Mostrando postagens com marcador RACHEL DE QUEIROZ. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador RACHEL DE QUEIROZ. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 22 de junho de 2022

CONTO: BEZERRO SEM MÃE - RACHEL DE QUEIROZ - COM GABARITO

 CONTO: BEZERRO SEM MÃE

                Rachel de Queiroz

         Foi numa fazenda de gado, no tempo do ano em que as vacas dão cria. Cada vaca toda satisfeita com o seu bezerro. Mas dois deles andavam tristes de dar pena: uma vaca que tinha perdido o seu bezerro e um bezerro que ficou sem mãe.

        A vaquinha até parecia estar chorando, com os peitos cheios de leite, sem filho para mamar. E o bezerro sem mãe gemia, morrendo de fome e abandonado.

       Não adiantava juntar os dois, porque a vaca não aceitava. Ela sentia pelo cheiro que o bezerrinho órfão não era filho dela, e o empurrava para longe.

       Aí o vaqueiro se lembrou do couro do bezerro morto, que estava secando ao sol. Enrolou naquele couro o bezerrinho sem mãe e levou o bichinho disfarçado para junto da vaca sem filho. Ora, foi uma beleza!

        A vaca deu uma lambida no couro, sentiu o cheiro do filho e deixou que o outro mamasse à vontade.

        E por três dias foi aquela mascarada. Mas no quarto dia, a vaca, de repente, meteu o focinho no couro e puxou fora o disfarce. Lambeu o bezerrinho direto, como se dissesse: "Agora você já está adotado”.

        E ficaram os dois no maior amor, como filho e mãe de verdade.

(Rachel de Queiroz [et al.]. Meninos, eu conto. Rio de Janeiro: Record, 2002.

Entendendo o texto

01. Qual o cenário em que se desenrola a história?

Numa fazenda de gado.

02. Qual a situação inicial da história?

“Foi numa fazenda de gado, no tempo do ano em que as vacas dão cria. Cada vaca toda satisfeita com o seu bezerro.”

03. Que fato provocou o desenrolar dos acontecimentos descritos no texto?

Duas cabeças de gado andavam tristes de dar pena: uma vaca que tinha perdido o seu bezerro e um bezerro que ficou sem mãe.

04. Qual o desenvolvimento da história?

A vaquinha até parecia estar chorando, com os peitos cheios de leite, sem filho para mamar. E o bezerro sem mãe gemia, morrendo de fome e abandonado.

Não adiantava juntar os dois, porque a vaca não aceitava. Ela sentia pelo cheiro que o bezerrinho órfão não era filho dela, e o empurrava para longe.

05. Que fez o vaqueiro para ajudá-los?

Aí o vaqueiro se lembrou do couro do bezerro morto, que estava secando ao sol. Enrolou naquele couro o bezerrinho sem mãe e levou o bichinho disfarçado para junto da vaca sem filho. Ora, foi uma beleza!

A vaca deu uma lambida no couro, sentiu o cheiro do filho e deixou que o outro mamasse à vontade.

06. Em que passagem do texto ocorre o clímax, ou seja, o momento de maior tensão da história? Explique.

E por três dias foi aquela mascarada. Mas no quarto dia, a vaca, de repente, meteu o focinho no couro e puxou fora o disfarce. Lambeu o bezerrinho direto, como se dissesse: "Agora você já está adotado”.

07. Qual o desfecho (epílogo ou conclusão) da história?

E ficaram os dois no maior amor, como filho e mãe de verdade.

08. Assinale o propósito do texto acima:

              a) debater um tema.

              b) dar uma informação.

              c) defender uma opinião.

             d) contar uma história.

     09.  O narrador expõe uma opinião sobre um fato em:

            a) “Mas dois deles andavam tristes de dar pena […]”

          b) “A vaquinha até parecia estar chorando, com os peitos cheios de leite […]”

           c) “Não adiantava juntar os dois, porque a vaca não aceitava.”

        d) “Mas no quarto dia, a vaca, de repente, meteu o focinho no couro e puxou fora o disfarce.”

