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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

REPORTAGEM: A HORA DO LOBO - AFONSO CAPELAS JR. - COM GABARITO

 Reportagem: A hora do lobo

                      Afonso Capelas Jr.

        Ele está sendo visto cada vez com mais facilidade, em geral revirando latas de lixo em busca de comida. Há quem acredite que sua população está aumentando. Mas é possível que o lobo-guará ainda seja um de nossos bichos mais ameaçados. E, como tantos outros, esteja apenas brigando pela sobrevivência.

        O escuro da noite chega no alto do Parque Nacional da Serra da Canastra, em Minas Gerais, e de repente, atraído pelo cheiro de comida e pelo tilintar de talheres e panelas, um lobo-guará se aproxima do alojamento de funcionários do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente). O bicho vasculha avidamente a lixeira à procura de restos de comida, como se fosse um mero cachorro vira-lata. Seu apetite voraz faz com que mastigue e engula até mesmo embalagens de plástico e alumínio. A cena se repete cotidianamente e revela o drama do maior e mais belo canídeo da América do Sul, que já não consegue encontrar no cerrado – seu habitat cada vez mais devastado pela atividade humana – a quantidade suficiente de alimento de que precisa para sobreviver.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQRMMY86ox2e14d77uzUOWCOMvXtJKpVc4aX93W4OWketMoHxw9nLTeci91zcHssnDub3zoaovPSCRPmkz5FcsrWCxv9BKywiZz0ze8ZcxQxLLQM1WLXnL2_9Zn2hobpfBrRfXFqj2RVgTybDm50HJ08HSYImZ_b90oibUjpw_TT3GRR4q1r6cXKkeaLc/s320/lobo.jpg 


        Alguns biólogos acreditam que as aparições cada vez mais frequentes de lobos-guará à procura de comida fácil em áreas habitadas pelo homem têm causado a falsa impressão de que a população da espécie está aumentando. Outros dizem que os lobos estão mesmo proliferando, mas de maneira perigosa, pois seus hábitos originais estão sendo alterados. A despeito das controvérsias, o Ibama acena com a hipótese de tirar o lobo-guará da lista de espécies ameaçadas de extinção, em que está incluído desde 1989. Uma nova relação está sendo preparada. Deverá ser divulgada ainda neste ano e já causa apreensão entre os pesquisadores. Muitos temem que o Ibama decida mesmo pela exclusão do lobo-guará da próxima lista negra, por considera-lo a salvo do desaparecimento. Mas julgam que ainda é muito cedo para tomar tal decisão.

        Dono de pernas compridas, andar elegante, corpo esguio recoberto fartamente de pelos avermelhados, o lobo-guará é um andarilho nato, capaz de percorrer muitos quilômetros por dia. Originalmente encontrado em regiões dominadas pelo cerrado brasileiro – em pontos esparsos desde a Bahia até o Rio Grande do Sul –, nosso lobo também já foi visto nas fronteiras com a Argentina, Paraguai, Peru, Bolívia e Uruguai. Adulto, chega a medir até 1,90m de comprimento e a pesar quase 25 quilos. Um casal de lobos-guará pode ocupar um território de até 30 quilômetros quadrados, devidamente demarcados por urina e fezes. Mesmo convivendo em um mesmo território, o casal mantém a sua sina solitária. Sempre caminhando distantes um do outro, macho e fêmea só se juntam na época do acasalamento, que resulta  em uma ninhada de três filhotes, em média.

        O lobo tem fome – Além de solitário, o lobo-guará é dono de uma fome incomparável. Gosta de caçar pequenos roedores e até insetos, mas também mantém uma dieta de vegetais – em especial o fruto de um arbusto conhecido como lobeira ou fruto-do-lobo, responsável por 50% de sua alimentação. Como o cerrado tem cedido lugar à agricultura, esse cardápio está cada vez mais raro. Sem outra alternativa, o lobo-guará vai chegando mais próximo das áreas habitadas pelos humanos. “Os lobos estão tentando se adequar ao progresso para sobreviver”, reconhece Rogério Cunha de Paula, biólogo da Associação Pró-Carnívoros que estuda os hábitos desses animais na Serra da Canastra e está preparando sua tese de mestrado sobre o assunto.

        Em sua pesquisa de campo, Rogério colocou brincos de plásticos nas orelhas de alguns lobos para monitorar seus passos e presenciou cenas inusitadas. Numas delas, viu a convivência pacífica de um lobo-guará com cães domésticos de uma fazenda. “Os cães podem contaminar os lobos com doenças fatais”, alerta. Em outra, observou a presença de até quatro lobos adultos juntos, perto do centro de visitação do Parque Nacional da Serra da Canastra, fato raro em se tratando de animais que, por natureza, prezam a solidão. “Essa proximidade facilita o cruzamento entre parentes, enfraquecendo geneticamente a espécie”, sugere Rogério. Por tudo isso, o biólogo pondera que, por enquanto, o lobo-guará não deveria sair da lista do Ibama. “É uma espécie que se vem adaptando relativamente bem, mas é inegável que ainda está perigosamente ameaçada”, observa.

        O diretor do zoológico de Belo Horizonte, Carlyle Mendes Coelho, também não quer ver o lobo-guará fora da lista vermelha do Ibama. “Ainda não sabemos o suficiente sobre a espécie”, garante. De fato, os especialistas não se arriscam nem ao menos a estimar quantos exemplares existem na natureza. Carlyle Mendes coordena uma pesquisa com lobos-guará na região do Parque Natural do Caraça, em Minas Gerais – curiosamente próxima de um convento em que os padres alimentam alguns exemplares, atraindo visitantes de todo o país – e não acredita que a população da espécie esteja aumentando: “Com os desmatamentos e novos povoamentos em área de cerrado, o lobo tem sido visto com maior facilidade. Mas, na verdade, é o homem que se aproxima cada vez mais do território do lobo”.

        “Saindo ou não da lista do Ibama, nosso trabalho vai continuar”, garante Bruno Riffel, coordenador ambiental da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração. Com sede no município mineiro de Araxá, a empresa mantém um criadouro de animais do cerrado, entre eles o lobo-guará. A finalidade é estudar todos os itens do comportamento da espécie, como alimentação, reprodução, imunologia e manejo em cativeiro. “Muitos exemplares nascidos aqui já foram doados a zoológicos e instituições de pesquisa do mundo inteiro”, orgulha-se Riffel. A companhia também desenvolve programas de educação ambiental para estudantes que visitam a empresa e têm a oportunidade de conhecer “Roxinha”, uma simpática fêmea reprodutora que recebe amigavelmente as pessoas com gemidos agudos.

