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quinta-feira, 26 de setembro de 2024

CONTO: TERRAS DO SEM-FIM - (FRAGMENTO)- JORGE AMADO - COM GABARITO

 Conto: Terras do Sem-Fim – Fragmento

           Jorge Amado 

        A cidade ficava entre o rio e o mar, praias belíssimas, os coqueiros nascendo ao largo de todo o areal. Um poeta, que certa vez passara por Ilhéus e dera uma conferência, a chamara de “cidade das Palmeiras ao vento” numa imagem que os jornais repetiam de quando em vez.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizoI5CMH4tsgz9y6_GWO69fzzhmgs6o0HPafMsJ0o4cAr4jOorRI2-MqsJQNEddza4dUoidvd35_DRw8zN2L9a22DfbmCWMuYFvB83uEEjg5F7TSlnthOE_REU853tjs7D0C44IJHS_6IgTEHsiiFqOd-vU5JtvQvPybxki7w36fDMSedsEwn_aLLZuPU/s1600/Terras_do_Sem-Fim.jpg


        A verdade, porém, é que as palmeiras nasciam nas praias e se deixavam balançar pelo vento. A árvore que influía em Ilhéus era a árvore do cacau, se bem não visse nenhuma em toda a cidade. Mas era ela que estava por detrás de toda a vida de São Jorge do Ilhéus. Por detrás de cada negócio que era feito, de cada casa que era construída, de cada armazém, de cada loja que era aberta, de cada caso do amor, de cada tiro trocado na rua. Não havia conservação em que a palavra não entrasse como elemento primordial. E sobre a cidade pairava, vindo dos armazéns de depósito, dos vagões da estrada de ferro, dos porões dos navios, das carroças e da gente, um cheiro de chocolate que é cheiro de cacau seco.

        Existia outra ordenança municipal que proibia o porte de armas. Mas muito poucas pessoas sabiam que ela existia e mesmo aqueles poucos que o sabiam, não pensavam em respeitá-lo. Os homens passavam, calçados de botas ou de botinas de couro grosso, a calça cáqui, o paletó de casimira, e por debaixo deste o revólver. Homens de repetição a tiracolo atravessavam a cidade sob a influência dos moradores, Apesar do que já existia de assentado, de definitivo, em Ilhéus, os grandes sobrados, as ruas calçadas, as casas de pedra e cal, ainda assim restava na cidade um certo ar de acampamento. Por vezes, quando chegavam os navios abarrotados de emigrantes vindos do sertão, de Sergipe e do Ceará, quando as pensões de perto da estação não tinham mais lugar de tão cheias, então barracas eram armadas na frente do porto. Improvisavam-se cozinhas, os coronéis vinham ali escolher trabalhadores. Dr. Rui, certa vez, mostrara um daqueles acampamentos a um visitante da capital.

        -- Aqui é o mercado de escravos...

        Dizia com um certo orgulho e certo desprezo, era assim que ele amava aquela cidade que nascera de repente, filho do porto, alimentada pelo cacau, já se tornando a mais rica do estado, a mais próspera também. Existiam poucos ilheenses de nascimento que já tivessem importância na vida da cidade. Quase todos fazendeiros, médicos, advogados, agrônomos, políticos, jornalistas, mestre-de-obras eram gente vinda de fora, de outros estados. Mas amavam estranhamentos aquela terra venturosa e rica. Todos se diziam "grapiúnas" e, quando estavam na Bahia, em toda parte eram facilmente reconhecíveis pelo orgulho com que falavam.

        -- Aquele é um ilheense... – diziam.

        Nos cabarés e nas casas de negócios da capital eles arrotavam valentia e riqueza, gastando dinheiro, comprando do bom e do melhor, pagando sem discutir preços, topando barulhos sem discutir o porquê. Nas casas de rameiras, na Bahia, eram respeitados, temidos e ansiosamente esperados. E também nas casas exportadores de produtos para o interior os comerciantes de Ilhéus eram tratados com a maior consideração, tinham crédito ilimitado.

        De todo o Norte do Brasil descia gente para essas terras do Sul da Bahia. A fama corria, diziam que o dinheiro rodava na rua, que ninguém fazia caso em Ilhéus, de prata de dois mil-réis. Os navios chegavam entupidos de imigrantes, vinham aventureiros de toda espécie, mulheres de toda idade, para quem Ilhéus era a primeira ou a última esperança.

        Na cidade todos se misturavam, o pobre de hoje podia ser o rico de amanhã, o tropeiro de agora poderia ter amanhã uma grande fazenda de cacau, o trabalhador que não sabia ler poderia ser um dia chefe político respeitado. Citavam-se os exemplos e citava-se sempre a Horácio que começara tropeiro e agora era dos maiores fazendeiros da zona, e o rico de hoje poderia ser o pobre de amanhã se um mais rico, junto com um advogado, fizesse um “caxixe” bem feito e tomasse sua terra. E todos os vivos de hoje poderiam amanhã estar mortos na rua, com uma bala no peito. Por cima da justiça, do juiz e do promotor, do júri de cidadãos, estava a lei do gatilho, última instância da justiça em Ilhéus.

Jorge Amado. Terras do sem-fim. 54. ed. Rio de Janeiro, Record, s.d. p. 188-9.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 163-4.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Grapiúna: na Bahia, apelido que os sertanejos dão aos moradores da capital ou de Ilhéus.

·        Rameira: prostituta.

·        Caxixe: negociata feita em torno de terras produtoras de cacau; logro.