       10. No trecho “E o bezerro sem mãe gemia, morrendo de fome e abandonado.”, preposição “de” exprime a relação de:

          a) posse

          b) causa

          c) origem

          d) modo

    11. “Foi numa fazenda de gado […]”. A palavra “numa” é resultado da contração:

       a) da preposição “de” com o artigo “uma”.

       b) da preposição “para” com o artigo “uma”.

       c) da preposição “em” com o artigo “uma”.

      d) da preposição “por” com o artigo “uma”.

   12. No segmento “Ela sentia pelo cheiro que o bezerrinho órfão não era filho dela, e o empurrava para longe.”, os termos sublinhados se referem:

     a) À vaca

     b) Ao bezerro

     c) Ao vaqueiro

     d) À mãe e o filhote.

terça-feira, 28 de setembro de 2021

CRÔNICA: ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE - RACHEL DE QUEIROZ - COM GABARITO

 Crônica: Assim caminha a humanidade

            Rachel de Queiroz 

        Há muito que penso nisso e muitas pessoas devem ter pensado a mesma coisa. Mas ninguém fala, ninguém diz nada. Por que, não o sei. Trata-se do automóvel. Essa maravilha mecânica, o veículo revolucionário que acabou com os carros de tração animal e expulsou o trem urbano para os longos percursos.

        E agora esse totem da nossa era, o AUTOMÓVEL, também chega ao seu fim, transforma-se num veículo obsoleto. Não serve mais. A finalidade a que se destinava, nas áreas urbanas: transporte individual, rápido, seletivo, perdeu o sentido.

        Você, hoje, para transpor alguns poucos mil metros, da sua casa para o centro, leva o mesmo tempo que gastaria se fosse caminhando a pé. As ruas de todas as cidades do mundo [...] vivem atravancadas por essas tartarugas ninjas, andando a passo de – sim, de tartaruga mesmo, cada uma ocupando um espaço que vai de 10 a 12 metros quadrados e transporta na sua grande maioria só uma ou duas pessoas, no máximo três, se houver o motorista.

        Arrogante. Nas suas janelas de cristal, na pintura luzidia, nos metais polidos, o automóvel é, acima de tudo, um monstro de egoísmo. A área que ele exige para si, na via pública, em vez de dois personagens lhe ocupando os assentos, daria para, no mínimo, três bancos de três pessoas, folgadamente instaladas. [...]

        É, temos de livrar as ruas disso que Macunaíma chamava "a máquina veículo automóvel". O carro puxado a cavalos também não desapareceu, por obsoleto? Hoje nem a rainha da Inglaterra o emprega, prefere os seus reluzentes Rolls Royces. Tal como não se podia mais suportar o atropelo e sujeira dos cavalos, das lerdas carruagens do fim do século 19, assim também o automóvel acabou.

        Há que substituí-lo por um transporte coletivo de qualidade, rápido, limpo, confortável. Metrôs, ou mesmo grandes veículos de superfície, sei lá. A cabeça dos técnicos já deve estar trabalhando, a dos urbanistas, a dos chamados cientistas sociais.

        [...]

         Quem sabe vai-se recorrer ao transporte aéreo, grandes helicópteros que seriam como ônibus voadores, pousando em heliportos arranjados nos tetos dos grandes edifícios? Não sei… Porque logo apareceriam helicópteros particulares, cada executivo teria o seu, de luxo, importado. O que, aliás, já está acontecendo. Eu mesma já viajei num desses, a convite de um amigo.

        Ou será que os engarrafamentos vão continuar por mais anos e anos, como os assaltos, os sequestros, os meninos de rua, as favelas e demais desgraças dos grandes ajuntamentos urbanos? Então a solução seria acabar mesmo com os próprios grandes ajuntamentos urbanos. Voltar todo mundo a se espalhar pelo campo, só procurando os centros quando a natureza do seu trabalho o exigisse.

        Até que o campo se deteriorasse também – já que esse é o destino do homem sobre a terra: acabar com tudo de bom e bonito que a natureza para ele criou.

 QUEIROZ, Rachel. Deixa que eu conto. São Paulo: Global, 2003.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 9º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 108-10.

