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quarta-feira, 9 de abril de 2025

CRÔNICA: O SELVAGEM - WALCR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: O selvagem

               Walcyr Carrasco

        Saía para a balada todas as noites. Pai e mãe descabelados. Dormia até tarde. Apareceu com uma tatuagem no braço. Um desenho que não parecia fazer sentido.

        -- O que é, meu filho? – gemeu a mãe.

        -- Tribal.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg94T1GHPltLpwuwNdcUENgaCMj_zBtF8_uSNKGMDfHncYmbeez0CcjUGzQJxFRb1dfekNQ8PU09QjFJm538kzoHfLxDLJ5V6Zq5-DZSdxbx2tWggdESaYxgaihdlyepB7OEgJSQ9QnsPrb49GgYhIvmK0ur8aeS5iYGAt21w3k7YJ8dTtfmPMVekL2DWg/s1600/images.jpg

        Logo a mãe descobriu que existem “escolas” de tatuagem: tribais. Étnicas, new age...

        O pai quase teve um infarto. Piorou quando soube que a turminha do prédio estava se reunindo em um apartamento vazio, com três velhos colchões jogados. O porteiro dedou:

        -- Ficam lá, a noite toda, ouvindo música...

        Foram expulsos. A tia comentou:

        -- Se ao menos ele tivesse uma boa namorada!

        Apareceu uma candidata. Tinha piercing nas sobrancelhas. A mãe tentou se conformar.

        -- Até que é bonitinho!

        Ela abriu a boca para agradecer. Também tinha piercing na língua!

        De noite, a mãe quis aconselhar.

        -- Meu filho, e se sua língua ficar presa?

        O rapaz olhou-a como se fosse marciana.

        -- Tá me tirando, mãe?

        Outra surpresa:

        -- Ah, meu filho, a traça roeu sua camiseta. Está cheia de furinhos.

        -- Comprei assim. É lançamento.

        Viu a etiqueta da grife italiana. Adquirida em dez prestações no cartão!

        -- Você pagou tanto por uma camiseta furada!

        De noite, na solidão do quarto, o pai se contorcia.

        -- O que vai ser desse rapaz?

        Prestou vestibular. Para surpresa de todos, passou. Faculdade em uma cidade próxima. Dali a alguns meses, anunciou:

        -- Arrumei trabalho!

        Alívio.

        -- Qual o salário?

        -- É voluntário. Em uma ONG para proteger os meninos de rua!

        O casal fugiu para o cinema. Durante a pizza, o pai vociferava:

        -- Pode se dar ao luxo de ser voluntário porque tem quem o sustente! No meu tempo eu só pensava em comprar um carro novo!

        A mãe refletiu. Anos a fio, trocando de carro. Seria tão bom não ter esse tipo de preocupação!

        O marido insistiu. Era o caso de chamar um terapeuta. Marcaram consulta.

        -- Para quê? Não preciso de terapia!

        -- Você precisa conversar, tem de tomar rumo na vida! – explicou o pai.

        A custo, foi convencido. Não sem alguma chantagem financeira.

        O psicólogo o recebeu em uma sala aconchegante, com poltronas.

        -- Por que veio aqui?

        -- Meu pai mandou. Eu mesmo não tinha a menor vontade.

        Péssimo começo.

        -- Não costumo receber ninguém porque o pai mandou. Estudei com sua mãe. Estou aqui coo amigo. Não considere que é uma consulta.

        -- Meus pais não me entendem.

        -- Quem sabe você possa me dizer por quê?

        -- Eu quero qualidade de vida, sabe? Não passar o tempo todo me matando para ter coisas. Quem sabe mais tarde vou morar numa praia... e trabalhar com alguma coisa de que eu goste. Sei lá, entrei numa ONG...

        O terapeuta observou as tatuagens (agora já eram cinco), o brinco ousado, a camiseta torta. Cabelos espetados. Atrás da aparência selvagem, reconheceu seu passado. Em sua época, a juventude também fora assim. Com projetos de vida. Teve uma sensação de alegria, porque afinal... a juventude continuava sendo... a juventude.

        -- O que você mais quer? – perguntou.

        -- Dividir a vida com alguém. O mundo anda complicado, tanta doença... Eu queria ter uma ralação fixa. Eu só dela, ela só minha!

        Sorriu:

        -- Quem sabe ter um filho, mais tarde.

        Despediu-se do terapeuta com um abraço. O profissional ligou.

        -- Qual o problema do meu filho? – quis saber o pai.

        -- O problema é nosso, que esquecemos como fomos. E, parafraseando a música, nos tornamos como nossos pais.

        -- Ahn?

        Quando o pai desligou, sorria. Tudo era muito diferente, mas, no fundo, igual!

        Quem disse que os jovens não têm mais sonhos?

Walcyr Carrasco. Veja São Paulo, 8/6/2005.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 158-159.

Entendendo a crônica:

01 – Qual é o principal conflito apresentado na crônica?

      O principal conflito é o choque de gerações entre os pais e o filho, evidenciado pelas diferenças de comportamento, valores e expectativas em relação à vida.

02 – Como os pais reagem às mudanças no comportamento do filho?

