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domingo, 17 de novembro de 2024

CRÔNICA: A ILUSÃO DO FIM DE SEMANA (FRAGMENTO) - AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA - COM GABARITO

 Crônica: A ilusão do fim de semana – Fragmento

              Affonso Romano de Sant'Anna

        Há algo errado nisto.

        Onde havia florestas construímos cidades de concreto, asfalto e vidro. Aí vivemos. Ou melhor: trabalhamos. Mas como o lugar onde trabalhamos não é onde queremos viver, então no fim de semana rumamos para onde há floresta ou praia, onde, além do verde e do azul, se pode respirar.

        Chegamos. Acabamos de encostar o carro na garagem da casa de campo, fazenda ou do hotel nas montanhas.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgh1wT-s0SsHVQw1QIGntN0ipkxO0siGTBAWjX4I5yW3SMVWJRFrIkDA8PmKoZtPIaTp0lyylIJ9GDe-dupdVRFXI2H3IZrNW3F5kx-i9CZkvbb7GT05pqfkma5xLkfG6SKqrqFKl-vjhZO9nZ7tgzuZVRYzeLq4vLU0npg4OPEB9hNB9o2JmaL47n7lEM/s1600/campo.jpg


        Chegar aqui não foi fácil. Duas, cinco, às vezes dez horas de engarrafamento. O verde e o azul, lá longe ainda, difíceis de alcançar. E a gente ali na estrada entalado num terrível rito de ultrapassagem.

        Mas digamos que a viagem foi normal. O simples fato de nos aproximarmos do verde já muda o clima psicológico dentro do carro. Vai ficando para trás a fuligem da cidade. E ao subir a serra começa uma descontração no diafragma. Aqueles que estavam tensos, indo para a natureza, já tornam suas frases mais macias, já começam a ficar mais amorosos. Algumas brigas de casal vão se diluindo na passagem da cidade para o campo.

        Enfim, chegamos. São desembarcadas as malas, as portas e janelas da casa e corpo se abrem e a clorofila começa a entrar pelos poros. As flores continuaram a elaborar suas cores em nossa ausência. Os pássaros continuaram a emplumar as estações. [...]

        À noite pode-se acender a lareira e ali se ficar prostrado com um copo de uísque ou vinho, uma xícara de chá ou café, olhando, olhando o fogo como um primitivo na caverna de si mesmo.

        Soa uma música ao piano, um concerto de Boccherini como se houvesse músicas fluindo diretamente do cosmos. [...]

        Todavia, essa incursão no paraíso vai acabar. O fim de semana escoou-se. Já começamos a refazer as malas e a ficar ansiosos e de mau humor. Vamos começar a descer a serra para retornar ao campo de concentração urbana. Mal sinalizadas, as estradas vez por outra nos deixam ver um cão morto no asfalto. [...]

        Aproximamo-nos da cidade. A temperatura começa a subir, um calor abafado vai grudando na pele. O mau cheiro irrita as narinas, o ruído agride os tímpanos. O ritmo do pulso é tenso e há um cruzar de buzinas, faróis, anúncios e sempre a possibilidade de uma emergente violência.

        Chegamos ao apartamento ou casa. Descarregamos tudo pelo elevador com ar de vitória e derrota. Na sala, jornais, correspondência acumulada. O dia seguinte já nos espreita na treva. Aí começaremos a fazer novos planos para fugir da cidade. Planejaremos outro feriado e contaremos quanto tempo falta para a aposentadoria.

        Há algo de errado nisto. E persistimos.

Sant”anna. Affonso Romano. Porta de colégio e outras crônicas. São Paulo: Ática, 1997, p. 43-46. (Fragmento).

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 56-57.

Entendendo a crônica:

01 – Qual é a principal crítica social presente na crônica?

      A crônica critica a dicotomia entre a vida urbana e a vida rural, evidenciando a busca incessante do ser humano por um refúgio na natureza como forma de escapar das pressões da cidade. O autor questiona a ideia de que o fim de semana seja capaz de proporcionar um descanso verdadeiro e duradouro.

02 – Como o autor descreve a jornada para o campo?

      A jornada para o campo é descrita como um processo de transformação gradual. Á medida que se afasta da cidade, o autor percebe uma mudança no clima psicológico das pessoas, que se tornam mais relaxadas e menos tensas. No entanto, a beleza da natureza é contraposta à dificuldade em chegar até ela, com engarrafamentos e estresse.

03 – Qual é o significado da frase "O fim de semana escoou-se"?

      Essa frase simboliza a efemeridade do descanso e da paz proporcionados pela natureza. O fim de semana, assim como qualquer outro período de férias, é visto como um momento fugaz que não é capaz de solucionar os problemas da vida urbana.

04 – Como o autor retrata a volta para a cidade?

      A volta para a cidade é descrita como um choque, um retorno à realidade. O autor destaca a poluição, o ruído, a violência e o estresse como elementos característicos da vida urbana. Essa volta para a rotina é acompanhada por sentimentos de frustração e angústia.

05 – Qual é o papel da natureza na crônica?

      A natureza é representada como um refúgio, um lugar de paz e tranquilidade. No entanto, o autor questiona se a natureza é apenas uma ilusão, uma fuga temporária dos problemas da vida moderna. A natureza também serve como um símbolo daquilo que o homem perdeu ao construir as grandes cidades.

