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quinta-feira, 14 de agosto de 2025

REPORTAGEM: ELES PODEM FAZER A SUA CABEÇA - MARINA ADORNO - COM GABARITO

 Reportagem: Eles podem fazer a sua cabeça – Fragmento

        Jovens de Brasília usam a internet como meio democrático para falar do seu estilo de vida, dar dicas fitness, de beleza, de viagens, além de expressarem os próprios sentimentos. A empatia dos internautas dá a eles o status de digital influencers

Por Marina Adorno, especial para o Correio – Postado em 19/03/2017 – 08:00

        A internet se popularizou nos anos 1990, e, desde então, os meios de comunicação não param de revolucionar. A informação se tornou mais acessível e dinâmica. Recentemente, devido às proporções que o meio on-line tomou, observa-se, inclusive, uma grande mudança em algumas carreiras. Fomos apresentados às blogueiras, aos youtubers (pessoas que usam o YouTube como plataforma para apresentar o próprio trabalho). Agora, surgem os influenciadores digitais ou digital influencers. Eles são as pessoas que você segue e que são capazes de te fazer querer consumir um produto ou serviço. Bastam algumas fotos e vídeos.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMf81hOjIILCHWz9TdG-PaO32ygpggADYvqBVUEJpwgh5fBxbefNFe4Hc410mG0QJnCI0BRMMpvc0IfF7nBmL21CiX-_-iPw6LTIBsWu1DImz3REm0ULb3p2IdJ6XMpzN3zXp58C0DXgPHvpkmj10BDjEznHoO6o1tnQ2LMVg21cxS5iV8KvTfZ0LpdaM/s320/o-impacto-dos-influenciadores-digitais-na-formacao-dos-jovens.png


        A influência sempre existiu. “Todos nós somos influenciados, seja pela mídia, seja por nosso círculo de amizades. O termo ‘influenciador digital’ tem grande relevância pela rapidez do processo de influenciar”, explica o professor Renato Rosa, da pós-graduação em marketing digital do UniCeub. Segundo ele, fora do meio digital, a influência ocorre de forma mais lenta, conforme a informação transita entre as pessoas.

        Em setembro do ano passado, a YOUPIX (plataforma focada em discutir a cultura da internet e como o jovem a usa para criar movimentos culturais e sociais) com a Airstrip | Airfluencers (agência que avalia a aderência de um influenciador a temas específicos para encontrar o profissional ideal para divulgar campanhas de clientes)com a empresa de estudos de mercado GFK fizeram um estudo sobre o mercado de influenciadores digitais. Segundo a pesquisa, existem 230 mil influenciadores no mundo, dos quais 60% são homens e 40% são mulheres. A força deles é algo indiscutível: 2% dos usuários geram 54% das interações de um total de 7,2 bilhões daquelas feitas on-line. Esses parcos 2% são os digital influencers.

        [...]

        Janaína Rocha, 24 anos, cresceu ouvindo que era uma pessoa fotogênica e que deveria investir na carreira de modelo. Aos 17, ela procurou uma agência, mas se decepcionou com o tipo de tratamento que lhe foi dado na ocasião e desistiu de seguir em frente. Foi quando se dedicou aos estudos e se formou em bacharel em Direito.

        Ela ainda fez alguns trabalhos de fotografia, mas sem a ambição de se profissionalizar. Até que um dia, depois de fazer um ensaio, no fim de 2015, com um fotógrafo brasiliense para uma revista online de Paris pediu autorização para publicar as fotos. A partir disso, Janaína recebeu várias propostas do exterior para ser fotografada. “Na época, tinha 2 mil seguidores no Instagram e não levava isso tão a sério. Achava que eu simplesmente era fotogênica”, afirma.

        [...]

        Hoje, a modelo tem 12,4 mil pessoas que acompanham o perfil dela no Instagram. Com o crescimento rápido nas redes sociais, Janaína passou a receber mais convites profissionais para trabalhar com grifes que sempre admirou. Inclusive, foi capa de uma revista de noivas no ano passado – algo que ela considera um marco da sua trajetória. “Fiquei muito chocada com o crescimento do meu perfil on-line e ainda me surpreendo. As pessoas realmente me acompanham e interagem por meio dos comentários e de mensagens”, ressalta.

        A influência que Janaína Rocha tem sobre seus seguidores é perceptível e as marcas que se aliam à imagem dela têm retornos positivos. A modelo tem parcerias com grifes de moda, saúde, beleza e estética da cidade. Em uma ocasião, ela divulgou uma maquiadora nas redes sociais e a profissional ganhou 50 seguidores, instantaneamente, no Instagram. “Eles comentam que determinada roupa que eu usei vendeu rapidamente e, quando posto algum tratamento estético, recebo muitas mensagens pedindo telefone e endereço”, orgulha-se.

        A servidora pública Mariana Nóbrega, 32 anos, frequenta academia desde os 15 e sempre foi do tipo que gosta de praticar vários esportes. Com o passar do tempo, as pessoas com quem ela se encontrava começaram a perguntar o que ela fazia, o que comia e chegavam, inclusive, a pedir para irem malhar na companhia dela. Então, passou a compartilhar sua rotina com os amigos mais próximos, que tinham interesse no estilo de vida saudável que ela sempre levou.

        Até que, em janeiro do ano passado, os mesmos amigos sugeriram que ela postasse algumas dicas no Instagram para que mais pessoas se beneficiassem dos conselhos dela. “Resolvi tentar, mas levando isso como uma brincadeira. De repente, ganhou uma proporção muito maior”, conta. Os amigos estavam certos quando fizeram a sugestão: o interesse pelo dia a dia dessa influenciadora digital é perceptível. Hoje, ela já tem 32,5 mil seguidores no Instagram.

        Mariana acredita que o grande diferencial do perfil é o fato de ela ser uma pessoa que se esforça para conciliar a academia com a rotina de trabalho, como tantas outras pessoas. “Tenho uma hora por dia para malhar, também trabalho, faço supermercado, cuido da casa, tenho família, namorado e animal de estimação. Mostro que é possível conciliar tudo, basta querer”, explica a influenciadora.

