quinta-feira, 2 de maio de 2024

POEMA: DO SIGNIFICADO DA PALAVRA INSACIÁVEL - ZIRALDO - COM GABARITO

 Poema: Do significado da palavra INSACIÁVEL

              Ziraldo

 Insaciável chegou.

O que será?

Vamos já quebrar-lhe a casca

e descobrir.

Pronto: a palavra quebrou-se,

se dividiu.

Mais do que em gema e clara,

 

em três pedaços.

O primeiro pedacinho

desta palavra

é o IN que vem

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGlcp5TDRkFa3xdzgU78hrnSk4n2wYhTjAuq629mjKY7hMHOMGwQoB6IErMLWb7Xai-cpfeobdUENqlL7dLilFFaW_mZHh0OdQbQrukuY7KU3wXbz-AHV-Po14oaFWzw-PJiVUNcC_bCEYTiJo_z907RI7QH7H0-SNt1CDLkh_Id-p84KQXv0jsyVv4yw/s1600/CLARA.jpg

na frente

(no seu começo)

e que significa NÃO

(se está ali).

E, por isto, por exemplo,

um infeliz

é exatamente o quê?

Um não-feliz.

 

E ÁVEL, que está no fim,

que quer dizer?

Quer dizer a qualidade

que  a coisa tem.

Assim, se uma coisa é agradÁVEL.

(só como exemplo)

ela quer é agradar:

sua qualidade.

 

E o que é SACIAR?

já saberemos:

é matar a sede toda,

toda a vontade.

 

Vai daí IN-SACI-ÁVEL

significa:

alguém cujo jeito (ÁVEL)

é de quem não (IN) nunca

mata (SACIA) a sua sede.

Insaciável é quem quer

beber o mundo

gota a gota, se puder.

Fonte: Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – Marilda Prates – 5ª série - 1º ed. – São Paulo: Moderna ,1998, p.16.

 

Entendendo o texto

 01. Qual é o significado da palavra "IN" no contexto do poema "Do significado da palavra INSACIÁVEL" de Ziraldo?

No poema, "IN" representa a negação, significando "não". Por exemplo, "infeliz" significa alguém que não é feliz.

02. O que significa "ÁVEL" no final da palavra "INSACIÁVEL", de acordo com Ziraldo?

"ÁVEL" denota a qualidade ou característica que a palavra expressa. Por exemplo, em "agradável", essa terminação indica a qualidade de agradar.

03. De acordo com o poema, o que significa "SACIAR"? "SACIAR" significa satisfazer completamente uma necessidade, como matar a sede ou a vontade.

04. Como Ziraldo define a palavra "INSACIÁVEL" no poema? Ziraldo define "INSACIÁVEL" como alguém cujo modo de ser é o de nunca satisfazer completamente sua sede ou desejo. É alguém que quer consumir o mundo inteiro, gota a gota, se possível.

05. Qual é a mensagem central transmitida por Ziraldo por meio da análise da palavra "INSACIÁVEL"?

A mensagem central é que ser "INSACIÁVEL" significa ter um desejo insaciável de consumir mais, nunca se satisfazendo completamente. O poema alerta para os perigos de uma busca desenfreada por satisfação sem limites.

 

 

 

POEMA: GOTAS DE CHUVA - LUÍS CAMARGO - COM GABARITO

 Poema: Gotas de chuva

              Luís Camargo

 Gorduchas

gotas

de

chuva

rabiscam

o vidro

da minha janela

escorregando ligeiras

desenrolando

um novelo de linha transparente

todo feito de água.

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEho22ujRVuvdPkw-iOaM2j_pFJe0hf6qurmMrSYm8CMRNmczgBzTJh6_cvhL23WzkwsbdVfmMJo54x8HBdt1hSqpbz-CWeoguPvrFiNGhS7ielGifu7eI7QoB45lVE2hAYj1VBgNT9V1LQp9Or89x91Kfr6CQHNbLARpBmx1md_m1K6N54SokD5_de7ZyM/s320/gota_chuva.png

É um desenho muito animado!

 

Eu pergunto:

- Senhora dona Chuva,

você já não é tão grande,

muito antiga,

pra só ficar rabiscando?

 

- Magina – disse a chuva –

eu acabei de nascer!

