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quarta-feira, 4 de junho de 2025

CONTO: MACÁRIO E NOITE NA TAVERNA - FRAGMENTO - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Conto: Macário e Noite na taverna – Fragmento

            Álvares de Azevedo

        [...]

        E o homem pode esquecer tudo isto. Mas ele não era ainda feliz. As noites passava-as ao redor do palácio dela, via-a às vezes bela e descorada ao luar, no terraço deserto, ou distinguia suas formas na sombra que passava pelas cortinas da janela aberta de seu quarto iluminado. Nos bailes seguia com olhares de inveja aquele corpo que palpitava nas danças. No teatro, entre o arfar das ondas da harmonia, quando o êxtase boiava naquele ambiente balsâmico e luminoso, ele nada via senão ela — e só ela! E as horas de seu leito... suas horas de sono não, que mal as dormia, porque às vezes eram longas de impaciência e insônia, outras vezes eram curtas de sonhos ardentes! O pobre insano teve um dia uma ideia: era negra sim mas era a da ventura. O que fez não sei, nem o sabereis nunca. E depois bastante ébrio para vos sonhar, bastante louco para nos sonhos de fogo de seu delírio imaginar gozar-vos, foi profano assaz para roubar a um templo o cibório d’oiro mais puro. Esse homem... tende compaixão dele, que ele vos amara... ó anjo, Eleonora...

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzRZZGvWrFY_Avve7_VV5t4bkCFqwANPbr9hc9xDEalmJ2WRcu2wH0c9H4_cWzb9sKwN13B-AJclaDsw68z0IfbCinFF60Y_2XbV9ROWs6bvO6wq2Tzmo3kEwouqHuIU_ZeUmSS8_TMzpyuGVLpvKcQ8IxoZxsnZtFmc9y-SxsNYFHYbQsFw2Rc6VEBV0/s320/9788536818009-1.jpg


        — Meu Deus! meu Deus! por que tanta infâmia, tanto lodo sobre mim? Ó minha Madona! por que maldissestes minha vida, por que deixastes cair na minha cabeça uma nódoa tão negra?

        As lágrimas, os soluços abafavam-lhe a voz.

        — Perdoai-me, senhora, aqui me tendes a vossos pés! tende pena de mim, que eu sofri muito, que vos amei, que vos amo muito! Compaixão! que serei vosso escravo, beijarei vossas plantas, ajoelhar-me-ei à noite à vossa porta, ouvirei vosso ressonar, vossas orações, vossos sonhos... e isso me bastará... Serei vosso escravo e vosso cão, deitar-me-ei a vossos pés quando estiverdes acordada, velarei com meu punhal quando a noite cair, e, se algum dia, se algum dia vos me puderdes amar... então... então...

        — Eleonora! Eleonora! Perder noites e noites numa esperança! Alentá-la no peito como uma flor que murcha de frio, alentá-la, revive-la cada dia, para vela desfolhada sobre meu rosto!... Absorver-me em amor e só ter irrisão e escárnio! Dizei antes ao pintor que rasgue sua Madona, ao escultor que despedace a sua estátua de mulher.

        [...]

Claudius Hermann. In: Macário e Noite na taverna. São Paulo: Saraiva, 2010. Col. Clássicos Saraiva.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 288.

Entendendo o conto:

01 – Qual o sentimento predominante do narrador em relação a Eleonora?

      O sentimento predominante do narrador em relação a Eleonora é uma paixão avassaladora e obsessiva, misturada com grande sofrimento, inveja (em relação àqueles que a cercam) e um desejo de possessão. Ele a idealiza e a busca incansavelmente, mesmo que isso o leve à loucura e à infâmia.

02 – Como o narrador descreve a intensidade de seu amor por Eleonora e suas consequências?

      O narrador descreve a intensidade de seu amor de forma que ele consome suas noites ("horas de sono não, que mal as dormia"), o impede de ver qualquer outra coisa em bailes ou no teatro ("ele nada via senão ela — e só ela!"), e o leva a um estado de delírio e desespero. As consequências são a insônia, sonhos ardentes, loucura e a sensação de que sua vida foi amaldiçoada.

03 – Que ato extremo o narrador confessa ter cometido em sua obsessão por Eleonora?

      O narrador confessa ter cometido um ato de sacrilégio, roubando "a um templo o cibório d’oiro mais puro". Esse ato é descrito como uma "ideia negra" que o levaria à "ventura", evidenciando a distorção de sua percepção em sua obsessão.

04 – Qual a reação de Eleonora (ou a percepção do narrador sobre a reação dela) diante das confissões dele?

      A reação de Eleonora (ou a percepção do narrador) é de repulsa e angústia, expressa nas frases "Meu Deus! meu Deus! por que tanta infâmia, tanto lodo sobre mim? Ó minha Madona! por que maldissestes minha vida, por que deixastes cair na minha cabeça uma nódoa tão negra?". Há a sensação de que as ações dele a maculam.

