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segunda-feira, 7 de outubro de 2024

POEMA: MORTE E VIDA SEVERINA - FRAGMENTO - JOÃO CABRAL DE MELLO NETO - COM GABARITO

 Poema: Morte e vida Severina – Fragmento

             João Cabral de Mello Neto

-- Essa cova em que estás,

com palmos medida,

é a conta menor

que tiraste em vida.

-- E de bom tamanho,

nem largo nem fundo,

é a parte que te cabe

deste latifúndio.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6ZXMXeElzt14Em6MD3GV7-VdwnrFwh7Ng47Cf41l-Wj7EL2tEJsGLffKT7oHZ0mGDbLyOajnaOtprmjAw5dXIaXqxAElyKtK_XSw39EZuY08mfbwjjDKTN7qOhVRWAFJiStOoQ-JblhtnQJuJhpmb4x0H16RYs0Xgqce6L_9zSa87PXUsUulQfoKRw2w/s320/MORTEEVIDA-capaBLOG.jpeg


-- Não é cova grande,

é cova medida,

é a terra que querias

ver dividida.

-- É uma cova grande

para teu pouco defunto,

mas estarás mais ancho

que estavas no mundo.

[...]

MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguiar, 1994. p. 183-184. (fragmento).

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 275.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal metáfora presente nesses versos e o que ela representa?

      A principal metáfora é a comparação da cova com um latifúndio. A cova, que representa a morte e o sepultamento, é comparada a uma pequena parcela de terra, simbolizando a injusta distribuição de terras no Nordeste brasileiro e a vida dura e curta dos retirantes. A cova medida, portanto, representa a porção de vida que cada indivíduo recebe, limitada pela miséria e pelas condições sociais.

02 – Qual a crítica social presente nesses versos?

      O fragmento critica fortemente a desigualdade social e a concentração de terras no Nordeste. A cova "medida" para cada indivíduo, enquanto os latifundiários possuem extensas propriedades, evidencia a injustiça e a exploração dos mais pobres. A obra denuncia as condições de vida precárias dos retirantes, que veem a morte como uma libertação da miséria.

03 – Qual o sentimento predominante nos versos?

      O sentimento predominante é a tristeza e a resignação. A morte é vista como uma inevitabilidade, e a cova medida representa a aceitação de um destino cruel. Há também uma crítica à sociedade injusta, que condena os mais pobres à miséria e à morte prematura.

04 – Qual a relação entre a dimensão da cova e a condição social do defunto?

      A dimensão da cova é inversamente proporcional à condição social do defunto. A cova "medida" e "de bom tamanho" para o pobre contrasta com a imensidão dos latifúndios dos poderosos. A cova pequena simboliza a vida curta e limitada do retirante, enquanto a terra extensa representa a riqueza e o poder dos latifundiários.

05 – Qual o significado da expressão "estarás mais ancho que estavas no mundo"?

      Essa expressão pode ter duas interpretações:

      Literal: Na cova, o corpo do defunto estará mais estendido e menos limitado pelos movimentos do dia a dia, representando uma libertação física.

      Figurado: A expressão pode sugerir que, na morte, o retirante terá mais espaço e liberdade do que tinha em vida, livre das opressões e das dificuldades que enfrentava. No entanto, essa liberdade é irônica, pois se trata da liberdade da morte.

 

 

POEMA: O LUTO NO SERTÃO: JOÃO CABRAL DE MELLO NETO - COM GABARITO

 Poema: O luto no Sertão

             João Cabral de Mello Neto

Pelo Sertão não se tem como
não se viver sempre enlutado;
lá o luto não é de vestir,
é de nascer, com luto nato.

 



Sobe de dentro, tinge a pele
de um fosco fulo: é quase raça;
luto levado toda a vida
e que a vida empoeira e desgasta.