        Mesmo com todas as pesquisas em andamento, ninguém se permite afirmar categoricamente que o belo lobo-guará está livre do estigma de bicho ameaçado de extinção. Por ora, permanecem as dúvidas: ele deve ou não sair da lista vermelha do Ibama? Sua digna reputação de animal selvagem estará a salvo ou, num futuro próximo, ele pode se transformar num reles vira-lata?

CAPELAS JR., Afonso. Terra, junho/2002, p. 73-76.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 218-220.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é o principal problema enfrentado pelo lobo-guará, de acordo com a reportagem?

      O principal problema é a perda de seu habitat natural, o cerrado, devido ao desmatamento e à expansão da atividade humana. Isso dificulta a sobrevivência, levando-o a se aproximar de áreas habitadas e a revirar lixões em busca de alimento.

02 – Por que alguns biólogos acreditam que a população de lobos-guará está aumentando?

      Acreditam que as aparições frequentes de lobos-guará em áreas habitadas, em busca de comida fácil, causam a falsa impressão de que a população da espécie está crescendo.

03 – Qual é a principal fonte de alimento do lobo-guará?

      Sua principal fonte de alimento é o fruto da lobeira, que corresponde a 50% de sua dieta. No entanto, com a destruição do cerrado, essa fonte de alimento está se tornando cada vez mais rara.

04 – O que o biólogo Rogério Cunha de Paula observou em sua pesquisa sobre os lobos-guará?

      Ele observou a convivência pacífica de um lobo-guará com cães domésticos, o que pode ser perigoso devido ao risco de transmissão de doenças. Além disso, ele flagrou a presença de até quatro lobos adultos juntos, um fato raro para uma espécie que preza a solidão.

05 – Qual é a opinião do diretor do zoológico de Belo Horizonte sobre a retirada do lobo-guará da lista de espécies ameaçadas de extinção?

      Ele é contra a retirada do lobo-guará da lista, pois acredita que ainda não se sabe o suficiente sobre a espécie e que a aproximação do homem ao seu território pode dar a falsa impressão de que sua população está aumentando.

06 – O que faz a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração em seu criadouro de animais do cerrado?

      A empresa estuda o comportamento do lobo-guará em cativeiro, como sua alimentação, reprodução, imunologia e manejo. Muitos exemplares nascidos no criadouro são doados a zoológicos e instituições de pesquisa.

07 – Qual é a principal preocupação dos pesquisadores em relação à possível retirada do lobo-guará da lista de espécies ameaçadas?

      Eles temem que essa decisão seja prematura, já que a espécie ainda enfrenta diversas ameaças, como a perda de habitat e a alteração de seus hábitos naturais.

08 – O que significa a expressão "vira-lata" no contexto da reportagem?

       A expressão "vira-lata" é usada para se referir a cães sem raça definida, que vivem nas ruas e se alimentam de restos de comida. No contexto da reportagem, ela é usada para questionar se o lobo-guará, um animal selvagem, corre o risco de se tornar um animal dependente da presença humana para sobreviver.

09 – Qual é o principal motivo para o lobo-guará estar se aproximando cada vez mais das áreas habitadas por humanos?

      O principal motivo é a falta de alimento em seu habitat natural, o cerrado, que está sendo destruído pelo desmatamento e pela expansão da agricultura.

10 – Qual é a mensagem principal da reportagem sobre o futuro do lobo-guará?

      A reportagem levanta dúvidas sobre o futuro do lobo-guará, questionando se ele deve ou não sair da lista de espécies ameaçadas. A mensagem principal é que a espécie ainda enfrenta diversas ameaças e que é preciso mais pesquisa e estudo para garantir sua sobrevivência.

 

REPORTAGEM: CHARADA NO CAFUNDÓ - VEJA - COM GABARITO

 Reportagem: Charada no Cafundó

        Há cinquenta anos, o menino Otávio Caetano ouviu sua mãe dizer que um “canduro ongambe” ia passar perto do lugarejo onde moravam, na zona rural paulista. A reação da criança foi imediata: correu para se esconder debaixo da cama. Sua atitude seria outra, certamente, se pudesse imaginar que “um carro de fogo”, conforme as palavras da mãe, nada mais era que um inofensivo caminhão. Hoje, com 60 anos e morando no mesmo local, Caetano continua falando aquela língua que aprendeu de seus ancestrais. Define-se, por exemplo, como um “tata vimbundo”, ou seja, um homem preto. E consegue se fazer entender pela maioria dos membros de sua comunidade de quarenta pessoas, habitantes de casebres de pau-a-pique, vizinhos do seu, quando constrói frases como “copopio bato cameria vavuru” – de acordo com sua própria tradução, “eu sei conversar em africano”.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJrS6zGz6ePG2szfllFF-vlVhu3KI5hS1cA_PX5M4XPS3liGtdAVI4NCW1pOWqTnuZcmPZrVLz_FEuQgLP_Ba-0OQEIYzfJH4LujtJMWZCjMGS8LgmNGp9P6PK5bsOrJ2rsWlmMZnBq_UrSJGhleObjs05ctu_Yg7d3Jla-XPGouuKfI2x7qFnTVKpjHk/s320/CAFUNDO.jpg


        Esse linguajar pode ser ouvido a apenas 140 quilômetros de São Paulo e a 14 município de Salto de Pirapora. Até um mês atrás, o fato não despertara maior atenção = nem mesmo entre os 7000 habitantes de Pirapora, que nada enxergavam de peculiar naquela comunidade rural de fala ininteligível, batizada de Cafundó por ficar fora da zona urbana, em local de acesso um tanto difícil. No mês passado, entretanto, um novo funcionário da Prefeitura de Pirapora publicou um artigo sobre o assunto no diário sorocabano Cruzeiro do Sul. Nas últimas semanas, atraídos por este relato, antropólogos e linguistas começaram de repente a animar a vida de Cafundó. Do ponto de vista científico, realmente, Cafundó pode ser encarado como um fenômeno de rara importância.

        Os cafundoenses garantem que sua língua se originou na África e lhes foi transmitida por seus ascendentes escravos – explicação a que também se inclinam os pesquisadores que os visitaram. “Para se ter uma ideia do valor desse achado”, opina o linguista Maurízio Gnerre, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), “basta lembrar que a última vez que algo semelhante aconteceu foi há setenta anos, quando se descobriu em Minas Gerais uma comunidade em condições parecidas". Com dois outros cientistas da Unicamp – o linguista Carlos Vogt e o antropólogo Peter Fry –, Gnerre deu início a uma pesquisa da fala de Cafundó. Pelo que já pode constatar, ela deriva da língua dos povos bantos, falada, por exemplo, no Congo e em Angola.

