Mostrando postagens com marcador CECÍLIA MEIRELES. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador CECÍLIA MEIRELES. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

POESIA: ROMANCE II OU DO OURO INCANSÁVEL - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poesia: Romance II ou Do Ouro Incansável

             Cecília Meireles

Mil BATEIAS vão rodando
sobre córregos escuros;
a terra vai sendo aberta
por intermináveis sulcos;
infinitas galerias
penetram morros profundos.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzArYc3xGdTp-fqBCI9GdV51N18ibAdZDqCNF6QOVV8yGbQiSzkpq5nben-RC1dhL7RIRk3xkhJmKD_pslBJg6aybjVjIC2H_S_JNGvvsfoZgN2T7ZSZGBz6-LmYqETHeoKk34M4DexGP5GhGl-Kuuz9wHWNPNQgrL4eVkDHTsATPTdtPXqFX6awKRLG4/s1600/FLOR.jpg


De seu calmo esconderijo,
o ouro vem, dócil e ingênuo;
torna-se pó, folha, barra,
prestígio, poder, engenho . . .
É tão claro! — e turva tudo:
honra, amor e pensamento.

Borda flores nos vestidos,
sobe a opulentos altares,
traça palácios e pontes,
eleva os homens audazes,
e acende paixões que alastram
sinistras rivalidades.

Pelos córregos, definham
negros a rodar bateias.
Morre-se de febre e fome
sobre a riqueza da terra:
uns querem metais luzentes,
outros, as redradas pedras.

Ladrões e contrabandistas
estão cercando os caminhos;
cada família disputa
privilégios mais antigos;
os impostos vão crescendo
e as cadeias vão subindo.

Por ódio, cobiça, inveja,
vai sendo o inferno traçado.
Os reis querem seus tributos,
— mas não se encontram vassalos.
Mil bateias vão rodando,
mil bateias sem cansaço.

Mil galerias desabam;
mil homens ficam sepultos;
mil intrigas, mil enredos
prendem culpados e justos;
já ninguém dorme tranquilo,
que a noite é um mundo de sustos.

Descem fantasmas dos morros,
vêm almas dos cemitérios:
todos pedem ouro e prata,
e estendem punhos severos,
mas vão sendo fabricadas
muitas algemas de ferro.

Cecilia Meireles. Poesias completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 288.

Entendendo a poesia:

01 – Qual a principal atividade descrita no poema e quais são suas consequências?

      A atividade principal descrita é a mineração do ouro. Suas consequências são diversas e abrangentes, indo desde a transformação da paisagem (com a abertura de minas e galerias) até a transformação da sociedade, com o surgimento de desigualdades sociais, crimes e conflitos. O ouro, inicialmente visto como algo valioso e desejável, acaba por corromper e destruir.

02 – Como o ouro é retratado no poema? Quais são seus poderes e suas perversões?

      O ouro é retratado como uma força ambígua. De um lado, é visto como um metal precioso, capaz de trazer riqueza, poder e prestígio. De outro, é apresentado como a raiz de todos os males, corruptendo aqueles que o buscam e causando sofrimento e morte. O ouro é capaz de transformar a natureza, a sociedade e até mesmo a alma humana.

03 – Quais são os diferentes grupos sociais retratados no poema e como eles são afetados pela busca pelo ouro?

      O poema retrata diversos grupos sociais, como os mineradores, os proprietários de terras, os contrabandistas, os reis e o povo em geral. Todos são afetados pela busca pelo ouro, cada um à sua maneira. Os mineradores sofrem com as condições de trabalho, as doenças e a morte. Os proprietários de terras se enriquecem, mas vivem em constante disputa por mais poder. Os contrabandistas exploram a situação caótica para obter lucros. Os reis exigem cada vez mais tributos, enquanto o povo sofre com a miséria, a opressão e a violência.

04 – Qual a relação entre o ouro e a natureza no poema?

