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quarta-feira, 23 de novembro de 2022

CRÔNICA: (TRECHO RETIRADO DO LIVRO: O XANGÔ DE BAKER STREET) - JÔ SOARES - COM GABARITO

 CRÔNICA: (TRECHO RETIRADO DO LIVRO O XANGÔ DE BAKER STREET)

                     Jô Soares

          O detetive puxou do bolso a lupa e aproximou-se da calçada enegrecida pelas manchas de sangue. Quando baixou-se para ver melhor aquela área, sentiu a cabeça girar e a lente quase escapou-lhe das mãos. Teve de apoiar ao muro para não cair. Mello Pimenta, Saraiva e Watson correram para ajudá-lo:

        - O que houve, meu velho? - perguntou Watson, preocupado.

        - Nada, apenas uma pequena vertigem - respondeu Holmes, recuperando se. Depois, traduziu para Pimenta e Saraiva: - Fiquei tonto. Acho que ontem abusei das ervas que uma amiga me deu. Não sei se conhecem, são cigarros índios. Ótimos, por sinal, só que eu fumei demais.

       - Ah, vejo que o senhor Sherlock Holmes experimentou o nosso pango - disse o experiente Saraiva.

       - Pango? - perguntou Sherlock.

       Exatamente. É como os negros chamam a cannabis. Havia, inclusive, um lindo canteiro delas cultivado atrás da cozinha do palácio de Sua Majestade em São Cristóvão.

        Mello Pimenta, preocupado com o repentino mal-estar do detetive, pegou o pelo braço para afastá-lo dali.

        - Senhor Holmes, posso garantir-lhe que aqui não há nada que nos interesse. É melhor o senhor voltar para o hotel com o doutor Watson, enquanto sigo com o Saraiva até o Instituto Médico Legal, para acompanhar a autópsia.

       - De maneira alguma. O doutor Watson e eu fazemos questão de observar esta necropsia. Afinal, oito olhos enxergam melhor do que quatro.

         - Oito não, sete.

         - Como assim?

         - O Saraiva é cego de um olho - explicou Mello Pimenta, revelando este detalhe desconhecido da anatomia do professor.

         - Uma lembrança que eu trago das batalhas do Paraguai - explicou, constrangido, o doutor Saraiva.

         - Não sabia que o senhor era um herói de guerra - disse Holmes, comovidamente. - Foi numa luta corpo a corpo?

         - Não, uma infecção. Cocei o olho com a mão suja - explicou, sem pudor, o médico-legista.

         - Seja como for, gostaria de acompanhá-los. Essa tontura é passageira - garantiu o detetive.

        Saraiva, que entendia de ressacas como poucos, deu a receita:

        - Se me permite, senhor Holmes, o melhor remédio para esta sensação matutina é uma boa cachaça.

        - Cachaça? Que raios de estupor é este?

        - É uma aguardente feita com cana-de-açúcar. Uma bebida muito suave, deliciosa. Basta uma dose para o senhor se recuperar completamente. Aliás, vou acompanhá-lo. Também estou me sentindo um pouco fraco esta manhã.

        - Saraiva, não sei se é aconselhável dar cachaça ao senhor Holmes a esta hora - adiantou Mello Pimenta, com prudência.

        - Bobagem, meu caro Mello Pimenta. Tenho certeza de que este santo remédio deixará o nosso amigo inglês novo em folha - assegurou o médico.

        Os quatro se dirigiram a um botequim na esquina da rua Riachuelo. Saraiva, com invejável expertice etílica, encomendou duas doses da melhor aguardente da casa e entornou o seu copo num gole preciso. Quando o doutor Watson viu o líquido transparente que exalava um fortíssimo cheiro de álcool, indagou o que vinha a ser aquela bebida.

        - Nada de mais, Watson, apenas uma aguardente feita com cana-de-açúcar. O professor Saraiva assegura que possui excelentes resultados curativos - traduziu Sherlock para o amigo.