06 – Qual é a sensação geral que o autor transmite ao leitor?

      O autor transmite uma sensação de frustração e impotência diante da realidade. Ele questiona o modelo de vida atual e a busca incessante por um refúgio. A crônica evoca um sentimento de melancolia e insatisfação.

07 – Qual é a principal mensagem da crônica?

      A principal mensagem da crônica é a necessidade de refletir sobre o nosso modo de vida e buscar um equilíbrio entre a vida urbana e a vida em contato com a natureza. O autor sugere que a solução para os problemas da sociedade não está apenas em fugir para o campo, mas em transformar a cidade em um lugar mais humano e sustentável.

 

 

 

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

CRÔNICA: A ESTRELA SOBE (FRAGMENTO) - MARQUES REBELO - COM GABARITO

 Crônica: A estrela sobe – Fragmento

             Marques Rebelo

        Vai um dia, uma semana, um mês. Vai o inverno, o verão. As mesmas festas, os mesmos clubes, os mesmos cinemas. Os amiguinhos é que mudam. Não suportava uma semana a mesma cara, a mesma voz, os mesmos beijos. Vem o carnaval, fantasiou-se de camponesa russa – que loucura! Para as noites de casa tem os romances emprestados, as revistas, os jornais dos hóspedes. Tem o rádio do vizinho também. 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3KXnhsu40FiZfUhMT3TdAJzMzdNpzyErchGT_GNnDhp1dizyCdQjjGJJ1LnJwEevno8Sqt3GkjALsQ7oJ-d56T7TToE5Y9YTo17K63MoO9yabSGXT94KIgKFn0u3qb_dFpMuhF49YXgL4tEVIqr7VLIJpidUWQ3fjF-VAsGD_ApznmVN7iUoBMGhoOWA/s320/TEMPO.jpeg

É desgraçado de fanhoso, mas é rádio. Tem Seu Alberto sempre amigo, sempre de violão, animando-a:

        -- Que linda voz!

        -- Pelo senhor eu já estava no rádio, não é, Seu Alberto?

        -- Por que não? Há muitas piores que lá estão.

        Leniza confundia-o:

        -- Está ouvindo, mamãe? Piores.

        Dona Manuela ria, ele ria também:

        -- É uma maneira de dizer.

        -- Eu sei!...

REBELO, Marques. A estrela sobe. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 228.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal característica da personagem principal, Leniza, em relação aos seus amigos?

      Leniza demonstra uma certa insatisfação e impaciência com seus amigos, buscando constantemente novas companhias e experiências.

02 – Quais são as principais fontes de entretenimento de Leniza?

      Leniza encontra diversão em festas, clubes, cinemas, romances, revistas, jornais, rádio e nas conversas com Seu Alberto.

03 – Qual a relação de Leniza com Seu Alberto?

      Leniza e Seu Alberto possuem uma relação de amizade e admiração mútua. Ele a elogia e a incentiva, enquanto ela o procura para conversar e se divertir.

04 – Qual a importância do rádio na vida de Leniza?

      O rádio representa uma forma de escape e de contato com o mundo exterior para Leniza. Ele a diverte e a alimenta seus sonhos de fama.

05 – Qual o significado da frase "Pelo senhor eu já estava no rádio, não é, Seu Alberto?" dita por Leniza?

      Essa frase revela a ambição de Leniza de se tornar famosa e reconhecida, e a busca por aprovação e reconhecimento de seus talentos. Ela sonha em ter sua voz ouvida por um público maior.

 

 

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

CRÔNICA: A REGREÇÃO DA REDASSÃO - CARLOS EDUARDO NOVAES - COM GABARITO

 Crônica: A REGREÇÃO DA REDASSÃO 

             Carlos Eduardo Novaes

        Semana passada recebi um telefonema de uma senhora que me deixou surpreso. Pedia encarecidamente que ensinasse seu filho a escrever.

        -- Mas, minha senhora – desculpei-me –, eu não sou professor.

        -- Eu sei. Por isso mesmo. Os professores não têm conseguido muito.

        -- A culpa não é deles. A falha é do ensino.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEia17G1ryFrFi2nWLQRORAzYYM3QijRm3sZ-iQ6R5KzeuQJTqBYvtoz06PoRfyqeNRmA6Xwvd0_fdYiqCNKtVnBQpJhRbb41-RemE-h4jOBCNz6WBY0cXIFhn7U1LhfQ1vcvVZPi-0fT3x8aShr__WxTgarfDxfuFYGI2QpCGj4wWg8lZI5Lc7DHK8lhv8/s320/REGRE%C3%87AO.jpg


        -- Pode ser, mas gostaria que o senhor ensinasse o menino. O senhor escreve muito bem.

        -- Obrigado – agradeci –, mas não acredite muito nisso. Não coloco vírgulas e nunca sei onde botar os acentos. A senhora precisa ver o trabalho que dou ao revisor.

        -- Não faz mal – insistiu –, o senhor vem e traz um revisor.

        -- Não dá, minha senhora – tornei a me desculpar –, eu não tenho o menor jeito com crianças.

        -- E quem falou em crianças? Meu filho tem 17 anos.