      A relação entre o ouro e a natureza é marcada pela destruição. A busca pelo ouro leva à exploração desenfreada dos recursos naturais, causando danos irreversíveis ao meio ambiente. As minas e as galerias destroem a paisagem, enquanto a contaminação dos rios e do solo afeta a vida de todos os seres vivos.

05 – Que sentimentos e emoções são transmitidos pelo poema?

      O poema transmite uma ampla gama de sentimentos e emoções, como a ambição, a cobiça, a inveja, o ódio, a tristeza, a angústia e a desesperança. A busca pelo ouro é retratada como uma força destrutiva que corrompe os corações dos homens e leva à ruína da sociedade.

06 – Qual a crítica social presente no poema?

      A crítica social presente no poema é direcionada à sociedade colonial, marcada pelas desigualdades sociais, pela exploração, pela violência e pela corrupção. A busca pelo ouro é utilizada como metáfora para denunciar os excessos e os vícios daquela época.

07 – Qual o papel da linguagem poética na construção do sentido do poema?

      A linguagem poética desempenha um papel fundamental na construção do sentido do poema. As metáforas, as comparações, a musicalidade dos versos e a escolha cuidadosa das palavras contribuem para criar uma atmosfera densa e carregada de significado. A linguagem poética permite que o leitor visualize as cenas descritas, sinta as emoções dos personagens e compreenda a complexidade da temática abordada.

 

 

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

POESIA: CANÇÃO DO AMOR-PERFEITO - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poesia: Canção do Amor-Perfeito

            Cecília Meireles

O tempo seca a beleza.
Seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
Desunido para sempre
Como as areias nas águas.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDW71SUacoB5tkR8ux7asNCsfyDRr4OUAUepQzviDqH11PKXIyggaMT5zlPONbFxhbNYJBumpr_qx0MNVO4o5R8Fx3P0jX9VuI2LyX_0Ih5nClIt7D0L1lmaVZBIeQ7OOdr3YNPd5J6yE4-TVsCpCwjcm68IKwV9h9oCvN5w-NsgmeS6f3uPFwmur4JYY/s320/palavras.jpg


O tempo seca a saudade,
Seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
Vagando seco e vazio
Como estas conchas das praias.

O tempo seca o desejo
E suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco,
Vestígio do musgo humano,
Na densa turfa mortuária.

Esperarei pelo tempo
Com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque,
Não na terra, Amor-Perfeito,
Num tempo depois das almas.


MEIRELES, Cecília. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 186.

Entendendo a poesia:

01 – Qual a principal temática abordada no poema?

      A principal temática do poema é a efemeridade da vida e a ação irreversível do tempo. Meireles explora a ideia de que o tempo desgasta os sentimentos, as relações e as lembranças, deixando para trás apenas vestígios e memórias esquecidas.

02 – Qual a função da metáfora do tempo "secando" tudo?

      A metáfora do tempo "secando" tudo representa a passagem do tempo como um processo de desidratação, de perda da vitalidade e da intensidade. A água, símbolo da vida e da emoção, é gradativamente evaporada pelo tempo, deixando para trás apenas a aridez e a solidão.

03 – Que sentimentos o poema evoca no leitor?

      O poema evoca uma sensação de melancolia e saudade. A imagem da beleza e do amor sendo desgastados pelo tempo desperta um sentimento de perda e de nostalgia. Ao mesmo tempo, a espera paciente pelo tempo "depois das almas" sugere uma esperança de que algo possa perdurar além da morte.

04 – Qual a relação entre o título "Canção do Amor-Perfeito" e o conteúdo do poema?

      O título "Canção do Amor-Perfeito" cria uma ironia com o conteúdo do poema. O amor-perfeito é uma flor delicada e bela, que representa a perfeição e a eternidade. No entanto, o poema demonstra que mesmo o amor mais perfeito está sujeito à ação do tempo e à inevitabilidade da mudança.