        Aos poucos, a responsabilidade de manter os seguidores motivados se tornou um incentivo pessoal. Em um só dia, Mariana recebe mais de 100 mensagens de compartilhamento de fotos, dividindo os resultados e agradecendo a inspiração.

        Mesmo com uma carreira digital recente, a musa fitness tem consciência do peso das informações que passa e toma muito cuidado antes de postar. “Sou apenas uma servidora pública que gosta de treinar e comer bem. Não sou nutricionista ou profissional de educação física. Apenas posto a minha rotina nas redes sociais”, defende.

        A exposição e a popularidade on-line nunca foram sua ambição. Mariana é formada em direito, trabalha há nove anos como servidora e confessa ser apaixonada pelo trabalho. Largar a carreira, pela qual ela se dedicou tanto, definitivamente não é uma opção.

        Ser reconhecida na rua pela sua contribuição com informações de esporte e de alimentação é algo que ela nunca imaginou, mas, durante o último ano, a situação já se repetiu algumas vezes. “A primeira vez, eu estava em uma festa quando uma menina passou e me olhou. Pouco tempo depois, veio falar comigo, disse que era minha fã e que não acreditava que tinha me encontrado. Conversamos por 40 minutos, trocamos telefone e até combinamos de treinar juntas”, relembra. O elo criado com as seguidoras é algo que ainda a surpreende. Mariana atribui o sucesso dessa relação a um fator: ela é verdadeira. “Não adianta tentar ser alguém, o segredo é ser você mesma e mostrar a sua personalidade”, aconselha.

        A escrita sempre foi a maneira encontrada por João Doederlein, 20 anos, de se expressar. Em datas comemorativas, como Natal, ano-novo e Dia das Crianças, ele se dedicava a fazer posts temáticos para seu perfil pessoal do Facebook. Os amigos aguardavam ansiosamente pelos textos comemorativos assinados por ele. Atualmente, um número maior de pessoas acompanham suas produções. Quase um milhão delas seguem os perfis no Facebook e no Instagram do estudante de publicidade da Universidade de Brasília, para ler os novos textos do jovem poeta.

        A carreira dele começou de maneira despretensiosa, há seis anos. João era apenas um menino que tinha prazer em escrever e, certa vez, postou um texto na internet “para ver no que ia dar”. Como resultado, ele ganhou algumas curtidas e uns poucos comentários, mas isso foi motivação suficiente para ele criar um blog na plataforma Tumblr, quando tinha 13 anos. Aos poucos, começou a conquistar seguidores e receber feedbacks positivos. “Gostei de saber que as pessoas liam o que eu escrevia, e que a minha mensagem estava chegando a algum lugar”, destaca. No Tumblr, João contabilizou 2 mil seguidores e, na época, isso foi algo que o impressionou.

        Aos 16 anos, ele decidiu se arriscar em outra plataforma e criou a primeira página no Facebook. Com a página “Contos Mal Contados”, ele conseguiu uma liberdade maior para escrever textos mais compridos e foi nesse espaço que o hobby começou a ganhar novas proporções. Nos três primeiros anos, ele ganhou 10 mil seguidores, mas ele fechou 2016 com 600 mil. Um crescimento que João classifica como gigantesco. Esse resultado é um reflexo da dedicação dele. “Sempre me empenhei com muito afinco nesse trabalho. Buscava novos formatos e mais qualidade nos textos. Observava o crescimento dos youtubers e sabia que isso que eu estava fazendo era algo sério”, argumenta.

        Diante desse boom, alguns amigos sugeriram que ele estendesse suas postagens poéticas para o Instagram. O perfil @akapoeta era o espaço pessoal onde ele compartilhava fotos com amigos e familiares e não lhe parecia apropriado para publicar pensamento. Foi quando criou o primeiro texto de ressignificado, no qual escolhe uma palavra e discorre sobre ela, muitas vezes atribuindo novas características e expressando seus sentimentos naquele momento.

        No Facebook o resultado foi positivo e ele desconfiou que também poderia funcionar no Instagram. “Interesse” foi a palavra escolhida para o novo formato e não decepcionou. “Naturalmente, esse formato de texto começou a ter mais curtidas do que as outras fotos e comecei a postar só isso. Fui profissionalizando meu perfil, apaguei muitas fotos que não tinham nada a ver com a nova proposta e me comprometi com a frequência de publicação. Pelo menos uma vez por dia, coloco um novo texto”, conclui.

        João esclarece que o processo de criação foi muito natural. Ele testava modelos e tomava as decisões de maneira instintiva. “Estava em busca de algo único, meu. Independentemente de saber se funcionaria ou não. Acredito até que existem formatos mais virais, mas foi com esse que me identifiquei. A forma do meu primeiro post, em março do ano passado, é o mesmo até hoje”, comemora o poeta. No período de um ano, desde a primeira publicação, ele passou de 1.500 para 340 mil seguidores no Instagram – dos quais 87% são mulheres – e já redefiniu mais de 300 palavras.

        Com o sucesso na internet, João já conquistou várias realizações profissionais. Ele já recebeu propostas de trabalho em vários segmentos, como marcas de café, joias e colégios, e, em breve, vai realizar um grande sonho: publicar seu primeiro livro. Nos planos dele estão uma coletânea de novas palavras, mas também outros gêneros literários. “Observando a trajetória de alguns youtubers, vi que a internet poderia ser um caminho. Não sabia aonde ele ia chegar, não via como algo garantido, mas nem por isso deixaria de tentar”, conclui.

        Os 42,8 mil seguidores que ele possui no perfil do Instagram são apenas reflexo de muita dedicação. Para o maquiador Lázaro Resende, 24, natural de Luís Eduardo Magalhães (BA), o sucesso on-line não chegou por acaso. Ele sempre acreditou no potencial das novas plataformas para disseminar seu trabalho e conquistar novas oportunidades. O empreendedorismo deu certo e, de recepcionista em um salão na cidade natal, Lázaro virou um maquiador premiado e conhecido internacionalmente.