        Algumas palavras portuguesas, como não podia deixar de ser, se misturaram aqui e ali à língua. Em todo caso, o linguajar vocábulos ou frases esparsas. "O léxico deles é tão rico”, garante Gnerre, “que, se um habitante de Cafundó fosse colocado hoje numa região africana onde só se fale a língua nativa dos bantos, não tenho a menor dúvida de que ele se faria entender”. Nesse encontro hipotético, o brasileiro poderia se sair com frases como “tata iovacu  anjara vatema varuru massango cu xipoque”, isto é, “estou com vontade de comer arroz com feijão”. Ou então: “ovava cuendá vavuru” – “vai chover”.

        Nem todos de Cafundó dominam tais construções. As crianças compreendem, mas falam com alguma dificuldade. Há, inclusive, os que não entendem coisa alguma, como o pernambucano Virgílio Pedro da Silva, 41 anos, branco, que há meses ocupa, com a mulher e dez filhos, dois cômodos do casebre de Otávio Caetano, na condição de agregado. Uma espécie de líder em Cafundó, Caetano parece apreciar o fato de dispor de uma segunda língua, ao lado do português e inacessível a estranhos. “É o nosso latim”, explica sorridente. E aponta com orgulho para o sobrinho Benedito Norberto, de 43 anos, que já trabalhou num armazém de São Paulo como carregador de sacos. “Ele tem pouca instrução mas fala bem”, diz Caetano, para em seguida verter a frase: “mucanda, nani copopia vavuru”.

        De todo modo, o meio de comunicação dominante termina sendo o português, não apenas pelos contatos obrigatórios com a população de Salto de Pirapora, mas também pela penetração do rádio e da televisão – os aparelhos de rádio, presentes na maioria dos casebres até hoje sem água encanada e luz elétrica; e os programas de televisão assistidos nos bares da cidade. Por essa via, interesses de todo tipo acabam penetrando na vida dos cafundoenses. “Corinthians vavuru no palulé”, comenta, por exemplo, diante do repórter Paulo Azevedo, o jovem torcedor José Orlando, 13 e para quem seu time “é muito bom de bola”. Maria Aparecida, 27 anos, admite ter preferências de outra ordem: “Tarcísio Meira do vissuá vavuru, do casmere vavuru, do flora cafombe, cachitende nani”. Ela explica que seu ídolo “tem olhos bonitos, boca bonita, dentes brancos e não tem mau hálito”. A má dentição, aliás, é um problema generalizado entre os habitantes de Cafundó.

        Mas, afinal, como essa comunidade se estabeleceu nos 28 alqueires nos quais se espalham hoje suas casas, distantes algumas centenas de metros umas das outras? Histórias contadas pelos moradores de Cafundó falam de uma doação de terras a escravos alforriados por um velho senhor benevolente, algumas vezes lembrado como “sinhô Leme” e outras como “sinhô Almeida”. Essa  versão não convence plenamente a professora Suely Reis de Queirós, do Departamento de História da Universidade de São Paulo. De acordo com Suely, não era nada comum um senhor dar terra a escravos.

        Um quilombo, talvez? Também improvável, na opinião da historiadora. “Aqui em São Paulo a repressão aos quilombos era tão violenta que eles nunca conseguiam se instalar por muito tempo num lugar”. E como se terá mantido a língua em meio à inevitável influencia dos vizinhos? Afinal, não se tem notícia de nenhuma outra comunidade de língua africana no Brasil de hoje. Decifrar satisfatoriamente a gênese de Cafundó apresenta-se assim como tarefa complexa – o que, naturalmente, só serve para aumentar o interesse dos pesquisadores.

Veja, 26/4/78, p. 71.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 214-216.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é a língua falada na comunidade de Cafundó e qual a sua origem?

      Em Cafundó, fala-se uma língua de origem africana, provavelmente derivada dos povos bantos, com algumas palavras em português misturadas. Os moradores acreditam que a língua foi transmitida a eles por seus ancestrais escravos.

02 – Onde fica localizada a comunidade de Cafundó e qual a sua peculiaridade?

      Cafundó está localizada a apenas 140 quilômetros de São Paulo e a 14 quilômetros do município de Salto de Pirapora. A peculiaridade da comunidade é a sua língua, ininteligível para quem não a conhece, o que a torna um fenômeno de rara importância para pesquisadores.

03 – O que despertou o interesse de antropólogos e linguistas por Cafundó?

      O interesse de antropólogos e linguistas por Cafundó foi despertado por um artigo publicado no diário sorocabano Cruzeiro do Sul por um novo funcionário da Prefeitura de Pirapora. O artigo revelou a existência da comunidade e sua língua peculiar.

04 – Qual a importância de Cafundó do ponto de vista científico?

      Do ponto de vista científico, Cafundó é um fenômeno de rara importância. A descoberta de uma comunidade com uma língua de origem africana, falada por seus descendentes de escravos, é um evento raro que pode fornecer informações valiosas sobre a história da linguagem e da cultura afro-brasileira.

05 – O que dizem os pesquisadores sobre a língua de Cafundó?

      Os pesquisadores que visitaram Cafundó, como o linguista Maurizio Gnerre, da Unicamp, confirmam que a língua falada na comunidade deriva da língua dos povos bantos, falada em países como Congo e Angola. Gnerre afirma que o léxico da língua é tão rico que um habitante de Cafundó seria capaz de se fazer entender em uma região africana onde se fale a língua nativa dos bantos.

06 – Como a língua de Cafundó é utilizada na comunidade?

      A língua de Cafundó é utilizada principalmente pelos membros mais velhos da comunidade. As crianças compreendem a língua, mas têm dificuldade em falá-la. Alguns moradores, como o pernambucano Virgílio Pedro da Silva, não entendem a língua. Apesar disso, o líder da comunidade, Otávio Caetano, valoriza a língua como um "latim" próprio, inacessível a estranhos.

07 – Qual o meio de comunicação dominante em Cafundó?

      O meio de comunicação dominante em Cafundó é o português, devido aos contatos com a população de Salto de Pirapora e à penetração do rádio e da televisão na comunidade.

08 – Como a comunidade de Cafundó se estabeleceu no local onde vive hoje?

      As histórias contadas pelos moradores de Cafundó falam de uma doação de terras a escravos alforriados por um senhor benevolente. No entanto, essa versão não convence plenamente a professora Suely Reis de Queirós, do Departamento de História da Universidade de São Paulo, que questiona a probabilidade de um senhor dar terras a escravos.

09 – Qual a hipótese levantada por Suely Reis de Queirós para explicar a origem de Cafundó?

      Suely Reis de Queirós levanta a hipótese de que Cafundó possa ter sido um quilombo, mas também considera essa hipótese improvável, devido à violenta repressão aos quilombos em São Paulo.

10 – Qual o principal desafio dos pesquisadores em relação a Cafundó?

      O principal desafio dos pesquisadores é decifrar satisfatoriamente a gênese de Cafundó, ou seja, entender como a comunidade se formou, como a língua africana foi preservada ao longo do tempo e como a comunidade resistiu à influência dos vizinhos.

