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quarta-feira, 3 de agosto de 2022

POEMA: GRITO NEGRO - JOSÉ CRAVEIRINHA - COM GABARITO

 Poema Grito negro

             José Craveirinha

Eu sou carvão!

E tu arrancas-me brutalmente do chão
E fazes-me tua mina.
Patrão!

 

Eu sou carvão!

E tu acendes-me, patrão
Para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não
Patrão!

 

Eu sou carvão!

E tenho que arder, sim
E queimar tudo com a força da minha combustão.

 

Eu sou carvão!

Tenho que arder na exploração
Arder até às cinzas da maldição
Arder vivo como alcatrão, meu Irmão
Até não ser mais tua mina
Patrão!

 

Eu sou carvão!

Tenho que arder
E queimar tudo com o fogo da minha combustão.

 

Sim!
Eu serei o teu carvão

Patrão!

CRAVEIRINHA, José. Cela 1. Lisboa: Edições 70, 1980. p. 13-14.

                Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 195-6.

Entendendo o poema:

01 – A quem o eu lírico se dirige?

      Ao patrão, ao colonizador branco escravocrata.

02 – Para se identificar, o eu lírico usa a linguagem figurada: Eu sou carvão!. No caderno, explique o uso desse recurso nos seguintes versos:

a)   Eu sou carvão!

         E tu arrancas-me brutalmente do chão
         E fazes-me tua mina.
         Patrão!

         Eu sou carvão! [...]

         O eu lírico identifica como carvão por causa da cor negra de sua pele e por que este é um mineral gerador de energia, extraído de minas, no subsolo da terra. O eu lírico tem consciência de que a energia de seu trabalho serviu e enriqueceu o patrão.

b)   [...] mas eternamente não

          Patrão!

         

          Eu sou carvão!

          E tenho que arder, sim
          E queimar tudo com a força da minha combustão.

 

          Eu sou carvão!

          Tenho que arder na exploração
          Arder até às cinzas da maldição
          Arder vivo como alcatrão, meu Irmão
          Até não ser mais tua mina
          Patrão!

          O eu lírico recusa-se a continuar sendo o combustível da exploração do patrão. Assim, ao extinguir-se, arder e queimar tudo – inclusive as posses, as minas do patrão – rompe com a dominação; assume sua liberdade e identidade.

03 – A quem o eu lírico se dirige?

      A tomada de consciência do povo negro do processo de escravatura e a decisão de construir ativamente a sua liberdade.

04 – Da segunda metade do século XX aos dias de hoje, quais seriam os representantes da poesia lusófona africana contemporânea? Faça uma pesquisa e responda.

      Resposta pessoal do aluno.

05 – Que características formais e temáticas ela teria?

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Qual seria o tema de um poema com o título “Grito negro”?

      Resposta pessoal do aluno.

07 – Você já leu ou ouviu algum poema do poeta moçambicano José Craveirinha? Qual(is)?

      Resposta pessoal do aluno.

 

sábado, 8 de maio de 2021

POEMA: GRITO NEGRO - JOSÉ CRAVEIRINHA - COM GABARITO

 POEMA: GRITO NEGRO


  José Craveirinha

 

Eu sou carvão!

E tu arrancas-me brutalmente do chão

e fazes-me tua mina, patrão.

Eu sou carvão!

e tu acendes-me, patrão

para te servir eternamente como força motriz

mas eternamente não, patrão.

Eu sou carvão

e tenho que arder, sim

e queimar tudo com a força da minha combustão.

Eu sou carvão

tenho que arder na exploração

arder até às cinzas da maldição

arder vivo como alcatrão, meu irmão

até não ser mais a tua mina, patrão.

Eu sou carvão

Tenho que arder

queimar tudo com o fogo da minha combustão.

Sim!

Eu serei o teu carvão, patrão!

(In: Mário de Andrade, org. Antologia temática de poesia africana.

3. ed. Lisboa: Instituto Cabo-Verdeano do Livro, 1980. v. 1. p. 180.).

Fonte: Livro- Português: Linguagem, 1/ William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 11.ed – São Paulo: Saraiva, 2016, p.19/20.

 

GLOSSÁRIO

alcatrão: um dos componentes do carvão.

motriz: que se move ou faz mover alguma coisa

 Entendendo o texto

1. O texto lido é um poema, um dos vários gêneros literários. Nos poemas, é comum o eu lírico expor seus sentimentos e pensamentos.

a) Qual é o tema do poema lido?

É a relação de exploração que há entre o patrão e o eu lírico, supostamente seu escravo ou empregado.

 b) O que predomina nesse poema: aspectos individuais ou sociais?

 Resposta pessoal. Espera-se que os alunos percebam que, além da relação social, a mais evidente, há também a exposição dos sentimentos do eu lírico.

