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quarta-feira, 15 de novembro de 2023

CRÔNICA: PRANTO PARA O HOMEM QUE NÃO SABIA CHORAR - CARLOS HEITOR CONY - COM GABARITO

 Crônica: Pranto para o homem que não sabia chorar

                  Carlos Heitor Cony

Havia quitandas naquele tempo. Vendiam verduras, legumes, ovos, algumas chegavam a vender galinhas em pé, quer dizer, vivas, mas eram poucas, pois todas as casas tinham quintal e todos os quintais tinham galinhas. Ia esquecendo: as quitandas mais sortidas tinham à porta, bem visíveis aos passantes, um feixe de varas de marmelo.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsX-0YDTRfPzBThVI9SDGZX0HJR0GAeye3RLpOlCtxPyzdbdoVfIJoEI1_WiWY5tji9SBNmwmb_7v7FDdZSP8EaGaq5t1AuVkkafKsttcuwU1AGsvxGGV-jSrgWAciOIpRCQX6n5dLaKYc-tebQyoI5vzzXIjjse4zLBTl-XG4sYBmIfb1fwVOnY1l31A/s1600/marmelo.jpg


Para que serviam? Fica difícil explicar, mas serviam para os pais comprarem uma delas e a guardarem em casa, num lugar à mão e bem visível aos filhos. Quem nunca tomou uma surra de vara de marmelo não pode saber o que é a vida, de que ela é feita, de suas ciladas e enigmas. Há aquela frase: "Quem nunca passou pela rua tal às cinco da tarde não sabe o que é a vida". A frase não é bem essa, mas o sentido é esse.
Uma surra de vara de marmelo era o recurso mais eficaz para colocar a prole em bom estado de moralidade e bom comportamento. Acima dela, só havia o recurso capital de ameaçar o filho com um colégio interno da época: Caraça! Ir para o Caraça, a possibilidade de ir para o Caraça era uma pena de morte, uma condenação ao inferno, um atestado de que o guri não tinha jeito nem futuro.
Houve a tarde em que o irmão mais velho fez uma lambança com umas tintas que o pai comprara para pintar a casa de Segredo, o cachorro, que era solto à noite para evitar que os amigos do alheio pulassem para o quintal e roubassem as galinhas -repito, todas as casas tinham galinhas.
E "amigos do alheio" era uma expressão, uma metáfora civilizada que os jornais usavam para se referirem aos ladrões de qualquer coisa, inclusive de galinhas.
Pois o irmão foi surrado com vara de marmelo e chorou. O pai então proferiu a sentença que ele jamais esqueceria:
Homem não chora!
Em surras seguintes e sucessivas, com a mesma vara de marmelo (ela nunca se quebrava, por mais violenta que tivesse sido a surra anterior), o irmão tinha o direito de gritar, de urrar, de grunhir como um leitão na hora em que entra na faca, mas não de chorar.
Por isso, mesmo sem nunca ter tomado uma surra daquelas, ele sabia que um homem não pode chorar, nem mesmo quando açoitado por vara de marmelo. O vizinho do Lins, que tinha um filho considerado perdido, percebendo que a vara de marmelo era ineficaz como um remédio com data de validade vencida, adotou uma tira de borracha que servira de pneu a um velocípede desativado. Tal como a vara de marmelo, era maleável mas inquebrável, deixava lanhos nas pernas do filho -que mais tarde chegaria a ser capitão-do-mar-e-guerra, medalhado não em guerra nem em mar, mas por tempo de serviço.
Homem não chora e, por isso, ele decidiu que seria um homem e jamais choraria. O irmão, sim, era um bezerro desmamado, chorava à toa, nem precisava de vara de marmelo. Chorou no dia em que Segredo morreu envenenado -um amigo do alheio, antes de pular no quintal, jogou-lhe um pedaço de carne com arsênico.
Chorou mais tarde, quase homem feito. Esquecido de que homem não chora, ele chorou quando o Brasil perdeu para o Uruguai no final da Copa do Mundo de 1950. Não era homem. Atrás do gol, viu quando Gighia chutou e o estádio emudeceu e logo depois chorava, seguramente o maior pranto coletivo da história da humanidade, 200 mil pessoas que não eram homens, chorando sem vergonha de não serem homens.
Ele não podia ou não sabia chorar? Essa era a questão. Volta e meia forçava a barra, lembrava as coisas tristes que lhe aconteceram, o dia em que o pai o colocou de castigo, atribuindo-lhe a quebra de uma moringa. A perda da medalhinha de Nossa Senhora de Lourdes que a madrinha lhe dera, uma medalhinha de ouro que, segundo a madrinha, o livraria de todo o mal, amém. Não chorou nem mesmo quando, naquela primeira noite após a morte de sua mãe, ele se sentiu sozinho na vida e perdido no mundo.
Daí lhe veio a certeza. Poder chorar até que podia. O diabo é que ele não sabia mesmo chorar. Chorar é como o samba que não se aprende na escola: ou se nasce sabendo, ou nunca se sabe. Bem verdade que ele desconfiou de que os outros chorassem errado, misturando motivos. Por exemplo: o irmão, que era um Phd na matéria, quando chorava, fazia um embrulho de coisas e desditas, um mix de quebrações de cara e obtinha um pranto copioso, sincero, lágrima puxando lágrima, soluço puxando soluço.
Quando perdeu uma bolada num cassino de Montevidéu, foi para o quarto do hotel, bebeu meia garrafa de uísque e, tarde da noite, telefonou dizendo que, passados 40 e tantos anos, ainda estava chorando pela morte de Segredo.
Tivera ele essa virtude, aquilo que os ascetas chamam de "dom das lágrimas"! José, vendido por seus irmãos ao faraó do Egito, tornou-se poderoso e um dia recebeu os irmãos que o procuraram para matar a fome. Os irmãos não o reconheceram. José perguntou-lhes sobre o pai e retirou-se a um canto para chorar. Depois, sim, deu-se a conhecer e matou a fome dos irmãos que o venderam.
Jesus chorou quando soube da morte de Lázaro e o ressuscitou. A lágrima é um dom, e ele não mereceu esse dom nem mesmo quando Débora foi embora de seus sonhos e, como nos tangos, nunca mais voltou.

