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quinta-feira, 3 de outubro de 2024

POEMA: MEU PENSAMENTO É UM RIO SUBTERRÂNEO - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

 Poema: Meu pensamento é um rio subterrâneo

             Fernando Pessoa

Meu pensamento é um rio subterrâneo.

Para que terras vai e donde vem?

Não sei... Na noite em que o meu ser o tem

Emerge dele um ruído subitâneo

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgO7lkwIur6bSQvaBTUsubuRF6OId4nWUriVCaelq6H44vsXeu7Ik7rd-dOhBb1mFsdxReHk3f0UDKgaVc4omrtwugAfyB_bTps_WYhZShL5dTxzdRu_RQZxtvzDZc-c391bMoRTU8-oqTuoPiYWJqGadcAaM7Mqk2lmSqN_QuGIWDN8-oLOsSOitNFrTQ/s320/RIO.jpg

De origens no Mistério extraviadas

De eu compreendê-las..., misteriosas fontes

Habitando a distância de ermos montes

Onde os momentos são a Deus chegados...

 

De vez em quando luze em minha mágoa

Como um farol num mar desconhecido

Um movimento de correr, perdido

Em mim, um pálido soluço de água...

 

E eu relembro de tempos mais antigos

Que a minha consciência da ilusão

Águas divinas percorrendo o chão

De verdores uníssonos e amigos,

 

E a ideia de uma Pátria anterior

À forma consciente do meu ser

Dói‑me no que desejo, e vem bater

Como uma onda de encontro à minha dor.

 

Escuto‑o... Ao longe, no meu vago tacto

Da minha alma, perdido som incerto,

Como um eterno rio indescoberto,

Mais que a ideia de rio certo e abstrato...

 

E p'ra onde é que ele vai, que se extravia

Do meu ouvi‑lo? A que cavernas desce?

Em que frios de Assombro é que arrefece?

De que névoas soturnas se anuvia?

 

Não sei... Eu perco‑o... E outra vez regressa

A luz e a cor do mundo claro e atual,

E na interior distância do meu Real

Como se a alma acabasse, o rio cessa...

Obra Poética e em Prosa. Vol. I. Fernando Pessoa. (Introdução, organização, biobibliografia e notas de António Quadros e Dalila Pereira da Costa.) Porto: Lello, 1986. - 1093.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 329.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal metáfora utilizada no poema e o que ela representa?

      A principal metáfora é a comparação do pensamento a um rio subterrâneo. O rio simboliza o fluxo inconsciente dos pensamentos, suas origens misteriosas e seu destino desconhecido. Ele representa a profundidade e a complexidade da mente humana, bem como a busca por respostas a questões existenciais.

02 – Qual a relação entre o pensamento e o tempo no poema?

      O pensamento é apresentado como um fluxo contínuo, que transcende o tempo presente. Ele se conecta a um passado remoto, a um "tempo mais antigo", e se projeta para um futuro incerto. Essa relação com o tempo confere ao pensamento um caráter atemporal e eterno.

03 – Qual o papel do mistério e da incerteza no poema?

      O mistério e a incerteza são elementos fundamentais do poema. O eu lírico busca compreender a origem e o destino de seus pensamentos, mas encontra apenas perguntas sem respostas. Essa busca por respostas insondáveis intensifica a experiência poética e nos convida a refletir sobre a natureza da consciência.

04 – Qual a importância da natureza para a expressão dos sentimentos do eu lírico?

      A natureza, representada pelo rio, pelos montes e pelas águas, serve como um espelho para os sentimentos do eu lírico. As imagens da natureza ajudam a expressar a profundidade e a complexidade das emoções, como a melancolia, a nostalgia e a busca por sentido.

05 – Qual a relação entre o pensamento e a identidade do eu lírico?

      O pensamento é parte intrínseca da identidade do eu lírico. Ele é o que o define, o que o move e o que o conecta com o mundo. Ao explorar as profundezas de seu pensamento, o eu lírico busca uma compreensão mais profunda de si mesmo.

06 – Qual o significado da "Pátria anterior" mencionada no poema?