 

Entendendo o texto

 01. Qual é o tema central do poema "Gotas de chuva" de Luís Camargo?

a) A solidão durante um dia chuvoso.

b) A efemeridade e a leveza das gotas de chuva.

c) A relação entre o poeta e a natureza.

d) A nostalgia das estações passadas.

    02. O que as gotas de chuva fazem no poema?

          a) Desenham rabiscos no vidro da janela.

          b) Correm pelo chão como pequenos rios.

          c) Batem com força no telhado.

          d) Congelam instantaneamente.

    03. Como o poeta descreve as gotas de chuva no poema?

           a) Como objetos pesados e opacos.

          b) Como pequenos raios de sol.

         c) Como rabiscos gorduchos no vidro.

         d) Como novelos de lã coloridos.

    04. O que o poeta pergunta à chuva no poema?

          a) Se ela pode parar de chover.

          b) Por que ela só fica rabiscando.

          c) Se ela já viajou para lugares distantes.

         d) Se ela sabe contar histórias.

   05. Qual é a resposta da chuva quando questionada sobre sua idade?

         a) Ela diz que é muito antiga.

         b) Ela afirma que nasceu há muito tempo.

         c) Ela revela que acabou de nascer.

         d) Ela ri e não responde.

   

POEMA: CANÇÃO - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

Poema: Canção

              Cecília Meireles

 De borco

no barco

(De bruços

No berço...)

 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBhct63ckiVJO8LF-WfHV_KQoowQi4nC1z9BvjMUtymw2zWb0mID_NSLzcY2hyphenhyphenl0frQ4zXQd3hKyyAl0t00c7PVMrOm1daJTbD5_7Qvnir_ZSVJHHhUpqusem3OVT9b88EkN_gyylyFIm4GYJ4hh5VIstRX4Y4fP8flNRLkbR2HjP-g28KcrtvRkri5ik/s1600/BARCO.jpg 

O braço é o barco

O barco é o berço.

Abarco e abraço

o berço

e o barco.

Com desembaraço

embarco

e desembarco.

 

De borco

no berço...

(De bruços

no barco...)

                       Ou isto ou aquilo, Cecília Meireles

Fonte: Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – Marilda Prates – 5ª série - 1º ed. – São Paulo: Moderna ,1998, p. 10.

 Entendendo o texto

01. Quais as palavras usadas na repetição dos sons no poema?

Borco e barco, bruços e berço, braço e abraço, barco e abarco e embaraço e desembarco.

02. A repetição dos sons e a comparação das palavras acabam formando uma imagem de cantiga de ninar. Você sabe por quê?

O balanço do barco e o balanço do berço que os braços abraçam formam um balanço, um ritmo, uma canção, um movimento.

03. Compare a 1ª e a 3ª estrofes. O que há de diferente nelas?

Trocaram-se as palavras, continuando o mesmo sentido. O ato de estar de bruços sobre o berço, embalando-o, lembra o barco em movimento.

 04. Qual é o significado do uso repetitivo das palavras "barco" e "berço" neste poema de Cecília Meireles?

      No poema "Canção", as palavras "barco" e "berço" são usadas como metáforas que simbolizam diferentes aspectos da vida e da existência. O "barco" pode representar a jornada da vida, enquanto o "berço" pode simbolizar o início ou origem da vida, refletindo sobre as experiências humanas desde o nascimento até a jornada ao longo da vida.

05. Como o poema explora a ideia de movimento e transição entre o "berço" e o "barco"?

O poema "Canção" de Cecília Meireles utiliza repetições e jogos de palavras para criar um ritmo que evoca a ideia de movimento e transição entre diferentes fases da vida. O "berço" e o "barco" são entrelaçados, sugerindo um ciclo contínuo de embarque e desembarque, representando a jornada humana de crescimento, descoberta e mudança.

06. Como o poema sugere a interconexão entre o indivíduo e o mundo exterior?

Ao usar a linguagem visual e sonora para associar o "braço" ao "barco" e ao "berço", Cecília Meireles destaca a ligação íntima entre o eu individual e o ambiente circundante. O "abraço" e o "abarcamento" simbolizam a unidade entre o indivíduo e o mundo exterior, enfatizando a importância da relação entre o ser humano e seu contexto físico e emocional.