        - Não sei, Holmes, pelo cheiro, parece-me algo fortíssimo. Talvez seja conveniente não bebê-la pura - aconselhou.

         - Que faço, então? Ponho um pouco de água?

         - Acho que um sumo de fruta seria melhor. Laranja ou limão. São ótimos remédios. Já conhecemos, inclusive, suas comprovadas propriedades contra o escorbuto.

          Sherlock virou-se para o dono do botequim:

          - Meu amigo aqui está sugerindo que eu coloque um pouco de sumo de laranja ou limão na bebida. Por acaso o senhor tem alguma dessas frutas?

          - Tenho limões - respondeu, intrigado, o proprietário, sem tirar os olhos do chapéu e das sandálias nordestinas que o doutor ainda calçava.

          Watson completou:

          - Talvez também seja bom adicionar um pouco de gelo e açúcar, Holmes, para compensar a queima produzida pelo álcool.

          Sherlock Holmes transmitiu as exigências do doutor. O botiquineiro dirigiu se ao fim do balcão e ordenou que o seu empregado trouxesse o pedido. Watson cortou o limão em quatro e depositou dois pedaços no copo junto com o açúcar. Depois, pôs-se a amassar as fatias com uma colher, enquanto dizia:

           - Por via das dúvidas, é melhor colocar os gomos inteiros e espremer.

          Quando terminou aquela operação, acrescentou uns pedaços de gelo e entregou a curiosa poção ao detetive:

          - Pronto, Holmes, agora acho que você pode beber sem correr perigo.

          No fundo do bar, o empregado e o dono do botequim olhavam, fascinados. O jovem balconista perguntou:

          - Patrão, que língua eles estão falando?

          - Sei lá. Pra mim ou é latim ou é coisa do demo.

          - E que mixórdia é aquela que eles estão fazendo?

          - Não sei, uma invenção daquele caipira ali - disse, apontando para o chapéu de vaqueiro de Watson.

         - Qual deles, o grandão? - perguntou o rapaz, indicando Sherlock Holmes, todo de branco.

          - Não, o caipira grande está só bebendo. Quem preparou foi o menorzinho, o caipirinha - respondeu o proprietário, batizando assim, para sempre, a exótica mistura.

https://intranet.policiamilitar.mg.gov.br/conteudoportal/uploadFCK/crs/File/provas_anteriores/CFO/prova_2006.pdf

Entendendo o texto

01.  Em relação ao uso dos cigarros índios, segundo se percebe no texto, é CORRETO afirmar que:

a)  seu uso era comum na época, não sendo vistos como algo ilegal.

b)  a polícia fazia “vista grossa” ao seu uso, mas já se iniciava uma proibição.

c) eram vistos não só como drogas, mas também como um cigarro diferente dos outros, exóticos.

d)  havia certa discriminação, pois eram, na maioria das vezes, consumidos por índios e negros.

02. - Cachaça? Que raios de estupor é este? A palavra “estupor” está sendo retomada ou explicada, metaforicamente, pela frase:

a) Basta uma dose para o senhor se recuperar completamente.

b)  - Nada de mais, Watson, apenas uma aguardente feita com cana-de-açúcar.

c)  É uma aguardente feita com cana-de-açúcar.

d) Se me permite, senhor Holmes, o melhor remédio para esta sensação matutina é uma boa cachaça.

03.  - Não, uma infecção. Cocei o olho com a mão suja - explicou, sem pudor, o médico-legista. Saraiva explicou, sem pudor, porque:

a)  da forma com que Mello Pimenta se referiu ao amigo, parecia que ele, sem um olho, não era competente para o cargo que exercia.

b)  diante da interrogação de Holmes, esperava-se a confirmação do fato e não simples falta de higiene, que ele confirmou sem sentir vergonha.

c)  quando Holmes falou em “herói de guerra”, Saraiva se sentiu lisonjeado, mas demonstrou sua humildade e respeito.

d) ficou sem jeito de mentir, pois Mello Pimenta conhecia a história e poderia desmenti-lo, o que causaria constrangimento ao colega.

