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quarta-feira, 8 de maio de 2024

POEMA: MEU ANJO - ÁLVARES AZEVEDO - COM GABARITO

 Poema: Meu anjo

              Álvares Azevedo

 Meu anjo tem o encanto, a maravilha     

Da espontânea canção dos passarinhos;         

Tem os seios tão alvos, tão macios

Como o pelo sedoso dos arminhos.

 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmcuL2u-fcxCVXJ7mY4ZR5szzmvKU4FXHyoUcsX_wLcO7FfhdHraAhYVWf7OdEGKJR5Bkhx9mBoxvm7MUHQgSPJRR_KKL-175pSaYUW8ZOzu3rjWmD1FqXHwmdfAxdX335ye4nNyupgFbl6-tOYIECdxxcBkkKWNYHCXculnKtRCwuKywTF0LJZEKf6rM/s1600/ANJO.jpg 

         

Triste de noite na janela a vejo

E de seus lábios o gemido escuto.          

É leve a criatura vaporosa     

Como a frouxa fumaça de um charuto.

 

Parece até que sobre a fronte angélica  

Um anjo lhe depôs coroa e nimbo...

Formosa a vejo assim entre meus sonhos

Mais bela no vapor do meu cachimbo

 

Como o vinho espanhol, um beijo dela

Entorna ao sangue a luz do paraíso.

Dá morte n’um desdém, n’um beijo vida,

E celestes desmaios num sorriso!

 

 Mas quis a minha sina que seu peito

 Não batesse por mim nem um minuto,

 E que ela fosse leviana e bela

 Como a leve fumaça de um charuto!

 (Alvares de Azevedo)

Texto e questões extraídas da obra: Cereja, William Roberto. Português contemporâneo: diálogo, reflexão e uso, vol. 2. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. (p. 51-52)

 

Entendendo o texto

01. O poema apresenta em sua composição vários elementos antitéticos. Observe o retrato da figura feminina apresentado na primeira estrofe do poema.

a.   Que elementos, nessa estrofe, sugerem a pureza e a inocência da mulher amada?  

         Os elementos que sugerem a pureza e a inocência da mulher amada na primeira estrofe são "encanto" e "maravilha", comparando-a à canção espontânea dos passarinhos e descrevendo seus seios como "alvos" e "macios", como o pelo sedoso dos arminhos.

      b. Que elementos são indicativos da corporeidade e da sensualidade da mulher amada?  

          Os elementos indicativos da corporeidade e da sensualidade da mulher amada na primeira estrofe são a descrição de seus seios como alvos e macios, sugerindo uma imagem física e sensual.

02. A partir da segunda estrofe, o eu lírico passa a associar a figura feminina a elementos mais prosaicos.

       a. Quais são esses elementos?  

           Os elementos mais prosaicos associados à figura feminina na segunda estrofe são a tristeza noturna, o gemido dos lábios dela que o eu lírico escuta, e a comparação da criatura com a frouxa fumaça de um charuto.

      b. O que esses elementos prosaicos têm em comum?  

          Esses elementos prosaicos têm em comum a natureza efêmera e leveza, como a fumaça de um charuto.

      c. Considerando as respostas dos itens anteriores, levante hipóteses:  O que essas associações feitas pelo eu lírico sugerem quanto à figura feminina?  

           As associações feitas pelo eu lírico sugerem que a figura feminina, apesar de sua aparente pureza e encanto na primeira estrofe, é vista como algo fugaz e insubstancial, como a fumaça do charuto, denotando uma visão mais terrena e menos idealizada.

03. A imagem da mulher se modifica conforme o eu lírico esteja situado no mundo dos sonhos ou no mundo da realidade. Em que consiste essa mudança? Justifique sua resposta com elementos do texto.

A mudança na imagem da mulher ocorre conforme o eu lírico oscila entre o mundo dos sonhos e da realidade. Nos sonhos, ele a vê formosa e bela entre seus sonhos, mais sublime e idealizada. Na realidade, percebe sua leveza e fugacidade, comparando-a à fumaça do charuto, o que sugere uma visão mais terrena e desiludida.

04. No poema:

a. A mulher amada retribui o amor do eu lírico? Justifique sua resposta com trechos do texto.

