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domingo, 8 de junho de 2025

CRÔNICA: DESISTINDO DO NATAL - MOACYR SCLIAR - COM GABARITO

 Crônica: Desistindo do Natal

              Moacyr Scliar

        Prezado Papai Noel: há uma semana eu lhe mandei uma carta com a lista dos meus pedidos para o Natal. Agora estou mandando esta outra carta para dizer que mudei de ideia. Não vou querer nada. Ontem o papai nos avisou que não tem dinheiro para as compras do fim de ano. Papai está desempregado há mais de um ano. A gente mora numa cidade pequena do interior, muito pobre. No Natal passado, o prefeito anunciou que tinha um presente para a população: uma grande fábrica viria se instalar aqui, dando emprego para muitas pessoas. Meu pai ficou animado. Ele é um homem trabalhador, sabe fazer muitas coisas e achou que com isso o nosso problema estaria resolvido. Agora, porém, o prefeito teve de dizer que a fábrica não vem mais. Não entendo dessas coisas, mas parece que a situação está difícil.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioDU0H6v7zGlv-pF698B9HdiBFC27e6jVRPQJP2WtWqIh_qvhIUFZjeRrXI9-tEjI-_wfm_HvemhoVJiXzXrgaxPYsnn8Ko7Jt0V42T5Ara7r7zoNcOD6zgWh0dRiU7NI8n5Vu5jJc2wKoaRx2k5BLNTN2Tw-aVuxvGy0xkmSyFiZ7E9OUrtVgpGEpYqE/s320/Jonathan_G_Meath_portrays_Santa_Claus.jpg


        Portanto, Papai Noel, peço-lhe desculpas se o senhor já encomendou as coisas, mas infelizmente vou ter de desistir. Para começar, não quero aquela bonita árvore de Natal de que lhe falei -até mandei um desenho, lembra? Nada de pinheirinho, nada de luzinhas, nada de bolinhas coloridas. A verdade, Papai Noel, é que essas coisas só gastam espaço e, como disse a mamãe, gastam muita luz.

      E nada de ceia de Natal, Papai Noel. Nada de peru. Como eu lhe disse, nunca comi peru na minha vida, mas acho que não vai me fazer falta. Se tivesse peru, eu comeria tanto que decerto passaria mal. Portanto, nada de peru. Aliás, se a gente tiver comida na mesa, já será uma grande coisa.

        Nada de presentes, Papai Noel. Não quero mais aquela bicicleta com a qual sonho há tanto tempo. Bicicletas custam caro. E, além disso, é uma coisa perigosa. O cara pode cair, pode ser atropelado por um carro... Nada de bicicleta.

        Nada de DVD, Papai Noel. Afinal, a gente já tem uma TV (verdade que de momento ela está estragada e não temos dinheiro para mandar consertar), mas DVD não é coisa tão urgente assim.

        Também quero desistir da roupa nova que lhe pedi e dos sapatos. A minha roupa velha ainda está muito boa, e a mamãe vai fazer os remendos nos rasgões. E sapato sempre pode dar problema: às vezes ficam apertados, às vezes caem do pé... Prefiro continuar com meus tênis e o meu chinelo de dedo.

        Ou seja: nada de Natal, Papai Noel. Para mim, nada de Natal. Agora, se o senhor for mesmo bonzinho e quiser nos dar algum presente, arranje um emprego para o meu pai. Ele ficará muito grato e nós também. Desejo ao senhor um Feliz Natal e um próspero Ano Novo.

Moacyr Scliar. Folha de São Paulo.

Entendendo a crônica:

01 – Qual o motivo que leva o narrador, uma criança, a escrever uma segunda carta para o Papai Noel, cancelando seus pedidos?

      O narrador cancela seus pedidos porque seu pai está desempregado há mais de um ano e não há dinheiro para as compras de fim de ano.

02 – Que promessa feita pelo prefeito da cidade havia animado o pai do narrador, e por que ela não se concretizou?

      O prefeito havia prometido que uma grande fábrica seria instalada na cidade, gerando muitos empregos. No entanto, a promessa não se concretizou porque a "situação está difícil" e a fábrica não virá mais.

03 – De que forma o narrador "desiste" de elementos tradicionais do Natal, como a árvore e a ceia?

      Ele desiste da árvore de Natal (pinheirinho, luzinhas, bolinhas) por gastarem espaço e luz. Da ceia, ele diz que não precisa de peru, contentando-se em ter apenas "comida na mesa".

04 – O que o narrador argumenta para justificar a desistência dos presentes que havia pedido, como a bicicleta e o DVD?

      Para a bicicleta, ele argumenta que custa caro e é perigosa (pode cair ou ser atropelado). Para o DVD, ele diz que a TV da família já está estragada e que DVD não é algo urgente.

05 – Mesmo desistindo de tudo, o narrador expressa um único pedido final ao Papai Noel. Qual é ele?

      O único pedido final do narrador é que o Papai Noel arranje um emprego para o pai dele.

06 – Qual é a principal emoção ou sentimento que a crônica busca transmitir ao leitor através da carta da criança?

      A crônica busca transmitir um sentimento de tristeza, resignação e maturidade precoce por parte da criança, que compreende a dura realidade financeira da família e abre mão dos seus desejos infantis em prol de uma necessidade básica.

07 – De que forma esta crônica reflete as dificuldades econômicas e sociais que muitas famílias enfrentam?

      A crônica é um retrato sensível das dificuldades econômicas, como o desemprego do pai e a falta de recursos para o básico (comida, conserto de TV). Ela também ilustra a falta de perspectivas em cidades pequenas e como a crise afeta diretamente o universo e os sonhos das crianças.

