Mostrando postagens com marcador FERNANDO PESSOA. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador FERNANDO PESSOA. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

POEMA: DA LÂMPADA NOTURNA - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

 Poema: Da lâmpada noturna

             Fernando Pessoa

Da lâmpada noturna

A chama estremece

E o quarto alto ondeia.

 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiy1UMulwh02LFueJgpDPzsx-e9ySK2ENsac9F9Yz5NlRpz-xHdtjML8VvA1u7uxXIDgWwJoOEfiaUmQOP_7CTIwzfbfne_QVSRnRsDGiTt6KOvSemXc3AvVI9nU6WeUkalFm3pBCX-kvUQp_4Y4k3I57e-ac5vWl7xISjLm0o3GrpkUlDxiBSZu115F1w/s1600/LUZ.jpg

Os deuses concedem

Aos seus calmos crentes

Que nunca lhes trema

A chama da vida

Perturbando o aspecto

Do que está em roda,

Mas firme e esguiada

Como preciosa

E antiga pedra,

Guarde a sua calma

Beleza contínua.

PESSOA, Fernando. Obra poética. (Odes de Ricardo Reis). Rio de Janeiro: José Aguilar, 1969, p. 263.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 95.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal imagem utilizada no poema e o que ela representa?

      A imagem central do poema é a chama da lâmpada noturna. Essa chama representa a vida humana, sua fragilidade e sua constante luta pela estabilidade. A chama que treme simboliza os momentos de incerteza e perturbação que todos experimentamos, enquanto a chama firme representa a busca por uma vida serena e equilibrada.

02 – Qual a relação entre a chama da lâmpada e a vida humana?

      A chama da lâmpada é uma metáfora para a vida humana. Assim como a chama pode tremer e se apagar, a vida também está sujeita a mudanças e incertezas. A busca pela estabilidade da chama representa o desejo humano por uma vida tranquila e sem grandes perturbações.

03 – O que os deuses concedem aos seus calmos crentes?

      Os deuses, nesse contexto, representam uma força superior ou um ideal a ser perseguido. Eles concedem aos seus "calmos crentes" a capacidade de manter a chama da vida firme e constante, sem que ela seja perturbada pelas agitações do mundo exterior. Essa calma é vista como um estado ideal a ser alcançado.

04 – Qual a importância da "calma beleza contínua" para o poema?

      A "calma beleza contínua" é o objetivo final do poema. Ela representa a busca por uma vida harmoniosa e equilibrada, onde a chama da vida queima de forma constante e serena. Essa beleza é vista como algo precioso e a ser preservado ao longo do tempo.

05 – Qual a principal mensagem do poema?

      A principal mensagem do poema é a busca pela serenidade e estabilidade em um mundo marcado pela incerteza. Fernando Pessoa, através da imagem da chama da lâmpada, reflete sobre a fragilidade da vida humana e a importância de cultivar a paz interior. O poema convida o leitor a buscar uma vida mais tranquila e equilibrada, onde a beleza e a serenidade sejam valores primordiais.

 

 

POEMA: PAIRA À TONA DE ÁGUA - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

 Poema: Paira à tona de água

             Fernando Pessoa

Paira à tona de água

Uma vibração,

Há uma vaga mágoa

No meu coração.

 

Fonte:  https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFe-xmsZCWX8SPYtjhol1BVI6UYXFfVK2sOreU_WOnbS0ru1-Hdm3PhTErwuw2io5KxInBuAFbdHnVgpZ4H_9Rkiax68V5aqWPkHRawjt1Egm_AuVtRVZKfn6p3-58QQwv1xOe2FKRA3axZuSjRFGWlt00wn01wJ5_KdFobXRDrZ4DXMGU-85cYGyyaXU/s320/CORA%C3%87%C3%83O.jpg

Não é porque a brisa

Ou o que quer que seja

Faça esta indecisa

Vibração que adeja,

 

Nem é porque eu sinta

Uma dor qualquer.

Minha alma é indistinta

Não sabe o que quer.

 

É uma dor serena,

Sofre porque vê.