05 – Que tipo de súplica o narrador faz a Eleonora após sua confissão?

      O narrador faz uma súplica de perdão e compaixão, oferecendo-se para ser seu "escravo" e "cão". Ele promete beijar seus pés, ajoelhar-se à sua porta, ouvir seu ressonar e orações, e até mesmo velar com um punhal. Essa súplica demonstra a total submissão e desespero de seu amor.

06 – Qual a comparação que o narrador faz para expressar a futilidade de seu amor e sofrimento?

      O narrador compara sua esperança e seu amor a uma flor que murcha de frio e é desfolhada sobre seu rosto. Ele também afirma que seu amor só lhe trouxe "irrisão e escárnio". Para ele, é preferível que um pintor rasgue sua Madona ou um escultor despedace sua estátua de mulher, tamanha a decepção e o vazio de sua paixão.

07 – Considerando o contexto do Romantismo, que características da escola literária podem ser identificadas neste fragmento?

      Neste fragmento, várias características do Romantismo são evidentes: o subjetivismo extremo (foco nos sentimentos e na visão do eu-lírico), o egocentrismo amoroso (a paixão que consome o indivíduo), a idealização da mulher (Eleonora como um ser quase divino), o sofrimento amoroso e o pessimismo, a fuga da realidade para um mundo de sonhos e delírios, a nocturnidade (as noites de insônia e vigília) e o sacrilégio, que expressa a rebeldia e a intensidade dos sentimentos românticos.

 

 

sábado, 10 de maio de 2025

POEMA: IDEIAS ÍNTIMAS - FRAGMENTO - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Poema: Ideias íntimas – Fragmento

             Álvares de Azevedo

I

Ossian o bardo é triste como a sombra

Que seus cantos povoa. O Lamartine

É monótono e belo como a noite,

Como a lua no mar e o som das ondas...


Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgq0Jkehpwnc9hCEi1tUtsQwyYzsJoMb_Z3pN9qMAcSv8Lr9qr3z3GU2uh_mNIfZZ5uqf4_9680KbOmbhPrDAXdcjKOKeke1q4-kZxuMPTYaWWdfEul5b90SMUEgRNSczl1bNWopKWpQj1jgF-iS9w-ErzcrwVSgRX6VGyNTRGilkYomMJvN8sVBiRIGaI/s1600/images.jpg

[...]

Parece-me que vou perdendo o gosto,

Vou ficando blasé: passeio os dias

Pelo meu corredor, sem companheiro,

Sem ler, nem poetar. Vivo fumando.

Minha casa não tem menores névoas

Que as deste céu d’inverno... Solitário

Passo as noites aqui e os dias longos.

Dei-me agora ao charuto em corpo e alma:

[...]

X

Meu pobre leito! eu amo-te contudo!

Aqui levei sonhando noites belas;

As longas horas olvidei libando

Ardentes gotas de licor dourado,

Esqueci-as no fumo, na leitura

Das páginas lascivas do romance...

 

Meu leito juvenil, da minha vida

És a página d’oiro. Em teu asilo

Eu sonho-me poeta e sou ditoso,

E a mente errante devaneia em mundos

Que esmalta a fantasia! Oh! quantas vezes

 

Do levante no sol entre odaliscas

Momentos não passei que valem vidas!

Quanta música ouvi que me encantava!

Quantas virgens amei! que Margaridas,

Que Elviras saudosas e Clarissas,

Mais trêmulo que Faust, eu não beijava,

Mais feliz que Don Juan e Lovelace

Não apertei ao peito desmaiando!

Ó meus sonhos de amor e mocidade,

Porque ser tão formosos, se devíeis

Me abandonar tão cedo... e eu acordava

Arquejando a beijar meu travesseiro?

XII

Aqui sobre esta mesa junto ao leito

Em caixa negra dois retratos guardo.

Não os profanem indiscretas vistas.

Eu beijo-os cada noite: neste exílio

Venero-os juntos e os prefiro unidos

— Meu pai e minha mãe! Se acaso um dia

Na minha solidão me acharem morto,

Não os abra ninguém. Sobre meu peito

Lancem-os em meu túmulo. Mais doce

Será certo o dormir da noite negra

Tendo no peito essas imagens puras.

XIV

Parece que chorei... Sinto na face

Uma perdida lágrima rolando...

Satã leve a tristeza! Olá, meu pagem,

Derrama no meu copo as gotas últimas

Dessa garrafa negra...

Eia! bebamos!

És o sangue do gênio, o puro néctar

Que as almas do poeta diviniza,

O condão que abre o mundo das magias!

