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segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

CONTO: O PROBLEMA DOS 35 CAMELOS - MALBA TAHAN - COM GABARITO

CONTO: O Problema dos 35 camelos
                      
                    Malba Tahan

"Poucas horas havia que viajávamos sem interrupção, quando nos ocorreu uma aventura digna de registro, na qual meu companheiro Beremiz, com grande talento, pôs em prática as suas habilidades de exímio algebrista.
Encontramos perto de um antigo caravançará meio abandonado, três homens que discutiam acaloradamente ao pé de um lote de camelos.
Por entre pragas e impropérios gritavam possessos, furiosos:
- Não pode ser!
- Isto é um roubo!
- Não aceito!
O inteligente Beremiz procurou informar-se do que se tratava.
- Somos irmãos – esclareceu o mais velho – e recebemos como herança esses 35 camelos. Segundo a vontade expressa de meu pai, devo receber a metade, o meu irmão Hamed  Namir uma terça parte, e, ao Harim, o mais moço, deve tocar apenas a nona parte. Não sabemos, porém, como dividir dessa forma 35 camelos, e, a cada partilha proposta segue-se a recusa dos outros dois, pois a metade de 35 é 17 e meio. Como fazer a partilha se a terça e a nona parte de 35 também não são exatas?
- É muito simples – atalhou o Homem que Calculava. – Encarrego-me de fazer com justiça essa divisão, se permitirem que eu junte aos 35 camelos da herança este belo animal que em boa hora aqui nos trouxe!
Neste ponto, procurei intervir na questão:
- Não posso consentir em semelhante loucura! Como poderíamos concluir a viagem se ficássemos sem o camelo?
- Não te preocupes com o resultado, ó Bagdali! – replicou-me em voz baixa Beremiz – Sei muito bem o que estou fazendo. Cede-me o teu camelo e verás no fim a que conclusão quero chegar.
Tal foi o tom de segurança com que ele falou, que não tive dúvida em entregar-lhe o meu belo jamal, que imediatamente foi reunido aos 35 ali presentes, para serem repartidos pelos três herdeiros.
- Vou, meus amigos – disse ele, dirigindo-se aos três irmãos -, fazer a divisão justa e exata dos camelos que são agora, como veem em número de 36.
E, voltando-se para o mais velho dos irmãos, assim falou:
- Deverias receber meu amigo, a metade de 35, isto é, 17 e meio. Receberás a metade de 36, portanto, 18. Nada tens a reclamar, pois é claro que saíste lucrando com esta divisão.
E, dirigindo-se ao segundo herdeiro, continuou:
- E tu, Hamed Namir, deverias receber um terço de 35, isto é 11 e pouco. Vais receber um terço de 36, isto é 12. Não poderás protestar, pois tu também saíste com visível lucro na transação.
E disse por fim ao mais moço:
E tu jovem Harim Namir, segundo a vontade de teu pai, deverias receber uma nona parte de 35, isto é 3 e tanto. Vais receber uma nona parte de 36, isto é, 4. O teu lucro foi igualmente notável. Só tens a agradecer-me pelo resultado!
E concluiu com a maior segurança e serenidade:
- Pela vantajosa divisão feita entre os irmãos Namir – partilha em que todos três saíram lucrando – couberam 18 camelos ao primeiro, 12 ao segundo e 4 ao terceiro, o que dá um resultado (18+12+4) de 34 camelos. Dos 36 camelos, sobram, portanto, dois. Um pertence como sabem ao bagdáli, meu amigo e companheiro, outro toca por direito a mim, por ter resolvido a contento de todos o complicado problema da herança!
- Sois inteligente, ó Estrangeiro! – exclamou o mais velho dos três irmãos.
– Aceitamos a vossa partilha na certeza de que foi feita com justiça e equidade!
E o astucioso Beremiz – o Homem que Calculava – tomou logo posse de um dos mais belos “jamales” do grupo e disse-me, entregando-me pela rédea o animal que me pertencia:
- Poderás agora, meu amigo, continuar a viagem no teu camelo manso e seguro! Tenho outro, especialmente para mim!
E continuamos nossa jornada para Bagdá."
 (Malba Tahan, Contos e lendas orientais. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001)
Fonte:  Livro –Coleção ALET – Língua Portuguesa -5ª Série – Editora Positivo,2007 – p.42/43/44.
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Glossário

Caravançará: refúgio construído pelo governo ou por pessoas piedosas à beira do caminho, para servir de abrigo aos peregrinos. Espécie de rancho de grandes dimensões em que se acolhiam as caravanas.

Bagdali: Relativo a Bagdá, vindo de Bagdá.

Jamal: uma das muitas denominações que os árabes dão ao camelo.

REDE DE IDEIAS
1)   Beremis usou o raciocínio matemático para fazer a divisão dos camelos. Por que pode-se dizer que a Matemática é uma bela ciência?
Porque, a partir dela, pode-se raciocinar, refletir, concluir uma série de ideias, como a divisão dos camelos.