 

REPORTAGEM: OBESIDADE MUDA OFERTA DE COMIDA NO MUNDO - ROBERTO DIAS - COM GABARITO

 Reportagem: Obesidade muda oferta de comida no mundo

          Problema, causa prejuízo anual de US$ 117 bilhões nos EUA, leva companhias alimentícias a rever seus produtos.

Roberto Dias

        O crescimento da obesidade começa a mudar significativamente a oferta de comida pelo mundo.

        Após anos concentrada na demanda – ou seja, em educação alimentar das pessoas –, a pressão passa agora para o outro lado.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjEJgnmSErHE43tHHGJYB035tAN60azIgRHEe0q7v5fKDP_9USqBygOlYql6pQfauleIi4fOELRsjxBrspnRcpMYySTy8jfbsUGSfB3ivnm-ibNqOMkN0nMSC_TgEtpZcCMHFiQ6sP7JUFDyUie-xSCxCupTibkJlS4BMIq0Oxrs4lkkBmQn8wwWYLXhM/s1600/COMIDA.jpg


        A reviravolta ganhou forma com o anúncio feito na última semana pela Kraft, líder americana no setor alimentício e segunda maior empresa do tipo no mundo. A companhia vai estabelecer um teto para o tamanho das porções que vende. Irá reestudar o conteúdo de alguns produtos, de forma a torná-los menos calóricos. Cessará todo o programa de marketing dentro das escolas.

        Enquanto outras empresas trilham os passos da Kraft, autoridades públicas e organizações internacionais introduzem barreiras à oferta de comida.

        A revolução começa já no próximo ano letivo nas escolas públicas de Nova York, o maior sistema civil de alimentação dos EUA. Pizzas e nuggets vão encolher, doces irão sumir, assim como os refrigerantes, que serão tirados das máquinas de alimentação.

        Um deputado nova-iorquino apresentou uma proposta para que se cobre 1% do faturamento com comidas gordurosas e os gastos em sua publicidade. Na Califórnia, a ideia é taxar refrigerantes e repassar o dinheiro a escolas que deixem de vendê-los. Já a Associação Médica Britânica propôs recentemente imposto de 17,5% sobre comidas gordurosas.

        A OMS (Organização Mundial de Saúde) encerrou em junho uma rodada de reuniões com associações empresariais do setor. Vai condensar o debate numa estratégia global de alimentação.

        "A magnitude e a velocidade do aumento da epidemia horrorizam autoridades de saúde; os custos serão estonteantes. E a ameaça de processos, novas leis e hostilidade pública assustam as empresas", afirma Marion Nestlé, professora de nutrição da New York University e autora de livro sobre o tema.

        Especificamente, o anúncio mundial da Kraft é emblemático da discussão em andamento agora. Controlada pela Altria (ex-Philip Morris), gigante do setor de tabaco, ela diz que tomou tal decisão porque quer participar da reação ao problema de peso.

        "Queremos ser responsáveis e dar uma resposta à questão global da obesidade", diz Jonathan Atwood, porta-voz da empresa.

        "Queremos deixar claro que o que nós vendemos e como vendemos é feito responsavelmente em relação à maneira que as pessoas comem e à questão do peso", afirma Atwood.

        Processos judiciais

        Mas o anúncio foi seguido por intermináveis comparações entre a situação atual do setor de alimentos e a da indústria de tabaco na década passada, quando foi alvo de processos judiciais e novas regulamentações.

        "O crescimento da obesidade a proporções epidêmicas é motivo de séria preocupação para a indústria de alimentos", escreveram analistas do banco JP Morgan em relatório. "Dado o custo humano do mal, acreditamos que os governos não poderão ignorar a pressão de organizações de saúde para agir. Fabricantes de comida correm o risco de aumento nas regulações. Também acreditamos que os riscos de processos não devem ser subestimados. A indústria vai ter que rever seu marketing e se transformar."

        As empresas rebatem apontando a liberdade dos consumidores em fazer o que querem e pregam a necessidade de reeducação física e alimentar, algo repetido há anos por médicos. Do ponto de vista das empresas, o problema é que a tentativa de regular a demanda não tem contido o problema.

        "A obesidade está se tornando um problema em países como China e Índia, que eram tradicionalmente tão pobres que ninguém ficava gordo. A comida ficou tão barata que qualquer pessoa pode engordar se não tiver um trabalho que exija muita atividade física", diz Jack Calfee, do American Enterprise Institute.

        A estimativa da OMS é que os obesos somem mais de 300 milhões pelo mundo, sendo 115 milhões em países subdesenvolvidos – tradicionalmente mais preocupados com o problema oposto, a subnutrição. Doenças relacionadas ao excesso de peso representam 59% das 56,5 milhões de mortes anuais no globo.

        Nos EUA, o problema já foi declarado "epidêmico" pelo governo. Em 20 anos, a obesidade dobrou entre os adultos. A perspectiva para o futuro é pior ainda, já que os índices crescem mais rápido ainda entre as crianças – no mesmo período, triplicaram.

        Estudo do Harvard Institute of Economic Research mostra que, no período, o maior crescimento no consumo de calorias se deu nos lanches – campo dominado por produtos industrializados.

        Segundo o governo, 61% dos americanos estão acima do peso, e 27% deles são obesos (ou seja, com índice de massa corpórea a partir de 30). Há mais gente sofrendo com a balança do que fumando diariamente ou enfrentando problemas de alcoolismo.

        Por ano, o prejuízo nos EUA por causa da obesidade é de US$ 117 bilhões (pouco menos que todo o PIB do Peru, por exemplo). O número incluiu as perdas econômicas com mortes precoces, queda de produtividade e investimento extra em saúde. Levantamento da Rand Corporation indica que obesos gastam 77% mais em medicamentos do que quem não tem problemas de peso.

        Frase

        “A magnitude e a velocidade do aumento da epidemia horrorizam autoridades de saúde; os custos serão estonteantes. E a ameaça de processos, novas leis e hostilidade pública assustam as empresas”.

Marion Nestlé. Professora de nutrição da NYU.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 222-223.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é o principal problema abordado na reportagem?

      A reportagem aborda o crescimento da obesidade como um problema global que está levando empresas e autoridades a repensarem a oferta de alimentos.

02 – Qual é a principal mudança observada na abordagem do problema da obesidade?

      A principal mudança é que, além da educação alimentar, a pressão agora se concentra na oferta de alimentos, com empresas e órgãos públicos introduzindo medidas para limitar o tamanho das porções, reduzir o teor calórico dos produtos e restringir o marketing de alimentos não saudáveis.

03 – Que medidas a Kraft, líder americana no setor alimentício, anunciou que irá adotar?

