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domingo, 29 de outubro de 2023

POEMA: A EDUCAÇÃO PELA PEDRA - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

 Poema: A educação pela pedra

              João Cabral de Melo Neto

Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, frequentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta:
lições da pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcab5sRSJZGYLxVAQ2m8GCYyKsU7FRvojU-fS1ZEc0DOfllCi32pbbSnUrgLQdlNaujpnMRgi61-mQgURdK_Qmoh8nu49GEnwwxUwIhyphenhyphenV0mO3nBV2wKpcNiHKPneXchic8FdWUlCyQf9yqhIYe5bmR682CeV0ZcHQLwllBLExPrWGWQ9yAMIYPgiJOkZM/s320/educa%C3%A7%C3%A3o-aa.png 



Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse, não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.

             Melo Neto, João Cabral de. A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. p. 21.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema principal do poema "A Educação pela Pedra"?

      O tema principal do poema é a pedra e as lições que ela pode ensinar.

02 – O que o poeta sugere ser a primeira lição que a pedra oferece?

      A primeira lição que a pedra oferece, de acordo com o poema, é uma lição de moral, mostrando sua resistência fria ao que flui e a fluir.

03 – Como o poeta descreve a pedra em relação à lição de poética?

      O poeta descreve a pedra como tendo uma "carnadura concreta" na lição de poética.

04 – Qual é o cenário onde a pedra não pode lecionar de acordo com o poema?

      A pedra não pode lecionar no Sertão, como mencionado no poema.

05 – Qual é a razão pela qual a pedra no Sertão não pode lecionar?

      No Sertão, a pedra não sabe lecionar e, mesmo que soubesse, o poema sugere que não ensinaria nada.

06 – Qual é a diferença entre as lições da pedra "de fora para dentro" e "de dentro para fora"?

      As lições "de fora para dentro" referem-se à pedra ensinando a quem a estuda de fora, enquanto as lições "de dentro para fora" se referem a como a pedra faz parte da alma das pessoas no Sertão, mesmo sem ensinar nada.

07 – Como o poema caracteriza a pedra em termos de comunicação?

      O poema caracteriza a voz da pedra como "inenfática" e "impessoal", sugerindo que a pedra tem uma comunicação não verbal e fria, como uma lição muda para aqueles que a estudam.

 



 

sábado, 14 de agosto de 2021

POEMA(FRAGMENTO): MORTE E VIDA SEVERINA - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

 POEMA(FRAGMENTO): MORTE E VIDA SEVERINA

                                       João Cabral de Melo Neto

 

O retirante explica ao leitor quem é e a que vai

– O meu nome é Severino,

como não tenho outro de pia.

Como há muitos Severinos,

que é santo de romaria,

deram então de me chamar

Severino de Maria

como há muitos Severinos

com mães chamadas Maria,

fiquei sendo o da Maria

do finado Zacarias.

João Cabral de Melo Neto. Morte e vida severina. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2007.

 

Entendendo o texto

1.   De que se trata o poema?

Narra a trajetória de um migrante nordestino em busca de condições melhores de vida no litoral.

2.   No segundo verso, o poeta usa a expressão “de pia” para se referir a qual substantivo?

         Refere-se ao substantivo “nome”, oculto no segundo verso, porém apreensível pelo contexto.

3.   De acordo com o contexto, qual é efeito de sentido causado pelo uso dessa expressão em relação ao substantivo ao qual se refere?

         Essa expressão acrescenta uma característica ao substantivo “nome” e, no contexto, refere-se ao nome de batismo do eu lírico.

4.   Considerando a resposta dada em b, reescreva o segundo verso da estrofe substituindo a expressão por um adjetivo e por uma locução adjetiva de mesmo valor semântico:

         Resposta pessoal. Dentre as possibilidades, podem ser citadas: “como não tenho outro de batismo”, “como não tenho outro batismal”.

 

terça-feira, 28 de julho de 2020

POEMA: O RELÓGIO - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

Poema: O Relógio

           João Cabral de Melo Neto


Ao redor da vida do homem

há certas caixas de vidro,

dentro das quais, como em jaula,

se ouve palpitar um bicho.

 

Se são jaulas não é certo;

mais perto estão das gaiolas

ao menos, pelo tamanho

e quadradiço de forma.

 

Uma vezes, tais gaiolas

vão penduradas nos muros;

outras vezes, mais privadas,

vão num bolso, num dos pulsos.