 

  

POEMA: DENTRO DE UM MUNDO - ROSY GRECA - COM GABARITO

Poema: Dentro de um mundo

              Rosy Greca

 Dentro de um mundo, tem um mundo

E dentro deste mundo, um outro mundo

Que é o mundo da imaginação.

Dentro de um grão de feijão,

Tem um mundo e dentro deste mundo, um mundo

E dentro deste mundo, um outro mundo,

Que é o mundo da criação.

 
Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhH1wkSqa4lelh0JVUhbkPcaffGFBcIHprFGHyTI9E3-jZpoP-sclAKbaYivm4UPpwTVI8b6egluMZl5pR9cQlRv5KkMDQGw6EXL06Eiel6nI3UVwh2rhQ60K6wYBJYrZx17nqBWZeTB26OH_rNEXFyD3qiP0noH1RwRWCFDP-5fgzUF4GVXonlwuvfTpk/s1600/mundo.jpg

Dentro do miolo de pão,

Tem um mundo!

Dentro de um mundo, tem um mundo

E dentro deste mundo, um outro mundo,

Que é o mundo da afeição.

Bem no fundo do coração,

Tem um mundo e dentro deste mundo, um mundo,

Que é o mundo da transformação.

Na sementinha de um limão,

Tem um mundo!

 Fonte: Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – Marilda Prates – 5ª série - 1º ed. – São Paulo: Moderna ,1998, p.8 e 9.

 Entendendo o texto

 01. “Dentro de um mundo, tem um mundo...”

De acordo com o texto, dentro de que outros lugares tem um mundo?

Do grão de feijão, do miolo de pão, bem no fundo do coração, na sementinha de um limão.

02. “Que é mundo da imaginação.” Que palavras, no texto, são usadas para substituir imaginação?

Criação, afeição, transformação.

03.  O que é possível fazer com grãos de feijão?

Outros grãos de feijão, feijão cozido, feijoada, virado de feijão, doce de feijão, etc.

04. O miolo de pão foi produzido pelo ser humano. Em geral, usa-se farinha de trigo para fazê-lo.

Como o trigo é encontrado na natureza?

Em grão.

05.  Se a imaginação permitiu transformar o grão para criar o pão, o que a afeição pode fazer pelo coração?

Pode fazer a transformação.

06. Por que é possível dizer que há um mundo na sementinha de limão e no miolo do pão?

A semente ou o grão armazenam o potencial do que podem vir a ser e o miolo de pão guarda a história de sua própria criação.

 

 

terça-feira, 30 de abril de 2024

CRÔNICA: O CARDÁPIO DO MEDO - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: O Cardápio do Medo

                 Walcyr Carrasco

 Hora do almoço. À minha frente, um prato de frango grelhado com berinjela à milanesa. Minha barriga canta de felicidade. Penso melhor. Deveria sair correndo. Segundo soube, nada pior do que a pele do frango. E um depósito de colesterol. E também a parte mais gostosa. Puxa! O colesterol deve produzir um sabor delicioso. Tudo que é bom tem colesterol às pampas, como torresmo e gema de ovo frito. Suspiro. Ainda não inventaram o colesterol diet.  Retiro a pelezinha. E o frango em si? 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqq6wbSYScdtpAAj3Y1tMHWPlqYQ-zmxO8xdXMrt06C4aFyrccL0gRqX6RDZSR9xwV3pt0qKLSqHWk4nvxQo6BUv_U6_dl6mTwW5sGrPKajgQDR7I7V-qFZkSjq56744K0k_MF7IwBYlNOkt2vAkVJ7uyoRrZrT4_E_nB1o9aK5AJukA4Y3Ht1TIUyKrA/s1600/BERINJELA.jpg


Uma reportagem na televisão revelou que os frangos podem estar contaminados com hormônios capazes de produzir doenças pavorosas. A berinjela à milanesa também não é inocente. A fritura vai poluir minhas artérias. Pego uma goiaba com casca. Quem garante ter sido devidamente esterilizada? Entre outros mimos, pode dar cólera.

Tornou-se complicado comer. Meu acupunturista sugeriu:

— O bom é ter sempre peixe na mesa.

Eu gosto de peixe. De frutos do mar também, mas o camarão (justamente o camarão!) é um poço de colesterol. Os peixes seriam totalmente inocentes.

Seriam. Uma amiga médica avisou:

— Com a poluição, os peixes têm excesso de mercúrio.