      A Kraft anunciou que irá estabelecer um teto para o tamanho das porções que vende, reestudar o conteúdo de alguns produtos para torná-los menos calóricos e cessar todo o programa de marketing dentro das escolas.

04 – Que tipos de medidas estão sendo introduzidas por autoridades públicas e organizações internacionais para combater a obesidade?

      Autoridades públicas e organizações internacionais estão introduzindo barreiras à oferta de comida, como a restrição de alimentos não saudáveis em escolas, a proposta de taxar alimentos gordurosos e seus anúncios, e a criação de uma estratégia global de alimentação pela OMS.

05 – Qual é a preocupação da professora de nutrição Marion Nestlé em relação à obesidade?

      Marion Nestlé destaca a magnitude e a velocidade do aumento da epidemia de obesidade, que horrorizam autoridades de saúde, e os custos estonteantes que ela acarretará. Além disso, ela menciona a ameaça de processos, novas leis e hostilidade pública que assustam as empresas do setor alimentício.

06 – Qual é a justificativa da Kraft para tomar medidas para combater a obesidade?

      A Kraft afirma que tomou essa decisão porque quer participar da reação ao problema de peso e se mostrar responsável em relação à maneira como vende seus produtos e à questão da obesidade.

07 – Que comparação é feita na reportagem entre a situação atual do setor de alimentos e a da indústria de tabaco no passado?

      A reportagem compara a situação atual do setor de alimentos, que enfrenta processos judiciais e novas regulamentações devido à obesidade, com a situação da indústria de tabaco na década passada, quando passou por problemas semelhantes.

08 – Qual é a opinião das empresas do setor alimentício em relação à necessidade de combater a obesidade?

      As empresas defendem a liberdade dos consumidores em fazer o que querem e pregam a necessidade de reeducação física e alimentar, argumentando que a tentativa de regular a demanda não tem sido suficiente para conter o problema da obesidade.

09 – Qual é a estimativa da OMS em relação ao número de obesos no mundo?

      A estimativa da OMS é que os obesos somem mais de 300 milhões pelo mundo, sendo 115 milhões em países subdesenvolvidos.

10 – Qual é o prejuízo anual nos EUA por causa da obesidade, de acordo com a reportagem?

      De acordo com a reportagem, o prejuízo anual nos EUA por causa da obesidade é de US$ 117 bilhões, incluindo perdas econômicas com mortes precoces, queda de produtividade e investimento extra em saúde.

 

REPORTAGEM: URBANIZAÇÃO CRIA UMA HONG KONG POR MÊS - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO - COM GABARITO

 Reportagem: Urbanização cria uma Hong Kong por mês

          Cidades ganham 6 milhões de habitantes a cada 30 dias, devem ter população superior à das regiões rurais na próxima década e concentrar o problema da exclusão social

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

        No início do próximo milênio, em 2006, pela primeira vez na História da humanidade a quantidade de pessoas morando em cidades será maior do que a população rural do planeta. Não é uma mera curiosidade, mas uma revolução.

        Para os brasileiros, dos quais 80% vivem em áreas urbanas, é difícil imaginar que há apenas 200 anos 98% da população mundial ainda estava no campo.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2ZJbLRYLrksd9413cEJU6od7hNG9DHAbBECsi5nZMCF2qcN8fh9L00Q8OH356HzA9eB2LMlFjf7HF_FINmPUumOQTgiBezygZugtlyLLrYcbOllNcOsVG6a5G9UyFCAjBNlsk_dqQY_PZY08khlVXTTwCWldw86kOPdzQGgkkejhCHP8Era5CiGJ3QKo/s320/11.jpg


        Rápida, a revolução urbana é um fenômeno da segunda metade do século XX. A partir da fundação de Jericó, a primeira cidade murada do mundo, a população urbana demorou cerca de 9 mil anos para chegar a 38% do total mundial, em 1975. Desde então, já saltou para 47% e, segundo projeções das Nações Unidas, chegará a 55% em 2015 e a 61% em 2025.

        Ou seja: em apenas 50 anos, os moradores das cidades terão sido multiplicados de 1,5 bilhão para 5 bilhões de pessoas – o equivalente a 500 mil cidades de São Paulo.

        A reprodução da população urbana é apenas uma das causas dessa explosão. Na média mundial, 40% do crescimento da urbanização se deve à migração do campo para a cidade.

        Isso indica que, a despeito das previsões de que as novas tecnologias de informação e a acumulação de problemas nas metrópoles implicariam o fim da vida urbana, a cidade absorveu essas mudanças e ainda é o motor do desenvolvimento econômico e científico.

        Como observa o relatório 'À Situação das Cidades do Mundo" (ONU), de 1999, o progresso de uma nação mantém uma alta correlação com a viabilidade das suas áreas urbanas: 'Às cidades são a chave para o desenvolvimento".

        Apesar de uma pequena queda, o ritmo da urbanização mundial continuará forte no início do novo milênio. Tanto que, se esse crescimento fosse concentrado em um só lugar, a cada mês o mundo teria uma nova cidade do tamanho de Hong Kong (6,1 milhões de habitantes).

        Mas isso tem um preço. "O número de moradores urbanos vivendo em pobreza absoluta cresceu rapidamente nos anos 80, especialmente na América Latina, África e nas economias asiáticas menos favorecidas". O alerta consta do "Relatório Global sobre Aglomerações Humanas", o documento resumo do encontro mundial (Habitat) promovido pela ONU em 1996 para discutir o tema.

        Agravado pela globalização da economia, o crescimento das desigualdades entre cidades é um dos principais custos da revolução urbana. O Programa de Indicadores Urbanos do Habitat mostra que a renda média domiciliar das cidades dos países industrializados é 38 vezes maior do que o das cidades africanas: US$ 9.543,90 contra US$ 251,70 por ano.

        Um exemplo de como a globalização da tecnologia também é excludente está no livro organizado por por Michel Cohen, Blair Ruble e Joseph Tulchin ("Preparing for the Urban Future"): há mais telefones na área metropolitana de Tóquio (27 milhões de habitantes) do que em toda a África (749 milhões).

        Global, porém, é a iniquidade dentro das próprias cidades. A exemplo daquilo que o urbanista Manuel Castells chamou de "cidade dual", na média mundial o rendimento dos 20% de domicílios mais pobres é 11 vezes menor do que o dos 20% mais ricos.
Na América Latina essa diferença chega a 17 vezes, mas mesmo nas cidades dos países industrializados, os 20% mais ricos têm uma renda 10 vezes maior do que os 20% mais pobres.

        À aceleração da desigualdade somou-se a crise fiscal do Estado, que tirou dos governos locais e nacionais muito de seu poder de investimento em infra-estrutura e serviços sociais. Como resultado, para uma parcela crescente da população a vida urbana também passou a ser sinônimo de desemprego, miséria, violência, favelas, congestionamentos e poluição.