 

 

 

quinta-feira, 14 de abril de 2022

DIÁLOGOS: PERGUNTAS IDIOTAS - JÔ SOARES - COM GABARITO

 Diálogos: Perguntas idiotas

               Jô Soares

Maître (ao freguês que chega)  É pra jantar?

Freguês – Não, é pra jogar tênis. [Pausa] Tem raquete? Não?! Então a gente aproveita e janta.

 

Garçom (para o casal que senta à mesa)  É pra dois?

Homem – Não, eu vou comer e ela só vai ficar assistindo.

 

Mulher (ao marido chegando em casa todo molhado)  Está chovendo?

Marido – Não, é que todo mundo na rua resolveu cuspir em mim.

 

Amigo 1 (encontrando outro na rua)  Cortou o cabelo?

Amigo 2 – Não, caiu.

 

Repórter de TV (para senhora subindo escadaria da igreja de joelhos)  Pagando promessa?

Senhora – Não, é que eu sou muito alta, então eu ando assim pra não chamar a atenção.

 

Dona de Casa (abrindo a porta para o convidado) – Oi, você veio?

Convidado – Não, não sou eu não, é outro.

 

Namorada (recebendo flores)  São flores?

Namorado – Não, são cenouras.

 

Ascensorista (no térreo, para hóspede que chega)  Sobe?

Hóspede – Não, eu quero só ficar dentro do elevador parado.

 

Senhora (ao ver um senhor acendendo um charuto)  O senhor fuma charuto?

Senhor – Não, senhora, é que eu estou treinando pra pai-de-santo.

Veja.

Fonte: Livro – PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 5ª Série – 2ª edição - Atual Editora – 2002 – p. 34-5.

Entendendo os diálogos:

01 – O texto de Jô Soares retrata vários diálogos, isto é, uma situação em que uma pessoa faz uma pergunta e a outra responde. Por que o título do texto é “Perguntas idiotas”?

      Porque são perguntas óbvias e desnecessárias, cujas respostas já se conhecem.

02 – Releia a conversa entre o ascensorista e o hóspede. Considere a situação: são duas pessoas que não se conhecem, num hotel; o elevador está parado no térreo.

a)   Por que você acha que o ascensorista perguntou “Sobe”? ao hóspede?

Resposta pessoal do aluno. Talvez essa fosse uma forma de fazer contato, ou uma forma indireta de perguntar a qual andar o hóspede pretendia ir. É possível também que o prédio tivesse um subsolo, o que tornaria coerente a pergunta do ascensorista.

b)   Que outra pergunta o ascensorista poderia fazer ao hóspede naquela situação?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Qual o andar?

03 – Observe agora a conversa entre a namorada e o namorado. Ela, surpresa com o presente, faz uma pergunta óbvia (“São flores”?), mas sua finalidade certamente era outra.

a)   Que outra frase poderia expressar o que ela sentiu e desejou comunicar naquele momento?

Espera-se um agradecimento ou um comentário que revele a emoção da moça. Algo como: “Muito obrigada!”; “Puxa, fiquei emocionada!”; “Que flores lindas!”; etc.

b)   Depois de receber a resposta do namorado, o que você acha que ela diria na sequência?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Provavelmente, algo como “Puxa! Como você é mal-educado!”.

 

 

quarta-feira, 15 de julho de 2020

CRÔNICA: BALADA DO APOSENTADO - JÔ SOARES - COM GABARITO

Crônica: Balada do aposentado

  Jô Soares

 

Depois de trabalhar toda uma vida

E descontar por mês do seu salário,

Ao ver aquela soma recolhida,

Saindo do seu bolso para o erário,

Reflete o brasileiro conformado:

“No fundo esse dinheiro volta um dia,

Isso é pra quando eu for aposentado”.