02 – Qual é a principal atividade econômica de Ilhéus e como ela influencia a vida da cidade?

      A principal atividade econômica é a produção de cacau, que permeia todos os aspectos da vida da cidade, desde a economia até a cultura local.

03 – Qual é a atmosfera que predomina em Ilhéus? Justifique sua resposta com exemplos do texto.

      A atmosfera de Ilhéus é marcada pela violência, pela ambição e pela constante transformação. A presença de armas, a luta pelo poder e a rápida ascensão e queda social dos personagens ilustram essa atmosfera.

04 – Qual é o perfil dos habitantes de Ilhéus? São pessoas nativas da região ou vindas de outros lugares?

      A população de Ilhéus é bastante heterogênea, com muitos imigrantes vindos de outras regiões do Brasil em busca de oportunidades. A cidade é um caldeirão cultural, onde se misturam diferentes origens e histórias.

05 – Como os habitantes de Ilhéus se relacionam entre si? Há muita união ou a competição é acentuada?

      As relações entre os habitantes de Ilhéus são marcadas pela competição e pela violência. A busca por poder e riqueza gera conflitos e rivalidades.

06 – Qual é o papel da lei e da justiça em Ilhéus?

      A lei e a justiça formal têm pouco poder em Ilhéus. A violência e a força bruta são frequentemente utilizadas para resolver conflitos, e a lei do mais forte prevalece.

07 – Como a autora descreve a ascensão e queda social em Ilhéus?

      A ascensão e queda social em Ilhéus são rápidas e imprevisíveis. A riqueza pode ser adquirida de forma rápida, mas também pode ser perdida da mesma forma.

08 – Que tipo de linguagem Jorge Amado utiliza para descrever Ilhéus e seus habitantes?

      Jorge Amado utiliza uma linguagem rica em detalhes e vívida, capaz de transmitir a atmosfera da cidade e a complexidade de seus personagens.

09 – Quais são os principais temas abordados no fragmento?

      Os principais temas abordados são a violência, a desigualdade social, a busca por riqueza e poder, e a construção de uma nova sociedade no interior do Brasil.

10 – Com base neste fragmento, qual você acredita que seja o papel do cacau na história de Ilhéus?

      O cacau é o motor da economia de Ilhéus, gerando riqueza e atraindo pessoas de todas as partes do país. No entanto, ele também é responsável por muitos dos conflitos e da violência que marcam a cidade.

11 – Qual a sua impressão inicial sobre a obra "Terras do Sem-Fim" após ler este fragmento?

      Esta pergunta é aberta e permite que o leitor expresse sua própria opinião sobre a obra, com base nas informações presentes no fragmento.

 

 

 

domingo, 30 de junho de 2024

ROMANCE: NOITE DOS CAPITÃES DA AREIA - (FRAGMENTO) - JORGE AMADO - COM GABARITO

 Romance: NOITE DOS CAPITÃES DA AREIA – Fragmento

                 Jorge Amado

        A grande noite de paz da Bahia veio do cais, envolveu os saveiros, o forte, o quebra-mar, se estendeu sobre as ladeiras e as torres das igrejas. Os sinos já não tocam as ave-marias que as seis horas há muito que passaram. E o céu está cheio de estrelas, se bem a lua não tenha surgido nesta noite clara. O trapiche se destaca na brancura do areal, que conserva as marcas dos passos dos Capitães da Areia, que já se recolheram. Ao longe, a fraca luz da lanterna da Porta do Mar, botequim de marítimos, parece agonizar. Passa um vento frio que levanta a areia e torna difíceis os passos do negro João Grande, que se recolhe. Vai curvado pelo vento como a vela de um barco.  É alto, o mais alto do bando, e o mais forte também, negro de carapinha baixa e músculos retesados, embora tenha apenas treze anos, dos quais quatro passados na mais absoluta liberdade, correndo as ruas da Bahia com os Capitães da Areia. Desde aquela tarde em que seu pai, um carroceiro gigantesco, foi pegado por um caminhão quando tentava desviar o cavalo para um lado da rua, João Grande não voltou à pequena casa do morro. Na sua frente estava a cidade misteriosa, e ele partiu para conquistá-la. A cidade da Bahia, negra e religiosa, é quase tão misteriosa como o verde mar. Por isso João Grande não voltou mais. Engajou com nove anos nos Capitães da Areia, quando o Caboclo ainda era o chefe e o grupo pouco conhecido, pois o Caboclo não gostava de se arriscar. Cedo João Grande se fez um dos chefes e nunca deixou de ser convidado para as reuniões que os maiorais faziam para planejar os furtos. Não que fosse um bom organizador de assaltos, uma inteligência viva. Ao contrário, doía-lhe a cabeça se tinha que pensar. Ficava com os olhos ardendo, como ficava também quando via alguém fazendo maldade com os menores. Então seus músculos se retesavam e estava disposto a qualquer briga. Mas a sua enorme força muscular o fizera temido. O Sem-Pernas dizia dele:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_z48oqB_avKudqKeibgk5_x1QmnVUCPWEKGb2JrOStzU3LfK1jwCS2bJrigFCWOe61OUupPpbgsoSg7q2xTZY9EHAZ2DjHH-sFJeq98mOa8bd3ZCRzt99HbrSeW2MjsgxIYW7UA8gLrp1MtM4RGnMvboaxomWGcsfPdLtQ_8kq-AnYUuboSAmtXaHTqs/s320/Capit%C3%A3es_da_Areia_(filme).jpg


        — Este negro é burro mas é uma prensa…

        E os menores, aqueles pequeninos que chegavam para o grupo cheios de receio tinham nele o mais decidido protetor. Pedro, o chefe, também gostava de ouvi-lo. E João Grande bem sabia que não era por causa da sua força que tinha a amizade do Bala. Pedro achava que o negro era bom e não se cansava de dizer:

        — Tu é bom, Grande. Tu é melhor que a gente. Gosto de você — e batia pancadinhas na perna do negro, que ficava encabulado.

