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quarta-feira, 9 de abril de 2025

REPORTAGEM: UM NÃO BEM SONORO AO RACISMO - (FRAGMENTO) - TRIBUNA IMPRESSA - COM GABARITO

 Reportagem: Um não bem sonoro ao racismo – Fragmento

        Na semana passada, durante partida de futebol no estádio do Morumbi entre os times do São Paulo e do Quilmes, pela Copa Libertadores, a atitude racista do zagueiro argentino Desábato, que xingou e ofendeu o atacante do São Paulo, Grafite, não acabou em pizza. Por um acaso, Grafite jogou pela nossa Ferroviária em 2002. O delegado Oswaldo Gonçalves prendeu em flagrante o jogador argentino pelo crime de injúria racial. O zagueiro chegou a ficar preso dois dias, depois foi solto sob pagamento de fiança. Ainda assim, será processado pelo crime que cometeu.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijUsrnvcLqGQ7MQ-_Hk9MB8cxZ1uERJt-WrUjeRdJzra2cHOrLJCpGA5SGHsve9I1ieQZmf8sIU9y7mTOT_-WEBzGTG2HgSMtK9ciK2X5gOqdVPChl2swFSOKqqNk_Pqj6yyWnxLvj-YRLuACmT0tpT51-F6ZHGPkfWax6Q1KbhmF-EO79iyFCz7NFnPI/s1600/JOGADOR.jpg


        A ofensa de caráter racista contra Grafite já havia acontecido na primeira partida entre os dois times, realizada na Argentina. A diretoria do Quilmes chegou a mandar uma carta pedindo desculpas ao brasileiro. Mas o fato se repetiu no Brasil e felizmente não ficou só no papel. Como bem definiu o técnico Emerson Leão, “isso está acontecendo em todos os lugares, alguém tinha de tomar uma decisão”.

        Por isso mesmo, a atitude do delegado em cumprir a lei e punir o zagueiro argentino foi exemplar. O racismo vem ganhando força em muitos países. O que vem acontecendo no futebol é apenas a ponta de um iceberg. Se este tipo de comportamento não é coibido de imediato, corremos o risco de voltar atrás nas relações humanas, no respeito e nos direitos humanos, já conquistados, depois de uma História repleta de casos de escravidão e segregação.

        Desta vez, uma atitude racista, como a do argentino Desábato, não acabou em pizza

        Os recentes casos de racismo no futebol levaram o atacante francês Thierry Henry, do Arsenal, a iniciar uma campanha contra o preconceito racial. Vem ganhando cada vez mais adeptos, entre eles jogadores que não escaparam desse tipo de agressão, como Ronaldo, Roberto Carlos e Juan.

        [...]

        Um grande passo é ver que a reação contra o racismo hoje parte dos próprios ofendidos. Não basta haver uma lei se não há vítimas que reclamem seus direitos. No passado, Pelé, assim como outros jogadores, foram vítimas de racismo. Mas optaram por se calar. O atacante Grafite, por outro lado, já admitiu que aceita o pedido d desculpas de Desábato, mas prometeu que não irá retirar a queixa: “cabia a mim como cidadão tomar uma atitude e procurei os meus direitos. Agora deixo para a Justiça fazer o seu trabalho”. O jogador espera que essa atitude seja um “pontapé” para o fim do racismo no futebol.

        [...]

        Um grande passo é ver que a reação contra o racismo hoje parte dos próprios ofendidos

        A punição do jogador Desábato também deu pontos para o Brasil, visto lá fora e aqui dentro como um país com alto grau de impunidade. O Brasil tem mostrado determinação no combate ao preconceito racial. Outro exemplo recente de racismo no futebol não ficou sem punição. Em março, em jogo entre América-MG e Atlético-MG, o zagueiro Wellington Paulo xingou o colega André Luiz de macaco. Não foi feita denúncia criminal, mas o ofensor foi julgado pelo Código Brasileiro Disciplinar de Futebol e o Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Mineira de Futebol suspendeu-o por 30 dias.

        Infelizmente, ainda há lugares em que as próprias autoridades fazem corpo mole para um problema tão sério como o racismo, que no passado já ajudou a provocar grandes guerras no mundo.

        [...]

        Mudar o comportamento social e cultural de um povo é muito difícil. Não só em relação ao racismo, mas ao preconceito em geral, que é estúpido e condenável em todas as suas facetas, seja de raça, cor, credo, idade, aparência física, etc. Isso só se consegue com a igualdade de direitos e com muita educação para a cidadania, desde muito cedo.

        Mas também se consegue, até certo ponto, pela punição e exemplo. E pelo engajamento. Esperamos que o futebol, esporte popular que une e emociona multidões, possa emocionar e unir as pessoas na luta contra o racismo.

Tribuna Imprensa, 24/5/2005.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 181-182.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual foi o incidente que desencadeou a prisão do jogador Desábato?

      Desábato, zagueiro argentino, proferiu ofensas racistas contra o atacante Grafite durante uma partida de futebol no estádio do Morumbi, pela Copa Libertadores.

02 – Qual a importância da atitude do delegado Oswaldo Gonçalves nesse caso?

      O delegado agiu de forma exemplar ao prender Desábato em flagrante pelo crime de injúria racial, demonstrando que o racismo não seria tolerado e que a lei seria aplicada.

03 – Como o jogador Grafite reagiu às ofensas racistas?

      Grafite decidiu prestar queixa contra Desábato, afirmando que era seu dever como cidadão buscar seus direitos, e esperava que sua atitude servisse como um "pontapé" para o fim do racismo no futebol.

04 – Qual a relevância da punição de Desábato para a imagem do Brasil?

      A punição de Desábato ajudou a melhorar a imagem do Brasil, demonstrando que o país está determinado a combater o preconceito racial e que a impunidade não seria mais aceita.

05 – Quais outros jogadores de futebol foram mencionados na reportagem por se engajarem na luta contra o racismo?

      A reportagem menciona Thierry Henry, Ronaldo, Roberto Carlos e Juan como jogadores que se engajaram em campanhas contra o preconceito racial.

06 – Qual a diferença de comportamento entre Pelé e Grafite em relação ao racismo?

