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sexta-feira, 15 de agosto de 2025

NOTÍCIA: ADIVINHE QUEM VEM PARA JANTAR - PASQUALE CIPRO NETO - COM GABARITO

 Notícia: Adivinhe quem vem para jantar

              Pasquale Cipro Neto

        Dia desses, no metrô de São Paulo, vi um cartaz do Senai, legítimo baluarte do (bom) ensino profissionalizante deste país. Na foto, três jovens que se submeteram a entrevistas de seleção. Dois exibem escoriações no rosto; o terceiro está incólume. Embaixo das fotos, lê-se esta frase: "Adivinhe quem fez Senai?".

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4CILqGE_P6c9B9Bz-FqF7qmx1NqZegPPHZZU8PfaqCUj3MwBtd8GbYEKSqOEmg4gckQaZxvooBeYs2-L53cZayaz9gGckF9kq7gdIFQ3AFhXQ-0g6UEH3BnKAwMeG2hcxxGOdXhLBquy64CxtwjwUYE_HK-pUeN0h9r7LI1GWCNGrbBIZa8vQzcHlprs/s320/f6b1cc91-24a8-484f-81e2-f5a69eec8670.png.400x400_q75_box-0,0,3000,3000_crop_detail.jpg


        Que lhe parece o ponto de interrogação empregado no cartaz? Como se sabe, o ponto de interrogação – o próprio nome já diz – assinala o fim de uma pergunta. Para ser mais preciso, o fim de uma pergunta direta, o que não ocorre na mensagem do Senai.

        Na frase do cartaz, há uma interrogação indireta, já que a pergunta propriamente dita ("Quem fez Senai?") é apenas parte do enunciado. Ocorreria o mesmo se a frase fosse "Pergunte quem fez Senai" ou "Adivinhe quem vem para jantar". Não haveria ponto de interrogação, já que não se trataria de perguntas diretas.

        É inegável, no entanto, o forte tom interrogativo desse tipo de frase, fortíssimo quando se emprega o verbo "adivinhar". Esse tom é tão intenso que se torna muito difícil resistir à tentação de encerrar esses enunciados com o sinal de interrogação, que, convém repetir, só deve ser empregado nas perguntas diretas.

        Bem, já que falamos de "adivinhar", é bom frisar que há "i" depois do "d", no verbo e nas demais palavras da família ("adivinhação", "adivinho", "adivinhão", "adivinhador", "adivinhona" etc). "Adivinhar", por sinal, vem do latim "addivinare", que resulta de "ad divinare". Qualquer semelhança com a ideia de poderes divinos não é mera coincidência.

        Também é bom aproveitar a ocasião para lembrar por que nas perguntas indiretas se escreve "por que" e não "porque". Quando se diz "Quero saber por que ela não aceitou nossa proposta", não há ponto de interrogação, já que não se trata de pergunta direta. O fato de não haver ponto de interrogação, no entanto, não significa que não haja pergunta nessa frase. Afinal, quem diz "Quero saber por que ela não aceitou nossa proposta" indiretamente faz uma pergunta ("Por que ela não aceitou nossa proposta?"). E perguntas (diretas ou indiretas) são introduzidas com "por que" ("separado", como diz o povo).

        Esse "por que" equivale a "por qual razão", "por que razão" ("Quero saber por qual razão ela não aceitou nossa proposta").

        É bom tomar cuidado com armadilhas. Veja esta frase: "Será que ela não aceitou nossa proposta porque não incluímos nela as despesas com hospedagem?".

        A pergunta é direta, diretíssima, termina com ponto de interrogação, mas não se escreve "por que". Por que? Porque não se pergunta o que nos levou a não incluir na proposta as despesas com hospedagem; pergunta-se se esse é o motivo de ela não aceitar nossa proposta. Esse "porque" não introduz pergunta (direta ou indireta); introduz o possível motivo ou explicação da atitude dela.

        Como se vê, nem toda frase que se encerra com ponto de interrogação tem "por que" (separado) e nem toda frase que não se encerra com ponto de interrogação tem "porque" (junto). Devagar com o andor, pois. É isso.

Folha de São Paulo, Caderno Cotidiano, 17 maio 2001.

Fonte: Letra e Vida. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – Coletânea de textos – Módulo 3 – CENP – São Paulo – 2005. p. 248.

Entendendo a notícia:

01 – Qual a principal crítica do autor em relação ao cartaz do Senai?

      O autor critica o uso do ponto de interrogação no final da frase "Adivinhe quem fez Senai?", pois, gramaticalmente, trata-se de uma pergunta indireta e, nesse caso, o ponto de interrogação não deve ser empregado.

02 – O que são perguntas diretas e indiretas, segundo o texto?

      Perguntas diretas são aquelas que terminam com ponto de interrogação, como "Quem fez Senai?". Já as perguntas indiretas são parte de um enunciado maior e não terminam com ponto de interrogação, como "Adivinhe quem fez Senai?" ou "Quero saber por que ela não aceitou nossa proposta".

