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sábado, 10 de setembro de 2022

ROTEIRO: COMO FAZER UM FILME DE AMOR - JOSÉ ROBERTO TORERO E LUIZ MOURA - COM GABARITO

 Roteiro: Como fazer um filme de amor

        1. Abertura. Letreiros.  

        Entram letreiros com caracteres em branco e fundo negro. Ao fundo, ouve-se uma música esquisita. De repente a música é interrompida de forma brusca e o letreiro para. Entra a voz do Narrador em off:

        Narrador      

        Não, não... Nada disso! Esses letreiros são coisa de intelectual. Isso é um filme de amor! E o público precisa saber disso desde o começo. Para começar, vamos mudar esta música (entra outra música mais suave). Assim está melhor.

        E os letreiros têm que ser mais alegres (o letreiro muda, fica com cores alegres e as letras são maiores e coloridas). Isso! Melhorou. Mas ainda está faltando mais alguma coisa... Surgem desenhos decorativos com flores em torno dos caracteres.

        Narrador

        Pronto! Isso sim é uma abertura de filme de amor.

        [...]


        2. Rua. Exterior. Dia. Multidão transita em rua movimentada.

        Narrador

        Muito bem. Agora vamos começar com a história. A primeira coisa é escolher a personagem principal. Vai ser uma mulher, é claro.

        Afinal, as mulheres são 54% do público de cinema.

        Começamos a ver em destaque entre os passantes vários rostos de mulher.

        Surge uma mulher muito gorda. A câmera segue a garota por alguns instantes.

        Narrador

        Não, essa está meio gordinha.

        Aparece uma adolescente, com jeito de estudante, mascando chiclete.

        Narrador

        Hum... Muito nova.

        Nossa personagem tem que ter uma certa... história de vida.

        Aparece uma senhora do tipo perua, muito maquiada e pele visivelmente esticada por cirurgia plástica.

        Narrador

        Falei história de vida. Não história da civilização.

        [...]

        Uma mulher de uns 29 anos, bonita porém discreta, corta, de repente, à frente da perua, andando com rapidez.

        Narrador

        É essa!

        Passamos a acompanhar a mulher em seu trajeto. Ela entra num banco de modo atabalhoado.

        3. Agência bancária. Int. Dia.

        Cena 1: Entrada do banco.

        Narrador

        Essa moça é a ideal. Bela, mas nem tanto. Jovem, mas nem tanto...

        Segura de si... Ao passar por uma porta giratória, ela se atrapalha.

        [...]

        Narrador

        ... Mas nem tanto.

        Finalmente ela consegue entrar no banco.

        Cena 2: Fila de banco.

        Narrador

        Mas ela não pode ser só bonita, tem que ter um bom coração.

        Ela está de pé na fila. O caixa chama o próximo. Ela então cede a vez a uma mulher de idade, que agradece. Então ela olha para trás e percebe que a fila, comprida, está totalmente tomada por senhoras de idade. Ela vai dando passagem às velhinhas.

        Cena 3: Caixa do banco.

        Após a última velhinha, Laura, última da fila, finalmente consegue chegar ao caixa.

        Caixa

        Bom dia, dona... Como é mesmo o seu nome?

        Laura abre a boca para falar, mas antes que diga qualquer coisa, sua imagem congela.

        Narrador

        Essa é uma boa pergunta. Como a nossa heroína vai se chamar?

        Mulher

        Urraca.

        A imagem congela. A trilha sonora para.

        Narrador

        Não! Urraca não é um nome muito romântico!

        Mulher

        Emengarda, Robervalda, Genefrósia, Sigmunda, Astrogilda, Laura...

        A cada nome ouvimos o Narrador falar “Não”.

        Depois de “Laura”, a imagem congela.

        Narrador

        Para. É isso! Laura... É um nome bonito e simples.

        A imagem volta a mover-se.

        Mulher

        Meu nome é Laura.

                                                                                                                 TORERO, José Roberto; MOURA, Luiz. Como fazer um filme de amor: roteiro. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; Cultura – Fundação Padre Anchieta, 2004. p. 9-14. (Coleção Aplauso). Disponível em: http://aplauso.imprensaoficial.com.br/edicoes/12.0.812.978/12.0.8122.978.pdf.  Acesso em: 1º dez. 2015.