      Pelé, assim como outros jogadores do passado, optou por se calar diante de ofensas racistas. Grafite, por outro lado, decidiu denunciar o crime e buscar seus direitos.

07 – Quais medidas a reportagem aponta como necessárias para combater o racismo?

      A reportagem destaca a importância da punição, do exemplo, do engajamento, da igualdade de direitos e da educação para a cidadania desde cedo como medidas cruciais para combater o racismo.

 

terça-feira, 8 de abril de 2025

REPORTAGEM: VIDA E MORTE, UMA QUESTÃO DE DIGNIDADE - (FRAGMENTO) - MÔNICA MANIR - COM GABARITO

 Reportagem: Vida e Morte, uma questão de dignidade – Fragmento

                     Mônica Manir

        Por mais de 12 anos, o padre Leo Pessini fez de um hospital sua paróquia. À beira dos leitos ou pelos corredores, compartilhou graças de cura, ministrou extremas-unções, prestou pronto-socorro às dores da alma. [...]

Fonte:  https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTLAoEquBvM-Z4twuCvht24-iFU-0jSutBqBgYg1OxfUsE9UAry_W__d6r_M7oVVmFQqdKVzeR9cluuipQ8r8lFt8JUErLEuAKmyzOAPLQIsNR7rZ5kOx9mStZmSfsCstUZ5hsFUxbB9-CvhontwFzjXLZahPVpXIrgJhU9blVQJNQtiySR1C5c99BvbA/s1600/DIREITO.jpg


        [...]

        Você lerá a seguir algumas respostas dadas pelo padre às questões propostas pelo jornal.

        Para fugir do rótulo de eutanásia, proibida pela legislação, os médicos retiraram o tubo (de Terri Schiavo) em vez de oferecer algum medicamento que lhe tirasse a vida. Ainda assim, a opção é vista como eutanásia?

        Sim, é uma eutanásia passiva ou por omissão, moralmente inaceitável. O termo “eutanásia” quer dizer, literalmente, morte boa, sem dor nem sofrimento, assistida por um médico, ao doente moribundo. No século XX, porém, esse tom benévolo ganhou um caráter pejorativo depois que nazismo “eutanasiou” cerca de 100 mil pessoas, principalmente recém-nascidos, idosos e deficientes físicos e mentais. A eutanásia pode ser ativa ou passiva. Um exemplo de eutanásia ativa é a administração de uma overdose de morfina. O caso de Terri ilustra a passiva.

        A Igreja condena a eutanásia, mas autoriza os médicos a deixarem uma pessoa morrer em paz. Qual é a diferença?

        Deixar a pessoa morrer em paz é aceitar a condição humana e evitar que se usem procedimentos médicos desproporcionais em relação aos resultados esperados. É negar o abreviamento da vida ou eutanásia, mas também o prolongamento exagerado da agonia, do sofrimento e da morte do paciente por meio da tecnologia e dos medicamentos – a chamada distanásia. Tratamento fútil e inútil, a distanásia não estende a vida propriamente dita, e sim o processo de morrer. Diante de um prognóstico certo de que não há mais cura para determinada doença – e nem sempre é fácil chegar a isso –, paira uma obstinação terapêutica em busca da cura da morte. Nesse sentido, em vez de manter a pessoa indefinidamente presa a uma máquina, seria mais apropriado investir em cuidados paliativos que dessem mais conforto ao doente numa fase terminal.

        Negar os recursos da tecnologia a um paciente não seria ferir um dos objetivos clássicos da medicina, que é prolongar a vida?

        Não sou contra a tecnologia, mas contra a “tecnolatria”, que coloca os aparelhos e a farmacologia num pedestal. [...] Hoje as UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) são modernas catedrais do sofrimento humano. Só deveria ir para a UTI quem tem esperança de cura e saúde, mas não é bem isso o que acontece.

        [...]

Mônica Manir. O Estado de São Paulo, 27/3/2005.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 224-225.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual foi a experiência marcante do Padre Leo Pessini mencionada no início do texto?

      Por mais de 12 anos, ele fez de um hospital sua paróquia, compartilhando momentos com pacientes à beira dos leitos e nos corredores, oferecendo apoio espiritual em diversas situações.

02 – Como o Padre Leo Pessini classifica a retirada do tubo de Terri Schiavo, mesmo sem a administração de medicamentos letais?

      Ele classifica essa ação como eutanásia passiva ou por omissão, considerando-a moralmente inaceitável.

03 – Qual a definição literal de "eutanásia" apresentada no texto e como essa palavra adquiriu uma conotação negativa?

      Literalmente, "eutanásia" significa "morte boa, sem dor nem sofrimento, assistida por um médico, ao doente moribundo". A palavra ganhou um caráter pejorativo devido ao uso pelo nazismo para justificar a morte de cerca de 100 mil pessoas.

04 – Qual a distinção que a Igreja faz entre eutanásia e "deixar a pessoa morrer em paz", segundo o Padre Leo Pessini?

      "Deixar a pessoa morrer em paz" significa aceitar a condição humana e evitar procedimentos médicos desproporcionais. Diferentemente da eutanásia, que abrevia a vida, e da distanásia, que prolonga exageradamente o sofrimento, essa abordagem foca em não impedir o curso natural da morte quando a cura não é mais possível.

05 – O que é distanásia, e qual a crítica do Padre Leo Pessini a essa prática?

      Distanásia é o prolongamento exagerado da agonia e da morte de um paciente por meio de tecnologia e medicamentos, mesmo quando não há mais esperança de cura. O Padre Pessini critica essa prática, chamando-a de tratamento fútil e inútil que apenas estende o processo de morrer.

06 – Qual a ressalva feita pelo Padre Leo Pessini em relação ao uso da tecnologia na medicina?

      Ele não é contra a tecnologia em si, mas sim contra a "tecnolatria", que supervaloriza aparelhos e farmacologia. Ele argumenta que as UTIs, por exemplo, deveriam ser reservadas para quem tem esperança de cura, o que nem sempre acontece.

07 – Qual a alternativa de cuidado que o Padre Leo Pessini sugere para pacientes em fase terminal, em vez da obstinação terapêutica?