05 – Como a natureza é utilizada como metáfora no poema?

      A natureza é utilizada como metáfora para representar os ciclos da vida e a ação do tempo. As "areias nas águas", as "conchas das praias" e a "turfa mortuária" são imagens que evocam a passagem do tempo e a transformação constante da natureza. A espera pelo tempo "depois das almas" sugere uma transcendência da experiência terrena, semelhante à transformação de um ser vivo em parte da natureza.

 

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

POEMA: VALSA - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poema: Valsa

             Cecília Meireles

Fez tanto luar que eu pensei em teus olhos antigos
e nas tuas antigas palavras.
O vento trouxe de longe tantos lugares em que estivemos
que tornei a viver contigo enquanto o vento passava.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLJngzIyPbxDHd9sg9nvkpSAMmlTs5OcLprWwD3pZj7-raY2ZDK5JgWiNPPeDceBgnqIIBipDL8RcipmEsBaU_2q07ssNZPQebWUwJN1TMD-ljfMpU0INR-mvL2WFEWTeawVe4YZbok87l0qU98Nv-3iGiCeobxAfZxMiMIlygvyH5lZGIJMwSoI7Ib5Q/s320/LUAR%20COM%20VENTO.jpg


Houve uma noite que cintilou sobre o teu rosto
e modelou tua voz entre as algas.
Eu moro, desde então, nas pedras frias que o céu protege
e estudo apenas o ar e as águas.

Coitado de quem pôs sua esperança
nas praias fora do mundo...
-- Os ares fogem, viram-se as água,
mesmo as pedras, com o tempo, mudam.

Cecília Meireles. Valsa. In: Obra poética. Rio de Janeiro, Aguilar, 1958. p. 52.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 217.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal sensação evocada pelo poema?

      A principal sensação evocada é a nostalgia. A poeta relembra momentos passados com um amado, evocando imagens da natureza e da memória para reconstruir esse passado.

02 – Que elementos da natureza são utilizados para representar a memória e o tempo?

      A lua, o vento, as águas e as pedras são os principais elementos naturais utilizados para simbolizar a memória e o tempo. A lua ilumina as lembranças, o vento traz de volta lugares e momentos, as águas representam a fluidez do tempo e as pedras simbolizam a permanência e a transformação.

03 – Qual o significado da expressão "pedras frias que o céu protege"?

      As "pedras frias que o céu protege" podem ser interpretadas como um refúgio solitário, um lugar onde a poeta se isola para refletir sobre o passado e o presente. As pedras representam a solidão e a imutabilidade, enquanto o céu simboliza a proteção e a transcendência.

04 – Qual a mensagem principal do poema?

      A mensagem principal do poema é a efemeridade das coisas e a importância de valorizar os momentos presentes. A poeta nos alerta que as memórias, por mais intensas que sejam, podem se transformar com o tempo, e que a felicidade não está em buscar por lugares distantes, mas sim em apreciar a beleza do presente.

05 – Qual o papel da natureza na construção do poema?

      A natureza desempenha um papel fundamental na construção do poema, servindo como um cenário para as lembranças da poeta e como uma metáfora para os sentimentos e as emoções humanas. Os elementos naturais são utilizados para criar uma atmosfera poética e para transmitir a ideia de que a natureza e o ser humano estão interligados.

 

 

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

POEMA: LEVEZA - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poema: Leveza

             Cecília Meireles

Leve é o pássaro:
e a sua sombra voante,
mais leve.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhD4uduF9fqZ5WwsIuCj_XF-tZr1YUnsZIJ4XzH8ysVEELb2L-SqexMveb5CuA4se4JUFinCmBqsIUp6Mf2PkByWfaIefz95NxUzsHx_kCAUgBA5smL4G9aaYUvk6hN2caL0c9mKBPjBEqJ-kb19CG2ME2U6sXUL1pNlWZkCBtnF4-w6SjHWRYnL6wAnEM/s320/PASSARO.jpg



E a cascata aérea
de sua garganta,
mais leve.