Mas saibam da verdade nua e fria:

 

Hoje, não há mais quem se aposente

Como se aposentava antigamente.

 

Por onde andam os bancos de praça

Onde os velhinhos contavam vantagem?

Já perderam de vez a sua graça,

Viraram camas para a vadiagem.

 

Se agora vai à rua o aposentado

E escapa aos golpes de uma patinete,

Acaba seu passeio, injuriado,

Sendo assaltado por algum pivete.

 

Hoje, não há mais quem se aposente

Como se aposentava antigamente.

 

Onde andarão as mesas das esquinas

Tão frequentadas por nossos avós,

Que, enquanto olhavam pernas das meninas,

Jogavam damas, cartas, dominós?

Viraram bocas de fumo, e o bondoso

Senhor que ali ficar na contramão,

Além de ser carente e bem idoso,

Ainda leva fama de doidão.

 

Hoje, não há mais que se aposente

Como se aposentava antigamente.

 

E as praias em que a areia, o sol e o sal,

Num mágico e perfeito sintetismo,

Curavam de uma forma natural

Lumbago, asma, tosse, reumatismo?

Agora, ao frequentar um balneário,

Corre risco de vida o ancião:

Lá vai ao longe o afoito octogenário

Levado pela turba do arrastão.

 

Hoje, não há mais quem se aposente

Como se aposentava antigamente.

 

E quando além de tudo ele ainda pensa

Que a aposentadoria é uma benesse,

Descobre em sobressalto pela imprensa

Que vai ter que brigar com o INSS,

Pois quando tudo indica que é direito

Os cento e quarenta e sete por cento,

Lhe dizem logo na raça e no peito

Que nunca ele verá tamanho aumento.

 

Hoje, não há mais quem se aposente

Como se aposentava antigamente.

 

É certo que ministro, funcionário,

Deputado com oito anos de plenário,

Senador ou chefes de secretaria

Têm outro tipo de aposentadoria,

Que vai ser paga, é claro, com o dinheiro

Do pobre aposentado verdadeiro.

 

São os únicos, não há dúvida, minha gente,

Que se aposentam igualzinho a antigamente.

 Jô Soares em revista Veja, de 29.04.1992.

                        Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 130/1.

Entendendo a crônica:

01 – O que pensa cada trabalhador ao ter, ao final de todo mês, no seu pagamento, uma quantia descontada com a função de um retorno no período da aposentadoria?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Por que Jô Soares diz que hoje não mais se aposenta como se aposentava antigamente? Procure saber e comentar.

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Quando o homem e a mulher brasileiros podem aposentar-se no Brasil? Informe-se e comente.

      Resposta pessoal do aluno.

04 – Como viviam e por onde viviam os aposentados de antigamente? Eles era felizes? Conclua pelo texto.

      Resposta pessoal do aluno.

05 – O que acontece com os aposentados hoje, no Brasil? Como funciona o pagamento? Por que há diferenças no recebimento? Pesquise e responda.

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Jô Soares termina a balada melancólica com uma crítica. Qual é ela? Comente-a.

      Resposta pessoal do aluno.

 