2. Os poemas geralmente utilizam uma linguagem plurissignificativa, isto é, uma linguagem figurada, em que as palavras apresentam mais de um sentido. O eu lírico do poema lido, por exemplo, chama a si mesmo de carvão. Que sentidos têm as palavras carvão e mina no contexto?

 O carvão representa a força de trabalho do negro (“a força motriz”) e a mina representa o próprio negro, ou seja, o lugar de onde o patrão extrai sua riqueza. Logo, carvão e mina representam a exploração do homem pelo homem, ou a exploração do homem negro pelo homem branco.

 3.Para o patrão, o eu lírico é carvão, pois é a força motriz do  trabalho e da produção. O eu lírico aceita sua condição de “carvão”, mas com um sentido diferente do que tem para o patrão. Releia os versos finais do poema e interprete o último verso.

“Eu sou carvão

Tenho que arder

queimar tudo com o fogo da minha

[combustão.

Sim!

Eu serei o teu carvão, patrão!”

 Resposta pessoal. Sugestão: Embora o eu lírico afirme que é carvão, não pretende continuar sendo o combustível da exploração do patrão, e sim “queimar tudo”, isto é, destruir a própria figura do patrão, que representa a exploração..

 4.O poema de Craveirinha, além de expressar os sentimentos e as ideias do eu lírico, é também uma recriação da realidade. Por meio dessa recriação o poeta denuncia as condições de vida a que eram submetidos os negros em Moçambique antes do processo de independência. Na sua opinião, a literatura pode contribuir para transformar a realidade concreta? Explique

Resposta pessoal.

Espera-se que os alunos respondam que sim, pois, denunciando os problemas da realidade, a literatura sensibiliza as pessoas, preparando-as e estimulando-as para as mudanças sociais.

 5.O escritor e educador Rubem Alves afirma que o escritor “escreve para produzir prazer”. Em sua opinião, a literatura proporciona prazer ao ser humano, mesmo quando trata de problemas sociais, como ocorre no poema de Craveirinha? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal. Espera-se que os alunos respondam que sim, pois, mesmo quando trata de problemas sociais, a literatura é capaz de provocar emoções e reflexões no ser humano.

 

 

segunda-feira, 11 de março de 2019

POEMA: CANTIGA DO NEGRO DO BATELÃO - JOSÉ CRAVEIRINHA - COM GABARITO

Poema: CANTIGA DO NEGRO DO BATELÃO
     
                            José Craveirinha

Se me visses morrer
Os milhões de vezes que nasci...
Se me visses chorar
Os milhões de vezes que te riste...
Se me visses gritar
Os milhões de vezes que me calei
Se me visses cantar
Os milhões de vezes que morri
E sangrei
Digo-te, irmão europeu
Também tu
Havias de nascer
Havias de chorar
Havias de cantar


Havias de gritar
Havias de morrer
E sangrar...
Milhões de vezes como eu

VOCABULÁRIO:
Batelão – tipo de embarcação.
Disponível em:


Entendendo o poema:
01 – Como o poeta alcança a música do poema, assemelhando a uma prece?
      Através duma cadência de repetitivos e numa larga utilização de contrastes, como forma de fazer ressaltar, com maior brutalidade, o sentido dos versos.

02 – O poeta constrói ou reconstrói a realidade em seus versos e o filósofo, ao ser “tocado” pela poesia, é chamado a refletir sobre ela. A primeira condição ou primeira virtude para o filosofar é:
a)   Problematizar.
b)   Questionar.
c)   Persuadir.
d)   Teorizar.
e)   Admirar.

03 – No poema de José Craveirinha, O eu lírico dirige-se a um interlocutor.
a)   Quem é o interlocutor? Identifique-o.
Ele invoca obsessivamente a mãe negra: nela, ou nos antepassados mais remotos em que ela entronca, vai o poeta achar a mais íntima justificação, uma natureza eminentemente africana.

b)   Agora que você já sabe como foi a luta pela liberdade no período colonialista, por que o eu lírico sofre tanto?
Ao escancarar os olhos sobre a vida dos negros, ele enche a retina da dor de que é feito o destino dos seus irmãos de raça, homens duma mesma terra, arrastando as suas privações, as suas carências, a sua indizível miséria num mundo desumanizado que os desumaniza também.

04 – Observe no poema as repetições no início das palavras. Que nome se dá a esse recurso estilístico?
      Anáfora.

05 – O emprego das reticências no final dos 2º,4º e 17º versos o que representam?
      Tanto no 2°, 4° e 17° versos, foi usada a reticência para indicar continuidade de uma ação ou fato.     

06 – No verso “Os milhões de vezes que morri”, qual é a figura de linguagem em destaque?
      A figura é Hipérbole – exagero da significação.