Reportagem: Um não bem sonoro ao racismo – Fragmento
Na semana passada, durante partida de
futebol no estádio do Morumbi entre os times do São Paulo e do Quilmes, pela
Copa Libertadores, a atitude racista do zagueiro argentino Desábato, que xingou
e ofendeu o atacante do São Paulo, Grafite, não acabou em pizza. Por um acaso,
Grafite jogou pela nossa Ferroviária em 2002. O delegado Oswaldo Gonçalves
prendeu em flagrante o jogador argentino pelo crime de injúria racial. O
zagueiro chegou a ficar preso dois dias, depois foi solto sob pagamento de
fiança. Ainda assim, será processado pelo crime que cometeu.

A ofensa de caráter racista contra
Grafite já havia acontecido na primeira partida entre os dois times, realizada
na Argentina. A diretoria do Quilmes chegou a mandar uma carta pedindo
desculpas ao brasileiro. Mas o fato se repetiu no Brasil e felizmente não ficou
só no papel. Como bem definiu o técnico Emerson Leão, “isso está acontecendo em
todos os lugares, alguém tinha de tomar uma decisão”.
Por isso mesmo, a atitude do delegado
em cumprir a lei e punir o zagueiro argentino foi exemplar. O racismo vem
ganhando força em muitos países. O que vem acontecendo no futebol é apenas a
ponta de um iceberg. Se este tipo de comportamento não é coibido de imediato,
corremos o risco de voltar atrás nas relações humanas, no respeito e nos
direitos humanos, já conquistados, depois de uma História repleta de casos de escravidão
e segregação.
Desta
vez, uma atitude racista, como a do argentino Desábato, não acabou em pizza
Os recentes casos de racismo no futebol
levaram o atacante francês Thierry Henry, do Arsenal, a iniciar uma campanha
contra o preconceito racial. Vem ganhando cada vez mais adeptos, entre eles
jogadores que não escaparam desse tipo de agressão, como Ronaldo, Roberto
Carlos e Juan.
[...]
Um grande passo é ver que a reação
contra o racismo hoje parte dos próprios ofendidos. Não basta haver uma lei se
não há vítimas que reclamem seus direitos. No passado, Pelé, assim como outros
jogadores, foram vítimas de racismo. Mas optaram por se calar. O atacante
Grafite, por outro lado, já admitiu que aceita o pedido d desculpas de
Desábato, mas prometeu que não irá retirar a queixa: “cabia a mim como cidadão
tomar uma atitude e procurei os meus direitos. Agora deixo para a Justiça fazer
o seu trabalho”. O jogador espera que essa atitude seja um “pontapé” para o fim
do racismo no futebol.
[...]
Um
grande passo é ver que a reação contra o racismo hoje parte dos próprios
ofendidos
A punição do jogador Desábato também
deu pontos para o Brasil, visto lá fora e aqui dentro como um país com alto
grau de impunidade. O Brasil tem mostrado determinação no combate ao
preconceito racial. Outro exemplo recente de racismo no futebol não ficou sem
punição. Em março, em jogo entre América-MG e Atlético-MG, o zagueiro
Wellington Paulo xingou o colega André Luiz de macaco. Não foi feita denúncia
criminal, mas o ofensor foi julgado pelo Código Brasileiro Disciplinar de
Futebol e o Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Mineira de Futebol
suspendeu-o por 30 dias.
Infelizmente, ainda há lugares em que
as próprias autoridades fazem corpo mole para um problema tão sério como o
racismo, que no passado já ajudou a provocar grandes guerras no mundo.
[...]
Mudar o comportamento social e cultural
de um povo é muito difícil. Não só em relação ao racismo, mas ao preconceito em
geral, que é estúpido e condenável em todas as suas facetas, seja de raça, cor,
credo, idade, aparência física, etc. Isso só se consegue com a igualdade de
direitos e com muita educação para a cidadania, desde muito cedo.
Mas também se consegue, até certo
ponto, pela punição e exemplo. E pelo engajamento. Esperamos que o futebol,
esporte popular que une e emociona multidões, possa emocionar e unir as pessoas
na luta contra o racismo.
Tribuna Imprensa,
24/5/2005.
Fonte: Livro –
Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar
Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 181-182.
Entendendo a reportagem:
01 – Qual foi o incidente que
desencadeou a prisão do jogador Desábato?
Desábato,
zagueiro argentino, proferiu ofensas racistas contra o atacante Grafite durante
uma partida de futebol no estádio do Morumbi, pela Copa Libertadores.
02 – Qual a importância da
atitude do delegado Oswaldo Gonçalves nesse caso?
O delegado agiu
de forma exemplar ao prender Desábato em flagrante pelo crime de injúria
racial, demonstrando que o racismo não seria tolerado e que a lei seria
aplicada.
03 – Como o jogador Grafite
reagiu às ofensas racistas?
Grafite decidiu
prestar queixa contra Desábato, afirmando que era seu dever como cidadão buscar
seus direitos, e esperava que sua atitude servisse como um "pontapé"
para o fim do racismo no futebol.
04 – Qual a relevância da
punição de Desábato para a imagem do Brasil?
A punição de
Desábato ajudou a melhorar a imagem do Brasil, demonstrando que o país está
determinado a combater o preconceito racial e que a impunidade não seria mais
aceita.
05 – Quais outros jogadores de
futebol foram mencionados na reportagem por se engajarem na luta contra o
racismo?
A reportagem
menciona Thierry Henry, Ronaldo, Roberto Carlos e Juan como jogadores que se
engajaram em campanhas contra o preconceito racial.
06 – Qual a diferença de
comportamento entre Pelé e Grafite em relação ao racismo?
Pelé, assim como
outros jogadores do passado, optou por se calar diante de ofensas racistas. Grafite,
por outro lado, decidiu denunciar o crime e buscar seus direitos.
07 – Quais medidas a
reportagem aponta como necessárias para combater o racismo?
A reportagem
destaca a importância da punição, do exemplo, do engajamento, da igualdade de
direitos e da educação para a cidadania desde cedo como medidas cruciais para
combater o racismo.