Entendendo a crônica:

01 – O título do texto é “Assim caminha a humanidade”. A que se refere o texto?

      Provavelmente a alguma coisa que faz parte do dia a dia dos seres humanos, mas em direção ao futuro.

02 – Lendo apenas os trechos destacados no texto e associando-os à leitura do título, pense e responda:

a)   Provavelmente, o texto é predominantemente descritivo, narrativo ou argumentativo? Como você chegou a essa resposta?

Predominantemente argumentativo, pois se desenvolve defendendo uma ideia.

b)   O tom do texto em relação às atitudes humanas deve ser mais otimista ou pessimista? O que o fez pensar assim?

Pessimista. Sugestão: Foi escrito nos trechos destacados, por exemplo: “Mas ninguém fala, ninguém diz nada”.

03 – A cronista afirma que o automóvel não serve mais à finalidade a que se destinava. Por quê? Qual era a finalidade original do automóvel?

      Porque ele devia ser um transporte prático e rápido para distâncias maiores, urbanas. Como as ruas estão cheias demais, congestionadas, o automóvel não consegue mais se deslocar com rapidez.

04 – Observe que o texto tem dez parágrafos:

·        No primeiro parágrafo, apresenta-se o assunto da crônica: o automóvel e o trânsito caótico dos centros urbanos.

·        No segundo parágrafo, a crônica apresenta uma opinião: o automóvel vai acabar.

·        No terceiro e no quarto parágrafos, comenta-se o que é o carro, hoje, e o enorme problema do trânsito urbano.  

            a)   De que tratam os parágrafos quinto ao oitavo? Explique resumidamente.

Nesses parágrafos, a cronista discute alternativas e possibilidades, em contraste com a situação atual, para que se escape ao caos que os carros trouxeram aos grandes centros urbanos.

b)   A que conclusão a cronista chega nos dois últimos parágrafos?

Ela constata o que pode acontecer se não se fizer nada a respeito desse problema, assim como se não se fizer nada com relação aos estragos que os seres humanos provocam no mundo em que vivem.

05 – Releia o último parágrafo e identifique qual é a opinião da cronista sobre as ações humanas, de maneira geral.

      Ela acha que o ser humano não sabe conservar o que é bom e viver bem, porque cada um pensa apenas em si mesmo e não no planeta, no seu ambiente.

06 – Você concorda com a opinião da cronista? Justifique sua resposta de maneira convincente, dando pelo menos dois argumentos que confirmem sua opinião.

      Resposta pessoal do aluno.

07 – Qual é a ideia central do texto? Resuma, em apenas um parágrafo, a mensagem principal da crônica.

      A ideia central é a situação incoerente em que se encontra o ser humano: o desenvolvimento tecnológico, que deveria beneficiar a todos, traz prejuízos à natureza e às pessoas. Como é o caso do automóvel, que veio para facilitar o transporte, por ser mais rápido e mais confortável para longas distâncias, mas se tornou um empecilho urbano, pois ocupa muito espaço, leva poucas pessoas e, em vez de facilitar, dificulta a locomoção dentro dos grandes centros urbanos.

08 – Que sentimentos a crônica desperta no leitor? Em seu caderno, copie dois trechos que justifiquem sua resposta.

      Possibilidades: amargura, decepção, pessimismo. “[...] este é o destino do homem sobre a Terra: acabar com tudo de bom e bonito que a natureza para ele criou”; “Ou será que os engarrafamentos vão continuar por mais anos e anos, como os assaltos, os sequestros, os meninos de rua, as favelas e demais desgraças dos grandes ajuntamentos urbanos? Então a solução seria acabar mesmo com os próprios grandes ajuntamentos urbanos.”

09 – Justifique o título da crônica, explicando que sentidos podemos atribuir a ele.

      O título exprime ironicamente certo conformismo ao constatar que o destino da humanidade é caminhar para uma situação pior que a que tinha antes, porque destrói seu ambiente. O título também se refere ao modo como “se caminha” nas grandes cidades: os carros, que deveriam agilizar a locomoção das pessoas, congestionam as ruas e por isso todos andam muito devagar.