quinta-feira, 9 de abril de 2020

TEXTO: CUIDADO COM O ASSÉDIO SEXUAL - JÔ SOARES - COM GABARITO

Texto: Cuidado com o assédio sexual
       
             Jô Soares

        Deu no jornal: 500 mulheres vão à justiça nos Estados Unidos contra a empresa Mitsubishi por assédio sexual. É o maior processo do gênero. (...).
        Viro para a página de esportes e lá está o campeão Mike Tyson, também acusado de assédio. Não de 500 mulheres, o que seria difícil mesmo para o campeão, mas de uma moça só, que se diz muito abalada pelos ferimentos que sofreu. (...) Há quem diga que foi uma mordida, outros garantem que foi beliscão. Diga-se de passagem que um beliscão dele equivale a atropelamento.
        A mim parece muito difícil que Tyson, depois de tudo por que passou, tenha se envolvido em mais essa. (...).
        De qualquer forma, não quero duvidar da queixosa. Por ter sido assédio e pode ser que não. O que é assédio para uns é galanteio para outros. Depois, quem sabe ao certo como definir o assédio sexual? Para aqueles que não estão muito bem informados sobre o assunto, aqui vão algumas dicas preciosas:
        O que é o assédio sexual?
        Aperto de mão por mais de dez segundos – Pode ser considerado assédio, sobretudo se o apertador de mão ficar olhando fixamente a vítima. (...).
        Mexer as sobrancelhas várias para cima e indicar o seu carro estacionado bem em frente – Assédio certo. Principalmente quando o sobrancelheiro em questão tem o hábito de ficar rodando as chaves do automóvel nos seus dedos. (...).
        Pedir para dar uma voltinha com o cachorro da vizinha – Já foi considerado uma abordagem original em 1648. Hoje em dia é assédio. Se a dona do animal for casada e o marido ouvir, ele pode obrigar o assediador a passear sozinho com o cão durante várias horas, até de madrugada, sob a mira de uma espingarda calibre 12.
        Assédio sexual específico do Mike Tyson – Qualquer coisa que ele faça é considerada assédio. Se ele respirar perto de alguém, homem ou mulher, não importa a idade, esse simples ato natural será imediatamente qualificado de fungada no pescoço.
                Jô Soares, in revista Veja, 24 abr. 1996.
                                    Fonte: Livro – Oficina de Redação – Leila Lauar Sarmento, 7ª Série. Editora Moderna, 1ª edição,1998. p. 115-7.
Entendendo o texto:

01 – Por que o autor, já no título, nos alerta quanto ao assédio sexual?
      Por ser muito difícil caracterizar, claramente, o que é assédio sexual.

02 – Segundo o texto, as mulheres são as maiores vítimas de assédio sexual. Como se explica esse fato?
      As mulheres são consideradas o sexo frágil e por isso são o alvo de tantas brincadeiras e atitudes, contra os quais, às vezes, elas não conseguem reagir.

03 – Mike Tyson é um dos mais famosos pugilistas mundiais, detentor do título de campeão, até bem pouco tempo, na categoria dos peso-pesados. Tyson esteve envolvido em vários escândalos, dentre eles o de assédio sexual de que nos fala Jô Soares. Por que, nesse caso, o autor não se mostra muito convencido da culpa de Tyson?
      Tyson foi muito perseguido pela imprensa devido a seu passado de violência. Há pessoas que se aproveitam dessa situação; o autor, sabendo disso, procura se manter cauteloso.

04 – Releia este trecho: “Depois, quem sabe ao certo como definir o assédio sexual?” Você saberia dizer o que é o assédio sexual? Defina-o com clareza.
      Resposta pessoal do aluno.

05 – Dentre as “dicas preciosas” sugeridas pelo autor, qual lhe pareceu um verdadeiro assédio? Justifique a sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

06 – Afinal, qual é a opinião de Jô Soares sobre a questão do assédio sexual?
      O autor deixa perceber que há situações bastante complicadas que envolvem o assédio sexual. Nesses casos, torna-se quase impossível determinar se houve ou não assédio.

07 – Por que qualquer atitude de Mike Tyson é considerada suspeita, de acordo com o autor?
      Como o lutador é muito grande e forte, qualquer gesto de Tyson pode ofender ou revelar algum atrevimento.