Vem. Fogoso Cognac! É só contigo

Que sinto-me viver. Inda palpito,

Quando os eflúvios dessas gotas áureas

Filtram no sangue meu correndo a vida,

Vibram-me os nervos e as artérias queimam,

Os meus olhos ardentes se escurecem

E no cérebro passam delirosos

Assomos de poesia... Dentre a sombra

Vejo num leito d’ouro a imagem dela

Palpitante, que dorme e que suspira,

Que seus braços me estende...

Eu me esquecia:

Faz-se noite; traz fogo e dois charutos

E na mesa do estudo acende a lâmpada...

In: Álvares de Azevedo, cit., p. 31-38.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 88.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal atmosfera emocional que se depreende dos versos iniciais do poema, comparando Ossian e Lamartine?

      A principal atmosfera emocional é de melancolia e introspecção. Ossian é comparado à sombra triste que povoa seus cantos, enquanto Lamartine evoca uma beleza melancólica, como a noite, a lua no mar e o som das ondas, sugerindo um estado de espírito contemplativo e talvez um tanto sombrio do eu lírico.

02 – Descreva o estado de espírito do eu lírico na segunda estrofe (versos 6-15). Quais são seus hábitos e a que ele compara sua casa?

      O eu lírico demonstra um sentimento de tédio e apatia ("vou ficando blasé", "sem companheiro, sem ler, nem poetar"). Seu hábito principal é fumar. Ele compara sua casa a um céu de inverno, sugerindo um ambiente frio, sombrio e solitário, tanto física quanto emocionalmente.

03 – No fragmento da décima estrofe, qual a relação do eu lírico com seu "pobre leito"? Que tipo de memórias e experiências ele associa a esse lugar?

      Apesar de chamá-lo de "pobre leito", o eu lírico o ama e o considera a "página d’oiro" de sua vida juvenil. Ele associa a ele memórias de sonhos belos, noites de esquecimento através da bebida e da leitura de romances lascivos. É um espaço de fantasia onde ele se sente poeta e feliz, imaginando encontros amorosos idealizados com diversas figuras femininas.

04 – O que representam os dois retratos guardados em uma caixa negra junto ao leito? Qual o pedido do eu lírico em relação a eles caso o encontrem morto?

      Os dois retratos representam o pai e a mãe do eu lírico. Ele os venera e os prefere unidos, beijando-os todas as noites em seu exílio (provavelmente um exílio emocional ou de solidão). Seu pedido é que, caso o encontrem morto, ninguém abra a caixa, mas que os retratos sejam lançados sobre seu peito no túmulo, pois acredita que isso tornará seu sono na noite da morte mais doce.

05 – Na décima quarta estrofe, qual a mudança de humor expressa pelo eu lírico? A que ele atribui o poder de divinizar a alma do poeta e abrir o mundo das magias?

      Há uma mudança de humor da melancolia ("Parece que chorei...") para uma tentativa de euforia e escape. Ele atribui ao "fogoso Cognac" o poder de divinizar a alma do poeta e abrir o mundo das magias, vendo-o como o "sangue do gênio" e o "puro néctar".

06 – Que visão ou delírio o eu lírico experimenta sob o efeito da bebida? Qual a sua reação imediata após essa visão?

      Sob o efeito da bebida, o eu lírico tem a visão delirante de uma mulher em um leito de ouro, palpitante, dormindo e suspirando, estendendo-lhe os braços. Sua reação imediata é de esquecimento do contexto presente ("Eu me esquecia:") e um pedido para que tragam fogo e dois charutos e acendam a lâmpada na mesa de estudo, indicando um retorno à realidade e a seus hábitos.

07 – Identifique elementos característicos da segunda geração do Romantismo (Ultra-Romantismo ou Byronismo) presentes neste fragmento do poema.

      Vários elementos característicos do Ultra-Romantismo estão presentes:

      Melancolia e Pessimismo: O tom geral do poema é de tristeza, tédio e solidão.

      Idealização da Morte: O desejo de ser enterrado com os retratos dos pais sugere uma idealização da morte como um refúgio.

      Fuga da Realidade: A busca por escapismo através da bebida, do fumo e das fantasias amorosas no leito.

      Subjetivismo e Egocentrismo: O foco intenso nos sentimentos e experiências do eu lírico.

      Exaltação do Eu e do Gênio: A crença no poder "divinizador" da bebida para o poeta.

      Amor Idealizado e Sofrido: As memórias dos amores juvenis idealizados, contrastando com a solidão presente.

      Linguagem Exacerbada e Sensual: O uso de expressões como "páginas lascivas", "ardentes gotas de licor dourado" e a descrição da visão da mulher.

      Referências a Figuras Românticas: A menção a Ossian e Lamartine, poetas importantes do Romantismo.

