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quarta-feira, 8 de novembro de 2023

CRÔNICA: RECEITA DE VIVER - PEDRO BLOCH - COM GABARITO

 Crônica: Receita de viver

             Pedro Bloch

        Viver é expandir, é iluminar. Viver é derrubar barreiras entre os homens e o mundo. Compreender. Saber que, muitas vezes, nossa jaula somos nós mesmos, que vivemos polindo as nossas grades, ao invés delas nos libertarmos.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRASRgdY4UOMttcH7n2YhEP8Y7ZKGMAg-hwx_yQ2x6_UL41kCEsMwRb0sV76a18I5JGFcdr9wZZuyiSQrjvaWZ_kBnuQkZLuRq_uV6fKmWZYQ7eI77ecoGYYfkAQPQCe8NrIw3R5xy07fTq_UABDkLGiKGVr3e8Kw778wKt-AEx9PuXQYZxtTRdAfuRic/s1600/RECEITA.jpg


        Procuro descobrir nos outros sua dimensão universal, única. Sou coletivo. Tenho o mundo dentro de mim. Um profundo respeito humano. Um enorme respeito à vida. Acredito nos homens. Até nos vigaristas. Procuro desenvolver um sentido de identificação com o resto da humanidade. Não nado em piscina se tenho o mar. Por respeito a cada ser humano em todos os cantos da terra, e por gostar de gente — gostar de gostar — é que encontro em cada indivíduo o reflexo do Universo.

        As pessoas chamam de amor ao amor-próprio. Chamam de amor ao sexo. Chamam de amor a uma porção de coisas que não são amor. Enquanto a humanidade não definir o amor, enquanto não perceber que o amor é algo que independe da posse, do egocentrismo, da planificação, do medo de perder, da necessidade de ser correspondido, o amor não será amor.

        A gente só é o que faz aos outros. Somos consequências dessa ação. Não fazer… me deixa extenuado. Talvez a coisa mais importante da vida seja não vencer na vida, não se realizar.

        O homem deve viver se realizando.

        O realizado botou ponto final.

        Não podemos viver, permanentemente, grandes momentos. Mas podemos cultivar sua expectativa.

        Acredito em milagre. Nada mais miraculoso que a realidade de cada instante.

        Acredito no sobrenatural. O sobrenatural seria o natural mal explicado, se o natural tivesse explicação.

        Enquanto o homem não marcar um encontro consigo mesmo, verá o mundo com prisma deformado. E construirá um mundo em que a lua terá prioridade. Um mundo mais lua do que luar…

Pedro Bloch.

Entendendo a crônica:

01 – Qual é o principal conceito sobre o viver que Pedro Bloch enfatiza na crônica?

      Pedro Bloch enfatiza que viver é expandir, iluminar, derrubar barreiras entre os homens e o mundo, e compreender a dimensão universal e única dos outros.

02 – De acordo com o autor, como as pessoas frequentemente confundem o amor na sociedade?

      O autor afirma que as pessoas frequentemente confundem o amor com amor-próprio, sexo e outras coisas que não são amor genuíno, destacando a necessidade de uma definição mais clara do amor.

03 – Qual é a importância que o autor atribui à ação e à realização na vida humana?

      O autor enfatiza a importância da ação e da realização na vida, argumentando que o homem deve viver se realizando e que o ato de realização é mais significativo do que simplesmente "vencer na vida."

04 – O que o autor acredita sobre a natureza dos momentos especiais na vida?

      O autor acredita que, embora não possamos viver permanentemente em grandes momentos, podemos cultivar a expectativa desses momentos especiais.

05 – Qual é a visão do autor sobre o sobrenatural na crônica?

      O autor sugere que o sobrenatural é, na verdade, o natural mal explicado, quando o natural carece de uma explicação adequada, destacando assim a importância do entendimento e da autodescoberta do homem.