Tenho tanta pena!

Soubesse eu de quê!...

PESSOA, Fernando. Obra poética. (Poesia de Fernando Pessoa / Cancioneiro). Rio de Janeiro: José Aguilar, 1969, p. 147.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 96.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal sensação evocada pelo poema?

      O poema evoca uma sensação de melancolia e indefinida tristeza. Há uma dor profunda, mas vaga, que paira sobre o eu lírico, como uma vibração na superfície da água. É uma dor que não se manifesta de forma clara ou precisa, mas que permeia todo o poema.

02 – Qual o significado da imagem da água no poema?

      A água, nesse contexto, representa a profundidade do inconsciente e a natureza fluida dos sentimentos. A vibração na superfície da água simboliza a agitação interior do eu lírico, as emoções que se agitam sem encontrar uma forma clara de expressão.

03 – O que a "vaga mágoa" representa para o eu lírico?

      A "vaga mágoa" é uma dor indefinida que permeia a alma do eu lírico. É uma sensação de incompletude e falta, uma saudade de algo que não se sabe exatamente o quê. Essa dor é serena, não é acompanhada de raiva ou revolta, mas sim de uma profunda tristeza.

04 – Por que o eu lírico diz que sua alma é "indistinta"?

      A alma do eu lírico é descrita como "indistinta" porque os sentimentos que a habitam são vagos e indefinidos. Não há uma causa clara para a tristeza, e o eu lírico não consegue identificar com precisão o objeto de sua dor.

05 – Qual a principal mensagem do poema?

      O poema transmite a ideia de que a tristeza pode ser profunda e intensa, mesmo quando não se tem uma razão clara para ela. A dor do eu lírico é universal, pois todos nós experimentamos momentos de melancolia e incompreensão. A mensagem central é a aceitação da dor como parte da experiência humana e a busca por um sentido para essa tristeza.

 

 

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

POEMA: MEU PENSAMENTO É UM RIO SUBTERRÂNEO - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

 Poema: Meu pensamento é um rio subterrâneo

             Fernando Pessoa

Meu pensamento é um rio subterrâneo.

Para que terras vai e donde vem?

Não sei... Na noite em que o meu ser o tem

Emerge dele um ruído subitâneo

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgO7lkwIur6bSQvaBTUsubuRF6OId4nWUriVCaelq6H44vsXeu7Ik7rd-dOhBb1mFsdxReHk3f0UDKgaVc4omrtwugAfyB_bTps_WYhZShL5dTxzdRu_RQZxtvzDZc-c391bMoRTU8-oqTuoPiYWJqGadcAaM7Mqk2lmSqN_QuGIWDN8-oLOsSOitNFrTQ/s320/RIO.jpg

De origens no Mistério extraviadas

De eu compreendê-las..., misteriosas fontes

Habitando a distância de ermos montes

Onde os momentos são a Deus chegados...

 

De vez em quando luze em minha mágoa

Como um farol num mar desconhecido

Um movimento de correr, perdido

Em mim, um pálido soluço de água...

 

E eu relembro de tempos mais antigos

Que a minha consciência da ilusão

Águas divinas percorrendo o chão

De verdores uníssonos e amigos,

 

E a ideia de uma Pátria anterior

À forma consciente do meu ser

Dói‑me no que desejo, e vem bater

Como uma onda de encontro à minha dor.

 

Escuto‑o... Ao longe, no meu vago tacto

Da minha alma, perdido som incerto,

Como um eterno rio indescoberto,

Mais que a ideia de rio certo e abstrato...

 

E p'ra onde é que ele vai, que se extravia

Do meu ouvi‑lo? A que cavernas desce?

Em que frios de Assombro é que arrefece?

De que névoas soturnas se anuvia?

 

Não sei... Eu perco‑o... E outra vez regressa

A luz e a cor do mundo claro e atual,

E na interior distância do meu Real

Como se a alma acabasse, o rio cessa...