 

 

 

CRÔNICA: BONECA KARAJÁ: PATRIMÔNIO IMATERIAL DO BRASIL - FRAGMENTO - AFONSO HENRIQUE FERNANDES - COM GABARITO

 Crônica: Boneca Karajá: patrimônio imaterial do Brasil – Fragmento

              Afonso Henrique Fernandes

        O povo Karajá, uma das mais conhecidas etnias indígenas do Brasil, ocupava originariamente as regiões localizadas na extensão do rio Araguaia nos estados do Pará, Tocantins, Mato Grosso e Goiás. Atualmente o aldeamento mais importante está localizado na ilha do Bananal no Tocantins. A estimativa total da população Karajá gira entorno de 3.200 pessoas.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvj_Ou8qMnP6CK-2qKOrcVpk_xhbcLp4d_tky0nkMcH2Ic34W1J5NSIifYvquM_uuxZi8ilv0de5IGy_Nl7vd7-QcQJSE1UWf03YpUK_EvGJ5EDbnP7nv4KZD04OQyW3MVaWHlt2x3vEmTmttzC5q8QPmphRa6rYNIR3tCH54kiD2CLdLLGICpskR7CaM/s1600/boneca-karaja1.jpg

        Apesar de ter sofrido com o avanço da colonização ocidental, este grupo é um dos que melhor conseguiu preservar seus costumes ao longo dos anos. Além de serem relativamente conhecidos no resto do país, símbolos importantes como a língua, a pesca e alguns rituais se mantêm nas práticas cotidianas. O principal exemplo desta preservação da cultura Karajá é justamente a boneca de cerâmica feita por eles.

        Para além de sua função enquanto ornamento, as bonecas Karajá são uma boa amostra da cultura deste povo, possuindo importantes significados sobre a sua organização social. Além disso, nos dias de hoje, a produção e a comercialização das bonecas têm servido de relevante fonte de renda para boa parte das famílias. Por isso, a boneca Karajá foi recentemente reconhecida como patrimônio imaterial do Brasil.

        O reconhecimento da boneca enquanto patrimônio imaterial contribui justamente na preservação do “saber fazer”. A técnica de produção da boneca é utilizada apenas pelos Karajás e é passada de geração a geração. O processo, que tem duração de uma média de uma semana, é controlado e dominado pelas mulheres e acompanhado pelas filhas que vão aprendendo com as mães. A técnica consiste basicamente na coleta da argila, preparo da massa, modelagem, secagem e pintura.

        As faixas etárias dos Karajás são definidas e representadas por símbolos estéticos representados pelas pinturas corporais e formatos de cabelo. Este código também se apresenta nas bonecas. Dessa forma, são produzidos conjuntos de bonecas que ilustram as distintas composições familiares presentes na etnia Karajá. Também é possível encontrar referências à fauna da região e à mitologia dos Karajás.

        A preservação deste patrimônio, passado de geração em geração, passa por constantes ressignificações que dialogam com as alterações no ambiente e nas interações sociais. Um exemplo deste processo é o fato de que hoje é possível distinguir dois tipos distintos de boneca, a Hўkўnaritxoko (boneca antiga) e a Ritxoko (boneca moderna). Enquanto a Hўkўnaritxoko representa a boneca tradicional feita para os próprios Karajás, a Ritxoko está voltada para a comercialização e, dessa forma, atente a objetivos mais decorativos.

        Além disso, esta preservação do patrimônio contribuiu para que se avance na difusão do conhecimento sobre os povos indígenas do Brasil e na construção de uma memória que não relegue a esses povos um espaço marginal.

        [...]

FERNANDES, Afonso Henrique. Boneca Karajá: patrimônio imaterial do Brasil. disponível em: http://saemuseunacional.wordpress.com/2014/02/18/boneca-karaja-patrimonio-imaterial-do-brasil/. Acesso em: 5 nov. 2014. (Fragmento adaptado).

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 78-79.

Entendendo a crônica:

01 – Onde o povo Karajá ocupava originariamente e onde se localiza seu aldeamento mais importante atualmente?

      Originalmente, o povo Karajá ocupava as regiões ao longo do rio Araguaia nos estados do Pará, Tocantins, Mato Grosso e Goiás. Atualmente, o aldeamento mais importante está localizado na ilha do Bananal, no Tocantins.

02 – Apesar da colonização, o que o povo Karajá conseguiu preservar e qual é o principal exemplo dessa preservação?

      Apesar do avanço da colonização ocidental, os Karajás conseguiram preservar bem seus costumes, incluindo a língua, a pesca e alguns rituais. O principal exemplo dessa preservação cultural é a boneca de cerâmica feita por eles.

03 – Qual a importância da boneca Karajá além de sua função ornamental, e qual o reconhecimento recente ela recebeu?

      Além de sua função ornamental, as bonecas Karajá possuem importantes significados sobre a organização social do povo. Atualmente, a produção e comercialização das bonecas também servem como fonte de renda para muitas famílias. Por essa importância, a boneca Karajá foi recentemente reconhecida como patrimônio imaterial do Brasil.

04 – Como a técnica de produção da boneca Karajá é transmitida e quais são as etapas básicas do processo?

      A técnica de produção da boneca é transmitida de geração em geração, sendo controlada e dominada pelas mulheres, que são acompanhadas pelas filhas que aprendem com suas mães. O processo envolve a coleta da argila, preparo da massa, modelagem, secagem e pintura.

05 – De que forma as bonecas Karajá representam a organização social e a cultura do povo?

      As bonecas Karajá incorporam os símbolos estéticos (pinturas corporais e formatos de cabelo) que definem as faixas etárias dos Karajás. Assim, são produzidos conjuntos de bonecas que ilustram as distintas composições familiares, e também é possível encontrar referências à fauna regional e à mitologia Karajá nas bonecas.

06 – Quais são os dois tipos distintos de boneca Karajá existentes hoje e qual a diferença entre elas?

      Atualmente, existem dois tipos distintos de boneca: a Hўkўnaritxoko (boneca antiga) e a Ritxoko (boneca moderna). A Hўkўnaritxoko representa a boneca tradicional feita para os próprios Karajás, enquanto a Ritxoko é voltada para a comercialização e possui objetivos mais decorativos.

07 – De que maneira a preservação do patrimônio da boneca Karajá contribui para a difusão do conhecimento sobre os povos indígenas?

      A preservação desse patrimônio contribui para difundir o conhecimento sobre os povos indígenas do Brasil e para a construção de uma memória que lhes confira um espaço de destaque e não marginalizado na história e cultura do país.