        João Grande vem vindo para o trapiche. O vento quer impedir seus passos e ele se curva todo, resistindo contra o vento que levanta a areia. Ele foi à Porta do Mar beber um trago de cachaça com o Querido-de-Deus, que chegou hoje dos mares do sul, de uma pescaria. O Querido-de-Deus é o mais célebre capoeirista da cidade. Quem não o respeita na Bahia? No jogo de capoeira de Angola ninguém pode se medir com o Querido-de-Deus, nem mesmo Zé Moleque, que deixou fama no Rio de Janeiro. O Querido-de-Deus contou as novidades e avisou que no dia seguinte apareceria no trapiche para continuar as lições de capoeira que Pedro Bala, João Grande e o Gato tomam. João Grande fuma um cigarro e anda para o trapiche. As marcas dos seus grandes pés ficam na areia, mas o vento logo as destrói. O negro pensa que nessa noite de tanto vento são perigosos os caminhos do mar.

        João Grande passa por debaixo da ponte — os pés afundam na areia — evitando tocar no corpo dos companheiros que já dor mem. Penetra no trapiche. Espia um momento indeciso até que nota a luz da vela do Professor. Lá está ele, no mais longínquo canto do casarão, lendo à luz de uma vela. João Grande pensa que aquela luz ainda é menor e mais vacilante que a da lanterna da Porta do Mar e que o Professor está comendo os olhos de tanto ler aqueles livros de letra miúda. João Grande anda para onde está o Professor, se bem durma sempre na porta do trapiche, como um cão de fila, o punhal próximo da mão, para evitar alguma surpresa.

        Anda entre os grupos que conversam, entre as crianças que dormem, e chega para perto do Professor. Acocora-se junto a ele e fica espiando a leitura atenta do outro.

        João José, o Professor, desde o dia em que furtara um livro de histórias numa estante de uma casa da Barra, se tornara perito nestes furtos. Nunca, porém, vendia os livros, que ia empilhando num canto do trapiche, sob tijolos, para que os ratos não os roessem.  Lia-os todos numa ânsia que era quase febre. Gostava de saber coisas e era ele quem, muitas noites, contava aos outros histórias de aventureiros, de homens do mar, de personagens heroicos e lendários, histórias que faziam aqueles olhos vivos se espicharem para o mar ou para as misteriosas ladeiras da cidade, numa ânsia de aventuras e de heroísmo. João José era o único que lia correntemente entre eles e, no entanto, só estivera na escola ano e meio. Mas o treino diário da leitura despertara completamente sua imaginação e talvez fosse ele o único que tivesse uma certa consciência do heroico das suas vidas.

        Aquele saber, aquela vocação para contar histórias, fizera-o respeitado entre os Capitães da Areia, se bem fosse franzino, magro e triste, o cabelo moreno caindo sobre os olhos apertados de míope. Apelidaram-no de Professor porque num livro furtado ele aprendera a fazer mágicas com lenços e níqueis e também porque, contando aquelas histórias que lia e muitas que inventava, fazia a grande e misteriosa mágica de os transportar para mundos diversos, fazia com que os olhos vivos dos Capitães da Areia brilhassem como só brilham as estrelas da noite da Bahia. Pedro Bala nada resolvia sem o consultar e várias vezes foi a imaginação do Professor que criou os melhores planos de roubo. Ninguém sabia, no entanto, que um dia, anos passados, seria ele quem haveria de contar em quadros que assombrariam o país a história daquelas vidas e muitas outras histórias de homens lutadores e sofredores. Talvez só o soubesse Don’Aninha, a mãe do terreiro da Cruz de Opô Afonjá, porque Don’Aninha sabe de tudo que Iá lhe diz através de um búzio nas noites de temporal.

        João Grande ficou muito tempo atento à leitura. Para o negro aquelas letras nada diziam. O seu olhar ia do livro para a luz oscilante da vela, e desta para o cabelo despenteado do Professor. Terminou por se cansar e perguntou com sua voz cheia e quente:

        — Bonita, Professor?

        Professor desviou os olhos do livro, bateu a mão descarnada no ombro do negro, seu mais ardente admirador:

        — Uma história zorreta, seu Grande — seus olhos brilhavam.

        — De marinheiro?

        — É de um negro assim como tu. Um negro macho de verdade.

        — Tu conta?

        — Quando findar de ler eu conto. Tu vai ver só que negro…

        E volveu os olhos para as páginas do livro. João Grande acendeu um cigarro barato, ofereceu outro em silêncio ao Professor e ficou fumando de cócoras, como que guardando a leitura do outro. Pelo trapiche ia um rumor de risadas, de conversas, de gritos. João Grande distinguia bem a voz do Sem-Pernas, estrídula e fanhosa. O Sem-Pernas falava alto, ria muito. Era o espião do grupo, aquele que sabia se meter na casa de uma família uma semana, passando por um bom menino perdido dos pais na imensidão agressiva da cidade. Coxo, o defeito físico valera-lhe o apelido. Mas valia-lhe também a simpatia de quanta mãe de família o via, humilde e tristonho, na sua porta, pedindo um pouco de comida e pousada por uma noite. Agora, no meio do trapiche, o Sem-Pernas metia a ridículo o Gato, que perde todo um dia para furtar um anelão cor de vinho, sem nenhum valor real, pedra falsa, de falsa beleza também.

