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segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

CONTO: PLANETAS HABITADOS - ANDRÉ CARNEIRO - COM GABARITO

 Conto: Planetas habitados

           André Carneiro

        — Olhe como são bonitas, milhares de estrelas...

        — E quase todas devem ser rodeadas de planetas como o nosso, habitados, provavelmente...

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXtXoYv3R9lvnC5dz6aZt6lX2dIUb5-4KRX4-_qbLr7g2S8qaiEMz27S_wkEnYB0bO8PX7ySyYktGHZm43dyBFnmTM052srO8vUqbdz55zTkRJMCkg76po3sovDDeYdCS7ocUhkglqKbmg-STsbv5wOzmQov6E9kkzzKmiKSfw-MBW_LJ3zCZ_TEN3lIg/s1600/ESTRELAS.jpg


        — Custa-me acreditar...

        — Os cientistas dizem que há milhões, talvez trilhões de planetas, só nas galáxias mais próximas. A vida existiria como aqui.

        — Devo ter pouca imaginação. Acho difícil visualizar planetas habitados, com seres iguais a nós, vivendo como nós.

        — Por que “iguais e vivendo como nós”? É pretensão injustificável deduzir que só animais semelhantes tenham desenvolvidos inteligência. E os objetos de forma arredondada, vistos em nossa órbita? Muita gente os vê a olho nu.

        — Não seriam pessoas sugestionáveis ou com defeitos na vista? Li num artigo: essas aparições são fenômenos naturais pouco estudados, ou máquinas voadoras feitas aqui mesmo, em experiências secretas.

        — Talvez, em parte. Mas já há uma boa documentação e não vejo motivo de espanto em supor que outros planetas do nosso sistema sejam habitados.

        — Mas os seres que comandam ou pilotam essas naves espaciais, por que não pousam e entram em contato?

        — Não passa de orgulho gratuito pensar que habitantes de outros planetas estejam interessados em dialogar conosco. Esses engenhos talvez sejam minúsculos, comandados a distância. Estarão apenas nos estudando com seus aparelhos? E é bem possível que eles sejam tão diferentes de nós que não haja uma possibilidade de entendimento imediato.

        — Falariam línguas impossíveis de se aprender? Quem sabe emitam ruídos, ou comuniquem-se por gestos...

        — Nossos cientistas acabariam descobrindo a chave. Ou eles, mais inteligentes, nos ajudariam a compreendê-la.

        — Aquela estrela brilhante não é um planeta?

        — É. Ali há condições para a vida. Talvez primitiva e diversa da nossa, pois sua temperatura é extraordinariamente alta.

        — Escrevem muitas histórias sobre aquele planeta. Costumam inventar seus habitantes como sendo monstros destruidores, interessados em conquistar a galáxia...

        — Histórias e hipóteses... Quem sabe eles têm mesmo duas antenas na cabeça, um olho atrás, outro na frente, quatro braços e seis patas.

        — Seria engraçado se fosse assim.

        — Por quê?

        — Pior se tivessem dois braços, um par de olhos em cima do nariz...

        — Seu conceito de beleza é muito exclusivista.

        — Gente normal como nós poderia se entender com monstros pavorosos?

        — Fique tranquilo. É provável que eles só existam nas histórias. E descobriram que lá a atmosfera é oxigênio puro. De mais a mais, o terceiro planeta possui só um terço de matéria sólida. O resto é uma substância líquida onde a vida é improvável.

        — Esta conversa me abala os nervos. Imaginar monstros pernaltas, com dois olhos na frente. Toque aqui a antena.

        — Adeus. Não pense mais no assunto. E saia com cuidado para não incomodar as crianças. Seis patas fazem muito barulho...

Fonte: André Carneiro. Planetas Habitados. CARNEIRO, André et. Al. Histórias de ficção científica. São Paulo: Ática, 2005. p. 27-30. (Adaptado).

Fonte: Coleção Rotas. Língua Portuguesa. Ensino fundamental. Anos finais. 8º ano/Sandra Moura Severino (org.) – Brasília: Caderno de atividades – Editora Edebê Brasil, 2020. p. 45-46.

Entendendo o conto:

01 – Qual é a crença inicial de um dos personagens em relação à vida em outros planetas, e o que o outro personagem usa para argumentar contra essa crença?

      Um dos personagens expressa dificuldade em acreditar e visualizar planetas habitados por seres "iguais a nós, vivendo como nós". O outro personagem argumenta que essa é uma "pretensão injustificável" e que não se deve deduzir que apenas animais semelhantes aos humanos tenham desenvolvido inteligência.

02 – Que fenômeno incomum é mencionado no conto como possível evidência de vida extraterrestre, e quais são as explicações alternativas dadas por um dos personagens?

      O fenômeno mencionado são objetos de forma arredondada, vistos em nossa órbita. As explicações alternativas citadas por um dos personagens incluem: Pessoas sugestionáveis ou com defeitos na vista. Fenômenos naturais pouco estudados. Máquinas voadoras feitas na Terra (em experiências secretas).

03 – Por que, na visão de um dos personagens, os seres que pilotam as naves espaciais (OVNIs) não pousam e entram em contato com os humanos?

      O personagem sugere que é um "orgulho gratuito" pensar que habitantes de outros planetas estariam interessados em dialogar conosco. Ele levanta a hipótese de que: Os engenhos sejam minúsculos e comandados a distância, apenas nos estudando. Os seres sejam tão diferentes dos humanos que não haja possibilidade de entendimento imediato.

04 – Como os personagens descrevem a possível aparência e forma de comunicação dos habitantes de outros planetas?

      As aparências são descritas de forma especulativa e até irônica, mencionando "duas antenas na cabeça, um olho atrás, outro na frente, quatro braços e seis patas". A comunicação é sugerida como sendo feita por "línguas impossíveis de se aprender", "ruídos" ou "gestos".

05 – Qual é o conceito de beleza questionado no diálogo e qual a analogia final usada para ilustrar essa exclusividade?

      O conceito de beleza exclusivista de um dos personagens é questionado. O personagem que critica essa exclusividade inverte a situação, sugerindo que seria "pior" se os seres tivessem "dois braços, um par de olhos em cima do nariz" – ou seja, fossem semelhantes aos humanos, o que seria considerado "normal" por um dos interlocutores, mas não necessariamente por todos.

06 – Que informação científica é dada no conto sobre o terceiro planeta (que é o objeto da conversa, provavelmente Marte ou Vênus em uma especulação antiga) que tornaria a vida improvável lá?

      A informação é que a atmosfera desse terceiro planeta é oxigênio puro, mas que o planeta "possui só um terço de matéria sólida", e o resto é uma substância líquida onde a vida é improvável.