E mesmo o urubu que ali exerce,
negro tão puro noutras praças,
quando no Sertão usa a batina
negra-fouveiro, pardavasca.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeAQ2nYFM7qyNlis2LHKipMan7zWmoi9w0WtYVft2FXBaK6Z6q5Eg3QuG_3VyMOBk-GQRV6ohUk57yfsJlRfxDZymnv997GWu5_mLWNUoRr3r436JHj7utN-L8iQV3XiwCDAmCvoV-Xt09OZe1TXzthzGJuvr047QfsrhDzwJjskAr_aL-Ov50eSeazRk/s320/SERTAO.jpg

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 281.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal característica do luto no Sertão, segundo o poema?

      O luto no Sertão é apresentado como algo intrínseco à vida sertaneja, uma condição quase natural. Não se trata de um luto ocasional ou passageiro, mas sim de um estado permanente, "nato", que acompanha o sertanejo desde o nascimento.

02 – Como o luto se manifesta no corpo e na alma do sertanejo?

      O luto se manifesta de forma profunda e marcante no sertanejo. Ele "sobe de dentro", atingindo a alma e se exteriorizando através da pele, que adquire um tom "fosco fulo". Essa marca do luto é comparada a uma "raça", algo tão inerente ao sertanejo quanto sua própria identidade.

03 – Qual a relação entre o luto e a paisagem sertaneja?

      A paisagem sertaneja, com suas características áridas e inóspitas, serve como um pano de fundo para o luto. A natureza agreste e a constante luta pela sobrevivência intensificam a sensação de perda e sofrimento. O urubu, símbolo da morte, adquire um papel ainda mais sombrio no Sertão, reforçando a atmosfera de luto.

04 – Qual o significado da comparação entre o luto e uma "raça"?

      Ao comparar o luto a uma "raça", o poeta sugere que ele se tornou parte da identidade do sertanejo, algo tão fundamental quanto sua origem étnica. O luto é transmitido de geração em geração, moldando a visão de mundo e a forma de viver dos habitantes do Sertão.

05 – Qual a função do urubu na construção da imagem do luto no poema?

      O urubu, tradicionalmente associado à morte, desempenha um papel central na construção da imagem do luto no poema. A ave negra, que em outras regiões é vista como um símbolo da morte, adquire no Sertão uma conotação ainda mais sombria, reforçando a ideia de um luto constante e onipresente. A expressão "negra-fouveiro, pardavasca" intensifica a imagem do urubu como um ser sinistro e funéreo.

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

POEMA: AS NUVENS - JOÃO CABRAL DE MELLO NETO - COM GABARITO

Poema: As nuvens

             João Cabral de Mello Neto

As nuvens são cabelos
crescendo como rios;
são os gestos brancos
da cantora muda;

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZag0fK83dmP9Aqs3Sch6T-OenqHiGTZA6fRalVH8RTefca8RSyvDWzjvbz4-ty-JE3B7ioBYvAh6GWivnwtzIRjRoBtgX2SNEyqDHWcZ0tfdXcBbmdUw-1_E74xAPJpZCJTWjgeNBMqsk1EcxF0OuMC8TOQWEs-8Hb3hSxCEzlaRCKjn-kn_xc6NzFpc/s320/nuvem-exemplo-1024x575.jpg


são estátuas em voo
à beira de um mar;
a flora e a fauna leves
e países de vento;

são o olho pintado
escorrendo imóvel;
a mulher que se debruça
nas varandas do sono;

são a morte (a espera da)
atrás dos olhos fechados;
a medicina, branca!
nossos dias brancos.

 João Cabral de Melo Neto. Melhores poemas.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 282.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal metáfora utilizada por João Cabral para descrever as nuvens no poema?

      A principal metáfora utilizada por João Cabral é a comparação das nuvens com elementos diversos da natureza e da vida humana. Ele as descreve como cabelos, gestos, estátuas, flora, fauna, olhos pintados, mulheres, morte e até mesmo a medicina. Essa variedade de comparações cria uma imagem rica e complexa das nuvens, explorando suas diversas formas e significados.