        [...].

AMADO, Jorge. Capitães da Areia. 3. ed. reimp. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p. 30-33.

Entendendo o romance:

01 – Qual é o ambiente descrito no início do fragmento?

      O ambiente descrito no início do fragmento é a grande noite de paz da Bahia, com destaque para o cais, os saveiros, o forte, o quebra-mar, as ladeiras e as torres das igrejas. O trapiche é um ponto central da narrativa.

02 – Quem é João Grande e qual é sua história?

      João Grande é um menino negro de treze anos, alto e forte, que vive em liberdade com os Capitães da Areia desde que seu pai morreu em um acidente. Ele é um dos chefes do grupo, respeitado por sua força, mas não é conhecido por sua inteligência.

03 – Qual é a relação de João Grande com Pedro Bala?

      Pedro Bala, o chefe dos Capitães da Areia, tem uma relação de amizade e respeito com João Grande. Pedro Bala aprecia a bondade de João Grande e frequentemente diz que gosta dele por sua bondade, e não apenas por sua força.

04 – Quem é o Querido-de-Deus e qual é seu papel na história?

      O Querido-de-Deus é um célebre capoeirista da Bahia, respeitado por todos. Ele ensina capoeira a João Grande, Pedro Bala e o Gato, e aparece na história para trazer novidades e continuar as lições de capoeira.

05 – Como é descrita a relação de João Grande com o Professor?

      João Grande admira o Professor e frequentemente observa sua leitura. O Professor, por sua vez, respeita João Grande e é chamado para contar histórias. João Grande é o mais ardente admirador do Professor e se encanta com as histórias que ele conta.

06 – Quem é o Professor e qual é sua importância no grupo dos Capitães da Areia?

      O Professor, cujo nome é João José, é um membro dos Capitães da Areia que lê e conta histórias para o grupo. Ele é respeitado por seu conhecimento e imaginação, e frequentemente ajuda a criar planos de roubo. É o único que lê correntemente entre eles, apesar de ter estudado por apenas um ano e meio.

07 – Qual é a principal característica física e emocional de João Grande?

      João Grande é fisicamente alto e forte, com músculos retesados e treze anos de idade. Emocionalmente, ele é descrito como um protetor dos menores e uma pessoa boa, embora não seja muito inteligente.

08 – Como é a rotina noturna no trapiche, segundo a narrativa?

      A rotina noturna no trapiche inclui os meninos se recolhendo para dormir, conversas e risadas entre os membros do grupo. O Professor fica lendo à luz de uma vela, e João Grande, embora durma perto da porta, frequentemente vai observar o Professor lendo.

09 – Quem é o Sem-Pernas e qual é seu papel no grupo?

      Sem-Pernas é um menino coxo, conhecido por ser o espião do grupo. Ele tem a habilidade de se infiltrar nas casas das famílias, passando-se por um bom menino perdido. No trapiche, ele é conhecido por suas brincadeiras e conversas altas.

10 – Qual é a importância das histórias contadas pelo Professor para o grupo?

      As histórias contadas pelo Professor são importantes porque transportam os Capitães da Areia para mundos diversos, despertando a imaginação e o desejo de aventuras e heroísmo nos meninos. As histórias também ajudam a fortalecer o senso de comunidade e camaradagem entre eles.

 

domingo, 22 de maio de 2022

ROMANCE: CAPITÃES DE AREIA - REFORMATÓRIO - FRAGMENTO - JORGE AMADO -COM GABARITO

 Romance: Capitães de Areia – Reformatório - Fragmento

                Jorge Amado

        [...]

        No refeitório, enquanto bebiam o café aguado e mastigavam o bolachão duro, seu vizinho de mesa fala:

        – Tu é o chefe dos Capitães da Areia? – sua voz é baixíssima.

        – Sou, sim.

        – Vi teu retrato no jornal... Tu é um macho! Mas te acabaram – olha o rosto magro de Bala.

        Mastiga o bolachão. Continua:

        – Tu vai ficar aqui?

        – Vou arribar...

        – Eu também. Tenho um plano... Quando eu bater asa, posso ir pra teu grupo?

        – Pode.

        – Onde fica o buraco?

        Pedro Bala olha com desconfiança:

        – Tu encontra a gente no Campo Grande toda tarde

        – Pensa que vou dizer?

        O bedel Campos bate as mãos. Todos se levantam. Dirigem-se para as diversas oficinas ou para os terrenos cultivados.

        Pelo meio da tarde Pedro Bala vê o Sem-Pernas que passa na estrada. Vê também um bedel que o tange.

        Castigos... Castigos... É a palavra que Pedro Bala mais ouve no reformatório. Por qualquer coisa são espancados, por um nada são castigados. O ódio se acumula dentro de todos eles.

        No extremo do canavial passa um bilhete a Sem-Pernas. No outro dia encontra a corda entre as moitas de cana. Com certeza a puseram durante a noite. É um rolo de corda fina e resistente. Está novinha. No meio dela o punhal que Pedro mete nas calças. A dificuldade é levar o rolo para o dormitório. Fugir durante o dia é impossível, com a vigilância dos bedéis. Não pode levar o rolo entre a roupa, que notariam.

