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segunda-feira, 9 de abril de 2018

POEMA: CANÇÃO - AUGUSTO DE CAMPOS - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

Poema: Canção

Ao ver a ave leve mover
Alegres as alas contra a luz,
Que se olvida e deixa colher
Pela doçura que a conduz,
Ah! tão grande inveja me vem
Desses que venturosos vejo!
É maravilhosa que o meu ser
Não se dissolva de desejo.

Ah! tanto julguei saber
De amor e menos que supus
Sei, pois amar não me faz ter
Essa a que nunca farei jus.
A mim de mim e a si também
De mim e tudo o que desejo

Tomou e só deixou querer
Maior e um coração sobejo.
[...]

Bem feminino é o proceder
Dessa que me roubou a paz.
Não quer o que deve querer
E tudo o que não deve faz.
Má sorte enfim me sobrevém,
E tudo me foi suceder
Só porque quis mais horizonte.

Piedade já não pode haver
No universo para os mortais.
Se aquela que a devia ter
Não tem, quem a devia ter
Não tem, quem a terá jamais?
Ah! como acreditar que alguém
De olhar tão doce e clara fronte
Deixe que eu morra sem beber
Água de amor em sua fonte?
[...]
                            Ventadorn, Bernart de. Verso reverso contraverso.
                                   Tradução de Augusto de Campos. São Paulo:
                                         Perspectiva, 1978. p. 83-87. (Fragmento).

Alas: asas (forma arcaica)
Ventuosos: felizes, afortunados.
Sobejo: audaz, ousado.

Entendendo o poema:
01 – Qual é o estado de espírito do eu lírico?
      O eu lírico está sofrendo por um amor não correspondido. Imaginou que soubesse tudo desse sentimento, mas descobre que nada sabia, pois o amor não lhe trará aquela a quem ele ama.

     a)   Que imagem se opõe ao seu estado?
      A imagem do voo da ave, símbolo de liberdade.

     b)   De que maneira o uso dessa imagem contribui para caracterizar o sofrimento do eu lírico? Explique.
      O eu lírico inveja essa liberdade e a capacidade de entrega que pode constatar no voo da ave. Já ele está aprisionado pelo sofrimento de viver um amor não correspondido. A imagem do voo enfatiza o “aprisionamento” e a infelicidade em que o eu lírico se encontra.

02 – Na cantiga, o eu lírico caracteriza o objeto de seu amor. Que imagem da mulher é apresentada?
      Ela é caracterizada como uma mulher a quem ele nunca fará jus, que roubou a sua paz e que se mostra insensível aos seus apelos. Além disso, tem, segundo o eu lírico, um comportamento tipicamente feminino: “Não quer o que deve querer / E tudo o que não deve faz”

a)   Explique de que maneira essa imagem é fundamental para caracterizar o amor cortês.
      Na descrição que o eu lírico faz de sua amada, ele deixa claro que se coloca em uma posição de inferioridade em relação a ela e sofre por ter se apaixonado por alguém que não corresponde ao seu amor. Um amor que leva à loucura. A imagem de uma mulher que é insensível aos apelos do eu lírico, colocando-se como ser inacessível, é fundamental para o amor cortês.

03 – Releia:
                “Piedade já não pode haver
                No universo para os mortais”.
     a)   Por que o eu lírico faz tal afirmação?
      Para o eu lírico, não pode haver piedade no mundo, se a amada não corresponde às suas expectativas, ou seja, não tem piedade dele, rejeitando seu amor e seu louvor.

     b)   De que maneira essa afirmação comprova a relação de subordinação dele em relação à dama que louva?
      Como ela não responde às suas súplicas e despreza a homenagem que faz, o eu lírico questiona os valores universais: se sua amada não demonstra piedade, não pode haver piedade no universo.

04 – Como mostra a linha do tempo, a Europa viveu um período de entre as invasões e o aparecimento da produção literária do Trovadorismo mais de 500 anos após o início da Idade Média.
      É importante que os alunos percebam a impossibilidade de uma literatura produzida no ambiente das cortes surgir no período em que a Europa Medieval está sendo atacada por invasores. Eles devem articular as informações sobre o período em que predominaram as invasões com outras que obtiveram na primeira parte do capítulo.



domingo, 18 de março de 2018

POEMA: SE EU NÃO A TENHO, ELA ME TEM - AUGUSTO DE CAMPOS - COM GABARITO

Poema: Se eu não a tenho, ela me tem

Se eu não a tenho, ela me tem
O tempo todo preso, Amor,
E tolo e sábio, alegre e triste,
Eu sofro e não dou troco.
É indefeso quem ama.
Amor comanda
À escravidão mais branda

E assim me rendo,
Sofrendo,
À dura lida
Que me é deferida.
[...]