      A "Pátria anterior" pode ser interpretada como um estado de consciência pré-racional, um lugar de origem onde os pensamentos fluem livremente, sem as limitações da razão. Essa pátria representa a busca por uma identidade mais autêntica e profunda.

07 – Qual a atmosfera geral criada pelo poema?

      O poema cria uma atmosfera de mistério, melancolia e introspecção. A imagem do rio subterrâneo evoca um sentimento de profundidade e de busca interior. A linguagem poética, rica em imagens e metáforas, contribui para a criação de um mundo interior rico e complexo.

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

POEMA: ODE TRIUNFAL - (FRAGMENTO) - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

 Poema: ODE TRIUNFAL – Fragmento

             Fernando Pessoa

À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica  

Tenho febre e escrevo.  

Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,  

Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. 

[...]

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5-Ac7AoqW6PdRIqxJdxNM0lSSKnValCATLuqZ2c1A3L6v1DVQXrE0J3TxgkR5RHnZZBKcgBcsn-S4tSEw-vNxwRi6bVtOe3bgJtK1c1RDp_i6EdIaTxMvuWPM35h4MGo3eyvmm2oYk0CbJsnAmdA2_6O2yI1igodP5Dh_913lgBiFy30PzziMcHQ2HWU/s320/LAMPADA.jpg


Eia comboios, eia pontes, eia hotéis, à hora do jantar

Eia aparelhos de todas as espécies, ferros, brutos, mínimos,

Instrumentos de precisão, aparelhos de triunfar, de cavar,

Engenhos, brocas, máquinas rotativas!

 

Eia! eia! eia!  

Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!  

Eia telegrafia sem fios, simpatia metálica do Inconsciente!  

Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!  

Eia todo o passado dentro do presente!  

Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!  

Eia! eia! eia!  

Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!  

Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!  

Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.  

Engatam-me em todos os comboios.  

Içam-me em todos os cais.  

Giro dentro das hélices de todos os navios.  

Eia! Eia-hô eia!

Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade! 

[...]

PESSOA, Fernando. Ode Triunfal. In: Pessoa, Fernando. Poemas de Álvaro de Campos. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jp000011.pdf. Acesso em: 6 jun. 2020.

Fonte: Linguagens em Interação – Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Juliana Vegas Chinaglia – 1ª edição, São Paulo, 2020 – IBEP – p. 200.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o principal tema abordado no poema "Ode Triunfal – Fragmento"?

      O poema aborda o triunfo da modernidade e da industrialização, exaltando as máquinas, a eletricidade, e o progresso tecnológico. O eu lírico celebra o poder transformador da modernidade, ainda que essa transformação venha acompanhada de uma sensação de febre, inquietação e alienação.

02 – Como o eu lírico se relaciona com a modernidade no poema?

      O eu lírico se mostra fascinado pela modernidade, descrevendo-a com entusiasmo e reverência. Ele sente-se integrado à maquinaria moderna, ao ponto de se identificar com o calor mecânico e a eletricidade. No entanto, há também um tom de febre e frenesi, sugerindo um certo desconforto ou alienação diante do ritmo acelerado da industrialização.

03 – Como o poeta contrasta o passado e o presente no poema?

      O poeta contrasta o passado e o presente ao exaltar a modernidade como algo totalmente desconhecido pelos antigos. Através da repetição da palavra "eia", ele celebra os avanços tecnológicos e a nova realidade, ao mesmo tempo em que afirma que todo o passado está contido no presente e que o futuro já está sendo gestado no agora.

04 – O que simboliza a eletricidade no poema?

      A eletricidade simboliza a energia vital e dinâmica da modernidade, sendo descrita como os "nervos doentes da Matéria". Ela representa o poder transformador e onipresente da tecnologia moderna, que permeia e altera todos os aspectos da vida cotidiana.

05 – Qual é o tom predominante no poema e como ele reflete a visão do eu lírico sobre o progresso?