 

SONETO: JÁ DA MORTE O PAIOR ME COBRE O ROSTO - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Soneto: Já da morte o palor me cobre o rosto

             Álvares de Azevedo

Já da morte o palor me cobre o rosto, 
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhd5SIx9ZLm_Pi7JhIeaS8ILCqC7vHpANwwJhgErR1YVavzPZobWj3CHcuKoEtL_64S-BcbNBm1k3PPnnRAFBed0zhHD1sQinElYPIvqE1BZ2VS6Vub8ai56cGW19CglMi7AS4Ych189TkxfIsMYRb_4yuOyjLbL4Uu_oaaVAhTw8MvUcub0T9pRRinZqY/s1600/mqdefault.jpg


Do leito embalde no macio encosto
Tento o sono reter!… já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece…
Eis o estado em que a mágoa me tem posto! 

O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.

Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!

AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 120-121.

Entendendo o soneto:

01 – Qual o estado físico e emocional do eu lírico descrito nos quatro primeiros versos do soneto?

      O eu lírico descreve um estado de agonia e proximidade da morte. Fisicamente, seu rosto está pálido ("palor"), seu alento está enfraquecendo ("desfalece"), e seu coração está em agonia ("surda agonia o coração fenece"). Emocionalmente, ele está consumido por um desgosto mortal ("devora meu ser mortal desgosto").

02 – Nos tercetos iniciais (versos 5-8), qual a dificuldade que o eu lírico enfrenta em seu leito e qual a causa de seu estado?

      No leito, o eu lírico tenta em vão encontrar o sono ("Do leito embalde no macio encosto / Tento o sono reter!…"). Seu corpo está exausto e não consegue repousar ("O corpo exausto que o repouso esquece…"). A causa desse estado é a mágoa ("Eis o estado em que a mágoa me tem posto!").

03 – Qual a influência do "adeus" e da "saudade" no estado do eu lírico, conforme expresso nos tercetos seguintes (versos 9-11)?

      O "adeus" e a "saudade" (provavelmente de um ser amado) têm um impacto profundo no eu lírico, a ponto de fazê-lo desejar a morte ("insano do viver me prive") e ter seus olhos voltados para a escuridão ("E tenha os olhos meus na escuridade").

04 – Qual o pedido desesperado que o eu lírico faz nos três versos finais do soneto?

      O eu lírico faz um pedido desesperado por esperança ("Dá-me a esperança com que o ser mantive!") e implora à amada para que volte a olhá-lo por piedade ("Volve ao amante os olhos por piedade"), lembrando que ele viveu por causa desses olhos e agora, à beira da morte, ainda anseia por eles.

05 – Identifique elementos característicos da segunda geração do Romantismo (Ultra-Romantismo ou Byronismo) presentes neste soneto.

      Vários elementos do Ultra-Romantismo são evidentes no soneto:

      Obscuridade e Morte: A temática da morte iminente e a descrição sombria do estado físico e emocional do eu lírico.

      Pessimismo e Desespero: O sentimento de desgosto mortal e o desejo de abandonar a vida.

      Idealização do Amor Sofrido: A intensidade da saudade e o impacto devastador da ausência da amada.

      Subjetivismo e Egocentrismo: O foco total nos sentimentos e na experiência individual do eu lírico em seu sofrimento.

      Linguagem Exacerbada: O uso de expressões fortes como "palor me cobre o rosto", "surda agonia", "mortal desgosto" e "insano do viver me prive".

      Apelo à Piedade: O pedido desesperado por compaixão da amada, um tema recorrente na poesia ultra-romântica.

 

sexta-feira, 28 de março de 2025

POEMA: LEMBRANÇA DE MORRER - FRAGMENTO - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Poema: Lembrança de Morrer – Fragmento

             Álvares de Azevedo

Quando em meu peito rebentar-se a fibra
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgb-nhaL8hpdcMitAmNG2rOT8P-Pn4yZh0rgi8eJ9W3CZOYUdRQkcnmI1qPn-VXJVYBFGVmyEMu7-6F3vjFTIYBozUvy2q4cpGpyqi7gQ3AC6M5KGJqT23jOVvWVYnijvI2pGjdwCNyydzy6Ht0UXs8PTze2f_2ft6Jawq9fffO6p9gq0m_VRblZ5Fv6tU/s1600/mqdefault.jpg



E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro
— Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minh'alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade — é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

[...]

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
— Foi poeta — sonhou — e amou na vida. —

[...]

AZEVEDO, Álvares de. Lembrança de morrer. In: Antologia dos poetas brasileiros; poesia da fase romântica. Org. Manuel Bandeira; ver. Crítica Aurélio Buarque de Holanda. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1996. p. 175-177.

Fonte: Português. Série novo ensino médio. Volume único. Faraco & Moura – 1ª edição – 4ª impressão. Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 176.

Entendendo o poema:

01 – Qual o pedido do poeta em relação às suas lágrimas e flores após a morte?