07 – Qual é a revelação surpreendente (e cômica) do conto que muda o contexto de toda a conversa, sugerindo a identidade oculta do narrador ou de um dos interlocutores?

      A revelação ocorre na última fala, quando um personagem se despede e pede ao outro para sair com cuidado para não incomodar as crianças, pois "Seis patas fazem muito barulho...". Isso implica que o personagem que está saindo (ou o narrador) tem seis patas, confirmando a aparência "monstruosa" que eles estavam discutindo e indicando que ele é o próprio ser extraterrestre.

 

sábado, 29 de novembro de 2025

CONTO: PASSEIO - JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA - COM GABARITO

 Conto: Passeio

           João Anzanello Carrascoza

        Aconteceu que o pai, à mesa de jantar, disse de repente: Sábado vamos lá. A menina, mais rápida que o irmão, perguntou, Lá onde, pai?, e ele, Não posso falar, é surpresa, e o garoto, Fala, pai, aonde a gente vai?, e ele, já vendo a felicidade futura dos filhos, sorriu, enigmático, Sábado, à tarde!, e continuou a comer, como se nada tivesse acontecido – o mundo de sempre funcionando. Aquela era só a notícia, a hora de vivê-la seria adiante; a mãe, mesmo sem saber qual o plano do marido, disse, em seu auxílio, A semana passa depressa!, e, com efeito, já estavam em sua metade.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgm7mTCVDhlhxQStD9joZxFfmLQ5xgCtQmwzsUByvs4Num6YyM7Fb6IW-I2LeqdNddDMp7BfxrCyAov2-umnM3VX-aTRsdh6Vd-oNP3OjbzcCfmVPY_ImNe1Yo2aQXPjwJBHNCjz6qFSFaFuU4frUh_LC8BUM4rCoUMby2E6vY6aiFi4LP0F6F0oSh7N5k/s320/playcenter-4.jpeg


         Mas os filhos queriam tudo imediato da vida e ficaram atiçados, aquele “láˮ tinha sido vento em brasa, eles ardiam de curiosidade, o garoto mais, por ser menor; a menina, no seu canto, esperta, pensando, pensando, Vou descobrir! Fosse a praça, redonda, onde alugavam bicicleta e faziam piquenique; ou o parque, grande, de tanto verde, que não entrava de uma só vez em seus olhos; já estariam contentes. Mas lá, lá onde seria?

        Não podiam se conter, os dois estavam além dessa noite. E era hora de dormir. Como manter a calma com aquela alegria, ainda sem forma, lá na frente? Sonhavam sem sono em suas camas. Reviravam-se, igual, nas dobras do lençol e da imaginação.

        Sorriam no escuro, só sentindo essa dúvida boa, onde?, onde?. O pai era mesmo de revelar aos poucos, para que vissem tudo, devagar, na sua inteireza. O cansaço, contudo, pedia-lhes mais corpo. E ganhou. O garoto foi o primeiro a dormir: arquitetava desejos e fatos, mesclando-os quando, de súbito, já ressonava alto; a respiração forte, no sonho certamente ele corria, era a sede dos dias seguintes. A menina, em seguida: nos lábios, o som silente de umas palavras adivinhas: shopping, karaokê, Playcenter. O que seria? O passeio, misterioso! Mas como são grossas as camadas da certeza, a menina não podia penetrá-las e ficou só na sua superfície, inventando lugares menores, se comparados à realidade. Bocejou uma vez. Duas. Dormiu.

        E, de súbito, já era o dia seguinte.

        E depois a noite desse dia.

        E logo outro dia.

        E a sua noite correspondente.

        No meio dessas horas todas, entre sol e sono, os dois irmãos reouviam, na memória, o anúncio do pai, Sábado vamos lá, e experimentavam a mesma feliz aflição, de saber já o quê e o quando, mas não o onde ainda encoberto. E como o eco retornava, também se reesqueciam, tinham as suas urgências. Mas aí, de repente, relembravam. O garoto rodeava o pai, Aonde a gente vai?, a menina jogava verde com a mãe, Na quermesse?, insistiam, insistiam, e nada. Melhor era viver sem expectativas a chegada do sábado.

        E esperaram assim, sem perceber, cuidando do que era próprio de sua idade ‒ os deveres da escola, o direito às brincadeiras. E o sábado chegou.

        Dia claro, o sol abriu cedo a manhã. Ninguém se lembrava do passeio, mas o passeio estava lá nas suas profundezas. Bastava atirar a primeira palavra para acordá-lo, e foi o pai — só podia ser ele — quem o fez no café da manhã, dizendo: Vamos sair às três!

        E aí o sorriso de um canto a outro da mesa, a curiosidade vívida das crianças, o mistério, enfim, com a sua hora do parto marcada.

        Ainda havia uma chance de descobrir, e o garoto não a deixou passar, Posso levar skate? O pai, Melhor não. A resposta já reduzia as opções, não era campo, praça, parque. A menina perguntou, Posso levar um gibi? O pai, Lá você não vai querer ler, e completou, só se for no caminho. E antes que replicassem, ele completou, é meio longe, vamos de ônibus! A mãe observava os filhos, também ignorava qual o programa, e achou prudente perguntar, Preparo uns lanches?, ao que o marido respondeu, Não, não precisa, a gente come lá!

        O mistério prosseguia. O pai com o novelo da surpresa só para ele. Então, cada um foi gastar com alguma coisa a leveza de seu sábado: o garoto com o cachorro no quintal, a menina com seus CDs, a mãe com as providências para o almoço. Assim, o devagar das horas passou depressa enquanto eles ocupavam as mãos e, sobretudo, a mente.

        E pronto: já era o tempo de ir.

        A mãe queria tirar umas dúvidas: Com que roupa? O marido, à porta do quarto, Confortável, e ela, Vestido ou calça jeans?, e ele, Vestido, e ela, Bolsa grande ou pequena?, e ele, Pequena, e ela, com um fiozinho de impaciência, Mas, afinal, aonde vamos?, e ele, Mais uns minutos e você saberá.

        Deu a hora combinada.

        Lá foi a família. O pai à frente, rebocando a mulher e os filhos até o ponto de ônibus. Esperaram em pé, o orgulho no olhar. Passou um, passou outro. Era o terceiro. O pai viu, É aquele, e acenou, vamos, vamos! O ônibus encostou e abriu a porta: entraram, rápidos, e se sentaram ao fundo. A realidade junto, generosa naquele instante, passeio iniciado. Os dois irmãos continuavam sem saber onde era lá, mas já provavam uma alegria modesta. E trataram de engordá-la: uma freada do ônibus os atirou um sobre o outro, e eis que riram, gargalharam. A mãe de olho, Cuidado, segurem firme!, o pai feliz também, era isso o que desejava, os filhos daquele jeito, o bom da diversão era ela toda ‒ o caminho.