É tal a luz que dela vem
Que até me aqueço nessa dor
Sem outro sol que me conquiste,
Mas no sol ou no fogo
Não digo quem me inflama.
O olhar me abranda,
Só os olhos têm vianda,
E a ela vendo
Vou tendo
Mais distendida
Minha sobrevida.
[...]

Eu sei cantar como ninguém
Mas meu saber perde o sabor
Se ela me nega o que me assiste.
Vejo-a só, não a toco,
Mas sempre que me chama
Para ela anda
Meu corpo, sem demanda,
E sempre atendo,
Sabendo
Que ela me olvida
A paga merecida.
[...]
                                            Daniel, Arnaut. In: Campos, Augusto de.
                    Invenção. São Paulo: Arx, 2003. p. 90-93. (Fragmento).

Deferida: concedida.
Vianda: alimento.
“O que me assiste”: aquilo a que tenho direito.
Olvidar: esquecer.

Entendendo a poesia:
01 – O primeiro verso resume a relação existente entre o eu lírico e a dama sobre a qual ele fala. Que relação é essa?
      Uma relação de devoção amorosa. Ele declara sua total dependência em relação à mulher sobre a qual fala.

a)   Com base no texto, como você caracterizaria o eu lírico? E a dama?
      Alguns elementos indicam que o eu lírico é masculino. Ele se apresenta como submisso à “escravidão branda” a que foi destinado pelo amor. A dama sobre quem fala é apresentada de modo idealizado, distante.

02 – O termo destacado no trecho a seguir assume dois sentidos diferentes: Quais são eles? Explique:

                   “É tal a luz que dela vem
                   Que até me aqueço nessa dor
                   Sem outro sol que me conquiste,
                   Mas no sol ou no fogo
                   Não digo quem me inflama.”

      Um trovador, denominação de quem compunha cantigas, não poderia nunca revelar o nome da dama a quem dedicava suas canções. Transcreva no caderno os versos do trecho acima que mostram que isso foi cumprido.
      A primeira ocorrência do termo sol é uma referência metafórica à dama. Ela é o único “sol” que aquece o coração do trovador, não corre o risco de ser substituída por outra mulher.
      Na segunda ocorrência, a referência parte do sentido literal, para construir uma nova representação metafórica: nem sob tortura o trovador revela o nome da dama que o aquece.

03 – Quais as três metáforas presentes na segunda estrofe?
      As metáforas são: luz e sol, que se referem à dama como ser que dá calor e em torno do qual o eu lírico gravita, e vianda, que se refere a ela como alimento.

a)   Como essas metáforas ajudam a caracterizar a posição de submissão do eu lírico em relação à dama?
      Por meio das metáforas o eu lírico caracteriza sua total dependência da dama: ela é a luz que o ilumina, o sol que o aquece, o alimento que garante sua sobrevivência.

04 – Na terceira estrofe, o eu lírico afirma sua superioridade. Transcreva no caderno o verso em que isso ocorre.
      O verso é o primeiro: “Eu sei cantar como ninguém.”

     a)   Sua condição superior é tratada como algo positivo ou negativo? Por quê?
      O eu lírico trata sua condição superior como algo negativo, porque não está lhe trazendo a recompensa esperada.

     b)   Em dois momentos, nessa estrofe, o eu lírico fala do papel que a mulher deve exercer no jogo do amor. Transcreva-os no caderno e explique em que consiste esse papel.
      Os momentos em que o eu lírico faz referência ao papel da mulher são: “se ela me nega o que me assiste” e “ela me olvida / a paga merecida”. Nos dois casos, ele afirma ter direito a algum tipo de recompensa, ou reconhecimento, por cumprir bem o seu papel. A dama, portanto, deveria reconhecer que ele foi cortês, que canta melhor que todos os outros e garantir a ele “a paga merecida”, mas isso não ocorre.