        Comentei o fato com um professor, meu amigo, que me respondeu: “Você não deve se assustar, o estudante brasileiro não sabe escrever”. No dia seguinte, ouvi de outro educador: “O estudante brasileiro não sabe escrever”. Depois li no jornal as declarações de um diretor da faculdade: “O estudante brasileiro escreve muito mal”. Impressionado, saí à procura de outros educadores. Todos me disseram: acredite, o estudante brasileiro não sabe escrever. Passei a observar e notei que já não se escreve mais como antigamente.

        Ninguém mais faz diário, ninguém escreve em portas de banheiros, em muros, em paredes.

        Não tenho visto nem aquelas inscrições, geralmente acompanhadas de um coração, feitas em casca de árvore. Bem, é verdade que não tenho visto nem árvore.

        -- Quer dizer – disse a um amigo enquanto íamos pela rua – que o estudante brasileiro não sabe escrever? Isto é ótimo para mim. Pelo menos diminui a concorrência e me garante emprego por mais dez anos.

        -- Engano seu – disse ele. – A continuar assim, dentro de cinco anos você terá que mudar de profissão.

        -- Por quê? – espantei-me. – Quanto menos gente sabendo escrever, mais chance eu tenho de sobreviver.

        -- E você sabe por que essa geração não sabe escrever?

        -- Sei lá – dei com os ombros –, vai ver que é porque não pega direito no lápis.

        -- Não senhor. Não sabe escrever porque está perdendo o hábito da leitura. E quando o perder completamente, você vai escrever para quem?

        Taí um dado novo que eu não havia considerado. Imediatamente pensei quais as utilidades que teria um jornal no futuro: embrulhar carne? Então vou trabalhar num açougue. Serviria para fazer barquinhos, para fazer fogueira nas arquibancadas do Maracanã, para forrar sapato furado ou para quebrar um galho em banheiro de estrada? Imaginei-me com uns textos na mão, correndo pelas ruas para oferecer às pessoas, assim como quem oferece hoje bilhete de loteria:

        -- Por favor amigo, leia – disse, puxando um cidadão pelo paletó.

        -- Não, obrigado. Não estou interessado. Nos últimos cinco anos a única coisa que leio é a bula de remédio.

        -- E a senhorita não quer ler? – perguntei, acompanhando os passos de uma universitária. – A senhorita vai gostar. É um texto muito curioso.

        O senhor só tem escrito? Então não quero. Por que o senhor não grava o texto? Fica mais fácil ouvi-lo no meu gravador.

        E o senhor, não está interessado nuns textos?

        -- É sobre o quê? Ensina como ganhar dinheiro?

        -- E o senhor, vai? Leva três e paga um.

        -- Deixa eu ver o tamanho – pediu ele. 

        Assustou-se com o tamanho do texto:

        -- O quê? Tudo isso? O senhor está pensando que sou vagabundo? Que tenho tempo para ler tudo isso? Não dá para resumir tudo em cinco linhas?

Carlos Eduardo Novaes.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 177.

Entendendo a crônica:

01 – No diálogo entre a mãe e o autor do texto, percebe-se uma crítica velada a respeito dos professores no Brasil. Identifique a crítica.

      A mãe procurou uma pessoa que não era professor porque os professores de seu filho não conseguiam ensiná-lo a escrever, o que foi justificado pelo autor que não era culpa deles, dos professores, mas por causa da falha do ensino. Ora se o ensino é falho (tem defeitos) e é realizado por professores, então a culpa é daquele que provoca essa falha, isto é, dos professores. O ensino em si não é autónomo, mas é o resultado da ação de alguém.

02 – O texto apresenta a causa porque os estudantes brasileiros não sabem escrever. Qual é?

      Porque não leem.

03 – Se os estudantes brasileiros, segundo o autor, não sabem escrever porque não leem, qual deve ser a estratégia que os professores devem utilizar para reverter essa situação?

      Resposta pessoal do aluno.

04 – Para você. Que outras causas podem contribuir para que o estudante brasileiro tenha dificuldades para escrever?

      Respostas pessoal do aluno.

05 – Por que o autor utilizou a grafia errada nas palavras do título do texto?

      Porque naturalmente ele quis chamar a atenção do leitor para o assunto do seu texto: a dificuldade dos estudantes brasileiros de escrever em português.

06 – O autor se valeu dos fonemas e suas representações gráficas em português, para chamar a atenção do leitor. Algumas palavras, em português, podem ter o seu sentido alterado (ou não) em razão da sua representação gráfica. No caso do título do texto, houve alteração de sentido? Justifique.

      Não. Se forem pronunciadas, essas mesmas palavras terão o mesmo som: regressão/regreção – redação/redassão.