Perigosíssimo!

Sempre achei queijo saudável. Ledo engano. São os novos vilões, devido ao índice de gordura. Pior, mesmo, só hambúrguer com bacon e maionese. E como sobreviver sem maionese, creme de leite, queijo parmesão? Aconselho-me novamente com o acupunturista.

— Evite o leite comum. Tome bastante leite de soja e coma tofu.

Bem, uma vida à base de tofu não é exatamente uma versão do paraíso.

Abro uma revista. Um médico explica como tirar o leite da dieta é perigoso.         

— Soja não é leite — adverte.

Estarei arriscado a várias doenças decorrentes da falta de cálcio, se evitar o

leite. Entre elas, osteoporose, artrite. Ah, se pelo menos eles concordassem entre si! Adoro sal. Sou aconselhado a evitar. Pode causar hipertensão.

—- Minha pressão sempre foi ótima! — tento me defender. O amigo com quem converso abana a cabeça, cauteloso.

— E melhor prevenir.

Termina explicando:

— A melhor dieta é a vegetariana.

Quando me vê com o nariz mergulhado em um prato de folhas de alface, outro amigo adverte:

—As verduras estão contaminadas por agrotóxicos.

— E o que devo comer, grama?

Existem fazendas especializadas em produzir frutas e legumes sem agrotóxicos. Vou à feira do Parque da Água Branca, conhecidíssima entre quem gosta de comida natural. Vejo umas cenouras mirradinhas. São elas. Começo a me conformar com uma existência à base de sopa de verduras e queijo de soja. Mas...

— O ideal é tomar um cálice de vinho por dia — aconselha o cardiologista.

— Não é melhor virar a garrafa inteira de uma vez? — interesso-me.

Ele ergue as sobrancelhas:

— Um cálice, como se fosse remédio.

Tomar vinho como remédio? Já perdeu a graça! Açúcar, nem pensar. Dizem ser a raiz de todos os males. Tudo, absolutamente tudo, tem uma porcentagem de glicose. Dá vontade de chorar. O sorvete mais inocente é um risco! Um pedaço de mil-folhas, uma tentativa de suicídio!

Rebelo-me. Tornou-se impossível comer qualquer coisa sem uma advertência médica. Tentei me refestelar na comida light. Avisaram-me de que nem sempre é tão light assim! Resolvo ser feliz. Encho o carrinho com caixas e caixas de bombons.

Em casa, abro o primeiro. Uma linda trufa de chocolate. Ao mesmo tempo leio uma reportagem. Descobriram que o chocolate reduz o colesterol! Vitória! Encho a boca de bombons! Finalmente posso me fartar em paz! Até, é claro, uma nova descoberta aterrorizante!        

Entendendo o texto

01. Qual é a preocupação principal do autor ao escolher seu almoço?

a. A origem dos alimentos.

b. O sabor dos pratos.

c. O valor nutricional dos alimentos.

d. O medo de contaminação e doenças.

     02. O que o acupunturista sugere como alternativa saudável para a dieta?

         a. Frango grelhado.

         b. Peixe.

         c. Carne vermelha.

         d. Camarão.

   03. Por que o autor tem receios em relação ao consumo de peixes?

          a. Por causa do colesterol presente nos peixes.

          b. Por causa da poluição que causa o excesso de mercúrio nos peixes.

          c. Porque são alimentos muito calóricos.

          d.  Porque o autor não gosta do sabor dos peixes.

     04. O que o autor menciona como um alimento outrora considerado saudável, mas que agora é visto como prejudicial?

           a. Frutas.

           b. Legumes.

           c. Queijo.

           d. Leite.

   05. Por que o autor desconfia das dietas vegetarianas?

          a.  Porque acredita que não fornecem nutrientes suficientes.

          b. Porque as verduras podem estar contaminadas por agrotóxicos.

           c. Porque a carne é considerada mais saudável.

           d. Porque não gosta do sabor dos vegetais.

   06. Qual é o conselho do cardiologista sobre o consumo de vinho?

           a. Consumir um cálice por dia como remédio.

          b. Evitar o consumo de vinho.

          c. Consumir a garrafa inteira de uma vez.

          d. Trocar o vinho por suco de frutas.

