domingo, 23 de junho de 2024

CRÔNICA: CEM DIAS ENTRE O CÉU E MAR - FRAGMENTO - AMYR KLINK - COM GABARITO

 Crônica: Cem dias entre o céu e mar – Fragmento

              Amyr Klink

        [...]

        Trinta de agosto. Embora não fosse sábado, o calor do final de tarde me inspirou a fazer a barba, que já resistia há algum tempo. As roupas secavam na antena. Os remos já estavam prontos pra ir dormir. Mas, ao reconhecer o que ainda estava solto sobre o barco, um susto!

        -- Navio! Navio! – berrei.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjqvjWgQ6fVAgfbSKta-NEYb5WXyLg9RoTjuEyAYyNIhXHU2IyQrfQsXHGygblwajKaYZbBX87NWeiw9XBNSvjtfaqNDrKSCk5B3HMxGhRQLCyclPfZK0zVfC9KyGhfMjjXYV2nssHqTO87qWNRF0Y7O1TeRGKvCuxEHH7elT7LQ4rNIMlJItc2ZuaYdQ/s320/AMIYR.jpg


        Quase caí na água. Um enorme navio cinzento cruzava minha proa a menos de meia milha de distância no rumo verdadeiro de 310º. [...]

        Os navios são cegos no mar, e quem navega sozinho deve assumir por sua conta e risco este fato. Especialmente durante o dia. À noite, as luzes de um pequeno barco são visíveis a uma razoável distância, e neste caso o vigia pode tomar alguma atitude. Se houver vigia. Mas quando o mar se apresenta levemente formado e, sobretudo, à luz do dia, um barco pequeno só é visível nos poucos segundos em que não está escondido entre duas ondas, o que representa menos de 20% do tempo. Isto, se naquele exato instante houver alguém olhando precisamente na mesma direção. Soma-se ainda o problema do reflexo dos raios na água, o que inutiliza metade do campo visual de um navio quando o sol está baixo, e o dos dias de vento mais forte, quando os carneirinhos, deixados pelas ondas que arrebatam, se confundem com qualquer embarcação. Quanto mais perto se está do nível do mar, pior o problema, pois, em decorrência da curvatura da Terra, o horizonte se torna próximo e um enorme navio pode surgir da invisibilidade absoluta, até o nariz da vítima, em rápidos minutos.

        A única solução é manter uma vigília permanente e nunca esperar que um monstro de aço saia da frente primeiro. Na prática, isto é impossível para um solitário, e o jeito é dormir em intervalos regulares tanto menores quanto mais próximo se estiver de rotas conhecidas de navegação. Existem também alguns recursos técnicos para evitar colisões no mar: os refletores-radar e o detector de radares. a utilidade de ambos, em rotas transoceânicas, é muito relativa. Para auxílio e localização de um barco são muito interessantes, mas nem tanto para evitar acidentes, pois, na prática, raras vezes os navios acionam o radar em alto mar.

        Inanimado, o navio seguia em frente enquanto eu barrava de alegria. A distância não permitia distinguir pessoas, mas ao menos sabia que, peça primeira vez em mais de oitenta dias, havia gente nas proximidades, gente trabalhando, comendo em mesas, com versando, ali a minha frente, dentro do vulto de aço que soltava fumaça pela chaminé. Que saudades, meu Deus! Chamei pelo VHF, no canal 16: “Grande navio cinza. Grande navio cinza. Aqui embarcação IAT chamando. Responda, Câmbio.”

        E que surpresa ao ouvir a resposta num inglês bem napolitano: “Prossiga IAT. Aqui é o Mount Cabrite. Câmbio.”

        Era um cargueiro de bandeira liberiana e tripulação italiana que seguia para os Estados Unidos. A comunicação VHF é de curto alcance, e, portanto, eles imaginavam que deveriam avistar outro barco próximo, um veleiro talvez. Mas não conseguiram. Sem trair a emoção que eu sentia, pedi uma confirmação de posição para checar a precisão dos meus cálculos. E o diálogo que se seguiu foi um pouco lacônico:

        -- Não o avistamos. Você perdeu o mastro? – perguntou o operador.

        -- Não tenho mastro! – respondi.

        -- Você está com pane nas máquinas?

        -- Não tenho máquinas. Estou remando!