      Fonte: Língua Portuguesa – Se liga na língua – Literatura, Produção de texto, Linguagem – 2 Ensino Médio – 1ª edição – São Paulo, 2016 – Moderna – p. 187-191.

Entendendo o roteiro:

01 – Releia o trecho inicial:

        “1. Abertura. Letreiros.

        Entram letreiros com caracteres em branco e fundo negro. Ao fundo, ouve-se uma música esquisita. De repente a música é interrompida de forma brusca e o letreiro para. Entra a voz do Narrador em off:

        Narrador

        Não, não... Nada disso! Esses letreiros são coisa de intelectual. Isso é um filme de amor! E o público precisa saber disso desde o começo. Para começar, vamos mudar esta música (entra outra música mais suave).

        Assim está melhor.

        E os letreiros têm que ser mais alegres (o letreiro muda, fica com cores alegres e as letras são maiores e coloridas). Isso! Melhorou. Mas ainda está faltando mais alguma coisa...

        Surgem desenhos decorativos com flores em torno dos caracteres.

        Narrador 

        Pronto! Isso sim é uma abertura de filme de amor.”

a)   Que aspecto da abertura planejada para o filme surpreende o espectador? Por quê?

Espera-se que os alunos apontem a presença de um narrador, visto que as obras cinematográficas apresentam as cenas diretamente.

b)   A obra pretende tratar, comicamente, os clichês dos filmes de amor. De que modo esse tratamento se mostra já nessa sequência inicial?

A mudança dos letreiros e da música é feita para se adequar às expectativas de construção de um filme romântico.

c)   Ao dizer “Esses letreiros são coisa de intelectual. Isso é um filme de amor!”, que característica o narrador estaria associando ao termo “intelectual”? Por oposição, que característica ele atribui ao público do filme?

O narrador estaria associando o termo “intelectual” a “racional” ou “objetivo”, colocados em oposição a “sentimental” ou “emotivo”, que caracterizaria o público de filmes românticos.

02 – Que tipo de informação é oferecida pelo trecho “2. Rua. Exterior. Dia. Multidão transita em rua movimentada.”? Qual é a função dessa informação no roteiro?

        O trecho indica onde se passa a cena e em que momento do dia e orienta a futura encenação da história, marcando que deve ser filmada em ambiente externo e não em estúdio.

03 – Normalmente, o roteiro traz as informações que definem o perfil dos personagens. Nesse roteiro, esse aspecto torna-se um assunto a ser explorado. Como isso é feito?

      Mostra-se ao público o processo de escolha da protagonista.

04 – Releia um trecho do roteiro:

        Narrador

        Hum... Muito nova.

        Nossa personagem tem que ter uma certa... história de vida.

        Aparece uma senhora do tipo perua, muito maquiada e pele visivelmente esticada por cirurgia plástica.

        Narrador

        Falei história de vida. Não história da civilização.”

a)   Explique o comentário “Não história da civilização”.

O comentário sugere que a mulher tem muita idade.

b)   Qual foi o efeito buscado pelo narrador com esse comentário? Como o narrador construiu o comentário em vista desse efeito?

O narrador objetivou produzir humor, graça, e o fez contrastando “história de vida”, que alude a um tempo curto, e “história da civilização”, que indica o contrário.

c)   Sobre essa sequência, o roteirista José Roberto Torero deu a seguinte explicação:

“Algumas mulheres viram o copião do filme e acharam essa piada muito grosseira. Trocamos então por ‘Mas eu preciso de alguém na idade de casar, não de fazer bodas de ouro’, o que não chega a ser delicado, mas é um pouco mais suave.”

TORERO & MOURA, op. cit., p. 11-12.

        O que a troca da fala revela sobre a produção de um filme?

      A troca sugere que os produtores se preocupam com a recepção do filme, com a maneira como ele será entendido por seus espectadores.

05 – Observe no texto os trechos iniciados com os números “1”, “2” e “3” e com “cena 1” e “cena 2”. Com base neles, explique como se organiza a apresentação do roteiro.

      Os números indicam diferentes momentos da história, marcados por diferentes cenários. As cenas indicam subdivisões dentro de um mesmo cenário.