 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

CRÔNICA: GENTE DEMAIS - RACHEL DE QUEIROZ - COM GABARITO

 Crônica: Gente Demais       

                  Rachel de Queiroz

        Ah, vida penosa! Tudo tão difícil, tão sofrido, tão sem jeito. A discórdia, as disputas, as mentiras. O grevismo. Pensando bem, quem sabe os males do mundo não decorrem do fato de, neste mesmo mundo, estar havendo gente demais? Já não se morre tanto como antigamente. A perspectiva de vida das pessoas subiu de modo incrível. Na época da nossa independência, o tempo médio de vida dos brasileiros talvez não passasse dos 40. Hoje alcançou os 70 e, nas áreas mais adiantadas, já estão falando em 80. A medicina evoluiu tanto que, neste final de século, andam esquecidas quase todas as grandes doenças que outrora dizimavam populações. Ninguém morre mais de varíola, de bubônica, de tifo, de febre amarela. O impaludismo acaba onde chega o mata-mosquito. Quase não se morre mais de parto, de apendicite, de hérnia. Fora das faixas de grande pobreza, baixam muito os índices de mortalidade infantil. A tuberculose, a grande Peste Branca, ficou para trás, contemporânea da Dama das Camélias. Até lepra hoje se cura. Os males da velhice são combatidos com êxito e o milagre da ponte de safena já se faz nos hospitais públicos, deixando de ser privilégio dos ricos.

        E quando a ciência se mostra ainda impotente, como acontece com o câncer e com a Aids, os sábios enfrentam com tal gana o desafio que, com certeza, em breve o vencerão.

        E agora eu pergunto: estará mesmo dentro dos planos de Deus tanta gente pululando na fase da terra? Mais de um bilhão de chineses, por exemplo, estriam previstos no Gênese, quando o Senhor contemplou a sua criação e achou que tudo estava bem? Não haverá chineses demais, e russos, e americanos, e indianos – e brasileiros?

        Os criadores de gado e de outros bichos sabem que não se pode ter rebanho acima das possibilidades de pasto. Passando certo limite, tem que vender, mandar para o corte, embora com uma dor no coração. Então nós, que somos o rebanho do Senhor, não teremos excedido as possibilidades do nosso sustento, não careceremos de ser reajustados? Como Deus não dendê corpos (o próprio Diabo só se interessa por almas), Ele então suscita epidemias, terremotos, enchentes, revoluções, guerras. E como tem conosco o compromisso de nos permitir o livre-arbítrio, deixa que a podagem a façamos nós mesmos – e por isso é ela tão imperfeita. Guerras por exemplo: são um método seguro de fazer com que minguem populações. Mas em vez de se recrutarem os inúteis, os descartáveis, os velhos, os estropiados, os frágeis – não: convoca-se para a guerra a fina flor da população, os que estão no esplendor da juventude. Idade entre 18 e 25 anos, boa altura, boas proporções, saúde perfeita. Nem os míopes são aceitos. Dentes impecáveis, como se nas guerras de hoje ainda se brigasse às dentadas. Exemplares perfeitos, hígidos – pra quê? Para fazer deles carne de canhão. Parece que as juntas do recrutamento militar não têm ideia da crueza da guerra; só cuidam de bonitos soldadinhos em parada. Por mim, em caso de guerra, afora os especialistas indispensáveis (que, no caso, precisam é de bons cérebros, não de higidez física), pegaria para carne de canhão somente os dispensáveis, os que são um peso para si e para os outros e – por que não? – os velhos como nós. Passou dos 70, está automaticamente alistado. O prejuízo não seria tão grande, nós já estamos mesmo na hora do ajuste de contas. Nos romances de cavalaria há sempre a figura do velho herói que, somando as cansadas forças ao imperecível valor, ganha a vitória com o seu sacrifício. Lembram-se da última campanha do Cid Campeador? Até depois de morto venceu o combate, correndo à frente no seu corcel de guerra, atado numa grade que o sustinha à sela, preso na mão esquerda o pendão de batalha. Pois há muito velho por aí, ansioso por acabar em glória, numa façanha assim.

        E então ficariam só os moços, os belos, os saudáveis, para repovoar a terra.