03 – Por que, mesmo com um forte tom interrogativo, frases como "Adivinhe quem vem para jantar" não devem usar ponto de interrogação?

      Embora possuam um forte tom de pergunta, especialmente com verbos como "adivinhar", essas frases configuram interrogações indiretas. O ponto de interrogação, conforme o autor, é reservado exclusivamente para perguntas diretas.

04 – Qual a origem e o significado da palavra "adivinhar", conforme explicado no texto?

      A palavra "adivinhar" vem do latim "addivinare", que por sua vez deriva de "ad divinare". O autor destaca a conexão da palavra com a ideia de poderes divinos, mostrando que a semelhança não é mera coincidência.

05 – Quando se deve usar "por que" (separado) em perguntas indiretas?

      Dê um exemplo do texto. Em perguntas indiretas, utiliza-se "por que" (separado) quando ele equivale a "por qual razão" ou "por que razão". Um exemplo do texto é: "Quero saber por que ela não aceitou nossa proposta."

06 – O texto apresenta uma "armadilha" sobre o uso de "por que" e "porque". Qual é ela e como o autor a explica?

      A "armadilha" está na frase: "Será que ela não aceitou nossa proposta porque não incluímos nela as despesas com hospedagem?". Mesmo sendo uma pergunta direta (com interrogação), usa-se "porque" (junto) e não "por que". O autor explica que, nesse caso, não se pergunta a razão de algo, mas sim se a razão apresentada (não incluir despesas) é o motivo da recusa, introduzindo uma possível explicação.

07 – Qual a principal conclusão do autor sobre o uso do ponto de interrogação e das formas "por que" e "porque"?

        A principal conclusão é que nem toda frase que termina com ponto de interrogação usa "por que" (separado), e nem toda frase sem ponto de interrogação usa "porque" (junto). É preciso cautela e atenção à função sintática da pergunta ou da explicação na frase.

 

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

NOTÍCIA: NÃO PUDE ESTAR COMPARECENDO - FRAGMENTO - PASQUALE CIPRO NETO - COM GABARITO

 Notícia: Não pude estar comparecendo – Fragmento

                 PASQUALE CIPRO NETO – Colunista da Folha

        [...]

        O fato é que de repente surgiu no Brasil a esquisita mania de usar o verbo “estar” seguido de outro verbo no gerúndio. Essa dupla na verdade é um trio, porque antes vem outro verbo. Algo como “o economista vai estar realizando uma série de palestras.” O que na verdade já poderia ser dito com apenas um verbo (realizará), ou com dois (vai realizar), acaba se transformando numa perífrase (rodeio de palavras) enfadonha.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgir3nvHJcw4CRs7TKT5Y_w6fLf6n3CXnR8UY2wnmchxeRGfDE4o5H940_DGTUjCsu3aUNtO65ju5RvtIHBz1omMcPuu7_k1nks23-7aBlyLnJamds0ieunX0tI6Z3qeHa9pPLYGUFIEYCK06tkuI69MFdiqDOPIndj1aoTzO5ZMCWZ0gtmI2nkPDY2hG0/s320/PERIFRASE.jpg


        O grande problema é que isso parece chique, tem uma cara de coisa da língua formal, culta, mas não passa de uma grande chatice.

        Uma amiga telefonou para a central de atendimento a clientes de um cartão de crédito. Depois de intermináveis "a gente vai estar tentando resolver o seu problema", "a senhora vai estar recebendo um extrato", "uma funcionária vai estar verificando", "a gente vai estar mandando uma cópia para a senhora", a funcionária perguntou: "A senhora pode estar enviando uma cópia do último pagamento?".

        Irônica, mordaz, minha amiga respondeu: "Estar enviando eu não posso, mas enviar eu posso". Inútil. Pelo que disse em seguida, parece que a funcionária não entendeu a ironia.

        Há alguns dias, um jogador do Santos deu entrevista à rádio Jovem Pan. Trata-se de rapaz letrado, bem falante, de classe média alta, que estudou em bons colégios. Feliz com sua atuação, o jovem atleta ofereceu os gols à mãe. "Mande-lhe uma mensagem", propôs o radialista. O jogador declarou seu amor à genitora e disse: "Desculpe, mãe. Seu aniversário foi ontem, mas eu não pude estar comparecendo à festa".

        "Não pude estar comparecendo" é de lascar. Que tal "Não pude comparecer"? Simples e indolor, não?

        É isso. Cuidado com modismos linguísticos. Esse cacoete já passou da fala e já frequenta a língua escrita, com ares de coisa boa. Fuja disso!

Folha de São Paulo, São Paulo, 19 fev. 1998. Fragmento.

Fonte: Português – Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 451-452.

Entendendo a notícia:

01 – Qual é a principal crítica do autor ao uso do gerúndio na construção "estar + gerúndio"?