        Na média de 236 cidades pesquisadas pelo Habitat, o tempo para ir ao trabalho é de 34 minutos, 30% dos domicílios estão abaixo da linha de pobreza, 41% do emprego está no setor informal, 6,41% das crianças morrem antes dos 5 anos, e ocorrem 70 assassinatos para cada 100 mil habitantes/ano.

        E há o risco de esses indicadores se deteriorarem porque o crescimento da urbanização é mais acelerado nos países pobres: em média 5% ao ano, contra 0,7% nos países desenvolvidos.
Como consequência, entre 1995 e 2015, a população urbana nos países subdesenvolvidos deve crescer 52%, enquanto nos países industrializados, onde a rede urbana já está consolidada, o crescimento será de apenas 7%.

        Ao mesmo tempo, deverá haver uma multiplicação das grandes cidades nessas regiões mais pobres. Em 1950 havia apenas cerca de 100 aglomerações urbanas com mais de 1 milhão de habitantes no mundo – a maioria delas, nos países desenvolvidos. Em 2015, segundo a ONU, haverá 527 grandes cidades. E 3 a cada 4 estarão nos países menos desenvolvidos.

        A urbanização acelerada, a concentração de problemas nos países pobres, e o crescimento das grandes cidades tornam ainda mais fundamental a melhoria da administração municipal.
"Sem um governo urbano competente e confiável, muito do potencial de contribuição das cidades para o desenvolvimento econômico e social estará perdido", diz o relatório da ONU de 1996.

        Pesquisando as 700 "melhores práticas" urbanas de em 100 países, o Habitat chegou a algumas palavras-chave para essa transformação: descentralização, parcerias do governo com iniciativa privada e participação popular.

        Porém, como escrevem os organizadores de "Preparing for the Urban Future", não há solução sem custo para os dilemas a que todas as cidades estarão sujeitas. 'Èlas envolvem prejuízos para alguns grupos sociais e vão exacerbar outros problemas".

        Os autores propõem uma revolução administrativa: "Resolver problemas urbanos requer a violação deliberada das tradicionais categorias burocráticas como habitação, saúde, infra-estrutura e emprego". As soluções, defendem, devem ser multi-setoriais e sempre levar em conta o aumento do poder de participação dos cidadãos na tomada de decisões.

TOLEDO, José Roberto de. Folha de São Paulo, São Paulo, 2 maio 1999. Caderno especial. Qual será o futuro das cidades? p. 2.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 375-377.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é a principal previsão demográfica apresentada na reportagem?

      A reportagem prevê que, em 2006, pela primeira vez na história da humanidade, a população urbana mundial ultrapassará a população rural.

02 – Qual é o principal fator responsável pela explosão urbana, segundo a reportagem?

      Além do crescimento natural da população urbana, a migração do campo para a cidade é apontada como um dos principais fatores da explosão urbana, respondendo por 40% do crescimento da urbanização mundial.

03 – Qual é a importância das cidades para o desenvolvimento de um país, de acordo com a reportagem?

      A reportagem destaca que o progresso de uma nação está intimamente ligado à viabilidade de suas áreas urbanas, ressaltando que "as cidades são a chave para o desenvolvimento".

04 – Qual é o ritmo de crescimento da urbanização mundial mencionado na reportagem?

      A reportagem informa que o ritmo da urbanização mundial é tão intenso que, se esse crescimento fosse concentrado em um único lugar, a cada mês o mundo teria uma nova cidade do tamanho de Hong Kong, com 6,1 milhões de habitantes.

05 – Quais são os principais problemas sociais apontados como consequência da urbanização acelerada?

      A reportagem destaca o aumento da pobreza urbana, o crescimento das desigualdades entre cidades e dentro delas, a crise fiscal do Estado, o desemprego, a miséria, a violência, a formação de favelas, os congestionamentos e a poluição como alguns dos problemas decorrentes da urbanização acelerada.

06 – Como a globalização da economia é relacionada com a desigualdade entre as cidades na reportagem?

      A reportagem aponta que a globalização da economia, especialmente a tecnológica, contribui para o aumento da desigualdade entre as cidades, como demonstra o exemplo da concentração de telefones na área metropolitana de Tóquio em comparação com toda a África.

07 – Qual é a situação da desigualdade social dentro das cidades, segundo a reportagem?

      A reportagem revela que a desigualdade social é um problema global, presente tanto em países industrializados quanto em países em desenvolvimento. A diferença de renda entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres é significativa, chegando a 17 vezes na América Latina e a 10 vezes nos países industrializados.

08 – Qual é o principal desafio apontado para os países em desenvolvimento em relação à urbanização?

      A reportagem destaca que o crescimento da urbanização é mais acelerado nos países pobres, o que representa um desafio ainda maior, pois esses países precisam lidar com a concentração de problemas sociais e a necessidade de melhorar a administração municipal para garantir o desenvolvimento econômico e social.

09 – Quantas grandes cidades são esperadas para existir em 2015, de acordo com a reportagem?

      A reportagem informa que, segundo projeções da ONU, em 2015 haverá 527 grandes cidades no mundo, e três em cada quatro delas estarão localizadas em países menos desenvolvidos.

10 – Quais são as palavras-chave apontadas pelo Habitat para a transformação da administração municipal?

      O Habitat aponta a descentralização, as parcerias do governo com a iniciativa privada e a participação popular como palavras-chave para a transformação da administração municipal e para lidar com os desafios da urbanização.

 

 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

REPORTAGEM: O DEBATE REGRADO - PAIS & TEENS - COM GABARITO

 Reportagem: O debate regrado

                      PAIS & TEENS

        PAIS &TEENS O que é ficar? Que tal cada um de vocês dar uma definição, dizer o que acha?

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBrZYbcVNK0FhAHkSLFNlslaQPImZ7F4pTn-NzvWRESGXvsKOcWtVzay3s6JzpwhJAN-ME8KoOm4GfDIqVa1aeTKAsis_xv_kjo0MGjVLhOuC8y1NIPhp7tIr6heT9tgghyphenhyphenLwxpWrZ7u1YQ7Kc_Fh7dYSNJVJKt_P3ViY-bl8V4tjR6ufk8Oe2tcZZM8c/s320/PAIS.jpg


        Veruska – Eu acho que existem dois jeitos de ficar. Muita gente fica por ficar, e muita gente fica com o sentimento. No meu ponto de vista, o ficar tem que ter um sentimento, nem que for de atração. Ou sentimento mais forte, quando você gosta: ou de amor ou de paixão. Não necessariamente, mas só pelo fato de você estar atraído, já é um sentimento, e então aí você pode começar a gostar da pessoa através do ficar.

