Conto: Marcus Robô
Maria
Heloísa Penteado
Depois de enxuta e vestida, Maruca
levou Marcus outra vez para o quarto e ficou a olhar os botões dele, sem saber
qual apertar para fazê-lo arrumar a cama. Tentou decifrar o que estava escrito
debaixo dos botõezinhos, mas era difícil porque ela ainda não conhecia bem as
letras. Isso porque era uma grande preguiçosa. Seus coleguinhas de classe já
estavam quase lendo e Maruca era uma das mais atrasadas. E de que outra forma
podia ser, se ela não prestava atenção ao que a professora ensinava, e brincava
e tagarelava o tempo todo?
Maruca foi buscar a cartilha e ficou um
tempão se esforçando para lembrar tudo o que aprendera na escola. Observou as
letras, comparou-as com as letras na barriga do robô, e afinal descobriu que
debaixo do botão 21, sem sombra de dúvida, estava escrita, entre outras
palavras, a palavra “cama”.
Até que enfim eu pesquei a palavra que
eu queria! pensou satisfeita, apertando o botão 21.
E foi outro susto. Marcus tornou a
agarrar Maruca, tirou toda a roupa dela de novo. Será que ele vai me dar outro
banho? pensou a menina, tentando se livrar dos braços metálicos e desligar o
robô.
O que ele fez foi vestir-lhe o pijama.
-- Me larga, seu burro! Agora não é
hora de vestir pijama!
Mas o robô não obedecia e ela não
conseguia desligá-lo de jeito nenhum. Agora estava sendo carregada novamente
para o banheiro.
Chi... Ele vai me dar outro banho frio,
e agora vai ser de pijama... Esse robô é louco!
-- Marcus, me solte, por favor! –
Maruca pediu a chorar.
Ele parecia surdo. Levou-a para a pia,
abriu o armarinho, tirou de lá a escova de dentes e meteu-a com jeito na mão de
Maruca que se sentiu bem aliviada. Não era banho de pijama, graças a Deus! O
que o robô queria é que ela escovasse os dentes.
-- Eu só escovo os dentes depois do
café – informou a menina.
Porém Marcus não quis saber de
conversa. Escovou ele mesmo os dentes dela, e muito bem escovados. Quanto a
isso Maruca não podia se queixar.
Depois tornou a carrega-la para o
quarto.
-- O que você vai fazer comigo? –
perguntou Maruca.
Logo ficou sabendo. Ele meteu-a na
cama, cobriu-a até o nariz e ficou ao lado dela trepidando, piscando os olhos
vermelhos e cantarolando uma canção de ninar com uma voz muito rouca.
-- Você acha que eu vou dormir, é? Não
vê que é outro dia e que acordei agorinha mesmo? – Maruca pulou da cama, mas o
robô agarrou-a ligeiro e tornou a metê-la embaixo dos lençóis.
-- Agora não é hora de dormir, Marcus!
Sai de perto de mim! – Maruca levantou-se de novo, mas de novo foi agarrada,
colocada na cama e coberta com o lençol.
Tentou mais uma vez, e de novo foi
aquilo.
Então, que remédio, ficou deitada,
quietinha. Mas estava danada. Tenho que desligar esse sujeito de lata, pensou.
Mas como? Virou-se devagarinho na cama. Sempre cantarolando, o robô vigilante
inclinou-se e cobriu-a melhor.
É uma perfeita babá. Mas quem está
precisando de babá é o meu irmãozinho, não eu! Maruca fechou os olhos e fingiu
que estava dormindo, mas espiava o robô entre as pestanas.
Ele inclinou-se, ajeitou melhor o
travesseiro dela e parou de cantar.
Parou de cantar porque está acreditando
que eu dormi, pensou amenina. Então viu o botãozinho verde bem perto do seu
nariz e não perdeu tempo. Cric! apertou-o.
Uf! Afinal conseguiu desligar aquela
espécie de babá eletrônica. Marcus ficou parado, de braços caídos, muito
quietinho. Só as luzinhas vermelhas continuavam piscando.
-- Puxa! Você é uma bomba, hein Marcus!
Sabe de uma coisa? Nõ estou gostando muito de você! – Maruca empurrou-o para um
canto, vestiu-se e foi tomar café.
Marcus Robô. São Paulo,
Pioneira, 1978. p. 10-11.
Fonte: Português – Linguagem
& Participação, 5ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas –
Ed. Saraiva, 1999, p. 206-8.
Entendendo o conto:
01 – De acordo com o texto, qual o significado das
palavras abaixo:
·
Decifrar: entender com esforço; descobrir o sentido.
·
Tagarelar: falar muito.
·
Metálico: feito de metal.
·
Trepidar: vibrar, tremer.
·
Danada: muito nervosa, furiosa.
02 – Observe o seguinte
trecho do texto: “Então, que remédio,
ficou deitada, quietinha”. Passe-o para a primeira pessoa do singular.
Explique em seguida a diferença que o uso da primeira pessoa provoca no texto.
Então, que
remédio, fiquei deitada, quietinha. Com a primeira pessoa o trecho parece ser
um pensamento da própria Maruca.
03 – Leia esta oração: “Até
que enfim eu pesquei a palavra que eu queria!” O que você entende por pescar a palavra?
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: a expressão indica a ideia de entender, captar o sentido de
uma palavra.
04 – Por que Maruca tem
dificuldades em operar o robô?
Porque ela não
sabe ler e as ordens estão escritas debaixo dos botõezinhos, na barriga do
robô.
05 – Qual foi o erro de
Maruca?
Ela apertou o
botão errado.
06 – Quais as consequências
do erro de Maruca?
Ela não conseguiu
mais controlar o robô.
07 – Como Maruca resolveu
seu problema?
Ela desligou o
robô para evitar maiores confusões.
08 – Faça a caracterização
da personagem Maruca.
Maruca é uma
menina preguiçosa, não presta atenção às aulas e é muito tagarela.
09 – Maruca diz que Marcus é
“burro”, que ele é uma “bomba”, porque não faz as coisas direito. Você concorda
com ela? Justifique sua resposta.
Não. Ela é que
não sabe programa-lo. Ele executa com exatidão as ordens que recebe.
10 – O narrador diz que
Marcus não obedecia à Maruca, que parecia surdo. Ele está certo?
Não. Ele não
atende a uma ordem verbal e sim à programação de seus botões.
11 – O robô é perfeito, mas
Maruca não consegue se entender com ele. O que a autora do texto quis sugerir
com isso?
Não adianta haver grandes avanços tecnológicos se o ser
humano não sabe como utilizar essa tecnologia ou se a utiliza de forma
inadequada.