        Primeiro, da janela, viram o bairro de sempre, Olha, olha, o supermercado, a igreja, a escola: tudo há muito conhecido, embora fosse um ver novo, com o contentamento. Depois, o ônibus os levou pela primeira vez a umas ruas nervosas, edifícios velhos dos dois lados, até desembocar numa praça cercada de árvores. Aí foram dar numa avenida de tráfego veloz, depois passaram por uns bairros bonitos; parecia outra cidade: casarões imponentes, alamedas, jardins. E essa outra cidade os via dentro do ônibus, à espera do que vinha. O garoto provocava a menina para aumentar a graça da viagem; o pai e a mãe sorrindo-se e, de repente, de mãos dadas, o vento suave nos cabelos.

        Então, uma sombra enorme cobriu a avenida por onde o ônibus seguia e, depois de sumir, deixou-a como antes. Logo à frente, puderam ver no céu o que era — Nossa! —, um avião. Rasante, planava quase a tocar os prédios: o ventre bojudo de metal, as asas estalando ao sol, o som trovejando atrás feito um rabicho. Admiradas, as crianças esticaram os olhos para ver no seu rever o avião, imenso, sumindo sobre os edifícios, era lá o seu pouso. Até então tinham visto os aviões só pequenos, no muito alto do céu, entre nuvens, sem os detalhes de agora e — descobriam, naquele momento — que eram, em verdade, sempre grandes. Tão despropositada era essa visão, que cutucaram o pai e a mãe perguntando o óbvio, se também tinham visto, como se o avião fosse um passarinho e só o olhar atento, de criança, pudesse percebê-lo na paisagem.

        O ônibus fez urna curva, pegou urna rua lateral e eis um novo redemoinho de excitação: no horizonte, vindo da esquerda, outro avião sobrevoava baixinho os edifícios e seguia rugindo para a mesma direção. O pai disse, É no próximo ponto!, e se levantou com a mãe. Os filhos o imitaram com atraso, flertando ainda o avião em seus pormenores, o bico, as asas…

        Saltaram do ônibus no meio de uma longa avenida. Atravessaram-na por uma passarela e, já do outro lado, caminharam algum tempo. Antes que o pai dissesse, os irmãos já sabiam. Era lá, o pleno passeio. O coração deles estremecia, com os primeiros encantos… Dali, podiam avistar a entrada principal do aeroporto, a torre de controle, um trecho da pista onde um avião taxiava lentamente, sem que soubessem se era sua partida ou chegada. Também não importava: só queriam vê-lo, com os olhos da certeza, aquele era o instante, sem o antes e o depois, o imediato real ‒ o avião, sólido, movia-se, mais e mais, fora da neblina do sonho. A família, igualmente, seguia devagarinho pela calçada, rumo ao seu destino.

        O pai, no comando, conduziu-os à área de desembarque. Gente e mais gente afluía de várias direções, com bolsas a tiracolo, mochila às costas, malas sobre carrinhos. O frenesi excitava e entontecia. A mãe se pôs entre os filhos, dando-lhes as mãos para que não se perdessem entre as pessoas. Chegaram a uma porta de vidro, que se abriu, automaticamente. Entraram. O pai, Vamos, é lá em cima, e seguiu para a escada rolante, margeando os guichês das companhias aéreas.

        Subiram, a curiosidade acelerada. Um andar mais calmo, e também eles num novo estado, acima. Ali, o mirante. Uma aglomeração de pessoas em frente à imensa janela panorâmica. Todas para ver além do vão do seu dia. Os irmãos achataram o nariz no vidro, como se quisessem transpô-lo. Latejava nos dois a felicidade, e era muita: até incômoda. Assistiam àquele trecho do mundo, inteiros, que tudo o mais era de força menor. O quadro se fazia e se refazia, móvel: dezenas de jatos estacionados com as portas abertas; ao redor, um ir e vir de tratores e ônibus, o sol atrás dos prédios, e, tocando a pista, agora pousava um avião, Olha lá, olha lá! Chegava, enfim, a hora máxima.

CARRASCOZA, João Anzanello. Passeio. Aquela água toda. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2018. p. 66-74.

Fonte: Set Brasil. Ensino Fundamental, anos finais, 7º ano, livro 2. Thaís Ginícolo Cabral – São Paulo: Moderna, 2019. p. 13-15.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

-- Frenesi: atividade, agitação interna.

-- Playcenter: nome de um parque de diversão que funcionou na cidade de São Paulo, de 1973 a 2012.

-- Silente: silencioso.

02 – Qual é a surpresa que o pai anuncia à família à mesa de jantar?

      O pai anuncia que no sábado eles iriam "lá", um lugar misterioso que ele não revela para manter a surpresa e atiçar a curiosidade dos filhos.

03 – Por que o mistério sobre o lugar do passeio desperta tanta curiosidade e aflição nas crianças?

      O mistério causa uma "feliz aflição" nas crianças porque elas sabiam o quê (o passeio) e o quando (sábado à tarde), mas não o onde, o que as faz sonhar acordadas e tentar, sem sucesso, adivinhar o destino.

04 – Que lugares a menina chega a imaginar que poderiam ser o destino do passeio?

      A menina chega a cogitar que o passeio poderia ser no shopping, no karaokê ou no Playcenter.

05 – Quais foram as dicas dadas pelo pai que ajudaram as crianças e a mãe a reduzir as opções do destino, pouco antes de saírem?

      O pai deu as seguintes dicas: Não era bom levar skate (eliminando campo, praça, parque). Não seria um lugar onde se gostaria de ler (gibi), exceto no caminho. Era meio longe, e eles iriam de ônibus. Não precisava preparar lanches, pois eles comeriam lá.

06 – Qual é o meio de transporte utilizado pela família para ir ao local misterioso?

      A família se dirige ao local de destino de ônibus.

07 – Durante a viagem de ônibus, o que acontece que aumenta a alegria e a diversão das crianças?

      Uma freada do ônibus atirou os dois irmãos um sobre o outro, o que os fez rir e gargalhar, percebendo que "o bom da diversão era ela toda ‒ o caminho".

08 – O que a família vê pela primeira vez de uma forma grandiosa e detalhada, o que os leva a questionar os pais?