 

 

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

CRÔNICA: BUDAPESTE - DEVIA SER PROIBIDO - (FRAGMENTO) - CHICO BUARQUE - COM GABARITO

 Crônica: Budapeste – Devia ser proibido – Fragmento

              Chico Buarque

        Devia ser proibido debochar de quem se aventura em língua estrangeira. Certa manhã, ao deixar o metrô por engano numa estação azul igual à dela, com um nome semelhante à estação da casa dela, telefonei da rua e disse: aí estou chegando quase. Desconfiei na mesma hora que tinha falado besteira, porque a professora me pediu para repetir a sentença. Aí estou chegando quase... havia provavelmente algum problema com a palavra quase. Só que, em vez de apontar o erro, ela me fez repeti-lo, repeti-lo, repeti-lo, depois caiu numa gargalhada que me levou a bater o fone. Ao me ver à sua porta teve novo acesso, e quanto mais prendia o riso na boca, mais se sacudia de rir com o corpo inteiro.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXkIukiyfwOtDlhHakdX4issV_7wnh_kKAq7vqemtfyR1a9U-2fkdRe57k2n56itFFtEZH_ZikaWjSEPKO5Y3ESoh36OyKU78PTqmd_3KzPPYKQGGmtpPy4bVDiIFu9vnv1i4qRTdPTmAuWa5dwu0NqQLc7ifzICdEOopAhKdtrO117gku1WZj3RzJCKc/s320/budapeste_.jpg


        Disse enfim ter entendido que eu chegaria pouco a pouco, primeiro o nariz, depois uma orelha, depois um joelho, e a piada nem tinha essa graça toda.

        Tanto é verdade que em seguida Kriska ficou meio triste e, sem saber pedir desculpas, roçou com a ponta dos dedos meus lábios trêmulos. Hoje, porém posso dizer que falo o húngaro com perfeição, ou quase. Quando de noite começo a murmurar sozinho, a suspeita de um ligeiríssimo sotaque aqui e ali muito me aflige. Nos ambientes que frequento, onde discorro em voz alta sobre temas nacionais, emprego verbos raros e corrijo pessoas cultas, um súbito acento estranho seria desastroso.

        Para tirar a cisma, só posso recorrer a Kriska, que tampouco é muito confiável; a fim de me segurar ali comendo em sua mão, como talvez deseje, sempre me negará a última migalha. Ainda assim, volta e meia lhe pergunto em segredo: perdi o sotaque? Tinhosa, ela responde: pouco a pouco, primeiro o nariz, depois uma orelha... E morre de rir, depois se arrepende, passa as mãos no meu pescoço e por aí vai.

        [...]

BUARQUE, Chico. Budapeste. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 131.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a situação cômica que o narrador vivencia ao tentar falar húngaro?

      O narrador comete um erro ao tentar dizer "quase" em húngaro, o que gera uma série de reações engraçadas por parte de sua namorada, Kriska. A repetição do erro e a interpretação inusitada dada por Kriska criam um momento de humor.

02 – Qual a importância da linguagem na construção da identidade do narrador em Budapeste?

      A linguagem, especialmente o domínio do húngaro, é fundamental para a construção da identidade do narrador em Budapeste. Ele busca dominar a língua para se integrar à cultura local e se sentir mais próximo de Kriska. A preocupação com o sotaque revela seu desejo de ser aceito e reconhecido como um verdadeiro húngaro.

03 – Como a relação entre o narrador e Kriska é influenciada pela questão da linguagem?

      A questão da linguagem cria um jogo de sedução e poder entre o narrador e Kriska. Ao fazer piada com o erro do narrador, Kriska demonstra seu domínio da língua e, ao mesmo tempo, o coloca em uma posição de inferioridade. No entanto, essa dinâmica também aproxima o casal, criando momentos de cumplicidade e intimidade.

04 – Qual o papel do humor na crônica?

      O humor é um elemento fundamental na crônica, servindo para criar uma atmosfera leve e divertida. A situação cômica do erro de linguagem e as reações de Kriska proporcionam momentos de descontração e aproximam o leitor da história.

05 – Quais as inseguranças do narrador em relação ao domínio do húngaro?

      O narrador demonstra insegurança em relação ao seu domínio do húngaro, temendo ser descoberto como estrangeiro. Ele se preocupa com o sotaque e com a possibilidade de cometer erros em situações formais, o que revela sua necessidade de aprovação e reconhecimento.

06 – Qual o significado da frase "pouco a pouco, primeiro o nariz, depois uma orelha..."?

      Essa frase, repetida por Kriska, tem um duplo sentido. Inicialmente, ela serve para zombar do erro do narrador, sugerindo que ele está aprendendo o húngaro lentamente e de forma gradual. No entanto, ela também pode ser interpretada como uma metáfora para o processo de aproximação entre o narrador e Kriska, que se conhecem e se apaixonam aos poucos.

07 – Como a crônica "Budapeste" aborda o tema da identidade e do pertencimento?

      A crônica aborda o tema da identidade e do pertencimento através da experiência do narrador em um país estrangeiro. A busca por dominar a língua local e se integrar à cultura húngara revela o desejo do narrador de encontrar um lugar onde se sinta pertencente. No entanto, a crônica também sugere que a identidade é algo complexo e fluido, que não se limita à questão da nacionalidade ou da língua.

 

 

CRÔNICA:AMOR E OUTROS MALES - RUBEM BRAGA - COM GABARITO

 Crônica: Amor e outros males

              Rubem Braga

        Uma delicada leitora me escreve: não gostou de uma crônica minha de outro dia, sobre dois amantes que se mataram. Pouca gente ou ninguém gostou dessa crônica; paciência. Mas o que a leitora estranha é que o cronista "qualifique o amor, o principal sentimento da humanidade, de coisa tão incômoda". E diz mais: "Não é possível que o senhor não ame, e que, amando, julgue um sentimento de tal grandeza incômodo".