        Houve um silêncio no rádio.

        -- Há outros sobreviventes? – voltou ele novamente.

        -- Não! Não! – respondi. – Sou o único tripulante a bordo. Vou para Salvador. Está tudo bem. Por favor, confirme e comunique minha posição ao Concontramar no Rio de Janeiro.

        -- Morreram todos os outros?

        -- Não, não. Eu parti só, da África, de Luderitz.

        Novo silêncio. O oficial de rádio custou a acreditar e, enquanto pedia a posição à ponte de comando, não escondeu que duvidava do que ouvia.

KLINK, Amyr. Cem dias entre céu e mar. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 102-103.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 2. Língua Portuguesa – 6º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 36-37.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, o que significa a palavra lacônico?

      Em poucas palavras, sucinto, resumido.

02 – Explique a afirmação feita no texto, de acordo com o relato do navegador.

        “Os navios são cegos no mar, e quem navega sozinho deve assumir por sua conta e risco este fato.”

      Pela afirmação, que os navios não conseguem ver as embarcações menores no mar, por isso, são “cegos”. Ciente desse fato, o navegador que assume enfrentar uma viagem sozinho deve ter consciência desse fato, o que pode representar um risco.

03 – De acordo com o texto, há quantos dias Klink estava navegando quando encontrou o navio?

      Há oitenta dias quando encontrou o navio.

04 – Qual foi o motivo da alegria do navegador ao se deparar com  um navio?

      O fato de ter tido um contato humano depois de oitenta dias de navegação solitária.

05 – Como o autor navegante descreve o navio que encontrou no caminho?

      O navio era um cargueiro de bandeira liberiana e tripulação italiana que estava seguindo para os estados Unidos.

06 – Por que a tripulação do cargueiro pensou que Klink era um sobrevivente?

      Pelo fato de ele estar sozinho, imaginando que ele teria escapado, provavelmente, de um naufrágio.

07 – Como você justifica o fato de o oficial de rádio ter duvidado sobre o que o navegante contava?

      O oficial de rádio poderia ter duvidado sobre o que o navegante dizia, pois o fato de haver um navegante sozinho em alto mar parecia ser algo estranho e improvável, a menos que fosse, por exemplo, um sobrevivente.

08 – Com base no texto que você leu, indique qual foi o fato que mais lhe chamou a atenção. Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno.

TEXTO: A TEMPESTADE - LUIZ FELIPE PAGNOSSIM - COM GABARITO

 Texto: A tempestade

          Luiz Felipe Pagnossim

        Não guardo muitas lembranças do meu tempo de escola. Mas me lembro que nunca me destaquei pela sociabilidade. Fazer amizades sempre foi uma tarefa difícil para mim. Aguardava que os colegas se aproximassem e a partir daí poderia se desenvolver, talvez, uma amizade.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidAG789t_0yfZWIs3SzteVTx6lEbh2bATX-Ik3jNwSK7q-F6AESrd_ncfeAvtUx_sYMfuB_xsq0Y7pUDfQeNsBVvDIK0VUnc1wrSl4kChH3IlLuh2FrItuHb50_4Jf2XBaTA_ky21MWsqoOKLaIQi7lxHKHvHOuJCg499qXtqeKjdU4U4I3pXhrSte984/s320/SOZINHO.jpg 


        Mas há algo de que me lembro bem: das aulas da professora Helena, especialmente de uma delas. Naquele dia, ela entrou e não demorou a anunciar a atividade: uma narrativa de aventura com tema livre.

        Dei uma encolhida sobre a carteira, enquanto olhava para os lados, sem nenhuma ideia na cabeça: “Tema livre!”. Era liberdade demais para minha falta de imaginação.

        Alguns colegas escreviam, outros ficavam olhando para a folha. Percebi que eu era um desses, perdido no papel em branco. Celina, ao contrário, ajeitava-se impecável sobre a carteira, demonstrando estar totalmente pronta para começar o seu texto.

        Algumas cenas de filmes de piratas começaram a ocupar, de repente, a minha mente. Adorava filmes de ação, aventuras, navios, combates. Eu, então, me concentrei. Peguei a caneta, posicionei o papel e aí começou a minha aventura.