      O poeta pede para que não derramem lágrimas por ele e nem desfolhem flores em seu túmulo.

02 – Como o poeta descreve sua partida da vida?

      O poeta compara sua partida da vida ao tédio de um viajante no deserto, ao fim de um longo pesadelo e ao fim de um exílio de sua alma atormentada.

03 – Qual a única saudade que o poeta leva da vida?

      A única saudade que o poeta leva da vida são os tempos embelezados pela ilusão amorosa.

04 – Onde o poeta deseja que seu leito solitário descanse após a morte?

      O poeta deseja que seu leito solitário descanse na floresta dos homens esquecida, à sombra de uma cruz.

05 – Qual a inscrição que o poeta pede para colocarem em sua cruz?

      O poeta pede para que escrevam em sua cruz: "Foi poeta — sonhou — e amou na vida."

 

 

 

domingo, 16 de fevereiro de 2025

ROMANCE: SOLFIERI - CAP. II - (FRAGMENTO) - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Romance: Solfieri cap. II – Fragmento

                  Álvares de Azevedo

        Sabei-o. Roma e a cidade do fanatismo e da perdição: na alcova do sacerdote dorme a gosto a amásia, no leito da vendida se pendura o Crucifixo lívido. É um requintar de gozo blasfemo que mescla o sacrilégio a convulsão do amor, o beijo lascivo a embriaguez da crença!

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWD5z9kCpm3FTDKM_-RsSzLHYyOUDLfZzLBJ4IGcXnyaDH6DSqs49fOzeDjy3sdKIkBZ2VboieGKvRRlkly2PH_VpHe4APmwf632pzQ3iggBg4xHS-qkb20vFwJOVZKp2BlY21PnTzvyhYk5NJlF3N6xmMbTwIeu4jBfPQPA_JUquqFl65OptRs1DBNss/s320/1867-solfieri-e-o-casarao-sombrio-1080.jpg


        Era em Roma. [...]. A noite ia bela. Eu passeava a sós pela ponte de... As luzes se apagaram uma por uma nos palácios, as ruas se fazias ermas, e a lua de sonolenta se escondia no leito de nuvens. Uma sombra de mulher apareceu numa janela solitária e escura. Era uma forma branca. A face daquela mulher era como a de uma estátua pálida a lua. Pelas faces dela, como gotas de uma taça caída, rolavam fios de lágrimas.

        Eu me encostei a aresta de um palácio. A visão desapareceu no escuro da janela... e daí um canto se derramava. Não era só uma voz melodiosa: havia naquele cantar um como choro de frenesi, um como gemer de insânia: aquela voz era sombria como a do vento a noite nos cemitérios cantando a nênia das flores murchas da morte.

        Depois o canto calou-se. A mulher apareceu na porta. Parecia espreitar se havia alguém nas ruas. Não viu ninguém: saiu. Eu segui-a.

        [...]

        Andamos longo tempo pelo labirinto das ruas: enfim ela parou: estávamos num campo.

        Aqui, ali, além eram cruzes que se erguiam de entre o ervaçal. Ela ajoelhou-se. Parecia soluçar: em torno dela passavam as aves da noite.

        Não sei se adormeci: sei apenas que quando amanheceu achei-me a sós no cemitério. Contudo a criatura pálida não fora uma ilusão; as urzes, as cicutas do campo-santo estavam quebradas junto a uma cruz.

        O frio da noite, aquele sono dormido a chuva, causaram-me uma febre. No meu delírio passava e repassava aquela brancura de mulher, gemiam aqueles soluços e todo aquele devaneio se perdia num canto suavíssimo...

        Um ano depois voltei a Roma. Nos beijos das mulheres nada me saciava: no sono da saciedade me vinha aquela visão...

        Uma noite, e após uma orgia, eu deixara dormida no leito dela a condessa Barbara. Dei um último olhar àquela forma nua e adormecida com a febre nas faces e a lascívia nos lábios úmidos, gemendo ainda nos sonhos como na agonia volutuosa do amor. Saí. Não sei se a noite era límpida ou negra; sei apenas que a cabeça me escaldava de embriaguez. As taças tinham ficado vazias na mesa: aos lábios daquela criatura eu bebera até a última gota o vinho do deleite...