        De repente surge uma briga. Jeremias se joga sobre o bedel Fausto com o facão na mão. Outros meninos se atiram também, mas vem um grupo de bedéis armados de chicotes. Estão sujeitando Jeremias.

        Pedro mete o rolo de corda debaixo do paletó, abre para o dormitório. Um bedel vem descendo a escada com um revólver na mão. Pedro se esconde atrás de uma porta.

        O bedel vem rápido, passa.

        Empurra a corda para baixo do colchão, volta para o canavial. Jeremias foi levado para a cafua. Os bedéis agora juntam os meninos. Ranulfo e Campos foram em perseguição de Agostinho, que pulou a cerca na confusão da briga. O bedel Fausto, com um talho no ombro, foi para a enfermaria. O diretor está entre eles, os olhos fuzilando de raiva. Um bedel conta os meninos. Pergunta a Pedro Bala:

        – Onde estava metido?

        – Saí pra não me meter no barulho.

        O bedel o olha desconfiado, mas passa.

        Voltam Ranulfo e Campos com Agostinho. O fujão é surrado na vista de todos. Depois o diretor diz:

        – Metam-no na cafua.

        – Já está Jeremias – fala Ranulfo.

        – Ficam os dois. Assim podem conversar...

        Pedro Bala se arrepia. Como irão ficar dois na pequenez da cafua?

        Nesta noite a vigilância é grande, ele não tenta nada. Os meninos rangem os dentes de raiva.

        Duas noites depois, quando o bedel Fausto já tinha se recolhido há muito ao seu quarto de tabiques e quando todos dormiam, Pedro Bala se levantou, tirou a corda de sob o colchão. Sua cama ficava junto a uma janela. Abriu. Amarrou a corda num dos armadores de rede que existiam na parede. Deixou que a corda caísse pela janela.

        Era curta. Faltava ainda muito. Recolheu. Procurava fazer o menor barulho possível, mas assim mesmo um dos seus vizinhos de cama acordou:

        – Tu vai bater asa?

        Aquele não tinha boa fama. Costumava delatar. Por isso mesmo fora colocado ao lado de Pedro Bala. Bala puxou o punhal, mostrou a ele.

        – Olha, xereta, trata de dormir. Se tu piar, eu te abro a garganta, palavra de Pedro Bala. E se tu disser alguma coisa depois que eu sair... Tu já viu falar nos Capitães da Areia?

        – Já.

        – Pois eles me vinga.

        Põe o punhal ao alcance da mão. Recolhe completamente a corda, amarra o lençol na ponta com um daqueles nós que o Querido-de-Deus lhe ensinou. Ameaça mais uma vez o menino, joga a corda, passa o corpo pela janela, começa a descida. Ainda no meio ouve os gritos denunciadores do delator.

        [...].

AMADO, Jorge. Capitães de Areia. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009.

Fonte: Livro – Viva Português 2° – Ensino médio – Língua portuguesa – 1ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2011. Ed. Ática. p. 16-8.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Arribar: partir sem dizer para onde.

·        Cafua: quarto escuro onde se prendiam os alunos castigados.

·        Tabique: parede fina, geralmente de madeira.

·        Tanger: acelerar de algum modo a marcha de uma pessoa ou de um animal.

02 – Descreva o espaço onde acontecem os fatos narrados.

      Trata-se de um reformatório onde há um refeitório, oficinas, campos de cultivo, dormitório e uma cafua. Sabemos que o dormitório não fica no térreo, pois Pedro precisa de corda e lençol para alcançar o chão.

03 – O comportamento de Pedro Bala durante o diálogo no refeitório e no momento da briga revela algumas de suas características. Quais?

      Pedro Bala é bastante esperto, tem senso de oportunidade, mas também é bastante desconfiado.

04 – O trecho foi interrompido num momento decisivo da narrativa. Que momento é esse? Que perguntas nos fazemos nesse momento?

      O momento em que Pedro Bala tenta uma fuga. Perguntamo-nos se ele vai conseguir, se os gritos do companheiro de quarto despertarão os bedéis a tempo de conseguirem impedir a fuga do garoto.

05 – Levante uma hipótese de desfecho para o capítulo.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Se deixa escorregar pela corda, salta ao chão. O pulo é grande, mas ela já salta correndo. Pula a cerca, após evitar os cachorros policiais que estão soltos. Desaba pela estrada. Tem alguns minutos de vantagem. O tempo dos bedéis se vestirem e saírem em sua perseguição e soltarem os cachorros também. Pedro Bala prede o punhal nos dentes, tira a roupa. Assim os cachorros não o conhecerão pelo faro. E nu, na madrugada fria, inicia a carreira para o sol, para a liberdade.

sábado, 23 de novembro de 2019

ROMANCE: CAPITÃES DE AREIA -(FRAGMENTO) - JORGE AMADO - COM GABARITO

Romance: Capitães de Areia - Fragmento               
                  Jorge Amado