CONY, Carlos Heitor. Pranto para o homem que não sabia chorar. In CONY, C.H. Crônicas para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009, p. 39-40.


PARA RESPONDER
          01.               As memórias relatadas por Carlos Cony neste texto guardam alguma semelhança com a sua infância? Por quê?

               Sim, os pais batiam nos filhos com varinhas.

        02.               “Uma surra de vara de marmelo era o recurso mais eficaz para colocar a prole em bom estado de moralidade e bom comportamento”. Como você pensa que as crianças de hoje escreverão uma frase equivalente para explicar como adquiriram “bom estado de moralidade e bom comportamento”?

Talvez diriam que com o diálogo, com a amizade que tenham com os pais, não há necessidade de usar varas.

03.               Qual era a utilidade das varas de marmelo mencionadas na crônica?

         As varas de marmelo eram utilizadas para surrar os filhos como forma de disciplina e moralidade. 

        04.               O que o narrador afirma sobre a frase "Quem nunca passou pela rua tal às cinco da tarde não sabe o que é a vida"?

         O narrador menciona que, embora não seja exatamente essa a frase, o sentido é semelhante, referindo-se à experiência de levar surra com vara de marmelo como algo fundamental para entender a vida.

         05.               Qual era a alternativa mais severa à surra de vara de marmelo para disciplinar um filho?

         A ameaça de enviar o filho para o Caraça, um colégio interno da época, foi considerada uma punição mais grave. 

         06.               Como o narrador descreve a ocorrência do irmão mais velho após ser surrado com a vara de marmelo?

          Apesar de gritar e urrar, o irmão não tinha permissão para chorar, pois segundo o pai, "homem não chora."

        07.               Por que o vizinho do Lins substituiu a vara de marmelo por uma tira de borracha para disciplinar o filho?

         A vara de marmelo tornou-se ineficaz, então o vizinho desenvolveu uma tira de borracha que deixava lanhos nas pernas do filho, mas era maleável e inquebrável.

      08.               Quais foram os momentos em que o irmão, contra a ideia de "homem não chora", chorou na crônica?

          O irmão chorou quando o cachorro Segredo morreu envenenado e também durante a derrota do Brasil para o Uruguai na Copa do Mundo de 1950.

        09.               O narrador, em certo momento, questionou se ele sabia chorar. Qual foi a conclusão a que ele chegou?

         Ele concluiu que poderia chorar, mas não sabia como. Chorar era como o samba, algo que ou se nasce sabendo ou nunca se aprende.

        10.               Qual exemplo bíblico é mencionado na crônica para ilustrar a importância das lágrimas?

         José, vendido por seus irmãos ao faraó do Egito, chorou ao se encontrar com seus irmãos novamente, mostrando a importância e o poder das lágrimas.

 

 

 

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

TEXTO: O OLHAR TAMBÉM PRECISA APRENDER A ENXERGAR - CARLOS HEITOR CONY - COM GABARITO

 Texto: O olhar também precisa aprender a enxergar

Texto 1

    Durante muitos e muitos anos, o Aleijadinho era desdenhado pelas cultas gentes. Tratava-se de um ignorante, que fazia leões com corpo de cachorro e cara de macaco. Em 1902, um crítico de artes plásticas austríaco viu a estátua do profeta Daniel em Congonhas do Campo e ficou horrorizado. Registrou em seu diário: “Só um povo imbecilizado pela sífilis e pela malária consentiria que tal monstruosidade ficasse ao lado do profeta Daniel.” [...]

