEXTO: A GRUTA DE LASCAUX - ALBERTO ALEXANDRE MARTINS - COM GABARITO

 Texto: A gruta de Lascaux

         Alberto Alexandre Martins

        No dia 12 de setembro de 1940, quatro garotos e um cachorro passeavam pelas colinas rochosas da região da Dordogne, na França, quando o cão subitamente desapareceu por uma fenda nas pedras provocada pela queda de um grande pinheiro. No seu encalço, Marcel Ravidar, Jacques Marsal, Georges Agnel e Simon Coencas esgueiraram-se pela passagem estreita até alcançar uma enorme sala mergulhada na escuridão.

FONTE: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhN5RMMVp776SZ-UAJRKrySZFZV5FXkKFITgedKYWGkNFTmWqJ5K1b1Pv6DMdHjAgoizG32tHCqGJL6TVsxtfakjIRPnZFVliWlnsUoo-scsWXW1Qjb8l6mj_I0L8oHawxy3dHRrNoREcX2-8RhD2KeFvv_0EGyyuDDMswq4sGWSiqRiPoryJYG2vYCHIs/s320/Arte-pre-historica-lascaux-fran%C3%A7a-france-4.jpg


        À luz trêmula de um lampião de querosene, eles distinguiram, nas imensas paredes de pedra calcária, fortes traços e pinturas coloridas de grandes animais, dispostos desordenadamente em movimentos contínuos. Vacas vermelhas, cavalos amarelos, veados e touros negros agitavam-se numa atmosfera mágica e misteriosa. Vocês podem imaginar a emoção de participar, por acaso, de uma das descobertas mais geniais do nosso século: a gruta de Lascaux, repleta de pinturas feitas há 17 mil anos.

        Logo a notícia correu mundo, atraindo milhares de especialistas, cientistas, arqueólogos, turistas e curiosos para a gruta. Formada por duas salas amplas e numerosas galerias, Lascaux revela aos visitantes cerca de 1500 gravuras e seiscentos desenhos pintados em amarelo, marrom, vermelho e preto, representando touros, bisões, cavalos, auroques (ancestrais das nossas vacas), veados, cabritos-monteses, mamutes, felinos, uma rena, um urso, um rinoceronte e um animal fantástico. Além dessa maravilha fauna pré-histórica, há vários sinais enigmáticos inscritos nas paredes: pontos, linhas pontilhadas, flexas, triângulos e outros motivos geométricos. Em meio a tantas representações de animais e sinais indecifrados, vê-se uma única figura humana, feita com traços simples, inclinada, na parede de um poço de oito metros de profundidade.

        Estudando atentamente esses desenhos e todos os vestígios encontrados na gruta: ossos, lamparinas, joias, esculturas, armas, artefatos líticos, restos de alimentos, etc., ficamos sabendo que os artistas de Lascaux foram os homens de Cro-Magnon, que viveram no período Paleolítico Superior, entre 35 mil e 10 mil anos atrás. Nessa época, o clima da Europa era muito frio e os nossos ancestrais moravam em cavernas, vestiam roupas confeccionadas compeles de animais, coletavam frutos da estação e eram exímios caçadores.

        Na condição de artistas, os homens de Cro-Magnon desenvolveram técnicas bastante requintadas. As cores têm origem em diversos pigmentos à base de óxidos minerais existentes no solo local. O óxido de ferro criou o amarelo, o vermelho e o marrom; o dióxido de manganês ou o carvão produziu o peto. Reduzidos a pó, transformados em pedras-lápis de cor ou ainda misturados a outras substâncias, esses minerais eram aplicados com os dedos, com pincéis confeccionados com pelos, crina de cavalo e fibras vegetais ou com esponjas e molde feitos de pele. Também foram empregados instrumentos de sílex para cortar, gravar e esculpir as pedras. E, para iluminar a escuridão da gruta, os homens pré-históricos utilizavam lamparinas á base de gordura animal.

        Mas qual o sentido de tudo isso? Ainda não sabemos ao certo. É bem possível que não se tratasse de um simples passatempo. Há indícios de que as imagens dos animais estavam associadas a rituais e cerimônias religiosas. Ao captar no desenho a forma ou o movimento de uma rena, de um cavalo, de um auroque, os nossos caçadores-artistas acreditavam que estavam também capturando a alma desses animais, o que lhes facilitaria as caçadas seguintes. Mas se trata apenas de uma hipótese. O fato é que os homens que desenharam em Lascaux (como aqueles que desenharam em cavernas brasileiras) viviam em estreito contato com os animais e a natureza. Observadores atentos, conheciam até mesmo as rotas e a época das migrações dos grandes rebanhos. Os grandes rebanhos encantados que povoam as paredes de Lascaux e as páginas deste livro.