E o que se lembra, ouvindo-se
deslizar seu canto,
mais leve.

E o desejo rápido
desse antigo instante,
mais leve.

E a fuga invisível
do amargo passante,
mais leve.

Cecília Meireles.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 222.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal metáfora utilizada no poema para representar a leveza?

      A principal metáfora é o pássaro. Todas as comparações do poema giram em torno da leveza do pássaro, desde sua sombra até o canto e o desejo que ele evoca.

02 – Quais os elementos da natureza são utilizados para construir a imagem da leveza?

      Além do pássaro, a natureza está presente através da "cascata aérea" de seu canto e do "desejo rápido" que evoca. Esses elementos criam uma atmosfera de leveza e fluidez, contrastando com a densidade do mundo material.

03 – Qual o significado da expressão "a fuga invisível do amargo passante"?

      Essa expressão sugere que a leveza pode ser uma forma de escapar da dor e do sofrimento. O "amargo passante" representa as experiências negativas da vida, enquanto a leveza simboliza a possibilidade de transcendê-las.

04 – Qual a mensagem principal do poema?

      A mensagem principal do poema é a busca pela leveza como uma forma de libertação e de superação das dificuldades da vida. A leveza é apresentada como um estado ideal, um refúgio para a alma.

05 – Qual o papel da repetição da palavra "leve" no poema?

      A repetição da palavra "leve" enfatiza a ideia central do poema e cria um ritmo suave e cadenciado. A repetição reforça a sensação de leveza e fluidez, convidando o leitor a se conectar com essa experiência.

 

 

sábado, 21 de setembro de 2024

POEMA: MULHER AO ESPELHO - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poema: Mulher ao espelho

             Cecília Meireles

Hoje que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.

Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7bCx31dexQuSAmg2CCIaFjqLBfjCttwC21-BSMFfbMFVtCEEF-RfoJXRrmPMLyAXu4j20jMIfd5h8JEYjew99i-RrJVKIHeYNxDcGYATnSiTwZK9Kne_e4h7teblHC-7KwwaIHlUsCApKJ_tdlbcLd2RlvQRau7R__kecAbk9zzmhSLLrKvIm3N9RZ30/s1600/ESPELHO.jpg



Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?

Por fora, serei como queira
a moda, que me vai matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.

Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seu
se morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.

Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.

Cecília Meireles.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 1 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 131.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal temática abordada no poema?

      A principal temática é a construção da identidade feminina e a relação da mulher com a sociedade e consigo mesma. A poetisa explora a superficialidade da beleza, a pressão social e a busca por uma identidade autêntica em um mundo que impõe padrões.

02 – O que significa a afirmação "Quero apenas parecer bela, pois, seja qual for, estou morta"?

      Essa frase revela a angústia da mulher diante da inevitabilidade da morte e a busca por uma beleza efêmera como forma de negar a finitude. A beleza se torna uma máscara para esconder a angústia existencial.

03 – Qual a importância da enumeração de diferentes nomes femininos no poema?

      A enumeração de nomes como Margarida, Beatriz, Maria e Madalena representa a multiplicidade de papéis que a mulher assume ao longo da vida. Ao mesmo tempo, revela a impossibilidade de se encaixar em um único modelo feminino, evidenciando a busca por uma identidade própria.

04 – O que simboliza a "tinta" mencionada no poema?

      A "tinta" simboliza a artificialidade, a futilidade e a superficialidade da vida. Tudo, desde a beleza física até os sentimentos, parece ser uma construção social e não algo autêntico.

05 – Qual a relação entre a beleza e a morte no poema?

      A beleza é apresentada como algo efêmero e ligado à morte. A busca incessante por um padrão de beleza imposto pela sociedade leva a mulher a negar sua própria identidade e a se conformar com um papel pré-determinado.