    07. O que o autor descobre sobre o consumo de chocolate enquanto saboreia bombons?

           a. O chocolate pode causar doenças cardíacas.

           b. O chocolate reduz o colesterol.

           c. O chocolate tem alto teor de gordura.

           d. O chocolate não é recomendado para dietas.

    08. Qual é a reação do autor diante das descobertas sobre os alimentos?

           a. Ele decide seguir uma dieta rigorosa.

           b. Ele se revolta e decide ser feliz comendo o que gosta.

           c. Ele se torna vegetariano.

           d. Ele decide consultar mais médicos.

    09. Por que o autor menciona o consumo de açúcar como algo a evitar?

           a. Porque o açúcar pode causar diabetes.

           b. Porque o açúcar é prejudicial ao sistema cardiovascular.

           c. Porque o açúcar é fonte de colesterol.

           d. Porque o açúcar é a raiz de todos os males.

   10. Qual é a conclusão final do autor sobre suas escolhas alimentares?

          a. Ele decide se tornar vegetariano.

          b. Ele continua preocupado com os riscos alimentares.

          c. Ele decide aproveitar os prazeres da comida sem se preocupar.

           d. Ele opta por uma dieta baseada em tofu.

 

 

CRÔNICA: A VIDA É FALSA - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: A Vida é Falsa

                Walcyr Carrasco

 Estou em uma churrascaria. Termino de devorar pedaços variados de alcatra, de picanha, de costela. Sinto um pedacinho de carne infiltrado entre meus dentes. Tento arrancar com a língua, de leve. Inútil. Aspiro. Um ruído sai da minha boca. Shieeeeee! Os companheiros de mesa levantam os olhos. Estendo a mão para pegar o paliteiro. Sim, em churrascarias ainda existem paliteiros.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtBnkpQf9cKZ_m8F-PZ0-U1cetV5CUHrRDP6vPHCmqG7q5VHVKYUSpk9QniEgr6t7wJle1QVCFdCLVtc3pBLtSY7BYNVjRT3vSwhvkiwHA2U5911o9oz7eZ9o8_JRQBtEJOKaytXmuwyrepekl74bhS7SW7L0oOxJwsrDFSsWbtB_Dp1uP94_48m2jMMc/s320/PALITEIRO.jpg


 Nos restaurantes mais finos, eles vêm encapsulados. Ou nem mesmo são colocados na mesa. Agarro um palito. A moça na minha frente me olha horrorizada. Lembro-me de todos os manuais de etiqueta. E proibido palitar os dentes em público. No máximo pode-se palitar trancado no toalete, como se fosse um segredo inconfessável. Abandono o palito na mesa. Em seguida, penso: "Por que é proibido palitar os dentes?".

Não há motivo lógico para tornar o ato tão vergonhoso. Enfio o palito nos dentes, sob o olhar constrangido da mesa. Sorrio, deliciado. Existe coisa melhor do que palitar os dentes após uma refeição?

Dizem que é feio fazer isso, fazer aquilo. Já não sei. Outro dia estava andando no condomínio. Um cachorrinho saiu de uma casa, correu, mordeu e rasgou minha calça. A moça — por sinal veterinária, como soube depois —, em vez de perguntar se eu estava machucado, gritou, furiosa.

— Desculpa.

— Rasgou minha calça! -— respondi.

— O que você quer que eu faça, já pedi desculpas?! — revidou a dama.

Exigi uma calça nova. Não só por ser do meu direito. Mas pela atitude dela, que nem se preocupou em saber se eu estava ferido. Dias depois, insisti em receber a calça. Um amigo torceu o nariz.

— Mas pode parecer mesquinharia.

— E daí se estou sendo mesquinho? — respondi. — Então é feio exigir

o que é justo?

Acontece sempre. Basta a gente pedir alguma coisa que é do nosso direito; e que envolve uma pequena quantia, para receber cara feia. Quantas vezes, em restaurantes, são esquecidas as moedas, ou as notas mais baixas? Sem. nenhuma explicação. Outro dia, no shopping D&D, paguei o estacionamento. De troco, um real. O rapaz nem se mexeu. Foi preciso dizer: — Pode me dar o troco, faz favor?

