Crônica: Cada Um por Si
Walcyr Carrasco
QUANDO APRENDI A DIRIGIR, ouvi o conselho.
—- Fique na pista da direita, até ter segurança
no volante. Bem que tentei. Preferia
dirigir devagar, sem atrapalhar o trânsito. Mas a pista da direita era, e
continua sendo, uma tortura. Já perdi a conta do número de vezes que fiquei
parado atrás de um ônibus ou van.
Passageiros sobem e. descem, eu espero. Às
vezes, misteriosamente, o ônibus liga o pisca-alerta. Fica imóvel. Boto a seta
à esquerda, pedindo passagem. Alguém deixa entrar? Respondo: jamais! Aceleram!
Se boto o braço para fora implorando compaixão, corro o risco de que me levem o
cotovelo! E carros que subitamente estacionam na pista da direita para alguém
descer? Outro dia, em plena avenida Água Espraiada, tive de ficar esperando uns
dez minutos! A mulher ainda bateu um papinho e depois desembarcou. Ao sair, me
encarou! Simplesmente, eu me senti um paspalho.
Tem mais: motos costumam cortar pela direita. E
preciso tomar mais cuidado com quem está à direita do que à esquerda.
Motoqueiros e motoristas agem como se fosse uma pista de ultrapassagem rápida.
Cortam subitamente minha frente! Pior: quando tento ir calmamente pela direita,
sempre alguém encosta e me força a ganhar velocidade. Sem falar nos carrinhos
de sucata, lentíssimos, ou nas bicicletas que surgem inesperadamente na
contramão. Tudo à direita! Não entendo! Quem quer ir devagar, na pista de baixa
velocidade, passa por mais riscos e contratempos do que os apressadinhos!
Pedestres jamais respeitam mãos de direção.
Gostam de ocupar o espaço todo. Outro dia, no shopping, eu tinha pressa para
chegar a um encontro. Três pessoas andavam calmamente na minha frente, sem
deixar passagem em nenhum dos lados. Se eu tentava ultrapassar, mexiam-se como
ondas, cortando minha passagem. Um amigo foi passear na praça Buenos Aires.
Três mulheres iam à frente, bem devagar, conversando. Tentou se esgueirar pelo
muro. Só dando cotoveladas. Acabou descendo para a rua e andou no meio dos
carros para ultrapassar os pedestres. Tudo bem, elas têm o direito, de passear.
Mas é justo ocupar a calçada inteira?
O metrô é terrível. Muitas vezes, quem está
entrando não quer deixar os outros sair. O correto é esperar todo mundo
desembarcar. Nas estações mais tumultuadas, é uma guerra. Um grupo se atira
sobre o outro. Engalfinham-se. É um sufoco. Já me aconteceu de não conseguir
descer na estação!
Em elevador, nem se fala. Entro. Dois
passageiros vêm logo atrás e ficam bem na porta. Só que vão para o último
andar.
Quando chega minha vez de descer, tenho de
gritar:
—
Um momento.
Mergulho entre braços e pernas, até ser
expelido para fora. Por cortesia, quem vai para os andares mais altos deveria
ir para o fundo. Mas não. Como se ficando na frente chegassem mais depressa!
Sem falar em avião! Na ponte aérea para o Rio
de Janeiro, que uso sempre, os lugares são marcados. Que adianta? Basta o aviso
de embarque para os passageiros correrem como uma manada selvagem. Já vi gente
com criança esperando para evitar atropelos. O desembarque é ainda pior.
Ultimamente, faço questão de viajar na janela. Não só por conta da paisagem.
Mas para não ser obrigado a me levantar e ficar parado no corredor do avião!
Basta a aeronave parar.
Todo mundo se ergue, pega as malas e fica se
espremendo à espera de que as portas sejam abertas!
Não seria mais fácil dar espaço, cumprir as leis do trânsito? Enfim, viver em sociedade? Por mim, continuo na pista da direita. Posso ficar atrás de ônibus. Mas sofro menos estresse.
Entendendo o texto
01. Qual é
o conselho recebido pelo autor quando aprendeu a dirigir e qual a sua tentativa
de segui-lo?
O autor recebeu o conselho de “ficar na pista da direita até ter
segurança no volante.” Sua tentativa foi dirigir devagar na pista da direita
para não atrapalhar o trânsito.
02. Quais são os desafios e contratempos enfrentados
pelo autor ao permanecer na pista da direita?
O autor enfrenta problemas como ficar parado atrás de ônibus, lidar com motos que cortam pela direita, carros que forçam maior velocidade, carrinhos de sucata lentos, bicicletas na contramão, e pedestres que ocupam todo o espaço da calçada.
03. Como o autor descreve a atitude de motos em relação
à pista da direita?
O autor menciona que motos costumam cortar pela direita, agindo como se
fosse uma pista de ultrapassagem rápida, e destaca a necessidade de tomar mais
cuidado com quem está à direita do que à esquerda.
04. Quais são os desafios enfrentados pelo autor no
metrô e como ele descreve a situação nas estações mais tumultuadas?
No metrô, o autor menciona que muitas vezes as pessoas que estão
entrando não querem deixar os outros sair. Nas estações mais tumultuadas,
descreve uma situação de guerra, onde grupos se atiram uns sobre os outros,
tornando difícil desembarcar.
05. Como o autor descreve a situação em elevadores e
qual é a sua experiência ao descer?
O autor descreve que, ao entrar no elevador, outros passageiros ficam na
porta, mesmo indo para andares mais altos. Ao descer, precisa gritar para
conseguir espaço e sair, sendo expelido para fora.
06. Qual é a crítica do autor em relação ao
comportamento dos passageiros em aviões, especialmente na ponte aérea para o
Rio de Janeiro?
O autor critica o comportamento dos passageiros que, mesmo com lugares
marcados, correm como uma manada selvagem assim que é anunciado o embarque, e a
situação piora no desembarque, com todos se levantando antes mesmo das portas
se abrirem.
07. Por que o autor prefere permanecer na pista da
direita mesmo com os desafios que enfrenta?
O autor prefere permanecer na pista da
direita para evitar maior estresse, mesmo que tenha que ficar atrás de ônibus,
pois acredita que sofre menos estresse dessa maneira.
08. Como o autor descreve a atitude dos pedestres em
relação às mãos de direção e qual é o exemplo dado no shopping?
O autor menciona
que pedestres não respeitam as mãos de direção e descreve um exemplo no
shopping, onde três pessoas andavam lentamente na sua frente, sem deixar
passagem em nenhum dos lados.
09. Qual é o motivo pelo qual o autor faz questão de
viajar na janela em voos e qual é a situação no desembarque?
O autor prefere viajar na janela para evitar ter que se levantar e ficar
parado no corredor do avião. No desembarque, todos se levantam, pegam as malas,
e ficam se espremendo à espera de que as portas sejam abertas.
10. Qual é a crítica geral do autor em relação ao
comportamento no trânsito e na convivência social?
O autor critica a falta de cumprimento
das leis de trânsito, a falta de espaço e consideração, e questiona a
dificuldade de viver em sociedade, sugerindo que seria mais fácil se as pessoas
dessem espaço e cumprissem as regras do convívio social.
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