Obra Poética e em Prosa. Vol. I. Fernando Pessoa. (Introdução, organização, biobibliografia e notas de António Quadros e Dalila Pereira da Costa.) Porto: Lello, 1986. - 1093.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 329.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal metáfora utilizada no poema e o que ela representa?

      A principal metáfora é a comparação do pensamento a um rio subterrâneo. O rio simboliza o fluxo inconsciente dos pensamentos, suas origens misteriosas e seu destino desconhecido. Ele representa a profundidade e a complexidade da mente humana, bem como a busca por respostas a questões existenciais.

02 – Qual a relação entre o pensamento e o tempo no poema?

      O pensamento é apresentado como um fluxo contínuo, que transcende o tempo presente. Ele se conecta a um passado remoto, a um "tempo mais antigo", e se projeta para um futuro incerto. Essa relação com o tempo confere ao pensamento um caráter atemporal e eterno.

03 – Qual o papel do mistério e da incerteza no poema?

      O mistério e a incerteza são elementos fundamentais do poema. O eu lírico busca compreender a origem e o destino de seus pensamentos, mas encontra apenas perguntas sem respostas. Essa busca por respostas insondáveis intensifica a experiência poética e nos convida a refletir sobre a natureza da consciência.

04 – Qual a importância da natureza para a expressão dos sentimentos do eu lírico?

      A natureza, representada pelo rio, pelos montes e pelas águas, serve como um espelho para os sentimentos do eu lírico. As imagens da natureza ajudam a expressar a profundidade e a complexidade das emoções, como a melancolia, a nostalgia e a busca por sentido.

05 – Qual a relação entre o pensamento e a identidade do eu lírico?

      O pensamento é parte intrínseca da identidade do eu lírico. Ele é o que o define, o que o move e o que o conecta com o mundo. Ao explorar as profundezas de seu pensamento, o eu lírico busca uma compreensão mais profunda de si mesmo.

06 – Qual o significado da "Pátria anterior" mencionada no poema?

      A "Pátria anterior" pode ser interpretada como um estado de consciência pré-racional, um lugar de origem onde os pensamentos fluem livremente, sem as limitações da razão. Essa pátria representa a busca por uma identidade mais autêntica e profunda.

07 – Qual a atmosfera geral criada pelo poema?

      O poema cria uma atmosfera de mistério, melancolia e introspecção. A imagem do rio subterrâneo evoca um sentimento de profundidade e de busca interior. A linguagem poética, rica em imagens e metáforas, contribui para a criação de um mundo interior rico e complexo.

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

POEMA: ODE TRIUNFAL - (FRAGMENTO) - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

 Poema: ODE TRIUNFAL – Fragmento

             Fernando Pessoa

À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica  

Tenho febre e escrevo.  

Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,  

Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. 

[...]

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5-Ac7AoqW6PdRIqxJdxNM0lSSKnValCATLuqZ2c1A3L6v1DVQXrE0J3TxgkR5RHnZZBKcgBcsn-S4tSEw-vNxwRi6bVtOe3bgJtK1c1RDp_i6EdIaTxMvuWPM35h4MGo3eyvmm2oYk0CbJsnAmdA2_6O2yI1igodP5Dh_913lgBiFy30PzziMcHQ2HWU/s320/LAMPADA.jpg


Eia comboios, eia pontes, eia hotéis, à hora do jantar

Eia aparelhos de todas as espécies, ferros, brutos, mínimos,

Instrumentos de precisão, aparelhos de triunfar, de cavar,

Engenhos, brocas, máquinas rotativas!

 

Eia! eia! eia!  

Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!  

Eia telegrafia sem fios, simpatia metálica do Inconsciente!  

Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!  

Eia todo o passado dentro do presente!  

Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!  

Eia! eia! eia!  

Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!  

Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!  

Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.  

Engatam-me em todos os comboios.  

Içam-me em todos os cais.  

Giro dentro das hélices de todos os navios.  

Eia! Eia-hô eia!

Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade! 

[...]

PESSOA, Fernando. Ode Triunfal. In: Pessoa, Fernando. Poemas de Álvaro de Campos. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jp000011.pdf. Acesso em: 6 jun. 2020.

