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quinta-feira, 29 de abril de 2021

CAUSO: DOIS CABOCLOS NA ENFERMARIA - ROLANDO BOLDRIN - COM GABARITO

 Causo: Dois caboclos na enfermaria

                  Rolando Boldrin

       Lá na minha terra tinha um caboclo que vivia reclamando de uma dor na perna. E, coincidentemente, um compadre dele tinha também a mesma dor na perna, e também estava sempre reclamando da danada.

        Só que nenhum deles tinha coragem de ir ao médico. Ficavam mancando, reclamando da dor, mas não iam ao hospital de jeito nenhum. Até que um deles teve uma ideia:

        Caboclo 1 – Ê, cumpadi, nóis véve sofrendo muito com a danada dessa dor na perna... Por que é que nóis num vamu junto no dotô? Vamos lá. A gente faz a consulta, e tal, se interna no mesmo quarto... Daí fazemo o tratamento e vemo o que acontece. Se curar, tá bom demais!

        O compadre gostou da ideia, tomou coragem e lá se foram os dois.

        Quando chegaram ao hospital, o médico pediu para o primeiro deitar na cama e começou a examinar. Fez algumas perguntas e foi apertando a perna do caboclo:

        Doutor – Dói aqui?

        Caboclo 1 – Aiiii...

        Doutor – E aqui, como é que está?

        Caboclo 1 – Aii, aii, aii! ... Dói demais!

        E o outro só olhando. Quando chegou a vez dele, o médico foi cutucando, apertando, mas nada de ele gemer. Ficou quieto o tempo todo. Aí o médico foi embora e o compadre estranhou:

        Caboclo 1 - Mas, cumpadi... a minha porta doeu demais da conta com os aperto do hômi... Como é que a sua não doeu nadica de nada?

        Caboclo 2 – E ocê acha que eu vou dá a perna que dói pro hômi apertá?!?!?!


              Rolando Boldrin. Dois caboclos na enfermaria. In: ANDREATO, Elifas. Brasil – Almanaque de cultura popular. 2017.

                                  Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 6º ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição- 2018. p. 197-9.

Entendendo o causo:

01 – O causo é iniciado com a expressão: “Lá na minha terra”. Responda:

a)   Por que narrador inicia o causo dessa forma?

Porque ele está se apresentando como contador de causo e utiliza essa expressão para dar uma ideia de veracidade ao fato, por ter acontecido em sua terra.

b)   O foco narrativo está em primeira ou em terceira pessoa? Explique.

Embora o narrador use o pronome em primeira pessoa minha, o foco narrativo está em terceira pessoa, porque ele não participa dos fatos que conta.

02 – Releia os dois primeiros parágrafos do causo e responda:

a)   Como o narrador apresenta os personagens?

Um caboclo que sentia dor na perna e, coincidentemente, um compadre dele, outro caboclo, com a mesma dor, mas que não procuravam um médico.

b)   Vivendo uma situação em comum, o que os dois personagens decidem?

Ir até o hospital juntos procurar um médico.

c)   Pesquise no dicionário o significado da palavra caboclo.

Indivíduo mestiço, filho de branco com indígena; indivíduo simples do sertão, com pele bronzeada de sol e cabelos lisos; pessoa da área rural; caipira.

d)   Qual(is) desses significados pode(m) relacionar-se ao causo?

Indivíduo simples do sertão; pessoa da área rural; caipira.

03 – Releia o trecho a seguir:

        “Ficavam mancando, reclamando da dor, mas não iam ao hospital de jeito nenhum.”

a)   Que características dos personagens o narrador está enfatizando nesse trecho? Explique.

São enfatizadas a teimosia e a desconfiança dos personagens.

b)   Em sua opinião, o que a atitude dos personagens pode revelar sobre o comportamento de muitas pessoas em relação a procurar um médico?

Resposta pessoal do aluno.

04 – Para prender a atenção e criar expectativa no leitor/ouvinte, o contador relata os mínimos detalhes da ida dos dois personagens ao médico. Responda:

a)   Quais detalhes são descritos da consulta do caboclo 1?

O médico pediu que se deitasse na cama, fez perguntas e apertou a perna dele, que sentiu muita dor, enquanto seu compadre olhava.

b)   Quais detalhes são descritos da consulta do caboclo 2?

O médico foi cutucando, apertando, mas nada de ele gemer.

05 – Releia o diálogo entre o médico e o caboclo 1.

        “Quando chegaram ao hospital, o médico pediu para o primeiro deitar na cama e começou a examinar. Fez algumas perguntas e foi apertando a perna do caboclo:

        Doutor – Dói aqui?

        Caboclo 1 – Aiiii!

        Doutor – E aqui, como é que está?

        Caboclo 1 – Aii, aii, aii! ... Dói demais!”

a)   Embora o texto lido seja um causo, com que outro gênero textual ele se assemelha? Explique as semelhanças.

As semelhanças se apresentam pelo nome dos personagens antecedendo suas falas e pela forma como as frases estão colocadas, como se o personagem estivesse dramatizando.

b)   Que recursos linguísticos são usados para expressar a sensação do personagem que está sob cuidados médicos?