      Eles veem um avião em voo rasante, com "o ventre bojudo de metal, as asas estalando ao sol", o que os faz descobrir que os aviões eram, na verdade, sempre grandes e não apenas pequenos pontos no céu como viam antes.

09 – Ao saltarem do ônibus e caminharem pela passarela, as crianças conseguem, finalmente, identificar qual é o destino. Que lugar é esse?

      O destino do passeio é o aeroporto.

10 – Qual é a primeira coisa que as crianças veem no aeroporto que lhes traz o "imediato real"?

      Eles avistam a entrada principal do aeroporto, a torre de controle e "um trecho da pista onde um avião taxiava lentamente".

11 – Onde o pai conduz a família para que todos possam assistir plenamente ao movimento do aeroporto e de seus aviões?

      O pai os conduz ao mirante, no andar de cima, em frente à imensa janela panorâmica, onde podiam ver a pista, os jatos estacionados e o pouso de um avião.

 

 

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

CONTO: A MÁQUINA EXTRAVIADA - FRAGMENTO - JOSÉ J. VEIGA - COM GABARITO

 Conto: A Máquina Extraviada – Fragmento

          José J. Veiga

        Você sempre pergunta pelas novidades daqui deste sertão, e finalmente posso lhe contar uma importante. Fique o compadre sabendo que agora temos aqui uma máquina imponente, que está entusiasmando todo o mundo. Desde que ela chegou — não me lembro quando, não sou muito bom em lembrar datas — quase não temos falado em outra coisa; e da maneira que o povo aqui se apaixona até pelos assuntos mais infantis, é de admirar que ninguém tenha brigado ainda por causa dela, a não ser os políticos.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEir3w_cHaWZhQbSTVCG1zbc5a9s-S3Wf2Xo-OV6XY_50SkIdpFIR-rs7_OMzPzjUcz846gV5c3GDAp4D00clk1wRniSnB4kNMEwWPoTSwb93_hNVBCQSJBADUZcHsjAm4Nrh9FbYp_5OiKkf7S7GbseC1-s9mzyTpVGv3_ewiRZB1JgaL21QjTVYuNnmXs/s320/202101090902s-a_maquina_extraviada_jose_veiga-0.jpg

        A máquina chegou uma tarde, quando as famílias estavam jantando ou acabando de jantar, e foi descarregada na frente da Prefeitura. Com os gritos dos choferes e seus ajudantes (a máquina veio em dois ou três caminhões) muita gente cancelou a sobremesa ou o café e foi ver que algazarra era aquela. Como geralmente acontece nessas ocasiões, os homens estavam mal-humorados e não quiseram dar explicações, esbarravam propositalmente nos curiosos, pisavam-lhes os pés e não pediam desculpa, jogavam pontas de cordas sujas de graxa por cima deles, quem não quisesse se sujar ou se machucar que saísse do caminho.

        Descarregadas as várias partes da máquina, foram elas cobertas com encerados e os homens entraram num botequim do largo para comer e beber. [...] Atribuímos essa esquiva ao cansaço e à fome deles e deixamos as tentativas de aproximação para o dia seguinte; mas quando os procuramos de manhã cedo na pensão, soubemos que eles tinham montado mais ou menos a máquina durante a noite e viajado de madrugada.

        A máquina ficou ao relento, sem que ninguém soubesse quem a encomendou nem para que servia. E claro que cada qual dava o seu palpite, e cada palpite era tão bom quanto outro.

        [...]

VEIGA, José J. A máquina extraviada. In: BOSI, Alfredo (ORG.). O conto brasileiro contemporâneo. São Paulo: Cultrix, 1985.

Fonte: Da escola para o mundo. Roberta Hernandes; Ricardo Gonçalves Barreto. Ensino Fundamental – Anos finais. Projetos integradores 8º e 9º anos. Ed. Ática. São Paulo, 1ª edição, 2018. p. 14.

Entendendo o conto:

01 – Qual é o principal acontecimento relatado pelo narrador ao seu compadre no sertão?

      O principal acontecimento é a chegada de uma máquina imponente na localidade. O narrador enfatiza que a máquina entusiasmou "todo o mundo" e se tornou o assunto dominante, sendo novidade mais importante que ele tem para contar.

02 – Onde a máquina foi descarregada e em que momento do dia ela chegou?

      A máquina chegou em uma tarde, no momento em que as famílias estavam jantando ou acabando de jantar, e foi descarregada na frente da Prefeitura.

03 – Como foi a atitude dos choferes e ajudantes que trouxeram a máquina em relação aos curiosos da cidade?

      Os homens estavam mal-humorados e foram bastante rudes com os curiosos. Eles não quiseram dar explicações, esbarravam propositalmente, pisavam nos pés das pessoas sem pedir desculpa e jogavam cordas sujas de graxa, demonstrando impaciência e descaso.

04 – O que aconteceu com a máquina e com os homens que a trouxeram durante a noite e a madrugada?

      Durante a noite, os homens montaram mais ou menos a máquina (as várias partes que estavam sob encerados). Na madrugada, eles viajaram, deixando a máquina ao relento e sem que ninguém soubesse quem a encomendou ou para que servia.

05 – Qual é o mistério que envolve a máquina no final do fragmento e como a população reagiu a isso?

      O mistério é que a máquina foi deixada ao relento, sem que ninguém soubesse quem a encomendou nem qual era sua finalidade (para que servia). A população reagiu a isso dando palpites, sendo que, segundo o narrador, "cada palpite era tão bom quanto outro."

 

CONTO: LIVRO - EU TE LENDO - FRAGMENTO - LYGIA BOJUNGA NUNES - COM GABARITO

 Conto: LIVRO – eu te lendo – Fragmento

            Lygia Bojunga Nunes

        [...]

        Eu tinha sete anos quando ganhei de presente um livro do Monteiro Lobato chamado Reinações de Narizinho. Um livro grosso assim. Só de olhar pra ele eu me senti exausta. Dei um dos muito obrigada mais sem convicção da minha vida, sumi com o livro num canto do armário, e voltei pras minhas histórias em quadrinho.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb2AkXgTgfe7JNfr8ge9F5wx-AyOUuD5cUKp8CrXXym3Q7fTQpU3JfAwNyMyHa0K_elrAlfVdV_nKToyPOr55sVx_Y_0CGhoUeZLU-EpTW4Qfpw2JiG8Dk4tp-8oe_Oa0xIlH3t7rVLqRTpZUeMh9awa5shVWEIcqDpX0LlfoqB_A3iEUkW8mlmD6s08Q/s320/nARIZINHO.jpg


        Eu estava superfresquinha de recém ter aprendido a ler, e andava às voltas com história em quadrinho. Era um pessoal legal, eu gostava deles, mas, sei lá! era uma gente tão diferente da gente. Eles moravam nuns lugares que eu nunca tinha ouvido falar; eles tinham cada nome tão estranho (às vezes até acabando com h!), como é? como é mesmo que se diz esse Flash? Flachi? Flachi Gordon? E se eu contava, por exemplo, eu hoje li que o Mandrake perdeu a cartola, tinha sempre alguém por perto aprendendo inglês pra querer mostrar que sabia mais que eu: não é assim que se diz, sua boba, é Mandreike.