      Os pais reagem com preocupação, estranhamento e até desespero, tentando entender e controlar as atitudes do filho, que fogem do padrão que eles consideram "normal".

03 – Quais são os principais símbolos da rebeldia do filho?

      Os principais símbolos são a tatuagem tribal, o piercing na língua da namorada, as roupas rasgadas de grife e a decisão de trabalhar como voluntário em uma ONG.

04 – Qual a importância da figura do terapeuta na crônica?

      O terapeuta representa um ponto de equilíbrio entre as gerações, pois compreende tanto a angústia dos pais quanto a busca por sentido do filho. Ele ajuda os pais a perceberem que, apesar das diferenças, os jovens ainda têm sonhos e valores.

05 – Qual a crítica social presente na crônica?

      A crônica critica a superficialidade e o materialismo da sociedade moderna, representados pela obsessão dos pais em "comprar um carro novo", em contraste com o desejo do filho por "qualidade de vida" e trabalho voluntário.

06 – Como o autor utiliza o humor na crônica?

      O autor utiliza o humor para suavizar a tensão entre as gerações, através de situações cômicas como a reação da mãe ao piercing na língua da namorada e a incompreensão dos pais em relação à camiseta rasgada de grife.

07 – Qual o significado do título "O Selvagem"?

      O título é irônico, pois o filho é visto como "selvagem" pelos pais devido ao seu comportamento rebelde, mas na verdade ele busca valores mais humanos e significativos, em contraste com o "selvagem" mundo materialista dos pais.

08 – Qual a mensagem final da crônica?

      A mensagem final é que, apesar das aparências e das diferenças de comportamento, os jovens ainda têm sonhos e valores, e que é importante que os pais compreendam e respeitem as escolhas dos filhos.

09 – Qual a visão do pai sobre o trabalho voluntário do filho?

      O pai tem uma visão negativa sobre o trabalho voluntário, pois acredita que o filho deveria estar preocupado em ganhar dinheiro e ter sucesso material, como ele próprio.

10 – O que o terapeuta quis dizer com a frase "nos tornamos como nossos pais"?

      O terapeuta quis dizer que, com o tempo, os pais tendem a repetir os mesmos padrões e valores que criticavam em seus próprios pais, esquecendo-se de como eram quando jovens e de seus próprios ideais.

CRÔNICA: UM DIÁLOGO SOBRE O RACISMO NO BRASIL (FRAGMENTO) - MATTHEW SHIRTS - COM GABARITO

 Crônica: Um diálogo sobre o racismo no Brasil – Fragmento

              Matthew Shirts

        [...]

        -- No Brasil, xingamentos racistas em campo constituem crime?

        -- Bem, o racismo é crime e inafiançável. E, e última instância, a lei vale dentro do campo, também. Desábato até teve sorte de ser preso por um delito menor, injúria com agravante de racismo. Vai poder pagar fiança e responder ao processo em liberdade, depois de passar duas noites preso.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6E0WZKxZ1sYP7-zgftisNokQSqfcd6z7C6LARfFdZ9HTmdwcvIe_iaTY6Q3atkhDGxB6xTvt9mycQPwuOzLMujVabkgMATv6MA5evomMuD5TZtikoLW6qO04MCiLIifiB6al2C-72as4FayvwBVQFuhTGgnJ2vNaOmGYpO-5NVNnUz67Vd_Wn0TQTfaw/s320/racismo-nacc83o-tomazsilva-agecc82nciabrasil-1.jpg


        -- Mas o racismo não é comum no Brasil? Quando estive aí, não me parecia; parecia, aliás, o contrário, mas os brasileiros sempre me diziam que existia muito racismo, só que disfarçado.

        -- Depois de 20 anos aqui, não sei responder com certeza. É algo difícil de medir, ainda mais pelo fato de eu não ser negro. Mas sempre achei que o racismo no Brasil é mínimo, incomparável, certamente, com aquilo que existe nos EUA. Tenho a impressão de que brancos e negros e japoneses e mulatos e mamelucos e todos os outros se dão. Casam-se entre si, se frequentam. O apelido do Grafite, inclusive, é por causa da sua cor. Grafite é aquilo que tem dentro do lápis, é a parte que escreve. Grafite é chamado de Grafite porque sua pele é muito escura.

        -- E todo mundo o chama assim?

        -- Todo mundo. Eu não sabia o nome verdadeiro dele até antes de ontem. É carinhoso e comum inventar apelidos relacionados à cor da pele ou à origem aqui. Japonês ou Japa, eu sou chamado de Gringo, frequentemente, português, de Portuga e por aí vai.

        -- E ninguém liga?

        -- Em geral, não. Tenho um amigo de origem japonesa que faz questão de ser chamado de brasileiro, mas creio que é mais uma coisa de orgulho e nacionalismo do que de irritação com a identificação como nipônico. Eu não ligo quando me chamam de Gringo. Acho até engraçado, dependendo do tom. Moreno e Cacau, por exemplo, são nomes corriqueiros, registrados em cartório.

