Mito: A árvore da vitalidade – o guaraná – Fragmento
Leonardo Boff
Aguiri, menino da tribo Sateré-Maué da
área cultural do Tapajós-Madeira, tinha os olhos mais lindos e espertos que
jamais se vira naquela região. Os pais agradeciam frequentemente ao Grande
Espírito por essa graça singular. Muitas mães pediam ao céu que fizesse nascer
também para eles um filho com olhos tão bonitos.
Aguiri se alimentava de frutas que
colhia da floresta em cestos que sua mãe lhe fazia e gostava de partilhá-las
com outros coleguinhas de jogos.
Certa feita, o menino dos olhos lindos
distraiu-se da colheita das frutas, indo de árvore em árvore até afastar-se
muito da maloca. Aí percebeu, com tristeza, que o sol já transmontara e que se
fazia escuro na floresta.
Não achando mais o caminho de volta,
decidiu então dormir no oco de uma grande árvore, protegido dos animais
noturnos e perigosos. Mas não estava a salvo do temido Jurupari, um espírito
malfazejo que vaga pela floresta, ameaçando quem anda sozinho. Ele também se
alimenta de frutas. Mas tem o corpo peludo de morcego e o bico de adunco de
coruja.
Jurupari sentiu a presença de Aguiri e,
sem maiores dificuldades, o localizou no oco da grande árvore. Atacou-o de
pronto, sem permitir que pudesse esboçar qualquer defesa.
De noite, os pais e todas as mães que
admiravam Aguiri ficaram cheios de preocupação. Ninguém conseguiu pregar o
olho. Mal o sol raiou, os homens saíram pela mata afora em busca do menino.
Depois de muito vaguear daqui e ali, finalmente encontraram seu cesto, cheio de
frutas que ficaram intocadas. E no oco da grande árvore deram com o corpo já
frio de Aguiri. Havia sido morto pelo terrível Jurupari, o espírito malfazejo.
Foi um lamento só. Especialmente
choravam os curumins, seus colegas de folguedos. Eis que se ouviu no céu um
grande trovão e um raio iluminou o corpo de Aguiri. Todos gritaram:
-- É Tupã que se apiedou de nós. Ele
vai nos devolver o menino.
Nisso se ouviu uma voz do céu, que
dizia suavemente:
-- Tomem os olhos de Aguiri e os
plantem ao pé de uma árvore seca. Reguem esses olhos com as lágrimas dos
coleguinhas. Elas farão germinar uma planta que trará felicidade a todos. Quem
provar o seu suco sentirá as energias renovadas e se encherá de entusiasmo para
manter-se desperto e poder trabalhar incansavelmente. E assim foi feito.
Tempos depois, nasceu uma árvore, cujos
frutos tinham a forma dos olhos bonitos e espertos de Aguiri. Fazendo do fruto
um suco delicioso, todos da tribo sentiram grande energia e excitação.
Deram, então, àquela fruta, em
homenagem ao curumim Aguiri, o nome de Guaraná, que em língua tupi significa “a
árvore da vida e da vitalidade”. [...]
LEONARDO BOFF. O
casamento entre o céu e a terra: contos dos povos indígenas do Brasil. Rio de
Janeiro: Mar de ideias, 2014. (Fragmento).
Fonte: Coleção Desafio
Língua Portuguesa – 5° ano – Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Roberta
Vaiano – 1ª edição – São Paulo, 2021 – Moderna – p. MP137-140.
Entendendo o mito:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Área cultural: área com a influência dos costumes de um povo.
·
Grande Espírito: deus indígenas; pelo contexto, Tupã.
·
Transmontara: pusera-se, desparecera (Sol, Lua, astro).
·
Malfazejo: que faz o mal.
·
Adunco: com formato curvo, como um gancho.
·
Lamento: choro.
·
Curumins: meninos.
·
Folguedos: brincadeiras.
·
Se apiedou: teve pena.
02 – Que características do
texto que você leu permitem considera-lo um mito?
A história é
imaginária ou fantasiosa e serve para explicar a origem do guaraná.
03 – No primeiro parágrafo, é
apontada uma característica de Aguiri muito importante para a compreensão do
mito. Copie o trecho que mostra essa característica.
“[...] tinha os
olhos mais lindos e espertos que jamais se vira naquela região”.
a) Em outro momento, essa característica é usada para substituir o nome de Aguiri. Copie a expressão empregada com essa finalidade.
O menino dos olhos lindos.
b) Qual é a importância dessa característica para a compreensão da história?
São os olhos tão bonitos de Aguiri que Tupã pede que sejam plantados
para dar vida ao guaraná e homenagear o menino.
04 – Na história, Tupã é a
representação do Bem. Que expressão do texto faz referência a essa divindade?
Grande Espírito.
a) Em que outro momento se faz referência a Tupã no texto sem que se diga o seu nome?
Quando é dito que se ouviu um grande trovão, que um raio iluminou o
corpo do menino e que todos ouviram uma voz do céu.
b) Quem representa o Mal na história?
Jurupari, um espírito malfazejo que vaga pela floresta, ameaçando
quem anda sozinho.
c) Tupã não trouxe Aguiri de volta, mas transformou a vida dos que sofriam pela morte do menino. Como ele fez isso?
Através dos olhos de Aguiri; Tupã deu às pessoas uma árvore que
produzia frutos que lembravam aqueles queridos olhos, trazendo felicidade a
todos.
d) Muitas histórias ilustram a luta do Bem contra o Mal. Nesse caso, é possível dizer quem ganhou a luta? Por quê?
Resposta pessoal do aluno.
05 – Copie do terceiro
parágrafo a frase que indica a quem Jurupari ameaçava.
“[...] Mas não
estava a salvo do temido Jurupari, um espírito malfazejo que vaga pela
floresta, ameaçando quem anda sozinho.”
a) Copie desse parágrafo um trecho que mostra o motivo de Aguiri ter se afastado da maloca.
“[...] distraiu-se na colheita das frutas, indo de árvore em árvore
[...]”.
b) Sublinhe a palavra que caracteriza a atitude do menino.
Cautela
– imprudência – teimosia – maldade.
06 – Aguiri era um menino
generoso e bastante querido pelos outros curumins. Copie uma frase do texto que
comprove essa afirmação.
“Aquiri se alimentava de frutas que
colhia da floresta [...] e gostava de partilhá-las com outros coleguinhas de
jogos” / “Especialmente choravam os curumins, seus colegas de folguedos”.
07 – Você acha que os fatos
narrados no mito aconteceram de verdade? Explique.
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: Não, que o mito conta uma história que não condiz com a realidade.
08 – Reconte, resumidamente,
no caderno quem foi Aguiri e sua relação com a fruta de nome guaraná, segundo o
mito.
Resposta pessoal
do aluno.
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