MÚSICA(ATIVIDADES): INÚTIL
ULTRAJE A RIGOR
A gente
não sabemos escolher presidente
A gente
não sabemos tomar conta da gente
A gente
não sabemos nem escovar os dentes
Tem
gringo pensando que nóis é indigente
Inútil
A gente
somos inútil
A gente
faz carro e não sabe guiar
A gente
faz trilho e não tem trem pra botar
A gente
faz filho e não consegue criar
A gente
pede grana e não consegue pagar
Inútil
A gente
somos inútil
A gente
faz música e não consegue gravar
A gente
escreve livro e não consegue publicar
A gente
escreve peça e não consegue encenar
A gente
joga bola e não consegue ganhar
Inútil
A gente
somos inútil [...]
MOREIRA, Roger. Inútil. Intérprete: Ultraje a Rigor. Nós vamos invadir sua
praia.
1) Que
ideia essa letra transmite a você?
Resposta pessoal.
Professor, espera-se que o aluno compreenda o sentido crítico e irônico do
texto ao se referir aos problemas que geram dia após dia frustações, sensação
de impotência e de inutilidade, embora se esteja sempre em movimento, fazendo
alguma coisa.
2) A
quem se refere a canção?
Aos
brasileiros comuns.
3) Identifique,
na letra da canção, uma oração que foge ao registro convencional da língua e
comente sobre sua construção.
A oração é:
“A gente somos inútil”. Professor, a concordância “a gente somos”, embora possa
ser considerada gramaticalmente correta, é condenada por alguns especialistas.
O predicativo “inútil” concorda com o sujeito mas não com o verbo, o que
enfatiza que se trata de uma construção que foge às convenções da língua.
4) Em
sua opinião, qual pode ter sido o propósito do compositor ao utilizar esse tipo
de concordância verbal na letra?
Chamar a
atenção do interlocutor para a realidade daqueles que costumam usar esse tipo
de concordância, ou seja, pessoas que tem menos acesso à educação ou às normas
prestigiadas da língua. Pode também representar deboche em relação a quem usa
as normas de prestigio, geralmente os que têm mais reconhecimento social.
5) A letra da música está correta, gramaticalmente falando? Explique.
NÃO. Ela está escrita na linguagem do dia-a-dia, sem nenhuma
formalidade, visando a linguagem como comunicação e se o emissor passa a
mensagem e o receptor a compreende, significa que houve comunicação.
6) Quais seriam as razões para a
letra possuir tais “alterações”?
Na época que foi feita a música estava
acontecendo a Ditadura Militar, que você não tinha liberdade de expressão,
censura. Os erros de português foram propositais de concordância, queria que a
ditadura entendesse que “nós” somos tão “burros” que não sabemos nem escovar os
dentes, por exemplo. Precisamos de alguém cuidando da gente. Mas não era isso,
eles queriam mostrar que eles não deixam a gente escolher presidente.
7) Quais problemas enfrentados no
Brasil são denunciados na letra? Explique.
Não sabemos votar /
Não fazemos planejamento familiar / financeiro
Não conhecemos nossos direitos.
O povo brasileiro mostra-se omisso e desinteressado pelo que acontece no
país, não se vê o povo lutando contra reformas que apenas privilegiam
poderosos, tanto políticos quanto empresários.
8) Escreva alguns desvios da norma
culta, cometidos pelos falantes da língua portuguesa, no dia-a-dia.
Nóis. A gente não sabemos, A gente somos, prá.
9) Reflita sobre os versos: “A gente
não sabemos / Escolher presidente / A gente não sabemos / Tomar conta da
gente”. Qual a relação desses versos com a Ditadura Militar? Para ajudar a
responder, leia este texto sobre as “Diretas Já”.
A Ditadura Militar no Brasil durou 21 anos (1964-1985) onde uma junta
militar escolhia o novo presidente. Somente no ano 1989, ou seja, 29 anos
depois da escolha do último presidente (3//10/60), é que podemos eleger
novamente um presidente, graças ao movimento (Diretas Já) de cunho popular que
teve como objetivo a retomada das eleições diretas ao cargo de presidente da
República começou em maio / 1983 e foi até 1984, tendo mobilizado milhões de
pessoas em comícios e passeatas.