MARTINS, Alberto A. In: GIRARDET, Sylvie & Salas, Nestor. A gruta de Lascaux. Trad. De Eduardo Brandão. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2000, p. 7-9.

 Fonte: Linguagem Nova. Faraco & Moura. 5ª série – 17ª ed. 3ª impressão – São Paulo – Editora Ática – 2003. p. 218-219.

Entendendo o texto:

01 – Como foi descoberta a gruta de Lascaux?

      A gruta de Lascaux foi descoberta em 12 de setembro de 1940 por quatro garotos e um cachorro que passeavam pelas colinas rochosas da região da Dordogne, na França, quando o cão desapareceu por uma fenda nas pedras.

02 – O que os garotos viram ao entrarem na gruta de Lascaux?

      À luz trêmula de um lampião de querosene, os garotos viram nas paredes imensas de pedra calcária pinturas coloridas de grandes animais, como vacas vermelhas, cavalos amarelos, veados e touros negros.

03 – Qual foi a importância da descoberta da gruta de Lascaux?

      A descoberta da gruta de Lascaux é considerada uma das mais geniais do século, pois revelou pinturas feitas há 17 mil anos.

04 – Quais são as principais representações encontradas nas pinturas da gruta de Lascaux?

      As pinturas representam touros, bisões, cavalos, auroques, veados, cabritos-monteses, mamutes, felinos, uma rena, um urso, um rinoceronte e um animal fantástico.

05 – Quantas gravuras e desenhos a gruta de Lascaux contém aproximadamente?

      A gruta de Lascaux contém cerca de 1500 gravuras e seiscentos desenhos pintados em amarelo, marrom, vermelho e preto.

06 – Quem eram os artistas responsáveis pelas pinturas da gruta de Lascaux?

      Os artistas responsáveis pelas pinturas da gruta de Lascaux eram os homens de Cro-Magnon, que viveram no período Paleolítico Superior, entre 35 mil e 10 mil anos atrás.

07 – Quais técnicas e materiais foram utilizados pelos homens de Cro-Magnon nas pinturas?

      Os homens de Cro-Magnon usaram pigmentos à base de óxidos minerais, aplicados com os dedos, pincéis feitos de pelos, crina de cavalo e fibras vegetais, além de esponjas e moldes de pele. Instrumentos de sílex eram usados para cortar, gravar e esculpir as pedras.

08 – Como os homens de Cro-Magnon iluminavam a gruta durante a criação das pinturas?

      Os homens de Cro-Magnon utilizavam lamparinas à base de gordura animal para iluminar a escuridão da gruta.

09 – Qual é uma hipótese sobre o significado das pinturas na gruta de Lascaux?

      Uma hipótese é que as imagens dos animais estavam associadas a rituais e cerimônias religiosas, onde os caçadores-artistas acreditavam capturar a alma dos animais através dos desenhos, facilitando as caçadas seguintes.

10 – Como os homens de Cro-Magnon viviam e quais eram suas principais atividades?

      Os homens de Cro-Magnon viviam em cavernas, vestiam roupas de pele de animais, coletavam frutos da estação e eram exímios caçadores, vivendo em estreito contato com os animais e a natureza.

 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

TEXTO: TEATRO E ESCOLA - O PAPEL DE EDUCAR - CILEY CLETO - COM GABARITO

 Texto: TEATRO E ESCOLA – O PAPEL DE EDUCAR

        Teatro e escola, em princípio, parecem ser espaços distintos, que desenvolvem atividades completamente diferentes. Em contraposição ao ambiente normalmente fechado da sala de aula e aos seus assuntos pretensamente “sérios”, o teatro se configura como um espaço de lazer e diversão. Entretanto, se examinarmos as origens do teatro, ainda na Grécia antiga, veremos que teatro e escola sempre caminharam juntos, mais do que se imagina. 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglKk1kfG1dIVhWEL5oliVDVLQERf20msRffuXEnUAhd5of6HkL4nd9CMIWZUpoYma5xjo3TVqQbKH6ISSe_u30dHm4FiK_DaCUPI7r0c1UsIoP4_cwpYj47J0VMfblfcvvkbnREnC5VE-WNFSent08YmOc3P1LFwX1gTa8oUpAghMbdweAOrEQl7Jr-cA/s1600/TEATRO.jpg 