      O tom predominante é de exaltação e entusiasmo, com um ritmo quase frenético. Esse tom reflete a visão ambígua do eu lírico sobre o progresso: por um lado, ele celebra o avanço tecnológico e o poder da modernidade; por outro, esse entusiasmo é tingido por uma sensação de febre e alienação, sugerindo que o progresso traz consigo uma desumanização ou perda de identidade.

 

sexta-feira, 14 de junho de 2024

CRÔNICA: SEMPRE QUE ALGUÉM ENTRA EM DISCUTIR O CARÁCTER DO POVO PORTUGUÊS - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

 Crônica: Sempre que alguém entra em discutir o carácter do povo português

               Fernando Pessoa

 Sempre que alguém entra em discutir o carácter do povo português, pode adivinhar-se que, a certa altura da análise, dirá que uma das mais notáveis faculdades do nosso espírito é o excesso de imaginação. Por um acaso inexplicável, esta apreciação vulgar resulta justa. É certo que o português sofre duma imaginação excessiva.

Ora as criaturas de imaginação excessiva são fatalmente enfermas dum defeito; esse defeito é

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLTzd3fVe-EWzUgj9G8QCgYh2-Pk-D2R4wKORVXUyp_ZSME_1Ij3Gl99ykxrKbnpvxECn5rksYUbZYU7WdF9uCNy88WpGdwmpWAQH98NKv2Xgry2HF9jAX_S71kbcdQYzhQULISkPAWqZr40qz-aQretOvoGAaEh9n7bhkDGEv_wCoU198xRMLB7xLThQ/s320/Portugal-1111x740.jpg

a deficiência de imaginação.

Isto pode parecer um paradoxo a quem ainda creia, ingenuamente, que há paradoxos neste mundo. A asserção, porém, é tão fácil de demonstrar que não vale a pena reparar no modo como se apresenta.

Tomemos um exemplo conhecido. É o caso desses literatos modernos que em sua obra se entusiasmam pelos loucos, pelos vagabundos e pelos criminosos-natos, ou, em grau menos sangrento, pelos proletários “rotos e oprimidos” e outros objectos análogos. Ora todo o artista, se não por condição social, é, pelo menos por temperamento, o contrário de tudo quanto os loucos, os criminosos-natos ou os proletários realmente e verdadeiramente são. Sucede, pois, que a sua simpatia por tais criaturas só pode nascer da violenta necessidade de sair para fora de assuntos do meio em que vive — tanto no meio social, de gente pacata e apenas palavrosa, que cerca os artistas, como do meio, por assim dizer, nervoso, isto é, aquela disposição requintada e exigente que é a atmosfera espiritual em que o artista vive consigo próprio. E essa necessidade de sair para fora da atmosfera psíquica, onde respira, é manifestamente trabalho da imaginação excessiva. De resto, o género literário que esta espécie de autores vinca — assuntos excessivos, sentimentos exagerados, estilo complexo e doente —, tudo isso confirma que se trata dum fenómeno de excessiva imaginação.

Mas, se colocássemos um destes literatos entre criminosos-natos reais, entre verdadeiros loucos ou entre proletários existentes, condenando-o, não a atravessar esse meio, mas a viver nele, o desgraçado só não fugiria se o não deixassem fugir. A mesma requintada condição nervosa e imaginativa, que lhe faz o entusiasmo por esses meios, lho tiraria, se neles se demorasse.

Que explicação tem este fenómeno? Aquela que de entrada demos: a deficiência imaginativa que caracteriza os imaginativos em demasia. Se ao construir no seu espírito uma representação nítida dessas figuras que o atraem, o artista conseguisse imaginá-las a valer, com absoluta nitidez, tal nitidez equivaleria a um antegosto desses próprios meios, e resultaria, desde logo, aquele nojo por eles que um contacto real causaria.

Toda esta demonstração veio a propósito do excesso de imaginação do português. E o fim a que veio é podermos estabelecer claramente qual a terapêutica a aplicar neste caso. Com a demonstração, que fizemos, essa terapêutica ficou indicada. Aqui, como na homeopatia, similia similibus curantur, o excesso imaginativo do português, que tão daninho lhe tem sido, só pode ser curado mediante uma cultura cada vez maior da imaginação portuguesa. Educar as novas gerações no sonho, no devaneio, no culto prolixo e doentio da vida interior, vem a dar em educá-las para a civilização e para a vida. Sobre ser fácil e agradável, o tratamento é de resultado seguro.