       Não, a mulher amada não parece retribuir o amor do eu lírico. O trecho "Mas quis a minha sina que seu peito / Não batesse por mim nem um minuto" indica que o eu lírico lamenta que o sentimento não seja recíproco.

b. Que sentimentos o eu lírico expressa diante da postura de sua amada?

     O eu lírico expressa sentimentos de tristeza e desilusão diante da postura da amada, lamentando a falta de reciprocidade e a superficialidade da relação, representada pela comparação dela com a leve fumaça de um charuto.

 

 

 

 

domingo, 19 de junho de 2022

POEMA: MEU SONHO - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Poema: Meu Sonho

             Álvares de Azevedo

EU
Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sanguenta na mão?
Porque brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?

Cavaleiro, quem és? o remorso?
Do corcel te debruças no dorso....
E galopas do vale através...
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?

Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?...
Tu escutas.... Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?

Cavaleiro, quem és? — que mistério,
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?

O FANTASMA
Sou o sonho de tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!...

           AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. Rio de Janeiro / Belo Horizonte: Garnier, 1994. p. 153-4.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 80.

Entendendo o poema:

01 – O poema apresenta certa regularidade na distribuição dos versos. Identifique o critério de organização dos versos no poema.

      O poema é composto por três estrofes de seis versos e uma estrofe de seis versos que aparece “quebrada”, composta por duas estrofes de três versos.

02 – Faça a escansão dos dois primeiros versos do poema. O poema apresenta que métrica?

      Ca-va-lei-ro-das-ar-mas-es-cu-ras, / On-de-vais-pe-las-ter-vas-im-pu-ras. Trata-se de versos com métrica regular: versos com nove sílabas poéticas, também chamados eneassílabos.      

03 – O ritmo é uma das marcas centrais desse poema. Releia o poema em voz alta e identifique a estrutura rítmica que ele apresenta.

      É provável que os alunos precisam de ajuda para perceber a construção rítmica do poema. Nesse caso, leia para a classe a primeira estrofe do poema acentuando com força as sílabas tônicas e lendo com menos intensidade as sílabas átonas. Isso revelará de forma evidente o ritmo do poema: são nove sílabas poéticas absolutamente regulares: a terceira, a sexta e a nona são sempre pronunciadas com mais intensidade. Ca-va-LEI-ro-das-AR-mas-es-CU-ras/on-de-VAIS-pe-las-TER-vas-im-PU-ras/com-a es-PA-da-san-GREN-ta-na-MÃO?/por-que-BRI-lham-teus-O-olhos-ar-DENtes/ e-ge-MI-dos-nos-LÁ-bios-fre-MEN-tes/ver-tem-FO-go-do-TEU-co-ra-ÇÃO?

04 – Faça o levantamento do esquema de rimas do poema.

      O poema apresenta um esquema de rimas regular: AABCCB.

05 – O poema apresenta um diálogo. Quem são os interlocutores desse diálogo?

      O eu lírico, apresentado como “eu” e um “fantasma”, que responde nos três últimos versos.

06 – Em que ambiente ocorre o diálogo? Justifique com elementos do texto.

      Num ambiente campestre, durante a noite. Há um cavaleiro a galope, numa longa montanha, e referências ao ambiente noturno – escuridão, treva, noite.

07 – O Romantismo, em especial o ultrarromantismo, valorizava o mistério, o sinistro. De que modo o ambiente identificado na resposta anterior contribui para a atmosfera de mistério que predomina no poema?

      As imagens noturnas estão associadas, no poema de Álvares de Azevedo, ao mistério, como se comprova pelo uso de termos como: remorso, caveiras, morto, vingança, assombrada, febre, delírio, etc.

08 – Ao lado das imagens que se referem ao mistério e ao sinistro, há palavras / imagens no poema que fazem referência ao sentimento amoroso erótico. Identifique-as no texto.

      O contexto geral do poema, associado ao ritmo, faz com que algumas imagens adquiram conotação erótica: olhos ardentes, gemidos, lábios frementes, fogo do teu coração.

09 – Escrever a paráfrase de um texto consiste em recontar o texto usando suas próprias palavras. Mesmo quando se trata de poemas, as paráfrases são feitas em parágrafos, não em versos. Esse procedimento auxilia bastante na compreensão de textos mais simbólicos, em que pode ser difícil apreender as ideias numa primeira leitura. Com o objetivo de compreender melhor o poema lido, faça a paráfrase dele.