2)   Como você resolveria esta situação?
Resposta pessoal.

3)   Quem é o narrador do texto? Como você descobriu isto?
O narrador é o próprio autor do texto. Percebe-se isso observando-se os verbos na 1ª pessoa.

4)   No momento em que o narrador conta o fato, ele estava acontecendo ou já havia acontecido?
O fato estava acontecendo, mas num tempo passado.

5)   Em que região a história acontece? Quais os elementos presentes no texto que comprovam sua resposta?
Na Arábia. Justifica-se isso pelos nomes das personagens, lote de camelos, a jornada até Bagdá.

6)   No texto, há palavras regionais, isto é, utilizadas na região onde acontece a história. Cite alguns exemplos dessas palavras e dê o significado delas no texto. Se for necessário, consulta um dicionário.
Exemplos:
Caravançará: refúgio construído pelo governo ou por pessoas piedosas à beira do caminho, para servir de abrigo aos peregrinos. Espécie de rancho de grandes dimensões em que se acolhiam as caravanas.

Bagdali: Relativo a Bagdá, vindo de Bagdá.

Jamal: uma das muitas denominações que os árabes dão ao camelo.

7)   Por que as personagens viajavam em camelos?
O lugar onde se passa a história é um deserto, onde normalmente as pessoas utilizam esse animal como transporte, por causa da escassez da água.



domingo, 4 de fevereiro de 2018

LENDA: A CRUZ MAIS LEVE - MALBA TAHAN - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

LENDA: A CRUZ MAIS LEVE


(MALBA TAHAN, “Lendas do Céu e da Terra)

        Reza uma antiga lenda cristã que um jovem, convertido ao Evangelho, recebeu sua cruz para seguir, juntamente com  outros  peregrinos, pela estrada da Jerusalém Celeste. Torturava-o, porém, o peso da cruz que lhe fora confiada. E fatigava-o tanto a carga que ele se via forçado a descansar de vez em quando.
        – Má sorte a minha, – lamentava o moço – deram-me a mais pesada das cruzes!
        Movido por um sentimento egoístico, lembrou-se, numa das pousadas, de trocar sua cruz por outra mais leve, dentre as  que  conduziam seus companheiros de jornada.
        Aproveitando a escuridão da noite, pé ante pé, sem ser pressentido, foi ter ao sitio em que se achavam depositadas as cruzes e sopesando-as uma a uma, escolheu a que lhe parecia mais leve e tomou-a para si.
        Ao outro dia, reiniciada a viagem, notou que ninguém se dizia prejudicado com a troca. Só então verificou que a cruz que ele escolhera, por ser a mais leve de todas, era, justamente, a sua.


Entendendo o texto:

01 – O texto narra a história de um jovem convertido ao Evangelho, isto é, que se tornou:
a.(   ) judeu         b.(   ) herege       c.(X) cristão       d.(   ) ateu.

02 – Os peregrinos dirigiam-se para Jerusalém com as cruzes a fim de visitar o lugar onde:
a.(   ) Nasceu Jesus         b.(   ) vivia a Papa
c.(X) morreu Jesus          d.(   ) nenhuma das respostas.

03 – Julgando estar carregando a mais pesadas das cruzes, o jovem resolveu:
a.(X) trocar sua cruz por outra mais leve.
b.(   ) abandonar sua cruz no meio do caminho.
c.(   ) não seguir caminho com os outros peregrinos.
d.(   ) reclamar do peso da sua cruz para os outros peregrinos.

04 – Para pôr em prática seu plano, o jovem agiu silenciosamente, pé ante pé. Por quê?
a.(   ) Ele não queria acordar os companheiro de viagem.
b.(X) Ele não queria ser surpreendido cometendo um ato ilícito.
c.(   ) Ele não queria incomodar os mais velhos.
d.(   ) nenhuma das respostas.

05 – Ao notar que ninguém reclamava de levar uma cruz mais pesada que a anterior, o jovem concluiu que:
a.(   ) todas as cruzes tinham o mesmo peso
b.(   ) ninguém tinha percebido a troca
c.(   ) ninguém estava preocupado com o peso da cruz
d.(X) escolhera a mesma cruz que já vinha carregando, por ser a mais leve.

06 – O provérbio que mais está de acordo com a moral da história é:
a.(   ) Cada um sabe onde o sapato lhe aperta o calo.
b.(X) A nossa dor é sempre maior que a dos outros.
c.(   ) O castigo sempre vem a cavalo.
d.(   ) O que os olhos não veem, o coração não sente.

07 – Assinale a alternativa que substitui, corretamente, as palavras em destaque, na frase abaixo:
“Entre os romeiros, havia um jovem que se queixava do peso da cruz que transportava.
a.(X) peregrinos, lamentava, conduzia
b.(   ) trocadores, condoia, lamentava
c.(   ) notórios, trocava, condoía
d.(   ) justos, notava, peregrinava.