        O teatro grego apresentava uma função eminentemente pedagógica. Com suas tragédias, Sófocles e Eurípedes não visavam apenas à diversão da plateia, mas também e, sobretudo, pôr em discussão certos temas que dividiam a opinião pública naquele momento de transformação da sociedade grega. Poderia um filho desposar a própria mãe, depois de ter assassinado o pai de forma involuntária (tema de Édipo rei)? Poderia uma mãe assassinar os filhos e depois matar-se por causa de um relacionamento amoroso (tema de Medeia e ainda atual, como comprova o caso da cruel mãe americana que, há alguns anos, jogou os filhos no lago para poder namorar mais livremente)? 

        Naquela sociedade, que vivia a transição dos valores míticos, baseados na tradição religiosa, para os valores da polis, isto é, aqueles resultantes da formação do Estado e suas leis, o teatro cumpria um papel político e pedagógico, à medida que punha em xeque e em choque essas duas ordens de valores e apontava novos caminhos para a civilização grega. “Ir ao teatro”, para os gregos, não era apenas diversão, mas uma forma de refletir sobre o destino da própria comunidade em que se vivia, bem como sobre valores coletivos e individuais. 

        Deixando de lado as diferenças obviamente existentes em torno dos gêneros teatrais (tragédia, comédia, drama), em que o teatro grego, quanto a suas intenções, diferia do teatro moderno? Para Bertolt Brecht, por exemplo, um dos mais significativos dramaturgos modernos, a função do teatro era, antes de tudo, divertir. Apesar disso, suas peças tiveram um papel essencialmente pedagógico, voltadas para a conscientização de trabalhadores e para a resistência política na Alemanha nazista dos anos 30 do século XX.

        O teatro, ao apresentar situações de nossa própria vida – sejam elas engraçadas, trágicas, políticas, sentimentais, etc. –, põe o homem a nu, diante de si mesmo e de seu destino. Talvez na instantaneidade e na fugacidade do teatro resida todo o encanto e sua magia: a cada representação, a vida humana é recontada e exaltada. O teatro ensina, o teatro é escola. É uma forma de vida de ficção que ilumina com seus holofotes a vida real, muito além dos palcos e dos camarins. 

        Que o teatro seja uma forma alternativa de ensino e aprendizagem é inegável. A escola sempre teve muito a aprender com o teatro, assim como este, de certa forma, e em linguagem própria, complementa o trabalho de gerações de educadores, preocupados com a formação plena do ser humano. 

        Quisera as aulas também pudessem ter o encanto do teatro: a riqueza dos cenários, o cuidado com os figurinos, o envolvimento da música, o brilho da iluminação, a perfeição do texto e a vibração do público. Vamos ao teatro! 

Ciley Cleto, professora de Língua Portuguesa, em São Paulo. Disponível: IFCE. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará- Coordenadoria Geral de Seleção e Concursos vestibular 2011.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 445-446.

Entendendo o texto:

01 – Qual é a aparente contradição entre teatro e escola apontada no texto?

      O texto aponta que teatro e escola parecem ser espaços distintos, com atividades diferentes. A escola é vista como um ambiente fechado com assuntos "sérios", enquanto o teatro é associado a lazer e diversão.

02 – Qual é a origem da ligação entre teatro e escola, segundo o texto?

      O texto afirma que a ligação entre teatro e escola remonta à Grécia antiga, onde o teatro tinha uma função pedagógica importante.

03 – Qual era a função do teatro na Grécia antiga?

      O teatro grego não servia apenas para diversão, mas também para discutir temas que dividiam a opinião pública e questionar valores da sociedade em transformação. Era uma forma de reflexão sobre o destino da comunidade e os valores coletivos e individuais.

04 – Qual é a diferença entre o teatro grego e o teatro moderno em relação às suas intenções?

      O teatro grego, especialmente a tragédia, tinha uma intenção pedagógica e política, enquanto o teatro moderno, como o de Bertolt Brecht, pode ter como objetivo principal o entretenimento. No entanto, mesmo buscando divertir, o teatro moderno pode ter um papel pedagógico, como o teatro de Brecht, que visava à conscientização política.