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsAUf0yCp6cUGpQQF1rR5k63EZUDaTQ3vXH_FZ3rayeTxHsOp8K5cQSz0ggtTd5nzeatKlAM31saW0mfjnjQATGdGVCh3EvBOsiUeHzg7YarX0VtSlRaxxrxl_q1OyIVMq-tShlf6jZxXS2-gKiWPZM62NhVqC1aBkf7kPY_JN92PlSnaAlFbZ-hQVYj4/s1600/AMOR.jpg


        Não, minha senhora, não amo ninguém; o coração está velho e cansado. Mas a lembrança que tenho de meu último amor, anos atrás, foi exatamente isso que me inspirou esse vulgar adjetivo – "incômodo". Na época eu usaria talvez adjetivo mais bonito, pois o amor, ainda que infeliz, era grande; mas é uma das tristes coisas desta vida sentir que um grande amor pode deixar apenas uma lembrança mesquinha; daquele ficou apenas esse adjetivo, que a aborreceu.

        Não sei se vale a pena lhe contar que a minha amada era linda; não, não a descreverei, porque só de revê-la em pensamento alguma coisa dói dentro de mim. Era linda, inteligente, pura e sensível – e não me tinha, nem de longe, amor algum; apenas uma leve amizade, igual a muitas outras e inferior a várias.

        A história acaba aqui; é, como vê, uma história terrivelmente sem graça, e que eu poderia ter contado em uma só frase. Mas o pior é que não foi curta. Durou, doeu e – perdoe, minha delicada leitora – incomodou.

        Eu andava pela rua e sua lembrança era alguma coisa encostada em minha cara, travesseiro no ar; era um terceiro braço que me faltava, e doía um pouco; era uma gravata que me enforcava devagar, suspensa de uma nuvem. A senhora acharia exagerado se eu lhe dissesse que aquele amor era uma cruz que eu carregava o dia inteiro e à qual eu dormia pregado; então serei mais modesto e mais prosaico dizendo que era como um mau jeito no pescoço que de vez em quando doía como bursite. Eu já tive um mês de bursite, minha senhora; dói de se dar guinchos, de se ter vontade de saltar pela janela. Pois que venha outra bursite, mas não volte nunca um amor como aquele. Bursite é uma dor burra, que dói, dói, mesmo, e vai doendo; a dor do amor tem de repente uma doçura, um instante de sonho que mesmo sabendo que não se tem esperança alguma a gente fica sonhando, como um menino bobo que vai andando distraído e de repente dá uma topada numa pedra. E a angústia lenta de quem parece que está morrendo afogado no ar, e o humilde sentimento de ridículo e de impotência, e o desânimo que às vezes invade o corpo e a alma, e a "vontade de chorar e de morrer", de que fala o samba?

        Por favor, minha delicada leitora; se, pelo que escrevo, me tem alguma estima, por favor: me deseje uma boa bursite.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 80.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal crítica da leitora à crônica de Rubem Braga?

      A leitora critica a maneira como o autor qualifica o amor como algo "incômodo", discordando da ideia de que um sentimento tão intenso possa ser visto dessa forma.

02 – Como Rubem Braga justifica sua visão sobre o amor, especialmente no contexto da crônica?

      Rubem Braga justifica sua visão a partir de uma experiência pessoal de amor não correspondido, que lhe causou grande sofrimento. Ele descreve as sensações físicas e emocionais associadas a essa experiência, como uma dor constante e invasiva.

03 – Qual a relação entre a dor física e a dor emocional explorada na crônica?

      O autor estabelece uma analogia entre a dor física (como a bursite) e a dor emocional causada pelo amor não correspondido. Ambas são descritas como intensas, persistentes e capazes de afetar profundamente a vida de uma pessoa.

04 – Qual o efeito da lembrança do amor não correspondido na vida do cronista?

      A lembrança do amor não correspondido é uma presença constante na vida do cronista, causando-lhe sofrimento e angústia. Ele a compara a um fardo que carrega consigo, uma dor que o acompanha em todos os momentos.

05 – Qual a intenção do autor ao utilizar a expressão "boa bursite" no final da crônica?

      Ao desejar uma "boa bursite", o autor expressa seu desejo por uma dor física que seja menos complexa e mais fácil de lidar do que a dor emocional causada pelo amor não correspondido. É uma forma de ironia, onde ele busca alívio em uma dor física, mesmo que seja dolorosa.

06 – Qual a importância da crônica para a compreensão da visão de Rubem Braga sobre o amor e o sofrimento?

      A crônica revela uma visão complexa e ambivalente sobre o amor. Rubem Braga demonstra que o amor pode ser tanto uma fonte de alegria quanto de grande sofrimento, e que a experiência amorosa pode deixar marcas profundas na alma humana.

07 – Como a crônica "Amor e Outros Males" se relaciona com a obra de Rubem Braga como um todo?

      A crônica se encaixa na obra de Rubem Braga por abordar temas universais como o amor, a dor, a saudade e a passagem do tempo. O autor utiliza uma linguagem simples e direta para expressar sentimentos complexos, o que é característico de seu estilo.