        Quando dei acordo de mim estava num lugar escuro: as estrelas passavam seus raios brancos entre as vidraças de um templo. As luzes de quatro círios batiam num caixão entreaberto. Abri-o: era o de uma moça. Aquele branco da mortalha, as grinaldas da morte na fronte dela, naquela tez lívida e embaçada, o vidrento dos olhos mal apertados... Era uma defunta! ... e aqueles traços todos me lembraram uma ideia perdida... Era o anjo do cemitério? Cerrei as portas da igreja, que, ignoro por que, eu achara abertas. Tomei o cadáver nos meus braços para fora do caixão. Pesava como chumbo. [...]. Tomei-a no colo. Preguei-lhe mil beijos nos lábios. Ela era bela assim: rasguei-lhe o sudário, despi-lhe o véu e a capela como o noivo os despe a noiva. [...]. O gozo foi fervoroso — cevei em perdição aquela vigília. A madrugada passava já frouxa nas janelas. Àquele calor de meu peito, a febre de meus lábios, a convulsão de meu amor, a donzela pálida parecia reanimar-se. Súbito abriu os olhos empanados [...]. Não era já a morte; era um desmaio. [...]

        [...] Nunca ouvistes falar da catalepsia? E um pesadelo horrível aquele que gira ao acordado que emparedam num sepulcro; sonho gelado em que se sentem os membros tolhidos, e as faces banhadas de lágrimas alheias, sem poder revelar a vida!

        A moça revivia a pouco e pouco. Ao acordar desmaiara. Embucei-me na capa e tomei-a nos braços coberta com seu sudário como uma criança. Ao aproximar-me da porta topei num corpo, abaixei-me, olhei: era algum coveiro do cemitério da igreja que aí dormia de ébrio, esquecido de fechar a porta...

        [...]

        Caminhei. Estava cansado. Custava a carregar o meu fardo: e eu sentia que a moça ia despertar. Temeroso de que ouvissem-na gritar e acudissem, corri com mais esforço...

        [...] Dois dias e duas noites levou ela de febre assim... Não houve sanar-lhe aquele delírio, nem o rir do frenesi. Morreu depois de duas noites e dois dias de delírio.

        A noite saí; fui ter com um estatuário que trabalhava perfeitamente em cera, e paguei-lhe uma estátua dessa virgem.

        Quando o escultor saiu, levantei os tijolos de mármore do meu quarto, e com as mãos cavei aí um túmulo. Tomei-a então pela última vez nos braços, apertei-a a meu peito muda e fria, beijei-a e cobri-a adormecida do sono eterno com o lençol de seu leito. Fechei-a no seu túmulo e estendi meu leito sobre ele.

        Um ano — noite a noite — dormi sobre as lajes que a cobriam... Um dia o estatuário me trouxe a sua obra. Peguei-lha e paguei o segredo...

        — Não te lembras, Bertram, de uma forma branca de mulher que entreviste pelo véu do meu cortinado? Não te lembras que eu te respondi que era uma virgem que dormia?

        — E quem era essa mulher, Solfieri?

        — Quem era? seu nome?

        — Quem se importa com uma palavra quando sente que o vinho queima assaz os lábios? Quem pergunta o nome da prostituta com quem dormiu e sentiu morrer a seus beijos, quando nem há dele mister por escrever-lho na lousa?

        Solfieri encheu uma taça e Bebeu-a. Ia erguer-se da mesa quando um dos convivas tomou-o pelo braço.

        — Solfieri, não é um conto isso tudo?

        — Pelo inferno que não! Por meu pai que era conde e bandido, por minha mãe que era a bela Messalina das ruas, pela perdição que não! Desde que eu próprio calquei aquela mulher com meus pés na sua cova de terra, eu vo-lo juro! — guardei-lhe como amuleto a capela de defunta. Ei-la!

        Abriu a camisa, e viram-lhe ao pescoço uma grinalda de flores mirradas.

        — Vede-a? Murcha e seca como o crânio dela!

Noite na taverna, São Paulo: Martins, 1965, p. 39.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 227-228.

Entendendo o romance:

01 – Qual é o cenário inicial do fragmento e o que ele revela sobre a atmosfera da narrativa?

      O cenário inicial é Roma, descrita como uma cidade de "fanatismo e perdição", onde a religião e a libertinagem se misturam. Essa descrição estabelece uma atmosfera de mistério, pecado e erotismo, que permeia toda a narrativa.

02 – Quem é o narrador do fragmento e qual é sua relação com os acontecimentos narrados?

      O narrador é Solfieri, um personagem que relata suas próprias experiências em Roma. Ele se apresenta como um homem atormentado por fantasmas do passado, buscando redenção ou expiação através de sua narrativa.

03 – Qual é a primeira visão que Solfieri tem da mulher misteriosa e o que essa visão evoca?

      Solfieri avista uma mulher pálida e solitária em uma janela, com lágrimas escorrendo pelo rosto. Essa visão evoca mistério, melancolia e sofrimento, despertando a curiosidade do narrador.

04 – O que acontece quando Solfieri segue a mulher misteriosa pelas ruas de Roma?

      Solfieri segue a mulher até um cemitério, onde ela se ajoelha e parece soluçar. Ele tem um sono misterioso e, ao acordar, encontra sinais de que a mulher esteve ali, mas ela desapareceu.

05 – Qual é o efeito que o encontro com a mulher misteriosa tem sobre Solfieri?