As terras ásperas: 96 crônicas escolhidas. São Paulo, Siciliano, 1993.

     Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 66-9.

Fonte da imagem: https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fjoaokepler.medium.com%2Fa-vida-%25C3%25A9-uma-perspectiva-5ad91f965d04&psig=AOvVaw0dkUZ4PMYjJVKHCJAWh6V3&ust=1607125074308000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCJiM8Nb9su0CFQAAAAAdAAAAABAD

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Discórdia: desavença, falta de concórdia.

·        Pululando: brotando, multiplicando-se com rapidez.

·        Grevismo: movimentos pela paralisação do trabalho.

·        Excedido: superado.

·        Perspectiva: estimativa, possibilidade.

·        Suscita: provoca.

·        Dizimavam: aniquilavam, exterminavam.

·        Livre-arbítrio: faculdade que tem o ser humano de autodeterminar-se, isto é, decidir seus próprios caminhos.

·        Contemporânea: da mesma época.

·        Impotente: que não tem poder.

·        Gana: grande apetite ou vontade de algo.

·        Minguem: dizimem, reduzam.

·        Hígidos: sadios, sãos.

02 – Como você avalia a opinião do narrador sobre o mundo?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A opinião do narrador sobre o mundo é muito pessimista, mostra amargura e descontentamento.

03 – Em que área do conhecimento humano o texto reconhece grandes avanços?

      Na medicina.

04 – Segundo o texto, qual é a causa dos problemas do mundo?

      Segundo o texto, é o excesso de população.

05 – Com que o texto compara a espécie humana?

      O texto compara a espécie humana com gado.

06 – Qual é a explicação presente no texto sobre as catástrofes que atingem a humanidade?

      As catástrofes seriam suscitadas por Deus para diminuir a população.

07 – Quem são os convocados para as guerras?

      São os jovens, de “boa altura, boas proporções, saúde perfeita”.

08 – Que grupo a autora gostaria de enviar à guerra?

      A autora enviaria à guerra os mais velhos, que já estão na hora do “ajuste de contas”.

09 – Numere as afirmações de acordo com a ordem em que aparecem no texto.

(1) Os males do mundo decorrem do fato de haver gente demais.

(8) Há muitos idosos que gostariam de acabar os seus dias praticando um ato de heroísmo.

(2) A perspectiva de vida aumentou muito.

(3) A medicina evoluiu tanto que muitas doenças que dizimavam populações andam esquecidas.

(9) Os melhores repovoariam o mundo.

(5) O ser humano tem livre-arbítrio.

(7) Os velhos deveriam ser soldados.

(4) Com certeza, em breve serão vencidos o câncer e a Aids.

(6) As guerras matam os jovens.

10 – Escolha uma das afirmações da questão anterior e argumente em seu favor.

      Resposta pessoal do aluno.

11 – Escolha uma das afirmações da questão 9 e argumente contra ela.

      Resposta pessoal do aluno.

12 – Lembre-se do que você discutiu sobre a causa das guerras.

a)   A autora desta crônica posiciona-se contra a guerra?

Ela não critica a guerra em si, mas o fato de se enviarem jovens, “a fina flor da população”.

b)   Como você vê esse posicionamento.

Resposta pessoal do aluno.

13 – De modo geral, você concorda ou discorda das afirmações contidas no texto? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno.

 

 

quarta-feira, 24 de junho de 2020

CRÔNICA: A ARTE DE SER AVÓ - RACHEL DE QUEIROZ - COM GABARITO

Crônica: A arte de ser avó

          Rachel de Queiroz

        Quarenta anos, quarenta e cinco. Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem suas alegrias, as sua compensações – todos dizem isso, embora você pessoalmente, ainda não as tenha descoberto – mas acredita.

        Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade.

        Não de amores nem de paixão; a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas, que hoje são seus filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento e prestações, você não encontra de modo algum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres – não são mais aqueles que você recorda.

        E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis – nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino que se lhe é “devolvido”. E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito sobre ele, ou pelo menos o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo ou decepção, se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.

        Sim, tenho a certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis.

