terça-feira, 23 de janeiro de 2024

CRÔNICA: CUIDADO COM O DONO - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Cuidado com o Dono

                Walcyr Carrasco

PINSCHER. A mãe de um amigo tinha um cãozinho dessa raça. Tamanho mínimo. Tormento máximo. Ficava solto na sala. Bastava eu chegar para uma visita, começava a latir. Passava horas soltando latidinhos estridentes. Mordia meus dedos com os dentinhos afiados. A dona sorria.

— Não é uma gracinha?

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtJUX-x0yOSlud1T8Yf7yhL5UONw4PxUaDRKjYuQQL5N0vlGhFXciNPdTxfuv72HGsnwKDeTBxlH5_ouZxdZUbgIfJOavuf1o4TgJe8dC4CQSY18spkM-EdjS_nzLYWQfbf-r2Uhxa9yfYmM-cmH_wr2R47XnOdmlu9R4aZNo1MS2-3g4tnw_z-cYngR0/s320/PINSCHER.jpg


Eu tinha vontade de morder a tal senhora. 

Quando morava em uma chácara tive um vizinho cujo cachorro latia a noite toda. Adoro cães, tenho três. Mas aquele! Mudei de quarto. Coloquei algodão no ouvido. Um dia, a surpresa.

— Levaram o barulhento para o sítio — contou a empregada.

Aliviado, suspirei. Alívio inútil. Na mesma noite iniciou-se uma sinfonia de ganidos. Não um, mas vários cãezinhos juntos! O número parecia aumentar diariamente. Achei que fosse psicológico. Impressão? Exagero? Estaria endoidando?

— Ih! Ele montou um pet shop — contou minha funcionária.

Exatamente. Trazia os filhotes para dormir em casa. Um número crescente de cachorrinhos, todos ganindo de saudade da mãe. Eu tinha vontade de abrir a janela e uivar. Foi quando descobri que a vida no campo nem sempre é tão repousante quanto apregoam. Voltei para a cidade.

Uma amiga possui cinco cachorros. Basta um carro passar a duzentos metros para dispararem latindo furiosamente. Com frequência, fogem. Atacam os calcanhares alheios. São pequenos e peludinhos. Machucar, não machucam. A dona sai no portão e grita.

         — Voltem, voltem!        

Se alguém reclama, fica brava.

-— Imagine, eles não fazem nada.

Além de ser mordida, a pessoa quase é obrigada a pedir desculpas. Os vizinhos já puseram as casas à venda várias vezes. E o maior movimento de corretores da região. Eu me pergunto: cachorros não se cansam de latir? Tento, para fazer a experiência.

— Au, au!

Em cinco minutos estou rouco!

No elevador do meu prédio é frequente, dar de encontro com algum cachorrão. O proprietário sempre avisa:

— Não se preocupe, é manso.

Será? Fico encolhido em um canto. E se justamente agora resolver experimentar o sabor de uma mordida? Donos adoram dizer que seu bichinho de estimação é angelical, mesmo com provas em contrário. Tive uma amiga carioca com uma cadela dobermann. Nas poucas vezes em que me hospedei em sua casa acordava com a princesa me farejando. Eu, deitado em um colchão no assoalho. O focinho molhado na minha nuca. Rígido. Não mexia nem os cílios. Horas depois a moça ouvia meu gemido e vinha:

— Está com medo do quê?

— Medo, não. Apavorado — eu respondia sem voz.

         — Que bobagem!         

Atirava um osso. A bonitona agarrava no ar e saía mastigando que nem chiclete.         

Eu punha as mãos no pescoço, pensando quantas horas faltavam para pegar o ônibus.

Mais me dói verificar que volta e meia são os cães que levam a culpa. Está no auge o tema da proibição de criar certas raças, como o mastim-napolitano, o pitbull e o rottweiler. Um ator que conheço foi atacado por um pitbull, Teve de fazer plástica. Ficou anos fora da televisão. Mas um casal de amigos tinha um rottweiler chamado Xico. Um doce. Abanava o rabo. Pulava e lambia. E triste pensar que o Xico não existiria. Não sou um especialista em raças. Se autoridades da área garantem que algumas são perigosíssimas, sou o primeiro a aceitar. Tudo bem que se limite a criação das feras. E os portões abertos, o descaso, a imprudência? Muitas vezes é preciso cuidado com o dono! Nas mãos de alguém imprudente, até um pinscher é capaz de enlouquecer meio mundo!

Entendendo o texto 

01. Quem tinha um cãozinho da raça pinscher na história?

      a) O narrador.

      b) O vizinho do narrador.

      c) A amiga do narrador.

      d) O dono do pet shop.

02. O que o cão pinscher fazia quando o narrador chegava para visitá-lo?

      a) Mordia os dedos do narrador.

      b) Latia furiosamente.

      c) Ficava em silêncio.

      d) Abanava o rabo.

03. Por que o narrador mudou de quarto quando morava na chácara?

     a) Porque não gostei do quarto antigo.

     b) Porque eu estava fugindo de um cachorro barulhento.

     c) Porque queria mais privacidade.

     d) Porque o quarto novo era maior.

04. O que aconteceu com o cachorro barulhento da chácara?

     a) Ele foi levado para o sítio.

     b) Ele foi vendido.

     c) Ele parou de latir.

     d) Ele teve filhotes.

05. O que o narrador descobriu sobre o cachorro da chácara depois de se mudar para a cidade?

    a) Ele tinha parado de latir.

    b) Ele havia morrido.

    c) Ele tinha um pet shop.

    d) Ele era um cachorro de exposição.

06. Quantos cachorros a amiga do narrador possui?

     a) Dois.

     b) Três.

     c) Cinco.

     d) Seis.

07. O que os cachorros da amiga fazem quando um carro passa a quatro metros?

     a) Ficam em silêncio.

     b) Atacam os calcanhares alheios.

     c) Fugiram para longe.

     d) Latem furiosamente.

08. Como a dona dos cachorros reage quando alguém reclama do barulho?

     a) Ela pede desculpas.

     b) Ela fica brava.

     c) Ela ri.

     d) Ela se muda.

09. O que o narrador tenta fazer para experimentar se cachorros se cansam de latir?

     a) Gritar "au, au!".

     b) Colocar algodão no ouvido.

     c) Abrir uma janela e uivar.

     d) Ignorar os latidos.

10. Segundo o narrador, o que é preciso ter cuidado na criação de certas raças de cachorros?

     a) O tamanho do cachorro.

     b) A cor da pelagem.

     c) O comportamento do dono.

     d) A idade do cachorro.

 

 

 

 

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