CONY, Carlos Heitor. Folha de S. Paulo, São Paulo, 14 abr. 2005. Opinião, p. A2.

Texto 2

        O olhar também precisa aprender a enxergar

        Há uma historinha adorável, contada por Eduardo Galeano, escritor uruguaio, que diz que um pai, morador lá do interior do país, levou seu filho até a beira do mar. O menino nunca tinha visto aquela massa de água infinita. Os dois pararam sobre um morro. O menino, segurando a mão do pai, disse a ele: “Pai, me ajuda a olhar”. Pode parecer uma espécie de fantasia, mas deve ser a exata verdade, representando a sensação de faltarem não só palavras, mas também capacidade para entender o que é que estava se passando ali.

        Agora imagine o que se passa quando qualquer um de nós para diante de uma grande obra de arte visual: como olhar para aquilo e construir seu sentido na nossa percepção? Só com auxílio mesmo. Não quer dizer que a gente não se emocione apenas por ser exposto a um clássico absoluto, um Picasso ou um Niemeyer ou um Caravaggio. Quer dizer apenas que a gente pode ver melhor se entender melhor a lógica da criação.

FISCHER, Luís Augusto. Folha de S. Paulo, São Paulo.

               Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 158.

Entendendo os textos:

01 – O que revela o trecho do texto 1, de Carlos Heitor Cony?

      A passagem revela a rejeição ao que é diferente, a relatividade do conceito de “belo”, intolerância por parte de um crítico estrangeiro, preconceito contra a arte e o povo brasileiro.

02 – Explique o sentido de olhar e enxergar no título do texto 2, de Luís Augusto Fischer.

      Refere-se a uma gravação de sentido: primeiro olhar, depois enxergar. Olhar tem o sentido de dirigir os olhos para alguém, para algo ou para si; mirar, contemplar. Enxergar tem a acepção de distinguir pela visão; sentir, deduzir, inferir, julgar e entender.

03 – Relacionando a história contada pelo escritor uruguaio com “o que se passa quando qualquer um de nós para diante de uma grande obra de arte visual”, registre no caderno a ideia defendida pelo autor do texto 2.

I.O belo natural e o belo artístico provocam distintas reações de nossa percepção.

II.A educação do olhar leva a uma percepção compreensiva das coisas belas.

III. O belo artístico é tanto mais intenso quanto mais espelhe o belo natural.

IV. A lógica da criação artística é a mesma que rege o funcionamento da natureza.

V. A educação do olhar devolve ao adulto a espontaneidade da percepção das crianças.

      Alternativa II. De acordo com o texto de Luís Augusto Fischer, o olhar pode ser educado e a percepção pode ser aguçada para admirar e fruir a beleza natural ou artística.

04 – Analise a construção do texto 2 e registre no caderno a alternativa que explicita sua estrutura textual.

I. Há paralelismo de ideias entre os dois parágrafos, como, por exemplo, o que ocorre entre a frase do menino e a frase “Só com auxílio mesmo”.

II. A expressão “espécie de fantasia”, que aparece no primeiro parágrafo, é retomada e traduzida em “lógica de criação”, no segundo parágrafo.

III. A expressão “Agora imagine” tem como função assinalar a inteira independência do segundo parágrafo em relação ao primeiro.

IV. A afirmação contida no título restringe-se aos casos dos artistas mencionados no final do texto.

V. As ocorrências da expressão “a gente” constituem traços da impessoalidade e da objetividade que marcam a linguagem do texto.

      Alternativa I. Assim como o filho necessita da mediação do pai para entender a grandeza do mar, o autor constata que “só com auxílio mesmo” podemos desenvolver nossa percepção estética. A palavra mesmo retoma a ideia expressa no primeiro parágrafo.

 

sexta-feira, 27 de maio de 2022

ARTIGO DE OPINIÃO: QUAL É A MINHA? CARLOS HEITOR CONY - COM GABARITO

 Artigo de opinião: Qual é a minha?

                           Carlos Heitor Cony

        Governistas, situacionistas e fernandistas de todos os tamanhos, feitios e intenções reclamam da mídia, que não respeita a sacralidade do poder, insistindo em denunciar escândalos, esqueleto nos armários e contas ilegais no exterior.

        A caterva a favor coloca a seguinte opção: ou o sujeito engrossa ou é carlista ou canalha. Elementar, caro leitor.

        Criticam sobretudo a parte da mídia escrita que denuncia a nudez do rei e de seus áulicos, considerando-a viciada, subdesenvolvida, pedestre.