05 – Qual é a principal característica do teatro que o torna uma forma alternativa de ensino e aprendizagem?

      O teatro tem a capacidade de apresentar situações da vida real de forma ficcional, o que permite ao espectador se colocar diante de si mesmo e refletir sobre seu destino. A experiência teatral é única e efêmera, mas pode ter um impacto duradouro na vida das pessoas.

06 – O que a escola pode aprender com o teatro, segundo o texto?

      A escola pode aprender com o teatro a tornar o ensino mais envolvente e interessante, utilizando recursos como cenários, figurinos, música, iluminação e textos bem elaborados. O teatro pode servir de inspiração para criar aulas mais dinâmicas e participativas.

07 – Qual é a mensagem final do texto sobre a relação entre teatro e escola?

      O texto conclui que teatro e escola são espaços que se complementam na formação do ser humano. O teatro é uma forma de ensino e aprendizagem alternativa que pode enriquecer a experiência escolar e contribuir para a formação de cidadãos mais críticos e conscientes.

 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

TEXTO: SERMÃO DA SEXAGÉSIMA VI - (FRAGMENTO) - PADRE ANTÔNIO VIEIRA - COM GABARITO

 Texto: Sermão da Sexagésima VI – Fragmento

              Padre António Vieira

        O sermão há de ter um só assunto e uma só matéria. Por isso Cristo disse que o lavrador do Evangelho não semeara muitos gêneros de sementes, senão uma só: Exiit, qui seminat, seminare sêmen [saiu quem semeia a semear a semente]. Semeou uma semente só, e não muitas, porque o sermão há de ter uma só matéria, e não muitas matérias. Se o lavrador semeara primeiro trigo, e sobre o trigo semeara centeio, e sobre o centeio semeara milho grosso e miúdo, e sobre o milho semeara cevada, que havia de nascer? Uma mata brava, uma confusão verde. Eis aqui o que acontece aos sermões deste género. Como semeiam tanta variedade, não podem colher coisa certa. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9i3FziuzXnI_M31GbY9pozteE_Z2vtfSdiUJBfL_85jbKuMqiIaYddQK_9wK3NzcGMkD-33TStw3EGbpwQSfY1qb3vRUz9FBxZxEWruKDOH40CNjObirvI3NO2keHftDkwPQskThhzyPMX7DqYF-eB-2f64n4an4oypjF_SiMShKM5cwJNUb7cOD1ps0/s320/an-lise-do-serm-o-da-sexag-sima-de-pe-ant-nio-vieira-l.jpg


Quem semeia misturas, mal pode colher trigo. Se uma nau fizesse um bordo para o norte, outro para o sul, outro para leste, outro para oeste, como poderia fazer viagem? Por isso nos púlpitos se trabalha tanto e se navega tão pouco. Um assunto vai para um vento, outro assunto vai para outro vento; que se há-de colher senão vento? O Baptista convertia muitos em Judeia; mas quantas matérias tomava? Uma só matéria: Parate viam Domini [Preparai o caminho do Senhor]: a Preparação para o Reino de Cristo. Jonas converteu os Ninivitas; mas quantos assuntos tomou? Um só assunto: Adhuc quadraginta dies, et Ninive subvertetur [Daqui a quarenta dias Nínive será destruída]: a Subversão da Cidade. De maneira que Jonas em quarenta dias pregou um só assunto; e nós queremos pregar quarenta assuntos em uma hora? Por isso não pregamos nenhum. O sermão há de ser de uma só cor, há de ter um só objeto, um só assunto, uma só matéria.

        Há de tomar o pregador uma só matéria; há de defini-la, para que se conheça; há de dividi-la, para que se distinga; há de prová-la com a Escritura; há de declará-la com a razão; há de confirmá-la com o exemplo; há de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se devem evitar; há de responder às dúvidas, há de satisfazer às dificuldades; há de impugnar e refutar com toda a força da eloquência os argumentos contrários; e depois disto há de colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há de acabar. Isto é sermão, isto é pregar; e o que não é isto, é falar de mais alto.

Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria e continuar e acabar nela. Quereis ver tudo isto com os olhos? Ora vede. Uma árvore tem raízes, tem tronco, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem frutos. Assim há de ser o sermão: há de ter raízes fortes e sólidas, porque há de ser fundado no Evangelho; há de ter um tronco, porque há de ter um só assunto e tratar uma só matéria; deste tronco hão de nascer diversos ramos, que são diversos discursos, mas nascidos da mesma matéria e continuados nela. Estes ramos hão de ser secos, senão cobertos de folhas, porque os discursos hão de ser vestidos e ornados de palavras. Há de ter esta árvore varas, que são a repreensão dos vícios; há de ter flores, que são as sentenças; e por remate de tudo, há de ter frutos, que é o fruto e o fim a que se há de ordenar o sermão. De maneira que há de haver frutos, há de haver flores, há de haver varas, há de haver folhas, há de haver ramos; mas tudo nascido e fundado em um só tronco, que é uma só matéria. Se tudo são troncos, não é sermão, é madeira. Se tudo são ramos, não é sermão, são maravalhas. Se tudo são folhas, não é sermão, são versas. Se tudo são varas, não é sermão, é feixe. Se tudo são flores, não é sermão, é ramalhete. Serem tudo frutos, não pode ser; porque não há frutos sem árvores. Assim que nesta árvore, à que podemos chamar «árvore da vida», há de haver o proveitoso do fruto, o formoso das flores, o rigoroso das varas, o vestido das folhas, o estendido dos ramos; mas tudo isto nascido e formado de um só tronco e esse não levantado no ar, senão fundado nas raízes do Evangelho: Seminare sêmen [Semear a semente]. Eis aqui como hão de ser os sermões, eis aqui como não são. E assim não é muito que se não faça fruto com eles.

        [...]

VIEIRA, Antônio. Sermões. vol. I. organização Alcir Pécora. São Paulo: Hedra, 2000, p. 41-42.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 450-451.

Entendendo o texto:

01 – Qual é a principal crítica de Padre António Vieira aos sermões de sua época?

      A principal crítica é que os sermões pecam pela variedade excessiva de assuntos, o que impede que a mensagem principal seja transmitida de forma eficaz. Ele compara essa prática à de um lavrador que semeia diversas sementes em um mesmo terreno, resultando em uma "mata brava" e sem frutos.

02 – Que metáfora central o autor utiliza para ilustrar o problema dos sermões com muitos assuntos?

      A metáfora central é a do lavrador que, ao invés de plantar uma única semente, semeia uma variedade de grãos, o que impede o crescimento de uma cultura específica e resulta em uma "confusão verde".

03 – Quais são os exemplos bíblicos utilizados para defender a tese de um só assunto por sermão?

      Os exemplos bíblicos são os de João Batista, que pregava sobre a preparação para o Reino de Cristo, e Jonas, que anunciava a destruição de Nínive. Ambos se concentraram em um único tema central em suas pregações.

04 – Como o autor descreve a estrutura ideal de um sermão?

      O autor compara a estrutura ideal de um sermão a uma árvore, com raízes (fundamentadas no Evangelho), tronco (um só assunto central), ramos (diversos discursos derivados do tema central), folhas (ornamentos e palavras), varas (repreensão dos vícios), flores (sentenças) e frutos (o objetivo final do sermão).

05 – Qual é a crítica de Vieira ao uso excessivo de palavras nos sermões?

      Vieira critica o uso excessivo de palavras nos sermões, comparando-os a "madeira" (se tudo são troncos), "maravalhas" (se tudo são ramos), "versos" (se tudo são folhas), "feixe" (se tudo são varas) ou "ramalhete" (se tudo são flores). Ele defende que o sermão deve ter conteúdo e não ser apenas um amontoado de palavras.

06 – Qual é o objetivo principal de um sermão, segundo o autor?

      O objetivo principal de um sermão, segundo o autor, é persuadir os ouvintes a adotarem uma vida mais virtuosa e seguir os ensinamentos do Evangelho. O sermão deve levar os fiéis a produzirem "frutos", ou seja, a praticarem o bem e a se afastarem do mal.

07 – Qual é a consequência de um sermão que não segue a estrutura e o princípio de um único assunto, de acordo com o autor?

      A consequência é que o sermão se torna ineficaz e não produz frutos. O autor afirma que, ao invés de converter e edificar os ouvintes, o sermão confuso e com muitos assuntos apenas os afasta da mensagem do Evangelho.

 

 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

TEXTO: SERMÃO DA SEXAGÉSIMA CAP. III - (FRAGMENTO) - PADRE ANTÔNIO VIEIRA - COM GABARITO

 Texto: Sermão da Sexagésima cap. III – Fragmento

                Padre António Vieira

        [...]       

        Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode proceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de um sermão, há de haver três concursos: há de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há de concorrer Deus com a graça, alumiando. Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhm8aPHIgtVNE5OkpVsrG2x2A_40QYhNUjxJnLWmwmqtf80Z5UiNoGHZry3qmiiACIa-al-WCQsdJ0_dNo6IyuqteVZBho4LfVUtJpieqFGiT2mCdbpFWAjX84S8zT32bvteBU-uF26JoKu5jA6ayDWMbDc175wlRanoSmmM0gqtRLHasixPvbdc8IDqiE/s320/SERM%C3%83O.jpg


Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo? Para esta vista são necessários olhos, e necessária luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de Deus?

        Primeiramente, por parte de Deus, não falta nem pode faltar. Esta proposição é de fé, definida no Concílio Tridentino, e no nosso Evangelho a temos. [...]

        Sendo, pois, certo que a palavra divina não deixa de frutificar por parte de Deus, segue-se que ou é por falta do pregador ou por falta dos ouvintes. Por qual será? Os pregadores deitam a culpa aos ouvintes, mas não é assim. Se fora por parte dos ouvintes, não fizera a palavra de Deus muito grande fruto, mas não fazer nenhum fruto e nenhum efeito, não é por parte dos ouvintes. Provo.

        Os ouvintes, ou são maus ou são bons; se são bons, faz neles fruto a palavra de Deus; se são maus, ainda que não faça neles fruto, faz efeito. [...] a palavra de Deus é tão fecunda, que nos bons faz muito fruto e é tão eficaz que nos maus ainda que não faça fruto, faz efeito; lançada nos espinhos, não frutificou, mas nasceu até nos espinhos; lançada nas pedras, não frutificou, mas nasceu até nas pedras. Os piores ouvintes que há na Igreja de Deus, são as pedras e os espinhos. E porquê? -- Os espinhos por agudos, as pedras por duras. Ouvintes de entendimentos agudos e ouvintes de vontades endurecidas são os piores que há. Os ouvintes de entendimentos agudos são maus ouvintes, porque vêm só a ouvir sutilezas, a esperar galantarias, a avaliar pensamentos, e às vezes também a picar a quem os não pica. [...]

        Mas os de vontades endurecidas ainda são piores, porque um entendimento agudo pode ferir pelos mesmos fios, e vencer-se uma agudeza com outra maior; mas contra vontades endurecidas nenhuma coisa aproveita a agudeza, antes dana mais, porque quanto as setas são mais agudas, tanto mais facilmente se despontam na pedra. [...]

        [...] E com os ouvintes de entendimentos agudos e os ouvintes de vontades endurecidas serem os mais rebeldes, é tanta a força da divina palavra, que, apesar da agudeza, nasce nos espinhos, e apesar da dureza nasce nas pedras.

        Pudéramos arguir ao lavrador do Evangelho de não cortar os espinhos e de não arrancar as pedras antes de semear, mas de indústria deixou no campo as pedras e os espinhos, para que se visse a força do que semeava. E tanta a força da divina palavra, que, sem cortar nem despontar espinhos, nasce entre espinhos. É tanta a força da divina palavra, que, sem arrancar nem abrandar pedras, nasce nas pedras. [...] Tomai exemplo nessas mesmas pedras e nesses espinhos! Esses espinhos e essas pedras agora resistem ao semeador do Céu; mas virá tempo em que essas mesmas pedras o aclamem e esses mesmos espinhos o coroem.

        Quando o semeador do Céu deixou o campo, saindo deste Mundo, as pedras se quebraram para lhe fazerem aclamações, e os espinhos se teceram para lhe fazerem coroa. E se a palavra de Deus até dos espinhos e das pedras triunfa; se a palavra de Deus até nas pedras, até nos espinhos nasce; não triunfar dos alvedrios hoje a palavra de Deus, nem nascer nos corações, não é por culpa, nem por indisposição dos ouvintes.

        Supostas estas duas demonstrações; suposto que o fruto e efeitos da palavra de Deus, não fica, nem por parte de Deus, nem por parte dos ouvintes, segue-se por consequência clara, que fica por parte do pregador. E assim é. Sabeis, cristãos, porque não faz fruto a palavra de Deus? – Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores, porque não faz fruto a palavra de Deus? – Por culpa nossa.

        [...]

In: Eugênio Gomes, org. Vieira – Sermões. 6. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1972. p. 94-99.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 93-94.