        [...]

        E aí o meu tio, que tinha me dado Reinações de Narizinho (e que era um tio que eu adorava), chegou lá em casa e quis saber, então? gostou do livro? Eu fiz uma cara meio vaga.

        Passados uns tempos ele me cobrou outra vez, como é? já leu? Não tinha outro jeito: tirei o livro do armário, tirei a poeira do livro, tirei a coragem não sei de onde, e comecei a ler: "Numa casinha branca, lá no sítio do Picapau Amarelo..." E quando cheguei no fim do livro eu comecei tudo de novo, numa casinha branca lá no sítio do Picapau Amarelo, e fui indo toda a vida outra vez, voltando atrás num capítulo, revisitando outro, lendo de trás pra frente, e aquela gente toda do sítio do Picapau Amarelo começou a virar a minha gente.

        Muito especialmente uma boneca de pano chamada Emília, que fazia e dizia tudo que vinha na cabeça dela. A Emília me deslumbrava! nossa, como é que ela teve coragem de dizer isso? ah, eu vou fazer isso também!

        Mas longe de imaginar que eu estava vivendo o meu primeiro caso de amor.

        [...]

        Esse acordar da imaginação começou a mudar tudo. De repente, já não me bastava cantar junto a música que tocava no rádio só repetindo as palavras e mais nada. Eu me lembro de uma música que eu cantava sempre, e que falava numa tal Maria abrindo a janela numa manhã de sol e laralalá não sei o quê, mas que, agora, eu cantava querendo imaginar a janela: era verde? tinha veneziana? E a Maria como é que era? ela era gorda, ela era magra, ela tinha uma franja assim feito eu?

        Na hora de pular amarelinha, a pedra que eu ia jogar já ficava no ar; a minha imaginação imaginando: e se em vez de jogar a pedra assim, eu jogo ela assim?

        Mas o que a minha imaginação queria mesmo era voltar pr’aquele mundo encantado que o Lobato tinha criado, e ficar imaginando o tamanho e a cor da pedrinha que a Emília tinha engolido (e que não era pedrinha coisa nenhuma, era uma pílula falante); e ficar imaginando que jeito eu ia dar pra me encontrar com a Dona Aranha costureira, que tinha feito o vestido de casamento da Narizinho, e pedir pra, na hora do meu casamento, ela fazer o meu vestido também.

        [...]

BOJUNGA, Lygia. Livro – eu te lendo. Disponível em: www.ibbycompostela2010.org/descarregas/cp/Cp_IBBY2010_3-po.pdf. Acesso em: 20 jul. 2018.

Fonte: Da escola para o mundo. Roberta Hernandes; Ricardo Gonçalves Barreto. Ensino Fundamental – Anos finais. Projetos integradores 8º e 9º anos. Ed. Ática. São Paulo, 1ª edição, 2018. p. 16.

Entendendo o conto:

01 – Qual foi a reação inicial da narradora ao ganhar o livro "Reinações de Narizinho" e por que ela teve essa reação?

      A reação inicial da narradora, aos sete anos, foi de falta de convicção e exaustão só de olhar para o livro, que era "grosso assim". Ela o considerou tão desanimador que o escondeu "num canto do armário" e preferiu continuar lendo suas histórias em quadrinho.

02 – O que a narradora achava diferente ou problemático nas histórias em quadrinhos que ela lia, mesmo gostando delas?

      Ela gostava dos personagens, mas sentia que eram "tão diferentes da gente". Eles moravam em lugares que ela nunca tinha ouvido falar e tinham nomes estranhos (muitas vezes terminando com H), como Flash Gordon (que ela tentava pronunciar como Flachi). Além disso, havia a interferência de outras pessoas que corrigiam a pronúncia dos nomes em inglês, como Mandrake (Mandreike).

03 – O que motivou a narradora a finalmente começar a ler o livro de Monteiro Lobato e como a leitura a impactou?

      Ela foi motivada pela cobrança insistente do seu tio (que ela adorava) que havia dado o livro. O impacto foi profundo: após terminar a leitura da primeira vez, ela começou tudo de novo, lendo e relendo trechos, o que fez com que "aquela gente toda do sítio do Picapau Amarelo começou a virar a minha gente."

04 – Qual personagem do Sítio do Picapau Amarelo deslumbrou a narradora e qual característica dessa personagem a inspirou?

      A personagem que a deslumbrou foi a boneca de pano Emília. A característica que a inspirou foi o fato de Emília fazer e dizer tudo que vinha na cabeça dela. A narradora se perguntava: "nossa, como é que ela teve coragem de dizer isso? ah, eu vou fazer isso também!".

05 – De que forma a leitura do livro de Monteiro Lobato "acordou" a imaginação da narradora e mudou sua percepção de outras atividades?

      O "acordar da imaginação" começou a mudar tudo. Em vez de apenas repetir palavras ao cantar músicas no rádio, ela passava a imaginar os detalhes da cena (ex: se a janela era verde, se Maria era gorda ou magra). Além disso, na hora de pular amarelinha, ela ficava imaginando possibilidades diferentes para o movimento da pedra, transportando a imaginação para o cotidiano.

 

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

CONTO: O KAZUKUTA - ONDJAKI - COM GABARITO

 Conto: O Kazukuta

         Ondjaki

        Nós estávamos sempre atentos à queda das nêsperas, das pitangas e das goiabas, e era mesmo por gritarmos ou por corrermos que o Kazukuta acordava assim no modo lento de vir nos espreitar, saía da casota dele a ver se alguma fruta ia sobrar para a fome dele.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6rO2lJvm7PSq7BbmvmNZWM324d35-ExcjSgzD2SYd8Tl2AkrXVRieqDlEGcHihFNUDEoMaWsxvPbRIh3FTNUlUpYJWqXfghZSxuBAfIAuwnhnQXqhCli-xKvvTt1eWFmybnzm5nmPqsKWC-3fbLABzd3ivaiZRfc3FmEtMTZ2tO2hItRAt-pqXR3Fnbw/s320/osdaminharua.jpg


        Normalmente ele comia as nêsperas meio cansadas ou de pele já escura que ninguém apanhava. Mexia-se sempre devagarinho, e bocejava, e era capaz de ir procurar um bocadinho de sol pra lhe acudir as feridas, ou então mesmo buscar regresso na casota dele. Às vezes, mesmo no meio das brincadeiras, meio distraído, e antes de me gritarem com força para eu não estar assim tipo estátua, eu pensava que, se calhar, o Kazukuta naquele olhar dele de ramelas e moscas, às vezes, ele podia estar a pensar. Mesmo se a vida dele era só estar ali na casota meio triste, sair e entrar, tomar banho de mangueira com água fraca, apanhar nêsperas podres e voltar a entrar na casota dele, talvez ele estivesse a pensar nas tristezas da vida dele.