        O profissional da beleza define que sua trajetória começou na raça. Há seis anos o salão no qual ele trabalhava, na Bahia, precisou de um maquiador e Lázaro se ofereceu. “Não tinha prática nenhuma. Movido pela necessidade, descobri um dom.” A partir desse momento, ele começou a trabalhar como maquiador, buscou um curso profissionalizante e, há dois anos, foi convidado para trabalhar em um salão da capital.

        As redes sociais sempre foram vistas pelo empreendedor como uma ferramenta de trabalho tão importante quanto os pincéis e os produtos de beleza. Lázaro começou publicando seu portfólio no Facebook e dois anos atrás migrou para o Instagram. “Precisava captar cliente e não tinha recursos para divulgar meu trabalho. Mas tinha à minha disposição uma ferramenta gratuita que é o Instagram.” Na rede social de compartilhamento de fotos, ele pôde usar das hashtags para se destacar e aumentar a clientela.

        Visionário, Lázaro Resende aposta no crescimento do mercado digital e define metas para se manter motivado. Atualmente, ele traçou como objetivo atingir 100 mil seguidores até o fim deste ano. Segundo o profissional, em tempos de internet e interação on-line, a rede social é o primeiro contato que ele estabelece com a cliente, de apresentar o trabalho que executa e o tratamento que oferece àquelas que o procuram.

        O maquiador ministra cursos presenciais e se prepara para lançar cursos virtuais. Em outubro, vai para Miami realizar um workshop; em maio, vai disponibilizar um site e uma linha com 12 produtos de maquiagem assinados por ele. O retorno pela influência que conquistou não é apenas financeiro. “Tenho parcerias com marca de pincéis, empresas que oferecem brindes para minhas clientes e profissionais com os quais faço permuta, como dentista, endocrinologista e coach”, finaliza. Desde que começou a usar o Instagram de maneira profissional, a renda de Lázaro Resende aumentou em 300%.

        [...]

ADORNO, Marina. Eles podem fazer a sua cabeça. Correio Braziliense, 19 mar. 2017. Disponível em: https://wwww.correiobraziliense.com.br. Acesso em: 21 abr. 2021.

Entendendo a reportagem:

01 – De acordo com o texto qual o significado das palavras abaixo:

-- Boom: expansão ou crescimento muito rápido e abrangente.

-- Coach (ou coacher): profissional que promove coaching, técnicas de desenvolvimento pessoal e profissional.

-- Endocrinologista: médico especialista em glândulas.

-- Na raça: com muita coragem e disposição.

-- Parco: escasso; em baixo número ou quantidade.

-- Permuta: troca.

-- portfólio: conjunto (em material impresso ou on-line) dos trabalhos de um profissional, para divulgação.

-- Visionário: aquele que acredita em ideias, que tem visões ou projetos grandiosos.

-- Workshop: curso intensivo, de curta duração.

02 – Em suas palavras, com base no que a revista brasiliense apresenta, o que significa ser influenciador digital?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: São pessoas ligadas as redes sociais que influenciam as outras pessoas.

03 – Também com suas palavras, e sem o uso de números e porcentagens, explique o que significa o trecho a seguir, extraído da reportagem.

        “[...] A força deles é algo indiscutível: 2% dos usuários geram 54% das interações de um total de 7,2 bilhões daquelas feitas on-line. Esses parcos 2% são os digital influencers.”

      Respostas pessoal do aluno. Sugestão: Os influenciadores possuem uma grande porcentagem na mídia.

04 – Explique qual é a relação ente os seguidores, o consumo e os influenciadores digitais.

      Os influenciadores digitais fazem seus seguidores a consumir os produtos, apresentados por eles na mídia.

05 – Na reportagem, principalmente na apresentação dos influenciadores, prevalecem dois tempos verbais: o pretérito e o presente do indicativo. Justifique esses empregos com base no tipo de reportagem apresentada.

      Esses dois tempos verbais, pois a reportagem fala sobre o passado e o presente dos influenciadores.

06 – Observe as seguintes palavras que aparecem no texto:

      Fitness – digital influencers – internet – on-line – blogueiras – youtubers – mídia – blog – marketing – posts – feedbacks – habby – boom – hashtags – workshop – coach.

A – Como você as classificaria, ao procurar identificar nelas uma característica em comum?

      Estrangeirismo, palavras estrangeiras usadas no português e linguagem digital.

B – Para a maioria dessas palavras, há, no texto, trechos ou reformulações que cumprem o papel de exemplificar, explicar, retomar ou ampliar o significado delas. Cite exemplos dessas ocorrências.

      Marketing: divulgação de campanhas.

      Workshop: curso intensivo, de curta duração.

      Digital influencers: influenciadores digitais.

07 – No texto, são mencionadas algumas práticas digitais. Identifique-as, distinguindo quais fazem parte da atuação dos influenciadores e quais pertencem à ação dos seguidores.

      Influenciadores: compartilhar, publicar, responder, postar.

      Seguidores: curtir, comentar, acompanhar. Seguir, compartilhar.

08 – Há algum influenciador digital que você acompanha e que influenciaria você a fazer algo? Por quê?

      Respostas pessoal do aluno.

 

domingo, 10 de agosto de 2025

REPORTAGEM: A COMPOSIÇÃO ESTÁ EM CRISE? FRAGMENTO - CLARISSA MACAU - COM GABARITO

 Reportagem: A composição está em crise? – Fragmento

        Artistas discutem sinais de esgotamento criativo na música popular brasileira e especulam caminhos para sua renovação

        Clarissa Macau – 01 de Junho de 2014

        [...]

