Conto: A BELA ADORMECIDA NO BOSQUE
Charles Perrault
Um príncipe amava a caça de tal sorte
que viva sempre nas florestas e tapadas, procurando peças. Uma vez perdeu-se
num bosque e caiu a noite antes que lograsse sair dele. Lá pela noite cerrada
encontrou a cabala de um lavrador que agasalhou como pôde, dando-lhe de cear e
conversando. Pela manhã, o príncipe viu por cima do arvoredo as torres de um
castelo desconhecido e perguntou quem ali morava. 0 lavrador respondeu que era
história velha do tempo antigo. O príncipe insistiu para saber e o velho Ilha
contou.
Era ali o palácio de
um rei que não tinha filhos quando muito os desejava ter. Finalmente
a rainha deu à luz e houve muita festa, convidando o rei todas as fadas para o batizado,
mas esqueceu de convidar a fada mais velha porque não se ouvia mais falar nela,
julgando todos que houvesse morri do. No dia do batizado as fadas compareceram
e também a fada velha que vinha zangada por não ter sido chamada também. As
fadas foram para perto do berço da menina que nascera e deram os dons de ser
bonita, alegre, agradável, trabalhadora, prudente, fiel, etc. Quando acabaram,
a fada velha fadou que a menina havia de meter às unhas uma pua de roca e
morreria aos quinze anos. Todos ficaram muito tristes mas apareceu a fatela
mais moça, que se escondera, dizendo que não podia desmanchar os fados já
dados mas fadava a menina para que dormisse cem anos sem ficar velha e
fosse despertada por um príncipe com quem casaria, sendo muito feliz. O rei
proibiu que se fiasse no reino, para que a menina não cumprisse a sina,
mas foi debalde porque, com quinze anos, a princesa encontrou uma roca e
querendo-a mexer, meteu uma pua nas unhas e caiu como morta. Todos que
estavam O castelo adormeceram também e os pais da menina já morreram; o
reino mudou-se para longe fé só ficou o castelo que é aquele que se vê todo
cercado pela floresta.
0 príncipe ficou ansioso para verificar
a verdade e, despedindo-se do lavrador, dirigiu-se ao caseio, atravessando com
dificuldade a mata de espinhos que o cercava. Encontrou um palácio grande e
bonito e cheio de gente dormindo por todos os cantos, criados, camareiros,
soldados, oficiais, cozinheiros, até os animais dormiam no estábulo e
cavalariça. O príncipe subiu e passou por muitas salas douradas onde as damas
estavam adormecidas e, num quarto muito adornado, viu uma moça linda dormindo
numa cama. Aproximou-se, tomou-lhe a mão, beijou-a e a moça abriu os olhos,
sorrindo.
Logo todo palácio
acordou e foi um barulho de ordens e passos, vozes de
animais e músicas. O príncipe ficou muitos dias com a princesa, sem ter coragem
de deixá-la.
Voltou para casa e sempre que podia
vinha ter ao castelo para ver sua mulher e no correr dos anos, dois filhos
vieram, um menino de nome Cravo e uma menina chamada Rosa. A rainha velha vivi
desconfiada por seu filho não mais querer ficar na corte, mas nada descobriu.
Quando morreu o rei o príncipe foi coroado e mandou buscar a princesa e os dois
filhos, recebendo-a como rainha soberana. A rainha velha ficou furiosa e pensou
em mandar matar a nora logo que pudesse.
Sucedeu que o rei foi para a guerra e a
rainha velha resolveu fazer mal à inocente princesa. Chamou um criado de sua
confiança e mandou que agarrasse o menino Cravo e fizesse dele um guisado! para
ela comer. O criado furtou o menino mas não teve coragem de o matar; escondeu-o
na sua casa, e matou um cabrito e guisou-o para a rainha velha, que o comeu
todo, dizendo estar muito gostoso. Dias depois fez a mesma cousa com a
princesa! Rosa e novamente o criado escondeu a menina em sua casa e a
rainha velha comeu uma ovelha pensando que comia a neta.
Faltava a nora que vivia chorando com a
perda dos filhos. A rainha velha acusou-a de ser falsa ao filho e mandou
prendê-la, condenando-a a ser queimada viva na praça pública. Arrumaram a
fogueira e a princesa já estava amarrada ao poste e o carrasco com o archote na
mão para pôr fogo a tudo, quando apareceu o rei, correndo a brida solta, em
socorro de sua mulher, cuja sorte lhe fora comunicada pelo criado que fugira
para ir ao seu encontro. O rei agradou muito a mulher, e a rainha velha, logo
que o viu, saltou pela janela, quebrando o pescoço nas lajes do pátio. O criado
foi buscar Cravo e Rosa e os entregou aos pais, contando o que fizera. O rei o
recompensou muito bem, trazendo-o sempre perto a si, e todos viveram felizes.
Charles Perrault.
Entendendo o conto:
01 – Quem era o príncipe e
como ele descobriu o castelo adormecido?
O príncipe era um
amante da caça que se perdeu no bosque e, por acaso, encontrou o castelo
adormecido enquanto procurava por um lugar para se abrigar durante a noite.
02 – Qual foi a maldição
lançada sobre a princesa no dia do seu batizado?
A fada mais velha, não convidada para o
batizado, amaldiçoou a princesa, prevendo que ela se feriria com a roca de fiar
e morreria aos quinze anos.
03 – Como a maldição da fada
foi amenizada?
A fada mais
jovem, que estava escondida, não pôde desfazer o feitiço, mas transformou a
maldição em um sono de cem anos, do qual a princesa seria despertada por um
príncipe.
04 – O que o príncipe fez para
acordar a princesa adormecida?
Ele encontrou a
princesa adormecida em um quarto do castelo, aproximou-se dela, tomou sua mão e
a beijou, o que a despertou do longo sono.
05 – Quais foram as ações da
rainha velha para prejudicar a princesa e sua família?
Ela ordenou que
um criado matasse o menino Cravo para servir como guisado e posteriormente
tentou fazer o mesmo com a princesa Rosa, além de acusar a nora de falsidade e
condená-la à queima pública.
06 – Como a rainha velha foi
derrotada no final?
O rei chegou a
tempo de salvar sua esposa da execução, o que levou a rainha velha a se desesperar
e a saltar pela janela, resultando em sua própria morte.
07 – O que aconteceu com a
família real depois da derrota da rainha velha?
Com a derrota da
rainha velha, a família real foi reunida, os filhos foram recuperados e o rei
recompensou o criado por suas ações, trazendo-o para perto dele. Todos viveram
felizes após esses eventos.