Reportagem:
Combate às desigualdades é resposta para protestos
globais, diz relatório de
Índice de Desenvolvimento Humano –
Fragmento
Pesquisa lançada esta
segunda-feira afirma que soluções atuais não resolvem nova geração de
desigualdade; em entrevista à ONU News, diretor do escritório explica
porque isso é um problema e como pode ser combatido.
As manifestações que acontecem em todo
o mundo mostram que, apesar do progresso sem precedentes contra pobreza, fome e
doenças, muitas sociedades continuam tendo problemas. A causa comum entre todas
elas é a desigualdade.
Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_U9gsFIcOMx-SoKeNDYczu5WKPFD100Yqu98ygFcNe4eH4E3oTobs7Ph9mfmknGMdVqtMxloO5JZiOiMS3_5oNkQQG3OeVk78GGzZkPaK8tTNQ3wKuqD9PUUzd1IzjbMngL4opkgxpVzDHMtFV8qgvoieo9iuPAqF5-JLFMmZxhxI_kkIwfZGJrSv-r8/s320/image1170x530cropped.jpg
Essa é a principal conclusão do
Relatório de Desenvolvimento Humano de 2019, lançado esta segunda-feira na
Colômbia. A pesquisa destaca uma nova geração de desigualdades, em torno da
educação, tecnologia e mudanças climáticas, e alerta que podem criar "uma
grande divergência" como não acontece desde a Revolução Industrial.
Debate
Em entrevista à ONU News, o diretor do
escritório que produz o relatório, Pedro Conceição, disse que a pesquisa
"vai além da desigualdade na distribuição de rendimento e tenta projetar
aquilo que pode determinar a evolução das desigualdades ao longo do
século."
"O tema das desigualdades está no
debate público em muitos países, mas tem sido centrado na distribuição do
rendimento. Aquilo que nos pareceu foi que havia outras desigualdades que
mereciam a nossa atenção, refletindo aquilo que os Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável já nos dizem, que existem várias desigualdades que são
importantes."
Soluções
O especialista diz que o relatório não
faz propostas especificas para diferentes países, devido à diversidade de
contextos, mas "oferece uma metodologia para tentar perceber quais as
melhores áreas de intervenção."
"A ideia essencial é que não nos
podemos circunscrever a aspetos que têm a ver com a redistribuição de
rendimento para lidar com as desigualdades que estão a surgir. É preciso
considerar um vasto leque de políticas. Políticas ligadas à concorrência, por
exemplo, para garantir que os mercados funcionam de forma mais eficiente e
podem levar a que os resultados sejam menos desiguais."
[...]
Motivações
Em nota, o administrador do Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, disse que "diferentes
motivos estão levando as pessoas às ruas, como o custo de uma passagem de trem,
o preço da gasolina, a exigência de liberdades políticas e a procura de
justiça." Para Achim Steiner, "esta é a nova face da
desigualdade."
Em países com desenvolvimento humano
muito alto, por exemplo, as assinaturas de internet de banda larga estão
crescendo 15 vezes mais rápido do que em países com baixo desenvolvimento
humano. Quanto à proporção de adultos com ensino superior, está crescendo seis
vezes mais rápido.
A distribuição desigual de educação,
saúde e padrões de vida está impedindo o progresso dos países. A pesquisa estima
que, em 2018, cerca de 20% do progresso do desenvolvimento humano foi perdido
devido às desigualdades.
Políticas que considerem infância e
investimento ao longo da vida, produtividade, investimento público e impostos
justos são recomendadas.
Dados
O relatório diz que valores médios
"podem ser úteis para contar uma história, mas informações muito mais
detalhadas são necessárias para criar políticas que combatem a desigualdade de
maneira eficaz."
Um dos exemplos é a igualdade de
gênero. Com base nas tendências atuais, serão necessários 202 anos para
eliminar a diferença entre homens em oportunidades econômicas. Apesar de o tema
estar sendo mais discutido nos últimos anos, o Índice afirma que o ritmo de
progresso está diminuindo.
Pela primeira vez, o relatório inclui
um Índice de Normas Sociais. Em metade dos países avaliados, o preconceito de
gênero cresceu nos últimos anos. Cerca de 50% das pessoas em 77 países pensam
que os homens são melhores líderes políticos do que as mulheres. Mais de 40%
considera que os homens são melhores na área dos negócios.
O relatório cita esses dados para
afirmar que "políticas que abordam preconceitos, normas sociais e
estruturas de poder são fundamentais."
Políticas para equilibrar a
distribuição de cuidados, principalmente para crianças, são um dos exemplos.
Grande parte da diferença de rendimento entre homens e mulheres é criada antes
dos 40 anos, quando as mulheres estão a criar os filhos pequenos.
[...]
Futuro
O relatório também pergunta como a
desigualdade pode mudar no futuro, destacando a crise climática e a
transformação tecnológica.
Sobre a primeira, alerta que medidas
como a criação de mercado de carbono podem ser mal administradas e aumentar as
desigualdades. Por outro lado, se as receitas do preço do carbono forem usadas
para beneficiar os contribuintes com um conjunto de políticas sociais, podem
reduzir o problema.
Sobre a transformação tecnológica, a
pesquisa diz que pode ser uma solução "se oportunidades forem rapidamente
e compartilhadas amplamente." Avisa, no entanto, que "existe um
precedente histórico para as revoluções tecnológicas criarem desigualdades
profundas e persistentes."