      O encontro com a mulher misteriosa deixa Solfieri perturbado e febril. Ele é atormentado por lembranças e delírios, nos quais a imagem da mulher se mistura com um canto melancólico.

06 – O que Solfieri faz um ano após seu encontro com a mulher misteriosa?

      Um ano depois, Solfieri retorna a Roma e se entrega a uma vida de libertinagem, buscando em vão saciar o vazio que sente. Ele se envolve com a condessa Barbara, mas nem mesmo os prazeres carnais conseguem apagar a imagem da mulher misteriosa de sua memória.

07 – O que acontece quando Solfieri encontra um cadáver em uma igreja?

      Após uma noite de orgia, Solfieri encontra o cadáver de uma jovem em uma igreja. Ele tem a impressão de reconhecer a mulher misteriosa do cemitério e, em um momento de delírio, remove o corpo do caixão e o leva para seu quarto.

08 – Qual é a reação de Solfieri ao perceber que a mulher não está morta, mas sim em estado de catalepsia?

      Ao perceber que a mulher está viva, Solfieri a leva para seu quarto e cuida dela até que ela se recupere. Ele demonstra um misto de obsessão, amor e arrependimento, revelando a complexidade de seus sentimentos.

09 – O que acontece com a mulher após ser levada para o quarto de Solfieri?

      A mulher tem um período de delírio e febre, durante o qual Solfieri cuida dela. No entanto, ela não resiste e acaba morrendo. Solfieri, então, manda fazer uma estátua de cera da mulher e a coloca em um túmulo que ele mesmo cava em seu quarto.

10 – Qual é a revelação final de Solfieri sobre a mulher misteriosa?

      No final da narrativa, Solfieri revela que a mulher misteriosa era uma virgem que dormia e que ele a amava obsessivamente. Ele guarda a grinalda de flores da mulher como um amuleto, simbolizando seu amor e sua culpa.

 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

POESIA: É ELA! É ELA! - FRAGMENTO - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Poesia: É ELA! É ELA! – Fragmento

             Álvares de Azevedo 

É ela! É ela! — murmurei tremendo,

E o eco ao longe murmurou — é ela!...

Eu a vi... minha fada aérea e pura,

A minha lavadeira na janela!

 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCL-6WHAYbs-k5R67HqXd2tzrSyV5ECISq2mdUCR_ToGtHH1qYeukpdFqwZ-xQXCmkFfqKmFenPPwO3k-cNdwJ-3D9OXWH_fP4juz1Vwqj9NFWgVUzb3AAuptwMEQMpLvKhDHTuMLWJC4rp45Sjd75Jm70d1QXUlzMarqGw48SOIoujvqr4BIwQY9rKZA/s320/e-ela-e-ela.jpg

Dessas águas-furtadas onde eu moro

Eu a vejo estendendo no telhado

Os vestidos de chita, as saias brancas...

Eu a vejo e suspiro enamorado!

 

Esta noite eu ousei mais atrevido

Nas telhas que estalavam nos meus passos

Ir espiar seu venturoso sono,

Vê-la mais bela de Morfeu nos braços!

 

Como dormia! que profundo sono!...

Tinha na mão o ferro do engomado...

Como roncava maviosa e pura!...

Quase caí na rua desmaiado!

[...]

AZEVEDO, Álvares de. In: BUENO, Alexei (Org.). Álvares de Azevedo: obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000, p. 238. (Fragmento).

Fonte: Português – Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 111.

Entendendo a poesia:

01 – De acordo com o texto, qual o significado de Morfeu?

      Deus do sonho.

02 – Qual a principal temática abordada no fragmento?

      A principal temática do fragmento é a idealização amorosa e a contradição entre o ideal e o real. O eu lírico idealiza sua amada, vendo-a como uma "fada aérea e pura", mas ao mesmo tempo, a vê como uma simples "lavadeira". Essa dualidade entre o sublime e o cotidiano é característica do Romantismo.

03 – Como o eu lírico se sente em relação à amada?

      O eu lírico demonstra uma intensa paixão pela amada, idealizando-a e colocando-a num pedestal. Ao mesmo tempo, ele se sente inferior e tímido diante dela, como demonstra a sua atitude de espioná-la. Essa ambivalência de sentimentos é típica do amor romântico.

04 – Qual a importância da imagem da "lavadeira" no poema?

      A imagem da "lavadeira" representa o lado cotidiano e real da amada, contrapondo-se à imagem idealizada da "fada aérea e pura". Essa contradição revela a complexidade dos sentimentos do eu lírico, que se sente atraído tanto pela beleza idealizada quanto pela simplicidade e naturalidade da amada.

05 – Como a linguagem utilizada contribui para a construção do poema?