      Ele sugere investir em cuidados paliativos, que visam dar mais conforto e dignidade ao doente em fase terminal, em vez de manter a pessoa indefinidamente presa a máquinas na busca incessante pela cura da morte.

 

quarta-feira, 2 de abril de 2025

REPORTAGEM: SEM PRECONCEITO NENHUM SOU PRETO - FRAGMENTO - ALMANAQUE BRASIL CULTURA POPULR - COM GABARITO

 Reportagem: SEM PRECONCEITO NENHUM SOU PRETO – Fragmento

          Deu no jornal: branco ganha mais que branca que ganha mais que negro, que ganha mais que negra. Mas já foi pior. Com otimismo contagiante, Martinho da Vila falou ao Almanaque Brasil Cultura Popular, no Papo-cabeça do mês em que se celebra o Dia da Consciência Negra

      “Nada antigamente era melhor do que hoje”

      Como você vê as conquistas?

        A mudança fundamental é a gente poder falar. Houve um tempo no qual era muito difícil, para os militantes, falar do movimento. Outro tempo foi o de contestação. A luta hoje é por participação na sociedade. A estratégia de protestar é fácil, basta agredir. A de contestar é mais difícil. Uns vinte anos atrás, vi em Nova York aqueles luminosos, achava fantástico, ao mesmo tempo estranho: era porque havia negros nos cartazes. Uma coisa que não havia no Brasil. Agora vemos aí vários cartazes com negros.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_5drfwkN9yrOCP47_SD7w62gpSEqLSdhKJyFrCrQ8hKrutvUaIlIk0LeveTGQTAw9v4DMUgGYknEzHAr8Pa2-jpk_jcK3yctOqr75ujGKDaaahxIXDQ0BG7ICnaRM8gG7ivU47PcOI4C7vCFbYDd6TckgGeHW9oE2PH8PLR2YVo1eDhNXAEXsQ2y29lA/s320/NEGRO.jpeg 


      Mas nós temos a peculiaridade da mestiçagem, que nos diferencia de vários países aos quais os negros chegaram como escravos.

        Isso é bom, porque criamos a raça- Brasil. Mas não saiu tão perfeito, porque na América do Norte o negro vive melhor e lá muito mais negros participam da administração, das universidades. Cheguei a um banco, vi aquele monte de negros trabalhando, olhei na gerência: só tinha negro! Uma coisa que não existe no Brasil. Aqui tratam você muito bem, tanto quanto qualquer cliente que tenha conta, não discriminam, tudo bem. Então a mestiçagem foi muito boa, mas contribui para manter essa diferença.

      Nos estados unidos existe obrigatoriedade de empregar uma proporção de negros, o sistema de cotas. Você é a favor?

        Sou favorável. Subir na sociedade depende da convivência. Um conhece um, outro conhece outro. Tanto é que a pessoa, mesmo sem ter preconceito doentio, diz: “eu vou na escola de samba, eu vou no botequim, eu vou na casa do empregado”, tudo certo. É uma coisa incrível. Por isso, sou a favor das cotas.

      O pessoal é contra, por quê?

        Porque acha que devíamos lutar para conquistar. E cada um que conquista é um exemplo. Dou razão a ele. Mas é um processo muito longo. [...]

      O povo negro tem consciência de sua história? Se não tem, por que não tem?

        Não tem. Nem o povo negro, nem o povo brasileiro. Creio que a maioria de vocês não sabe quem foi o tetravô, nem o bisavô, eu mesmo não sei direito.

      Vamos pegar então você, a sua genealogia.

        Tem aquela camisa “100% negro”; eu vou botar uma camisa “70%”. Dentro da minha família, a gente evitava falar, era perigoso. Você era doutrinado a não falar da cultura negra, religião afro, para poder avançar, conseguir emprego, estudar. Tinha que renegar a origem. [...] A gente nunca estudou o continente africano. Pulou! Éramos obrigados estudar países nórdicos, mas ninguém perguntava onde fica Angola, Moçambique. [...]

      A surrada questão que se discute é por que negro que sobe na escala social casa com branca.

        Primeiro, nós somos iguais a qualquer um, influenciáveis. Os padrões de beleza que nos venderam a vida inteira qual foi? A mulher branca. Isso fica no inconsciente, arquivado. O outro motivo: quando ele sobe, nos lugares onde anda só tem branca. Se ele não casar com branca, só se for racista. [...]

      A oportunidade é hoje maior para o jovem, a criança negra?

        Com certeza. Um filho de pobre, de negro, não podia sonhar em ser deputado, governador, senador. Hoje, qualquer filho nosso pode ser presidente. Antes, nem era cidadão.

      Resta algum preconceito em alguma camada?

        A juventude brasileira, arrisco dizer, é hoje sem preconceito. Existe ainda nas pessoas mais velhas, daquela classe dominante antiga, que perderam muita coisa. O Brasil não tem 4 mais o preconceito doentio. Estamos avançando. O Brasil está muito melhor. Minha mãe, que tem 92 anos, analfabeta, tem uma sabedoria fantástica. Sempre que alguém fala “ah, antigamente era melhor”, ela me chama e diz: “mentira, Martinho, nada antigamente era melhor do que hoje”. E tem razão.

Almanaque Brasil Cultura Popular, n. 8, nov. 1999, p. 22-23.

Fonte: Português. Uma proposta para o letramento. Magda Soares – 8º ano – 1ª edição. Impressão revista – São Paulo, 2002. Moderna. p. 147-148.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual a observação inicial da reportagem sobre a desigualdade racial no Brasil?

      A reportagem aponta para a desigualdade salarial, onde brancos ganham mais que brancas, que ganham mais que negros, que ganham mais que negras, reconhecendo que, apesar de tudo, a situação já foi pior.

02 – Qual a principal mudança observada por Martinho da Vila em relação à questão racial no Brasil?

      A possibilidade de falar abertamente sobre o movimento negro, algo que era difícil no passado.

03 – Como Martinho da Vila compara a situação dos negros no Brasil com a dos Estados Unidos?

      Ele reconhece que, apesar da mestiçagem brasileira, os negros nos Estados Unidos têm maior participação na administração e universidades, e vivem em melhores condições.

04 – Qual a opinião de Martinho da Vila sobre o sistema de cotas?