        “Em alto mar, deslizava o antigo navio. Suas velas imensas se enchiam com o sopro do vento na popa, empurrando o barco vigorosamente em direção ao continente africano. No convés sujo e descuidado, o Capitão Trovão gritava a todo pulmão, fazendo-se obedecer pela tripulação de trinta piratas que temiam a fúria do comandante.”

        Minha cabeça estava imersa nas cenas que descrevia. A imaginação ia se organizando e completando as cenas até o clímax de uma tormenta no mar, em que o navio, desnorteado, era jogado para todo lado pela fúria das ondas.

        “Em meio ao movimento do navio, surge o tesouro que o Capitão Trovão mantinha escondido, espalhando moedas de ouro que flutuavam sobre a água que já tomava conta do navio. A tripulação tentava agarrar algumas moedas, enquanto o Capitão ainda encontrava forças para gritar. Foi quando uma imensa onda entornou, finalmente, o navio levando toda a tripulação pirata para o fundo do mar.”

        Fim.

        Tempo depois, a professora veio com as redações corrigidas. A primeira que ela retirou da pasta foi a que eu havia escrito. Elogiou muito a criatividade do meu texto e fez questão de lê-lo para toda classe. O pessoal adorou. A Celina até sorriu para mim.

        Depois desse dia, entendi que, afinal, não era tão impossível fazer uma redação com tema livre, pois, quanto mais livre o tema, melhor para soltar a imaginação e maior é também a aventura. Um gosto pela aventura de ler e de escrever que guardo até hoje.

PAGNOSSIM, Luiz Felipe.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 2. Língua Portuguesa – 6º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 52-54.

Entendendo o texto:

01 – É possível afirmar que o autor do texto “A tempestade” é um adulto? Justifique sua resposta.

      Sim, pois logo no início do texto ele afirma que irá relatar lembranças do tempo da escola, o que pressupõe que o autor, atualmente, é um adulto.

02 – Procure a palavra sociabilidade no dicionário. Em seguida, copie a frase do texto que apresenta um exemplo da falta de sociabilidade do autor quando criança.

      Característica do que é sociável. “Fazer amizade sempre foi uma tarefa difícil para mim.”

03 – Como o menino justificou a sua dificuldade em escrever uma narrativa de aventura cujo tema era livre?

      Para o menino, o tema livre implicava em muita liberdade para escrever em conjunto com a sua suposta falta de imaginação.

04 – Em sua opinião, é mais difícil escrever uma narrativa de aventura cujo tema é livre? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno.

05 – Enquanto o menino olhava para o papel em branco, o que de repente aconteceu?

      De repente, cenas de filmes de piratas começaram a ocupar a mente do menino enquanto ele olhava para o papel em branco.

06 – Que palavra o menino usou para indicar que a história do Capitão Trovão havia terminado?

      Fim.

07 – Por que a professora escolheu a narrativa do menino para ler em voz alta para a turma?

      Porque a narrativa do menino era muito criativa.

08 – Qual foi a conclusão a que o autor chegou ao final do texto?

      O autor do texto chegou à conclusão de que não era impossível fazer uma redação com tema livre, pois isso possibilitava que a imaginação fluísse.

HISTÓRIA: A VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS - (FRAGMENTO) - JÚLIO VERNE - COM GABARITO

 História: A volta ao mundo em 80 dias – Fragmento

              Júlio Verne

        [...]

        -- Afinal de contas, a terra é vastíssima – respondeu Andrew Stuart.

        -- Antigamente até que era – disse Phileas Fogg a meia-voz.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfUCY2SWoqTd-X4BwWhV6sPiBlVgtdvItxzuDKnWGS8cBhDSuBh79opzpRPrj2krg-bZb-64ih79BBSsIJjFk47aYB6NZxBb-LWp-jfJsXZfZb3VnHCMF5wDQUEd4xaDM9ITwlxBy4upO1BYBqy1UUKLlXZceQQH0qIzoQfRto1kLyB3M7ccMOns0tSkY/s1600/80%20DIAS.jpg


        [...]

        -- Por que antigamente? Porventura a terra diminuiu de tamanho?

        -- Sem dúvida – opinou Gauthier Ralph. – Concordo com o Mr. Fogg. A terra diminuiu, uma vez que atualmente a percorremos dez vezes mais rápido do que cem anos atrás.

        [...]