 

quarta-feira, 4 de junho de 2025

CRÔNICA: A IMPETUOSA TORRENTE - MOACYR SCLIAR - COM GABARITO

 Crônica: A impetuosa torrente

              Moacyr Scliar

        “Querida professora:

        Já faz muito tempo que aquilo aconteceu, mas lembro como se tivesse sido ontem. Essas coisas marcam, a senhora sabe. E eu fiquei muito marcado pelo acontecimento. Tanto que estou lhe escrevendo.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6VBhRssR1lEtK4CfNT6dyCcosG8GGPRa16NOQd2KwpRG330wZg9ifLZftb44TDBKoNqVccyBqhoKkF4DTEKHLUqjfuThY71P1kmjW7P1KiGC2lQPT2VBBJ2Gbtf5CW-bMzo0PAcKMbmd-mygPHU_-4bkTuFBnxL4ZjBmmU_-pdTXkRecrDAfvxkHYahw/s320/territorio-da-emocao.jpg


        Talvez a senhora não recorde da aula que a senhora deu naquele dia. Por isso, vou refrescar um pouco a sua memória. A senhora estava falando sobre o rio Amazonas e seus afluentes. A senhora, aliás, falava muito bem, era uma excelente professora. A senhora descrevia o grande rio, aquela gigantesca massa d’água fluindo, ora majestosa, ora irada pela pororoca: água, muita água.

        Eu estava apertado, professora. Eu queria fazer xixi. E quanto mais a senhora falava nas águas, mais vontade me dava de ir ao banheiro. Eu me torcia todo, chegava a ficar roxo com o esforço, mas nada. Quando a senhora fez uma pausa, para entrar na lista dos afluentes, eu aproveitei e pedi para ir lá fora.

        A senhora ficou indignada. Bem agora, a senhora disse, que eu ia falar dos afluentes do Amazonas, os da margem esquerda e os da margem direita, você quer sair! E aí a senhora me passou uma descompostura. Imagine, a senhora disse, se um dia você for à Amazônia e não souber nada dos afluentes, como é que fica?

        Fiquei mal. Porque acabei me urinando. E que quantidade de urina, professora! Eu tinha um Amazonas inteiro na bexiga. O pessoal me olhava, todo molhado e ria sem parar.

        Nunca fui à Amazônia, professora. Nunca vi o grande rio. Mas ultimamente, por causa da próstata, comecei a reter urina. A mesma aflição que senti em sua aula.

        Tenho repetido, baixinho, os nomes dos afluentes do Amazonas: Javari, Juruá, Purus, Madeira, Tapajós, Xingu... Como se fosse um exorcismo, a senhora sabe? Como se fosse uma reza, dessas que curam doença. Claro que não funciona. Mas pelo menos ajuda a matar as saudades. E, ah, professora, que saudades eu tenho, da aurora da minha vida. E daqueles afluentes que, por ela, não passam mais.”

MOACYR SCLIAR. Folha de São Paulo.

Entendendo a crônica:

01 – Qual o motivo que leva o narrador a escrever para sua antiga professora?

      O narrador escreve para sua antiga professora porque um acontecimento marcante da infância, relacionado a uma aula sobre o rio Amazonas e seus afluentes, o deixou profundamente marcado.

02 – Qual era a situação embaraçosa que o narrador vivenciou durante a aula sobre o rio Amazonas?

      O narrador estava muito apertado para fazer xixi, e a professora, ao falar das águas do rio Amazonas, intensificava sua vontade. Ele acabou por se urinar na frente da turma, o que o deixou envergonhado.

03 – Como a professora reagiu ao pedido do aluno para ir ao banheiro e qual foi o argumento dela?

      A professora ficou indignada com o pedido, argumentando que ele queria sair justo quando ela falaria dos afluentes do Amazonas, e questionou como ele se viraria se um dia fosse à Amazônia e não soubesse nada sobre eles.

04 – Que problema de saúde o narrador enfrenta na vida adulta que o faz reviver a aflição da infância?

      Na vida adulta, o narrador tem problemas de próstata, que o fazem reter urina e sentir a mesma aflição de quando criança.

05 – Qual é o desfecho da crônica e que sentimento ele evoca no narrador?

      No desfecho, o narrador, ao repetir os nomes dos afluentes do Amazonas como um "exorcismo" ou "reza", expressa uma profunda saudade da infância ("aurora da minha vida") e dos tempos em que essa aflição não era um problema de saúde, mas sim um momento inocente, embora embaraçoso, de sua vida.

 

 

domingo, 1 de junho de 2025

CRÔNICA: ALFABETIZAR ... TATIANA BELINKY - COM GABARITO

 Crônica: Alfabetizar...

               Tatiana Belinky

        Eu não sou professora – não tenho direito a esse título, não tive formação acadêmica para merecê-lo, até porque parei no segundo ano de Filosofia, e dali em diante "filosofei" pela vida por minha própria conta... Mas hoje, se fosse para ostentar um título muito honroso, eu gostaria que ele fosse o de alfabetizadora. Sim, porque para mim o momento mais importante do magistério, de todo o magistério, é o do professor primário, o "mestre-escola"; e dentro deste, o degrau verdadeiramente fundamental, primordial, é o do alfabetizador – ou quiçá deva dizer da alfabetizadora, a mulher, representante sem dúvida majoritária desta mais nobre das profissões.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlEWPrRuLD4D3RFhWWwy8BwHxrjVJADxmgVSioNbj9OLN4Xipxsjxb3zmKy-EnJq0vihPvL6j61qDrorNTrzvM9Oi8D-LjbEinmZdqL5PCSKyIjfDiX_g5mDFJHZGar-k40XEtRuFvgrvMgt70PYedfNIAuU8Uev-nXniVJgnSyMto0OlVylLLK9hRuNc/s1600/images.jpg


        Alfabetizar, qualquer que seja o método – e hoje os há mais eficientes do que muitos antigos, haja vista os de Paulo Freire ou Emília Ferreiro, para só citar dois (embora os métodos mais antigos não tenham deixado de produzir grandes nomes de escritores, poetas, dramaturgos, romancistas, pensadores, há séculos e mesmo milênios) –, alfabetizar é abrir os olhos de crianças, de jovens e de adultos para o mundo deslumbrante de Sua Majestade, a Palavra, na sua grande função de ferramenta do pensamento. A Palavra Escrita, para ser lida...