        Aliás, desconfio muito de que netos são melhores que namorados, pois que as violências da mocidade produzem mais lágrimas do que enlevos. Se o Doutor Fausto fosse avô, trocaria calmamente dez Margaridas por um neto…

        No entanto! Nem tudo são flores no caminho da avó. Há, acima de tudo, o entrave maior, a grande rival: a mãe. Não importa que ela, em si, seja sua filha. Não deixa por isso de ser a mãe do neto. Não importa que ela hipocritamente, ensine a criança a lhe dar beijos e a lhe chamar de “vovozinha” e lhe conte que de noite, às vezes, ele de repente acorda e pergunta por você. São lisonjas, nada mais. No fundo ela é rival mesmo. Rigorosamente, nas suas posições respectivas, a mãe e a avó representam, em relação ao neto, papéis muito semelhantes ao da esposa e da amante nos triângulos conjugais. A mãe tem todas as vantagens da domesticidade e da presença constante. Dorme com ele, dá-lhe banho, veste-o, embala-o de noite. Contra si tem a fadiga da rotina, a obrigação de educar e o ônus de castigar.

        Já a avó não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto. Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas. Leva a passear, “não ralha nunca”. Deixa lambuzar de pirulito. Não tem a menor pretensão pedagógica. É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso dos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia. Uma noite passada em sua casa é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura. Lá não há linha divisória entre o proibido e o permitido, antes uma maravilhosa subversão da disciplina. Dormir sem lavar as mãos, recusar a sopa e comer croquetes, tomar café, mexer na louça, fazer trem com as cadeiras na sala, destruir revistas, derramar água no gato, acender e apagar a luz elétrica mil vezes se quiser – e até fingir que está discando o telefone. Riscar a parede com lápis dizendo que foi sem querer – e ser acreditado!

        Fazer má-criação aos gritos e em vez de apanhar ir para os braços do avô, e lá escutar os debates sobre os perigos e os erros da educação moderna…

        Sabe-se que, no reino dos céus, o cristão defunto desfruta os mais requintados prazeres da alma. Porém não estarão muito acima da alegria de sair de mãos dadas com o seu neto, numa manhã de sol. E olhe que aqui embaixo você ainda tem o direito de sentir orgulho, que aos bem-aventurados será defeso. Meu Deus, o olhar das outras avós com seus filhotes magricelas ou obesos, a morrerem de inveja do seu maravilhoso neto!

        E quando você vai embalar o neto e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz “Vó”, seu coração estala de felicidade, como pão ao forno.

        E o misterioso entendimento que há entre avó e neto, na hora em que a mãe castiga, e ele olha para você, sabendo que, se você não ousa intervir abertamente, pelo menos lhe dá sua incondicional cumplicidade.

        Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menino – involuntariamente! – bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beicinho pronto para o choro; e depois o sorriso malandro e aliviado porque “ninguém” se zangou, o culpado foi a bola mesma, não foi, vó? Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague.

Rachel de Queiroz, do livro “O homem e o tempo: 74 crônicas escolhidas”. 1976.

Entendendo a crônica:

01 – O título de um texto é sempre primeiro a levantar expectativas quanto ao seu conteúdo. A partir dele fazemos uma série de suposições iniciais que depois podem ser modificados ou confirmadas. Que emoções e ideias foram despertadas pela leitura dessa crônica? Comente.

      Que arte de ser avó é emocionante, pois se reconhece o direito de amar com extravagância.

02 – O narrador do texto é em:

a)   1ª pessoa (participa da história).

b)   3ª pessoa (observa a história de fora e conta).

c)   3ª pessoa (e, às vezes, permite certas intromissões narrado em 1ª pessoa).

03 – Em que trecho da crônica observa-se um humor sutil e a emoção de ser avó?

      “E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis – nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino que se lhe é “devolvido”.

04 – Existe uma relação entre a situação vivida pela personagem da crônica e a de nosso dia-a-dia? Justifique.

      Sim. A arte de ser avó é presente de Deus. Difícil explicar, pura emoção.

05 – A crônica lida predomina a ação ou a reflexão? Comente.