        Mas o incrédulo Stuart não se convencera e insistiu:

        -- Convém admitir, Mr. Ralph – ele prosseguiu –, que encontrou uma maneira curiosa de dizer que a terra encolheu! Quer dizer, só porque hoje a percorremos em três meses...

        -- Em apenas oitenta dias – disse Phileas Fogg.

        -- Sim, oitenta dias! – exclamou Andrew Stuart, que, inadvertidamente, cortou justo num trunfo real. – Mas sem contar o mau tempo, ventos contrários, naufrágios, descarrilamentos, etc.

        -- Incluindo tudo – respondeu Phileas Fogg.

        [...]

        Andrew Stuart [...] observou:

        -- Teoricamente, o senhor tem razão, Mr. Fogg, na prática, porém...

        -- Na prática também, Mr. Stuart.

        -- Queria vê-lo tentar.

        -- Só depende do senhor. Vamos juntos.

        -- Deus me livre! – exclamou Stuart. – Mas apostaria de olhos fechados quatro mil libras que uma viagem dessas, feita sob tais condições, é impossível.

        -- Mais do que possível, ao contrário – rebateu Mr. Fogg.

        -- Muito bem, faça-a então!

        -- A volta ao mundo em oitenta dias?

        -- Sim.

        -- Por que não?

        -- Quando?

        -- Imediatamente.

        [...]

VERNE, Júlio. A volta ao mundo em 80 dias. Trad. André Telles. Rio de Janeiro: Zahar, 2017, p. 37-38.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 2. Língua Portuguesa – 6º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 46.

Entendendo a história:

01 – Quem é o autor do fragmento "A volta ao mundo em 80 dias"?

      O autor é Júlio Verne.

02 – Qual personagem afirma que a Terra antigamente era vastíssima?

      Andrew Stuart é quem afirma isso.

03 – Qual personagem diz que a Terra diminuiu de tamanho e por quê?

      Gauthier Ralph diz que a Terra diminuiu porque atualmente a percorremos dez vezes mais rápido do que cem anos atrás.

04 – Quanto tempo Phileas Fogg afirma que é necessário para dar a volta ao mundo?

      Phileas Fogg afirma que é necessário apenas oitenta dias para dar a volta ao mundo.

05 – Qual foi a reação de Andrew Stuart ao ouvir que a volta ao mundo pode ser feita em oitenta dias?

      Andrew Stuart exclamou incredulamente, mencionando que isso não considerava mau tempo, ventos contrários, naufrágios, descarrilamentos, etc.

06 – O que Phileas Fogg responde quando Andrew Stuart menciona os obstáculos que poderiam atrasar a viagem?

      Phileas Fogg responde que a viagem de oitenta dias inclui todos esses fatores.

07 – Qual é o desafio que Andrew Stuart propõe a Phileas Fogg?

      Andrew Stuart propõe que Phileas Fogg tente fazer a volta ao mundo em oitenta dias.

08 – O que Andrew Stuart estaria disposto a apostar contra a possibilidade de dar a volta ao mundo em oitenta dias?

      Andrew Stuart estaria disposto a apostar quatro mil libras.

09 – Qual foi a resposta de Phileas Fogg ao desafio de Andrew Stuart?

      Phileas Fogg aceita o desafio e sugere começar a viagem imediatamente.

10 – Como Andrew Stuart reagiu à sugestão de Phileas Fogg de começar a viagem imediatamente?

      Andrew Stuart exclamou "Deus me livre!" e mostrou-se relutante em participar da viagem.

 

HISTÓRIA: O PEQUENO PRÍNCIPE 1º CAPÍTULO - ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY - COM GABARITO

 História: O pequeno príncipe 1º capítulo

              Antoine de Saint-Exupéry

        Certa vez, quando tinha seis anos, vi num livro sobre a Floresta Virgem, "Histórias Vividas", uma imponente gravura. Representava ela uma jiboia que engolia uma fera. Eis a cópia do desenho. 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiu_YFmlvOv324NyDAeq8JK8BA30rQnnHQbrS2xnoF0gCRESaKtQjFKqO81cH6YS-giTTW-owOPIC51ooxQxBoKsPBQWG26SX39e5JWS235Y_-mjVzxGAcnHQzrit5sniJ2PjuF07FlppHdt76U7KICDBkeDXhdZFcHU9Yyi0mNzTBNJ7R28mvxFqoma2g/s320/PRINCIPE.png 


        Dizia o livro: "As jiboias engolem, sem mastigar, a presa inteira. Em seguida, não podem mover-se e dormem os seis meses de digestão." 