06 – Qual o significado da última estrofe?

      A última estrofe sugere que a busca pela beleza pode levar à alienação e à perda da própria identidade. A mulher que se perde na busca pela perfeição acaba se distanciando de si mesma e de Deus.

07 – Qual a mensagem central do poema?

      A mensagem central é uma crítica à sociedade que impõe padrões de beleza e à superficialidade da cultura. O poema convida à reflexão sobre a importância de construir uma identidade autêntica e a superar a necessidade de se conformar com os padrões estabelecidos.

 

 

quinta-feira, 2 de maio de 2024

POEMA: CANÇÃO - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

Poema: Canção

              Cecília Meireles

 De borco

no barco

(De bruços

No berço...)

 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBhct63ckiVJO8LF-WfHV_KQoowQi4nC1z9BvjMUtymw2zWb0mID_NSLzcY2hyphenhyphenl0frQ4zXQd3hKyyAl0t00c7PVMrOm1daJTbD5_7Qvnir_ZSVJHHhUpqusem3OVT9b88EkN_gyylyFIm4GYJ4hh5VIstRX4Y4fP8flNRLkbR2HjP-g28KcrtvRkri5ik/s1600/BARCO.jpg 

O braço é o barco

O barco é o berço.

Abarco e abraço

o berço

e o barco.

Com desembaraço

embarco

e desembarco.

 

De borco

no berço...

(De bruços

no barco...)

                       Ou isto ou aquilo, Cecília Meireles

Fonte: Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – Marilda Prates – 5ª série - 1º ed. – São Paulo: Moderna ,1998, p. 10.

 Entendendo o texto

01. Quais as palavras usadas na repetição dos sons no poema?

Borco e barco, bruços e berço, braço e abraço, barco e abarco e embaraço e desembarco.

02. A repetição dos sons e a comparação das palavras acabam formando uma imagem de cantiga de ninar. Você sabe por quê?

O balanço do barco e o balanço do berço que os braços abraçam formam um balanço, um ritmo, uma canção, um movimento.

03. Compare a 1ª e a 3ª estrofes. O que há de diferente nelas?

Trocaram-se as palavras, continuando o mesmo sentido. O ato de estar de bruços sobre o berço, embalando-o, lembra o barco em movimento.

 04. Qual é o significado do uso repetitivo das palavras "barco" e "berço" neste poema de Cecília Meireles?

      No poema "Canção", as palavras "barco" e "berço" são usadas como metáforas que simbolizam diferentes aspectos da vida e da existência. O "barco" pode representar a jornada da vida, enquanto o "berço" pode simbolizar o início ou origem da vida, refletindo sobre as experiências humanas desde o nascimento até a jornada ao longo da vida.

05. Como o poema explora a ideia de movimento e transição entre o "berço" e o "barco"?

O poema "Canção" de Cecília Meireles utiliza repetições e jogos de palavras para criar um ritmo que evoca a ideia de movimento e transição entre diferentes fases da vida. O "berço" e o "barco" são entrelaçados, sugerindo um ciclo contínuo de embarque e desembarque, representando a jornada humana de crescimento, descoberta e mudança.

06. Como o poema sugere a interconexão entre o indivíduo e o mundo exterior?

Ao usar a linguagem visual e sonora para associar o "braço" ao "barco" e ao "berço", Cecília Meireles destaca a ligação íntima entre o eu individual e o ambiente circundante. O "abraço" e o "abarcamento" simbolizam a unidade entre o indivíduo e o mundo exterior, enfatizando a importância da relação entre o ser humano e seu contexto físico e emocional.

 

  

sábado, 27 de janeiro de 2024

CRÔNICA: CASAS AMÁVEIS - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Crônica: Casas amáveis

                   Cecília Meireles

    VOCÊS ME DIRÃO QUE AS casas antigas têm ratos, goteiras, portas e janelas empenadas, trincos que não correm, encanamentos que não funcionam. Mas não acontece o mesmo com tantos apartamentos novinhos em folha?