Uma nova "grande divergência",
no entanto, ainda pode ser evitada. O relatório recomenda políticas de proteção
social que, por exemplo, garantam uma compensação justa por trabalho em grupo e
investimento em formação ao longo da vida para permitir a adaptação dos
trabalhadores.
Em conclusão, Achim Steiner afirma que
"identificar o verdadeiro rosto da desigualdade é um primeiro passo."
Segundo ele, "o que acontece a seguir é uma escolha de cada líder."
ONU NEWS. Combate às desigualdades é resposta para protestos globais, diz
relatório de Índice de Desenvolvimento Human. ONU News, 9 dez. 2019. Disponível
em: https://news.un.org/pt/story/2019/12/1697171. Acesso em: 12 maio 2020.
Fonte: Linguagens em
Interação – Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Juliana Vegas
Chinaglia – 1ª edição, São Paulo, 2020 – IBEP – p. 97-100.
Entendendo a reportagem:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Grande divergência: termo usado por historiadores econômicos para referir-se ao
distanciamento crescente de renda entre os países desenvolvidos e os países em
desenvolvimento.
·
Índice de Desenvolvimento Humano: indicador, usado pela ONU em seu Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (Pnud), que mede o grau de desenvolvimento humano dos
países a partir de aspectos como educação, renda e saúde.
·
Mercado de carbono: a expressão se refere às iniciativas de comercialização de
créditos de redução de emissão dos gases de efeito estufa, conhecidos como
créditos de carbono.
·
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável: também conhecidos como objetivos globais e referidos por
vezes pela sigla ODS, são uma coleção de 17 metas globais estabelecidas pela
Assembleia Geral das Nações Unidas que se propõem que sejam alcançadas por
todos os países do mundo até 2030.
·
Padrões de vida: qualidade e quantidade de bens e serviços disponíveis a uma
pessoa ou a uma população.
·
Políticas ligadas à concorrência: são normas estabelecidas pelo poder público que estimulam a
livre competição entre as empresas, de modo que a população em geral seja
beneficiada em suas práticas de consumo por meio da ampliação de possibilidades
de escolha, redução de preços e melhoria na qualidade dos produtos.
·
Revolução Industrial: processo de mudanças que ocorreram na Europa nos séculos
XVIII e XIX, cuja principal particularidade foi a substituição do trabalho
artesanal pelo assalariado e com o uso de máquinas.
02
– Qual é a principal conclusão do Relatório de Desenvolvimento Humano de 2019?
A principal
conclusão do relatório é que, apesar do progresso global contra a pobreza, a
fome e as doenças, a desigualdade continua a ser um problema central em muitas
sociedades. O relatório destaca uma nova geração de desigualdades em torno da
educação, tecnologia e mudanças climáticas.
03
– Quais são as novas áreas de desigualdade mencionadas no relatório?
As novas áreas de
desigualdade incluem a educação, a tecnologia e as mudanças climáticas, que
podem criar uma "grande divergência" semelhante àquela ocorrida desde
a Revolução Industrial.
04
– Por que o relatório de 2019 vai além da desigualdade de renda?
O relatório vai
além da desigualdade de renda porque reconhece que há outras desigualdades
importantes que merecem atenção, como aquelas relacionadas à educação, à
tecnologia e às mudanças climáticas.
05
– O relatório propõe soluções específicas para diferentes países?
Não, o relatório
não propõe soluções específicas para diferentes países devido à diversidade de
contextos, mas oferece uma metodologia para identificar as melhores áreas de
intervenção.
06
– Quais políticas são recomendadas para combater a desigualdade?
São recomendadas
políticas que considerem a infância, o investimento ao longo da vida, a
produtividade, o investimento público e impostos justos. Políticas que abordem
normas sociais, preconceitos e estruturas de poder também são fundamentais.
07
– Como as desigualdades estão afetando o progresso dos países?
A distribuição
desigual de educação, saúde e padrões de vida está impedindo o progresso dos
países. Em 2018, estima-se que cerca de 20% do progresso do desenvolvimento
humano foi perdido devido às desigualdades.
08
– Quais são as implicações da crise climática para a desigualdade?
A crise climática
pode aumentar as desigualdades se medidas como a criação de mercado de carbono
forem mal administradas. No entanto, se as receitas do preço do carbono forem
usadas para beneficiar os contribuintes por meio de políticas sociais, podem
ajudar a reduzir as desigualdades.
09
– Como a transformação tecnológica pode influenciar a desigualdade?
A transformação
tecnológica pode ser uma solução se as oportunidades forem amplamente compartilhadas.
Porém, há um precedente histórico de que revoluções tecnológicas podem criar
desigualdades profundas e persistentes.
10
– Qual é a relação entre as políticas de proteção social e a desigualdade?
Políticas de
proteção social são recomendadas para garantir uma compensação justa pelo
trabalho em grupo e para investir em formação ao longo da vida, permitindo a
adaptação dos trabalhadores e ajudando a evitar uma nova "grande
divergência" nas desigualdades.
11
– O que Achim Steiner afirma ser o primeiro passo no combate à desigualdade?
Achim Steiner afirma que
identificar o verdadeiro rosto da desigualdade é o primeiro passo. Segundo ele,
o que acontece a seguir depende da escolha de cada líder.