        Refleti muito então sobre as aventuras da selva, e fiz, com lápis de cor, o meu primeiro desenho. Meu desenho número 1 era assim:

        Mostrei minha obra-prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes fazia medo. 

        Responderam-me: "Por que é que um chapéu faria medo?" 

        Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jiboia digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jiboia, a fim de que as pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de explicações. Meu desenho número 2 era assim: 

        As pessoas grandes aconselharam-me deixar de lado os desenhos de jiboias abertas ou fechadas, e dedicar-me de preferência à geografia, à história, ao cálculo, à gramática.  Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma esplêndida carreira de pintor. Eu fora desencorajado pelo insucesso do meu desenho número 1 e do meu desenho número 2. As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar toda hora explicando. 

        Tive pois de escolher uma outra profissão e aprendi a pilotar aviões. Voei, por assim dizer, por todo o mundo.  E a geografia, é claro, me serviu muito. Sabia distinguir, num relance, a China e o Arizona. É muito útil, quando se está perdido na noite. 

        Tive assim, no correr da vida, muitos contatos com muita gente séria. Vivi muito no meio das pessoas grandes.  Vi-as muito de perto. Isso não melhorou, de modo algum, a minha antiga opinião. 

        Quando encontrava uma que me parecia um pouco lúcida, fazia com ela a experiência do meu desenho número 1, que sempre conservei comigo. Eu queria saber se ela era verdadeiramente compreensiva. Mas respondia sempre: "É um chapéu". Então eu não lhe falava nem de jiboias, nem de florestas virgens, nem de estrelas. Punha-me ao seu alcance. Falava-lhe de bridge, de golfe, de política, de gravatas. E a pessoa grande ficava encantada de conhecer um homem tão razoável. 

SAINT-EXUPÉRY, Antoine. O Pequeno Príncipe. Trad.: Dom Marcos Barbosa. Rio de Janeiro: Agir, 1974, p. 9-11.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 1. Língua Portuguesa – 7º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 10-12.

Entendendo a história:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Imponente: grandioso, impactante.

·        Esplêndido: que causa esplendor, grande admiração.

·        Lúcido: que não se ilude, compreensivo, descomplicado.

·        Bridge: jogo de cartas (baralho) de origem inglesa.

02 – Com base no texto que você leu, como começa a história “O Pequeno Príncipe”?

      “O livro começa com o narrador contando que tinha 6 anos e leu num livro que jiboias engoliam feras. Inspirado nisso, fez seu desenho número 1, que não foi bem compreendido. Então, fez um desenho número 2. Enfim, os adultos o aconselharam a estudar Geografia e outras disciplinas e abandonar os desenhos. Por isso ele se tornou piloto de avião.”

03 – O narrador considera adequado o modo como as crianças enxergam o mundo ou o modo como os adultos enxergam o mundo?

      O narrador considera o ponto de vista da criança mais adequado do que o dos adultos no início. Mas, depois considera também o dos adultos quando diz que a Geografia foi importante na vida dele. Se disserem apenas o ponto de vista da criança.

04 – Releia o trecho abaixo:

        “[...] e aprendi a pilotar aviões. Voei, por assim dizer, por todo o mundo.  E a geografia, é claro, me serviu muito.”. Segundo o narrador, nesse ponto, o conselho dos adultos foi ruim para ele? Explique seu ponto de vista. Por que ele aceitou o conselho, abandonou os desenhos e seguiu outra carreira?

      Não. O ponto de vista do narrador mudou. Ele abandonou o desenho para ser piloto de avião, e o que aprendeu de Geografia foi importante para sua profissão de piloto.

05 – Agora, releia o último parágrafo do capítulo 1 de “O Pequeno Príncipe” e responda: O narrador é um homem ou um menino? Justifique sua resposta com dados do último parágrafo.

      É um homem, porque pilota aviões, conhece Geografia, discute política e usa gravatas, joga baralho e diz que o consideram um homem razoável.