      O sujeito poético parece ser seguido por um cavaleiro que tem nas mãos uma espada suja de sangue. Esse cavaleiro tem olhos ardentes, lábios frementes, ou seja, vibrantes. Ele não consegue identificar quem é o cavaleiro e estabelece hipóteses: seria ele o remorso, galopando no vale, por trevas impuras, pálido como um morto na tumba? Pode ser também alguém que busca vingança, alguém misterioso, que assombra o sujeito poético. O fantasma responde que é o sonho da esperança do sujeito poético, uma febre que nunca descansa, um delírio que irá causar a morte do eu lírico.

10 – Retome o título do poema. Em sua opinião, ele é adequado? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Pode-se dizer que sim, pois o poema apresenta uma atmosfera fantasiosa, uma situação que foge aos padrões da realidade, ou seja, uma atmosfera onírica, isto é, de sonho. Por outro lado, é possível responder que a atmosfera se aproxima à de um pesadelo, já que as sensações angustiosas são as que predominam ao longo do poema.

11 – Um dos temas centrais do ultrarromantismo é a conjugação de amor e morte, numa abordagem muitas vezes erótica. É possível inferir que esse tema é trabalhado no poema? Justifique sua resposta.

      Sim. A partir do diálogo entre o “Eu” e o “Fantasma”, é possível inferir que o temor do cavaleiro vem do medo de amar, de seu erotismo, marcados pela febre, pela angústia. Embora a ideia de morte esteja muito mais presente no poema que a ideia de amor, que vem subentendida, é possível inferir que é o amor e a culpa pela ideia de amar, pela descoberta do sexo, representada pela “impureza”, que fazem com que o “Eu” se sinta delirante, febril.

 

 

POEMA: SE EU MORRESSE AMANHÃ - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Poema: SE EU MORRESSE AMANHà

              Álvares de Azevedo

Se eu morresse amanhã, viria ao menos

Fechar meus olhos minha triste irmã;

Minha mãe de saudade morreria

Se eu morresse amanhã!

 

Quanta glória pressinto em meu futuro!

Que aurora de porvir e que manhã!

Eu perdera chorando essas coroas

Se eu morresse amanhã!

 

Que sol! Que céu azul! Que doce n’alva

Acorda a natureza mais louçã!

Não me batera tanto amor no peito

Se eu morresse amanhã!

 

Mas essa dor da vida que devora

A ânsia de glória, o dolorido afã...

A dor no peito emudecera ao menos

Se eu morresse amanhã!

AZEVEDO, Álvares de. Cadernos Poesia brasileira: Romantismo. São Paulo: Instituto Cultural Itaú, 1995. p. 18.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 79-80.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Louçã: bela, viçosa.

·        Afã: trabalho, empenho.

02 – Identifique como estão distribuídas as rimas no poema.

      Apenas os segundos versos do poema rimam com o quarto, que funciona como um refrão, repetido ao final de cada estrofe.

03 – Qual é a métrica apresenta no poema?

      O poema é composto por versos decassílabos, à exceção do refrão, que é composto por uma redondilha maior: Se eu/mor/res/se a/ma/nhã, vi/ri/a ao /me/nos; Fe/char/meus/olhos/mi/nha/tris/te ir/mã (dez cada); Se/eu/mor/res/se a/ma/nhã (sete).

04 – O título do poema funciona também como refrão. Que efeito de sentido essa repetição, associada ao ritmo, produz no poema?

      O ritmo do refrão é diferente dos demais versos, como se constata no item 3. Aliada a isso, a repetição do título na forma de refrão faz com que a frase “Se eu morresse amanhã” se torne uma ladainha, uma lamentação, mas também uma espécie de desejo, muitas vezes repetido.

05 – O eu lírico apresenta-se dividido: de um lado lamenta perder a vida, de outro, vislumbra algumas vantagens em sua morte. O que ele lamenta perder e o que vê como vantagem?

      O eu lírico lamenta causar sofrimento à mãe e à irmã, perder as glórias futuras e o contato com a natureza; por outro lado, acredita que a morte seria capaz de terminar com a “dor no peito”.

06 – Relacione esse poema às características do ultrarromantismo.

      O poema de Álvares de Azevedo é típico do ultrarromantismo: apresenta o sentimento de spleen, descontentamento com a vida, a temática é mórbida, o tom, melancólico

domingo, 15 de maio de 2022

POEMA: SONHANDO - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Poema: SONHANDO   

             Álvares de Azevedo

Hier, la nuit d’été, que nous prêtait ses voiles, Était digne de toi, tant elle avait d’étoiles!