 

CRÔNICA: DE REPENTE - EUNICE JACQUES - COM GABARITO

 Crônica: De repente

              Eunice Jacques

        Vejo o menino cor-de-chocolate, pés descalços, perninhas magras, brincando distraído com uma lata de óleo. E, nem sei por quê, de repente me lembro do outro Menino que a gente ocidental acredita ter sido loiro e de olhos azuis. Penso que o Menino estará de aniversário em poucos dias e continuo a pensar nisso, mesmo sabendo que os homens alteraram o calendário e fixaram uma data que coincidisse com festas pagãs que deveriam ser banidas.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhLxTypRwnvA_qutc-Zji4iiLK_79lxstWPaNTTIBM4tNzk3VdI5OApyyf9idqc-kWvOpEVFpTkkQuRzhRWvHLljXazqLtgIVzZ6pOA9NzQp7gsVDlOGG4GWiKh0jA_03p7hRZ3GF5NLo_mmbFyhrP9eiJygZi3xDUxIXC6RPkjEgXRuV2o8oIc5M6GBQ/s250/DESCAL%C3%87O.jpg


        De repente, me invade a sensação de ser Papai Noel e finjo estar vestida de vermelho e ter gorda barriga apertada em casaco de cetim e algodão. E de um saco feito de pedaços de pano, imagino tirar um pacote enfeitado de luzes e sinos para presentear o menino de chocolate. Depois, também tão de repente, volto a pensar no Menino que dos reis recebeu incenso e mirra, aconchegado em seu tosco berço. Diz o Livro que havia uma estrela enorme a indicar o caminho à manjedoura.

        De repente, me escuto a pedir a estrela. Eu, ansiando por doar, me surpreendo pedindo. Quero um céu profundo e luminoso nesta noite, para que nos acalente de paz. E que vaga-lumes imitem nas ruas o brilho dos astros. E que se escutem risos, e que se sinta pelo ar a ternura que o mundo teima em esconder. E que brote de muitos lábios, uma prece intensa pela  vida  e  pelos  seus mistérios, e que os seres, todos eles, de repente, fiquem impregnados de esperanças. Eu vi um menino cor-de-chocolate, que me fez lembrar do Outro, que os homens desenharam louro e com olhos claros como bolitas vivazes. E, de repente, imaginei a minha árvore de verdes grimpas feita de enfeites de chocolate e de doces de azulanil.

        E, então, me ouvi cantando uma canção de ninar aos dois meninos, tão próximos entre a distância de séculos. Mas, em seguida, notei surpresa que a minha voz era menina: de repente, cantávamos nós, as três crianças.

Eunice Jacques. Zero Hora, s.d. (adaptação).

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 164.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal reflexão proposta pela autora na crônica?

      A crônica nos convida a refletir sobre a universalidade da infância, da esperança e da busca por um mundo mais justo e solidário, transcendendo as diferenças culturais e religiosas.

02 – Qual a importância da imagem do menino cor-de-chocolate?

      A imagem do menino cor-de-chocolate serve como ponto de partida para a reflexão da autora sobre a representação da criança na cultura ocidental, contrastando com a imagem tradicional do Menino Jesus. Essa imagem também simboliza a diversidade e a riqueza cultural da humanidade.

03 – Como a autora conecta o Natal cristão com outras tradições?

      A autora estabelece uma conexão entre o Natal cristão e outras tradições ao mencionar as festas pagãs e os reis magos. Essa conexão evidencia a universalidade da celebração do nascimento e da renovação.

04 – Qual o papel da natureza na crônica?

      A natureza, representada pela estrela, pelos vaga-lumes e pela árvore de Natal, simboliza a beleza, a esperança e a renovação. Ela serve como um pano de fundo para as reflexões da autora sobre a condição humana.

05 – Qual o significado da mudança de perspectiva da autora ao longo da crônica?

      A mudança de perspectiva da autora, que se vê ora como Papai Noel, ora como uma criança cantando, revela a natureza fluida da memória e da imaginação. Essa mudança também permite uma aproximação mais íntima com as personagens e com o tema da crônica.

06 – Qual a importância da repetição da palavra "de repente" no texto?

       A repetição da palavra "de repente" enfatiza a natureza espontânea e inesperada dos pensamentos e sentimentos da autora. Ela cria um ritmo e uma atmosfera de surpresa e encantamento.

07 – Qual a mensagem final da crônica?

      A mensagem final da crônica é uma mensagem de esperança e união. A autora convida o leitor a celebrar a vida, a cultivar a solidariedade e a acreditar em um futuro melhor para todos. A imagem das crianças cantando juntas simboliza a união e a fraternidade entre os seres humanos.

 

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

CRÔNICA: COMPLÔ - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: Complô  

              Luís Fernando Veríssimo

        Mal chegou no céu, o gaúcho pediu para falar com Deus. Queria fazer uma queixa. Deus estava em reunião e o gaúcho foi encaminhado a São Pedro. São Pedro estava na sala de comando meteorológico. Era ali, cercado por sua equipe à frente de painéis sofisticadíssimos, que São Pedro dirigia o tempo do mundo.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7xv4MRmnsxUtNkpM99aYZNMNeAs5fiAMcEOT9x02Kopx2z5HiOsyUwmH25yFQiWUbOkiu-n1tOvqupO7YiTCSJBqqR2lYFttORXiR6UPJIfGgK03hHTHENiO-cjSE8LUEYj8Xu84PS4Xrr9SWufDApeD7gwkMKiENjVoG5O9_O1fsQXC3bwZPZBJU7a0/s1600/PEDRO.jpg


        ― O que é? Disse São Pedro, sem olhar para o gaúcho. Prestava atenção numa tela à sua frente.