        Ensinar a ler, que maravilha! Abrir o caminho para a leitura, para o livro, maravilha! Dá vontade de fazer algumas citações, como por exemplo, "Bendito quem semeia, / livros à mancheia, / e faz o povo pensar!", de Castro Alves; ou "Um país se faz com homens e livros", de Monteiro Lobato. Ou até a "sacada" brilhante de Ziraldo: "Ler é mais importante do que estudar"...

        O grande papel do alfabetizador é, sim, ensinar a ler – mas a ler "de verdade", com fluência natural, sem decifrar penosamente o código escrito, sem tropeçar em letras, sílabas e palavras, sem "gaguejar" nas frases –, a ler "como quem respira" (ainda citando Ziraldo). E isto se consegue só com textos que de uma forma ou outra interessem aos alunos de qualquer tipo ou idade e nunca com "frases de cartilha" ocas e sem sentido...

        Alfabetizar é dar instrumentos ao estudante para saber fazer uso dessa habilidade adquirida em fins práticos, sim. Mas principalmente para presenteá-lo com o dom da leitura prazerosa – o acesso à literatura, com as suas emoções estéticas e éticas, a poesia, o romance, a aventura – toda uma riqueza sem fim... É ensiná-lo a "querer" ler, sem nunca "mandar". Ensiná-lo a gostar de ler...

        E aqui vai mais uma das minhas citações preferidas, do premiado escritor francês e professor de literatura, Daniel Pennac, na primeira frase do primeiro capítulo do seu livro Como um romance: "O verbo ler não comporta imperativo – como o verbo amar e o verbo sonhar... Não se manda – não se pode – mandar amar ou mandar sonhar. E o mesmo deve valer para a leitura, o encantamento e o prazer de ler – de ler de livre e espontânea vontade – o que só é possível quando se é alfabetizado 'pra valer'."

        E isto inclui, naturalmente, o aprender a escrever, a se expressar e se comunicar por escrito – mas aqui já se trata da segunda parte da alfabetização básica – “uma outra história que fica para uma outra vez", e não cabe no espaço desta pequena crônica...

        O que cabe aqui é mesmo uma entusiasmada saudação à Equipe Pedagógica do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores, com os votos de merecido sucesso da Tatiana Belinky.

Fonte: Letra e Vida. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – Coletânea de textos – Módulo 3 – CENP - São Paulo – 2005. p. 15-16.

Entendendo a crônica:

01 – Por que Tatiana Belinky, apesar de não ser professora, gostaria de ser reconhecida como alfabetizadora?

      Tatiana Belinky, mesmo sem formação acadêmica em pedagogia, gostaria do título de alfabetizadora porque considera essa a profissão mais nobre e o momento mais fundamental do magistério. Para ela, o ato de alfabetizar é o alicerce de todo o aprendizado e a chave para abrir o mundo do conhecimento.

02 – Qual é a principal função da Palavra Escrita, segundo a autora?

      A principal função da Palavra Escrita, segundo a autora, é ser a "ferramenta do pensamento". Ao abrir o mundo deslumbrante da Palavra, o alfabetizador oferece o instrumento essencial para que o indivíduo possa refletir, compreender e se expressar de forma mais profunda.

03 – Quais são os dois objetivos centrais do processo de alfabetização, além do uso prático da habilidade?

      Os dois objetivos centrais são, primeiro, ensinar a ler "de verdade", ou seja, com fluência natural e sem dificuldade, "como quem respira". Em segundo lugar, e talvez mais importante, é presentear o aluno com o dom da leitura prazerosa, abrindo o acesso à literatura, às emoções estéticas e éticas, e ensinando-o a "querer" ler, sem imposição.

04 – Como a crônica contrapõe os métodos de alfabetização antigos e modernos?

      A crônica menciona que, embora haja métodos modernos mais eficientes (citando Paulo Freire e Emília Ferreiro), os métodos antigos também produziram grandes nomes da literatura e do pensamento. Isso sugere que a eficácia da alfabetização vai além do método em si, focando mais no resultado de abrir o mundo da leitura para o indivíduo.

05 – Qual a importância de se usar textos que interessem aos alunos no processo de alfabetização?

      É crucial usar textos que interessem aos alunos porque isso permite que a leitura se torne fluente e natural, sem a necessidade de decifrar penosamente o código. A autora enfatiza que o prazer e o engajamento são alcançados com "textos que de uma forma ou outra interessem" e nunca com "frases de cartilha" ocas e sem sentido.

06 – O que a citação de Daniel Pennac sobre o verbo "ler" revela sobre a filosofia de ensino da autora?

      A citação de Daniel Pennac ("O verbo ler não comporta imperativo – como o verbo amar e o verbo sonhar...") revela a filosofia da autora de que a leitura não deve ser imposta. Assim como o amor e o sonho, o prazer de ler deve ser uma escolha livre e espontânea, algo que só é possível quando a pessoa é alfabetizada "pra valer" e desenvolve o desejo genuíno pela leitura.

07 – Por que a crônica não aprofunda o tema da escrita, apesar de mencioná-lo como parte da alfabetização básica?

        A crônica não aprofunda o tema da escrita porque, para a autora, o aprender a escrever e se expressar por escrito é a "segunda parte da alfabetização básica". Ela considera esse um tópico que "fica para uma outra vez" e que "não cabe no espaço desta pequena crônica", focando no objetivo principal de saudar o processo de alfabetização e o papel do alfabetizador na iniciação à leitura.

 

 

sábado, 10 de maio de 2025

CRÔNICA: DO QUE SÃO FEITOS OS MENINOS? BANANAS - REVISTA DA SEMANA - COM GABARITO

 Crônica: Do que são feitos os meninos? Bananas

        Dieta da mãe durante a gravidez – mais ou menos calórica – pode definir sexo do bebê

        A dieta da mãe pode determinar o nascimento de meninos ou meninas. Cientistas das universidades de Oxford e Exeter, na Inglaterra, entrevistaram 740 mulheres que engravidaram pela primeira vez. Queriam conhecer seus hábitos alimentares no ano anterior ao da concepção. Elas foram divididas em grupos de “altas, médias e baixas calorias”, informa o Guardian. As descobertas: 56% das mulheres do grupo de refeições calóricas que ingeriam com frequência cereais e banana no café da manhã tiveram bebê do sexo masculino – ante 45% da turma de dieta mais frugal, menos rica. “Pela primeira vez mostramos uma associação clara entre os hábitos alimentares da mãe e o sexo do filho”, disse Fiona Mathews, líder do estudo.


Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilMkUBoaKdCQZx7IJBQGmnY4xBkhqN77lSa1NAWAlvWWFLslcW9CUiiQKkvq7zucv1qQ8r7k9mbb2NlHEGrJz07-MfCWivVrVjXkYDMmhHCBjFXofS9JEBQCRk-949a3fvTy7GsS_Nk4glXcb6XKV5WtjWOXctfGBNuw7I0iJz-8bLwVJbX6tnqCXzLGE/s1600/MENINO.jpg

        Mais que uma questão de saúde, é uma consequência das mudanças de comportamento. Os pesquisadores afirmam que a tendência moderna de optar por dieta de baixas calorias pode explicar a queda no nascimento de meninos em países desenvolvidos, diz a BBC. As estatísticas acompanham o raciocínio. Nos últimos 40 anos houve um pequeno, mas constante, declínio do nascimento de meninos em países desenvolvidos como a Inglaterra.

Revista da Semana, ano 2, n° 17.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 60.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal descoberta da pesquisa realizada pelas universidades de Oxford e Exeter sobre a dieta materna e o sexo do bebê?

      A principal descoberta da pesquisa foi que existe uma associação clara entre os hábitos alimentares da mãe antes da concepção e o sexo do bebê. Especificamente, mulheres que consumiam dietas mais calóricas, incluindo cereais e banana no café da manhã com frequência, tinham uma probabilidade maior de dar à luz meninos (56%) em comparação com aquelas que seguiam dietas mais frugais (45%).

02 – Qual o método utilizado pelos cientistas para chegar à conclusão sobre a influência da dieta no sexo do bebê?

      Os cientistas entrevistaram 740 mulheres que estavam grávidas pela primeira vez e coletaram informações sobre seus hábitos alimentares no ano anterior à concepção. As mulheres foram então divididas em três grupos com base na ingestão calórica de suas dietas: altas, médias e baixas calorias. Ao analisar a proporção de meninos e meninas nascidos em cada grupo, os pesquisadores puderam identificar a associação entre a dieta e o sexo do bebê.

03 – Segundo os pesquisadores, qual a possível explicação para a queda no nascimento de meninos em países desenvolvidos?

      Os pesquisadores afirmam que a tendência moderna de optar por dietas de baixas calorias pode ser uma das explicações para o pequeno, mas constante, declínio no nascimento de meninos observado nos últimos 40 anos em países desenvolvidos como a Inglaterra. A menor ingestão calórica pelas mulheres antes da gravidez poderia estar influenciando a proporção de sexos dos bebês.

04 – Além da saúde, qual outra consequência é apontada na crônica como resultado das mudanças nos hábitos alimentares das mulheres?

      Além das questões de saúde, a crônica aponta como consequência das mudanças nos hábitos alimentares das mulheres uma possível alteração na proporção de nascimentos entre meninos e meninas, com uma tendência de queda no nascimento de meninos em países desenvolvidos.

05 – Qual a importância da banana e dos cereais mencionados na crônica em relação à probabilidade de ter um menino?

      A banana e os cereais são mencionados como alimentos consumidos com frequência pelas mulheres do grupo de alta ingestão calórica que tiveram uma maior proporção de filhos do sexo masculino (56%). Embora a crônica não detalhe os mecanismos específicos, a presença desses alimentos em uma dieta mais calórica parece estar associada a uma maior probabilidade de conceber um menino.

 

domingo, 27 de abril de 2025

CRÔNICA: O HUMOR É VIRTUAL - LEANDRO SARMATZ - COM GABARITO

 Crônica: O humor é virtual

        Mas a risada é bem real em tempos de internet

por Leandro Sarmatz

        A televisão matou a janela (como dizia Nelson Rodrigues)? Pouco provável. São raras as ocasiões em que a chegada de um novo meio aniquila o anterior. Certamente o advento do cinema falado fez mal aos atores de cinema mudo que não tinham “voz” para a telona (episódio que é recuperado, em tom de comédia, no clássico Cantando na Chuva). 



Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2mqCYAofhC25h6TMmEqRJrM3Y0GYJaEGaRm76B6HxhYq-q3wGNK66MjD_nqUn2eoxnwIjlha3hCRlMj7z3jPuhutt3qCzFCjgJtIzUMixyTEXwgu1N9OFTTpStjJAIqmIKIqMp4cHesHb-dM8XkY2N7qXRFzQoZ25bEn1rbC6Fq2Q-RsgaTwonHxqW6g/s1600/CHUVA.jpg

E o humor em tempos de internet, que é dele? Há duas formas de ver a questão. Por um lado, a internet – em sites estilo Youtube – está dispensando a narrativa, uma vez que basta se conectar para ver determinada situação hilária. Esse, pois, foi o resultado de uma pesquisa feita recentemente na Inglaterra. Assim: aquela conversa de segunda-feira na firma, quando alguém narrava longamente, e com detalhes, que viu na TV como um sujeito acima do peso tropeçava na neve e era quase abocanhado por um urso branco, sumiu do mapa. Para que contar, se é possível ver? Aqui jaz a anedota, concluiu pesquisa. Por outro lado, nunca se conviveu com tanto humor. Ligue o computador e comprove: há cada vez mais sites e blogs experimentando um novo humor – muitas vezes absorvido pelas mídias tradicionais, como a TV e o cinema. São esquetes, montagens capciosas de imagens de celebridades em momentos constrangedores, paródias de notícias. Deboche correndo solto na rede. Pois o homem é o único animal que ri, dizia Aristóteles. Ri e se conecta.

Adaptado de: Leandro Sarmatz. Vida Simples, nº 63.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 340.

Entendendo a crônica:

01 – Qual é a principal questão levantada pelo autor em relação ao humor na era da internet?