        Débora – Eu concordo com a Veruska, eu acho que ninguém deve ficar por ficar. Porque às vezes, por exemplo, se eu gosto de alguém e essa pessoa fica comigo por ficar, eu posso ficar chateada, posso me decepcionar. Eu acho que, como a Veruska falou, tem que ter alguma atração, algum sentimento para que, quem sabe, possa rolar alguma coisa.

        Max – Eu discordo, porque pra mim ficar é só para dar uns beijos e, se você quer um negócio mais sério, você tem que namorar a 6 pessoa ou ficar de rolo com ela. Fernando Esse negócio de ficar, pra mim não tem essa: você tem que sentir alguma coisa pela pessoa. Eu discordo do Max, eu acho que essa é uma atitude meio impensada dele. Tanto é que eu namoro há nove meses (palmas e risos) e gosto muito da minha namorada, e acho que não tem nada a ver esse negócio da moda, o ficar.

        Melissa – Eu acho que é ficando que você começa a namorar, que você conhece a pessoa, conhece o jeito dela ser e, se você vai se apaixonar por ela, vai ter alguma coisa mais séria. Acho que é bom ficar com as pessoas, mas tem que ter vontade, tem que estar a fim da pessoa para você não ficar por ficar à toa, só para dizer "fiquei com ele", só porque é o cara mais bonito da rodinha, só para ter nome com as amigas. Acho que isso não tem nada a ver, acho que tem que ter, sim, um sentimento para você ficar com a pessoa.

        Thiago – Pra mim ficar é simplesmente suprir a necessidade momentânea de conforto emocional (risadas). Essa é a minha opinião. 

        Luciana – Eu concordo com o Max, eu acho que hoje quem sai para sair não tá saindo atrás do príncipe, tá saindo pra ficar, ficar por ficar, dar uns beijos... Ninguém tá indo atrás de sentimento, que é diferente de você já conhecer a pessoa e naquela hora pintar um clima e ficar. Talvez poderá vir um sentimento, porque você não sabe se vai se encontrar de novo com aquela pessoa, depende, às vezes até pede o telefone, quando gostou, pode até ter um relacionamento. Mas, geralmente, quando sai, nem vê mais a pessoa, entendeu, isso que eu acho errado.

        Denise – O que ela tá querendo dizer é que ninguém sai assim: "Hoje eu vou encontrar o homem da minha vida". Você sai pra zoar com os seus amigos, tanto é que a maioria dos homens que namoram, os amigos ligam: “E aí, vamos sair?” – “Vou dar um jeito de dispensar minha namorada”. Você quer o quê? Você quer zoar, entendeu. Muitos caras querem dispensar a namorada, eu tou mentindo?

        PAIS&TEENS Ficar é um encontro inocente, ou pode rolar sexo também? 

        Luciana – Uma amiga minha ficou grávida de um cara que ela conheceu uma noite e nunca mais viu. Chega e transa. Depende muito da menina, da liberdade que ela dá pra ele. É claro que, se a menina fica por ficar, ele vai tentar, e rola transa sim, depende da menina. Não é sempre, depende do lugar também.

        Bruno – Eu queria colocar uma coisa, que esse negócio de ficar hoje em dia é perigoso, porque, muitas vezes, vai acabar em transa e, muitas vezes, você não conhece a pessoa... Tem um amigo meu, ele mora numa cidade do interior, e ele foi na discoteca, conheceu uma menina, e essa menina foi pro carro dele, e dentro do carro mesmo eles fizeram. Só que ele não conhecia a menina, não conhecia ela direito, só tinha o nome e o telefone. A menina tinha AIDS, e ele engravidou a menina, então ele pegou AIDS e o filho dele vai nascer com AIDS. Ele tem 13 anos, tá com AIDS.

Fonte: Pais&Teens, fev./mar./abr. 1997.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 116-117.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é o tema central debatido na reportagem?

      O tema central é o significado e as diferentes perspectivas sobre o ato de "ficar" entre jovens. Os participantes do debate oferecem suas definições e opiniões sobre o assunto.

02 – Quais são os principais pontos de vista apresentados sobre "ficar"?

      Há diversas opiniões:

      Ficar com sentimento: Algumas pessoas defendem que "ficar" deve envolver algum tipo de sentimento, seja atração, paixão ou amor.

      Ficar por ficar: Outros argumentam que "ficar" pode ser apenas uma experiência casual, sem necessidade de envolvimento emocional profundo.

      Ficar como etapa para o namoro: Há quem veja o "ficar" como uma forma de conhecer melhor alguém e, eventualmente, iniciar um relacionamento sério.

      Ficar como suprimento de necessidade emocional: Uma visão mais pragmática define "ficar" como uma forma de suprir necessidades emocionais momentâneas.

03 – Qual é a opinião de Veruska sobre "ficar"?

      Veruska acredita que existem dois tipos de "ficar": por puro entretenimento e com sentimento. Para ela, o "ficar" ideal envolve algum tipo de sentimento, mesmo que seja apenas atração.

04 – O que Débora acrescenta à discussão sobre "ficar"?

      Débora concorda com Veruska e enfatiza a importância de ter atração ou sentimento ao "ficar" com alguém, para evitar decepções e frustrações.

05 – Qual é a opinião de Max sobre "ficar"?

      Max discorda da visão de que "ficar" precisa de sentimento. Para ele, "ficar" serve apenas para dar uns beijos, e se a intenção for ter um relacionamento sério, é preciso namorar.

06 – O que Luciana relata sobre a prática de "ficar" atualmente?

      Luciana relata que as pessoas saem para "ficar" sem a intenção de encontrar um parceiro para um relacionamento sério. Ela observa que o objetivo principal é "ficar por ficar", dar uns beijos, sem necessariamente criar laços emocionais duradouros.

07 – Qual é o alerta dado por Bruno sobre os riscos de "ficar" atualmente?

      Bruno alerta sobre os perigos do "ficar" sem conhecer a pessoa, especialmente em relação à possibilidade de contrair doenças sexualmente transmissíveis, como o caso de um amigo que contraiu AIDS após ter relações sexuais com alguém que conheceu em uma festa.

 

 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

REPORTAGEM: A SOLIDÃO DO CAIS - MARIO SERGIO CORTELA - COM GABARITO

 Reportagem: A solidão do cais

                     Mario Sergio Cortela

          "O que há em mim é sobretudo cansaço / Não disto ou daquilo, / Nem sequer de tudo ou de nada; / Cansaço assim mesmo, ele mesmo, / Cansaço"

        O fim está próximo! A ameaça apocalíptica de muitos profetas e de variados loucos momentâneos ecoa não só nos templos ou nos desertos eremíticos. A cada final de ano vem essa impressão. Tempo de preparar-se para prometer revisões para mais tarde, era de nostalgias postergadas, época de tentar esquecer levemente as asfixias do cotidiano e, suspirando, ficar imaginando que falta pouco. Pouco para quê? Pouco para o acabar de um sorrateiro embaço e indefinível cansaço. Neste período, parece que ficamos todos orbitando em um dos modos de ser de Fernando Pessoa, aquele tão bem lembrado pelo (fictício?) Álvaro de Campos: "O que há em mim é sobretudo cansaço / Não disto ou daquilo, / Nem sequer de tudo ou de nada; / Cansaço assim mesmo, ele mesmo, / Cansaço".