         O romance Capitães da Areia, de Jorge Amado, é um documento sobre a vida dos meninos de rua de Salvador. A sua primeira edição (1937) foi apreendida e queimada em praça pública pouco depois de implantada a ditadura de Getúlio Vargas. No trecho a seguir, o narrador nos conta como Pedro Bala, aos quinze anos, assumiu a liderança de um grupo que dormia num velho armazém abandonado do cais do porto.
        "É aqui também que mora o chefe dos Capitães da Areia: Pedro Bala. Desde cedo foi chamado assim, desde seus cinco anos. Hoje tem quinze anos. Há dez que vagabundeia nas ruas da Bahia. Nunca soube de sua mãe, seu pai morrera de um balaço. Ele ficou sozinho e empregou anos em conhecer a cidade. Hoje sabe de todas as suas ruas e de todos os seus becos. Não há venda, quitanda, botequim que ele não conheça. Quando se incorporou aos Capitães da Areia (o cais recém-construído atraiu para suas areias todas as crianças abandonadas da cidade) o chefe era Raimundo, o Caboclo, mulato avermelhado e forte.
        Não durou muito na chefia o caboclo Raimundo. Pedro Bala era muito mais ativo, sabia planejar os trabalhos, sabia tratar com os outros, trazia nos olhos e na voz a autoridade de chefe. Um dia brigaram. A desgraça de Raimundo foi puxar uma navalha e cortar o rosto de Pedro, um talho que ficou para o resto da vida. Os outros se meteram e como Pedro estava desarmado deram razão a ele e ficaram esperando a revanche, que não tardou. Uma noite, quando Raimundo quis surrar Barandão, Pedro tomou as dores do negrinho e rolaram na luta mais sensacional a que as areias do cais jamais assistiram. Raimundo era mais alto e mais velho. Porém Pedro Bala, o cabelo loiro voando, a cicatriz vermelha no rosto, era de uma agilidade espantosa e desde esse dia Raimundo deixou não só a chefia dos Capitães da areia, como o próprio areal. Engajou tempos depois num navio.
        Todos reconheceram os direitos de Pedro Bala à chefia, e foi dessa época que a cidade começou a ouvir falar nos Capitães da areia, crianças abandonadas que viviam do furto."

Jorge Amado, Capitães da Areia, 50. ed. Rio de Janeiro: Record, 1980, p. 26-7.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 344-5

Entendendo o romance:

01 – Pela leitura do texto, pode-se concluir que o romance pretende denunciar que tipo de problema?
      Um problema social (a questão do menor abandonado).

02 – Que fato da vida de Pedro Bala pode ser considerado como o elemento desencadeador de sua vida de menino de rua?
      Não ter pai nem mãe (nem a solidariedade do Estado).

03 – Que características de Pedro Bala fizeram dele líder do grupo?
      Era ativo, planejador, sabia tratar os outros e trazia na voz e nos olhos a autoridade de chefe.

04 – Mesmo sendo um grupo de marginalizados, os meninos demonstravam senso de justiça entre os membros do grupo. Que fato narrado comprova essa afirmação?
      Os meninos reprovaram a atitude de Raimundo de usar uma navalha contra o jovem desarmado.



domingo, 23 de junho de 2019

CONTO: O GATO MALHADO E A ANDORINHA SINHÁ - JORGE AMADO - COM GABARITO

Conto: O gato malhado e a Andorinha Sinhá
         
                                  Jorge Amado

        A história em questão acontece entre o gato malhado e a andorinha Sinhá e se desenvolve em um parque muito arborizado e habitado por animais de várias espécies. Com o desenrolar da história percebemos que o tempo, com suas estações, cria uma atmosfera que influencia o humor dos personagens.

        “É tão impossível avivar o fogo com a neve quanto apagar o fogo do amor com palavras”.
                                                      Willian Shakespeare

        Jorge Amado descreve o gato malhado como alguém de meia idade, distante da juventude. “Não existia nos arredores nenhuma criatura mais egoísta e solitária que o gato malhado. Ele não tinha relações de amizade com os seus vizinhos e quase nunca respondia aos raros cumprimentos que por medo, e não por gentileza, alguns transeuntes lhe dirigiam.
        Nada alterava o dia a dia do parque até que a primavera chegou com as suas cores alegres, aromas inebriantes e sonoras melodias. O gato malhado estava dormindo quando a primavera chegou, repentina e poderosa. Mas a sua presença era tão insistente e forte que o acordou do seu sono sem sonhos, abriu os seus olhos castanhos e esticou os braços”.
        Neste novo estado primaveril, o gato malhado experimentou um estado de otimismo incomum. “Ele se sentia leve, queria falar sem compromisso, andar sem rumo e até mesmo conversar com alguém. Olhou em volta com seus olhos castanhos, mas não viu ninguém. Todos tinham fugido”.
        No entanto, “no galho de uma árvore a andorinha Sinhá piava e sorria para o gato malhado. Enquanto isso, dentro dos seus esconderijos, todos os habitantes do parque olhavam espantados para a andorinha Sinhá”.
        Jorge Amado relata como era a outra protagonista da história: “Quando ela passeava, risonha e coquete, não havia nenhum pássaro em idade de casar que não suspirasse por ela. Era muito jovem ainda, mas onde quer que estivesse, todos os jovens do parque se aproximavam.
        Ela ria com todos, mas não amava ninguém. Voava despreocupadamente de árvore em árvore pelo parque; era curiosa, gostava de conversar e era inocente de coração. Na verdade, não existia em nenhum parque da redondeza uma andorinha tão bela e gentil como a andorinha Sinhá”.
        A andorinha conversou com o gato malhado e chegou até a insultá-lo, um fato que os demais habitantes do parque viram como uma sentença de morte para o pássaro. Seus pais a haviam proibido de se relacionar com os gatos, pois eles eram os predadores naturais dos pássaros. Mas ela ignorou o conselho e conversou com ele.
        Naquela noite, a andorinha “deitou suavemente a cabeça na pétala de rosa que lhe servia de travesseiro e decidiu continuar a sua conversa com o gato no outro dia: – Ele é feio, mas é simpático… – murmurou ao adormecer.
        Quanto ao gato malhado, ele também pensava na arisca andorinha Sinhá. No entanto, havia algo que ele não possuía: um travesseiro. Além de feio e mau, o gato malhado era pobre e descansou a cabeça sobre os braços”.
        A doença do gato