PESSOA, Fernando. Crónicas da vida que passa. O Jornal, n. 8, Lisboa, v. 8, 11 abr. 1915.  Disponível em: <https://bit.ly/2yuMb4P>. Acesso em: 12 ago. 2018.

Entendendo o texto

01. Marque a opção que se refere ao gênero textual ao qual esse texto pertence.

a.   Apesar de constar na referência que esse texto faz parte de um conjunto de crônicas, esse texto é uma notícia, pois foi publicado em um jornal.

b.   Fernando Pessoa, ao escrever esse texto, em 1915, teve como objetivo levar os leitores a refletir sobre alguns fatos do cotidiano daquela época, por isso, esse texto pode ser considerado uma crônica.

c.   Esse texto pode ser considerado um conto, pois tem personagens e é escrito em uma linguagem formal. 

d.   Esse texto pode ser considerado uma reportagem, pois está publicado em um jornal e é escrito em uma linguagem formal.

02. Qual é a característica notável do espírito português mencionada no texto?

      a. Excesso de racionalidade.

      b. Excesso de imaginação.

      c. Falta de criatividade.

      d. Pragmatismo.

03. Qual é o defeito das criaturas com imaginação excessiva, segundo o texto?

     a. Falta de inteligência.

     b. Deficiência de imaginação.

     c. Falta de disciplina.

     d. Deficiência de memória.

  04. O texto cita artistas que se entusiasmam por quais tipos de personagens?

     a. Reis e rainhas.

     b. Loucos, vagabundos e criminosos-natos.

     c. Heróis e vilões.

     d. Cientistas e inventores.

  05. Por que os artistas têm simpatia por personagens como loucos e criminosos, de acordo com o autor?

    a. Porque se identificam com eles.

    b. Porque querem criticar a sociedade.

   c. Porque necessitam sair do meio em que vivem.

   d. Porque são obrigados pela sociedade.

  06. O que aconteceria se um artista vivesse permanentemente entre loucos ou criminosos, segundo o texto?

    a. Iria se adaptar facilmente.

    b. Iria ficar entusiasmado.

    c. Iria querer fugir.

    d. Iria se tornar um deles.

  07. Qual é a explicação dada pelo autor para o fenômeno de artistas se interessarem por personagens marginalizados?

    a. A deficiência imaginativa dos imaginativos em demasia.

    b. A busca por fama e reconhecimento.

    c. A pressão da sociedade.

    d. A necessidade de sustento financeiro.

  08. O que a nitidez imaginativa de um artista equivaleria, segundo o texto?

    a. A uma experiência real.

    b. A uma fantasia irreal.

    c. A um sonho agradável.

     d. A uma alucinação temporária.

  09. Qual é a terapêutica sugerida pelo autor para o excesso de imaginação dos portugueses?

     a. Reduzir a imaginação.

     b. Aumentar a cultura da imaginação.

     c. Focar em atividades físicas.

    d. Promover a educação técnica.

  10. O autor compara a terapêutica sugerida a qual prática médica?

    a. Alopatia.

    b. Cirurgia.

    c. Homeopatia.

    d. Psicanálise.

 11. Segundo o autor, educar as novas gerações no sonho e no devaneio resulta em quê?

    a. Falta de interesse pela realidade.

    b. Educação para a civilização e para a vida.

    c. Maior alienação social.

    d. Desenvolvimento de habilidades técnicas.

 

 

 

 

 

terça-feira, 16 de abril de 2024

VERSOS: O MOSTRENGO - (FRAGMENTO - IV) - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

 Versos: O MOSTRENGO – (Fragmento – IV)

             Fernando Pessoa

O mostrengo que está no fim do mar

Na noite de breu ergueu-se a voar;

À roda da nau voou três vezes,

Voou três vezes a chiar,

E disse: «Quem é que ousou entrar

Nas minhas cavernas que não desvendo,

Meus tectos negros do fim do mundo?»