      Ele é favorável às cotas, pois acredita que a convivência é fundamental para a ascensão social dos negros.

05 – Por que algumas pessoas são contra o sistema de cotas, segundo Martinho da Vila?

      Porque acreditam que os negros devem conquistar seu espaço por mérito próprio, sem auxílio de cotas.

06 – Qual a observação de Martinho da Vila sobre o conhecimento da história pelos brasileiros, incluindo os negros?

      Ele acredita que a maioria dos brasileiros, incluindo os negros, desconhece sua própria genealogia e história.

07 – Qual a explicação de Martinho da Vila para o fato de negros que ascendem socialmente frequentemente se casarem com brancas?

      Ele aponta para a influência dos padrões de beleza impostos pela sociedade e para a maior convivência com pessoas brancas em determinados ambientes sociais.

08 – Martinho da Vila acredita que as oportunidades para jovens e crianças negras melhoraram?

      Sim, ele acredita que as oportunidades aumentaram significativamente, permitindo que negros alcancem posições de destaque na sociedade.

09 – Em quais camadas da sociedade Martinho da Vila acredita que ainda existe preconceito?

      Ele acredita que o preconceito ainda persiste em pessoas mais velhas, da antiga classe dominante.

10 – Qual a opinião da mãe de Martinho da Vila sobre a ideia de que "antigamente era melhor"?

      Ela discorda veementemente, afirmando que "nada antigamente era melhor do que hoje", e que hoje em dia, as coisas estão melhores.

 

REPORTAGEM: O HOMEM DE GELO - FRAGMENTO - EDUARDO OHATA - COM GABARITO

 Reportagem: O homem de gelo – Fragmento

                     EDUARDO OHATA – DA REPORTAGEM LOCAL

        Brasileiro afirma que sangue-frio e clima serão trunfos para completar a escalada do K2, no Paquistão, montanha mais perigosa do mundo, responsável pela morte de 54 pessoas

        A -30ºC, o sangue-frio será, em diversos sentidos, a principal arma de Waldemar Niclevicz, 33, em sua terceira tentativa de se tornar o primeiro brasileiro a escalar o K2, segunda maior montanha do mundo e a mais perigosa, localizada no norte do Paquistão, perto da fronteira com a China.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRskLF1JmpzikzDfKMXZeTH2N-U-ygOznaS1pPPDN8g5h42m2CtJiECe0Z6iiLmPNJvH4wIcLf7ivqIu3s_VVlS1vnVir6VR6sV7wqWlxwCCW6vyPcwUeVgWJit38oB7TPQuKcaHSn5cjlOrywczrfiUAB4tSdwtjzpPuY-ILStrQaoGUlqmIx1MtZRvU/s320/brasileiros-atingem-o-cume-do-k2-a-montanha-mais-perigosa-do-mundo.jpg


        O K2, com 8.611 m, por seu alto grau de dificuldade – 54 pessoas morreram ao tentar escalá-lo –, foi conquistado por só 164 alpinistas e também já provocou muitas mortes na descida. Embora seja o mais alto e famoso do mundo, o Everest, de 8.848 m, teve a escalada concluída por 1.200 pessoas.

        Niclevicz, primeiro brasileiro a escalar o Everest e que tentou e teve de desistir da escalada do K2 em 1998 e 1999, deixa o país nesta quarta, acreditando que estar frio será importante em dois aspectos: o climático e o psicológico.

        “Quanto mais frio, melhor. Isso significa que o clima está estável e há menos riscos de avalanches. Sinto-me mais seguro quando estamos a -30ºC ou temperaturas mais baixas. É quando a temperatura começa a oscilar que chega a hora de nos preocuparmos.”

        O alpinista brasileiro acredita que para ser bem-sucedido nesta nova tentativa também vai ser fundamental o sangue-frio que adquiriu com a experiência acumulada nas duas vezes em que tentou escalar o K2, por já conhecer bem a rota de escalada, chamada de Esporão dos Abruzzos.

        O K2 é considerado mais difícil de escalar – há três anos ninguém alcança seu topo –, pois tem um alto grau de inclinação, com contornos abruptos, além de ficar na parte mais inacessível da Cordilheira do Himalaia, onde não há estrutura ou vilas.

        Em sua primeira tentativa, em 1998, o brasileiro foi obrigado a desistir por causa de uma avalanche, após ter alcançado os 8.040 m. Na segunda, no ano passado, a morte de um colega romeno, atingido na cabeça por uma pedra, impressionou o grupo de alpinistas e levou Niclevicz a desistir.

        Hoje, ele acha que tem mais sangue-frio, ao se acostumar com ocorrências que antes o assustavam, como, além dos acidentes, as avalanches com pedaços de corpos de pessoas desaparecidas.

        “‘Respeito muito o K2, é realmente uma escalada perigosa. Mas hoje não fico mais impressionado com ele. Sabemos como chegar ao topo, depende de nós mesmos, é uma escalada interna’, filosofa. ‘Perguntam se gosto de adrenalina. Ao contrário, sou muito prudente, com os pés no chão. Esse é meu segredo.’”

        [...]

Folha de São Paulo, São Paulo, sábado, 27 maio 2000. Caderno Esporte, p. 8. (Fragmento).

Fonte: Português. Uma proposta para o letramento. Magda Soares – 8º ano – 1ª edição. Impressão revista – São Paulo, 2002. Moderna. p. 185-186.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é o principal desafio que Waldemar Niclevicz enfrenta ao escalar o K2?

      O principal desafio é a extrema dificuldade da montanha, conhecida como a mais perigosa do mundo, com um alto índice de mortalidade entre os alpinistas.

02 – Por que Waldemar Niclevicz considera o "sangue-frio" tão importante para essa escalada?

      O "sangue-frio" é crucial tanto para lidar com as condições climáticas extremas quanto para manter a calma diante dos perigos e desafios psicológicos da escalada.

03 – Quais são os fatores que tornam o K2 mais difícil de escalar do que o Monte Everest?

      O K2 possui um alto grau de inclinação, contornos abruptos e está localizado em uma área remota do Himalaia, sem infraestrutura ou vilas próximas.

04 – Quais foram os principais obstáculos enfrentados por Niclevicz em suas tentativas anteriores de escalar o K2?