02 – Que sentimentos ou sensações o poema evoca em relação às nuvens?

      O poema evoca uma ampla gama de sentimentos e sensações em relação às nuvens. Há um senso de movimento e transformação constante nas comparações com rios, gestos e estátuas em voo. As nuvens são vistas como algo leve, fluido e etéreo, mas também podem representar a imensidão e a profundidade da natureza. A última estrofe, com a referência à morte e aos "dias brancos", introduz um tom mais melancólico e reflexivo.

03 – Qual o significado da expressão "cantora muda" utilizada para descrever as nuvens?

      A expressão "cantora muda" é uma metáfora que sugere a beleza e a expressividade das nuvens, mesmo na ausência de som. As nuvens são comparadas a uma cantora que, embora não emita voz, comunica emoções e sensações através de seus gestos. Essa imagem contraditória revela a capacidade da poesia de dar voz ao que é silencioso e intangível.

04 – Qual a importância da repetição da cor branca no poema?

      A repetição da cor branca enfatiza a pureza, a leveza e a intangibilidade das nuvens. O branco é uma cor associada à paz, à calma e à espiritualidade. Ao longo do poema, essa cor adquire diferentes significados, desde a beleza da natureza até a iminência da morte. A repetição do branco cria uma atmosfera onírica e contemplativa.

05 – Qual a relação entre as nuvens e a condição humana, segundo o poema?

      O poema estabelece uma profunda relação entre as nuvens e a condição humana. As nuvens são vistas como um reflexo dos nossos sentimentos, pensamentos e experiências. Elas podem representar a nossa alma, os nossos sonhos, as nossas angústias e a nossa finitude. Ao observar as nuvens, o poeta nos convida a refletir sobre a nossa própria existência e sobre o nosso lugar no mundo.

 

 


 

domingo, 29 de outubro de 2023

POEMA: A EDUCAÇÃO PELA PEDRA - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

 Poema: A educação pela pedra

              João Cabral de Melo Neto

Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, frequentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta:
lições da pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcab5sRSJZGYLxVAQ2m8GCYyKsU7FRvojU-fS1ZEc0DOfllCi32pbbSnUrgLQdlNaujpnMRgi61-mQgURdK_Qmoh8nu49GEnwwxUwIhyphenhyphenV0mO3nBV2wKpcNiHKPneXchic8FdWUlCyQf9yqhIYe5bmR682CeV0ZcHQLwllBLExPrWGWQ9yAMIYPgiJOkZM/s320/educa%C3%A7%C3%A3o-aa.png 



Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse, não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.

             Melo Neto, João Cabral de. A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. p. 21.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema principal do poema "A Educação pela Pedra"?

      O tema principal do poema é a pedra e as lições que ela pode ensinar.

02 – O que o poeta sugere ser a primeira lição que a pedra oferece?

      A primeira lição que a pedra oferece, de acordo com o poema, é uma lição de moral, mostrando sua resistência fria ao que flui e a fluir.

03 – Como o poeta descreve a pedra em relação à lição de poética?

      O poeta descreve a pedra como tendo uma "carnadura concreta" na lição de poética.

04 – Qual é o cenário onde a pedra não pode lecionar de acordo com o poema?

      A pedra não pode lecionar no Sertão, como mencionado no poema.

05 – Qual é a razão pela qual a pedra no Sertão não pode lecionar?

      No Sertão, a pedra não sabe lecionar e, mesmo que soubesse, o poema sugere que não ensinaria nada.

06 – Qual é a diferença entre as lições da pedra "de fora para dentro" e "de dentro para fora"?

      As lições "de fora para dentro" referem-se à pedra ensinando a quem a estuda de fora, enquanto as lições "de dentro para fora" se referem a como a pedra faz parte da alma das pessoas no Sertão, mesmo sem ensinar nada.

07 – Como o poema caracteriza a pedra em termos de comunicação?