08 – Você concorda com o ponto de vista de Jô Soares sobre a questão do assédio sexual? Esclareça a sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.



domingo, 23 de junho de 2019

TEXTO: RECEITA DE NEUROSE - JÔ SOARES - COM QUESTÕES

Texto: Receita de Neurose
        

   Jô Soares

        Pegam-se quatro idas à cidade todo dia, duas pitadas de monóxido de carbono em cada respirada, sem esquecer da buzinada no trânsito constante.
        Juntam-se um terno e uma gravata, para mulheres um vestido justo e um terninho num salto alto apertando os dedinhos, com 40 graus à sombra. E sem protetor solar. Xingam-se uns 3 motoristas, escutam-se uns seis xingamentos.
        Atravessa-se a avenida, sem correr, de lá pra cá, na hora do rush. Tropeça numa pedra ou enfia-se num buraco e reza pra não ter torcido o pé ou quebrado o salto. Nisso o celular toca, está no fundo da bolsa ou no bolso da calça e depois de ter feito tanto esforço para atender. Era engano ou alguém de casa ligando a cobrar perguntando-se vai demorar muito pra chegar!
        Espera-se uma condução durante duas horas e volta-se pra casa, de preferência em pé, no ônibus cheio. Ou numa Van pirata. Cheia de gente cansada, motorista e trocador estressados. Riocard não passa, o trocador não tem troco a roleta emperra. No corredor, que já não é mais um corredor de tanta agente amontoada, ficamos ali exprimidos pensando:
        -- Como vou sair daqui, pela janela? E sacode pra lá e pra cá, lugar pra sentar? Isso é artigo de luxo. De repente uma freada, pra descansar o sacolejo. Nem dá pra sentir é tanta gente que até amortece. Enfim, de volta ao lar.
        Depois, é só levar ao divã do analista, quatro vezes por semana, durante quinze anos!
        Mas isso se você ganhar na loteria, receber uma herança. Na pior das hipóteses, casar com milionário.
                                                                          Jô Soares
Entendendo o texto:

01 – Observe, no texto “Receita de neurose”, o uso dos verbos: pegam-se, juntam-se, xingam-se, escutam-se, atravessa-se, espera-se, volta-se

Responda:
a)   É possível determinar a quem os verbos se referem?
Não. Pode ser qualquer pessoa; não há determinação do sujeito.

b)   Com que objetivo foram empregadas essas formas verbais?
Para generalizar, isto é, para mostrar que qualquer pessoa pode passar por isso.

02 – Na sua opinião, por que o autor aborda as neuroses do dia-a-dia numa cidade grande em forma de receita?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Para conferir humor ao texto.

03 – Que “ingrediente” da receita você considera o maior causador de neurose no ser humano? Justifique.
      Resposta pessoal do aluno.

04 – Estabeleça possíveis consequências para as situações destacadas abaixo:
·        Estar de terno e gravata a 40 graus à sombra: sentir calor, mal-estar.

·        Esperar a condução em pé, durante duas horas: sentir cansaço, dor nas pernas.

·        Atravessar a rua na hora do rush: correr perigo de ser atropelado.

·  Ouvir constantemente o som da buzina no trânsito: sofrer problemas de audição, causar irritação.
     