VICTOR HUGO

Na praia deserta que a lua branqueia,
Que mimo! que rosa! que filha de Deus!
Tão pálida... ao vê-la meu ser devaneia,
Sufoco nos lábios os hálitos meus!
        Não corras na areia,
        Não corras assim!
        Donzela, onde vais?
        Tem pena de mim!

A praia é tão longa! e a onda bravia
As roupas de gaza te molha de escuma...
De noite, aos serenos, a areia é tão fria...
Tão úmido o vento que os ares perfuma!
        És tão doentia...
        Não corras assim...
        Donzela, onde vais?
        Tem pena de mim!

A brisa teus negros cabelos soltou,
O orvalho da face te esfria o suor,
Teus seios palpitam — a brisa os roçou,
Beijou-os, suspira, desmaia de amor!
        Teu pé tropeçou...
        Não corras assim...
        Donzela, onde vais?
        Tem pena de mim!

E o pálido mimo da minha paixão
Num longo soluço tremeu e parou,
Sentou-se na praia, sozinha no chão,
A mão regelada no colo pousou!
        Que tens, coração
        Que tremes assim?
        Cansaste, donzela?
        Tem pena de mim!

Deitou-se na areia que a vaga molhou.
Imóvel e branca na praia dormia;
Mas nem os seus olhos o sono fechou
E nem o seu colo de neve tremia...
        O seio gelou?...
        Não durmas assim!
        O pálida fria,
        Tem pena de mim!

Dormia: — na fronte que níveo suar...
Que mão regelada no lânguido peito...
Não era mais alvo seu leito do mar,
Não era mais frio seu gélido leito!
        Nem um ressonar...
        Não durmas assim...
        O pálida fria,
        Tem pena de mim!

Aqui no meu peito vem antes sonhar
Nos longos suspiros do meu coração:
Eu quero em meus lábios teu seio aquentar,
Teu colo, essas faces, e a gélida mão...
        Não durmas no mar!
        Não durmas assim.
        Estátua sem vida,
        Tem pena de mim!

E a vaga crescia seu corpo banhando,
As cândidas formas movendo de leve!
E eu vi-a suave nas águas boiando
Com soltos cabelos nas roupas de neve!
        Nas vagas sonhando
        Não durmas assim...
        Donzela, onde vais?
        Tem pena de mim!

E a imagem da virgem nas águas do mar
Brilhava tão branca no límpido véu...
Nem mais transparente luzia o luar
No ambiente sem nuvens da noite do céu!
        Nas águas do mar
        Não durmas assim...
        Não morras, donzela,
        Espera por mim!

AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: Klick, 1999.

Fonte: Livro – Viva Português 2° – Ensino médio – Língua portuguesa – 1ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2011. Ed. Ática. p. 89-92.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Devanear: sonhar, fantasiar.

·        Escuma: espuma.

·        Fronte: a face, o rosto de uma pessoa.

·        Gaza: gaze, tecido leve e transparente.

·        Gélido: gelado.

·        Níveo: relativo a neve; que tem cor de neve, muito branco.

·        Regelado: congelado, gelado.

·        Ressonar: respirar durante o sono.

·        Vaga: onda.

02 – Releia a primeira estrofe do poema e faça o que se pede:

a)   Descreva o ambiente onde se encontra o eu lírico. Que palavras ou expressões são usadas para compor esse ambiente?

O eu lírico encontra-se numa praia deserta iluminada apenas pela luz da lua. Palavras: praia deserta, lua branqueia, na areia.

b)   Descreva a pessoa que ele avista. Quais palavras ou expressões são usadas para apresenta-la?

Segundo o eu lírico, é uma jovem muito bonita e pálida. Palavras: mimo, rosa, filha de Deus, tão pálida, donzela.

c)   Descreva a sensação provocada no eu lírico por essa pessoa. Que palavras ou expressões revelam esse sentimento?

A visão da jovem faz o eu lírico fantasiar, sonhar, mas ele sufoca a manifestação de sua emoção; “ao vê-la meu ser devaneia”, “sufoco nos lábios os hálitos meus!”, “tem pena de mim!”.

03 – O que a donzela está fazendo, quando o eu lírico a vê na praia? Entre a primeira a última estrofe, que mudanças acontecem com ela?