 

 

 

terça-feira, 12 de novembro de 2019

CRÔNICA: GODÓ - PEDRO BLOCH - COM QUESTÕES GABARITADAS

CRÔNICA: Godó
       
   Pedro Bloch

        Naquele momento Marianete chega pra perto de Godó.
        -- Godó!
        -- Marianete!
        -- Você, hoje, está com uma carinha muito triste. Que foi?
        -- É que eu pensei que tinha encontrado meus pais.
        -- E não encontrou? – fez a bailarina.
        -- Não eram eles. Estive pensando. Pensar, às vezes, é triste. Mas é boniiito!
        -- Pensando em quê?
        -- Eu queria ser igual a todo mundo. Ter cara de gente.
        -- E você não tem?
        Godó baixa a cabeça grande:
        -- Minha cara não é cara. É careta.
        Marianete, que o olha com olhos de carinho, nem quer ouvir aquilo:
        -- Que é isso, Godó? Uma cara linda!
        -- Não debocha. Você, não.
        -- É, sim. Juro. É uma cara toda enfeitada.
        -- Enfeitada de feiúra, né? – faz Godó.
        -- Enfeitada de bem-querer. Cheia de benquerença.
        -- Você acha?
        -- Pelo mais sagrado.
        -- E você era capaz de, um dia, gostar de mim... um anão?
        -- Você não é anão. É menino. E, mesmo que fosse!
        -- Você sabe que eu nem ser ler?
        -- Aprende, ué! Deixe de inventar defeito, tá?
        -- Você me ensina?
        -- É pra logo. Perfeito. Esse lance de escrever é muito fácil.
        Godó está cheio de lágrimas de gratidão:
        -- Oh, Marianete!
        Pegou a mãozinha dela e botou, junto do coração dele, para que ela visse como batia depressa.
        Coração também faz mágica, ué!
         Godó – o bobo alegre. Pedro Bloch.
Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série - Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p.101-3.
Entendendo o texto:

01 – Como podemos classificar o texto? Justifique sua resposta.
      É uma narração em 3ª pessoa com diálogo.

02 – Godó fica triste por não ter encontrado seus pais, como imaginava. Essa tristeza faz com que ele fique pensativo.
a)   O que pensa Godó?
Godó pensa que gostaria de ser igual a todo mundo. Ter cara de gente.

b)   Por que esse acontecimento provoca esse pensamento em Godó?
Porque ele é órfão, sente-se carente, rejeitado.

c)   Existe, portanto, uma relação entre o fato de Godó não ter encontrado seus pais e o seu pensamento. Que relação é essa?
Causa e consequência.

03 – “Pensar, às vezes, é triste. Mas é boniiito!”.
a)   Qual o efeito da repetição do i em boniiito?
Faz com que seu som seja prolongado na leitura.

b)   Nessas frases, há duas afirmações:
Pensar é triste. / Pensar é bonito.
A tristeza é, em geral, associada à beleza?
Não.

c)   Qual seria então a função de mas nesse caso?
Abrir uma exceção na associação entre tristeza e beleza. Mas, apesar de ser triste, é bonito.

d)   E, afinal, para Godó, pensar é triste ou é bonito?
Para ele, A tristeza, não diminui a beleza do ato de pensar. Por isso, é as duas coisas.

04 – “Minha cara não é cara. É careta”. Qual a diferença entre cara e careta?
      Cara: rosto; Careta: contração muscular; máscara.

05 – Godó enxerga a si mesmo de uma maneira e Marianete enxerga-o de outra forma.
a)   Como Godó descreve a si mesmo?
Considera-se um anão, com cara de careta, cabeça grande, cara enfeitada de feiúra, analfabeto.

b)   Como Marianete enxerga Godó?
Um menino com uma cara linda, toda enfeitada de bem-querer, cheia de benquerença.

c)   O que você acha: o espelho de Godó está com defeito ou Marianete não enxerga bem? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal do aluno.

06 – “Não debocha. Você não.”
a)   Por que Godó não queria que Marianete debochasse dele?
Porque, como a conclusão do texto torna evidente, Godó gosta de Marianete.

b)   O que a frase indica sobre a relação de Godó com as outras pessoas?
Que outras pessoas debochavam dele por alguma razão.

c)   Para Godó, a opinião de outras pessoas a seu respeito é tão importante quanto a de Marianete?
A frase permite concluir que a opinião de Marianete é mais importante para Godó do que a opinião das outras pessoas.

07 – O que Marianete deseja transmitir para Godó na frase “Enfeitada de bem-querer. Cheia de benquerença?
      Uma cara de amor, mesmo quando pintada de palhaço.