        O axé, o funk, o tecnobrega e o pagode são mais rítmicos, oriundos das periferias das cidades brasileiras. Sobre eles, o cantor Tom Zé observou, no documentário Palavra encantada: “Antigamente, a canção era consumida pelo auditivo e cognitivo, hoje é consumida por partes do corpo. Como aparece uma canção que não toca na alma, mas na carne?”.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxu65CT7Qh7wZRiaTHkUfv00KOkUH1eZfqQON1spFOVagZxYiYlWrFzsByT_N9M5NjD053M-5lW720F3SYlB8PXgXomAB_RBqYYKt3mn6HBruOrXOryJzKbZng5jbbvmZO-wPc8PCNRrUAjGRrElZ90kkTlFA42hwzIeJSC_WKftkwk-lCSn7sG_TyqKg/s320/1f79eb92bfa45931ba7111c99cc306dc.jpeg


        O pianista Taubkin se preocupa com a “invasão” dessas músicas como carro-chefe do gosto popular. “As pessoas estão perdendo o ouvido, quase não reconhecem quando alguém está desafinado. Tem baterista que toca sem ritmo, guitarrista com acorde errado e vocalista desafinado, e a máquina de gravação conserta tudo!

        Se não fosse importante consertar esses detalhes, não precisava acertar o ritmo, nem acertar a afinação. Estão aniquilando a ideia de criação e radicalizando o conceito de produto. Um tecnobrega está há milhões de quilômetros longe da qualidade de um samba de Cartola.”

        Mas, seja qual for a origem de uma canção, sempre há a chance do nascimento de uma obra de arte. É o que defende Luiz Tatit. “De repente, ainda é possível o surgimento de uma canção admirável no campo da produção em série, ao povão. Caso de músicas como Dia de domingo, de Michael Sullivan e Paulo Massadas, interpretada por Tim Maia e Gal Costa, e “É o amor”, dos sertanejos Zezé de Camargo e Luciano. Lembremos: quase todo o repertório de Lupicínio Rodrigues, compositor de uma música chamada “de piranha”, considerado cafona nos anos 1950, hoje é cult.

        [...]

MACAU, Clarissa. A composição está em crise? Revista Continente Online, 6 jun. 2014. Disponível em: http://www.revistacontinente.com.br/index.php/component/content/article/479-sonoras/8931-a-composicao-esta-em-crise.html. Acesso em: 3 mar. 2015.

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 7º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 75-76.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual a principal questão abordada na reportagem em relação à música popular brasileira?

      A reportagem discute os sinais de esgotamento criativo na música popular brasileira e especula sobre os caminhos para sua renovação.

02 – Qual a observação de Tom Zé sobre gêneros como axé, funk, tecnobrega e pagode, e o que isso implica sobre a forma de consumo da música?

      Tom Zé observa que "Antigamente, a canção era consumida pelo auditivo e cognitivo, hoje é consumida por partes do corpo." Isso implica que esses gêneros "não tocam na alma, mas na carne", focando mais no ritmo e na fisicalidade.

03 – Qual a preocupação do pianista Taubkin em relação à "invasão" de certas músicas no gosto popular?

      A preocupação de Taubkin é que as pessoas estão "perdendo o ouvido", quase não reconhecem desafinação, e que a tecnologia de gravação corrige erros de ritmo, acorde e afinação. Ele argumenta que isso está aniquilando a ideia de criação e radicalizando o conceito de produto, em detrimento da qualidade.

04 – Apesar das críticas, o que Luiz Tatit defende sobre a possibilidade de surgimento de obras de arte na produção musical popular?

      Luiz Tatit defende que, seja qual for a origem da canção, sempre há a chance do nascimento de uma obra de arte. Ele acredita que ainda é possível o surgimento de uma canção admirável mesmo na produção em série para o "povão".

05 – Quais exemplos de músicas ou artistas Luiz Tatit cita para ilustrar sua defesa de que a qualidade pode surgir na música popular massificada?

      Luiz Tatit cita "Dia de domingo", de Michael Sullivan e Paulo Massadas, interpretada por Tim Maia e Gal Costa, e "É o amor", dos sertanejos Zezé de Camargo e Luciano. Ele também menciona Lupicínio Rodrigues, que teve sua obra considerada "cafona" no passado e hoje é "cult".

REPORTAGEM: POR QUE FAZEMOS AMIGOS? FRAGMENTO - CAMILLA COSTA E BRUNO GARTTONI - COM GABARITO

 Reportagem: Por que fazemos amigos? – Fragmento

        Pura, sincera, desinteressada. A amizade humana não nasceu assim. Mas um improviso do cérebro revolucionou tudo – e fez a humanidade ser o que é hoje

Por Camilla Costa e Bruno Garattoni

        [...]

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzihNKcP6rshQQ7FELRx9fZJxlwTX2KrilbeateeGXSKBqtmv27YZsOmlJ5ITCqSlzKjAEVigl8rmtPCV1zwDxAL_vbt5pQ4vlr-1woMZ7bYeOtdlA3hnCDukFyACBKhChqY5Km_E1N2zpUtEgJZ5KDNL9kwxw2aKhKbOQDcLmob64p2wCAMI0VrCPrqU/s320/1571984182890.png

        Bem menos que 1 milhão

        Ter amigos só traz benefícios. Quanto mais, melhor. Mas há um limite. Um estudo feito na Universidade de Oxford comparou o tamanho do cérebro humano, mais precisamente do neocórtex (área responsável pelo pensamento consciente), com o de outros primatas. Ele cruzou essas informações com dados sobre a organização social de cada uma das espécies ao longo do tempo. E chegou a uma conclusão revelador 150 é o máximo de amigos que uma pessoa consegue ter ao mesmo tempo.

        Para que você mantenha uma amizade com alguém, precisa memorizar informações sobre aquela pessoa (desde o nome até detalhes da personalidade dela), que serão acionadas quando vocês interagirem. Por algum motivo, o cérebro não comporta dados sobre mais de 150 pessoas. Os relacionamentos que extrapolam esse número são inevitavelmente mais casuais. Não são amizade. Outros pesquisadores foram além e constataram que, dentro desse grupo de 150, há uma série de círculos concêntricos de amizades 5, 15, 50 e 150 pessoas, cada um com características diferentes.