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

TEXTO: DA DIFÍCIL ARTE DE REDIGIR UM TELEGRAMA - JÔ SOARES - COM GABARITO

TEXTO: DA DIFÍCIL ARTE DE REDIGIR UM TELEGRAMA
                 JÔ SOARES

          Há uma história famosa a respeito de uns parentes que tinham que comunicar por telegrama, a uma senhora que estava viajando, o falecimento de uma irmã. Regiu a nota. Depois de alguns minutos mostrou o resultado do seu trabalho: “INTERROMPA VIAGEM E VOLTE CORRENDO. TUA IRMÃ MORREU.” Todos leram e um dos tios fez o seguinte comentário:
– Eu acho que não está bom. Afinal de contas, vocês sabem que ela é cardíaca, está viajando e um telegrama assim pode ser um choque.
Todos concordaram, inclusive um outro primo afastado que era meio sovina e achou o telegrama muito longo:
– Depois, o preço que se paga por palavra, isso não é mais um telegrama, é um telegrana.
Ninguém riu do infame trocadilho, mesmo porque, velório não é lugar para gargalhadas. Foi a vez de o cunhado tentar redigir uma forma mais amena que não assustasse a senhora em passeio. Sentou-se e escreveu: “INTERROMPA VIAGEM E VOLTE CORRENDO. SUA IRMÃ PASSANDO MUITO MAL.” Novamente o telegrama não foi aprovado. Um irmão psicólogo observou:
– Não sejamos infantis. Se ela está viajando pela Europa e recebe esta notícia, não vai acreditar na história de “passando muito mal”. Sobretudo com “volte correndo” no meio.
– Também concordo – falou o primo afastado sempre pensando no custo. Então o genro aproximou-se:
– Acho que tenho a forma ideal.
Pegou no bloco e rabiscou rapidamente: “INTERROMPA VOAGEM E VOLTE DEVAGAR. TUA IRMÃ PASSANDO MAIS OU MENOS.” Todos examinaram atentamente o telegrama. A filha reclamou:
– Vocês acham que mamãe é boba? Se a gente escrever que a titia está passando mais ou menos e que ela pode voltar devagar, ela vai adivinhar que todas estas precauções são pelo fato de ela ser cardíaca e que na realidade a irmã dela morreu!
– Concordo plenamente – disse o facultativo da família que era também sobrinho da senhora em questão. Resolveu, como médico, escrever o telegrama: “PACIENTE FORA DE PERIGO. VOLTE ASSIM QUE PUDER. PACIENTE TUA IRMÔ.
De todas as fórmulas até então apresentadas esta foi a que causou mais revolta.
– Que troço imbecil – gritou o netinho que passava pela sala no momento em que a mensagem era lida. Puseram o menino para fora da sala, mas no íntimo a família concordava com ele.
– Não, isso não. Se a gente manda dizer que ela está fora de perigo, para que vamos pedir que ela interrompa a viagem? – argumentou o tio.
– Também acho – responderam todos num coro de aprovação. O filho mais velho resolveu tentar. Pensou bem, ponderou, sentou-se, molhou a ponta do lápis na língua e caprichou: “SE POSSÍVEL VOLTE. TUA IRMÃ SAUDOSA. PASSANDO QUASE MAL. POR FAVOR ACREDITE. CUIDADO CORAÇÃO. VENHA LOGO. SAUDADES SURPRESA”.
– Realmente, esse bate todos os recordes! – disse uma nora professora. Em primeiro lugar, não é “se possível”, ela tem que voltar mesmo. Em segundo lugar, “saudosa” tem duplo sentido. Em terceiro lugar, ninguém passa “quase mal”. Ou passa mal ou bem. “Quase mal” e “quase bem” é a mesma coisa. “Por favor acredite” é um insulto à família toda. Ninguém aqui é mentiroso. Depois, “cuidado coração” não fica claro. Como telegrama não tem vírgula, ela pode pensar que a gente está dizendo “cuidado, coração”, já que a palavra coração também é usada como uma forma carinhosa de chamar os outros. Por exemplo: “oi coração, tudo bem?” E finalmente a palavra “surpresa” no telegrama chega a ser um requinte de crueldade. Qual é a surpresa que ele pode esperar?
– Ela pode pensar que a titia está esperando nenê – falou um sobrinho.
– Aos noventa anos de idade?
Abandonaram a ideia rapidamente. Seguiu-se um longo período de silêncio em que a família andava de lá para cá, pensando numa solução. Pela primeira vez estavam se dando conta de que não era tão fácil assim mandar um telegrama. Serviu-se o costumeiro cafezinho, enquanto cada qual do seu lado procurava uma maneira de escrever para a senhora em viagem sem que isto tivesse consequências desastrosas. De repente o irmão psicólogo explodiu num grito eurekiano de descoberta:
– Achei!
Escreveu febrilmente no papel. O telegrama passou de mão em mão e foi finalmente aprovado por todo mundo. Seu texto dizia: “SIGA VIAGEM. DIVIRTA-SE. TUA IRMÃ ESTÁ ÓTIMA.”
(JÔ SOARES. O Globo. 26/10/1975)
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Baseado no texto acima resolva as questões que se seguem.
1. Relacione as colunas de acordo com o significado das palavras:
a. aquele que sofre do coração                    1.(    ) precauções
b. péssimo, detestável                                 2.(    ) trocadilho
c. cautela, prevenção                                  3.(    ) cardíaco
d. injúria, ofensa, ultraje                            4.(    ) infame
e. jogo de palavras de duplo sentido          5.(    ) insulto
2. Muitas palavras se associam por uma espécie de ligação de sentido, isto é, uma palavra pode sugerir uma série de outras que, embora não sejam sinônimas, com elas se relacionam. A esse agrupamento damos o nome de área semântica. Por exemplo: medicina -> médico, paciente, doença, hospital, facultativo, bisturi, etc.
Retire do texto palavras ou expressões que pertencem à área semântica de:
a)    família
b)    formas de escrever
3. Que fato desencadeia a narrativa?
4. Por que os parentes estavam tão preocupados com a redação do telegrama?
5. Quem fez a redação do telegrama que causou maior revolta?
6. Por que os familiares colocaram o netinho para fora da sala?
7. Como se pode interpretar a atitude do garoto?
8. Por que a redação feita pelo filho mais velho não foi aceita?
9. Que aspectos do comportamento humano são retratados pelo Autor nessa história?
10. Há um famoso provérbio árabe que diz: “A primeira vez em que tu me enganares a culpa será tua; mas na segunda vez, a culpa será minha.” Como você entende essa afirmativa?
11. De acordo com a característica dada, identifique os personagens da história relacionados à viajante:
a) pão-duro, sovina
b) psicólogo
c) convencido
d) médico
e) crítico
f)  analista minucioso
12. Transcreva do texto, o trecho que resume a história.
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GABARITO
Questão 1:
1. C     2. E     3. A      4. B    5. D
Questão 2:
a)    família: parentes, irmã, primo, tios, um outro primo afastado, cunhado, irmão psicólogo, genro, filha, mamãe, titia, sobrinho, netinho, tio, filho mais velho, nora.
b)    Formas de escrever: redigiu, rabiscou, molhou a ponta do lápis na língua e caprichou.
Questão 3. A morte da irmã de uma senhora que estava viajando.
Questão 4. Porque a senhora que estava viajando era cardíaca.
Questão 5. O médico da família, sobrinho da viajante.
Questão 6. Porque emitiu uma palavra de julgamento a respeito da redação de um dos familiares, que naturalmente era mais velho que ele. 
Questão 7. Inoportuna, mas ele demonstrou que tinha senso crítico.
Questão 8. Em virtude da análise feita pela nora, que era professora e pela ideia de qual surpresa a viajante poderia ter ao ler o telegrama.
Questão 9. A preocupação das pessoas em amenizar a verdade faz com que se criem “pequenas” mentiras.
Questão 10. Resposta pessoal. Pode-se entender que se somos enganados pela primeira vez por alguém, a responsabilidade da mentira será de quem a disse. Se novamente a mesma pessoa me disser outra mentira, aí a responsabilidade será minha que acreditei em alguém que mentiu uma primeira vez. Resumindo: quem mente uma vez pode estar dizendo novas mentiras depois, e não deve ter crédito.
Questão 11:
a)    primo afastado
b)    irmão
c)    genro
d)    sobrinho
e)    netinho
f)      nora
Questão 12:
“Há uma história famosa a respeito de uns parentes que tinham que comunicar por telegrama, a uma senhora que estava viajando, o falecimento de uma irmã. Reuniram-se em volta de uma mesa e toca a escrever.”