      A principal questão é como o advento da internet e de plataformas como o YouTube impactaram a forma como o humor é criado, consumido e compartilhado, e se isso significa o fim de formas tradicionais de humor, como a anedota contada oralmente.

02 – Segundo a pesquisa mencionada na crônica, qual foi o impacto da internet nas narrativas humorísticas cotidianas?

      A pesquisa realizada na Inglaterra concluiu que a internet levou ao declínio da anedota contada oralmente, como a pessoa que narrava longamente um acontecimento engraçado visto na televisão. A facilidade de mostrar o vídeo online tornou a necessidade da narrativa detalhada obsoleta.

03 – Apesar do impacto mencionado na pergunta anterior, qual é a outra perspectiva apresentada pelo autor sobre o humor na internet?

      A outra perspectiva é que nunca se conviveu com tanto humor como na era da internet. Há um número crescente de sites e blogs experimentando novas formas de humor, como esquetes, montagens de imagens e paródias, que muitas vezes são absorvidas pelas mídias tradicionais.

04 – Que tipo de humor o autor observa proliferar na internet?

      O autor observa a proliferação de um humor caracterizado por deboche, esquetes, montagens capciosas de imagens de celebridades em situações constrangedoras e paródias de notícias.

05 – Qual a conexão que o autor estabelece entre o ser humano, o riso e a internet, citando Aristóteles?

      O autor, citando Aristóteles, lembra que o homem é o único animal que ri. Ele então conecta essa característica humana fundamental com a capacidade da internet de promover a conexão entre as pessoas através do humor, sugerindo que rir e se conectar são atividades intrinsecamente ligadas na era digital.

 

 

CRÔNICA: GENTE VENENOSA: OS SABOTADORES - M. BRAVOS - COM GABARITO

 CRÔNICA: GENTE VENENOSA: OS SABOTADORES

            M. Bravos

        Não há como afirmar que existe alguém totalmente bom ou totalmente mau como nas maniqueístas histórias infantis. Mas em determinadas situações há pessoas de personalidade difícil, que potencializam as fragilidades de quem está a sua volta, semeando frustrações e desestruturando sonhos alheios. Atitudes que, em resumo, envenenam. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6jRrcDTWajvaoUQAbkcShKt8i23298VZSFlMI2qCIeHqYCaw9tq6cnTfkwctomHbPMLheyASjqoops4fh8eRcmx9r8iBbW2iUuaNDnItZzJUyNQMBoZf4_Hl24pTAI721D6OI4pidocQPlq-HgIsZq8pTJtHvmDpYKWHwVf-ymFml6owoabVhtawUL8U/s320/mas-gente-toxica-4.jpg


O terapeuta familiar argentino Bernardo Stamateas identificou essas pessoas, cunhou o termo “gente tóxica” e falou sobre elas no livro Gente tóxica - como lidar com pessoas difíceis e não ser dominado por elas. Assim como uma maçã estragada em uma fruteira é capaz de contaminar as outras frutas boas, as pessoas tóxicas, segundo Stamateas, tendem a envenenar a vida, plantar dúvidas e colocar uma pulga atrás da orelha de qualquer um. A vilania da situação reside no fato de que gente tóxica está sempre à espera da queda ou da frustração de alguém próximo para, então, assumir o papel de protagonista. “Eles (os tóxicos) se sentem intocáveis e com capacidade de ver a palha no olho do outro e não no seu”, comenta o autor.

Adaptado de: BRAVOS, M. Gente Venenosa: os sabotadores. Gazeta do Povo- Suplemento Viver Bem, 19 set. 2010, p. 6.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 212.

Entendendo o texto:

01 – Segundo o texto, qual a visão sobre a existência de pessoas totalmente boas ou totalmente más e como são caracterizadas as pessoas de "personalidade difícil" em certas situações?

      O texto afirma que não existem pessoas totalmente boas ou totalmente más como nas histórias infantis maniqueístas. Em certas situações, existem pessoas de "personalidade difícil" que potencializam as fragilidades de quem está ao seu redor, semeando frustrações e desestruturando sonhos alheios, atitudes que "envenenam".

02 – Quem é Bernardo Stamateas e qual conceito ele desenvolveu para descrever esse tipo de pessoa prejudicial?

      Bernardo Stamateas é um terapeuta familiar argentino que identificou essas pessoas prejudiciais e cunhou o termo "gente tóxica". Ele também escreveu o livro Gente tóxica – como lidar com pessoas difíceis e não ser dominado por elas sobre o assunto.

03 – Qual a analogia utilizada no texto para ilustrar a influência negativa das pessoas tóxicas em seu entorno?

      O texto utiliza a analogia de uma maçã estragada em uma fruteira, que é capaz de contaminar as outras frutas boas, para ilustrar como as pessoas tóxicas tendem a envenenar a vida, plantar dúvidas e gerar desconfiança em quem está próximo.

04 – Qual a característica da "vilania" da gente tóxica descrita no texto em relação ao sucesso ou fracasso de outras pessoas?

      A "vilania" da gente tóxica reside no fato de que elas estão sempre à espera da queda ou da frustração de alguém próximo para, então, assumir o papel de protagonista, ou seja, se destacar ou se sentir superiores diante da dificuldade alheia.

05 – Que percepção as pessoas tóxicas têm de si mesmas em relação aos outros, de acordo com o autor citado no texto?

      Segundo o autor Bernardo Stamateas, as pessoas tóxicas se sentem intocáveis e com capacidade de ver os defeitos ("a palha no olho") dos outros, mas não reconhecem os próprios defeitos ("a trave no seu").