E o homem do leme disse, tremendo:

«El-Rei D. João Segundo!»

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPFFtBouHuCUusdlzTUiGI_VULXmFKMW922dxcDnv76l_bCJ7heYTO9qCnw1F09AOg2xDGA5TZUSLmbfl36K6rnGG8ZO2VBZUsrnpyxgkqBBw0CXzOjAOPsiQaXTJpGkVer7mkoBKK8vkd1jFpRezjVTZRtMbJT_1NHhtFti7V3G3K7N9eaFNMhilwZs8/s1600/Dom%20Jo%C3%A3o.jpg


 

«De quem são as velas onde me roço?

De quem as quilhas que vejo e ouço?»

Disse o mostrengo, e rodou três vezes,

Três vezes rodou imundo e grosso,

«Quem vem poder o que só eu posso,

Que moro onde nunca ninguém me visse

E escorro os medos do mar sem fundo?»

E o homem do leme tremeu, e disse:

«El-Rei D. João Segundo!»

 

Três vezes do leme as mãos ergueu,

Três vezes ao leme as reprendeu,

E disse no fim de tremer três vezes:

«Aqui ao leme sou mais do que eu:

Sou um Povo que quer o mar que é teu;

E mais que o mostrengo, que me a alma teme

E roda nas trevas do fim do mundo,

Manda a vontade, que me ata ao leme,

De El-Rei D. João Segundo!»

Mensagem. Fernando Pessoa. In: GALHOZ, Maria Aliete (Org.). Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1999. p. 79 – 80.

Fonte: Língua Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem. Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição. São Paulo, 2016. p. 65 – 66.

Entendendo os versos:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Tectos: tetos.

·        Quilhas: peças de um navio localizadas na parte inferior de sua estrutura às quais se prendem as grandes partes que formam o casco da embarcação.

02 – “O mostrengo” é um intertexto que dialoga com o hipotexto Os Lusíadas.

a)   Com que episódio se estabelece esse diálogo intertextual?

Com o episódio do Gigante Adamastor.

b)   Que elementos presentes no texto tornam claro esse diálogo?

O eu lírico se refere a um “mostrengo que está no fim do mar” e que dialoga com um homem do leme.

03 – Quem se dirige aos marinheiros de Vasco da Gama?

      O Gigante Adamastor.

04 – É possível afirmar que o personagem já conhecia os portugueses, a quem chama de “gente ousada”? Justifique sua resposta.

      Sim, o Gigante Adamastor já conhecia os portugueses. Isso fica claro em sua fala, pois reconhece textualmente que os lusitanos “cometeram grandes cousas” e que eles “nunca repousam” diante dos limites e das adversidades.

05 – A fala do mostrengo do poema de Pessoa evidencia que o personagem já conhecia os portugueses? Justifique a resposta com um trecho do texto.

      O mostrengo do poema de Fernando Pessoa, diferentemente do Gigante Adamastor, não se sabe quem é o povo que ousou entrar em seu mar, por isso faz uma pergunta na primeira estrofe: «Quem é que ousou entrar / Nas minhas cavernas que não desvendo / Meus tectos negros do fim do mundo?»

06 – Qual das vítimas que morreram no Cabo das Tormentas poderia ser o “homem do leme”, com quem o mostrengo fala no poema de Pessoa?

      Bartolomeu Dias, que descobriu o Cabo das Tormentas em 1487.

07 – Em nome de quem fala o “homem do leme”?

      Em nome d’El Rei D. João II.

08 – O que o “homem do leme” quer dizer ao afirmar: “Aqui ao leme sou mais do que eu”?

