Carta de Pero Vaz.
Murilo Mendes faz, neste poema, uma crítica
aos interesses envolvidos no processo de colonização do Brasil.
A terra é mui graciosa,
Tão fértil eu nuca vi.
A gente vai passear,
No chão espeta um caniço,
No dia seguinte nasce
Bengala de castão de oiro.
Tem goiabas, melancias,
Banana que nem chuchu.
Quanto aos bichos, tem-nos
muitos.
De plumagens mui vistosas.
Tem macacos até demais.
Diamantes tem à vontade,
Esmeralda é para os trouxas.
Reforçai, Senhor, a arca.
Cruzados não faltarão,
Vossa perna encanareis,
Salvo o devido respeito.
Ficarei muito saudoso
Se for embora d’aqui.
Mendes, Murilo. História
do Brasil. In: Poesia completa
& prosa. Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 145.
By
Maria da Saudade Cortesão Mendes.
Interpretação do texto:
01 – Murilo Mendes é um
poeta modernista que, no século XX, faz uma releitura do texto que é
considerado a “certidão de nascimento” do Brasil. Quem é o eu lírico do poema e
a quem se dirige?
Murilo Mendes faz uma “paródia” da Carta
de Pero Vaz de Caminha, como diz o título. Portanto, o eu lírico do poema é o
próprio Pero Vaz, que se dirige ao rei de Portugal, a quem informa sobre o que
encontrou na terra recém descoberta.
a)
Quais são os elementos da terra descoberta
destacados pelo o eu lírico?
O eu lírico ressalta a beleza da terra e suas riquezas: a terra é
fértil, há frutas exóticas, os animais são muitos e têm penas vistosa, há ouro
e pedras preciosas.
b)
A maneira como o eu lírico apresenta as
“riquezas” do Brasil revela uma intenção crítica do autor. Explique como isso é
feito.
A intensão crítica do autor se revela no modo irônico como o eu
lírico apresenta algumas das riquezas do Brasil. Ele descreve, de modo
exagerado e irreal, a enorme fertilidade e a riqueza da terra descoberta: um
caniço espetado no chão transforma-se, imediatamente, em bengala com castão de
ouro; há tantas pedras preciosas disponíveis, que as esmeraldas podem ser ignoradas,
porque “diamantes tem à vontade.”
02 – O que significam os
versos “Reforçai, senhor, a arca. / Cruzados não faltarão”?
Os versos indicam as riquezas que poderão
ser extraídas do Brasil e enviadas a Portugal. Como muito poderá ser explorado,
o eu lírico diz ao rei (“Senhor”) que reforce a “arca” para que possa guardar
os “cruzados” que lucrará com a descoberta da nova terra.
a)
Qual é a crítica de Murilo Mendes nesse
versos? Explique.
Murilo Mendes está fazendo uma crítica aos interesses portugueses
durante o processo de colonização: a extração e exploração das riquezas do
Brasil.