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkdVnFqdRk8na30pl3wv5v8n50A0GZUU34jixb8EgTfp80WCWgt2PjVXSwLksnyfH2jGq9jIuY34L6Xd60bpS0fCmhz1sdev7BimEQ-NsA5WJv2hjU9TzDH4TnSjWynK-gE0Fu5cQ1kQZE2AXBPvMPl83DN2nQMeUV6EAnaJ2G0FiCb8AsOk3Ghky5fFg/s320/casa_bh.jpg


    Agora, o que nenhum arranha-céu poderá ter, e as casas antigas tinham, é esse ar humano, esse modo comunicativo, essa expressão de gentileza que enchiam de mensagens amáveis as ruas de outrora.
    Havia o feitio da casa: os chalés, com aquelas rendas de madeira pelo telhado, pelas varandas, eram uma festa, uma alegria, um vestido de noiva, uma árvore de Natal.
    As casas de platibanda expunham todos os seus disparates felizes: jarros e compoteiras lá no alto, moças recostadas em brasões, pássaros de asas abertas, painéis com datas e monogramas em relevos de ouro. Tudo isso queria dizer alguma coisa: as fachadas esforçavam-se por falar. E ouvia-se a sua linguagem com enternecimento. Mas, hoje, quem se detém a olhar para rosas esculpidas, acentos, estrelas, cupidos, esfinges, cariátides? Eram recordações mediterrâneas, orientais: mitologia, paganismo, saudade. (Que quer dizer saudade? E para que e o que recordar?)
    Os jardins tinham suas deusas, seus anões; possuíam mesmo bosques, onde morariam ecos e oráculos; e pequenas cascatas, pequenas grutas com um pouco d'água para os peixinhos. Possuíam canteiros de flores obscuras - violetas, amores-perfeitos - para serem vistas só de perto, carinhosamente, uma por uma, de cor em cor. (Hoje, estes ventos grandiosos apagam tudo.)
E, lá dentro, as casas tinham corredores crepusculares, porões úmidos, habitados por certos fantasmas domésticos, que de vez em quando se faziam lembrar, com seus pálidos sopros, seus transparentes calcanhares, suas algemas de escravidão.
    As famílias abrigavam cortejos de mortos.
E havia as clarab
oias. Luz como aquela? Nem a do luar! - uma suavidade de cinza e marfim, a maciez da seda, o fulgor da opala. As casas eram o retrato de seus proprietários. Sabia-se logo de suas virtudes e defeitos. Retratos expostos ao público: nem sempre simpáticos, mas geralmente fiéis.
    Agora, os andaimes sobem, para os arranha-céus vitoriosos, frios e monótonos, tão seguros de sua utilidade que não podem suspeitar da sua ausência de gentileza.
    Qualquer dia, também desaparecerão essas últimas casas coloridas que exibem a todos os passantes suas ingênuas alegrias íntimas - flores de papel, abajures encarnados, colchas de franjas - e sujas risonhas proprietárias têm sempre um Y no nome, Yara, Nancy, Jeny... Ah! Não veremos mais essas palavras, em diagonal, por cima das janelas, de cortininhas arregaçadas, com um gatinho dormindo no peitoril.
Afinal, tudo serão arranha-céus. (Ninguém mais quer ser como é: todos querem ser como os outros são.)
    E eis que as ruas ficarão profundamente tristes, sem a graça, o encanto, a surpresa das casas que vão sendo derrubadas. Casas suntuosas ou modestas, mas expressivas, comunicantes. Casas amáveis.

Entendendo o texto

01. Qual é o tema central abordado na crônica "Casas amáveis" de Cecília Meireles?

a) As goteiras em casas antigas.
b) A arquitetura de casas antigas.
c) A falta de comunicação em arranha-céus.
d) A gentileza e comunicação das casas antigas.