        -- É, seria meio impensável isso nos EUA. Não consigo imaginar nenhum jogador americano apelidado de acordo com a cor da pele, muito menos chamar, digamos, um jogador da NBA de Grafite.

        -- Pois é, a naturalidade com que se lida com isso é uma prova de falta de racismo no Brasil pelo menos entendo assim. Há menos desconforto, as pessoas se sentem à vontade para brincar com a diferença entre as raças.

        -- Então Grafite pode, mas negro, não?

        -- Depende do tom. Grafite é carinhoso. Negro não costuma ser.

        -- É aquele negócio dos esquimós, que tem 22 palavras para neve.

        -- É clichê, mas é um pouco isso mesmo.

        -- Mas me diga uma coisa. Vamos supor que um jogador brasileiro chame outro de argentino sujo de mierda durante uma partida no Brasil. Ele seria preso?

        -- Não sei. Argentino indica nacionalidade, até onde sei, não chega a ser uma raça, embora eles talvez discordem. Agora, se um jogador brasileiro chamasse um argentino de branco sujo, de não sei o quê, poderia ser preso, sim, em tese. Mas duvido um pouco que isso venha acontecer.

        -- Não há um certo exagero nessa história toda? O Brasil não está querendo posar de muito bonzinho e politicamente correto, de repente?

        -- Talvez, um pouco. Mas creio que tem a ver também com os ataques racistas os jogadores brasileiros na Europa. Aquilo é duro de engolir. Os jogadores da seleção representam a nação lá fora. São o nosso orgulho. Vê-los tratados como macacos por um bando de nazistas desqualificados é doloroso. Creio que a prisão de Desábato teve a ver com essa última onda racista nos estádios europeus.

        -- E há solução para isso?

        -- A Fifa precisa punir os clubes com rigor.

        [...]

Matthew Shirts. O Estado de São Paulo, 18/4/2005.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 183-184.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a diferença legal entre injúria racial e racismo no Brasil, segundo a crônica?

      A crônica explica que o racismo é crime inafiançável, enquanto a injúria racial, embora também seja crime, permite fiança. No caso de Desábato, ele foi preso por injúria racial com agravante de racismo, o que o permitiu pagar fiança e responder ao processo em liberdade.

02 – Como o autor, Matthew Shirts, percebe o racismo no Brasil após 20 anos no país?

      Shirts admite que é difícil medir o racismo no Brasil, especialmente por não ser negro. Ele percebe que, embora exista racismo, ele é diferente e menor do que o racismo nos EUA, e que há uma maior integração entre diferentes grupos étnicos.

03 – Qual a visão do autor sobre o uso de apelidos relacionados à cor da pele no Brasil?

      O autor argumenta que, no Brasil, apelidos como "Grafite", "Moreno" e "Cacau" são comuns e muitas vezes usados de forma carinhosa, sem conotação racista. Ele contrasta essa prática com a dos EUA, onde tais apelidos seriam impensáveis.

04 – Como o autor explica a diferença entre chamar alguém de "Grafite" e "negro" no Brasil?

      O autor explica que a diferença está no tom. "Grafite" é usado de forma carinhosa, enquanto "negro" pode ter uma conotação negativa, dependendo do contexto e da intenção.

05 – Qual a opinião do autor sobre a reação do Brasil aos casos de racismo no futebol?

      O autor questiona se o Brasil não estaria exagerando na reação, tentando se mostrar excessivamente "bonzinho" e "politicamente correto". No entanto, ele também reconhece que a reação pode ser uma resposta aos ataques racistas contra jogadores brasileiros na Europa.

06 – Qual a solução proposta pelo autor para combater o racismo no futebol?

      O autor sugere que a FIFA precisa punir os clubes com rigor para combater o racismo nos estádios.

07 – Segundo o autor, qual a diferença entre xingamentos racistas e xingamentos de nacionalidade?

      O autor explica que xingamentos racistas são tipificados como crime, já xingamentos de nacionalidade não necessariamente. Ele usa de exemplo que um jogador que xingasse outro de "Argentino sujo" não seria preso, diferente de um jogador que xingasse outro de "branco sujo".

 

quarta-feira, 2 de abril de 2025

CRÔNICA: OS COMÍCIOS DOS ADOLESCENTES - MOACYR SCLIAR - COM GABARITO

 Crônica: Os comícios dos adolescentes

               Moacyr Scliar

        No Hyde Park, em Londres, existe um lugar chamado Speaker's Corner, onde, segundo a tradição, qualquer pessoa pode fazer discursos, criticando até a família real (o que atualmente não é muito difícil) desde que falando do alto de um estrado ou mesmo de um caixote; isto é, sem pisar solo inglês. Atualmente os oradores que lá vão são muito chatos, e frequentemente falam apenas para impressionar os turistas, mas há uma fase na vida em que o mundo como um todo é para nós um Speaker's Corner, e a nossa família é mais acatável que a família real inglesa: a adolescência é uma fase de comícios.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxpMa6HH8moKDb7tP7Z9szC2ej1LY8bRRZBHqKqV7oePAkItxGcG-Oa0RpFBWmKwcqjlS68xwyajGu2fnGqczIdm860ans5_D2XjvNUUiqw-L2_lvZZ7vAemLLOj01B6UIUbxkVaKqLKFx7_feobg9n1Z6v3xOZAvh6MinoU70hR7Lcy0mXiIagZ76zm4/s320/artworks-O9G0l77rq6dG3zel-1o1j3A-t500x500.jpg