        Acho que o Kazukuta era um cão triste porque é assim que me lembro dele. Nós mesmo não lhe ligávamos nenhuma. Ninguém brincava com ele, nem já os mais velhos lhe faziam só uma festinha de vez em quando. Mesmo nós só queríamos que ele saísse do caminho e não nos viesse lamber com a baba dele bem grossa de pingar devagarinho e as feridas quase a nunca sararem. Acho que o Kazukuta nunca apanhou nenhuma vacina, se calhar ele tinha alergia ou medo, não sei, devia perguntar no tio Joaquim. Também o Kazukuta não passeava na rua e cada vez andava só a dormir mais.

        Sim, o Kazukuta era um cão triste.

        Um dia era de tarde, e vi o tio Joaquim dar banho ao Kazukuta. Um banho longo. Fiquei espantado: o tio Joaquim que ficava até tarde a ler na sala, o tio Joaquim que nos puxava as orelhas, o tio Joaquim silencioso, como é que ele podia ficar meia hora a dar banho ao Kazukuta?

        Lembro o Kazukuta a adorar aquele banho, deve ser porque era um banho sincero, deve ser porque o tio punha devagarinho frases em kimbundu ao Kazukuta, e ele depois ia adormecer. Kazukuta..., lembro bem os teus olhos doces brilharem tipo um mar de sonho só porque o tio Joaquim – o tio Joaquim silencioso – veio te dar banho de mangueira e te falou palavras tranquilas num kimbundu assim com cheiros da infância dele.

        E demorou. Nós já estávamos quase a parar a nossa brincadeira. Porque afinal a água caía nos pelos do Kazukuta, e os pelos ficavam assim coladinhos ao corpo, e virados para baixo como se já fossem muito pesados, e a água foi, não tinha mais, e mesmo sem fechar a torneira o tio Joaquim, com a mangueira ainda a pingar as últimas gotas dela, e no regresso do Kazukuta à casota, depois daquele abano tipo chuvisco de nós rirmos, o Tio Joaquim deu a notícia que tinha demorado aquele tempo todo para falar:

        -- Meninos, a tia Maria morreu.

        Até tive medo, não daquela notícia assim muito séria, mas do que alguém perguntou:

        -- Mas podemos continuar a brincar só mais um bocadinho?

        O tio largou a mangueira, veio nos fazer festinhas.

        -- Sim, podem.

        Parece mesmo vi um sorriso pequenino na boca dele. O tio Joaquim era muito calado e sorria devagarinho como se nunca soubesse nada das horas e das pressas dos outros adultos. Às vezes ele aparecia no quintal sem fazer ruído e espreitava a nossa brincadeira sem corrigir nada. Olhava de longe como se fosse uma criança quieta com inveja de vir brincar conosco também.

        O tio Joaquim era muito calado e sorria devagarinho como se nunca soubesse nada das horas e das pressas dos outros adultos. O tio Joaquim gostava muito de dar banho ao Kazukuta. Um dia kazukuta estava muito velho e morreu mesmo.

ONDJAKI. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007. p. 27-29.

Fonte: Set Brasil. Ensino Fundamental, anos finais, 7º ano, livro 2. Thaís Ginícolo Cabral – São Paulo: Moderna, 2019. p. 35-36.

Entendendo o conto:

01 – Como o narrador infantil descreve a rotina e o estado geral do cão Kazukuta no início do conto?

      O narrador descreve Kazukuta como um cão triste, que se movia lentamente e passava a maior parte do tempo na sua casota. Sua rotina resumia-se a sair para espreitar a queda das frutas (comendo as "cansadas ou de pele já escura" que sobravam), procurar sol para suas feridas (que "quase a nunca saravam"), tomar banho de mangueira com água fraca e voltar para a casota. Ele era um cão negligenciado, a quem "ninguém brincava" e que não recebia afeto.

02 – O que o narrador, mesmo em meio às brincadeiras, chega a imaginar sobre o cão, desafiando a percepção de que Kazukuta era apenas um animal?

      O narrador imagina que, "naquele olhar dele de ramelas e moscas," o Kazukuta podia estar a pensar. Ele reflete que, mesmo que a vida do cão fosse só a rotina triste de sair e entrar na casota, "talvez ele estivesse a pensar nas tristezas da vida dele." Essa reflexão humaniza o cão, atribuindo-lhe uma consciência e uma dor existencial.

03 – Qual é a ação do Tio Joaquim que espanta o narrador, e o que essa ação revela sobre a relação do Tio com Kazukuta?

      O que espanta o narrador é o fato de o Tio Joaquim — um homem silencioso, leitor e que costumava puxar as orelhas das crianças — ter ficado meia hora a dar um banho longo e sincero no Kazukuta. Essa ação revela uma sensibilidade e um afeto ocultos do Tio, que se manifestavam não em palavras para os humanos, mas em carinho e cuidado para com o cão negligenciado.

04 – Durante o banho, que elemento cultural e afetivo o Tio Joaquim utiliza para se comunicar com Kazukuta, e qual é o efeito disso no cão?

      O Tio Joaquim falava "devagarinho frases em kimbundu" para o Kazukuta, com palavras tranquilas "com cheiros da infância dele." Esse uso da língua ancestral confere um caráter íntimo e profundo ao afeto. O efeito é notável: o Kazukuta demonstra que "adorava aquele banho," com seus "olhos doces brilharem tipo um mar de sonho."

05 – O banho demorado e a notícia que o Tio Joaquim revela ao final estão interligados. Qual é a função desse tempo de banho em relação à notícia?

      O banho longo serve como um preâmbulo ou um ritual de preparação para a notícia séria da morte da "tia Maria." O Tio Joaquim estava usando o tempo e o ato carinhoso de dar banho ao cão como uma forma de lidar com a própria dor e o luto, adiando o momento de dar a notícia às crianças, o que é explicitado na frase "tinha demorado aquele tempo todo para falar."