06 – No livro “O Pequeno Príncipe”, combinam-se aspectos formais

Narrativos e aspectos literários. Assinale a alternativa que indica a combinação correta.

a)   Narrativa em 3ª pessoa com história real.

b)   Narrativa em 1ª pessoa com história fictícia.

c)   História real escrita em versos.

d)   Ficção escrita em versos e vida real.

07 – Releia o trecho a seguir e considere a parte destacada.

        “Quando encontrava uma (pessoa grande) que me parecia um pouco lúcida, fazia com ela a experiência do meu desenho número 1, [...]. Mas respondia sempre: "É um chapéu". Então eu não lhe falava nem de jiboias, nem de florestas virgens, nem de estrelas. Punha-me ao seu alcance. Falava-lhe de bridge, de golfe, de política, de gravatas.

Agora, parafraseie o trecho destacado. Escreva com suas palavras o que o autor disse. Em seguida, discuta com o professor e seus colegas a importância de adequar nosso ponto de vista à circunstância.

      Resposta pessoal do aluno.

AUTOBIOGRAFIA(CRÔNICA): MAIO - FRAGMENTO - LIMA BARRETO - COM GABARITO

 Autobiografia (Crônica): Maio – Fragmento

                       Lima Barreto 

        Estamos em maio, o mês das flores, o mês sagrado pela poesia. Não é sem emoção que o vejo entrar. Há em minha alma um renovamento; as ambições desabrocham de novo e, de novo, me chegam revoadas de sonhos. Nasci sob o seu signo, a treze, e creio que em sexta-feira; e, por isso, também à emoção que o mês sagrado me traz, se misturam recordações da minha meninice.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiJQG6jf69tBqzucp6QAQ09Raxh2IzlsYHwZh597lUXkg9PdeACQhVa02ICLcry_a9m4qgJXAyrYkk-GRr4_jNM3BBoXTyoaPag0MlLj7Az7ITwPYiJ6v2F9iVekM6q-fJWqD5EnyV50Ntr8pCHukJdG5koSeeBli0oNyBCpUh33gaPmnSrQnhINYY6tI/s320/Maio.jpg

        Agora mesmo estou a lembrar-me que, em 1888, dias antes da data áurea, meu pai chegou em casa e disse-me: a lei da abolição vai passar no dia de teus anos. E de fato passou; e nós fomos esperar a assinatura no Largo do Paço.

        [...]

        Havia uma imensa multidão ansiosa, com o olhar preso às janelas do velho casarão. Afinal a lei foi assinada e, num segundo, todos aqueles milhares de pessoas o souberam. A princesa veio à janela. Foi uma ovação: palmas, acenos com lenço, vivas... [...]

        Eu tinha então sete anos e o cativeiro não me impressionava. Não lhe imaginava o horror; não conhecia a sua injustiça. [...] Mas como ainda estamos longe de ser livres! Como ainda nos enleamos nas teias dos preceitos, das regras e das leis!

        [...]

        E maio volta... Há pelo ar blandícias e afagos; as coisas ligeiras têm mais poesia; os pássaros como que cantam melhor; o verde das encostas é mais macio; um forte flux de vida percorre e anima tudo...

        O mês augusto e sagrado pela poesia e pela arte [...] volta; e os galhos da nossa alma que tinham sido amputados – os sonhos, enchem-se de brotos muito verdes, de um claro e macio verde de pelúcia, reverdecem mais uma vez, para de novo perderem as folhas, secarem, antes mesmo de chegar o tórrido dezembro.

        E assim se faz a vida, com desalentos e esperanças, com recordações e saudades, com tolices e coisas sensatas [...].

BARRETO, Lima. Maio. In: BARRETO, Lima. A crônica militante. São Paulo: Expressão Popular, 2016, p. 279-283.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 1. Língua Portuguesa – 7º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 03-04.

Entendendo a autobiografia:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Amputar: cortar, podar.

·        Blandícia: carícia.

·        Cativeiro: escravidão.

·        Data áurea: Dia da Abolição da Escravatura.

·        Desalento: desencanto.

·        Enlear: embaraçar-se, enrolar-se.

·        Flux: termo inglês para “fluxo”.

·        Ovação: aplausos.

·        Tórrido: seco, árido.

02 – Agora que você já leu a crônica (autobiografia), conte com suas próprias palavras o que achou da experiência de ler texto.