        O curioso é que esses círculos já haviam sido mencionados por filósofos como Confúcio, Platão e Aristóteles – e também estão presentes em várias formas de organização humana. Na Antiguidade clássica, já era considerado o número máximo de amigos íntimos que alguém poderia ter. Tirando o futebol, 12 a 15 pessoas é a quantidade de jogadores na maioria dos esportes coletivos. Cinquenta é o número médio de pessoas nos acampamentos de caça em comunidades primitivas (como os aborígenes da Austrália, por exemplo). Cento e cinquenta é o tamanho médio dos grupos do período neolítico, dos clãs da sociedade pré-industrial, das menores cidades inglesas no século 11 e, até hoje, de comunidades camponesas tradicionais como os amish que dividem uma comunidade em duas quando ela ultrapassa as 150 pessoas. Os 150 podem, inclusive, ser a chave do sucesso profissional. Como no caso da Gore-Tex, uma empresa têxtil americana que se divide e abre uma nova sucursal cada vez que seu número de funcionários passa de 150 pessoas. A vantagem disso é que todos os empregados se conhecem, têm relações amistosas e cooperam melhor. “As coisas ficavam confusas quando havia mais de 150 pessoas”, explicou o fundador da empresa, William Gore, numa entrevista concedida alguns anos antes de morrer, em 1986.

[...].

COSTA, Camila; GARATTONI, Bruno. Por que fazemos amigos? Superinteressante. São Paulo, p. 48-49, fev. 2011. (Fragmento adaptado).

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 7º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 321-322.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é a ideia central da reportagem sobre a origem da amizade humana?

      A reportagem sugere que a amizade humana, hoje vista como pura e desinteressada, nem sempre foi assim. Ela evoluiu de um "improviso do cérebro" que revolucionou a humanidade.

02 – Qual é a relação entre o tamanho do cérebro humano e o número de amigos que uma pessoa pode ter?

      Um estudo da Universidade de Oxford comparou o neocórtex (área responsável pelo pensamento consciente) de humanos e outros primatas, concluindo que 150 é o número máximo de amigos que uma pessoa consegue ter ao mesmo tempo.

03 – Por que existe um limite para o número de amizades que o cérebro consegue manter?

      Para manter uma amizade, o cérebro precisa memorizar informações sobre a pessoa (desde o nome até detalhes da personalidade). Por algum motivo, o cérebro não comporta dados sobre mais de 150 pessoas, tornando relacionamentos que extrapolam esse número mais casuais.

04 – Além do limite de 150 amigos, o que outros pesquisadores descobriram sobre a organização das amizades?

      Outros pesquisadores foram além e constataram que, dentro do grupo de 150, existem círculos concêntricos de amizades: 5, 15, 50 e 150 pessoas, cada um com características diferentes.

05 – Como os filósofos antigos e as comunidades primitivas se relacionam com os números de amizade identificados no estudo?

      É curioso que esses círculos de amizade já haviam sido mencionados por filósofos como Confúcio, Platão e Aristóteles. Além disso, eles também estão presentes em várias formas de organização humana, como o número médio de pessoas em acampamentos de caça de comunidades primitivas (50 pessoas) e o tamanho médio dos grupos do período neolítico (150 pessoas).

06 – Cite exemplos históricos e modernos que reforçam a teoria dos limites de amizade ou de grupo.

      Exemplos incluem o número de jogadores na maioria dos esportes coletivos (12 a 15 pessoas), o tamanho médio de clãs na sociedade pré-industrial (150 pessoas), e o modo como comunidades camponesas tradicionais como os amish se dividem ao ultrapassar 150 pessoas.

07 – Como a empresa Gore-Tex utilizou o conceito do número de Dunbar para seu sucesso profissional?

      A Gore-Tex, uma empresa têxtil americana, adotou o princípio de se dividir e abrir uma nova sucursal cada vez que seu número de funcionários ultrapassa 150 pessoas. Isso garante que todos os empregados se conheçam, mantenham relações amistosas e cooperem melhor, evitando a "confusão" que William Gore, o fundador, percebeu em grupos maiores.

 

 

sábado, 9 de agosto de 2025

REPORTAGEM: É FREVO! - FRAGMENTO - FELIPE OLIVEIRA - COM GABARITO

 Reportagem: É frevo! – Fragmento

        Ele tem cerca de 100 anos de idade, é natural do Recife e faz qualquer um se mexer. Agora, no Carnaval, queima montes de calorias. Tem gente dizendo que pode até virar a primeira dança clássica brasileira

        Quando alguém fala em dança, música ou Carnaval brasileiro, todo mundo pensa logo no samba. Mas o frevo, nascido em Pernambuco, mais precisamente no Recife, não só é igualmente brasileiro como também explode no Carnaval. A grande diferença é que, ao contrário do samba, não se espalhou pelo país.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJUlXZJpDIRoMWkd5mxTanIOuIp3CkyTJ1r_DVT-bEqsBT7w2jIr3TbzkixFF0qYN2rdLoWvpIAHke11lKwfRDnHXNEOPb9kAneTZ1H97mbV-BHWkyt9MskbTYV4KkpVE-ZZSpws15C-ib05mF3XdEwPocvW_sNirgtLtT1IH-loZAhgp6OcASlPfxD_E/s320/9c655bc5-e08d-4a90-8ba0-d288a6b02c1e.jpeg


        Claro que brasileiros de todos os cantos reconhecem o ritmo quando o ouvem. Afinal, cantores conhecidos, como Caetano Veloso ou Moraes Moreira, já gravaram frevos que ficaram famosos nacionalmente. Muitos também são capazes de identificar – ainda que para alguns seja impossível botar em prática – os passos que acompanham esse tipo de música. Mas tocar, cantar e dançar frevo é coisa de pernambucano. Uma pena, na opinião do músico e bailarino também de Pernambuco Antônio Nóbrega, que defende a possibilidade de se usar o frevo como base para o desenvolvimento de uma dança clássica genuinamente brasileira. Algo para ser ensinado nas academias, ao lado do conhecido clássico europeu e do jazz. [...]

        Saltos e piruetas

        Mas por que o papel de gerar esse produto artístico nacional não poderia ser do samba? “Porque o samba não é uma dança”, justifica Nóbrega. “É basicamente um passo, ao qual podem ser acrescidos adornos.” Opiniões à parte, o certo é que a coreografia do frevo não padece dessa carência. São cerca de 120 passos diferentes. Muitos tão acrobáticos quanto aquelas piruetas nas quais o russo Mikhail Baryshnikov é craque. Segundo o compositor erudito brasileiro César Guerra Peixe (1914-1994), trata-se de um gênero único, pois o dançarino dança a orquestração. Por isso mesmo, para compor um frevo é preciso conhecer os papéis dos vários instrumentos numa orquestra, principalmente os dos metais.