        Bolas, a imprensa inglesa, com tradição bem maior do que a nossa, cometendo frequentes enganos e grosserias, nunca poupou a família real, considerando-a um bem público sustentado pela nação e, como tal, sujeita à investigação, a denúncias e, eventualmente, a uma ou outra injustiça.

        A imprensa americana não abafou o escândalo de Watergate, que provocou o impedimento de Nixon, nem a pornochanchada do caso Monica Lewinsky, que colocou o presidente Clinton numa situação pública e doméstica bastante incômoda.

        Suponhamos – veja bem, estou apenas supondo – que algum figurão do poder tenha um caso extraconjugal, alguma coisa como um filho fora do tálamo conjugal. Tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos a mídia não se consideraria impedida de noticiar e comentar o fato.

        Ora, dirão, são mídias de países bárbaros, selvagens, sem tradição democrática e civilizada. Tudo bem. Honra, louvor e glória à nossa mídia – com óbvia exceção dos abutres, das hienas, dos carlistas e canalhas que a maculam, negando ao poder o baba-ovo tradicional.

        Leitor de Goiânia pergunta-me por que reclamo tanto do governo. Qual é a minha? Se eu soubesse qual era a minha, não estaria aqui reclamando por aqueles que não têm voz para reclamar.

CONY, Carlos Heitor. In: Folha de São Paulo. 15 abr. 2001, p. A2. Opinião.

Fonte: Livro – Língua Portuguesa – Heloísa Harue Takazaki – ensino médio – Coleção Vitória-Régia – Volume único – 1ª edição Curitiba - IBEP. 2004, p. 104-5.

Entendendo o artigo de opinião:

01 – Antes de começar a análise mais minuciosa do texto, é preciso garantir que você tenha compreendido qual é a tese e que argumentos o articulista utiliza para defende-la. Responda a essas questões com o professor e colegas.

      A tese defendida é a de que denunciar, reclamar, investigar faz parte das funções da imprensa. Para defender essa ideia, o articulista apresenta as relações, em países considerados desenvolvidos, entre o governo, o público e a imprensa. Nessa apresentação, o articulista demonstra que a imprensa tem total liberdade par divulgar aquilo que considera de interesse público, incluindo aí críticas ao governo e denúncias que envolvem governantes.

02 – No terceiro parágrafo, há uma referência a um conto infantil: A roupa maravilhosa do rei, de Andersen. Você conhece esse conto? Qual é a relevância dessa referência para o assunto do texto? Converse com o professor e colegas sobre isso.

      O conto traz a história de um rei, enganado por alguns tecelões que dizem estar confeccionando uma roupa maravilhosa para o monarca, mas que só pode ser visto por pessoas inteligentes. A roupa não existe, mas, com medo de não serem considerados inteligentes, ninguém, nem mesmo o rei, admite não estar vendo a roupa. Assim, pensando estar vestido, ele desfila par seu povo. Apenas uma criança se manifesta, gritando que o rei está nu. O autor usa o conto para dizer que é preciso denunciar a nudez do rei, ou seja, denunciar os erros dos governantes.

03 – Que outros conhecimentos, de cunho histórico, o articulista pressupõe que seu interlocutor tenha?

      Nos Estados Unidos, o caso Watergate, denúncia da imprensa envolvendo o ex-presidente Nixon; o caso extraconjugal do ex-presidente Bill Clinton, amplamente divulgado pela mídia. Na Inglaterra, as fofocas rotineiras, envolvendo a família real, que são divulgadas em jornais sensacionalistas.

04 – Observe que uma das estratégias usadas pelo articulista é a mescla de diferentes graus de formalismo em seu texto.

a)   Que marcas linguísticas são próprias da linguagem formal? E quais são próprias de um nível mais informal?

O vocabulário apurado com escolhas como caterva, áulicos, tálamo, maculam, são próprias da linguagem formal. Gírias (baba-ovo), palavras inventadas (carlistas, fernandistas) e expressões próprias da conversação (bolas, ora) constituem marcas de um nível mais informal de linguagem.

b)   Que efeito de sentido se produz com essa mescla?

O articulista passa ao leitor uma visão de si mesmo a partir do vocabulário apurado que utiliza: é uma pessoa que tem conhecimento, por isso sua opinião é importante. O uso da linguagem informal é um recurso persuasivo para estabelecer proximidade e intimidade com o público leitor. Em outras palavras, a linguagem formal legitima a opinião e a informal seduz o leitor a aceitar essa opinião.

05 – Observe que o autor escolhe palavras a dedo para se referir ao poder público.

a)   Que palavras são essas? Liste-as.

“Escândalos”, “sacralidade do poder”, “esqueletos nos armários”, “contas ilegais”, “caterva”.

b)   Essas palavras possuem conotação positiva ou negativa?