      O autor critica o uso excessivo e inadequado da construção "estar + gerúndio", considerando-a uma "perífrase enfadonha" que torna a linguagem mais complexa e menos clara do que o necessário. Ele argumenta que essa construção, muitas vezes, é utilizada de forma artificial para dar um ar de formalidade à linguagem, mas que acaba soando artificial e inadequada.

02 – Quais são os exemplos utilizados pelo autor para ilustrar o uso inadequado do gerúndio?

      O autor apresenta diversos exemplos de uso inadequado do gerúndio, como em diálogos com atendentes de telemarketing e em entrevistas com jogadores de futebol. Nesses exemplos, a construção "estar + gerúndio" é utilizada de forma repetitiva e desnecessária, tornando a comunicação mais difícil e menos eficaz.

03 – Qual é a principal consequência do uso excessivo dessa construção?

      O uso excessivo da construção "estar + gerúndio" pode levar a uma linguagem rebuscada e artificial, dificultando a compreensão da mensagem. Além disso, essa construção pode transmitir uma impressão de falta de espontaneidade e naturalidade na comunicação.

04 – Qual é a alternativa sugerida pelo autor para evitar o uso inadequado do gerúndio?

      O autor sugere o uso de construções mais simples e diretas, como a substituição da construção "estar + gerúndio" por um verbo no infinitivo ou no futuro do presente. Por exemplo, em vez de dizer "vou estar realizando", pode-se dizer "vou realizar" ou "realizarei".

05 – Qual é a mensagem principal do texto?

      A mensagem principal do texto é um alerta sobre o uso inadequado do gerúndio na língua portuguesa. O autor defende a importância de uma linguagem clara, objetiva e natural, evitando construções complexas e artificiais que dificultam a comunicação. Ele convida os leitores a refletirem sobre a importância da escolha das palavras e a evitarem modismos linguísticos que podem prejudicar a qualidade da comunicação.

 



sexta-feira, 24 de julho de 2020

TEXTO: GRAFIA ERA DIFERENTE MESMO! PASQUALE CIPRO NETO - COM GABARITO

Texto: Grafia era diferente mesmo!

            Pasquale Cipro Neto

    Você já leu algum texto escrito há muito, muito tempo, muito tempo, algo como um jornal de 1935?

      Seu avô já lhe disse que no tempo dele a grafia era diferente? Pois acredite, era mesmo!

     As pessoas mais velhas têm uma certa dificuldade para escrever porque na década de 40 houve uma profunda modificação na grafia das palavras da língua portuguesa.

        Adjetivos que indicam nacionalidade, como francês, inglês, eram escritos com z, sem acento: francez, inglez. Isso explica por que até hoje se veem restaurantes que servem "comida" chineza". Chinesa se escreve com s.

        Palavras terminadas em al, como jornal, geral, faziam o plural em aes: jornaes, geraes. Hoje se escrevem com i. (jornais, gerais).

        Era interessante o emprego das consoantes duplas, em palavras como elle, sabbado, annular, occasião, apparelho, etc. As sequências em ct e oç também existiam, em palavras como omnibus, activo, funcção.

        Quer mais? O ph era usado em telephone, physica, pharmacia. O grupo ph tinha o mesmo som do f.

        Usava-se a letra h entre as vogais, em palavras como comprehender, Jundiahy, que hoje se escrevem: compreender, Jundiaí, respectivamente.

        Bahia ficou com o h, para manter a tradição.

        Tenha paciência com o vovô e a vovó. E nada de arrumar desculpas.

        Desde que você nasceu, não houve nenhuma mudança ortográfica.

        Trate de aprender a grafar corretamente as palavras da nossa querida língua portuguesa.


Compare as diferenças:

attenção      -    atenção
machina      -    máquina
francez        -    francês
excellencia  -    excelência
sabbado      -    sábado
alumno        -    aluno
anno            -    ano
prompta       -    pronta.

Pasquale Cipro Neto. Folha de S. Paulo, 13 de set. 1997 (Folhinha).

                              Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 217/8-223.

Entendendo o texto:

01 – Você observou a propaganda do guaraná espumante? Ela traz alguma diferença com relação às dos dias de hoje? Em quê?

      Sim. As propagandas, a cada dia, tornam-se, por vezes, mais coloridas, chamativas e, acima de tudo, massificantes a ponto de o telespectador passar a ser um consumidor assíduo do produto.

02 – Você já teve oportunidade de folhear jornais antigos na biblioteca de sua casa, na da escola ou na de amigos? O que reparou?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Você entendeu por que certas pessoas têm dificuldade na grafia de determinadas palavras? Dê exemplos de acordo com o texto. Procure, no lugar em que você mora, se ainda há nomes de bares, casas de comércio, etc. Com grafia antiga. Pesquise e comente.

      “As pessoas mais velhas têm uma certa dificuldade para escrever porque na década de 40 houve uma profunda modificação na grafia das palavras da língua portuguesa.”

04 – A grafia facilitou sua vida? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.