      O poema caracteriza a voz da pedra como "inenfática" e "impessoal", sugerindo que a pedra tem uma comunicação não verbal e fria, como uma lição muda para aqueles que a estudam.

 



 

sábado, 14 de agosto de 2021

POEMA(FRAGMENTO): MORTE E VIDA SEVERINA - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

 POEMA(FRAGMENTO): MORTE E VIDA SEVERINA

                                       João Cabral de Melo Neto

 

O retirante explica ao leitor quem é e a que vai

– O meu nome é Severino,

como não tenho outro de pia.

Como há muitos Severinos,

que é santo de romaria,

deram então de me chamar

Severino de Maria

como há muitos Severinos

com mães chamadas Maria,

fiquei sendo o da Maria

do finado Zacarias.

João Cabral de Melo Neto. Morte e vida severina. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2007.

 

Entendendo o texto

1.   De que se trata o poema?

Narra a trajetória de um migrante nordestino em busca de condições melhores de vida no litoral.

2.   No segundo verso, o poeta usa a expressão “de pia” para se referir a qual substantivo?

         Refere-se ao substantivo “nome”, oculto no segundo verso, porém apreensível pelo contexto.

3.   De acordo com o contexto, qual é efeito de sentido causado pelo uso dessa expressão em relação ao substantivo ao qual se refere?

         Essa expressão acrescenta uma característica ao substantivo “nome” e, no contexto, refere-se ao nome de batismo do eu lírico.

4.   Considerando a resposta dada em b, reescreva o segundo verso da estrofe substituindo a expressão por um adjetivo e por uma locução adjetiva de mesmo valor semântico:

         Resposta pessoal. Dentre as possibilidades, podem ser citadas: “como não tenho outro de batismo”, “como não tenho outro batismal”.

 

terça-feira, 28 de julho de 2020

POEMA: O RELÓGIO - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

Poema: O Relógio

           João Cabral de Melo Neto


Ao redor da vida do homem

há certas caixas de vidro,

dentro das quais, como em jaula,

se ouve palpitar um bicho.

 

Se são jaulas não é certo;

mais perto estão das gaiolas

ao menos, pelo tamanho

e quadradiço de forma.

 

Uma vezes, tais gaiolas

vão penduradas nos muros;

outras vezes, mais privadas,

vão num bolso, num dos pulsos.

 

Mas onde esteja: a gaiola

será de pássaro ou pássara:

é alada a palpitação,

a saltação que ela guarda;

 

e de pássaro cantor,

não pássaro de plumagem:

pois delas se emite um canto

de uma tal continuidade

 

que continua cantando

se deixa de ouvi-lo a gente:

como a gente às vezes canta

para sentir-se existente.

 

O que eles cantam, se pássaros,

é diferente de todos:

cantam numa linha baixa,

com voz de pássaro rouco;

 

desconhecem as variantes

e o estilo numeroso

dos pássaros que sabemos,

estejam presos ou soltos;

 

têm sempre o mesmo compasso

horizontal e monótono,

e nunca, em nenhum momento,

variam de repertório:

 

dir-se-ia que não importa

a nenhum ser escutado.

Assim, que não são artistas

nem artesãos, mas operários

 

para quem tudo o que cantam

é simplesmente trabalho,

trabalho rotina, em série,

impessoal, não assinado,

 

de operário que executa

seu martelo regular

proibido (ou sem querer)

do mínimo variar.

 

A mão daquele martelo

nunca muda de compasso.

Mas tão igual sem fadiga,

mal deve ser de operário;

 

ela é por demais precisa

para não ser mão de máquina,

a máquina independente

de operação operária.

 

De máquina, mas movida

por uma força qualquer

que a move passando nela,

regular, sem decrescer:

 

quem sabe se algum monjolo

ou antiga roda de água

que vai rodando, passiva,

graçar a um fluido que a passa;

 

que fluido é ninguém vê:

da água não mostra os senões:

além de igual, é contínuo,

sem marés, sem estações.