 

 

CRÔNICA: POLÍTICA - PARA NÃO SER IDIOTA - M.S. CORTELLA - COM GABARITO

 Crônica: Política – Para não ser idiota

           M. S. Cortella

        O termo “idiota” aparece em comentários indignados, cada vez mais frequentes no Brasil, como “política é coisa de idiota”. O que podemos constatar é que acabou se invertendo o conceito original de idiota, pois a palavra “idiótes”, em grego, significa aquele que só vive a vida privada, que recusa a política, que diz não à política.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGa0j50JjOWzY2wyAJmxz9NHNHHbqRYvZwtBSeuVJQOrLtDMk0qPkp3u4u0VtnNsSxEMQh0wK9CT1X3_UH16oWxannny2Vay55JCA8lSI5c89qkSrgPvPVQ0ywYWKqak_UsDObVo9R5URWX7_I1fK8tFyaa0AoocAtZm1b0CEH9L-JLfbLlZhuGmd85Y0/s1600/idiota.jpg


        Talvez devêssemos retomar esse conceito de idiota como aquele que vive fechado dentro de si e só se interessa pela vida no âmbito pessoal. Sua expressão generalizada é: “Não me meto em política”.

M. S. Cortella e R. J. Ribeiro, Política – para não ser idiota. Adaptado.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 377.

Entendendo o texto:

01 – Qual a constatação inicial do autor sobre o uso da palavra "idiota" em relação à política no Brasil?

      O autor observa que a expressão "política é coisa de idiota" tem se tornado cada vez mais frequente em comentários indignados no Brasil.

02 – Qual o significado original da palavra grega "idiótes" e como ele se relaciona com a recusa à política?

      Em grego, "idiótes" significava aquele que só vive a vida privada, que se recusa a participar da política, que diz não à política. Portanto, originalmente, o "idiota" era aquele que se isolava da esfera pública.

03 – Segundo o autor, como o conceito original de "idiota" se inverteu no contexto brasileiro atual?

      O autor argumenta que o conceito original de "idiota" se inverteu, pois hoje em dia a palavra é usada para se referir à própria política, enquanto o verdadeiro "idiótes" seria aquele que se afasta e desinteressa pela vida política.

04 – Qual a característica principal daquele que se encaixa no conceito original de "idiota", de acordo com o texto?

      A característica principal daquele que se encaixa no conceito original de "idiota" é viver fechado dentro de si, interessando-se apenas pela vida no âmbito pessoal. Sua expressão generalizada é "Não me meto em política".

05 – Qual a implicação de retomar o conceito original de "idiota" para a nossa compreensão da relação entre indivíduo e política?

      Retomar o conceito original de "idiota" nos leva a refletir que a recusa à política e o isolamento na vida privada, longe de serem sinais de inteligência ou sabedoria, representariam uma forma de "idiotia" no sentido clássico do termo. Isso sugere a importância da participação e do engajamento na esfera política para não se enquadrar nessa definição.

 

 

sábado, 26 de abril de 2025

CRÔNICA: EXAGEROS DE MÃE - FRAGMENTO - MILLÔR FERNANDES - COM GABARITO

 Crônica: Exageros de Mãe – Fragmento

              Millôr Fernandes

        Já te disse mais de mil vezes que não quero ver você descalço. Nunca vi uma criança tão suja em toda a minha vida. Quando teu pai chegar você vai morrer de tanto apanhar. Oh, meu Deus do céu,
esse menino me deixa completamente maluca. Estou aqui há mais de um século esperando e o senhor não vem tomar banho. Se você fizer isso outra vez nunca mais me sai de casa. Pois é, não come nada: é por isso que está aí com o esqueleto à mostra. Se te pegar outra vez mexendo no açucareiro, te corto a mão. Oh, meu Deus, eu sou a mulher mais infeliz do mundo. Não chora desse jeito que você vai acordar o prédio inteiro.

 [...] 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixUrnPsCkhuZ5C6McKawTw4etZWnatJz8fYZU-XaFhZAb5MglXXMGwtw-hNmop6iGy4uyIYNJ62ZerHGRhkIqsutZBZ0aiJRZHKA_OJ8wkjKp9pXtESHCm2DO27KQQnnA4SFsadAVm11fqm6T3miDXQPlb4U-oAisBuyrn2Bnicm8vgHTzoG61zlky95Y/s1600/A_velha_brava.jpg


Mas, furou de novo o sapato: você acha que seu pai é dono de sapataria, pra lhe dar um sapato novo todo dia? Onde é que você se sujou dessa maneira? Acabei de lhe botar essa roupa não faz cinco minutos! Passei a noite toda acordada com o choro dele. Eu juro que um dia eu largo isso tudo e nunca ninguém mais me vê. Não se passa um dia que eu não tenha que dizer a mesma coisa. Não quero mais ver você brincando com esses moleques, esta é a última vez que estou lhe avisando.

10 em Humor. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1968, p. 15.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 281.

Entendendo a crônica:

01 – Quais são algumas das reclamações repetitivas da mãe dirigidas ao filho no fragmento da crônica?

      Algumas das reclamações repetitivas incluem não querer ver o filho descalço, considerá-lo excessivamente sujo, ameaçá-lo com a punição do pai, reclamar da demora para o banho, proibi-lo de sair de casa, criticar sua falta de apetite, ameaçá-lo por mexer no açucareiro e repreendê-lo por chorar alto.

02 – Que hipérboles (exageros) a mãe utiliza para expressar seus sentimentos e a situação?

      A mãe utiliza hipérboles como "já te disse mais de mil vezes", "nunca vi uma criança tão suja em toda a minha vida", "estou aqui há mais de um século esperando", "se você fizer isso outra vez nunca mais me sai de casa", "está aí com o esqueleto à mostra", "se te pegar outra vez mexendo no açucareiro, te corto a mão" e "não chora desse jeito que você vai acordar o prédio inteiro".

03 – Qual a reação da mãe em relação aos sapatos furados do filho e o que essa reação revela sobre sua perspectiva?

      A mãe reage com indignação ao sapato furado, questionando se o pai do filho é dono de uma sapataria para dar sapatos novos diariamente. Isso revela sua frustração com os gastos e o descuido do filho.

04 – Como a mãe expressa seu cansaço e frustração com a rotina de cuidados com o filho?

      A mãe expressa seu cansaço ao dizer que passou a noite toda acordada com o choro do filho e manifesta seu desejo de "largar isso tudo" e sumir, indicando um sentimento de exaustão e sobrecarga.

05 – Qual a atitude da mãe em relação aos amigos do filho e o que essa atitude sugere?