        Adolescentes são oradores prodigiosos. Energia é o que não lhes falta; a intensa quantidade de alimentos que ingerem precisa ser queimada de alguma maneira, e esportes, games ou fantasias não são suficientes. daí os discursos, que se sucedem num ritmo implacável: não há almoço nem jantar em que os pais não ouçam peças de inflamada oratória. Os adolescentes, principalmente os de classe média, consideram-se oprimidos; não fazem parte de nenhuma Frente de Libertação, mesmo porque a vida de guerrilheiro não tem moleza, não dá para acordar ao meio-dia; mas desenvolvem uma invencível tática de guerrilha verbal , baseada em acusações clássicas: os pais são quadrados, os pais não compreendem as necessidades dos filhos, os pais são insensíveis, os pais não compram isto, os pais não compram aquilo ("me compra" é a reivindicação mais ouvida). É um estado de comício permanente, como parlamento algum jamais viu. Aliás, e diferente dos nossos deputados, os adolescentes jamais se ausentam do plenário; mas, como os deputados, sempre acham que estão ganhando pouco.

        De uma coisa, porém, podemos estar certos: não existirá um Partido de Adolescentes enquanto não se formar um Partido dos Pais. E Partido dos Pais jamais se formará. Como a Teresa Batista, de Jorge Amado, que estava cansada de guerra, pais – por definição – são pessoas cansadas de comícios.

Um país chamado infância. São Paulo: Ática, 1999, p. 51-52 (Coleção para gostar de ler, v. 18)

Fonte: Português. Uma proposta para o letramento. Magda Soares – 8º ano – 1ª edição. Impressão revista – São Paulo, 2002. Moderna. p. 9-10.

Entendendo a crônica:

01 – Qual é a metáfora central utilizada por Moacyr Scliar na crônica?

      Moacyr Scliar compara a adolescência a um grande comício, onde os jovens, assim como oradores no Hyde Park, expressam suas opiniões e críticas com fervor.

02 – Por que os adolescentes são descritos como "oradores prodigiosos"?

      Eles possuem grande energia e necessidade de expressar suas opiniões, o que resulta em discursos frequentes e apaixonados, especialmente em relação aos pais.

03 – Quais são as principais "acusações clássicas" dos adolescentes contra seus pais?

      As acusações incluem os pais serem "quadrados", não compreenderem suas necessidades, serem insensíveis e não comprarem o que desejam.

04 – Como a crônica aborda a relação entre pais e filhos durante a adolescência?

      A crônica retrata a adolescência como um período de conflito e negociação, onde os jovens buscam afirmar sua independência e os pais, muitas vezes cansados, tentam manter a ordem.

05 – Por que, segundo o autor, é improvável a formação de um "Partido dos Pais"?

      Moacyr Scliar argumenta que os pais, ao contrário dos adolescentes, estão "cansados de comícios" e preferem evitar confrontos, tornando improvável a organização de um partido.

06 – Qual a relação da crônica com o "Speaker's Corner" citado no início do texto?

      O "Speaker's Corner" serve como uma metáfora para o espaço onde os adolescentes expressam suas opiniões, assim como os oradores em Londres, com a diferença de que, os adolescentes tem seu espaço de fala, dentro de suas casas.

07 – Qual é o tom geral da crônica de Moacyr Scliar?

      O tom é humorístico e irônico, com uma pitada de compreensão pelas dificuldades tanto dos adolescentes quanto dos pais durante essa fase da vida.

 

sexta-feira, 28 de março de 2025

CRÔNICA: OS TATUADORES - (FRAGMENTO) - JOÃO DO RIO - COM GABARITO

 Crônica: Os tatuadores – Fragmento

              João do Rio

        – Quer marcar?

        Era um petiz de doze anos talvez. A roupa em frangalhos, os pés nus, as mãos pouco limpas e um certo ar de dignidade na pergunta. O interlocutor, um rapazola louro, com uma dourada carne de adolescente, sentado a uma porta, indagou:

        – Por quanto?

        – É conforme – continuou o petiz. É inicial ou coroa?

        – É um coração!

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuANIqLYU7t601cMiIMBlJvHoqcOwwZa9FuI3OX9-Zu20DxmoxehJXHIpMjEy_y1mdsdMI2M8GJ-vrJRtlfTHG1dqgdfyyY0SoiNqfrKdkdOPpIOBhy2xj7OD5KkUjonMSYHiOpezUdZr1lkQ-nCJWJ1dNQmCJ8OdIKWprzaJh2T53cw_yvNr-0pYJVpo/s320/CORA%C3%87%C3%83O.jpg


        – Com nome dentro?

        O rapaz hesitou. Depois:

        – Sim, com nome: Maria Josefina.

        – Fica tudo por uns seis mil réis.

        Houve um momento em que se discutiu o preço, e o petiz estava inflexível, quando vindo do quiosque da esquina um outro se acercou.