      O “homem do leme”, Bartolomeu Dias, reconhece-se como representante não somente dele mesmo ou do rei que o financiou (“mandou”), D. João II. Ele representa o povo português, que deseja dominar o mar.

sábado, 21 de outubro de 2023

POEMA: LEVAVA EU UM JARRINHO - FERNANDO PESSOA -COM GABARITO

 Poema: Levava eu um jarrinho

             Fernando Pessoa

Levava eu um jarrinho

P’ra ir buscar vinho

Levava um tostão

P’ra comprar pão;

E levava uma fita

Para ir bonita.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyqbcIGqe5eZJ4-3TMSM_9jy2q1cmd_z6AL5RUnvfUmCYte4A6wu_hEPIQK_sPQw6ehGAG_cwNfE43Qul6Sp8yYyxSQWcRVCcFHP23eKyMZpkVKxn7TUy7exQ896H7Ve9o8oiM2qSW5nNoD_09Yz7tY1ZvinbyHdzIxKwV38OdpXihsBxKI9qo5Jb6sEQ/s320/jarro-1.jpeg


Correu atrás

De mim um rapaz:

Foi o jarro p’ra o chão,

Perdi o tostão,

Rasgou-se-me a fita...

Vejam que desdita!

Se eu não levasse um jarrinho,

Nem fosse buscar vinho,

Nem trouxesse uma fita

Para ir bonita,

Nem corresse atrás

De mim um rapaz

Para ver o que eu fazia,

Nada disto acontecia.

Quadras ao Gosto Popular. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido e prefaciado por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1965. (6ª ed., 1973). 

 - 118-119.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o título do poema?

      O título do poema é "Levava eu um jarrinho".

02 – Quais eram os objetos que a pessoa estava carregando no poema?

      A pessoa estava carregando um jarrinho, um tostão e uma fita.

03 – Por que a pessoa levou um tostão consigo?

      A pessoa levou um tostão consigo para comprar pão.

04 – O que aconteceu com o jarrinho no poema?

      No poema, o jarrinho caiu ao chão.

05 – Por que a pessoa perdeu o tostão?

      A pessoa perdeu o tostão quando o jarrinho caiu.

06 – O que aconteceu com a fita no poema?

      A fita rasgou-se no poema.

07 – Qual é a ironia presente no poema?

      A ironia presente no poema está relacionada ao fato de que, se a pessoa não tivesse levado o jarrinho, o tostão e a fita, nada disso teria acontecido, sugerindo que as coisas simples da vida podem levar a infortúnios inesperados.

 

 

sábado, 14 de agosto de 2021

POEMA(FRAGMENTO): AUTOPSICOGRAFIA - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

 POEMA(FRAGMENTO): AUTOPSICOGRAFIA

               

                         Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

 

Fernando Pessoa. Autopsicografia.

Em: Fernando Pessoa: obra poética. Rio de Janeiro:

Cia. José Aguilar Editora, 1972. p. 164.

Entendendo o texto

1) O termo “fingidor” no primeiro verso pode ser classificado como:

( ) forma nominal ( ) substantivo (x ) adjetivo

Por quê?

O termo “fingidor” é nesse verso um substantivo porque tem a função de nomear um ser que finge, no contexto, indeterminado pelo artigo indefinido.

2) Reescreva o primeiro verso do poema substituindo o termo “fingidor” por uma forma nominal do verbo “fingir” compatível com a estrutura gramatical do verso:

O poeta é um fingido.

3) Há diferença de sentido entre o verso construído na questão 2 e o original do poema? Justifique sua resposta.

Sim, pois o substantivo “fingidor” designa, por definição, uma pessoa que pratica a ação de fingir, ao passo que a forma nominal “fingido”, com valor de adjetivo no contexto, designa apenas uma característica do poeta e não concretamente algo que ele faz.

4) A quem se refere o verbo “fingir” no segundo verso e em qual tempo e o modo ele está conjugado?

O verbo fingir se refere a “poeta” e está conjugado no presente do indicativo.

5) Como o tempo verbal empregado no verbo “fingir” contribui com a construção da imagem dos poetas proposta pelo eu lírico do poema?

Ao usar o presente do indicativo para se referir à ação de “fingir”, supostamente praticada pelos poetas, o eu lírico atribui um modo de ser a eles, definindo permanentemente o caráter dos poetas em sua visão.

6) O termo “fingir” no terceiro verso do poema pode ser classificado como:

(x ) forma nominal ( ) substantivo ( ) verbo conjugado

Por quê?