Atirou a nota nos meus dedos, como se eu fosse um monstro. Há uma infinidade de coisas banidas da vida social. Comer frango com a mão, por exemplo. E delicioso agarrar uma coxa com as mãos! As regras de etiqueta até permitem, mas ninguém tem coragem. Ficam cortando pedacinhos com a faca, enquanto o osso rola no prato. E chupar q tutano? Quem nunca provou não sabe o que está perdendo. E uma delícia. Já me avisaram:

— Você vai ficar com a boca lambuzada.

— Lambuzou, lavou! — respondo.

Na trilha do frango, vai a manga. Cravar os dentes no caroço de uma manga bem madura é inesquecível. Todo mundo serve a fruta cortadinha. Existem frutas que nem são servidas diante de convidados. Jaca, por exemplo. Impossível comer jaca de garfo e faca. Resultado: ninguém mais oferece. Tem gente que acha feio até comer sanduíche com a mão. Já recebi muitos olhares de acusação ao agarrar um cheesebúrguer e meter os dentes, enquanto a pessoa na minha frente corta os pedacinhos. São tantas as falsidades que já nem sei como me comportar.

Outro dia cheguei a uma festa de aniversário e perguntei, alegre.  Quantos anos?

 A aniversariante virou a cara. Na hora do bolo, só uma vela solitária.

Acabei comentando:

— Se ela botasse todas as velinhas, provocaria um incêndio!

Quase fui expulso.

Alguém me responda: como dar festa de aniversário sem que perguntem a idade?

Já me conformei. Se é para deixar de ser espontâneo, prefiro ser chamado de mal-educado. Pelo menos a vida se torna mais confortável.

Entendendo o texto

01. O que o autor sente após uma refeição em uma churrascaria que o leva a pegar um palito de dente?

      a. Um desconforto estomacal.

      b. Um pedaço de carne entre os dentes.

      c. Um desejo de palitar os dentes em público.

      d. Um sorriso de satisfação.

02. Por que o autor considera estranho palitar os dentes em público?

       a. Porque é proibido pelas regras de etiqueta.

       b. Porque os palitos de dente são difíceis de encontrar.

       c. Porque é uma prática insegura.

       d. Porque os amigos não gostam dessa atitude.

 03. Qual foi a reação da moça veterinária após o cachorro rasgar a calça do autor?

         a. Ela pediu desculpas e ofereceu ajuda.

         b. Ela ficou preocupada com o autor.

         c. Ela gritou furiosa e não demonstrou preocupação.

         d. Ela ofereceu dinheiro para consertar a calça.

  04. Por que o autor exigiu uma calça nova após o incidente com o cachorro?

          a. Porque queria uma calça melhor.

          b. Porque achou a reação da moça injusta.

          c. Porque queria parecer mesquinho.

          d. Porque não estava machucado.

   05. O que o autor observa sobre receber o troco em uma situação no shopping?

           a. Os trocos são dados com gentileza.

           b. Os funcionários são sempre educados.

           c. Às vezes, é necessário pedir o troco.

           d. Ninguém oferece troco em lojas.

   06. Segundo o autor, por que certas práticas, como comer frango com as mãos, são evitadas em público?

           a. Porque é proibido por lei.

           b. Porque as pessoas têm medo de se sujar.

           c. Porque as regras de etiqueta desaprovam esses comportamentos.

           d. Porque é mais educado usar talheres.

     07. Qual é a atitude do autor em relação às convenções sociais mencionadas na crônica?

          a. Ele se conforma com elas.

          b. Ele desafia essas convenções.

          c. Ele as ignora completamente.

          d. Ele as respeita totalmente.

    08. Por que o autor menciona a experiência em uma festa de aniversário?

          a. Para criticar a falta de velas no bolo.

          b. Para mostrar como é difícil evitar certas perguntas.

          c. Para explicar por que foi expulso da festa.

          d. Para falar sobre a comemoração de aniversário.

     09. Como o autor se sente em relação ao comportamento espontâneo versus seguir as regras sociais?

           a. Ele prefere ser considerado mal-educado.

           b. Ele prefere seguir as regras sociais rigidamente.

           c. Ele se conforma com as normas sociais.

           d. Ele busca sempre agradar as pessoas ao seu redor.

      10. Qual é a principal crítica do autor em relação às convenções sociais mencionadas na crônica?

           a. Elas são essenciais para a boa convivência.

           b. Elas são hipócritas e falsas.

           c. Elas são úteis para evitar conflitos.

           d. Elas promovem uma vida confortável.