        – Ó moço, faço eu; não escute embromações!

        – Pagará o que quiser, moço.

        O rapazola sorria. Afinal resignou-se, arregaçou a manga da camisa de meia, pondo em relevo a musculatura do braço. O petiz tirou do bolso três agulhas amarradas, um pé de cálix com fuligem e começou o trabalho. Era na Rua Clapp, perto do cais, no século XX... A tatuagem! Será então verdade a frase de Gautier: "O mais bruto homem sente que o ornamento traça uma linha indelével de separação entre ele e o animal, e quando não pode enfeitar as próprias roupas recama a pele"?

        A palavra tatuagem é relativamente recente. Toda a gente sabe que foi o navegador Loocks que a introduziu no ocidente, e esse escrevia tattou, termo da Polinésia de tatou ou to tahou, desenho. Muitos dizem mesmo que a palavra surgiu no ruído perceptível da agulha da pele: tac, tac. Mas como é ela antiga! O primeiro homem, decerto, ao perder o pelo, descobriu a tatuagem. [...]

        Os tatuadores têm várias maneiras de tatuar: por picadas, incisão, por queimadura subepidérmica. As conhecidas entre nós são incisivas nos negros que trouxeram a tradição da África e, principalmente, as por picadas que se fazem com três agulhas amarradas e embebidas em graxa, tinta, anil ou fuligem, pólvora, acompanhando o desenho prévio. O marcador trabalha como as senhoras bordam.

        Lombroso diz que a religião, a imitação, o ócio, a vontade, o espírito de corpo ou de seita, as paixões nobres, as paixões eróticas e o atavismo são as causas mantenedoras dessa usança. Há uma outra – a sugestão do ambiente. Hoje toda a classe baixa da cidade é tatuada – tatuam-se marinheiros, e em alguns corpos há o romance imageográfico de inversões dramáticas; tatuam-se soldados, vagabundos, criminosos, barregãs, mas também portugueses chegados da aldeia com a pele sem mancha, que influência do meio obriga a incrustar no braço coroas do seu país.

        Andei com o Madruga três longos meses pelos meios mais primitivos, entre os atrasados morais, e nesses atrasados a camada que trabalha braçalmente, os carroceiros, os carregadores, os filhos dos carroceiros deixaram-se tatuar porque era bonito, e são no fundo incapazes de ir parar na cadeia por qualquer crime. A outra, a perdida, a maior, o oceano malandragem e da prostituição é que me proporcionou o ensejo de estudar ao ar livre o que se pode estudar na abafada atmosfera das prisões. A tatuagem tem nesse meio a significação do amor, do desprezo, do amuleto, posse, do preservativo, das ideias patrióticas do indivíduo, da sua qualidade primordial.

        Quase todos os rufiões e os rufistas do Rio têm na mão direita entre o polegar e o indicador, cinco sinais que significam as chagas. Não há nenhum que não acredite derrubar o adversário dando-lhe uma bofetada com a mão assim marcada. O marinheiro Joaquim tem um Senhor crucificado no peito e uma cruz negra nas costas. Mandou fazer esse símbolo por esperteza. Quando sofre castigos, os guardiões sentem-se apavorados e sem coragem de sová-lo.

        – Parece que estão dando em Jesus!

        A sereia dá lábia, a cobra atração, o peixe significa ligeireza na água, a âncora e a estrela o homem do mar, as armas da República ou da Monarquia a sua compreensão política. Pelo número de coroas da Monarquia que eu vi, quase todo esse pessoal é monarquista.

        Os lugares preferidos são as costas, as pernas, as coxas, os braços, as mãos. Nos braços estão em geral os nomes das amantes, frases inteiras, como por exemplo esta frase de um soldado de um regimento de cavalaria: viva o marechal de ferro!... desenhos sensuais, corações. O tronco é guardado para as coisas importantes, de saudade, de luxúria ou de religião. Hei de lembrar sempre o Madruga tatuando um funileiro, desejoso de lhe deixar uma estrela no peito.

        – No peito não! cuspiu o mulato, no peito eu quero Nossa Senhora!

        A sociedade, obedecendo à corrente das modernas ideias criminalistas, olha com desconfiança a tatuagem. O curioso é que – e esses estranhos problemas de psicologia talvez não sejam nunca explicados – o curioso é que os que se deixam tatuar por não terem mais que fazer, em geral, o elemento puro das aldeias portuguesas, o único quase incontaminável da baixa classe do Rio, mostram sem o menor receio os braços, enquanto os criminosos, os assassinos, os que já deixaram a ficha no gabinete de antropometria, fazem o possível para ocultá-los e escondem os desenhos do corpo como um crime. Por quê? Receio de que sejam sinais por onde se faça o seu reconhecimento? Isso com os da polícia talvez. Mas mesmo com pessoas, cujos intentos conhecem, o receio persiste, porque decerto eles consideram aquilo a marca de fogo da sociedade, de cuja tentação foram incapazes de fugir, levados pela inexorável fatalidade.

        Há tatuagens religiosas, de amor, de nomes, de vingança, de desprezo, de profissão, de beleza, de raça, e tatuagens obscenas.