      A linguagem utilizada é rica em adjetivos e comparações, o que contribui para a criação de um clima de sonho e idealização. A repetição do nome "ela" enfatiza a obsessão do eu lírico pela amada. Além disso, a utilização de versos curtos e rima rica confere musicalidade ao poema, aproximando-o da canção popular.

06 – Como este poema se encaixa no contexto do Romantismo?

      Este poema é um exemplo típico do Romantismo, pois apresenta características como:

      Idealização da mulher: A amada é idealizada como um ser puro e perfeito.

      Individualismo: O poeta expressa seus sentimentos de forma subjetiva e intensa.

      Valorização da natureza: A natureza é utilizada como pano de fundo para expressar os sentimentos do poeta.

      Linguagem rica em metáforas e comparações: A linguagem é utilizada para criar imagens poéticas e sensoriais.

 

 

POESIA: O POETA MORIBUNDO - FRAGMENTO - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Poesia: O poeta moribundo – Fragmento

             Álvares de Azevedo

[...]

Eu morro qual nas mãos da cozinheira
O marreco piando na agonia...
Como o cisne de outrora... que gemendo
Entre os hinos de amor se enternecia.
 
Coração, por que tremes? Vejo a morte,
Ali vem lazarenta e desdentada...
Que noiva!... E devo então dormir com ela?
Se ela ao menos dormisse mascarada!

[...]

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzRcuiMODNCeD7Eb5cOH7l1Rm_pPRgfiIZyBXv2XawhlWLa4ng0OSufIm2sRb_TcQy_v_JrZxoAt6Qg9-WjYP8aeu0GnxP_kfX67XCPM6rB_fO-U_ya2pMgQCBW9mx7jTLPw_c0RUHegbjRG7tmLSFJSTsnGeAkuH-QFBQfxBCJuv6orekwN0mlXBXPGE/s320/LIRA.png


AZEVEDO, Álvares de. In: BUENO, Alexei (Org.). Álvares de Azevedo: obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 236. (Fragmento).

Fonte: Português – Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 109.

Entendendo a poesia:

01 – Qual a principal metáfora utilizada por Álvares de Azevedo para descrever a própria morte e qual o efeito que ela causa no poema?

      A principal metáfora utilizada é a comparação da própria morte à de um marreco piando nas mãos da cozinheira e ao cisne de outrora que morre cantando hinos de amor. Essa comparação cria um efeito de grande dramaticidade e ironia. A imagem do marreco piando transmite a ideia de uma morte ignominiosa e sem dignidade, enquanto a imagem do cisne cantando hinos de amor contrasta com a dor da morte, criando um clima de melancolia e saudosismo. Essa dualidade revela a complexidade dos sentimentos do poeta diante da morte: medo, ironia e resignação.

02 – Que sentimentos o poeta expressa em relação à morte?

      O poeta expressa uma gama de sentimentos complexos em relação à morte. Ele demonstra medo ("Coração, por que tremes?"), ironia ("Que noiva!... E devo então dormir com ela?"), e ao mesmo tempo, uma certa resignação diante do inevitável. A figura da morte é vista como algo temido e repulsivo, mas também como uma libertação do sofrimento. Essa ambivalência de sentimentos é característica do Romantismo, que valoriza a intensidade das emoções e a exacerbação dos sentimentos.

03 – Como a figura da morte é representada no poema?

      A figura da morte é representada de forma dual e contraditória. Por um lado, é personificada como uma noiva "lazarenta e desdentada", ou seja, como uma figura repulsiva e assustadora. Por outro lado, a morte também é vista como um alívio para o sofrimento, como demonstra a imagem do cisne que morre cantando. Essa dualidade reflete a complexidade da relação do homem com a morte, que ao mesmo tempo fascina e aterroriza.

04 – Qual a importância da metáfora do cisne no contexto do poema?

      A metáfora do cisne é fundamental para o poema, pois representa a beleza e a poesia diante da morte. O cisne, símbolo da elegância e da beleza, morre cantando hinos de amor, representando a capacidade do poeta de transformar a dor da morte em arte. Essa imagem contrasta com a imagem do marreco, enfatizando a dualidade da experiência da morte e a busca por significado mesmo diante da finitude.

05 – Como este poema se encaixa no contexto do Romantismo?

      Este poema é um exemplo clássico do Romantismo, pois apresenta características típicas desse movimento literário, como:

      Valorização da emoção: O poeta expressa seus sentimentos de forma intensa e subjetiva, explorando a angústia e o medo da morte.

      Individualismo: O poeta se coloca como centro do universo, explorando suas próprias experiências e sentimentos.

      Idealização da morte: A morte é idealizada como uma fuga do sofrimento e uma busca por um mundo ideal.

      Linguagem rica em metáforas: O uso de metáforas e comparações cria imagens vívidas e poéticas, como a comparação da morte com um marreco e um cisne.