Negativa.

06 – O autor também usa palavras de conotação negativa para se referir à imprensa.

a)   Faça uma lista dessas palavras.

Essas palavras não representam o discurso do articulista e, sim, daqueles que acusam a imprensa.

b)   Se a finalidade do texto é defender a imprensa, por que o uso de palavras negativas?

Ironia.

c)   Que efeito se produz ao repetir o discurso de oponentes?

O autor se utiliza do sarcasmo para desmerecer, desconsiderar, refutar, excluir a legitimidade do discurso alheio.

07 – Releia o penúltimo parágrafo.

        “Ora, dirão, são mídias de países bárbaros, selvagens, sem tradição democrática e civilizada. Tudo bem. [...]”. Observe que esse trecho, apesar de assemelhar-se a uma previsão de argumento contrário, constitui-se também em uma ironia. Por quê?

      Porque as ideias de senso comum sobre a política, a cultura e a sociedade desses países não condiz com o que foi afirmado. Além disso, uma previsão de contra-argumento também pressupõe uma refutação, o que não ocorre, já que o articulista limita-se à expressão “tudo bem”.

08 – Que argumento pode ser deduzido na conclusão do artigo? Qual é o apelo emocional aí presente?

      Os jornalistas exercem uma função social. Para persuadir o leitor, o articulista se autoproclama porta-voz do povo, defensor daqueles que “não têm voz para reclamar”. Tal afirmação constitui um apelo emocional muito forte, mas sem consistência argumentativa: parte-se do pressuposto que a imprensa é confiável e que os fatos possuem uma única versão.

 

terça-feira, 9 de março de 2021

CRÔNICA: O CARNAVAL E O MENINO - CARLOS HEITOR CONY - COM GABARITO

 Crônica: O carnaval e o menino

                   CARLOS HEITOR CONY

        "No grande teatro da vida / vão levar mais uma vez / a revista colossal: / pierrô, arlequim, colombina / vão a preços populares / repetir o carnaval."

        Taí a quadrinha de antigamente, eu era menino e esperava o carnaval com certo temor, medo dos mascarados e, ao mesmo tempo, vontade de ser um deles.

        Até que fui – e não apenas durante o carnaval. Grudei na cara várias máscaras – e se não obtive poder e glória, ao menos sobrevivi no meu canto, fazendo um tipo de carnaval a meu modo, véspera de cinzas.

        Já encarei de tudo. Desde os retiros espirituais no seminário (segundo as santas regras de Santo Afonso Maria de Ligório), até o retiro forçado na cela da Polícia Especial.

        Também fui a outros folguedos. Para opróbrio dos meus descendentes, saí de morcego assustando outras crianças em Paquetá. Minha mãe havia feito complicada fantasia de chinês (ou japonês, dava na mesma), cuja atração era o chapéu de cartolina, em óbvio feitio de chapéu de chinês.

        Tomaram meu silêncio como aprovação. Suei frio ao me imaginar com aquele chapéu, mas aí o meu irmão virou a mesa, ele ia sair de reles marinheiro americano, (não era bem uma fantasia mas um quebra-galho carnavalesco); urinou em cima do meu chapéu chinês.

        Não havia tempo para a fabricação de um artefato elaborado como aquele. O pai deu-lhe safanões por conta do chapéu e de outras patifarias genéricas e acumuladas.

        Minha mãe foi ao armarinho, comprou pano preto, a horrível máscara que cheirava a papelão e a cola – e assim passei e passeei os três dias pelas ruas cheias de sol de Paquetá, dando susto nas crianças que conhecia e evitando aquelas que não conhecia, podiam ser mais fortes do que eu e aí o sovado seria eu.

        Quando a tarde caía, botava a máscara para trás da cabeça, sentindo-me amaldiçoado, perguntando-me sem resposta: quem foi o cretino que inventou essas coisas? Em casa, queriam saber se eu havia gostado. Respondia que sim.

        No rádio, tocavam as músicas do ano, o grande teatro da vida, o pierrô, o arlequim, a colombina a preços populares -o pai não achava os preços tão populares assim. E numa madrugada ele me acordou e me levou até a ponte onde chegava a última barca trazendo os escombros, mutilados pedaços de um rancho que voltava do Rio. Os fogos-de-bengala, ainda vivos e esverdeados, iluminavam as espumas que vinham morrer na praia dos Tamoios. As lanternas de vidro colorido refletiam-se nas cabeleiras empoadas dos mestres-salas.

        Ao pisar terra firme, o rancho renascia de seu cansaço e se arrastava uma vez mais na marcha-hino que louva a ilha, "Paquetá é um céu profundo / que começa neste mundo / mas não sabe onde acabar". O ritmo era mais lento e as luzes ficavam mais tristes dentro da madrugada. Longe, o faroleiro do Xeréu apagava seu facho vermelho: era outro dia.