        ― Estão contra nós ― queixou-se o gaúcho.

        ― Quem?

        ― Todo mundo.

        ― Bobagem.

        ― Verdade. Veja só o que tem nos acontecido.

        E, seguindo São Pedro pela sala enquanto este ajustava controles e checava mostradores, o gaúcho contou tudo que tinha feito ao Rio Grande do Sul nos últimos tempos. Tudo. Concluiu dizendo que aquilo só podia ser uma campanha organizada. Um complô contra o Rio Grande!

        ― Paranoia ― sentenciou São Pedro.

        ― Fazem pouco de nós. Nós...

        Mas São Pedro o interrompeu com um gesto. Apontou para uma tela.

        ― Veja. Por coincidência, vamos programar o tempo no Rio Grande do Sul para as próximas horas.

        E São Pedro passou a dar ordens a seus comandados.

        ― Grandes nuvens negras!

        ― Grandes nuvens negras ― confirmou o encarregado do setor.

        ― Relâmpagos espetaculares.

        ― Relâmpagos espetaculares.

        ― Trovões retumbantes!

        ― Trovões retumbantes.

        O gaúcho entusiasmado chegou a ficar na ponta dos pés, de tão ansioso, esperando a ordem final de São Pedro. ― E atenção ― disse São Pedro.

        Todos esperavam a ordem. São Pedro fechou os olhos, como que buscando inspiração, e ficou assim por uns instantes. Depois decretou:

        ― Chuviscos.

        Houve risadas generalizadas da equipe.

        Quando saía da sala, o gaúcho viu, com o rabo dos olhos, São Pedro tapar a boca para não rir também. O complô era mais amplo do que se imaginava.

VERISSIMO, L. F. Mais comédias para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2020. p. 73 – 74.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 1. Língua Portuguesa – 7º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 08 – 09.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal queixa do gaúcho ao chegar ao céu?

      A principal queixa do gaúcho é que existe um complô contra o Rio Grande do Sul, pois as condições climáticas adversas que têm atingido o estado são, em sua opinião, intencionais e não mera obra do acaso. Ele acredita que há uma força externa agindo contra o estado.

02 – Qual a reação inicial de São Pedro à queixa do gaúcho?

      Inicialmente, São Pedro demonstra descaso e até mesmo certa irritação com a queixa do gaúcho, atribuindo suas alegações à paranoia. Ele atribui as condições climáticas a eventos naturais e aleatórios, negando a existência de qualquer complô.

03 – Como São Pedro tenta convencer o gaúcho de que não há nenhum complô?

      Para demonstrar ao gaúcho que não há nenhum complô, São Pedro o convida a acompanhar o processo de programação do clima para o Rio Grande do Sul. Ele mostra como as decisões sobre as condições climáticas são tomadas de forma aparentemente aleatória e não com a intenção de prejudicar o estado.

04 – Qual a reação do gaúcho ao ver como São Pedro programa o clima?

      Inicialmente, o gaúcho fica entusiasmado com a ideia de que São Pedro poderia finalmente proporcionar um clima favorável ao Rio Grande do Sul. No entanto, ao ouvir a ordem final de São Pedro por "chuviscos", ele se decepciona e percebe que o complô parece ser ainda mais amplo do que imaginava.

05 – Qual a ironia presente na crônica?

      A ironia da crônica reside no fato de que o gaúcho, ao buscar uma explicação para as adversidades que o Rio Grande do Sul enfrenta, atribui tudo a um complô. No entanto, a verdade é ainda mais simples e banal: as condições climáticas são resultado de processos naturais e das decisões, muitas vezes arbitrárias, de São Pedro. A crônica satiriza a tendência humana de buscar explicações complexas para eventos simples e de acreditar em conspirações.

06 – Qual a mensagem principal da crônica?

      A mensagem principal da crônica é que, muitas vezes, atribuímos intenções maldosas e conspirações a eventos que são, na verdade, resultado do acaso ou de decisões arbitrárias. A crônica nos convida a questionar nossas próprias crenças e a não buscar culpados para todos os problemas que enfrentamos.

07 – Qual o papel do humor na crônica?

      O humor desempenha um papel fundamental na crônica, tornando a leitura mais leve e agradável. A situação absurda do gaúcho que acredita em um complô climático e a reação irônica de São Pedro geram um efeito cômico que ajuda a transmitir a mensagem da crônica de forma mais eficaz. O humor também serve para criticar a tendência humana de buscar explicações conspiratórias para os eventos do mundo.

 

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

CRÔNICA: O XIS DO PROBLEMA - COM GABARITO

 Crônica: O xis do problema

        [...] Larissa lembrou de uma coisa que ela achou interessante contar, de quando ela foi a um parque de diversões desses bem famosos e, na hora da fome, escolheu um xis-salada na lanchonete do parque. E aí então...