 

E porque tampouco cabe,

por isso, pensar que é o vento,

há de ser um outro fluido

que a move: quem sabe, o tempo.

 

Quando por algum motivo

a roda de água se rompe,

outra máquina se escuta:

agora, de dentro do homem;

 

outra máquina de dentro,

imediata, a reveza,

soando nas veias, no fundo

de poça no corpo, imersa.

 

Então se sente que o som

da máquina, ora interior,

nada possui de passivo,

de roda de água: é motor;

 

se descobre nele o afogo

de quem, ao fazer, se esforça,

e que ele, dentro, afinal,

revela vontade própria,

 

incapaz, agora, dentro,

de ainda disfarçar que nasce

daquela bomba motor

(coração, noutra linguagem)

 

que, sem nenhum coração,

vive a esgotar, gota a gota,

o que o homem, de reserva,

possa ter na íntima poça.

João Cabral de Melo Neto

Entendendo o poema:

01 – Que temática é abordada no poema?

      A temática é o tempo.

02 – Qual é a primeira metáfora escolhida para o tempo nesse poema?

      É “bicho”, sendo gradativamente amenizada no decorrer das estrofes.

03 – Que mudança sofre o “bicho” no decorrer do poema?

      Passando de um “bicho” de jaula a um pássaro em uma gaiola.

04 – Em relação ao texto, julgue os itens que se seguem:

(F) O entendimento do poema é facilitado pelo fato de o título permitir que o sentido metafórico da terceira estrofe se associe à ideia de relógio.

(F) A utilização de estrofes que são quartetos e de versos de sete sílabas (redondilha maior) comprova que o Modernismo desprezou totalmente as formas tradicionais de construção de poemas.

(V) A noção de trabalho no texto apresenta as oposições: artistas e artesãos versus operários; produção variada, criativa versus produção em série, rotineira; a produção pessoal versus produção impessoal.

05 – Ainda em relação ao texto, julgue os itens seguintes:

(F) No primeiro verso do poema, a contagem das sílabas métricas exige a elisão de uma das vogais idênticas em “do homem” e a desconsideração da última sílaba gramatical do verso, por ser átona.

(F) A ocorrência próxima dos substantivos “jaula”, “jaulas”, “gaiolas”, “gaiola” e “pássaro” e das palavras com o mesmo radical “cantor”, “canto”, “cantando”, intensifica a sonoridade, a coesão e também a convergência e a densidade semântica do texto.

(V) Na interpretação de poemas, deve existir sempre uma margem de flexibilidade em consequência da multiplicidade de sentidos. Assim, na sexta estrofe, as duas ocorrências da expressão “a gente” podem ser interpretadas como nós (eu lírico e leitores) ou como as pessoas, o povo.

06 – Na tentativa de descrever o que há dentro dessas caixas de vidro, como o poema se inicia?

      Inicia-se investigando, buscando respostas diante da sua dúvida: “Se são jaulas não é certo”.

07 – Copie os versos que descrevem a passagem de jaula resistente que detém um ser feroz, para ela passa à delicadeza de uma gaiola que guarda um pássaro, de “alada palpitação”.

      “Uma vezes, tais gaiolas

       vão penduradas nos muros;

       outras vezes, mais privadas,

       vão num bolso, num dos pulsos.

 

       Mas onde esteja: a gaiola

       será de pássaro ou pássara:

       é alada a palpitação,

       a saltação que ela guarda.”

08 – A que se assemelha a imagem dos ponteiros do relógio?

      São semelhantes às asas de um pássaro, remete-nos ao tempo-pássaro, ao desejo da ave de voar, de ganhar o céu e a liberdade, mas que impossibilitada de fazê-lo, tem de contentar-se com o curto bater de suas asas dentro do espaço limitado da gaiola.

09 – O eu lírico através do poema fala da diferença entre o operário e os artesões e artistas. Explique.