        Vestia o morcego outra vez, a máscara com cheiro de papelão e cola, e eu sozinho, eu-morcego, batendo as ruas cheias de sol, encontrava outros morcegos, era uma espécie de fantasia oficial dos meninos de Paquetá.

        E sentia frio na espinha quando esbarrava com uma caveira, de camisola branca e encardida, a cruz preta nas costas, devia ser um garoto igual a mim, mas nunca se sabe, e esta dúvida me perseguia a tarde inteira, por que botam caveiras nas ruas do carnaval?

        E eu não entendia o grande teatro da vida (tampouco o entendo agora) nem o pierrô com seu branco rosto banhado de luar. E quando tirava a máscara, ela estava molhada de suor, um suor tão salgado e meu que parecia lágrima.

CONY, Carlos Heitor. Folha de São Paulo. 24 fev. 1998. Caderno A, p. 2.

            Fonte: Português – Língua e Cultura. Carlos Alberto Faraco. Volume 1. 2. Ed. – Curitiba: Base Editorial, 2010. P. 29-30.

Entendendo a crônica:

01 – A crônica de Carlos Heitor Cony está atravessada de sentimentos contraditórios. Por exemplo, o medo que o menino tinha dos mascarados e a vontade de ser um deles. Que outros desses sentimentos você identifica no texto?

      Sentimentos contraditórios – 4°, 9° e 13° parágrafos.

02 – O autor nos diz que tinha vontade de ser um mascarado; e que finalmente foi um. E completa afirmando: “e não apenas durante o carnaval”. O que ele quis dizer com esta afirmação?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Até que fui – e não apenas durante o carnaval. Grudei na cara várias máscaras – e se não obtive poder e glória, ao menos sobrevivi no meu canto, fazendo um tipo de carnaval a meu modo, véspera de cinzas.

03 – Como interpretar o início do último parágrafo: “E eu não entendia o grande teatro da vida (tampouco o entendo agora)”? 

      Resposta pessoal do aluno.

 

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

CRÔNICA: ESTOJO ESCOLAR - CARLOS HEITOR CONY - COM GABARITO

 Crônica: Estojo escolar

                    Carlos Heitor Cony

     Noite dessas, ciscando num desses canais a cabo, vi uns caras oferecendo maravilhas eletrônicas, bastava telefonar e eu receberia um notebook capaz de me ajudar a fabricar um navio, uma estação espacial.

      Minhas necessidades são mais modestas: tenho um PC mastodôntico, contemporâneo das cavernas da informática. E um laptop da mesma época que começa a me deixar na mão. Como pretendo viajar esses dias, habilitei-me a comprar aquilo que os caras anunciavam como o top do top em matéria de computador portátil.

         No sábado, recebi um embrulho complicado que necessitava de um manual de instruções para ser aberto. Depois de mil operações sofisticadas para minhas limitações, retirei das entranhas de isopor o novo notebook e coloquei-o em cima da mesa. De repente, como vem acontecendo nos últimos tempos, houve um corte na memória e vi diante de mim o meu primeiro estojo escolar. Tinha 5 anos e ia para o jardim de infância.

         Era uma caixinha comprida, envernizada, com uma tampa que corria nas bordas do corpo principal. Dentro, arrumados em divisões, havia lápis coloridos, um apontador, uma lapiseira cromada, uma régua de 20 cm e uma borracha para apagar meus erros.

         Da caixinha vinha um cheiro gostoso, cheiro que nunca esqueci e que me tonteava de prazer. Fechei o estojo para proteger aquele cheiro, que ele ficasse ali para sempre, prometi-me economizá-lo. Com avareza, só o cheirava em momentos especiais.

        Na tampa que protegia estojo e cheiro havia gravado um ramo de rosas muito vermelhas que se destacavam do fundo creme. Amei aquele ramalhete – olhava aquelas rosas e achava que nada podia ser mais bonito.

       O notebook que agora abro é negro, não tem rosas na tampa e, em matéria de cheiro, é abominável. Cheira vilmente a telefone celular, a cabine de avião, ao aparelho de ultrassonografia onde outro dia uma moça veio ver como sou por dentro. Acho que piorei de estojo e de vida.

 CONY, C. H. Crônicas para ler na escola. São Paulo: Objetiva, 2009. Disponível em: . Acesso em: 23 jul. 2019.

ENTENDENDO A CRÔNICA

1) No Texto, o sentido denotativo e o sentido conotativo convivem. O trecho do texto em que há somente denotação é:

(A) “Noite dessas, ciscando num desses canais a cabo, vi uns caras oferecendo maravilhas eletrônicas”.