      Em 1998, ele foi forçado a desistir devido a uma avalanche. Em 1999, a morte de um colega alpinista o levou a abandonar a escalada.

05 – Como a experiência prévia de Niclevicz influenciou sua abordagem para a nova tentativa de escalada?

      Ele acredita que sua experiência o tornou mais acostumado aos perigos da montanha, como avalanches e a visão de corpos de alpinistas desaparecidos, permitindo que ele mantenha a calma.

06 – Qual a opinião de Waldemar Niclevicz sobre a adrenalina em suas escaladas?

      Ao contrário da crença popular, ele se considera uma pessoa prudente e com os pés no chão, enfatizando que a prudência é seu segredo para o sucesso.

07 – Qual a comparação entre o K2 e o Everest em relação ao número de escaladas bem-sucedidas?

      Enquanto o Everest já foi escalado por cerca de 1.200 pessoas, apenas 164 alpinistas conseguiram chegar ao topo do K2.

 

REPORTAGEM: A DITADURA DA MODA - (FRAGMENTO) - FOLHA DE SÃO PAULO - COM GABARITO

 Reportagem: A ditadura da moda – Fragmento

          Uma garota morre de vontade de comer cachorro-quente e tomar sorvete, mas não come nada porque quer que lhe caia bem uma calça de cintura baixa que acabou de comprar. Um rapaz odeia fazer exercícios, mas passa horas na academia só pra ter o corpo malhado e ser elogiado pelas garotas. Afinal, quem é que manda em nosso corpo e em nossas vontades? Que valores são esses que, quando menos percebemos, começamos a incorporar?

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4ToMh2i8ymaE43yll4Yp2TQBe-PqF3ZQ8z344CW1KcGCPjGPBpxvP8T_8xzOGkUjzgc0A2902-PkBoFumFKTlFJck3S5ulZAzj1VCMK38RFuvhMxSFJKfQC-zxpbyRmqQwHhIFKeQxjHHKxPoTO6rH_ZfGud2rECsPj4PecTLHqQyJubY2YfgrvyeE-c/s320/DITADURA.jpg


Diários do terror

        Garotas correm risco de morrer ao defender em blogs a anorexia e a bulimia como estilo de vida

        Um perigo para a saúde internet. Para defender o que estilo de vida e que, na verdade, são dois distúrbios alimentares graves que podem levar à morte, algumas meninas escrevem blogs, participam de discussões e criam comunidades no Orkut dedicados à bulimia e à anorexia.

        A anorexia faz com que meninas, mesmo magras, se sintam gordas e não comam; já a bulimia é marcada por episódios de compulsão alimentar seguidos de culpa. É comum passar de urna doença para a outra.

        Cúmplices nesse suicídio lento, algumas meninas criam uma rede amigas virtuais, na qual se conhecem apenas pelo MSN (programa de mensagens instantâneas), por e-mail, cartas e pelos comentários que deixam nos blogs (diários on-line) das outras. Com idades entre 15 e 17 anos, descobrem nos sites uma maneira de conseguir apoio para continuarem doentes, usando esses blogs para confessar práticas como vomitar após comer e dietas conhecidas por "no food" (sem comida), na qual ficam muitos dias sem se alimentar.

        Esses sites também acabam atraindo garotas que têm todos os fatores de risco para desenvolver um distúrbio alimentar para embarcar nessa prática mortal.

        Chamam-se entre si de “ana” e “mia”, nomes “carinhosos” para defender a anorexia e a bulimia. Nos blogs, "miar" é sinônimo de "vomitar". Sem limites, elas querem ser as mais magras possíveis. Sofrem ainda de forte depressão e são indiferentes quanto ao risco de morte que correm.

        Sem sair da frente do computador, elas trocam dicas de corno provocar o vômito, de como enganar os familiares e amigos e de como suportar ficar dias sem comer. "A anorexia e a bulimia” são dois grandes estados de solidão. Elas dizem que não é doença, é opção de vida. Não é verdade. Quando a doença toma conta, tira delas qualquer opção", afirma a psiquiatra Tatiana Moya, que defendeu tese na USP sobre transtornos alimentares.

        "Fiz o blog há um ano para contar a minha vida. Começaram a visitá-lo e daí conheci outros. Na internet eu posso ser qualquer um", conta Renata, 17 anos, que tem 1,63 m e 48 kg. Para ela, "35 kg estará de bom tamanho", apesar de saber que, antes de chegar a esse peso, já poderá estar morta. "Sinto os meus batimentos cardíacos fracos e a capacidade dos meus pulmões meio reduzida. Não é agradável, mas é necessário, embora eu saiba que posso morrer antes."

        A família dela já sabe do problema, mas não do blog. Renata é tratada por um psicólogo e um psiquiatra. "Eles me dizem o quanto é bom comer, que é sinal de felicidade. Para meu psiquiatra, tenho um misto de anorexia e bulimia, mas para mim não é. Não estou doente. Sinto-me indiferente."

        Nesse universo secreto, há até uma certa disputa macabra de quem consegue ficar mais tempo em uma dieta "no food". "Já fiquei oito dias sem comer nada. Depois, o corpo não vai aguentar uma quantidade estúpida de comida."

        A desculpa de muitas garotas para seguir essa dieta mortal é à pressão da mídia e da publicidade. "Vivemos vendo aquelas modelos magérrimas em propagandas e todas aquelas mulheres maravilhosas na TV Com isso nos sentimos inferiores. A mais feia das feias", diz a gaúcha Karina, 16 anos, 1,70 m de altura, 55 kg, que quer pesar menos de 50 kg. "As adolescentes são mais suscetíveis às pressões para emagrecer. O estopim para desencadear esse processo doentio pode ser a imagem de magreza que o mercado da moda e a mídia colocam como ideal", diz a psicanalista Maria Beatriz Meirelles Leite, consultora de agências de modelos.

        Todas as entrevistadas pelo Folha Teen concordam que os blogs as influenciaram a seguir práticas que podem levar à anorexia. A gaúcha Karina aprendeu técnicas de como vomitar em um dos sites. "Os blogs me dão força de vontade. Fiz amigas, com as quais converso no MSN, mas não nos conhecemos pessoalmente." Disfarçar a existência do blog' é fácil; difícil é esconder às vezes que se vomita. "Procuro não fazer barulho. Lavo o rosto e vou para o quarto. Já vomitei sete vezes num dia", diz Karina.