Uso da interjeição “Aiiii” e da pontuação expressiva com os pontos de exclamação.

c)   Que efeito de sentido o autor promove ao usar esses recursos na fala do personagem?

Para tornar a história interessante, o contador usa diferentes recursos expressivos de linguagem, como o recurso do uso de interjeição e do ponto de exclamação.

d)   É possível observar, no trecho destacado acima, que, além do discurso direto, o autor utiliza o discurso indireto. Transcreva os trechos em que isso ocorre.

“[...] o médico pediu para o primeiro deitar na cama [...]”; “[o médico] Fez algumas perguntas.”

06 – Leia o quadro a seguir sobre o gênero textual causo.

        Os causos são histórias de tradição oral, contadas, geralmente, em uma linguagem espontânea, que registra o jeito de falar típico de determinada região ou localidade. Envolvem fatos pitorescos (inusitados, curiosos, surpreendentes), reais, fictícios ou ambos; e podem ou não envolver o narrador.

        Os contadores de causos apresentam vários recursos que costumam prender a atenção de seus ouvintes, como entonação, gestos, suspense, efeitos de surpresa, humor, etc. Características como sotaque e vocabulário da região são naturais a muitos deles.

Responda:

a)   Que fato pitoresco é contado no causo?

Dois “caboclos” que sentiam uma dor danada na perna resolveram ir juntos ao médico. Um deles foi examinado e sentiu uma dor horrível quando o médico apertou a perna dele. O outro não demonstrou nenhuma reação no momento do exame. Ao ser questionado pelo companheiro se a perna não tinha doido quando foi examinada, ele disse que não mostrou a perna que doía, para o médico não apertar.

b)   Segundo o contador, essa história é real ou fictícia? E você, o que acha?

De acordo com o contador, a história é lá da terra dele, então, para ele, é real. Resposta pessoal do aluno.

c)   Que fato provoca efeito de humor no leitor ou ouvinte do causo?

É o fato de o caboclo ter mostrado a perna boa para o médico não apertar a perna que doía.

07 – Nos diálogos, os caboclos e o médico representam de forma diferente os modos de falar dos personagens. Responda:

a)   Qual variedade linguística é usada para representar o modo de falar dos caboclos?

A variedade regional do português brasileiro.

b)   Na fala dos caboclos, que efeito de sentido o uso dessa variedade linguística pode provocar?

O modo de falar possibilita caracterizar melhor os personagens e inferir seus valores humanos e sociais.

c)   Qual é a variedade linguística usada para representar o modo de falar do médico?

O modo de falar do médico emprega a variedade urbana de prestígio, de acordo com a norma-padrão da língua.

d)   Na fala do médico, que efeito de sentido o uso dessa variedade linguística pode provocar?

Resposta pessoal do aluno.

 

 

terça-feira, 15 de maio de 2018

TEXTO: O BRASIL DE "CAUSO" PENSADO - REVISTA KALUNGA - COM GABARITO


Texto: O BRASIL DE “CAUSO” PENSADO


          Um “cantado” e “contado” de 69 anos, dos quais 46 dedicados à genuína cultura brasileira. Rolando Boldrin é daqueles entrevistados com quem se pode ficar horas proseando. Sétimo filho de uma família de 12 irmãos, nasceu em São Joaquim da Barra, próximo de Ribeirão Preto (SP). Depois de viver oito anos na vizinha Guaíra, retornou à terra natal, de onde, no final da adolescência, pegou a estrada para tentar a “vida” na capital. Trabalhou de sapateiro, garçom e frentista; prestou o serviço militar e retornou à sua terra. Voltou a São Paulo, onde fez teste em várias rádios. Durante um ano e meio, trabalhou de graça; chegou a passar fome. Hoje, isso é passado, mas seus “causos” não. No rádio, na televisão (TV Cultura de São Paulo), sem acanhamento e com fôlego, vem tirando o Brasil da gaveta!

                                Revista Kalunga. São Paulo, ano XXXIII, n. 179, dez. 2005.

Entendendo o texto:
01 – Que palavras do texto buscam representar o jeito de falar do caipira?
      “Causo”, “contado”, “cantado”, “proseando”.

02 – Qual você acha que é a intenção do autor em dar ao texto o título “O Brasil de causo pensado”?
      Criar um trocadilho entre as palavras “caso” e “causo”, pois tratará da importância dos causos.

03 – Podemos observar que a maioria dos verbos utilizados no texto está no tempo passado. Por que o narrador optou por usar os verbos nesse tempo? Copie do último parágrafo a frase que confirma a sua resposta.
       Porque todas essas ações ocorreram no passado, fazem parte do passado de Rolando Boldrin. A frase que confirma a resposta é: “Hoje, isso é passado, mas seus causos não”.

04 – O texto relata acontecimentos da vida de Rolando Boldrin. Identifique uma sequência de acontecimentos e destaque a palavra que mais informa sobre cada acontecimento.
       Possibilidade: Depois de viver oito anos na vizinha Guaíra, retornou à terra natal e pegou a estrada para tentar a vida. “Viver”, “retornou” e “pegou”.

05 – O que você compreendeu da expressão “tirar o Brasil da gaveta”?
       Resposta pessoal.