(B) “Minhas necessidades são mais modestas”.

(C) “contemporâneo das cavernas da informática”.

(D) “retirei das entranhas de isopor o novo notebook e coloquei-o em cima da mesa.”

(E) “houve um corte na memória e vi diante de mim o meu primeiro estojo escolar.”

2) Com base na leitura de todo o Texto, entende-se que ele tem como foco a contraposição entre

(A) cheiro de notebook e cheiro de estojo

(B) requinte e simplicidade

(C) sociedade e indivíduo

(D) presente e passado

(E) trabalho e lazer

3) A partir da frase que finaliza o Texto – “Acho que piorei de estojo e de vida” –, constata-se que o autor

(A) comportava-se de modo nostálgico.

(B) era fortemente apegado ao objeto.

(C) carregava consigo objetos inusitados.

(D) tinha muito cuidado com seus pertences.

(E) apresentava um perfil marcado pelo egoísmo.

 

4) O termo mastodôntico, em “tenho um PC mastodôntico, contemporâneo das cavernas da informática”, pode ser substituído, sem prejuízo do sentido do trecho, por

(A) enorme

(B) potente

(C) grotesco

(D) funcional

(E) imponente

 

5) No que diz respeito à norma-padrão da língua, a frase cujo verbo em destaque apresenta regência adequada é:

(A) A lembrança da infância implica na volta de bons momentos.

(B) Estojos de madeira e lápis coloridos eram os objetos que os alunos mais gostavam.

(C) As minhas mais marcantes lembranças sempre chegam aonde vou.

(D) Quando necessário, os instrutores assistem aos usuários da nova tecnologia, e essa ajuda é fundamental para muitos.

(E) Os alunos de hoje preferem mais o laptop do que lápis e canetas.

 

6) Releia o trecho abaixo.

    Tenho um PC mastodôntico, contemporâneo das cavernas da informática.

a)   Considerando o contexto, qual é o sentido da palavra destacada?

Gigantesco.

b)   Ainda nesse mesmo contexto, por que o cronista diz que seu “PC mastodôntico” é “contemporâneo das cavernas da informática”?

Porque ele é muito antigo. O cronista usa a expressão “cavernas da informática” para sugerir um tempo muito antigo, o tempo das cavernas.

7)   Em relação ao trecho transcrito na questão anterior, responda às questões.

a)   Trata-se de uma oração? Por quê?

Identifique os elementos que justificam sua resposta.

Sim, é uma oração porque é um enunciado organizado em torno de um verbo, tenho.

O sujeito é eu, sujeito oculto (ou desinencial) e o predicado é “tenho um PC mastodôntico contemporâneo das cavernas da informática”.

 

b)   Em que pessoa verbal o trecho está escrito? A mesma pessoa se mantém no restante do texto? Justifique com mais dois exemplos.

Está escrito na 1ª pessoa, que se mantém em todo o texto.

Exemplos: vi, eu receberia, me (ajudar), minhas (necessidades), etc.

 

c)   Que efeito de sentido o uso dessa pessoa verbal produz no texto? De que forma isso se relaciona aos assuntos tratados?

O efeito é de subjetividade. O autor conta alguma coisa que lhe aconteceu recentemente, mas também narra lembranças.

Todo os acontecimentos são observados de acordo com seu próprio ponto de vista.

8)   Para responder às questões a seguir, releia o terceiro parágrafo do texto.

a)   Reconstitua a sucessão de acontecimentos do parágrafo, indicando o aconteceu em cada um dos três momentos seguintes.

·        O que o cronista recebeu no sábado?

Recebeu um embrulho.

·        O que ele fez?

Depois de muito lutar com o pacote, abriu a caixa e retirou seu novo notebook.

·        O que aconteceu de repente?

De repente, houve um corte em sua memória e ele se viu com 5 anos, diante de seu estojo escolar.

 

b)   Essa sucessão de acontecimentos caracteriza que tipo de sequência?

Narrativa.

c)   Quais foram os três marcos temporais usados para assinalar a sucessão dos acontecimentos?

“No sábado”, “depois” e “de repente”.

         9) Releia a última frase da crônica.

              Por que, em sua opinião, o autor diz que piorou de estojo e de vida?” Associe sua resposta à compreensão dos parágrafos anteriores.

Resposta pessoal.

Sugestão: A crônica faz uma comparação entre sua vida no passado e no presente, valorizando positivamente o que ele tinha no passado.  Ao relembrar o estojo, ele o compara ao notebook impessoal que comprou e considera que o estojo tinha suas qualidades. Da mesma forma, sua vida era mais simples e feliz.