08 – “Pelo mais sagrado”.
a)   Qual o significado de sagrado? Consulte o dicionário.
Relativo ou inerente a Deus, à religião, ao culto ou aos ritos; santo.

b)   Com base na resposta do item a, responda: Qual o significado da afirmação de Marianete?
Para garantir a Godó que realmente acha a cara do amigo linda, Marianete fala em nome de tudo o que é sagrado, ou seja, relativo a Deus, à religião.

09 – Em “E você era capaz de um dia gostar de mim... um anão?”, há uma pergunta e uma afirmação.
E você era capaz de gostar de mim que sou um anão?
                     Pergunta                              Afirmação

a)   Qual a função das reticências nessa frase?
Unir pergunta e afirmação.

b)   Que efeito causa a utilização desse recurso?
Causa um suspense antes que Godó anuncie aquilo que, para ele, é um defeito. Marca a dificuldade de Godó em anunciar sua característica.

10 – “Você sabe que eu nem sei ler?”
a)   Qual o significado de nem no texto?
Sequer, ao menos.

b)   Se substituíssemos nem por não, haveria mudança de sentido? Justifique sua resposta.
Sim. O emprego do nem, neste caso, indica que não saber ler é apenas mais um dos defeitos que Godó se atribui.

11 – Substitua a palavra lance por uma outra palavra ou expressão sem alterar o significado da frase. “Esse lance de escrever é muito fácil”.
      Escrever é muito fácil; a tarefa de escrever; o ato de escrever.

12 – A linguagem do diálogo é coloquial. Identifique os significados das palavras destacadas em itálico.
a)   “Enfeitada de feiúra, né?”
Não é? Marcador conversacional que expressa um pedido de confirmação, de concordância.

b)   “Deixe de inventar defeito, tá?”
Tá, interjeição, o mesmo que “está bem?”. Expressa um pedido de concordância.

c)   “Aprende, ué!”
Ué, interjeição, exprime espanto, admiração.


domingo, 10 de novembro de 2019

CRÔNICA: BENA! BENA! VALEU A PENA? - PEDRO BLOCH - COM GABARITO

CRÔNICA: Bena! Bena! Valeu a pena?
         
  Pedro Bloch

             Eles eram três.
             Amigos paca.
             Bena, Bruno e Cláudio.
     Entravam na puberdade e naquela fase de tumulto, dúvidas e contradições. Acampavam juntos, juntos pescavam os peixes mais mentidos do mundo, juntos iam a festinhas para curtir um som, juntos faziam projetos. E riam juntos quando Bena, sempre desajeitado e desarrumado, a propósito de tudo, vinha com aquela:
        -- Será que vale a pena?
        Perguntava só por perguntar, porque, como diz o poeta, já sabemos que “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”.
        E a alma dos três não tinha mais tamanho.
        Eles eram três.
        Amigos paca.
        Cláudio, Bruno e Bena.
        E bota amizade nisso!
                        Bena! Bena! Valeu a pena? Pedro Bloch.
Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série - Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p.99.

Entendendo o texto:

01 – Explique o trecho: “... juntos pescavam os peixes mais mentidos do mundo...”.
      Peixes mentidos: inventados, maiores do que realmente eram.

02 – Você tem a sua turminha? O que costumam fazer juntos?
      Resposta pessoal do aluno.

03 – O que e ser amigo?
      Amigo é ser por inteiro. É dar-se. É doar-se em todos os momentos.

04 – O poeta Fernando Pessoa disse que “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”. Você também pensa assim? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

05 – “E a alma dos três não tinha mais tamanho”. O que você conclui sobre os três amigos?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Os meninos tinham “espírito aberto”, “livre”, eram ricos interiormente.

06 – A gíria “amigos paca” quer dizer o quê?
      Muitos amigos.
     