Trata-se de uma forma nominal (infinitivo), pois o verbo fingir nessa ocasião não indica nenhum tipo de flexão ou modo e é empregado única e exclusivamente para designar uma ação.

segunda-feira, 29 de março de 2021

POEMA: GATO QUE BRINCAS NA RUA - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

 POEMA: GATO QUE BRINCAS NA RUA


        Fernando Pessoa

 Gato que brincas na rua

como se fosse na cama

invejo a sorte que é tua

porque nem sorte se chama.

 

Bom servo das leis fatais

que regem pedras e gentes,

que tens instintos gerais

e sentes só o que sentes.

 

És feliz porque és assim,

Todo o nada que és é teu.

Eu vejo-me e estou sem mim,

Conheço-me e não sou eu.


 Entendendo o poema

1.   Que sensação uma primeira leitura desse poema provoca em você: alegria, melancolia, inquietação, serenidade? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal.

2.   Como você imagina a cena observada pelo eu lírico? Copie o verso que justifica sua resposta.

Resposta pessoal.

3.   Releia a primeira estrofe e responda às questões a seguir:

a)   Segundo o eu lírico, qual é a sorte do gato? Que sentimento o eu lírico confessa diante disso?

É o fato de o gato mostra-se feliz, confortável, mesmo sem ter consciência disso.

O eu lírico inveja essa condição.

b)   O significa saber o nome das coisas?

Significa conhece-las, reconhece-las e ter consciência de sua existência.

c)   O que você acha que significa dizer que a sorte do gato não tem nome?

Resposta pessoal. Sugestão: O eu lírico sugere ser sorte viver sem ter consciência do que se vive, livre de autojulgamentos, “sentido só o que sente”.

   4- Releia a segunda estrofe e responda às questões a seguir.

a)   Discuta com um colega: O que são leis fatais?

Resposta pessoal. Sugestão: São as leis da natureza, que se impõem sobre todos os seres, como o desgaste das rochas, a passagem do tempo e a morte dos seres vivos.

b)   A que se refere a oração adjetivaque tens instintos gerais e sentes só o que sentes”?

Refere-se ao gato.

c)   O que essa oração esclarece sobre o elemento a que se refere?

Significa que o gato age como qualquer outro gato; suas ações são instintivas; ele não pensa no que é.

5 – Releia a última estrofe do poema e, abaixo as acepções para o termo “nada”, retiradas de um dicionário.

nada – pr.indef.

1.Coisa nenhuma [...] adv.

2.De modo nenhum [...] sm.

3.O não existente, a não existência, o vazio [...]

4.Ser ou coisa insignificante [...]

a) Em sua opinião, a palavra “nada” empregada no poema corresponde a algo mencionado em outros versos? Justifique sua resposta.

O “nada” citado na última estrofe recupera a ideia de viver sem pensar que se vive, presente nos versos “porque nem sorte se chama” e “sentes só o que sentes”, e não corresponde às acepções apresentadas.

b) Podemos afirmar que o eu lírico é feliz como o gato? Justifique.

Não. O eu lírico se observa, reflete sobre si mesmo (“Eu vejo-me”), não se encontra e não se reconhece.

 6. Assinale a alternativa mais adequada ao sentido do poema.


a) O eu lírico inveja a sorte do gato, porque este tem a felicidade de uma vida segura, ao passo que ele, eu lírico, está solitário e desamparado.
B) Entre o eu lírico e o gato há a distância devida a que este se situa do lado de uma generalidade despreocupada, enquanto aquele vive uma individualidade consciente e problemática.
c) O gato é feliz porque brinca despreocupado de sua própria sorte; o eu lírico é infeliz porque não se adapta a sua situação.
d) O gato tem a felicidade instintiva; o eu lírico, a angústia das sensações e das ideias incertas, em razão de excessivo intelectualismo.
e) O gato não é nada, mas é feliz porque se conforma às “leis fatais”; o eu lírico (o homem), que se revolta contra essas leis, vive torturado pela solidão e pela incerteza.