      Ele diz que a figura do operário veste bem o ponteiro do relógio que trabalha sem parar, no mesmo ritmo, mecanicamente e diferentemente dos artesãos e artistas que fogem do compasso rotineiro do tempo, procurando evadir-se na arte, o trabalho dos ponteiros-operários.

 

 

 

 


sexta-feira, 24 de julho de 2020

POEMA: O FERRAGEIRO DE CARMONA - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

Poema: O Ferrageiro de Carmona    

                 João Cabral de Melo Neto

Um ferrageiro de Carmona
que me informava de um balcão:
«Aquilo? É de ferro fundido,
foi a fôrma que fez, não a mão.

Só trabalho em ferro forjado
que é quando se trabalha ferro;
então, corpo a corpo com ele,
domo-o, dobro-o, até o onde quero.

O ferro fundido é sem luta,
é só derramá-lo na fôrma.
Não há nele a queda-de-braço
e o cara-a-cara de uma forja.

Existe grande diferença
do ferro forjado ao fundido;
é uma distância tão enorme
que não pode medir-se a gritos.

Conhece a Giralda em Sevilha?
De certo subiu lá em cima
Reparou nas flores de ferro
dos quatro jarros das esquinas?

Pois aquilo é ferro forjado.
Flores criadas numa outra língua.
Nada têm das flores de fôrma
moldadas pelas das campinas.

Dou-lhe aqui humilde receita,
ao senhor que dizem ser poeta:
o ferro não deve fundir-se
nem deve a voz ter diarreia.

Forjar: domar o ferro à força,
não até uma flor já sabida,
mas ao que pode até ser flor
se flor parece a quem o diga.

                           João Cabral de Melo Neto, in 'Serial e Antes, A Educação pela Pedra e Depois, Rio de Janeiro, 1997'

Entendendo o poema:

01 – O poema mostra:

(F) O fazer poético como um processo racional, fundamentado em modelos preexistentes.

(F) A relação criador-criatura enfocada sob uma perspectiva irônica.

(V) Uma analogia entre o ofício do ferrageiro e o do poeta.

(V) A “flor” forjada como exemplo de obra de arte criativa.

(F) A criação da poesia como um processo cuja marca é a fluência das palavras, sem controle seletivo.

(V) A verossimilhança, o efeito de verdade na obra de arte, ligada à ação persuasiva do artefato sobre objeto natural.

(V) A ação de forjar ligada à marca da pessoalidade no processo criativo, contrapondo-se ao plano do fundir, cuja marca é a ausência do sujeito.

02 – João Cabral de Melo Neto, mais conhecido como o “poeta das simetrias”, apresenta um texto exato e extremamente racionalizado. Em seus poemas, rompe com o mito da poesia de inspiração, pois prega que a poesia não está no sentimento do poeta ou mesmo na beleza dos fatos, mas na organização do texto, no rigor de sua construção. Com base no poema, analise as afirmativas a seguir:

I – O poema é construído a partir de oposições semânticas, como a que existe entre “ferro forjado” e “ferro fundido”.

II – O eu lírico valoriza o trabalho com ferro fundido e desqualifica o com ferro forjado.

III – O poema se utiliza da metáfora do trabalho do ferreiro para falar do fazer poético.

É correto o que se afirma em:

a)   Apenas I.

b)   Apenas II.

c)   I e III.

d)   Apenas a III.

03 – De que se trata o poema?

      Fala do ato de criação do fazer poético.

04 – O poeta recorre a que comparação para ilustrar sua fala?

      Ele recorre à comparação do ato de forjar o metal e o ato de engendrar as palavras.

05 – Que palavras o eu lírico usa que revela-se como autoritário, firme e austero o ato de escrever?

      Ferro, forjado, fundido.

06 – Para reproduzir a labuta do ato criativo o eu lírico recorre a quê advérbios?

      Corpo a corpo, cara a cara, a gritos, a mão.