      A reflexão de que se cumpre o seu papel biológico de preservação da espécie (família) que continuará a vida através do neto.

06 – A crônica é um gênero discursivo que mescla a tipologia narrativa com trechos refletivos e, em alguns casos, argumentativos. O que predomina nessa crônica?

      Predomina a argumentação, a descrição e também a narração.

 

 


sábado, 4 de maio de 2019

ROMANCE: O QUINZE I -(FRAGMENTO) - RACHEL DE QUEIROZ - COM GABARITO

Romance: O Quinze I – (Fragmento)
                 Rachel de Queiroz

  Eles tinham saído na véspera, de manhã, da Canoa.
   Eram duas horas da tarde.
        Cordulina, que vinha quase cambaleando, sentou-se numa pedra e falou, numa voz quebrada e penosa:
        -- Chico, eu não posso mais... Acho até que vou morrer. Dá-me aquela zoeira na cabeça!  
        Chico Bento olhou dolorosamente a mulher. O cabelo, em falripas sujas, como que gasto, acabado, caia, por cima do rosto, envesgando os olhos, roçando na boca. A pele, empretecida como uma casca, pregueava nos braços e nos peitos, que o casaco e a camisa rasgada descobriam.
        (...)
        No colo da mulher, o Duquinha, também só osso e pele, levava, com um gemido abafado, a mãozinha imunda, de dedos ressequidos, aos pobres olhos doentes.
        E com a outra tateava o peito da mãe, mas num movimento tão fraco e tão triste que era mais uma tentativa do que um gesto.
        Lentamente o vaqueiro voltou as costas; cabisbaixo, o Pedro o seguiu.
        E foram andando à toa, devagarinho, costeando a margem da caatinga.
        (...)
        De repente, um bé!, agudo e longo, estridulou na calma.
        E uma cabra ruiva, nambi, de focinho quase preto, estendeu a cabeça por entre a orla de galhos secos do caminho, aguçando os rudimentos de orelha, evidentemente procurando ouvir, naquela distensão de sentidos, uma longínqua resposta a seu apelo.
        Chico Bento, perto, olhava-a, com as mãos trêmulas, a garganta áspera, os olhos afogueados.
        O animal soltou novamente o seu clamor aflito.
        Cauteloso, o vaqueiro avançou um passo.
        E de súbito em três pancadas secas, rápidas, o seu cacete de jucá zuniu; a cabra entonteceu, amunhecou, e caiu em cheio por terra.
        Chico Bento tirou do cinto a faca, que de tão velha e tão gasta nunca achara quem lhe desse um tostão por ela.
        Abriu no animal um corte que foi de debaixo da boca até separar ao meio o úbere branco de tetas secas, escorridas.
        Rapidamente iniciou a esfolação. A faca afiada corria entre a carne e o couro. Na pressa, arrancava aqui pedaços de lombo, afinava ali a pele, deixando-a quase transparente. Mas Chico Bento cortava, cortava sempre, com um movimento febril de mãos, enquanto Pedro, comovido e ansioso, ia segurando o couro descarnado. Afinal, toda a pele destacada estirou-se no chão. E o vaqueiro, batendo com o cacete no cabo da faca, abriu ao meio a criação morta.
        Mas Pedro, que fitava a estrada, o interrompeu:
        -- Olha, pai!
        Um homem de mescla azul vinha para eles em grandes passadas. Agitava os braços em fúria, aos berros:
        -- Cachorro! Ladrão! Matar minha cabrinha! Desgraçado!
        Chico Bento, tonto, desnorteado, deixou a faca cair e, ainda de cócoras, tartamudeava explicações confusas.
        O homem avançou, arrebatou-lhe a cabra e procurou enrolá-la no couro.
        Dentro da sua perturbação, Chico Bento compreendeu apenas que lhe tomavam aquela carne em que seus olhos famintos já se regalavam, da qual suas mãos febris já tinham sentido o calor confortante.
        E lhe veio agudamente à lembrança Cordulina exânime na pedra da estrada... o Duquinha tão morto que já nem chorava...
        Caindo quase de joelhos, com os olhos vermelhos cheios de lágrimas que lhe corriam pela face áspera, suplicou, de mãos juntas:
        -- Meu senhor, pelo amor de Deus! Me deixe um pedaço de carne, um taquinho ao menos, que dê um caldo para a mulher mais os meninos! Foi pra eles que eu matei! já caíram com a fome! ...
        -- Não dou nada! Ladrão! Sem-vergonha! Cabra sem-vergonha!
        A energia abatida do vaqueiro não se estimulou nem mesmo diante daquela palavra.
        Antes se abateu mais, e ele ficou na mesma atitude de súplica.
        E o homem disse afinal, num gesto brusco, arrancando as tripas da criação e atirando-as para o vaqueiro:
        -- Tome! Só se for isto! A um diabo que faz uma desgraça como você fez, dar-se tripas é até demais! ...
        A faca brilhava no chão, ainda ensanguentada, e atraiu os olhos de Chico Bento.
        Veio-lhe um ímpeto de brandi-la e ir disputar a presa, mas foi ímpeto confuso e rápido. Ao gesto de estender a mão, faltou-lhe o ânimo.
        O homem, sem se importar com o sangue, pusera no ombro o animal sumariamente envolvido no couro e marchava para a casa cujo telhado vermelhava, lá além.
        Pedro, sem perder tempo, apanhou o fato que ficara no chão e correu para a mãe.
        Chico Bento ainda esteve uns momentos na mesma postura, ajoelhado.
        E antes de se erguer, chupou os dedos sujos de sangue, que lhe deixaram na boca um gosto amargo de vida.