Fonte: Linguagens em Interação – Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Juliana Vegas Chinaglia – 1ª edição, São Paulo, 2020 – IBEP – p. 200.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o principal tema abordado no poema "Ode Triunfal – Fragmento"?

      O poema aborda o triunfo da modernidade e da industrialização, exaltando as máquinas, a eletricidade, e o progresso tecnológico. O eu lírico celebra o poder transformador da modernidade, ainda que essa transformação venha acompanhada de uma sensação de febre, inquietação e alienação.

02 – Como o eu lírico se relaciona com a modernidade no poema?

      O eu lírico se mostra fascinado pela modernidade, descrevendo-a com entusiasmo e reverência. Ele sente-se integrado à maquinaria moderna, ao ponto de se identificar com o calor mecânico e a eletricidade. No entanto, há também um tom de febre e frenesi, sugerindo um certo desconforto ou alienação diante do ritmo acelerado da industrialização.

03 – Como o poeta contrasta o passado e o presente no poema?

      O poeta contrasta o passado e o presente ao exaltar a modernidade como algo totalmente desconhecido pelos antigos. Através da repetição da palavra "eia", ele celebra os avanços tecnológicos e a nova realidade, ao mesmo tempo em que afirma que todo o passado está contido no presente e que o futuro já está sendo gestado no agora.

04 – O que simboliza a eletricidade no poema?

      A eletricidade simboliza a energia vital e dinâmica da modernidade, sendo descrita como os "nervos doentes da Matéria". Ela representa o poder transformador e onipresente da tecnologia moderna, que permeia e altera todos os aspectos da vida cotidiana.

05 – Qual é o tom predominante no poema e como ele reflete a visão do eu lírico sobre o progresso?

      O tom predominante é de exaltação e entusiasmo, com um ritmo quase frenético. Esse tom reflete a visão ambígua do eu lírico sobre o progresso: por um lado, ele celebra o avanço tecnológico e o poder da modernidade; por outro, esse entusiasmo é tingido por uma sensação de febre e alienação, sugerindo que o progresso traz consigo uma desumanização ou perda de identidade.

 

sexta-feira, 14 de junho de 2024

CRÔNICA: SEMPRE QUE ALGUÉM ENTRA EM DISCUTIR O CARÁCTER DO POVO PORTUGUÊS - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

 Crônica: Sempre que alguém entra em discutir o carácter do povo português

               Fernando Pessoa

 Sempre que alguém entra em discutir o carácter do povo português, pode adivinhar-se que, a certa altura da análise, dirá que uma das mais notáveis faculdades do nosso espírito é o excesso de imaginação. Por um acaso inexplicável, esta apreciação vulgar resulta justa. É certo que o português sofre duma imaginação excessiva.

Ora as criaturas de imaginação excessiva são fatalmente enfermas dum defeito; esse defeito é

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLTzd3fVe-EWzUgj9G8QCgYh2-Pk-D2R4wKORVXUyp_ZSME_1Ij3Gl99ykxrKbnpvxECn5rksYUbZYU7WdF9uCNy88WpGdwmpWAQH98NKv2Xgry2HF9jAX_S71kbcdQYzhQULISkPAWqZr40qz-aQretOvoGAaEh9n7bhkDGEv_wCoU198xRMLB7xLThQ/s320/Portugal-1111x740.jpg

a deficiência de imaginação.

Isto pode parecer um paradoxo a quem ainda creia, ingenuamente, que há paradoxos neste mundo. A asserção, porém, é tão fácil de demonstrar que não vale a pena reparar no modo como se apresenta.