        A paranaense Isabel, 15 anos, 1,70 m de altura, 64 kg, quer pesar 45 kg. Ela sobe na balança todos os dias, pela manhã, e diz que se sente horrível. Criou o blog há menos de um mês. "Fiquei sabendo deles quando, por curiosidade, resolvi ver blogs de anas e mias."

        Isabel sabe que pode morrer se continuar nesse regime, mas não pensa em se tratar. "Acho que todas as anas e as mias sabem que isso leva à morte. Várias meninas já perderam amigas anas por isso. Mas, mesmo assim, isso não nos leva a desistir."

        [...]

Folha de São Paulo, 7/2/005. FolhaTeen.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 12-14.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual o principal problema abordado na reportagem?

      A reportagem aborda a influência da moda e da mídia na imposição de padrões de beleza irreais, levando jovens a desenvolverem distúrbios alimentares como anorexia e bulimia.

02 – Como a internet contribui para a disseminação desses distúrbios?

      A internet serve como um espaço onde jovens compartilham dicas e incentivam uns aos outros a manterem práticas prejudiciais à saúde, como dietas extremas e indução de vômito.

03 – Quais são os principais riscos à saúde mencionados na reportagem?

      A anorexia e a bulimia são destacadas como distúrbios alimentares graves que podem levar à morte, além de causarem depressão e outros problemas de saúde mental.

04 – Qual a influência da mídia e da publicidade nos padrões de beleza?

      A mídia e a publicidade promovem imagens de modelos extremamente magras, o que leva jovens a se sentirem pressionados a alcançar esses padrões irreais.

05 – Como os blogs e comunidades online influenciam as jovens com distúrbios alimentares?

      Esses espaços virtuais oferecem um senso de comunidade e apoio, mas também reforçam comportamentos doentios e dificultam a busca por tratamento.

06 – Qual o papel dos profissionais de saúde no tratamento desses distúrbios?

      Psicólogos e psiquiatras são essenciais para ajudar as jovens a reconhecerem a gravidade de seus problemas e a desenvolverem uma relação mais saudável com a comida e seus corpos.

07 – Qual a importância do apoio familiar no tratamento desses distúrbios?

      O apoio familiar é fundamental para o sucesso do tratamento, pois ajuda as jovens a se sentirem amadas e aceitas, independentemente de sua aparência.

08 – Como a reportagem descreve a relação das jovens com seus corpos?

      As jovens se sentem constantemente insatisfeitas com seus corpos, buscando incessantemente a magreza extrema, mesmo colocando em risco suas próprias vidas.

09 – Qual a mensagem principal da reportagem sobre a "ditadura da moda"?

      A reportagem critica a imposição de padrões de beleza irreais pela moda e pela mídia, destacando os perigos que esses padrões representam para a saúde física e mental dos jovens.

10 – Quais são os sinais de alerta que indicam que uma jovem pode estar sofrendo de anorexia ou bulimia?

      Perda de peso excessiva, obsessão por dietas e exercícios, isolamento social, mudanças de humor repentinas e comportamentos como induzir o vômito ou esconder alimentos são sinais de alerta importantes.

REPORTAGEM: A CASA DO PEDREIRO VIROU BIBLIOTECA - O ESTADO DE S. PAULO - COM GABARITO

 Reportagem: A casa do pedreiro virou biblioteca

        Morador de São Gonçalo, no Rio, bateu de porta em porta para receber livros

        Carlos Leite mal consegue ler, mas os livros mudaram sua vida. Dois anos atrás, ele fazia uma construção para uma pessoa que ia se desfazer de seis volumes de uma enciclopédia. Leite pediu para ficar com eles. Assim nasceu um sonho.

        Ele decidiu bater de porta em porta na cidade da Baixada Fluminense, pedindo livros indesejados às pessoas. Nenhuma contribuição era pequena demais. Amigos foram convencidos a ajudá-lo. A biblioteca, que abriu as portas em março de 2004, tem 10 mil volumes de todo tipo.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfKn59IzEbo0ew3BmXsQOUDq3IzpjGvh2WT4PxAqBViaCRAY1gu90fm7R7qc6dev_YtgPKsZncumZNgMa6b2tndkrXj8x-VtUSSnM5h-oygOj27VUf09915KBqEY9wvlDcQl8HeK-rqkPSZLetG9TywN4L2lyYN1fMp1yJJ-PbjsfBxFJOveFr_4zLhl8/s320/LIVRO.jpg


        Para Leite, porém, os livros são um mistério. De família pobre, ele abandonou a escola no terceiro ano e hoje, aos 51, é analfabeto funcional. Mas sabe a importância dos livros. “Pode ser tarde para mim, um pedreiro, mas não para outros”.

        Assim floresceu a paixão que tem consumido seu tempo livre e transformou sua casa numa biblioteca pública, gratuita e aberta à vizinhança pobre neste subúrbio do Rio. Quem visita a casa de Leite encontra garotos fazendo a lição no que era seu quarto. Adultos folheiam títulos no que era a sala. Um festival de brochuras e livros sobre quase todo assunto imaginável, alguns em estado lamentável, cobre todo espaço disponível das paredes.

        O espaço para os livros é tão precioso que Leite e a companheira, Maria da Penha, se mudaram para um quartinho nos fundos. “Este é o único espaço que temos para dormir. Os livros nos chutaram para fora. Se não tomarmos cuidado vão nos chutar para fora deste quartinho também”.

        Um grande cartaz pintado à mão no telhado da casa anuncia: Biblioteca Comunitária, Rua 18. O que Maria da Penha e Leite fizeram é notável quando se considera o desafio que é criar o hábito de ler num país com um dos níveis mais baixos de leitura do mundo. O americano e o inglês médios leem 5 livros por ano. Na França, 7. No Brasil, menos de 2.

        Os brasileiros são prejudicados pela falta de acesso. Autoridades dizem que quase 1 mil dos 5500 municípios do país não têm biblioteca pública. Um estudo de 2001 estima que 16% da população têm 75% de todos os livros no Brasil. Além disso, o analfabetismo continua alto, com 16 milhões de brasileiros com mais de 15 anos incapazes de ler ou escrever.