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvMdSNvx8N4cAVvWzBVpLt5-TQY5FS5oysNMt2mHbeOU4Kd6PjkjzbMxEFiPhD6UZa6TUxQkJaj8WhUQe3xzUZJmrCBIaf2NNdA4meLeATfgl05iUFwEz80wuGTbh6n8bbPXrThkVkKkXwcWAuiaHPSDhibh-Hz1BXUvtjTbBDLs-TqO-znxTTMNLjGHQ/s1600/CORTELA.jpg


        A sensação é que esse cansaço nebuloso é adiado por algumas estereotipadas e forçadas comemorações coletivas que apenas invadem a inconsciência e perturbam desejos de somente aquietar-se, se não de forma mais definitiva, ao menos suspendendo temporariamente as tensões de ter de existir sem pausa e ser obrigado a participar de um espírito de júbilo traduzido em posse fugaz, matéria plástica e reconciliações transitórias.

        Há um século, em dezembro de 1903, o lisboeta Fernando Pessoa, com pouco mais de 15 anos, conseguiu ser brilhantemente admitido na Universidade do Cabo -o exame (um ensaio escrito em inglês!) rendeu a ele o prêmio Rainha Vitória, grande honraria naquela ocasião. Nascido em 1888, ficou órfão de pai em 1893; a mãe (a quem dedicara sua primeira poesia, escrita com sete anos de idade) casou-se então com um diplomata (sempre viajante) e, para tristeza do menino, poucos meses depois da redação da quadrinha "A Minha Querida Mamã", teve de acompanhá-los na mudança da família para a África do Sul, deixando a terra natal. Em Durban, estudou o idioma britânico, inicialmente em um convento, fez a high school e, em pouco tempo, foi premiado também pelo desempenho em francês. Voltou a viver por um ano em Portugal (enquanto o padrasto gozava de uma licença), retornando à África, na qual o sucesso precoce continuou até o ingresso na universidade.

        Mas nem dois anos tinham ainda se passado e, mesmo com a surpreendente performance acadêmica, o jovem Fernando decidiu regressar novamente a Lisboa, desta vez sozinho, de modo a matricular-se no Curso Superior de Letras. Entre a península Ibérica e o cabo da Boa Esperança, havia a distância e a presença constante do mar, recorrente na obra do poeta e de seu povo. O já aludido heterônimo do plurifacetado Pessoa, Álvaro de Campos, um depressivo genial, é autor da corretamente extensa e conhecida "Ode Marítima", na qual há o secular e perene verso: "Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!".

        Ele sabia, nós sabemos. A solidez do cais, a solidão do cais. Mais um ano. Estar sempre partindo ou ficando. Por isso, para nos dar alguma paz, esse mesmo Álvaro de Campos escreveu que "Na véspera de não partir nunca / Ao menos não há que arrumar malas / Nem que fazer planos em papel, / Com acompanhamento involuntário de esquecimentos, / Para o partir ainda livre do dia seguinte. / Não há que fazer nada / Na véspera de não partir nunca".

        Dessa fonte interna vem a ânsia de descanso e a avidez por sossego. Conclui Pessoa/Campos: "Sossego, sim, sossego... / Grande tranquilidade... / Que repouso, depois de tantas viagens, físicas e psíquicas! / Que prazer olhar para as malas fitando como para nada! / Dormita, alma, dormita! / Aproveita, dormita! / Dormita! / É pouco o tempo que tens! Dormita! / É a véspera de não partir nunca!".

        Conta a lenda filosófica que, todas as vezes que ao filósofo alemão Edmundo Husserl era feita a pergunta "E o senhor, como vai?", ele respondia mediante e sem titubeio: "Bem! Sinto apenas uma certa dificuldade em ser...".

MARIO SERGIO CORTELA, filósofo, professor da PUC-SP, autor de "A Escola e o Conhecimento: Fundamentos Epistemológicos" (ed. Cortez/IPF), entre outros. Folha de São Paulo. Caderno Equilíbrio. São Paulo, 4 dez. 2003, p. 12.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 113.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual a principal ideia que a reportagem busca transmitir?

      A reportagem busca transmitir a ideia de que o cansaço existencial é uma experiência universal, especialmente no final do ano. Ao explorar a vida de Fernando Pessoa e a obra de Álvaro de Campos, o autor sugere que a busca por paz interior e o desejo de escapar da rotina são sentimentos comuns a muitas pessoas.

02 – Qual o papel da figura de Fernando Pessoa na reportagem?

      Fernando Pessoa serve como um exemplo da experiência humana universal de cansaço e busca por sentido. A vida do poeta, marcada por viagens, perdas e a criação de múltiplas personalidades, reflete a complexidade da condição humana.

03 – Qual o significado do "cais" na obra de Pessoa e na reportagem?

      O cais simboliza a transição, a partida e a chegada. É um lugar de encontros e despedidas, de esperança e melancolia. Na obra de Pessoa, o cais representa a saudade da terra natal, a busca por um lugar de pertencimento e a constante sensação de estar em movimento.

04 – Qual a relação entre o cansaço existencial e as comemorações de fim de ano?

      As comemorações de fim de ano, muitas vezes marcadas pelo consumismo e pela superficialidade, contrastam com a busca por um significado mais profundo para a vida. O cansaço existencial se intensifica nesse período, pois as expectativas e as pressões sociais aumentam.

05 – Qual o papel da poesia de Álvaro de Campos na reflexão sobre o cansaço existencial?

      A poesia de Álvaro de Campos, especialmente a "Ode Marítima", expressa de forma intensa o sentimento de cansaço e a busca por um refúgio interior. O poeta retrata a solidão do indivíduo em um mundo frenético e a necessidade de encontrar um momento de paz e tranquilidade.

06 – Qual a importância da frase "Na véspera de não partir nunca"?

      Essa frase expressa o desejo de um descanso eterno, de uma pausa definitiva da jornada da vida. Ela revela a angústia e a exaustão do indivíduo diante da constante correria do dia a dia.

07 – Qual a mensagem final da reportagem?

      A mensagem final da reportagem é um convite à reflexão sobre o sentido da vida e a importância de buscar a paz interior. Ao explorar a obra de Fernando Pessoa e a experiência humana universal do cansaço, o autor nos convida a desacelerar, a valorizar os momentos presentes e a encontrar um significado mais profundo para a nossa existência.