10)Entre as características a seguir, quais caracterizam o texto lido como uma crônica? Assinale-as.

a)   Relata um fato atual, apresentando dados objetivos e depoimentos dos envolvidos.

b)   Usa um fato trivial, comum, para falar de emoções, sentimentos e impressões pessoais.

c)   Serve-se de comparações e outros recursos expressivos de valor literário, ainda que utilizando o registro informal.

d)   Dirige-se ao leitor para relembrar acontecimentos e comprovar um ponto de vista usando linguagem formal e culta.

 

segunda-feira, 23 de março de 2020

CONTO: O GIGANTE (FRAGMENTO) - CARLOS HEITOR CONY - COM GABARITO

Conto: O gigante (Fragmento)
            Carlos Heitor Cony 

        Se dava vexame nos números, até certo ponto alegrava o pai com as redações. Havia um quadro na parede da sala que o acompanhava desde os tempos de moleque em São Cristóvão, desde os tempos do tal Absalão: um menino levando um feixe de lenha para uma casa à beira de um rio, a fumaça saindo de uma chaminé, um quadro campestre de autor francês.
        A pedido dele, fiz umas cinco ou seis composições sobre aquilo, variando o nome do menino e do lugar, ora o menino era órfão explorado pela madrasta cruel, ora o menino estava perdido na floresta e encontrava uma casa na qual pediria abrigo, eu me virava como podia.
        Ele corrigia aqui e ali, riscava frases, colocava enormes interrogações nos trechos em que ficara faltando alguma coisa, mas sempre deixava escrito a lápis azul um “muito bem”, um “bravo”.
        Deu-me certa vez um tema livre: “Escreva sobre o que quiser. Cuidado com as concordâncias. Não se esqueça de que os advérbios atraem os pronomes”.
        Passei a tarde em cima de um caderno de folhas muito brancas. A tinta que ele me destinara era vermelha, marca Sardinha, como sempre. A pena era nova.
        Eu não tinha um tema, olhava o papel branco, nunca esqueci essa página em branco, sabia que seria gostoso escrever alguma coisa nela. Não sabia o quê. Pensei em repetir a dose e recontar a história do menino com o feixe de lenha, a casinha à beira do rio, a chaminé deitando fumaça. Era um tema íntimo, recorrente, no qual me sentia à vontade.
        De repente, tive vontade de escrever sobre um gigante que vinha todas as noites e me trazia bombons e balas. Um gigante que fazia coisas terríveis que me amedrontavam mas que eu gostava dele porque, no final de tudo, ele sempre tirava de um alforje de couro um brinquedo, e me mandava brincar. Um gigante que morava longe, onde moram o vento e as coisas do mundo, que apesar de morar tão longe nunca deixava de chegar, em horas estranhas, mas sempre chegando, porque sabia que eu precisava dele.
        O pai corrigiu fartamente, riscou com traços vermelhos uma concordância abominável, substituiu um “medonho” por “terrível” e achou razoável a composição. Disse que eu precisava ler o Zé de Alencar, depois o Machado, mais tarde o Eça.
        Pensou um pouco, desconfiou que nem Machado nem Eça seriam apropriados a um seminarista, falou em Vieira, em Bernardes, tinha uma edição de A nova floresta, falou, falou, falou – e não compreendeu.
        Quase memória, quase romance. São Paulo, Cia. das Letras, 1996.
Fonte: Português – Linguagem & Participação, 5ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1999, p. 234-6.
Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Vexame: atitude desagradável, papelão.

·        Campestre: do campo.

·        Íntimo: próprio da pessoa, interior.

·        Recorrente: que acontece muitas vezes.

·        Alforje: espécie de bolsa de couro.

·        Fartamente: com fartura, abundantemente.

·        Abominável: detestável.

02 – Quem são as personagens do texto?
      São: pai e filho.

03 – Qual o foco narrativo utilizado no texto Procure um trecho que justifique sua resposta.
      O texto é narrado em primeira pessoa. “A pedido dele, fiz umas cinco ou seis composições sobre aquilo...”; “Passei a tarde em cima de um caderno de folhas muito brancas”.

04 – Ao escrever várias vezes sobre a mesma gravura, o menino revela algumas qualidades. Quais são elas?
      Ele era criativo e esforçado.

05 – Por que o menino demorou a escrever sobre o tema livre?
      Resposta pessoal do aluno.

06 – Como era a história que o menino escreveu?
      Era a história de um gigante que vinha todas as noites e que trazia ao menino bombons e balas.

07 – Quem era na verdade o gigante?
      Era o pai do menino.

08 – O que faz o pai diante do texto do filho?
      O pai corrigiu fartamente a linguagem e achou razoável a composição, embora não tenha entendido o texto.

09 – O que o pai não compreendeu?
      O pai não compreendeu que o gigante era ele próprio e que o filho precisava dele.