            O Quinze, Rachel de Queiroz. Rio de Janeiro: J. Olympio, s.d. p. 72-5.
Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Brandir: agitar de modo repetido e ameaçador.
·        Estridulou: soou agudo e penetrante.
·        Exânime: desfalecido.
·        Falripas: cabelos muito ralos na cabeça.
·        Jucá: pau-ferro.
·        Orla: borda, beira, margem.

02 – Chico Bento e sua família são retirantes. Qual é a condição física deles no momento retratado pelo texto? Comprove sua resposta com trechos do texto.
      Eles estavam degradados fisicamente, conforme comprovam nos trechos: “Cordulina, que vinha quase cambaleando”; “O Duquinha, também só osso e pele”.

03 – Chico Bento, antes da seca, não era vagabundo nem bandido; era um trabalhador rural. Levante hipóteses:
a)   Como deve ter se sentido ao ser xingado pelo proprietário da cabra?
Deve ter se sentido humilhado, atingido moralmente, pois não era ladrão; roubara por necessidade.

b)   Por que não reagiu aos insultos?
Por reconhecer as razões do homem e, talvez, por pensar na família.

04 – Ao ver que sua presa seria levada, Chico Bento chegou a sentir vontade de lutar por ela com sua faca, “mas foi ímpeto confuso e rápido. Ao gesto de estender a mão, faltou-lhe o ânimo”. Embora esse seja apenas um fragmento da obra, é possível extrair algumas conclusões importantes desse fato.
a)   O sertanejo, no texto, é visto como um ser resignado à sua condição ou como um ser transformador, responsável por seus próprios destinos?
Resignado. Exausto e desesperançoso, Chico Bento sente-se sem ânimo para lutar contra sua sorte.

b)   Nesse fragmento, como é vista a condição de miséria e até de eventual violência (que acabou não se concretizando) em que vivem as personagens: como fatalidade ou como resultado de políticas governamentais ou de relações sociais inadequadas?
Como fatalidade; no episódio não há nenhuma referência a fatores de ordem social, também responsáveis pela condição das personagens.

05 – O Quinze é um bom exemplo de como os romancistas da década de 1930 lidam com a linguagem literária. Observe a linguagem empregada no texto quanto a: vocabulário (mais culto ou mais popular, regionalismos), construções sintáticas (mais prolixas ou mais próximas da fala), períodos (longos ou curtos), etc. Em seguida, caracterize-a.
      A linguagem é culta, porém direta, com vocabulário acessível, por vezes incluindo algum termo regional. Os períodos são curtos e buscam maior proximidade com a linguagem oral.