      Quando o eu lírico a vê, a donzela está correndo. Nas estrofes seguintes, percebemos que ela continua correndo, aproxima-se do mar, tropeça, ainda corre, para, senta-se no chão, deita-se imóvel e morre, seu corpo boia suavemente.

04 – Qual é a reação do eu lírico diante do que vê acontecer com a donzela: ele intervém ou mantém-se como espectador?

      O eu lírico, ao longo do poema, apenas lamenta a aparente “fuga” da jovem, como espectador.

05 – Do ponto de vista das características da segunda geração da poesia romântica brasileira, o que você entende dos versos: “Não morras, donzela, / espera por mim!”?

      Esses versos podem ser compreendidos como um pedido do eu lírico para que a jovem não morra antes de conhece-lo e de saber de seu amor ou para que aguarde ainda um momento antes de morrer, porque ele pretende juntar-se a ela na morte.

06 – Releia a penúltima estrofe e responda às questões:

a)   Observe a pontuação no interior dos versos. Ela proporciona uma leitura entrecortada ou fluida? Justifique sua resposta.

A ausência de pontuação no interior dos versos torna-os fluidos.

b)   Releia a penúltima estrofe em voz alta, percebendo a presença de vogais nasais (por exemplo, em banhando, cândidas, donzelas, mim, etc.), das consoantes m, n, s e das rimas em –ando e –eve. Depois escreva no caderno qual das alternativas abaixo apresenta algo que é descrito na estrofe e reiterado pela sonoridade e pela fluidez dos versos.

   O desespero do eu lírico diante da mulher amada morta.

·        O furor das ondas que quebravam na praia arrastando sem piedade a donzela ao mar.

·        O movimento suave das ondas envolvendo o corpo morto da donzela.

·        O cansaço da donzela depois de ter corrido por toda a praia.

 

 

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

POEMA: AMOR - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 POEMA: AMOR

                 Álvares de Azevedo

Amemos! quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu'alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!


Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu!
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d'esperança!
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
 
Vem, anjo, minha donzela,
Minh'alma, meu coração...
Que noite! que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento,
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!

Entendendo o poema

1)   Quais são as particularidades de um texto poético? Há ritmo e musicalidade no poema? Quais sentimentos são descritos no poema?

O texto poético é subjetivo e seu significado é aberto. Mesmo quando não há rimas, a linguagem poética é baseada no ritmo. Nesse caso, há a presença forte de rimas bastante conhecidas em palavras que terminam com “ÃO”, “EZ” e “OR”. Essa musicalidade contribui para dar sentido aos sentimentos descritos no poema.

2)   Em que contexto circula esse texto? Normalmente, quem é o leitor desse texto?

O poema costuma aparecer em livros ou mesmo em sites e blogs para o público interessado na linguagem poética.

 

 

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

POEMA: ADEUS, MEUS SONHOS! ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

Poema: Adeus, Meus Sonhos!

             Álvares de Azevedo

Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!

Misérrimo! votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto...
E minh’alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.

Que me resta, meu Deus?!... morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já que não levo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!

                   AZEVEDO, Álvares de. “Adeus, Meus Sonhos”. In: PIRES, Homero (org.). Obras completas de Álvares de Azevedo. 8. ed. São Paulo, Nacional, 1942. p. 285.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 200-1.
Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Votar: Dedicar, devotar.

·        Sina: Destino, sorte.

·        Cândido: Puro, ingênuo.

02 – Que palavras e expressões do poema caracterizam o chamado mal-do-século?
      Pranteio, morro, triste, pobres dias, treva, luto, murchas flores, etc.

03 – Identifique a causa principal do desejo de morrer manifestado pelo eu lírico.
      O fato de ter dedicado os seus duas a um amor sem fruto (não consumado).

04 – Um dos sonhos do eu lírico é o da realização amorosa. Entretanto, ao utilizar a metáfora “estrela”, na última estrofe, revela a impossibilidade de realizar o seu sonho. Explique essa afirmação.
      A estrela é um astro distante, inalcançável.