        O governo brasileiro lançou uma série de iniciativas para melhorar a situação, inclusive com redução de impostos e campanha para criar bibliotecas. Mas Leite e Maria da Penha não quiseram esperar.

O Estado de S. Paulo, 5/10/2005.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 21.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual a profissão de Carlos Leite e como surgiu a ideia da biblioteca?

      Carlos Leite é pedreiro. A ideia da biblioteca surgiu quando ele recebeu seis volumes de uma enciclopédia de um cliente e decidiu pedir mais livros de porta em porta.

02 – Qual a situação de Carlos Leite em relação à leitura e escrita?

      Carlos Leite é analfabeto funcional, ou seja, tem dificuldade em ler e escrever, pois abandonou a escola no terceiro ano.

03 – Como a comunidade local utiliza a biblioteca de Carlos Leite?

      A biblioteca é utilizada por crianças para fazerem lição de casa e por adultos para leitura, tornando-se um espaço comunitário importante.

04 – Qual o impacto da biblioteca na vida de Carlos Leite e sua companheira, Maria da Penha?

      A biblioteca transformou a casa do casal, que precisou se mudar para um quarto nos fundos para acomodar os livros.

05 – Qual a importância da biblioteca de Carlos Leite em relação ao cenário de leitura no Brasil?

      A iniciativa de Carlos Leite é notável em um país com baixos índices de leitura e dificuldades de acesso a livros e bibliotecas.

06 – Quais os desafios enfrentados pelo Brasil em relação ao acesso à leitura, segundo a reportagem?

      O Brasil enfrenta desafios como a falta de bibliotecas públicas em muitos municípios, a concentração de livros nas mãos de poucos e o alto índice de analfabetismo.

07 – Quais as ações do governo brasileiro para melhorar o acesso à leitura?

      O governo brasileiro tem lançado iniciativas como redução de impostos e campanhas para criar bibliotecas, buscando reverter o cenário de baixa leitura no país.

 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

REPORTAGEM: A HORA DO LOBO - AFONSO CAPELAS JR. - COM GABARITO

 Reportagem: A hora do lobo

                      Afonso Capelas Jr.

        Ele está sendo visto cada vez com mais facilidade, em geral revirando latas de lixo em busca de comida. Há quem acredite que sua população está aumentando. Mas é possível que o lobo-guará ainda seja um de nossos bichos mais ameaçados. E, como tantos outros, esteja apenas brigando pela sobrevivência.

        O escuro da noite chega no alto do Parque Nacional da Serra da Canastra, em Minas Gerais, e de repente, atraído pelo cheiro de comida e pelo tilintar de talheres e panelas, um lobo-guará se aproxima do alojamento de funcionários do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente). O bicho vasculha avidamente a lixeira à procura de restos de comida, como se fosse um mero cachorro vira-lata. Seu apetite voraz faz com que mastigue e engula até mesmo embalagens de plástico e alumínio. A cena se repete cotidianamente e revela o drama do maior e mais belo canídeo da América do Sul, que já não consegue encontrar no cerrado – seu habitat cada vez mais devastado pela atividade humana – a quantidade suficiente de alimento de que precisa para sobreviver.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQRMMY86ox2e14d77uzUOWCOMvXtJKpVc4aX93W4OWketMoHxw9nLTeci91zcHssnDub3zoaovPSCRPmkz5FcsrWCxv9BKywiZz0ze8ZcxQxLLQM1WLXnL2_9Zn2hobpfBrRfXFqj2RVgTybDm50HJ08HSYImZ_b90oibUjpw_TT3GRR4q1r6cXKkeaLc/s320/lobo.jpg 


        Alguns biólogos acreditam que as aparições cada vez mais frequentes de lobos-guará à procura de comida fácil em áreas habitadas pelo homem têm causado a falsa impressão de que a população da espécie está aumentando. Outros dizem que os lobos estão mesmo proliferando, mas de maneira perigosa, pois seus hábitos originais estão sendo alterados. A despeito das controvérsias, o Ibama acena com a hipótese de tirar o lobo-guará da lista de espécies ameaçadas de extinção, em que está incluído desde 1989. Uma nova relação está sendo preparada. Deverá ser divulgada ainda neste ano e já causa apreensão entre os pesquisadores. Muitos temem que o Ibama decida mesmo pela exclusão do lobo-guará da próxima lista negra, por considera-lo a salvo do desaparecimento. Mas julgam que ainda é muito cedo para tomar tal decisão.

        Dono de pernas compridas, andar elegante, corpo esguio recoberto fartamente de pelos avermelhados, o lobo-guará é um andarilho nato, capaz de percorrer muitos quilômetros por dia. Originalmente encontrado em regiões dominadas pelo cerrado brasileiro – em pontos esparsos desde a Bahia até o Rio Grande do Sul –, nosso lobo também já foi visto nas fronteiras com a Argentina, Paraguai, Peru, Bolívia e Uruguai. Adulto, chega a medir até 1,90m de comprimento e a pesar quase 25 quilos. Um casal de lobos-guará pode ocupar um território de até 30 quilômetros quadrados, devidamente demarcados por urina e fezes. Mesmo convivendo em um mesmo território, o casal mantém a sua sina solitária. Sempre caminhando distantes um do outro, macho e fêmea só se juntam na época do acasalamento, que resulta  em uma ninhada de três filhotes, em média.

        O lobo tem fome – Além de solitário, o lobo-guará é dono de uma fome incomparável. Gosta de caçar pequenos roedores e até insetos, mas também mantém uma dieta de vegetais – em especial o fruto de um arbusto conhecido como lobeira ou fruto-do-lobo, responsável por 50% de sua alimentação. Como o cerrado tem cedido lugar à agricultura, esse cardápio está cada vez mais raro. Sem outra alternativa, o lobo-guará vai chegando mais próximo das áreas habitadas pelos humanos. “Os lobos estão tentando se adequar ao progresso para sobreviver”, reconhece Rogério Cunha de Paula, biólogo da Associação Pró-Carnívoros que estuda os hábitos desses animais na Serra da Canastra e está preparando sua tese de mestrado sobre o assunto.