        Larissa: O xis veio, mas a salada, nem sinal.

        Pedro: Se fosse comigo eu berrava: quero minha salada!

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQM3LNQVjYtoxuF9YCIpPqu9LnzEy27i_RH_hmY_k3SHGIqz16IwIIs1Blmq7xl8CyIbXDWd6mseVMzgsz-ajvcARm9G3JXOGayt0Yjd2-wKci3fLa2zDuMJVYCEp-vRiXOoARB3COhq6gSXJYBgOgE0a54buvedx4K7UOwVgyy18BkCqL1Qjt_4pdg8o/s320/X%20SALADA.jpg


        Clara: Bom, como o Pedro só pensa em comer, acho que ele ia fazer isso mesmo. Mas aí, com toda a razão.

        Larissa: É, mas eu reclamei. Estava escrito lá na placa da lanchonete, tinha uma foto bonita do xis-salada. Disse para a moça que eu queria o meu sanduíche inteiro. Perguntei para ela: cadê a salada?

        Joana: E aí?

        Larissa: Ela disse que tinha acabado, que não podia fazer nada.

        Pedro: E o pior é que a bobinha ficou quieta e comeu assim mesmo. Pagou um sanduíche inteiro e comeu só uma parte.

        Joana: É, a gente vai nessas lanchonetes caras, vê aquelas fotos de sanduíche, hambúrguer e sei lá mais o que, e fica com água na boca. Pede, e na hora que chega, não é tão bonito como na foto. Vem menor, as folhas de verdura meio murchinhas, aquele hambúrguer fino...

        Pedro: A gente come e fica com mais fome ainda...

        Larissa: E na televisão, então? Tem brinquedo que voa, dá soco, faz um monte de coisas, mas lá em casa não voa. Só quando o meu irmãozinho joga para todo lado. E a gente paga o pato.

        Joana: Ah! Isso é verdade mesmo. Apareceu na tevê um tênis com uma porção de cores, azul, vermelho, amarelo, tudo quadriculado. Minha irmã ficou doida para ter um igual. Aí minha mãe foi à loja com ela para ver de perto, mas só porque minha irmã estava precisando. Senão, não adiantava pedir...

        Larissa: ... lá em casa é assim: se precisa mesmo, compra, senão...

        Joana: ... só que o tênis era inteiro de uma cor só. A vendedora disse que o que apareceu na tevê era para dizer que tinha tênis de todas aquelas cores, mas cada um era de uma cor.

        Mário: E aí, ela comprou?

        Joana: Nada! Minha mãe falou pra ela: “se for para comprar de uma cor só, vamos ver outro mais barato. Esse é muito caro, não daria pra comprar nem que tivesse todas as cores e mais um pouco de ouro”.

        Mário: É só enganação.

ESSA TURMA ninguém passa para trás. IDEC. 22 jul. 2017. Disponível em: https://idec.org.br/publicacao/essa-turma-ninguem-passa-para-tras-2006. Acesso em: 4 maio 2021.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 2. Língua Portuguesa – 6º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 59.

Entendendo a crônica:

01 – Qual o tema central da crônica?

      O tema central da crônica é a diferença entre a expectativa criada pela publicidade e a realidade dos produtos, gerando frustração e decepção nos consumidores.

02 – Qual a importância do título "O xis do problema"?

      O título "O xis do problema" sugere que o problema está na falta de correspondência entre o que é anunciado e o que é entregue, ou seja, no "xis" da questão. O título também pode ser uma brincadeira com a palavra "xis", que faz parte do nome do lanche que deu origem à história.

03 – Quais as principais situações descritas na crônica que exemplificam a diferença entre a propaganda e a realidade?

      As principais situações são: a falta da salada no xis-salada, o brinquedo que não funciona como na televisão e o tênis que não tem as mesmas cores do anúncio.

04 – Qual a reação das personagens diante das situações de frustração?

      As personagens reagem de diferentes formas: Larissa reclama com a atendente da lanchonete, Pedro demonstra impaciência e desejo de obter o que foi prometido, Joana e sua irmã se decepcionam com o tênis diferente do anunciado, e Mário faz uma crítica geral à enganação da publicidade.

05 – Qual a crítica implícita da crônica à publicidade?

      A crônica critica a forma como a publicidade manipula as expectativas dos consumidores, utilizando imagens e promessas que muitas vezes não correspondem à realidade dos produtos. A publicidade é vista como uma ferramenta de enganação que leva as pessoas a desejarem produtos que não precisam ou que não atendem às suas expectativas.

06 – Qual o papel da família na história?

      A família desempenha um papel importante na história, pois é dentro do ambiente familiar que as crianças são expostas à publicidade e que os pais tentam mediar os desejos dos filhos com a realidade financeira e as necessidades da família. A mãe de Joana, por exemplo, demonstra uma postura mais realista e tenta proteger a filha da influência da publicidade.

07 – Qual a mensagem principal da crônica para o leitor?

      A mensagem principal da crônica é a necessidade de sermos críticos em relação à publicidade e não nos deixarmos levar pelas promessas e imagens idealizadas que são apresentadas. É importante comparar as informações da publicidade com a realidade dos produtos e ter consciência de que nem tudo o que vemos é como realmente é.