Tomemos um exemplo conhecido. É o caso desses literatos modernos que em sua obra se entusiasmam pelos loucos, pelos vagabundos e pelos criminosos-natos, ou, em grau menos sangrento, pelos proletários “rotos e oprimidos” e outros objectos análogos. Ora todo o artista, se não por condição social, é, pelo menos por temperamento, o contrário de tudo quanto os loucos, os criminosos-natos ou os proletários realmente e verdadeiramente são. Sucede, pois, que a sua simpatia por tais criaturas só pode nascer da violenta necessidade de sair para fora de assuntos do meio em que vive — tanto no meio social, de gente pacata e apenas palavrosa, que cerca os artistas, como do meio, por assim dizer, nervoso, isto é, aquela disposição requintada e exigente que é a atmosfera espiritual em que o artista vive consigo próprio. E essa necessidade de sair para fora da atmosfera psíquica, onde respira, é manifestamente trabalho da imaginação excessiva. De resto, o género literário que esta espécie de autores vinca — assuntos excessivos, sentimentos exagerados, estilo complexo e doente —, tudo isso confirma que se trata dum fenómeno de excessiva imaginação.

Mas, se colocássemos um destes literatos entre criminosos-natos reais, entre verdadeiros loucos ou entre proletários existentes, condenando-o, não a atravessar esse meio, mas a viver nele, o desgraçado só não fugiria se o não deixassem fugir. A mesma requintada condição nervosa e imaginativa, que lhe faz o entusiasmo por esses meios, lho tiraria, se neles se demorasse.

Que explicação tem este fenómeno? Aquela que de entrada demos: a deficiência imaginativa que caracteriza os imaginativos em demasia. Se ao construir no seu espírito uma representação nítida dessas figuras que o atraem, o artista conseguisse imaginá-las a valer, com absoluta nitidez, tal nitidez equivaleria a um antegosto desses próprios meios, e resultaria, desde logo, aquele nojo por eles que um contacto real causaria.

Toda esta demonstração veio a propósito do excesso de imaginação do português. E o fim a que veio é podermos estabelecer claramente qual a terapêutica a aplicar neste caso. Com a demonstração, que fizemos, essa terapêutica ficou indicada. Aqui, como na homeopatia, similia similibus curantur, o excesso imaginativo do português, que tão daninho lhe tem sido, só pode ser curado mediante uma cultura cada vez maior da imaginação portuguesa. Educar as novas gerações no sonho, no devaneio, no culto prolixo e doentio da vida interior, vem a dar em educá-las para a civilização e para a vida. Sobre ser fácil e agradável, o tratamento é de resultado seguro.

PESSOA, Fernando. Crónicas da vida que passa. O Jornal, n. 8, Lisboa, v. 8, 11 abr. 1915.  Disponível em: <https://bit.ly/2yuMb4P>. Acesso em: 12 ago. 2018.

Entendendo o texto

01. Marque a opção que se refere ao gênero textual ao qual esse texto pertence.

a.   Apesar de constar na referência que esse texto faz parte de um conjunto de crônicas, esse texto é uma notícia, pois foi publicado em um jornal.

b.   Fernando Pessoa, ao escrever esse texto, em 1915, teve como objetivo levar os leitores a refletir sobre alguns fatos do cotidiano daquela época, por isso, esse texto pode ser considerado uma crônica.

c.   Esse texto pode ser considerado um conto, pois tem personagens e é escrito em uma linguagem formal. 

d.   Esse texto pode ser considerado uma reportagem, pois está publicado em um jornal e é escrito em uma linguagem formal.

02. Qual é a característica notável do espírito português mencionada no texto?

      a. Excesso de racionalidade.

      b. Excesso de imaginação.

      c. Falta de criatividade.

      d. Pragmatismo.

03. Qual é o defeito das criaturas com imaginação excessiva, segundo o texto?

     a. Falta de inteligência.

     b. Deficiência de imaginação.

     c. Falta de disciplina.

     d. Deficiência de memória.

  04. O texto cita artistas que se entusiasmam por quais tipos de personagens?

     a. Reis e rainhas.

     b. Loucos, vagabundos e criminosos-natos.

     c. Heróis e vilões.

     d. Cientistas e inventores.

  05. Por que os artistas têm simpatia por personagens como loucos e criminosos, de acordo com o autor?

    a. Porque se identificam com eles.

    b. Porque querem criticar a sociedade.

   c. Porque necessitam sair do meio em que vivem.

   d. Porque são obrigados pela sociedade.