        As primeiras composições, não por acaso, foram de mestres de bandas, como José Lourenço da Silva, o Zuzinha. É que o frevo nasceu da competição entre bandas marciais (veja o quadro ao lado). Cada uma com seu grupo de capoeiras, leões-de-chácara cheios de ginga, à frente, elas foram moldando as marchas militares à cadência da luta-dança, dando origem à nova música. “O nascimento do frevo não tem data específica”, avisa o historiador Leonardo Dantas Silva, da Fundação Joaquim Nabuco, de Recife. “Ele foi nascendo aos poucos, resultado de uma sincronização entre música e dança.”

        Levado para o Rio, não empolgou

        Por volta de 1880 começaram a surgir as primeiras sociedades carnavalescas do Recife. Eram os chamados “clubes pedestres”. Compostos por populares, eles se apresentavam assim mesmo: a pé. A aristocracia ficava nos clubes fechados. Quando os capoeiras eram reprimidos à frente das bandas marciais [...], se refugiavam nos desfiles dessas agremiações e passavam a defender seus estandartes.

        As orquestras desses clubes tocavam polca, maxixe, tango, marchas. E também foram influenciadas pelos passos da capoeira. Quando nasceu, em 1889, é provável que o Clube Vassourinhas já tocasse o frevo. Depois o gênero evoluiu, adquirindo uma personalidade ainda mais marcante. Quem ouvia essa música nova tentava encontrar paralelos. Em visita a Recife, em 1942, o cineasta americano Orson Welles teria chegado a acha-la parecida com a italiana tarantela. Especialistas negam a semelhança.

        Difícil de identificar, o frevo era também duro de imitar. Bem que se tentou, várias vezes, levá-lo para o Rio, mas não deu certo. “Frevo não é espetáculo, que nem as escolas de samba, mas participação do povo”, explicou o estudioso Valdemar de Oliveira no livro Frevo, Capoeira e Passo. “Se não há povo participante em quantidade e, sobretudo, em qualidade, que lhe dê corpo e alma, desfilará um ajuntamento de virtuose, ou pseudo-virtuose, não frevo”.

        Malabarismo na rua não é pra qualquer um

        Se é importante conhecer bem música para compor o frevo, parece ser necessário ainda algo mais para tocá-lo bem. Valdemar de Oliveira reclama que só quando a Federação Carnavalesca Pernambucana resolveu mandar o maestro Zuzinha ao Rio, para ensaiar as bandas cariocas encarregadas de gravar as composições premiadas no Carnaval, os resultados ficaram melhores. Antes, as notas vinham corretas, ele conta, mas o andamento era errado e o ritmo, frouxo.

        Talvez haja um pouco de bairrismo na avaliação. Mais aberto, Francisco Nascimento da Silva, 60 anos, o Nascimento do Passo, resolveu até abrir uma escola em Recife para ensinar a dança a turistas ou mesmo a moradores mais duros de cintura. “Em um mês qualquer um pode se tornar um bom dançarino”, exagera. Talvez a generosidade venha do fato de que ele não é pernambucano. Veio, menino, do Amazonas. Cá para nós, um mês de aulas deve dar apenas para passar o Carnaval sem vexame, arriscando uns vinte dos 120 passos conhecidos.

        [...].

Felipe Oliveira. É frevo! Revista Superinteressante, n° 113, fev. 1997. Disponível em: http://super.abril.com.br/historia/frevo-436886.shtml. Acesso em: 22 mar. 2015.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 118-119.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é a principal diferença apontada entre o frevo e o samba?

      A principal diferença é a popularização. O samba se espalhou por todo o país e é universalmente associado ao Carnaval brasileiro. Já o frevo, embora seja reconhecido por brasileiros, não se espalhou tanto e é predominantemente uma manifestação cultural de Pernambuco. Outra distinção é que o frevo, com seus cerca de 120 passos, é considerado uma dança, enquanto o samba é definido na reportagem como um passo básico, ao qual podem ser acrescentados adornos.

02 – Quem é Antônio Nóbrega e qual é a sua proposta para o frevo?

      Antônio Nóbrega é um músico e bailarino pernambucano. Ele defende a ideia de que o frevo poderia se tornar a base para o desenvolvimento de uma dança clássica genuinamente brasileira, sendo ensinado em academias de dança ao lado do balé europeu e do jazz.

03 – Por que, segundo César Guerra Peixe, o frevo é considerado um gênero único?

      Segundo o compositor erudito, o frevo é único porque o dançarino "dança a orquestração". Isso significa que a dança não é apenas um acompanhamento da música, mas uma interpretação física da complexidade musical. Por isso, para compor um frevo, é preciso ter um conhecimento aprofundado dos instrumentos de uma orquestra, especialmente os de metal.

04 – Como o frevo nasceu, de acordo com o historiador Leonardo Dantas Silva?

      O frevo nasceu da competição entre bandas marciais. Essas bandas, que tinham grupos de capoeiristas à frente, foram moldando as marchas militares à cadência da capoeira (uma luta-dança), resultando em uma nova música. O historiador explica que o frevo não tem uma data de nascimento específica, mas foi o resultado de uma "sincronização entre música e dança" que aconteceu gradualmente.

05 – Qual a razão, segundo o estudioso Valdemar de Oliveira, para o frevo não ter se popularizado no Rio de Janeiro?

      Valdemar de Oliveira explica que o frevo não é um espetáculo como as escolas de samba, mas uma "participação do povo". Ele defende que a essência do frevo está na participação espontânea de um grande número de pessoas com qualidade e alma. Sem essa participação popular em massa, o frevo perde sua essência e se torna apenas um "ajuntamento de virtuose" (pessoas talentosas), mas não o frevo de verdade.

06 – Que dificuldades foram relatadas em relação à execução musical do frevo fora de Pernambuco?