        O gato estava muito cansado e achou que estava doente. Depois percebeu que tinha febre e foi buscar água do lago para se refrescar do ardor que sentia por dentro. E ali, nas águas do lago, ele viu o reflexo da andorinha Sinhá que o observava: “ele a reconheceu em cada folha, em cada gota de orvalho, em cada raio de sol do crepúsculo e em cada sombra da noite que se aproximava”. Quando ele conseguiu dormir, “sonhou com a andorinha e era a primeira vez que sonhava em muitos anos”.
        O gato malhado não percebeu que havia se apaixonado; não conseguiu reconhecer os seus sentimentos. Quando era jovem havia se apaixonado muitas vezes, quase todas as semanas, mas nunca deu muita importância a esses sentimentos. Na verdade, ele tinha machucado muitos corações. Quando acordou, se lembrou que tinha sonhado durante toda a noite com a andorinha, mas decidiu não se preocupar com isso.
        No entanto, durante toda a primavera ele seguiu a andorinha Sinhá para conversar e nunca faltava assunto. Logo, começaram a passear juntos pelo parque; ele caminhava pelo parque e ela o acompanhava voando ao seu lado. Vagavam sem rumo e comentavam sobre a cor das flores e a beleza do mundo.
        O gato malhado passou por uma transformação. Já “não ameaçava os outros seres vivos, não despedaçava as flores com suas patadas, não eriçava os pelos quando um estranho se aproximava, não repelia os cães eriçando os bigodes, os insultando entre dentes. Ele se tornou um ser suave e gentil, era o primeiro a cumprimentar os habitantes do parque, ele que antigamente não respondia aos cumprimentos que lhes dirigiam”.

        O amor tem fronteiras?

        No final do verão, a andorinha e o gato jantaram juntos. Enquanto conversavam, o gato não se conteve e lhe disse que se não fosse um gato, a pediria em casamento. “Naquela noite, a andorinha não retornou. O gato tentava entender o que estava acontecendo com ele e se debatia com sentimentos contraditórios. Envolto em tristeza e solidão, decidiu conversar com a coruja”.
        No início, conversaram sobre vários assuntos sem importância. Mas a coruja era sábia e percebeu o que estava acontecendo. Sem esperar que ele perguntasse, ela lhe contou sobre os rumores que haviam no parque sobre os seus encontros com a andorinha.
        Todos pensavam mal dele e isso o enfureceu. No final, a velha coruja deu a sua opinião: “Velho amigo, não há nada a fazer. Como você pôde imaginar que a andorinha o aceitaria como marido? Nunca houve um caso assim, mesmo que ela o amasse”.
        No entanto, quando o outono chegou, o gato malhado procurou novamente a andorinha. Ela estava séria e distante, já não sorria mais e não demonstrava a mesma simpatia de outros tempos. O gato não conseguia esconder que estava muito triste. No seu coração ressoavam as palavras da coruja e só conseguia passear com a andorinha em silêncio.
        Nessa noite, o gato malhado voltou a ser o vilão de sempre. Ele perseguiu o pato preto, assustou o papagaio, arranhou o focinho de um cão e roubou e jogou fora os ovos do galinheiro. Todos os habitantes do parque espalharam a notícia e voltaram a temer o gato que parecia a encarnação da maldade.

        O final da história

        Depois de alguns dias, o gato recebeu uma carta da Andorinha Sinhá, graças a um pombo correio. Nele, ela dizia que uma andorinha nunca poderia se casar com um gato e que não deviam voltar a se ver.
        No entanto, também acrescentou que nunca havia sido tão feliz como durante os passeios pelo parque com ele. Terminou o bilhete com uma declaração que lhe queimou o coração: “Sempre sua, Sinhá”. O gato malhado leu essa carta várias vezes até guardar tudo na memória.
        Algum tempo depois, a andorinha apareceu sem aviso prévio. Ela estava tão linda e terna, como na primavera. Agia como se nada tivesse acontecido, como se a distância que os separava tivesse se diluído. O gato estava comovido, mas no final da tarde ele soube da verdade. “Ficaram juntos até que a noite chegou e então ela lhe disse que seria a última vez que ele a veria, porque iria se casar com um rouxinol. Por quê? Porque uma andorinha não pode se casar com um gato”.
        O gato malhado ficou arrasado com a notícia. Durante o casamento, ele não conseguiu aguentar e foi à festa. A andorinha, que conhecia o som dos seus passos, sabia que ele estava lá, deixou que uma das suas lágrimas fossem levadas pelo vento e caíssem nas mãos do gato.
        “Isto iluminou o caminho solitário do gato malhado na noite sem estrelas. O gato tomou a direção dos caminhos estreitos que conduzem para a encruzilhada do fim do mundo”.
        Definitivamente, uma bela história que nos lembra da eterna tristeza dos amores impossíveis.