  06. O que aconteceria se um artista vivesse permanentemente entre loucos ou criminosos, segundo o texto?

    a. Iria se adaptar facilmente.

    b. Iria ficar entusiasmado.

    c. Iria querer fugir.

    d. Iria se tornar um deles.

  07. Qual é a explicação dada pelo autor para o fenômeno de artistas se interessarem por personagens marginalizados?

    a. A deficiência imaginativa dos imaginativos em demasia.

    b. A busca por fama e reconhecimento.

    c. A pressão da sociedade.

    d. A necessidade de sustento financeiro.

  08. O que a nitidez imaginativa de um artista equivaleria, segundo o texto?

    a. A uma experiência real.

    b. A uma fantasia irreal.

    c. A um sonho agradável.

     d. A uma alucinação temporária.

  09. Qual é a terapêutica sugerida pelo autor para o excesso de imaginação dos portugueses?

     a. Reduzir a imaginação.

     b. Aumentar a cultura da imaginação.

     c. Focar em atividades físicas.

    d. Promover a educação técnica.

  10. O autor compara a terapêutica sugerida a qual prática médica?

    a. Alopatia.

    b. Cirurgia.

    c. Homeopatia.

    d. Psicanálise.

 11. Segundo o autor, educar as novas gerações no sonho e no devaneio resulta em quê?

    a. Falta de interesse pela realidade.

    b. Educação para a civilização e para a vida.

    c. Maior alienação social.

    d. Desenvolvimento de habilidades técnicas.

 

 

 

 

 

terça-feira, 16 de abril de 2024

VERSOS: O MOSTRENGO - (FRAGMENTO - IV) - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

 Versos: O MOSTRENGO – (Fragmento – IV)

             Fernando Pessoa

O mostrengo que está no fim do mar

Na noite de breu ergueu-se a voar;

À roda da nau voou três vezes,

Voou três vezes a chiar,

E disse: «Quem é que ousou entrar

Nas minhas cavernas que não desvendo,

Meus tectos negros do fim do mundo?»

E o homem do leme disse, tremendo:

«El-Rei D. João Segundo!»

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPFFtBouHuCUusdlzTUiGI_VULXmFKMW922dxcDnv76l_bCJ7heYTO9qCnw1F09AOg2xDGA5TZUSLmbfl36K6rnGG8ZO2VBZUsrnpyxgkqBBw0CXzOjAOPsiQaXTJpGkVer7mkoBKK8vkd1jFpRezjVTZRtMbJT_1NHhtFti7V3G3K7N9eaFNMhilwZs8/s1600/Dom%20Jo%C3%A3o.jpg


 

«De quem são as velas onde me roço?

De quem as quilhas que vejo e ouço?»

Disse o mostrengo, e rodou três vezes,

Três vezes rodou imundo e grosso,

«Quem vem poder o que só eu posso,

Que moro onde nunca ninguém me visse

E escorro os medos do mar sem fundo?»

E o homem do leme tremeu, e disse:

«El-Rei D. João Segundo!»

 

Três vezes do leme as mãos ergueu,

Três vezes ao leme as reprendeu,

E disse no fim de tremer três vezes:

«Aqui ao leme sou mais do que eu:

Sou um Povo que quer o mar que é teu;

E mais que o mostrengo, que me a alma teme

E roda nas trevas do fim do mundo,

Manda a vontade, que me ata ao leme,

De El-Rei D. João Segundo!»

Mensagem. Fernando Pessoa. In: GALHOZ, Maria Aliete (Org.). Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1999. p. 79 – 80.

Fonte: Língua Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem. Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição. São Paulo, 2016. p. 65 – 66.

Entendendo os versos:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Tectos: tetos.

·        Quilhas: peças de um navio localizadas na parte inferior de sua estrutura às quais se prendem as grandes partes que formam o casco da embarcação.

02 – “O mostrengo” é um intertexto que dialoga com o hipotexto Os Lusíadas.

a)   Com que episódio se estabelece esse diálogo intertextual?

Com o episódio do Gigante Adamastor.

b)   Que elementos presentes no texto tornam claro esse diálogo?