Entendendo o texto:

01 – Quais são os três princípios que, segundo o Padre Vieira, podem impedir que a palavra de Deus frutifique no mundo?

      Os três princípios são: a falta de empenho do pregador, a falta de atenção e receptividade do ouvinte e a ausência da graça divina.

02 – Qual é a comparação utilizada pelo Padre Vieira para explicar a necessidade da ação conjunta do pregador, do ouvinte e de Deus na conversão de uma alma?

      Ele compara a conversão de uma alma com a necessidade de olhos, espelho e luz para que um homem possa ver a si mesmo. O pregador seria o espelho (a doutrina), Deus seria a luz (a graça) e o ouvinte seriam os olhos (o conhecimento).

03 – Por que o Padre Vieira afirma que a palavra de Deus não deixa de frutificar por parte de Deus?

      Ele se baseia na fé e em ensinamentos bíblicos para afirmar que Deus sempre concede a graça necessária para a conversão, portanto, a falta de fruto não pode ser atribuída a Ele.

04 – Qual é o argumento utilizado pelo Padre Vieira para refutar a ideia de que a falta de fruto da palavra de Deus é culpa dos ouvintes?

      Ele argumenta que a palavra de Deus é tão poderosa que, mesmo em ouvintes maus (representados pelos espinhos e pelas pedras), ela produz algum efeito, seja nos bons, seja nos maus.

05 – Quem são os "ouvintes de entendimentos agudos" e os "ouvintes de vontades endurecidas" mencionados no texto?

      Os "ouvintes de entendimentos agudos" são aqueles que possuem grande capacidade de compreensão, mas que podem usar essa inteligência para questionar e criticar a palavra de Deus, em vez de acolhê-la. Já os "ouvintes de vontades endurecidas" são aqueles que se mostram resistentes à mensagem divina, mesmo que a compreendam.

06 – Que exemplo o Padre Vieira utiliza para ilustrar a força da palavra de Deus, mesmo diante da resistência dos ouvintes?

      Ele cita o exemplo das pedras e dos espinhos que, apesar de resistirem ao semeador (a palavra de Deus), um dia o aclamarão e o coroarão, simbolizando a conversão que pode ocorrer até nos corações mais endurecidos.

07 – Qual é a principal conclusão do Padre Vieira sobre a razão pela qual a palavra de Deus não frutifica como deveria?

      Ele conclui que a culpa é dos pregadores, que não estão cumprindo seu papel de transmitir a mensagem divina de forma eficaz e persuasiva.

 

 

TEXTO: RELATO DE UM NÁUFRAGO; EU ERA UM MORTO - (FRAGMENTO) - GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ - COM GABARITO

 Texto: Relato de um náufrago; EU ERA UM MORTO – Fragmento 

            Gabriel García Márquez

        Não me lembro do amanhecer do sexto dia. Tenho uma ideia nebulosa de que, durante toda a manhã, fiquei prostrado no fundo da balsa, entre a vida e a morte. Nesses momentos, pensava em minha família e a via tal como me contaram agora que esteve durante os dias do meu desaparecimento. Não fiquei surpreso com a notícia de que tinham me prestado homenagens fúnebres. Naquela sexta manhã de solidão no mar, pensei que tudo isso estava acontecendo. Sabia que haviam comunicado à minha família o meu desaparecimento. Como os aviões não voltaram, sabia que tinham desistido da busca e que me haviam declarado morto.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFYIfIL0D1HhkT2m6nKwDpirBHSeVuGUdYa_9cV_o49XqOlu3qmOBNB-0FIjnYMQ76LgEGYC8Q0o5z3TXYYOjboT2TrqCuICVuFbnxBLPvmDPerRTbyfWcaqHsy3jjiSI6jTqUwYryXvn_b_mYtUHQ9cOIBXIXKouO-KBcRqhpa4SyGVcrlDqJiSZ-aqQ/s320/RELATO.jpg


        Nada disso era errado, até certo ponto. Em todos os momentos, tratei de me defender. Encontrei sempre um meio de me defender. Encontrei sempre um meio de sobreviver, um ponto de apoio, por insignificante que fosse, para continuar esperando. No sexto dia, porém, já que não esperava mais nada. Eu era um morto na balsa. 

        Á tarde, pensando que logo seriam cinco horas e os tubarões voltariam, fiz um desesperado esforço para me levantar e me amarrar à borda. Em Cartagena, há dois anos, vi na praia os restos de um homem destroçado por tubarão. Não queria morrer assim. Não queria ser repartido em pedaços entre um montão de animais insaciáveis.