        A vida no seu feroz egoísmo é o que mais nitidamente ideografa a tatuagem.

        As meretrizes e os criminosos nesse meio de becos e de facadas têm indeléveis ideias de perversidade e de amor. Um corpo desses, nu, é um estudo social. As mulheres mandam marcar corações com o nome dos amantes, brigam, desmancham a tatuagem pelo processo do Madruga, e marcam o mesmo nome no pé, no calcanhar.

        – Olha, não venhas com presepadas, meu macacuano. Tenho-te aqui, desgraça! E mostram ao malandro, batendo com o chinelo, o seu nome odiado.

        É a maior das ofensas: nome no calcanhar, roçando a poeira, amassado por todo o peso da mulher...

        [...].

RIO, João do. A alma encantadora das ruas. Org. de Raul Antelo. São Paulo, Companhia das Letras, 1997. p. 100-111.

Fonte: Português. Série novo ensino médio. Volume único. Faraco & Moura – 1ª edição – 4ª impressão. Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 281.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a origem da palavra "tatuagem", segundo o texto?

      A palavra "tatuagem" foi introduzida no ocidente pelo navegador Loocks, derivada do termo polinésio "tatou" ou "to tahou", que significa desenho. Alguns acreditam que a palavra surgiu do ruído da agulha na pele: "tac, tac".

02 – Quais os métodos de tatuagem mencionados no texto?

      O texto menciona três métodos principais: picadas, incisão e queimadura subepidérmica. No Brasil, as técnicas mais comuns são a incisão, trazida pelos africanos, e as picadas, feitas com três agulhas amarradas e embebidas em tinta.

03 – Quais as motivações para as tatuagens, de acordo com Lombroso?

      Lombroso lista várias motivações, incluindo religião, imitação, ócio, vontade, espírito de grupo, paixões nobres, paixões eróticas e atavismo. O texto também menciona a influência do ambiente como um fator relevante.

04 – Quem são os principais usuários de tatuagens na sociedade descrita no texto?

      A classe baixa da cidade, incluindo marinheiros, soldados, vagabundos, criminosos e prostitutas, são os principais usuários. Até mesmo portugueses recém-chegados adotam a prática.

05 – Qual a importância da tatuagem no mundo do crime, segundo o texto?

      No mundo do crime, a tatuagem tem diversos significados, como amor, desprezo, amuleto, posse, proteção, ideias patrióticas e qualidades pessoais.

06 – Como os criminosos escondem suas tatuagens?

      Criminosos escondem suas tatuagens por medo de serem reconhecidos pela polícia ou por vergonha, considerando-as marcas da sociedade que não conseguiram evitar.

07 – Quais os tipos de tatuagens mencionados no texto?

      O texto menciona tatuagens religiosas, de amor, com nomes, de vingança, de desprezo, de profissão, de beleza, de raça e tatuagens obscenas.

08 – Qual o significado da tatuagem para as meretrizes, de acordo com o texto?

      Para as meretrizes, a tatuagem é uma forma de expressar amor e ódio. Elas tatuam o nome dos amantes, apagam a tatuagem em caso de briga e tatuam o nome no calcanhar como forma de ofensa.

09 – Onde os marinheiros costumam fazer tatuagens e quais os seus significados?

      Os marinheiros costumam tatuar âncoras e estrelas, que simbolizam a vida no mar.

10 – Por que alguns criminosos tatuam símbolos religiosos?

      Alguns criminosos tatuam símbolos religiosos, como um Senhor crucificado, para intimidar os guardas e evitar castigos físicos.

 

domingo, 23 de março de 2025

CRÔNICA: UMA CAMPANHA ALEGRE - FRAGMENTO - EÇA DE QUEIRÓS - COM GABARITO

 Crônica: Uma Campanha Alegre – Fragmento

              Eça de Queirós

        [...]

        II – Os quatro partidos políticos

        Há em Portugal quatro partidos: o partido histórico, o regenerador, o reformista, e o constituinte. Há ainda outros, mas anónimos, conhecidos apenas de algumas famílias. Os quatro par. tidos oficiais, com jornal e porta para a rua, vivem num perpétuo antagonismo, irreconciliáveis, latindo ardentemente uns contra os outros de dentro dos seus artigos de fundo. Tem-se tentado uma pacificação, uma união. Impossível! eles só possuem de comum a lama do Chiado que todos pisam e a Arcada que a todos cobre. Quais são as irritadas divergências de princípios que os separam? – Vejamos:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrWP9ilHiPIldOTHMC6hV2G0ypnUbIvZtHTBzxfivVQIzuYw-aniLzaGQvQ0smSo33aLFcYSVTn-bWEtb3fUHM6Ajsr3PDItNRyuyJp8t4yLB_z2CpnO7WuVKFAWGubEkq-le5LZV0QTQw4FRU0rpI_tFIOeZ_yslGJDsS9N5PIwUZlKE9tL7Y6eJac_Y/s320/parlamento-portugal-10-mar-2024-02.png


        O partido regenerador é constitucional, monárquico, intimamente monárquico, e lembra nos seus jornais a necessidade da economia.