 


POEMA: O SERTANEJO FALANDO - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

Poema: O Sertanejo Falando

             João Cabral de Melo Neto

A fala a nível do sertanejo engana:
as palavras dele vêm, como rebuçadas
(palavras confeito, pílula), na glace
de uma entonação lisa, de adocicada.
Enquanto que sob ela, dura e endurece
o caroço de pedra, a amêndoa pétrea,
dessa árvore pedrenta (o sertanejo)
incapaz de não se expressar em pedra.


Daí porque o sertanejo fala pouco:
as palavras de pedra ulceram a boca
e no idioma pedra se fala doloroso;
o natural desse idioma fala à força.
Daí também porque ele fala devagar:
tem de pegar as palavras com cuidado,
confeitá-la na língua, rebuçá-las;
pois toma tempo todo esse trabalho.

                               (A educação pela pedra, 1962-1965). Fonte: www.academia.org.br O Sertanejo Falando (João Cabral de Melo Neto)

Entendendo o poema:

01 – É possível observar no poema a ocorrência de suas funções da linguagem, que são:

a)   Referencial e poética.

b)   Fática e poética.

c)   Poética e metalinguística.

d)   Emotiva e metalinguística.

02 – O poema nos revela que realidade?

      A realidade de um meio ambiente específico, da terra da educação pela pedra, terra em que “de nascença a pedra entranha a alma”, terra do martírio dos apedrejados pelas forças da natureza e pelas leis pedregosas da história.

03 – No verso: “As palavras dele vêm como rebuçadas”, o que o eu lírico quis dizer?

      Que a língua imposta é insuficiente e inadequada como instrumentos de expressão e comunicação no seu verdadeiro mundo, e por isso ele não quer obedecer às fronteiras que essa língua lhe impõe.

04 – Em que verso o eu lírico diz que é incapaz de se expressar nessa língua sem sofrer?

      “As palavras de pedra ulceram a boca”.

05 – Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre o poema.

(F) O eu lírico do poema é o próprio sertanejo que reflete sobre sua forma de falar.

(V) A ideia dos quatro primeiros versos da primeira estrofe é retomada nos quatro últimos da segunda; neles é descrita a melodia aparentemente doce da fala do sertanejo.

(V) Os quatro últimos versos da primeira estrofe estão relacionados aos quatro primeiros da segunda; neles é descrita a essência rude do falar sertanejo.

(F) O sertanejo falando opõe-se aos demais poemas de A educação pela pedra; nele João Cabral de Melo Neto apresenta um rigor formal, uma preocupação com a estrutura do poema, ausente no restante do livro.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:

a)   V – V – V – F.

b)   F – V – F – V.

c)   V – F – V – V.

d)   F – F – F – V.

e)   F – V – V – F.

06 – Esse poema consta na primeira parte de A educação pela pedra, considerada pelo autor sua obra máxima. Depois de uma leitura atenta, responda:

a)   Qual o contraste entre a busca da palavra e o resultado sua execução na boca do sertanejo?

A busca da palavra pelo sertanejo é, segundo o poema, um processo árduo: “As palavras de pedra ulceram a boca / o natural desse idioma fala à força”. No que se refere a sua execução na boca do sertanejo, “as palavras vêm, como rebuscadas (...), na glace / de uma entonação lisa, de adocicada”, as palavras enganam e parecem mais soltas e espontâneas do que realmente são. Dessa forma, o contraste entre a busca áspera e o resultado na execução aparentemente suave da língua pelo sertanejo fica evidente.

b)   A que se refere, no texto, a palavra ela, no primeiro verso da segunda estrofe? Justifique sua resposta.

No primeiro verso da segunda estrofe, a palavra refere-se à fala do sertanejo que, segundo o eu lírico, engana por parecer lisa e adocicada, quando é, na verdade, ao natural, “falada à força”. Trata-se de um pronome pessoal utilizado como elemento anafórico.