        Eram quase cinco horas. Pontuais, os tubarões estavam ali, rodando a balsa. Levantei-me penosamente para desatar os cabos do estrado. A tarde era fresca. O mar, tranquilo. Senti-me ligeiramente fortalecido. Subitamente, vi outra vez as sete gaivotas do dia anterior e essa visão infundiu em mim renovados desejos de viver.

        Nesse instante teria comido qualquer coisa. A fome me incomodava. Mas o pior era a garganta e a dor nas mandíbulas, endurecidas pela falta de exercício. Precisava mastigar qualquer coisa. Tentei arrancar tiras de borrachas dos sapatos, mas não tinha com que cortá-las. Foi então que lembrei dos cartões da loja de Mobile.

        Estavam num dos bolsos da calça, quase completamente desfeitos pela umidade. Rasguei-os, levei-os à boca e comecei a mastigar. Foi um milagre: a garganta se aliviou um pouco e a boca se encheu de saliva. Lentamente continuei mastigando, como se aquilo fosse chiclete. [...] Pensava continuar mastigando os cartões indefinidamente para aliviar a dor das mandíbulas e até achei que seria desperdício jogá-los no mar. Senti descer até o estômago a minúscula papa de papelão moído e desde esse instante tive a sensação de que me salvaria, de que não seria destroçado pelos tubarões. [...]

        Afinal, amanheceu o meu sétimo dia no mar. Não sei por que estava certo de que esse não seria o último. O mar estava tranquilo e nublado, e quando o sol saiu, mais ou menos às oito da manhã, eu me sentia reconfortado pelo bom sono da noite. Contra o céu cinza e baixo passaram sobre a balsa as sete gaivotas. 

        Dois dias antes eu sentira uma grande alegria vendo as sete gaivotas. Mas quando as vi pela terceira vez, depois de tê-las visto durante dois dias consecutivos, senti o terror renascer. “são sete gaivotas perdidas”, pensei, com desespero. Todo marinheiro sabe que, às vezes, um bando de gaivotas se perde no mar e voa sem direção, durante vários dias, até encontrar e seguir um barco que lhes indique a direção do porto. Talvez aquelas gaivotas que vira durante três dias fossem as mesmas todos os dias, perdidas no mar. Isso significa que eu me distanciava cada vez mais da terra.

Gabriel Garcia Márquez, Relato de um náufrago. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 1970. p. 70-3.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 99-100.

Entendendo o texto:

01 – Qual é o estado do narrador no início do fragmento?

      O narrador se encontra em um estado de prostração, entre a vida e a morte, no sexto dia de seu naufrágio. Ele se sente como um morto na balsa, sem esperanças de sobrevivência.

02 – O que leva o narrador a ter um esforço desesperado para se levantar e se amarrar à borda da balsa?

      O narrador se lembra de ter visto, em Cartagena, os restos de um homem destroçado por um tubarão. Ele teme que o mesmo possa acontecer com ele, já que os tubarões costumam voltar ao entardecer.

03 – Qual é a importância da visão das sete gaivotas para o narrador?

      A visão das sete gaivotas traz ao narrador renovados desejos de viver. Ele se sente fortalecido e encontra nelas um sinal de esperança em meio ao desespero.

04 – O que o narrador faz para aliviar a fome e a dor nas mandíbulas?

      O narrador, em um momento de desespero e necessidade, lembra-se dos cartões da loja Mobile que estão em seu bolso. Ele os rasga, os leva à boca e começa a mastigar, como se fossem chicletes.

05 – Qual é a reação do narrador ao amanhecer do sétimo dia no mar?

      O narrador acorda no sétimo dia com a certeza de que não será o último. Ele se sente reconfortado pelo sono da noite e observa as gaivotas, que o fazem sentir esperançoso.

06 – Por que o narrador sente terror ao ver as gaivotas pela terceira vez?

      O narrador percebe que as gaivotas podem estar perdidas no mar, o que significa que ele pode estar se distanciando da terra e de qualquer chance de resgate. Essa constatação o enche de terror.

07 – Qual é a principal mensagem transmitida no fragmento?

      O fragmento transmite a luta do ser humano pela sobrevivência em condições extremas, a importância da esperança e da fé, e a força da natureza, que pode ser tanto ameaçadora quanto fonte de salvação.