O eu lírico se refere a um “mostrengo que está no fim do mar” e que dialoga com um homem do leme.

03 – Quem se dirige aos marinheiros de Vasco da Gama?

      O Gigante Adamastor.

04 – É possível afirmar que o personagem já conhecia os portugueses, a quem chama de “gente ousada”? Justifique sua resposta.

      Sim, o Gigante Adamastor já conhecia os portugueses. Isso fica claro em sua fala, pois reconhece textualmente que os lusitanos “cometeram grandes cousas” e que eles “nunca repousam” diante dos limites e das adversidades.

05 – A fala do mostrengo do poema de Pessoa evidencia que o personagem já conhecia os portugueses? Justifique a resposta com um trecho do texto.

      O mostrengo do poema de Fernando Pessoa, diferentemente do Gigante Adamastor, não se sabe quem é o povo que ousou entrar em seu mar, por isso faz uma pergunta na primeira estrofe: «Quem é que ousou entrar / Nas minhas cavernas que não desvendo / Meus tectos negros do fim do mundo?»

06 – Qual das vítimas que morreram no Cabo das Tormentas poderia ser o “homem do leme”, com quem o mostrengo fala no poema de Pessoa?

      Bartolomeu Dias, que descobriu o Cabo das Tormentas em 1487.

07 – Em nome de quem fala o “homem do leme”?

      Em nome d’El Rei D. João II.

08 – O que o “homem do leme” quer dizer ao afirmar: “Aqui ao leme sou mais do que eu”?

      O “homem do leme”, Bartolomeu Dias, reconhece-se como representante não somente dele mesmo ou do rei que o financiou (“mandou”), D. João II. Ele representa o povo português, que deseja dominar o mar.

sábado, 21 de outubro de 2023

POEMA: LEVAVA EU UM JARRINHO - FERNANDO PESSOA -COM GABARITO

 Poema: Levava eu um jarrinho

             Fernando Pessoa

Levava eu um jarrinho

P’ra ir buscar vinho

Levava um tostão

P’ra comprar pão;

E levava uma fita

Para ir bonita.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyqbcIGqe5eZJ4-3TMSM_9jy2q1cmd_z6AL5RUnvfUmCYte4A6wu_hEPIQK_sPQw6ehGAG_cwNfE43Qul6Sp8yYyxSQWcRVCcFHP23eKyMZpkVKxn7TUy7exQ896H7Ve9o8oiM2qSW5nNoD_09Yz7tY1ZvinbyHdzIxKwV38OdpXihsBxKI9qo5Jb6sEQ/s320/jarro-1.jpeg


Correu atrás

De mim um rapaz:

Foi o jarro p’ra o chão,

Perdi o tostão,

Rasgou-se-me a fita...

Vejam que desdita!

Se eu não levasse um jarrinho,

Nem fosse buscar vinho,

Nem trouxesse uma fita

Para ir bonita,

Nem corresse atrás

De mim um rapaz

Para ver o que eu fazia,

Nada disto acontecia.

Quadras ao Gosto Popular. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido e prefaciado por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1965. (6ª ed., 1973). 

 - 118-119.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o título do poema?

      O título do poema é "Levava eu um jarrinho".

02 – Quais eram os objetos que a pessoa estava carregando no poema?

      A pessoa estava carregando um jarrinho, um tostão e uma fita.

03 – Por que a pessoa levou um tostão consigo?

      A pessoa levou um tostão consigo para comprar pão.

04 – O que aconteceu com o jarrinho no poema?

      No poema, o jarrinho caiu ao chão.

05 – Por que a pessoa perdeu o tostão?

      A pessoa perdeu o tostão quando o jarrinho caiu.

06 – O que aconteceu com a fita no poema?

      A fita rasgou-se no poema.

07 – Qual é a ironia presente no poema?

      A ironia presente no poema está relacionada ao fato de que, se a pessoa não tivesse levado o jarrinho, o tostão e a fita, nada disso teria acontecido, sugerindo que as coisas simples da vida podem levar a infortúnios inesperados.