      A reportagem menciona que, quando as bandas cariocas tentaram gravar composições de frevo, os resultados não foram satisfatórios. Embora as notas estivessem corretas, o andamento era errado e o ritmo, "frouxo". Somente quando um maestro pernambucano foi enviado ao Rio para ensiná-los os resultados melhoraram, indicando a necessidade de uma sensibilidade cultural e rítmica específica para tocar o frevo corretamente.

07 – Quem é Nascimento do Passo e qual sua visão sobre o aprendizado da dança?

      Nascimento do Passo, um dançarino de 60 anos que veio do Amazonas, é o dono de uma escola de frevo no Recife. Ele é descrito como "mais aberto" do que outros e acredita que qualquer pessoa pode se tornar um bom dançarino em apenas um mês de aulas. Embora a reportagem considere essa afirmação um exagero, ela mostra a visão generosa de alguém que busca democratizar a dança.

 

 

REPORTAGEM: O ENSINO MÉDIO E SEUS CAMINHOS - FRAGMENTO - FILIPE JAHN - COM GABARITO

 Reportagem: O ensino médio e seus caminhos – Fragmento

        Programas governamentais miram a integração entre a educação profissional e o ensino médio tradicional e a flexibilização do currículo, com a introdução de disciplinas optativas para que alunos possam construir seu percurso de aprendizado

        Por Filipe Jahn – Publicado em 10/09/2011

        Um dos principais dilemas da educação contemporânea é aquele que gira em torno da permanência dos alunos do ciclo médio nos bancos escolares. Atraídos pelo número de estímulos e pela velocidade da sociedade, a escola lhes parece enfadonha. No entanto, muito do que lhes parece fora de propósito nessa fase – experiências, relações, conhecimentos – só irá adquirir sentido ao longo do tempo. Muitas vezes acaba por não fazer, por diversos motivos, entre eles o abandono da escola.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCH0faaHBjlKpabmTlLjRNrhLyedoq6ZtZ3iQ_u3EHhd0bvIr0wuSh1jAf-kPhvyFZcsoUzNiOpZlYr11UdVMYNXrT75SP2Dn7eHoNaSYoIsioU7fHS57Y_redQr6uiobgTiW18qqq_kthYtR71hBVV4YUZtnLEWzYKEfvsd5_huoblgPWCthFN9_Mpdo/s320/918.jpg


        Todo esse clima de desinteresse dos adolescentes pela vida escolar tem gerado muitas reflexões mundo afora sobre os possíveis caminhos de fazer com que o ensino médio seja vivido e percebido como significativo. Nessa perspectiva, o desafio dos sistemas de ensino nos últimos anos envolve a capacidade de organizar um programa curricular que consiga, ao mesmo tempo, formar os jovens para continuar os estudos no ensino superior e prepará-los para o mercado de trabalho. [...].

        No Brasil, o cenário segue roteiro parecido. As novas proposições do governo federal para o ensino médio têm o objetivo de elevar o índice de conclusão do ensino médio regular para o patamar de países mais desenvolvidos. [...]

        [...]

        Para aumentar esses índices de conclusão, o MEC aposta na ampliação da educação profissional, ainda pouco expressiva no Brasil. No âmbito do ensino secundário, ela responde por apenas 14% das matrículas, contra 77% da Áustria, 58% da Alemanha, 44% da França, 42% da China e 37% do Chile.

        Realidade brasileira

        Para melhorar o cenário, o governo federal aposta, desde 2004, em propostas que apontem para um programa curricular mais flexível. Uma das principais medidas foi a possibilidade de integrar ensino regular e a educação profissional, sacramentada pelo decreto 5.154/04. Dessa maneira, instituições privadas e públicas oferecem as aulas regulares em um turno e cursos que preparem para o mercado de trabalho em outro, sob uma mesma matrícula.

        Esse é o caso de Matheus Escobar, aluno do 2º ano da Escola Técnica Estadual (Etec) Jorge Street, em São Paulo. Durante a tarde, ele cursa as disciplinas do ensino formal tradicional; de manhã, tem aulas de desenho técnico mecânico, automação industrial e eletrônica digital, entre outras.

        Aos 16 anos, Matheus resolveu fazer o ensino médio integrado porque, na sua opinião, esse caminho lhe dará mais chances de seguir os estudos no ensino superior. “Quero ir o mais rápido possível para a universidade. Se tiver de ser uma particular, com a mecatrônica tenho chances de arrumar um bom trabalho para conseguir pagá-la”, diz, referindo-se à formação técnica que está cursando, umas das 83 oferecidas no ensino técnico paulista.

        Os números comprovam a tese do estudante. Uma pesquisa conduzida pelo economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgada em 2010, apontou que a chance de arrumar emprego para jovens que cursam alguma modalidade de educação profissional é 48% maior. A possibilidade de carteira assinada também cresce 38%. Para chegar a esses índices a pesquisa relacionou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2007 e da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) dos oito anos anteriores.

        [...]

        Novo modelo

        Outra proposta implantada em caráter experimental é o Ensino Médio Inovador (EMI). Lançado no ano passado, tem entre as suas principais ações o aumento da carga horária letiva anual de 800 para mil horas e a destinação de 20% dessa carga à oferta, pela escola ou por parceiros, de disciplinas eletivas.

        Nesse modelo, o currículo passa a valorizar a interdisciplinaridade e deve ser organizado em torno de quatro eixos: trabalho, tecnologia, ciência e cultura. Também é previsto o incentivo à contratação de professores com dedicação exclusiva e o estímulo às atividades de produção artística e de aulas teórico-práticas em laboratórios.

        O EMI funciona atualmente em escolas de 18 estados que resolveram aderir a ele e recebem apoio técnico e financeiro da União. Segundo dados da Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC), os recursos totais somam R$ 33 milhões e atingem 296 mil estudantes em 357 escolas.

        Atualmente a SEB reformula o programa e uma nova versão está prevista para maio. Uma das medidas sendo planejadas é articulá-lo com outro programa do ministério, o Mais Educação, que oferece suporte financeiro diretamente às escolas para passarem a ofertar atividades optativas. Elas são agrupadas em macrocampos como esporte e lazer, cultura e artes, cultura digital, educomunicação e educação econômica.