05 – Identifique os versos que repetem a ideia do vazio interior que deixa o eu lírico sem motivações para a vida.
      “E tanta vida que meu peito enchia
       Morreu na minha triste mocidade!”
      “E tanta vida que meu peito enchia
       Morreu na minha triste mocidade!”



sábado, 25 de maio de 2019

SONETO: PÁLIDA, À LUZ DA LÂMPADA SOMBRIA - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

SONETO: Pálida, à luz da lâmpada sombria

                               Álvares de Azevedo

Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti – as noites eu velei chorando,
Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!
              In: Bárbara Heller et alii, orgs. Álvares de Azevedo.
São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 22.
Entendendo o soneto:
01 – Que indícios podemos perceber neste soneto da segunda fase do Romantismo, denominado mal do século?
      O receio de amar e o sofrimento vivido pela idealização do eu lírico, para com a mulher amada, o fazem recorrer ao desejo da “morte”, como forma de fuga por causa de problemas amorosos.

02 – Da primeira para segunda estrofe do texto, a luz que circunda a pessoa descrita sofre alteração. Que tipo de alteração ocorre?
      No primeiro verso da primeira estrofe, a mulher amada é descrita pela sua palidez, que se opõe à sombria lâmpada que a ilumina; já na segunda estrofe são descritas a calma e a harmonia da amada, que é embalada pela maré das águas.

03 – O poema é escrito a partir de:
a)   Uma crítica feita à mulher amada pelo eu lírico.
b)   Uma descrição da mulher amada feita pelo eu lírico.
c)   Um sonho que o eu lírico teve com a mulher amada.
d)   Um conflito que o eu lírico deseja resolver com a mulher amada.

04 – “Como a lua por noite embalsamada,” temos nesse verso:
a)   Uma metáfora.
b)   Uma hipérbole.
c)   Uma comparação.
d)   Uma metonímia.

05 – O elemento tempo no poema:
a)   É o mesmo do início ao fim.
b)   Retrata o anoitecer.
c)   Sofre uma gradação.
d)   Foi irrelevante.

06 – Apresentam uma antítese os versos:
a)   “Como a lua por noite embalsamada, / Entre as nuvens do amor ela dormia!”
b)   “Era um anjo entre nuvens d’alvorada / Que em sonhos se banhava e se esquecia!”
c)    “Negros olhos as pálpebras abrindo... / Formas nuas no leito resvalando...”
d)   “Por ti – as noites eu velei chorando, / Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!”

07 – A atmosfera retratada nos quartetos é vaga e imaterial. O elemento que reforça a ideia de imaterialidade da mulher amada nessas estrofes é:
a)   A lâmpada.
b)   As nuvens.
c)   A lua.
d)   As flores.

08 – A última estrofe revela que a mulher observada:
a)   Despertou do seu sono.
b)   Exibe-se para o eu lírico.
c)   Retira-se do ambiente.
d)   Encabula-se diante do eu lírico.

09 – Por ser um sonho, a mulher desse soneto possui imagens cambiantes, isto é, sua descrição muda ao longo do texto. Identifique algumas dessas imagens nas duas primeiras estrofes.
·        A mulher é pálida e está reclinada sobre um leito de flores;
·        Ela dorme entre as nuvens do amor;
·        É a virgem do mar, embalada pela maré;
·        É um anjo entre nuvens d’alvorada.

10 – Há alguma contradição entre essas imagens que caracterizam a mulher?
      Sim. Na segunda estrofe ela se caracteriza pela pureza, é uma virgem e um anjo; na terceira estrofe ela se caracteriza pela beleza física, pela nudez e pela sensualidade.

11 – Leia a seguinte afirmação de Mário de Andrade:
        “Álvares de Azevedo sofreu como nenhum, apavoradamente, o prestígio romântico da mulher. Pra ele a mulher é uma criação absolutamente sublime, divina e ...inconsútil. O amor sexual lhe repugnava, e pelas obras que deixou e difícil dizer que tivesse experiência dele”.

(“Amor e Medo” in Aspectos da literatura brasileira, 6ª. ed. São Paulo, Martins, 1978).

Qual verso do soneto exprime a timidez do sujeito lírico diante da mulher, mesmo sendo ela apenas um sonho?
      “Não te rias de mim, meu anjo lindo!”

12 – O soneto exprime o sofrimento, a frustação amorosa e a atitude escapista ultra romântica. Explique essa atitude, comentando os dois últimos versos do soneto.
      O penúltimo verso exprime o sofrimento das noites de vigília. E o último aponta a fuga pelo sonho e até pela morte como saída para a frustação amorosa.