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Qual é o nome da crônica e do autor? Você sabe dizer em que livro o texto está publicado?

      “Maio” é o título da crônica. O autor é Lima Barreto. Já o título da obra se encontra no fim do texto: A crônica militante.

04 – Agora, defina em uma palavra como você gosta de ser reconhecido.

      Resposta pessoal do aluno.

05 – Identifique, na crônica de Lima Barreto, palavras que indiquem a ação verbal ligada ao pronome eu.

      Vejo, nasci, creio, estou, tinha, etc.

06 – Na crônica “Maio”, o autor conta um fato que registra sua vida íntima. Diga qual é a data e o dia do nascimento do autor e o que parece significar para você.

      Treze de maio, sexta-feira. Verifique se eles notam que o autor está falando de uma “sexta-feira 13”. Explique, então, que a superstição com esse dia já existia no fim do século XIX.

07 – Como o autor enxerga o mês de seu nascimento?

      Para o autor, maio é um mês poético e sagrado, em que os sonhos renascem. Provavelmente ele pensava assim pela associação com o registro histórico da abolição.

08 – Lima Barreto usou a escrita de uma crônica para registrar um momento de sua vida. Existem outros meios ou técnicas para registrar um momento da vida? Se sim, conte quais são.

      Sim, pois podemos criar registros de nossas imagens em vídeos, na pintura de quadros ou escrevendo nosso perfil em um diário, em uma página de rede social, etc.

 

POEMA: O AUTORRETRATO - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

 Poema: O AUTORRETRATO

              Mário Quintana

No retrato que me faço
— traço a traço —
Às vezes me pinto nuvem,
Às vezes me pinto árvore…

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3VcMz9avkEIaoBOxzl5xdc_gOvx3GmozvpAT0qaYvIo1VhnYrqPO78KXVBXqkXhMJu145y1yH2026ukhzvnYRTKUKsQACA7fKdGtNIPlVSTmoTWv7SKSLm9-HV-6VmBOb7TweVqfBkI_Bvu8LsNOhB-68sA28kSiaclgGeyunRyOjsqZ0ZWh0pDMhWfI/s320/AUTORRETRATO.jpg


Às vezes me pinto coisas
De que nem há mais lembrança…
Ou coisas que não existem
Mas que um dia existirão…

E, desta lida, em que busco
— pouco a pouco —
Minha eterna semelhança,

No final, que restará?
Um desenho de criança…
Corrigido por um louco!

 Mario Quintana. O autorretrato. In: QUINTANA, Mário. Apontamentos de história sobrenatural. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. 

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 1. Língua Portuguesa – 7º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 09.

Entendendo o poema:

01 – Você sabe dizer que tipo de texto é “O autorretrato” de Mário Quintana? Justifique sua resposta.

      Um poema, porque está escrito em versos e não é narrada nenhuma história. Aceite como corretas respostas semelhantes a essa.

02 – Do que fala o texto?

      O texto é a voz de uma pessoa dizendo pintar seu retrato com palavras. E que no final sai um desenho de criança corrigido por um louco. A ideia é que o estudante apenas parafraseia o texto.

03 – A voz que fala em textos poéticos se caracteriza como “eu lírico”. No poema de Mário Quintana, ele é percebido pelo uso de quais classes de palavras?

      Pelos pronomes pessoais e pelos verbos.

04 – Quando alguém escreve sobre si mesmo, seja na forma de poema ou na forma narrativa, temos que tipo de conteúdo?

      Autobiografia.

 

 

TEXTO: O QUE SIGMUND FREUD DIRIA SOBRE NOSSA OBSESSÃO PELAS SELFIES? FRAGMENTO - TOMÁS CHAMORRO -PREMUZIC - COM GABARITO

 Texto: O que Sigmund Freud diria sobre nossa obsessão pelas selfies? – Fragmento

            Tomás Chamorro-Premuzic

        Se você for aos lugares mais bonitos do mundo, provavelmente verá pessoas tirando fotos… de si mesmas. E talvez você faça o mesmo.

        [...]