        Na opinião de Maria Sylvia Simões, professora da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, as ideias do Ensino Médio Inovador representam um avanço na educação brasileira. Por outro lado, lembra a professora, a consolidação do projeto no país inteiro esbarra em um ponto bastante complicado: o MEC e os governos estaduais precisam estar em sintonia. Mas alguns estados já sinalizaram que não deverão aderir. “Se não há vontade política de quem tem o poder de decisão, fica difícil implantar”, comenta Maria Sylvia Simões. Outro problema é o custo do modelo, bem superior ao do ensino médio tradicional.

        O $ da questão

        Esse descompasso entre os entes federativos também está refletido na educação profissional. De acordo com o Censo Escolar 2010, nas escolas da rede federal, o ensino técnico integrado representa a maior parte das matrículas da área, com 46% (76 mil alunos entre 165 mil). Agora, considerando toda a educação profissional, ele cai para último, com 18,9% (215 mil em um universo de 1,14 milhão).

        Entretanto, além de questões políticas, as propostas do governo federal para o ensino médio também enfrentam dificuldades para emplacar nacionalmente por causa de seu custo, difícil de ser assumido pelos estados. Álvaro Chrispino, professor do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ), explica que, no caso do ensino integrado, o custo de laboratórios e equipamentos é alto e essa forma de articulação também exige capacitar os docentes das duas áreas. “A maioria dos estados só consegue ofertar em quantidade se houver contrapartida da federação.”

        [...]

        A contratação de docentes é outra questão. Maria Sylvia Simões afirma que o sucesso do Ensino Médio Inovador e do ensino integrado significará crescimento da demanda. Assim, as secretarias de Educação precisarão abrir novos concursos e aumentar a carga horária de quem já é da rede. “Só que aí tem de ver quem consegue financiar isso e, ao mesmo tempo, oferecer um salário decente”, pontua.

        [...]

        Quem se beneficia

        Outra discrepância que as propostas do MEC não solucionam é a qualidade das instituições e redes em um sistema que privilegia o mérito do aluno. Como mostra o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) observado em 2009, a média do segundo grau nas redes estaduais brasileiras é 3,4, mas a diferença entre os entes pode chegar a mais de um ponto.

        [...]

        Álvaro Chrispino, docente do Cefet/RJ, diz que, se não houver igualdade de condições entre as escolas, as vagas daquelas que tiverem sucesso com a implantação dos projetos do MEC serão cada vez mais concorridas. Com o tempo, elas podem acabar utilizando mecanismos de seleção.

        Essa tendência decorreria de uma precipitação do MEC, que elaborou boas ideias para todo o país sem levar em conta as desigualdades históricas. “Se a qualidade do sistema de uma rede se mantém desnivelada, as propostas para todo o ensino médio continuam a surtir efeito apenas em uma pequena parcela de jovens”, conclui ele. Ou seja, a educação, ao contrário dos discursos públicos, continuaria a não se efetivar como um fator de redução das desigualdades sociais, ou o faria em ritmo muito menor que o necessário ao equilíbrio social do país. 

Filipe Jahn. O ensino médio e seus caminhos. Revista Educação, n° 169, p. 28-32, maio 2011.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 194-196.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é o principal dilema da educação contemporânea, de acordo com o texto, e por que ele acontece?

      O principal dilema é a evasão escolar dos alunos do ensino médio. Isso acontece porque a escola, muitas vezes, parece enfadonha para os adolescentes, que são atraídos pelos estímulos e pela velocidade da sociedade contemporânea. Muitos não veem sentido nas experiências e conhecimentos oferecidos na escola, o que leva ao abandono dos estudos.

02 – Quais são as duas principais propostas do governo federal mencionadas na reportagem para combater o desinteresse e a evasão no ensino médio?

      As duas principais propostas são:

      A integração entre o ensino profissional e o ensino médio tradicional, permitindo que os alunos cursem as disciplinas regulares e, ao mesmo tempo, uma formação técnica.

      O Ensino Médio Inovador (EMI), que busca aumentar a carga horária e flexibilizar o currículo com disciplinas eletivas.

03 – De que forma a educação profissional, segundo a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), beneficia os jovens?

      A pesquisa da FGV mostrou que a educação profissional aumenta em 48% a chance de os jovens conseguirem um emprego e em 38% a possibilidade de terem um contrato formal de trabalho (carteira assinada).

04 – Quais são os quatro eixos temáticos que o currículo do Ensino Médio Inovador (EMI) valoriza?

      O currículo do EMI é organizado em torno de quatro eixos principais: Trabalho; Tecnologia; Ciência e Cultura.

05 – Por que, na opinião de Maria Sylvia Simões, a implantação do Ensino Médio Inovador em todo o país enfrenta dificuldades?

      A professora Maria Sylvia Simões aponta dois problemas principais: a falta de sintonia e vontade política entre o Ministério da Educação (MEC) e os governos estaduais, e o alto custo do modelo, que é superior ao do ensino médio tradicional.

06 – Além dos desafios políticos, qual é a principal dificuldade financeira que as propostas do governo enfrentam para serem implementadas nacionalmente?

      O alto custo é o principal desafio. O texto menciona que, tanto para o ensino integrado quanto para o Ensino Médio Inovador, os gastos com laboratórios, equipamentos e a contratação de docentes qualificados são altos, o que dificulta a adesão dos estados sem uma contrapartida financeira significativa do governo federal.

07 – De acordo com o professor Álvaro Chrispino, qual é o grande risco que as desigualdades históricas podem causar nas propostas do MEC?

      O professor Álvaro Chrispino afirma que, se não houver igualdade de condições entre as escolas, as propostas do MEC só terão efeito em uma pequena parcela de jovens. Isso pode levar a um aumento da concorrência por vagas nas escolas que conseguirem implantar os projetos com sucesso, e essas escolas podem até começar a usar mecanismos de seleção. O resultado é que a educação continuaria a não cumprir seu papel de reduzir as desigualdades sociais.