      A mãe demonstra uma atitude negativa em relação aos amigos do filho, afirmando que não quer mais vê-lo brincando com "esses moleques" e que aquela é a última vez que o avisa. Isso sugere que ela os considera uma má influência ou responsáveis pelo comportamento do filho.

 

 

CRÔNICA: CONVERSA CONTEMPORÂNEA - FRAGMENTO - FABRÍCIO CORSALETTI - COM GABARITO

 Crônica: Conversa contemporânea – Fragmento

              FABRÍCIO CORSALETTI

        -- Hmmm, Renata, tá uma delícia!

        -- Que bom que vocês gostaram.

        -- Fantástico!

        -- Incrível!

        -- Ma-ra-vi-lho-so!

        -- Genial, Renatinha!

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqyQ_6MtBTvAxbHZ_FIt4Saf2DDpw1as2r0_gRgZou3DZ_9frcBfdWE1j1lRlG8hyqIFzCvXVLdOYTHnIDVOfYYAeyobPpbZ-NmCP5rgjnaIYp7SHakvMSAK3B-NwA7gXbOJRrYj5NTcg8GUXBCFOI6Qzy_ZdV3UuO6itSnEPYUIdjXpi2xFuKRhR-vu8/s1600/images.png


        -- É fácil de fazer. É só escolher bem os olhos de tatu, temperar com capacetes frescos...

        -- De motoboy?

        -- Não. Tem que ser de motocross.

        -- Tá. E que mais?

        -- Aí afogam-se as folhas de manjericão em azeite de lágrimas, e forno!

        -- Eu disse que era azeite de lágrimas!

        -- E essa torta, como você conseguiu essa textura?

        -- Me passa o vinho, por favor?

        -- Simples. Vai no Santa Bárbara, compra picanha de grilo moída e mistura com polvilho alemão. Pronto. Se quiser, joga umas presilhas por cima que fica ótimo. O Túlio não gosta. Né, amor?

        -- Demais, Renatinha, demais!

        -- Mano, ontem fui no Le Bateau, ou Le Manteau, não lembro agora...

        -- É Le Manteau.

        -- Tá, não importa. Comi uma quiche que foi a melhor quiche que comi na vida. De cebolinha com fios de cabelo de albinos calvos. Coisa de louco.

        [...]

        -- Ixe, esqueci a sobremesa no fogo. Já volto.

        -- Ela tá feliz, né?

        -- Super!

        -- E como ela tá mandando bem!

        -- As suas massas também são ótimas, Marcos.

        -- Por que cê tá me falando isso? Não precisa me comparar com a Renata. Parece que eu tô com inveja dela.

        -- Tá um pouquinho...

        -- Era só o que me faltava.

        -- Abram espaço que eu tô chegando... Licença! Licençaaa...

        -- Uhu!

        -- Aêêê!

        -- O que é?

        -- Doce de leite de baby camelo com pêssegos frígidos aquecidos em banho josé maria.

        -- Hmmmmm...

        -- Arrasou!

        -- Me passa o vinho? Ei, me passa o vinho aí!

Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/1076377-conversa-contemporanea.shtml. Acesso em: 27/4/2012.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 205.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a atmosfera geral da conversa inicial entre os personagens e como eles avaliam a comida de Renata?

      A atmosfera inicial da conversa é bastante efusiva e elogiosa. Os personagens utilizam exclamações e adjetivos como "delícia", "fantástico", "incrível", "maravilhoso" e "genial" para expressar que gostaram muito da comida de Renata.

02 – Qual é o tom predominante nas "receitas" apresentadas por Renata e qual o efeito desse tom na conversa?

      O tom predominante nas "receitas" de Renata é claramente irônico e absurdo. Ela descreve ingredientes e preparações surreais, como "olhos de tatu temperados com capacetes frescos de motocross" e "folhas de manjericão afogadas em azeite de lágrimas". Esse tom cria um efeito cômico e de estranhamento na conversa, contrastando com os elogios exagerados e revelando uma possível crítica à superficialidade dos comentários.

03 – Como os outros personagens reagem às descrições inusitadas dos pratos de Renata?

      Inicialmente, os outros personagens parecem não notar a estranheza das descrições de Renata, seguindo com seus elogios entusiásticos. Há uma breve confusão sobre o tipo de capacete ("de motoboy?" / "Não. Tem que ser de motocross."), mas logo a conversa prossegue sem questionamentos sobre a veracidade dos ingredientes.

04 – Qual a reação de Marcos ao elogio feito às suas massas e o que essa reação sugere sobre seus sentimentos em relação a Renata?

      Marcos reage com irritação ao elogio de suas massas, interpretando-o como uma comparação desfavorável com Renata e insinuando que ele estaria com inveja dela ("Por que cê tá me falando isso? Não precisa me comparar com a Renata. Parece que eu tô com inveja dela."). Essa reação sugere que Marcos se sente inseguro ou competitivo em relação ao sucesso culinário de Renata.

05 – Qual a natureza da sobremesa trazida pelo último personagem a chegar e como os outros reagem a ela?

      A sobremesa trazida pelo último personagem é descrita de forma igualmente extravagante e incomum: "Doce de leite de baby camelo com pêssegos frígidos aquecidos em banho josé maria". A reação dos outros é positiva e entusiástica, com exclamações como "Hmmm..." e "Arrasou!".

06 – Que elemento se repete ao longo da conversa, indicando talvez um certo foco ou desejo dos personagens?

      A pergunta "Me passa o vinho?" se repete ao longo da conversa, sugerindo que a bebida é um elemento importante e presente no encontro, talvez indicando um desejo de descontração ou um acompanhamento constante da refeição.

07 – Qual a possível crítica ou reflexão que a crônica pode estar levantando sobre as conversas contemporâneas a partir desse fragmento?

      A crônica pode estar levantando uma crítica à superficialidade e à falta de profundidade em algumas conversas contemporâneas, onde elogios vazios e descrições absurdas são aceitas sem questionamento. A ausência de uma reação genuína às "receitas" de Renata e a preocupação de Marcos com a comparação sugerem uma sociedade focada na aparência e na competição, em vez de uma comunicação autêntica e atenta aos detalhes. A crônica utiliza o humor e o absurdo para satirizar essa dinâmica social.