        O partido histórico é constitucional, imensamente monárquico, e prova irrefutavelmente a urgência da economia.

        O partido constituinte é constitucional, monárquico, e dá subida atenção à economia.

        O partido reformista é monárquico, é constitucional, e doidinho pela economia!

        Todos quatro são católicos.

        Todos quatro são centralizadores.

        Todos quatro têm o mesmo afeto à ordem.

        Todos quatro querem o progresso, e citam a Bélgica.

        Todos quatro estimam a liberdade.

        Quais são então as desinteligências? – Profundas! Assim, por exemplo, a ideia de liberdade entendem-na de diversos modos.

        O partido histórico diz gravemente que é necessário respeitar as Liberdades Públicas. O partido regenerador nega, nega numa divergência resoluta, provando com abundância de argumentos que o que se deve respeitar são – as Públicas Liberdades.

        A conflagração é manifesta!

        [...].

Eça de Queiroz. Obras de Eça de Queiroz. Porto, Lello, 1966. v. 3. p. 974-975.

Fonte: Lições de texto. Leitura e redação. José Luiz Fiorin / Francisco Platão Savioli. Editora Ática – 4ª edição – 3ª impressão – 2001 – São Paulo. p. 384.

Entendendo a crônica:

01 – Quantos partidos políticos são mencionados na crônica e como são descritos?

      A crônica menciona quatro partidos políticos: o histórico, o regenerador, o reformista e o constituinte. São descritos como estando em "perpétuo antagonismo", com divergências que, segundo o autor, são mais aparentes do que reais.

02 – Qual a principal crítica de Eça de Queirós em relação aos partidos políticos portugueses?

      A principal crítica é a de que, apesar das aparentes divergências, os partidos compartilham os mesmos princípios básicos e a mesma busca pelo poder. Ele satiriza a falta de substância nas discussões políticas da época.

03 – Quais os pontos em comum entre os quatro partidos, segundo a crônica?

      Todos os quatro partidos são descritos como: Constitucionais; Monárquicos; Preocupados com a economia; Católicos; Centralizadores; Defensores da ordem e do progresso; Apreciadores da liberdade.

04 – Como Eça de Queirós ironiza as divergências entre os partidos?

      Eça de Queirós ironiza as divergências ao mostrar que as discussões políticas são muitas vezes sobre detalhes sem importância, como a ordem das palavras em uma frase ("Liberdades Públicas" vs. "Públicas Liberdades").

05 – Qual a importância do Chiado e da Arcada no contexto da crônica?

      O Chiado e a Arcada são mencionados como espaços públicos frequentados por todos os partidos, simbolizando a superficialidade das divisões políticas e a proximidade física entre os oponentes.

06 – Qual o tom geral da crônica em relação à política portuguesa?

      O tom geral é de sátira e ironia, com Eça de Queirós usando o humor para criticar a falta de substância e a hipocrisia na política portuguesa.

07 – Qual a atualidade da crítica presente na crônica de Eça de Queirós?

      A crítica de Eça de Queirós à superficialidade das discussões políticas e à falta de substância nos debates ainda é relevante, pois muitas vezes a política contemporânea também é marcada por disputas vazias e pela busca pelo poder em si.

 

CRÔNICA: TIPOS INESQUECÍVEIS - MAX NUNES - COM GABARITO

 Crônica: TIPOS INESQUECÍVEIS

              Max Nunes

        Era elegante como um manequim de vitrine e ocupado como telefone de bicheiro. Embora mentiroso como bula de remédio, mais enganador que boletim meteorológico e vagaroso como uma obra da prefeitura, era minucioso como um vendedor de imóveis e tão perigoso quanto um pastel de botequim. De inteligência era tão quadrado quanto a frente de um carro inglês e sua ignorância era transparente como fatia de presunto em sanduíches. Sob o ponto de vista moral, era mais sujo que qualquer rua do Rio e mais desmoralizado que o cruzeiro. 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh27eMk1kPsMJ9R9vyJsI1lc9305QBiSNx9oAav4T_HatPVEnQ4INS5FoRAGD-cvU31h4vwVro7ouHcU_DSw7rxhyphenhyphenent43PSxVN5PuS9t_eQIucXdxPhh7demy0vwxvKGA84SknCQaMSEgTtMS53rEyeC2LX6y4qWHwFINvSIeS5K71oxqG4BAvYjqcSXA/s320/DEPUTADO.jpg


Sentindo-se tão inútil quanto um deputado honesto e mais abandonado que o plano para erradicar a seca, resolveu pôr fim à vida de maneira tão rápida quanto o governo aumenta os impostos. Hoje é apenas uma saudade funda como o time do Olaria e seu nome está mais esquecido que promessa de vereador em época eleitoral.

NUNES, Max. “Tipos Inesquecíveis”. In: Uma pulga na camisola: o máximo de Max Nunes. Sel. e org. Ruy Castro. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 123.

Fonte: Português. Série novo ensino médio. Volume único. João Domingues Maia – Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 36.

Entendendo a crônica:

01 – Qual é o tom geral da crônica ao descrever o personagem?