06 – Qual é a reação imediata das crianças à notícia da morte da tia Maria, e o que essa reação sugere sobre a percepção infantil da morte e do luto?

      A reação das crianças é uma pergunta inocente e centrada em si mesmas: "Mas podemos continuar a brincar só mais um bocadinho?" Essa reação sugere que a morte, para elas, é um evento sério, mas distante e abstrato, que não interrompe de imediato a prioridade do seu universo, que é a brincadeira e a alegria do momento presente.

07 – Como o narrador descreve o Tio Joaquim após o momento da notícia e até o final do excerto? O que essa descrição finaliza sobre o seu caráter?

      O narrador o descreve como um homem muito calado que sorria devagarinho, sem "pressas dos outros adultos." Ele é visto espreitando a brincadeira das crianças "sem corrigir nada," quase como uma "criança quieta com inveja de vir brincar." Essa descrição reforça o caráter do Tio como uma figura contemplativa, silenciosa e com uma ternura velada, que compreende a vida e o tempo de maneira diferente dos outros adultos

CONTO: O PARAÍSO SÃO OS OUTROS - FRAGMENTO - VALTER HUGO MÃE - COM GABARITO

 Conto: O PARAÍSO SÃO OS OUTROS – Fragmento

           Valter Hugo Mãe

        [...]

        Eu adoraria ver jacarés, ursos brancos ou cobras de dez metros. Uma vizinha da nossa rua tem uma vaidosa galinha d'Angola. Eu gosto de animais e mais ainda dos esquisitos e invulgares, até dos que parecem feios por serem indispostos. Os bichos só são feios se não entendermos seus padrões de beleza. Um pouco como as pessoas. Ser feio é complexo e pode ser apenas um problema de quem observa.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHWdTukLACHo4Yw4nz8VJuy-r_Y6tgsuJ_s8uf3V-WTvEKhUwBYu9iOesPk4_78Ddi5RrsrIPYJhC03Pw9_ZhbkA22Q2Ga2iwytny62AKxM7NExBz7Wl4-ohln6cr3ZXd_6J2ydqx76MOWoEVxqYu8UVjb81KEberbdKqohad9apmk5DLgRZchdYQ3wzI/s320/BELEZA.jpg


        Eu uso óculos desde os cinco anos de idade. Estou sempre por detrás de uma janela de vidro. Não faz mal, é porque eu inteira sou a minha casa. Sou como o caracol, mas muito mais alta e veloz. A minha mãe também acha assim, que o corpo é casa. Habitamos com maior ou menor juízo.

        O jacaré é um bicho indisposto, eu sei. Gosto muito dele, mas não devo chegar perto. Nunca vi, já disse. Tenho pena. Talvez seja pior para o jacaré, por não o amar. Eu gosto dele mas não sei se constrói. Estou a ser sincera. Ainda tenho que ler sobre isso. Talvez os bichos ferozes construam coisas às quais não sabemos dar valor. É importante pensarmos no valor que cada coisa ou lugar tem para cada bicho. Só assim vamos compreender a razão de cada coisa ser como é. Depois de entendermos melhor, a beleza comparece.

        [...].

MÃE, Valter H. O paraíso são os outros. Porto: Porto Editora, 2014. p. 13.

Fonte: Set Brasil. Ensino Fundamental, anos finais, 7º ano, livro 2. Thaís Ginícolo Cabral – São Paulo: Moderna, 2019. p. 52.

Entendendo o conto:

01 – Qual é a principal ideia que o narrador desenvolve sobre a beleza, tanto em relação aos animais quanto às pessoas?

      O narrador estabelece que a beleza é subjetiva e complexa, sendo primariamente um problema de perspectiva. Ele afirma que os bichos (e, implicitamente, as pessoas) "só são feios se não entendermos seus padrões de beleza." Portanto, o que é percebido como feio ou "indisposto" pode ser apenas uma falha de compreensão ou um "problema de quem observa."

02 – Qual metáfora o narrador e sua mãe utilizam para descrever o corpo, e o que ela implica sobre a forma como o indivíduo se relaciona com o mundo?

      A metáfora utilizada é que o corpo é uma casa. O narrador se compara a um caracol, que carrega sua casa. Essa imagem implica que o indivíduo é um ser que habita a si mesmo, e a relação com o mundo se dá sempre a partir desse espaço interno ("eu inteira sou a minha casa"). A mãe acrescenta que se habita essa casa "com maior ou menor juízo," sugerindo a importância da consciência e da sabedoria na gestão do próprio ser.

03 – O narrador menciona que usa óculos desde cedo e que está "sempre por detrás de uma janela de vidro." Como esse detalhe pode ser interpretado simbolicamente, além de seu sentido literal?

      Simbolicamente, os óculos e a "janela de vidro" reforçam a ideia de mediação e observação. O narrador vê o mundo através de um filtro. Isso pode sugerir tanto uma necessidade de correção da visão para enxergar o mundo com clareza, quanto uma distância reflexiva ou uma barreira protetora entre o "eu-casa" e o exterior, enfatizando sua postura contemplativa.

04 – Na reflexão sobre o jacaré, o narrador expressa uma dúvida: "Eu gosto dele mas não sei se constrói." O que essa dúvida sugere sobre o critério de valor que o narrador aplica, e como ele tenta resolver essa questão?

      A dúvida sobre o jacaré "construir" sugere que o critério de valor do narrador está ligado à utilidade ou à capacidade criativa de um ser. Ele tenta resolver essa questão elevando o critério: propõe que, talvez, os bichos ferozes construam coisas às quais os humanos não sabem dar valor. A resolução, portanto, é a necessidade de compreensão e empatia, valorizando o que "cada coisa ou lugar tem para cada bicho" antes de julgar seu valor.

05 – Qual é a condição final que o narrador estabelece para que a beleza de algo ou alguém possa ser revelada?

      A condição final é a compreensão. O narrador afirma: "Depois de entendermos melhor, a beleza comparece." Isso significa que a beleza não é uma qualidade inerente e imediata do objeto, mas sim o resultado de um processo de reflexão, entendimento e valorização da razão de ser de cada coisa.

 

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

CONTO: A CASA DA GRITARIA - EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA - MONTEIRO LOBATO - COM QUESTÕES OBJETIVAS E GABARITO

 Conto: A Casa da Gritaria - Emília no país da gramática

           Monteiro Lobato

        — Que barulhada! — exclamou Emília, ao aproximar-se da Casa das INTERJEIÇÕES. — Será algum viveiro de papagaios?