   02. Quem é o narrador da crônica "Casas amáveis"?

        a) Um arquiteto.
        b) Um observador externo.
        c) A própria Cecília Meireles.
        d) Um morador de arranha-céu.

   03. Segundo a crônica, o que as casas antigas têm que os arranha-céus não podem ter?

       a) Goteiras.
       b) Ar humano e gentileza.
       c) Portas e janelas empenadas.
       d) Corredores crepusculares.

   04. O que as fachadas das casas antigas tentavam fazer?

       a) Falar com enternecimento.
       b) Manter a privacidade dos moradores.
       c) Esconder suas imperfeições.
       d) Impressionar com a modernidade.

     05. Quais elementos decorativos eram comuns nas casas antigas mencionadas na crônica?

         a) Gatos e cachorros.
         b) Rosas esculpidas, estrelas, e cupidos.
         c) Pássaros de asas abertas.
         d) Árvores de Natal.

   06. O que os jardins das casas antigas possuíam?

         a) Chafarizes e esculturas.
         b) Deuses e deusas.
         c) Paredes de pedra.
         d) Piscinas.

   07.  Segundo a crônica, qual é a característica das casas que as torna um retrato de seus proprietários?

         a) As goteiras.
         b) As fachadas decoradas.
         c) As claraboias.
         d) Os corredores crepusculares.

  08. O que a crônica menciona sobre os arranha-céus em comparação com as casas antigas?

         a) São mais seguros.
         b) São mais coloridos.
         c) São mais frios e monótonos.
         d) São mais expressivos.

  09. Como as casas coloridas mencionadas na crônica expressam suas alegrias íntimas?

         a) Flores de papel e abajures encarnados.
         b) Piscinas e jardins.
         c) Claraboias e corredores crepusculares.
         d) Fachadas decoradas com datas e monogramas.

 10. Qual é a previsão da autora para o futuro das ruas mencionadas na crônica?

         a) Ficarão profundamente tristes sem as casas antigas.
         b) Serão mais movimentadas com os arranha-céus.
         c) Manterão sua graça e encanto.
         d) Terão mais casas coloridas.

 

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

POEMA: LEMBRANÇA RURAL - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 POEMA: LEMBRANÇA RURAL

               Cecília Meireles

Chão verde e mole. Cheiros de selva. Babas de lodo.
A encosta barrenta aceita o frio, toda nua.
Carros de bois, falas ao vento, braços, foices.
Os passarinhos bebem do céu pingos de chuva.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjA9sZkl9l_Cf_g5LpIXjvUh27lhYH05pLZHimmZTq3qrIcMU8y-Noh5VVvCI05qs-hneQguUZUtj_r7ENnmFNFNdw_U8fc-JHvV_6FY5ToNQqoww_ctw_iPHOXyCVuhT6oUK1rAZVhQUa9HLPWv_rxFfnNb2aahWwNAdR425Zt3jnTHpjzpWcwIp4QIiw/s320/PAISAGEM-CAMPESTRE.jpg



Casebres caindo, na erma tarde; Nem existem
na história do mundo. Sentam-se à porta as mães descalças.
É tão profundo, o campo, que ninguém chega a ver que é triste.
A roupa da noite esconde tudo, quando passa...

Flores molhadas. Última abelha. Nuvens gordas.
Vestidos vermelhos, muito longe, dançam nas cercas.
Cigarra escondida, ensaiando na sombra rumores de bronze.
Debaixo da ponte, a água suspira, presa...

Vontade de ficar neste sossego toda a vida:
bom para ver de frente os olhos turvos das palavras,
para andar à toa, falando sozinha,
enquanto as formigas caminham nas árvores...