        Moral da história: Todos nós temos preconceitos. Por muito que o mundo evolua, é quase impossível haver alguém que não tenha um único preconceito. Muitas vezes nem nos apercebermos que certas ideias ou gostos que manifestamos são preconceitos: aproximarmos-nos de pessoas mais magras ou mais gordas, mais altas ou mais baixos, gostar de estar só com pessoas mais novas ou mais velhas... Todos nós temos as nossas preferências e nem sempre nos apercebemos de que se trata de preconceitos. Se estes não nos levarem a afastar ou discriminar pessoas apenas por aquilo que aparentam ser, o problema não é grave. Mais ainda há quem marginalize os outros, baseado em conceitos de raça, crença, poder...
        Esta história do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá mostra como isso pode acontecer, como a felicidade de dois animais é colocado em causa porque pertencem a mundos diferentes.

Entendendo o conto:

01 – Indique o nome da primeira personagem que aparece neste capítulo?
        É o gato malhado.

02 – Faça a característica física e psicológica do gato.
      Características física: um gato feio, gordo, forte, às riscas amarelas e negras, gato de meio idade, com olhos que transmitem maldade e grande bigodes.

      Características psicológica: solitário, egoísta, mal humorado, antipático, desagradável, convencido e insensível.

03 – por que motivo se assustaram os animais do parque?
      Os animais do parque assustaram-se porque pensavam que o gato ia matar a Andorinha.

04 – A Andorinha não fugiu. Por quê?
      A Andorinha não fugiu porque como não conseguia voar, não a podia alcançar.

05 – Na opinião da Andorinha, o Gato Malhado era.
      Tolo, feíssimo e convencido.

06 – De que modo reagiu o Gato Malhado à crítica da Andorinha?
      O Gato Malhado, fez o inesperado: riu-se da crítica da Andorinha.

07 – O que significa a expressão: “riso espantosa de quem se havia desacostumado de rir”?
      A expressão significa que o Gato já não se ria há muito tempo.

08 – Reações dos outros animais:
      A árvore Pau-Brasil tremeu de medo, o Cã Dinamarquês pensou que o Gato se ia vingar da Andorinha, o Reverendo Papagaio fechou os olhos e a Andorinha voou um galho mais alto.

09 – Sensações visuais, olfativas e auditivas presentes nesta estação.
      Sensações visuais: “vestidas de luz e de cores”; “riscas amarelas e negras”; ...
      Sensações auditivas: “seguem o cacarejar da orgulhosa galinha”; “murmuravam”; ...
      Sensações olfativas: “olorosa de perfumes sutis”; “botões nasciam perfumados”; ...

10 – Como se designam as expressões “Santo Deus!”; “Ui” e “Ai, Meu Deus”? Quais os sentimentos que exprimem?
      As expressões “Santo Deus”; “Ui” e “Ai, Meu Deus!” são interjeições que exprimem medo, susto e terror.

11 – A estação do verão é curta, por quê?
      A estação do verão é curta, passou rapidamente “com o seu sol ardente e noites cheias de estrelas”, pois é sempre rápido o tempo de felicidade. “O tempo é um ser difícil”, isto é, quando queremos que o tempo passe depressa (momentos de infelicidade) ele vai andando devagar, pormenorizando cada momento. Quando há o desejo de viver para sempre um capítulo de uma vida o tempo corre. Então, esta estação ser curta deve-se ao facto do tempo em que a Andorinha e o Gato estiveram juntos passasse num ápice. A Andorinha pergunta ao Gato o porque da sua infelicidade.

12 – O que é que o Gato lhe responde?
      O Gato diz-se que se ela não fosse uma Andorinha lhe pedia para casar com ele.

13 – Qual a reação da Andorinha?
      A Andorinha não ficou surpreendida pois já sabia o que se passava no coração do Gato; zanga também não deveria ser pois aquelas palavras foram-lhe gratas, mas tinha medo, ele era um Gato e os gatos são inimigos das andorinhas.

14 – Como se sente o Gato Malhado quando resolve ir conversar com a Coruja?
      O Gato Malhado sente-se só, triste e confuso.

15 – A Coruja sugere a única solução para vencer a lei das andorinhas. Qual?
      A solução que a Coruja sugere é uma revolução de mentalidades e de comportamentos.

16 – Na opinião da Coruja a lei das andorinhas impede o casamento entre o Gato e a Andorinha. Transpondo para o plano humano, esta lei representa...
      Representa um tipo de conduta social e racial interiorizada pela sociedade.

17 – Tristes e em silêncio, o Gato e a Andorinha “tinham ambos o ar de quem quer evitar um assunto que se impõe”. Que assunto é esse?
      O assunto que é evitado pelo Gato e a Andorinha é a separação inevitável deles, devido aos rumores e à lei das andorinhas.

18 – O que aconteceu durante o casamento da Andorinha e do Rouxinol?
      Durante o casamento da Andorinha e do Rouxinol, onde estavam presentes todos os animais do parque menos o Gato Malhado que permanecia solitário, caiu sobre o Gato uma pétala das rosas vermelhas e este colocou-a no seu peito.

19 – A andorinha deixou cair uma pétala de rosa com que intensão?
      A Andorinha deixou cair uma pétala de rosa com a intensão de iluminar o caminho do gato que estava só e triste.

20 – Por que era este amor impossível?
      Este amor era impossível porque a Andorinha e o Gato são seres de espécies diferentes e, até, inimigos.

21 – Qual é o acontecimento mais importante desta narrativa?
      O acontecimento mais importante desta narrativa é o desenrolar da paixão entre o Gato Malhado e a Andorinha Sinhá.