      O tom é satírico e humorístico, utilizando uma série de comparações exageradas e irônicas para pintar um retrato cômico do personagem.

02 – Quais são algumas das características contraditórias do personagem descritas na crônica?

      O personagem é descrito como elegante e ocupado, mas também mentiroso, enganador e vagaroso. Ele é inteligente e ignorante, moralmente sujo e desmoralizado.

03 – Qual é o efeito do uso de comparações exageradas na crônica?

      As comparações exageradas, como comparar a inteligência do personagem à frente de um carro inglês e sua ignorância a uma fatia de presunto em sanduíches, criam um efeito cômico e destacam a natureza absurda do personagem.

04 – Qual é o desfecho da crônica e qual é o seu significado?

      O personagem, sentindo-se inútil e abandonado, decide tirar a própria vida. O desfecho irônico e melancólico destaca a solidão e o vazio existencial do personagem, ao mesmo tempo em que mantém o tom humorístico da crônica.

05 – Qual é a crítica social presente na crônica?

      A crônica critica sutilmente a corrupção e a ineficiência do governo, comparando o personagem a um deputado desonesto e a um plano governamental abandonado.

 

 

domingo, 9 de março de 2025

CRÔNICA: NEM TUDO QUE SE JOGA FORA É LIXO - FERNANDO BONASSI - COM GABARITO

 Crônica: Nem tudo que se joga fora é lixo

              Fernando Bonassi

        Todo dia da nossa vida, a gente pega tudo o que não interessa mais e joga fora, certo? Daí vem o lixeiro e leva. Parece simples, mas... para onde o lixeiro leva o lixo? Há lugares onde eles jogam tudo, que são os lixões. Lá os homens ficam pondo lixo e enterrando, até que junta tanto lixo que nem todas as máquinas do mundo conseguiriam enterrar. Nessa hora, é preciso encontrar novos lugares para fazer novos lixões. A gente nunca pensa nisso, afinal os lixões são todos longe da casa da maioria de nós. Mas fique sabendo que esse é um problema desse tamanho!

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUHo2Sl8mgiQHHSlJu89zhp4BaRV3STkzpSivIjQYgHWVjvU8BAATcwoJ4aLymGoNEiv129RIR6Ya6jaFu9dubrnpcc9mjMYKpWtnHX6ioWUJonZGjSWisuG_GfsHioITy8uMqTyA-6d37Axi-VHvFrRu_qew0nC4EH7hMUSLtEZxcM11d8mOZ7w04zL4/s320/LIXO.jpg


    Algumas coisas que nós jogamos fora são tão venenosas que contaminam a terra dos lixões por muitos anos. O problema é que não existe mágica. Enquanto a gente viver, vai produzir lixo. O jeito menos besta de ajudar nisso é criar a menor quantidade de lixo possível. Como?

        Reciclando. Reciclar não é só juntar vidro e jornal e vender para o garrafeiro, que vai vender para a fábrica de vidro ou papelão.

        Ou então dar para o lixeiro nas cidades que coletam lixo reciclado.

        A gente precisa aprender a gastar bem as coisas antes de jogar fora! Usar sempre o papel dos dois lados, usar vidros e saquinhos pra guardar coisas depois de bem lavadinhos... Se a gente não se preocupar com isso, logo vai haver uma montanha fedida perto da nossa casa! Escute o que eu estou falando!

Fernando Bonassi. Vida da gente; crônicas publicadas no suplemento Folhinha de S. Paulo: Formato Editorial, 1999. p. 21.

Fonte: Português. Vontade de Saber. 6º ano – Rosemeire Alves / Tatiane Brugnerotto – 1ª edição – São Paulo – 2012. FTD. p. 164.

Entendendo a crônica:

01 – Para onde o lixeiro leva o lixo, de acordo com a crônica?

      O lixeiro leva o lixo para os lixões, que são lugares onde o lixo é acumulado e enterrado.

02 – Qual é o problema mencionado na crônica em relação aos lixões?

      O problema é que os lixões ocupam muito espaço e alguns tipos de lixo contaminam a terra por muitos anos, além de que a produção de lixo é contínua e a necessidade de novos lixões também.

03 – O que a crônica sugere como a forma "menos besta" de ajudar a resolver o problema do lixo?

      A crônica sugere criar a menor quantidade de lixo possível, através da reciclagem e do reaproveitamento de materiais.

04 – O que significa reciclar, segundo a crônica?

      Reciclar não é apenas juntar vidro e jornal para vender, mas também aprender a gastar bem as coisas antes de jogá-las fora, reaproveitando materiais sempre que possível.

05 – Quais exemplos de reaproveitamento são dados na crônica?

      A crônica menciona usar papel dos dois lados e reutilizar vidros e saquinhos para guardar coisas, após lavá-los.

06 – Qual é a consequência de não se preocupar com a produção de lixo, de acordo com a crônica?

      A consequência é que logo haverá uma montanha de lixo fedido perto das casas das pessoas.

07 – Qual é a mensagem principal da crônica?

      A mensagem principal é a importância de repensar nossos hábitos de consumo e descarte, buscando alternativas para reduzir a produção de lixo e preservar o meio ambiente.