Cecília Meireles. Fonte: http://vita-gotasdepoesia.blogspot.com/2010/12/lembranca-rural.html

Entendendo o texto

01. Como o poema descreve o chão na primeira estrofe?

a) Seco e rachado.

b) Verde e mole.

c) Pedregoso e duro.

d) Arenoso e quente.

    02. O que aceita o frio na encosta barrenta?

         a) Árvores altas.

         b) Crianças brincando.

         c) Plantas rasteiras.

         d) Toda nudez.

    03.Quem se senta à porta dos casebres na erma tarde?

a) Agricultores.

b) Crianças.

c) Mães descalças.

d) Pássaros.

   04. Como o poema caracteriza o campo em relação à sua tristeza?

         a) Aberto e alegre.

         b) Profundo e triste, mas escondido pela noite.

         c) Vasto e solitário.

         d) Colorido e vibrante.

  05. O que as nuvens gordas fazem no poema?

        a) Chovem pingos de chuva.

        b) Dançam nas cercas.

        c) Encobrem o céu.

        d) Protegem os casebres.

  06. Quem está escondida, ensaiando rumores de bronze na sombra?

        a) Uma abelha.

        b) Uma cigarra.

        c) Uma criança.

        d) Uma mãe.

 07. O que a água faz debaixo da ponte no poema?

       a) Flui livremente.

       b) Suspira, presa.

       c) Enrosca-se em raízes.

       d) Desce em cachoeira.

08. Qual é a vontade expressa no último verso do poema?

         a) Voltar para casa.

         b) Mudar-se para a cidade.

         c) Ficar no sossego rural toda a vida.

         d) Explorar novos horizontes

 09. O que é bom para ver de frente, segundo o poema?

         a) O sol se pondo.

         b) Os olhos turvos das palavras.

         c) O movimento das nuvens.

         d) Os passarinhos bebendo do céu.

10. O que fazem as formigas nas árvores, de acordo com o poema?

         a) Constroem ninhos.

         b) Caçam insetos.

         c) Caminham.

         d) Voam.

 11. Vamos  a análise dos trechos grifados no poema "Lembrança Rural" de Cecília Meireles:

         a.   "Chão verde e mole."

          Figura de Linguagem: Metáfora

          Explicação: A expressão "Chão verde e mole" compara o chão a algo verde e mole, usando uma metáfora para descrever suas características.

         b.   "Babas de lodo."

           Figura de Linguagem: Catacrese

           Explicação: O uso da palavra "babas" para descrever o lodo é uma catacrese, uma vez que "babas" normalmente se refere à saliva, mas é usada aqui para transmitir a viscosidade do lodo.

         c.   "A encosta barrenta aceita o frio, toda nua."

          Figura de Linguagem: Personificação

         Explicação: A personificação ocorre ao atribuir à encosta a capacidade de aceitar o frio e estar "toda nua", conferindo características humanas a um elemento não humano.

        d.   "Os passarinhos bebem do céu pingos de chuva."

          Figura de Linguagem: Prosopopeia (ou personificação)

          Explicação: A prosopopeia ou personificação acontece quando os passarinhos são personificados ao "beberem do céu pingos de chuva", atribuindo-lhes a ação de beber.

       e.   "É tão profundo, o campo, que ninguém chega a ver que é triste."

          Figura de Linguagem: Metáfora

          Explicação: A metáfora aqui compara a profundidade do campo à tristeza, sugerindo que a tristeza é tão profunda que nem é perceptível à primeira vista.

       f.     "A roupa da noite esconde tudo, quando passa..."

          Figura de Linguagem: Prosopopeia (ou personificação)

          Explicação: A personificação ocorre ao atribuir à noite a capacidade de "esconder tudo", como se a noite fosse uma entidade consciente.

       g.   "Cigarra escondida, ensaiando na sombra rumores de bronze."

          Figura de Linguagem: Personificação

     Explicação: A personificação é utilizada ao descrever a cigarra como "ensaiando na sombra rumores de bronze", atribuindo-lhe características humanas e artísticas.