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

CRÔNICA: PAI, ME COMPRA UM AMIGO? PEDRO BLOCH - COM GABARITO

CRÔNICA: Pai, me compra um amigo?
                    Pedro Bloch

        -- Mamãe...
        -- Que é menino?
        -- Você gosta de mim?
        Aquilo saiu sem querer. Quando viu já tinha dito.
        Lúcia se surpreendeu com a pergunta.
        Na realidade não vivia manifestando afeto. Ela mesma precisava que a aprovassem a cada instante. O erro de Ronaldo talvez fosse o de não lhe dar aquela dose de palavras doces que fazem bem à alma de cada um. Achava que qualquer manifestação de afeto era tolice.
        Há gente assim. Pensa que qualquer ato de ternura, qualquer palavra mais açucarada, é pieguice. Há pessoa que têm medo de sentir. Talvez porque tivessem sido muito magoadas quando crianças, quando tentaram manifestar seu carinho e foram repelidos sem querer. Talvez também tivesse ocorrido o problema do filho mais querido, embora muitas vezes isso nem corresponda à realidade, fica como que sobrando na vida e no mundo, pisando terreno inseguro, areia movediça, como naquela fita em que o mocinho ficou preso sem poder sair e afundando cada vez mais.
        -- Claro que eu gosto de você, meu querido!
        Abraçou-o mas, entre eles, estava o neném, que tinha vindo para mamar justo naquela hora.
        -- Quando é que o neném vai pra casa?
        -- Na quinta.
        -- Por que é que o papai não gosta de mim?
        Mal acabou de dizer levou até um susto com as próprias palavras.
        -- Papai tem uma vida muito cheia de trabalho. Garanto que ele adora você. Só que há gente que mostra isso com abraço e beijo. Outras mostram sentindo. Só sentindo.
        -- E como é que a gente vai saber, se a pessoa não fala?
        -- Estamos falando agora. Está vendo como é bom ter diálogo? Você quase não se comunica...
        -- É que você e papai estão sempre muito ocupados – pausa.  – Sabe que papai nunca me levou no escritório dele?
        -- O que é que você queria lá?
        -- Só olhar. Ver as coisas. Ver como ele trabalha. É meu pai, né?
        -- Você pede a ele.
        -- Acha que não vai zangar?
        -- Claro que não.
     Pai, me compra um amigo? Pedro Bloch.
Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série - Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 61-3.
Entendendo o texto:

01 – O título deste texto, “Pai, me compra um amigo? Também é uma frase interrogativa. Qual seria a diferença de significado se a frase fosse exclamativa?
      Pareceria uma ordem.

02 – O texto é uma narração em 1ª ou em 3ª pessoa? Justifique sua resposta.
      Em 3ª pessoa. Espera que o aluno identifique os verbos e pronomes que determinam que a narração é em 3ª pessoa.

03 – O narrador, neste caso, é personagem?
      Não.

04 – Descreva o filho de Lúcia.
      Parece ser um menino tímido, que tem medo de dizer as coisas como afirma o texto: “Mal acabou de dizer, levou até um susto com as próprias palavras.

05 – E como são os pais do menino? Retornando ao texto, procure descobrir suas características.
      As características da mãe estão descritas nas linhas: 6-7; 20-21-22; 32-33.
      As características do pai estão nas linhas: 8-9; 28-29-30; 34-35.

06 – Aquilo saiu sem querer”. O pronome “aquilo” não se refere somente à pergunta feita pelo menino. A que mais pode se referir?
      Pode referir-se ao sentimento do menino, à sua angustia.

07 – Qual a diferença de significado entre as frases a seguir?
I – “Achava que qualquer manifestação de afeto era tolice”.
II – “Achava que uma manifestação de afeto qualquer era tolice”.
      A “I” toda manifestação de afeto seria considerada tolice. Na “II” apenas algumas manifestações, consideradas menores, seriam tolice.

08 – Identifique o significado da palavra “justo” na frase a seguir: “Abraçou-o, mas, entre eles, estava o neném, que tinha vindo para mamar justo naquela hora”.
      Significado de exatamente.

09 – O emprego de justo na questão anterior permite concluir o quê sobre o comportamento do neném?
      Permite concluir que ele não foi bem-vindo pelo menino, que atrapalhou o carinho da mãe.

10 – O que representa a presença do neném, no meio do abraço da mãe? Justifique.
      Representa um intruso, alguém que roubou um momento mágico, que chegou na hora errada.

11 – “Só que há gente que mostra isso com abraço e beijo. Outras mostram sentindo. Só sentindo.” Como é possível perceber o que uma pessoa sente quando ela não se expressa por palavras?
      Observando os gestos, as expressões, as circunstâncias.

12 – “Talvez também tivesse ocorrido o problema do filho mais querido...” Que problema seria esse?
      O problema de um irmão acreditar que o outro é mais querido.