        Em sua pesquisa de campo, Rogério colocou brincos de plásticos nas orelhas de alguns lobos para monitorar seus passos e presenciou cenas inusitadas. Numas delas, viu a convivência pacífica de um lobo-guará com cães domésticos de uma fazenda. “Os cães podem contaminar os lobos com doenças fatais”, alerta. Em outra, observou a presença de até quatro lobos adultos juntos, perto do centro de visitação do Parque Nacional da Serra da Canastra, fato raro em se tratando de animais que, por natureza, prezam a solidão. “Essa proximidade facilita o cruzamento entre parentes, enfraquecendo geneticamente a espécie”, sugere Rogério. Por tudo isso, o biólogo pondera que, por enquanto, o lobo-guará não deveria sair da lista do Ibama. “É uma espécie que se vem adaptando relativamente bem, mas é inegável que ainda está perigosamente ameaçada”, observa.

        O diretor do zoológico de Belo Horizonte, Carlyle Mendes Coelho, também não quer ver o lobo-guará fora da lista vermelha do Ibama. “Ainda não sabemos o suficiente sobre a espécie”, garante. De fato, os especialistas não se arriscam nem ao menos a estimar quantos exemplares existem na natureza. Carlyle Mendes coordena uma pesquisa com lobos-guará na região do Parque Natural do Caraça, em Minas Gerais – curiosamente próxima de um convento em que os padres alimentam alguns exemplares, atraindo visitantes de todo o país – e não acredita que a população da espécie esteja aumentando: “Com os desmatamentos e novos povoamentos em área de cerrado, o lobo tem sido visto com maior facilidade. Mas, na verdade, é o homem que se aproxima cada vez mais do território do lobo”.

        “Saindo ou não da lista do Ibama, nosso trabalho vai continuar”, garante Bruno Riffel, coordenador ambiental da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração. Com sede no município mineiro de Araxá, a empresa mantém um criadouro de animais do cerrado, entre eles o lobo-guará. A finalidade é estudar todos os itens do comportamento da espécie, como alimentação, reprodução, imunologia e manejo em cativeiro. “Muitos exemplares nascidos aqui já foram doados a zoológicos e instituições de pesquisa do mundo inteiro”, orgulha-se Riffel. A companhia também desenvolve programas de educação ambiental para estudantes que visitam a empresa e têm a oportunidade de conhecer “Roxinha”, uma simpática fêmea reprodutora que recebe amigavelmente as pessoas com gemidos agudos.

        Mesmo com todas as pesquisas em andamento, ninguém se permite afirmar categoricamente que o belo lobo-guará está livre do estigma de bicho ameaçado de extinção. Por ora, permanecem as dúvidas: ele deve ou não sair da lista vermelha do Ibama? Sua digna reputação de animal selvagem estará a salvo ou, num futuro próximo, ele pode se transformar num reles vira-lata?

CAPELAS JR., Afonso. Terra, junho/2002, p. 73-76.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 218-220.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é o principal problema enfrentado pelo lobo-guará, de acordo com a reportagem?

      O principal problema é a perda de seu habitat natural, o cerrado, devido ao desmatamento e à expansão da atividade humana. Isso dificulta a sobrevivência, levando-o a se aproximar de áreas habitadas e a revirar lixões em busca de alimento.

02 – Por que alguns biólogos acreditam que a população de lobos-guará está aumentando?

      Acreditam que as aparições frequentes de lobos-guará em áreas habitadas, em busca de comida fácil, causam a falsa impressão de que a população da espécie está crescendo.

03 – Qual é a principal fonte de alimento do lobo-guará?

      Sua principal fonte de alimento é o fruto da lobeira, que corresponde a 50% de sua dieta. No entanto, com a destruição do cerrado, essa fonte de alimento está se tornando cada vez mais rara.

04 – O que o biólogo Rogério Cunha de Paula observou em sua pesquisa sobre os lobos-guará?

      Ele observou a convivência pacífica de um lobo-guará com cães domésticos, o que pode ser perigoso devido ao risco de transmissão de doenças. Além disso, ele flagrou a presença de até quatro lobos adultos juntos, um fato raro para uma espécie que preza a solidão.

05 – Qual é a opinião do diretor do zoológico de Belo Horizonte sobre a retirada do lobo-guará da lista de espécies ameaçadas de extinção?

      Ele é contra a retirada do lobo-guará da lista, pois acredita que ainda não se sabe o suficiente sobre a espécie e que a aproximação do homem ao seu território pode dar a falsa impressão de que sua população está aumentando.

06 – O que faz a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração em seu criadouro de animais do cerrado?

      A empresa estuda o comportamento do lobo-guará em cativeiro, como sua alimentação, reprodução, imunologia e manejo. Muitos exemplares nascidos no criadouro são doados a zoológicos e instituições de pesquisa.

07 – Qual é a principal preocupação dos pesquisadores em relação à possível retirada do lobo-guará da lista de espécies ameaçadas?

      Eles temem que essa decisão seja prematura, já que a espécie ainda enfrenta diversas ameaças, como a perda de habitat e a alteração de seus hábitos naturais.

08 – O que significa a expressão "vira-lata" no contexto da reportagem?

       A expressão "vira-lata" é usada para se referir a cães sem raça definida, que vivem nas ruas e se alimentam de restos de comida. No contexto da reportagem, ela é usada para questionar se o lobo-guará, um animal selvagem, corre o risco de se tornar um animal dependente da presença humana para sobreviver.

09 – Qual é o principal motivo para o lobo-guará estar se aproximando cada vez mais das áreas habitadas por humanos?

      O principal motivo é a falta de alimento em seu habitat natural, o cerrado, que está sendo destruído pelo desmatamento e pela expansão da agricultura.

10 – Qual é a mensagem principal da reportagem sobre o futuro do lobo-guará?

      A reportagem levanta dúvidas sobre o futuro do lobo-guará, questionando se ele deve ou não sair da lista de espécies ameaçadas. A mensagem principal é que a espécie ainda enfrenta diversas ameaças e que é preciso mais pesquisa e estudo para garantir sua sobrevivência.