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoEOjq6s9iMzFzpGgSCA5SSftblFPqs_r_oyCPVHNKJ2175u0MsJvnu1qTm-ALBMHuVNVcDksmCBk3C4_wfw9cMgF6EH654zkBDX4KdY6A1XbycxwgwNH2LHOZ2btMUGKP3X4rkfETLSnWcuFp6rO7oQzpYeiaq2SUd2i_6LbfrQD9IxWYXj3-sPnNboQ/s320/1853567fab11a9187d1a36d210cdd8ad.jpg


        — São elas. Aquilo lá dentro parece um hospício, porque as Interjeições não passam de gritinhos.

        — Gritos de quê?

    — De tudo. Gritos de Dor, de Alegria, de Aplauso...

        A Casa das Interjeições parecia mesmo um viveiro de papagaios. Assim que entrou, Emília viu passarem correndo dois gemidinhos de DOR, as Interjeições Ai! e Ui! Logo em seguida viu, a dar pulos, três gritinhos de ALEGRIA: — Ah! Oh! Eh! Depois viu três de nariz comprido, as Interjeições de DESEJO: — Tomara! Oh! Oxalá! E viu três num entusiasmo doido — as Interjeições de ANIMAÇÃO: — Eia! Sus! Coragem! E viu quatro de APLAUSO, batendo palmas: — Viva! Bravo! Bem!

        Apoiado! E viu mais quatro com caras de horror e nojo, que eram as Interjeições de AVERSÃO: — Ih, Xi! Irra! Apre! E viu algumas de APELO, chamando desesperadamente alguém:

        — Olá! Psiu! Alô! E viu duas de SILÊNCIO, encolhidinhas, de dedo na boca: — Psiu! Caluda! E viu uma bem velhinha, de ADMIRAÇÃO — Cáspite! 

        — Que baitaquinhas! — comentou Emília, tapando os    ouvidos. — Já estou tonta, tonta...

        — E há ainda aqui — disse o Verbo Ser — esta pequena caixa com as ONOMATOPÉIAS, OU Interjeições IMITATIVAS de certos sons.

        Emília viu nessa caixinha as Onomatopeias Chape!, que imita o som do animal patinhando n'água. E viu Zás-Trás!, que imita movimento rápido. E viu também o célebre Nhoque!, muito usado por Pedrinho para imitar bote de cachorro bravo,  E viu Tchibum! — que imita barulho duma coisa que cai  n'água. E viu Trrrlin!, que imita som de esporas no assoalho,  E viu Tique-Taque, som de relógio. E ToqueToque, som de batida em porta. E viu Coin, Coin, Coin, som de Rabicó quando leva pelotadas do bodoque de Pedrinho.

        — Sim, senhor! — disse Emília, retirando-se. — São muito galantinhas, mas deixam uma pessoa atordoada. Lá no sítio usamos muito algumas destas interjeições, e ainda várias outras inventadas por nós. Tia Nastácia é uma danada para inventar Interjeições. Danada para tudo, aquela negra...

        E, mudando de tom:

        — Por que Vossa Serência não aparece por lá, um dia, para uma visita a Dona Benta? Por ser muito velho? Ora, deixe-se disso!... Estamos lá acostumados com a velhice. Dona Benta é velha e Tia Nastácia também. Cachorro bravo?... Oh, é bicho que nunca houve no sítio. Só temos Rabicó, que é um marquês que não morde, e a Vaca Mocha, que não tem chifre — e agora este Quindim, que é a pérola dos gramáticos.

        — E há ainda mais coisas por lá — continuou Emília, depois duma pausa. — Há os famosos bolinhos de Tia Nastácia, feitos de polvilho, leite, uma colherzinha de sal, etc. Depois ela frita. Quando Rabicó sente de longe o cheiro desses bolinhos, vem na volada. Mas não pilha um só. É comida de gente e não de... marquês.

        E finalizou, com uma piscadinha marota:

        — Dona Benta é viúva. Vá, que até pode sair casamento...

        O Verbo Ser olhava para Emília com os olhos arregalados. Ele não sabia a história da célebre torneirinha de asneiras...

Entendendo o conto:

01. No trecho, o que a personagem Emília pensa que a Casa das INTERJEIÇÕES poderia ser, ao ouvir a barulhada?

A. Um circo com animais.

B. Um asilo de velhinhos.

C. Uma fábrica de doces.

D. Um viveiro de papagaios.

 02. De acordo com o Verbo Ser, por que a Casa das Interjeições parece um hospício?

A. Porque as Interjeições não passam de gritinhos.

B. Porque as Interjeições são bichos selvagens e perigosos.

C. Porque as Interjeições estão doentes e precisam de cuidado.

D. Porque as Interjeições estão sempre cantando ópera.

 

03. Quais Interjeições são representadas no conto como 'gemidinhos de DOR'?

A. Tomara! Oh! Oxalá!

B. Ai! e Ui!

C. Olá! Psiu! Alô!

D. Viva! Bravo!

 

04. Qual é a classificação das interjeições 'Ih, Xi! Irra! Apre!', que Emília viu 'com caras de horror e nojo'?

A. Interjeições de AVERSÃO.

B. Interjeições de APLAUSO.

C. Interjeições de SILÊNCIO.

D. Interjeições de ANIMAÇÃO.

 

05. Qual a onomatopeia que, segundo o texto, imita o som de 'batida em porta'?

A. Tique-Taque.

B. Toque-Toque.

C. Trrrlin!

D. Chape!

 

06. O que as ONOMATOPÉIAS representam, de acordo com a explicação do Verbo Ser?

A. Interjeições Imitativas de certos sons.

B. Interjeições de Desejo.

C. Palavras que indicam nome de pessoas.

D. Gritos de Admiração.

 

07. Qual onomatopeia, listada no texto, representa o som 'que imita barulho duma coisa que cai n’água'?

A. Nhoque!

B. Chape!

C. Zás-Trás!

D. Tchibum!

 

08. Qual interjeição (ou grupo) é mencionada no texto como sendo 'bem velhinha' e expressando ADMIRAÇÃO?

A.Oxalá!

B. Cáspite!

C. Caluda!

D. Ai!

 

09. Ao final do trecho, o que Emília sugere ao Verbo Ser sobre Dona Benta?

A. Que ele deveria fazer os bolinhos de polvilho.

B. Que Dona Benta quer vender o Sítio.

C. Que ele faça uma visita para tentar um casamento com ela.

D. Que ele ajude a proteger o sítio do cachorro bravo.

 

10. Qual personagem do Sítio do Picapau Amarelo é chamado por Emília de 'a pérola dos gramáticos' no final do conto?

A. O Verbo Ser.

B. Quindim.

C. Tia Nastácia.

D. Rabicó.