        Freud, o pai da psicanálise, popularizou várias ideias, como a do ego, superego e inconsciente. Um de seus conceitos mais famosos é o do narcisismo, o amor desproporcional por si mesmo.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyClgNCG5127BaduTg7ZxZFSI0JRdB6OuhIZXeMrSXDTqcvzLMNJc3yowgMisJ6o1hlM-NEUg6o0RoaM9GBfeFjUYKuQhks1xwR__-aMwFUkNq4enFl9MWFYzDZz-vb2COd3f_bz8wtFoK0LoVcOxR_C_uy-QeCoZqHAzTSMWQBVGB8p_bnz7TI48aTyE/s320/NARCISO.jpg 


        Na mitologia grega, um jovem chamado Narciso viu seu reflexo na água e passou tanto tempo admirando sua própria beleza que se isolou do resto do mundo. Finalmente, ele se afogou tentando abraçar sua própria imagem.

        Freud pensava que um pouco de autoestima é algo natural nos seres humanos. Porém, o exagero do amor próprio pode se tornar um problema psicológico a ponto de a pessoa excluir relações com os outros, como fez Narciso na mitologia.

        [...]

        As selfies nos mostram em nossos melhores momentos, que são cuidadosamente montados e manipulados. Assim, diariamente somos bombardeados por imagens de outras pessoas que têm vidas e corpos aparentemente perfeitos.

        Estudos recentes mostram que essa exposição excessiva nos enchem de inveja e criam sentimentos de isolamento, insegurança e inadequação.

        Nas palavras de Freud, nos tornamos mais neuróticos: "O objetivo da psicanálise é aliviar as pessoas de sua infelicidade neurótica, de modo que elas possam ser infelizes comuns".

        Então, da próxima vez que você apontar a câmera para si próprio, lembre-se de Narciso e tente focar também seus amigos. Além disso, pode contar com Freud.

CHAMORRO-PREMUZIC, Tomás. O que Sigmund Freud diria sobre nossa obsessão pelas selfies? BBC Brasil, São Paulo, 1 abr. 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-47769250. Acesso em: 5 mar. 2021.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 1. Língua Portuguesa – 7º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 19-20.

Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Autoestima: confiança em si mesmo.

·        Ego: núcleo da personalidade de uma pessoa, de onde vem a palavra “egoísmo”.

·        Psicanálise: campo da saúde que cuida do emocional.

·        Superego: informalmente, um modelo de personalidade extremo.

02 – O que é o narcisismo segundo Sigmund Freud?

      Freud descreveu o narcisismo como um amor desproporcional por si mesmo. Ele acreditava que um pouco de autoestima é natural, mas o exagero desse amor próprio pode levar a problemas psicológicos, como a exclusão das relações com os outros.

03 – Como a mitologia grega explica o conceito de narcisismo?

      Na mitologia grega, Narciso era um jovem que se apaixonou pelo seu próprio reflexo na água. Ele passou tanto tempo admirando sua própria beleza que se isolou do mundo e acabou se afogando ao tentar abraçar sua imagem refletida.

04 – O que Freud pensava sobre a autoestima?

      Freud acreditava que um pouco de autoestima é algo natural e necessário para os seres humanos. No entanto, ele alertava que o exagero do amor próprio poderia se tornar um problema psicológico sério.

05 – Como as selfies podem afetar nossa saúde mental, segundo o texto?

      As selfies, que muitas vezes mostram as pessoas em seus melhores momentos e de forma manipulada, podem nos expor a imagens de vidas e corpos aparentemente perfeitos. Essa exposição excessiva pode gerar sentimentos de inveja, isolamento, insegurança e inadequação.

06 – O que Freud diria sobre os efeitos das selfies na nossa sociedade?

      Freud poderia argumentar que a obsessão por selfies nos torna mais neuróticos. A psicanálise, segundo ele, tem o objetivo de aliviar as pessoas de sua infelicidade neurótica para que possam ser apenas infelizes comuns.

07 – Qual é a sugestão do autor para quando tiramos selfies?

      O autor sugere que, ao tirar uma selfie, devemos nos lembrar da história de Narciso e tentar focar também em nossos amigos. Isso poderia ajudar a evitar a obsessão pelo próprio reflexo e promover relações mais saudáveis.

08 – Quais são alguns dos sentimentos negativos que podem surgir da obsessão por selfies?

      Estudos mencionados no texto indicam que a obsessão por selfies e a exposição constante a imagens idealizadas podem encher as pessoas de inveja e criar sentimentos de isolamento, insegurança e inadequação.