 

Mas onde esteja: a gaiola

será de pássaro ou pássara:

é alada a palpitação,

a saltação que ela guarda;

 

e de pássaro cantor,

não pássaro de plumagem:

pois delas se emite um canto

de uma tal continuidade

 

que continua cantando

se deixa de ouvi-lo a gente:

como a gente às vezes canta

para sentir-se existente.

 

O que eles cantam, se pássaros,

é diferente de todos:

cantam numa linha baixa,

com voz de pássaro rouco;

 

desconhecem as variantes

e o estilo numeroso

dos pássaros que sabemos,

estejam presos ou soltos;

 

têm sempre o mesmo compasso

horizontal e monótono,

e nunca, em nenhum momento,

variam de repertório:

 

dir-se-ia que não importa

a nenhum ser escutado.

Assim, que não são artistas

nem artesãos, mas operários

 

para quem tudo o que cantam

é simplesmente trabalho,

trabalho rotina, em série,

impessoal, não assinado,

 

de operário que executa

seu martelo regular

proibido (ou sem querer)

do mínimo variar.

 

A mão daquele martelo

nunca muda de compasso.

Mas tão igual sem fadiga,

mal deve ser de operário;

 

ela é por demais precisa

para não ser mão de máquina,

a máquina independente

de operação operária.

 

De máquina, mas movida

por uma força qualquer

que a move passando nela,

regular, sem decrescer:

 

quem sabe se algum monjolo

ou antiga roda de água

que vai rodando, passiva,

graçar a um fluido que a passa;

 

que fluido é ninguém vê:

da água não mostra os senões:

além de igual, é contínuo,

sem marés, sem estações.

 

E porque tampouco cabe,

por isso, pensar que é o vento,

há de ser um outro fluido

que a move: quem sabe, o tempo.

 

Quando por algum motivo

a roda de água se rompe,

outra máquina se escuta:

agora, de dentro do homem;

 

outra máquina de dentro,

imediata, a reveza,

soando nas veias, no fundo

de poça no corpo, imersa.

 

Então se sente que o som

da máquina, ora interior,

nada possui de passivo,

de roda de água: é motor;

 

se descobre nele o afogo

de quem, ao fazer, se esforça,

e que ele, dentro, afinal,

revela vontade própria,

 

incapaz, agora, dentro,

de ainda disfarçar que nasce

daquela bomba motor

(coração, noutra linguagem)

 

que, sem nenhum coração,

vive a esgotar, gota a gota,

o que o homem, de reserva,

possa ter na íntima poça.

João Cabral de Melo Neto

Entendendo o poema:

01 – Que temática é abordada no poema?

      A temática é o tempo.

02 – Qual é a primeira metáfora escolhida para o tempo nesse poema?

      É “bicho”, sendo gradativamente amenizada no decorrer das estrofes.

03 – Que mudança sofre o “bicho” no decorrer do poema?

      Passando de um “bicho” de jaula a um pássaro em uma gaiola.

04 – Em relação ao texto, julgue os itens que se seguem:

(F) O entendimento do poema é facilitado pelo fato de o título permitir que o sentido metafórico da terceira estrofe se associe à ideia de relógio.

(F) A utilização de estrofes que são quartetos e de versos de sete sílabas (redondilha maior) comprova que o Modernismo desprezou totalmente as formas tradicionais de construção de poemas.

(V) A noção de trabalho no texto apresenta as oposições: artistas e artesãos versus operários; produção variada, criativa versus produção em série, rotineira; a produção pessoal versus produção impessoal.

05 – Ainda em relação ao texto, julgue os itens seguintes:

(F) No primeiro verso do poema, a contagem das sílabas métricas exige a elisão de uma das vogais idênticas em “do homem” e a desconsideração da última sílaba gramatical do verso, por ser átona.

(F) A ocorrência próxima dos substantivos “jaula”, “jaulas”, “gaiolas”, “gaiola” e “pássaro” e das palavras com o mesmo radical “cantor”, “canto”, “cantando”, intensifica a sonoridade, a coesão e também a convergência e a densidade semântica do texto.

(V) Na interpretação de poemas, deve existir sempre uma margem de flexibilidade em consequência da multiplicidade de sentidos. Assim, na sexta estrofe, as duas ocorrências da expressão “a gente” podem ser interpretadas como nós (eu lírico e leitores) ou como as pessoas, o povo.

06 – Na tentativa de descrever o que há dentro dessas caixas de vidro, como o poema se inicia?

      Inicia-se investigando, buscando respostas diante da sua dúvida: “Se são jaulas não é certo”.

07 – Copie os versos que descrevem a passagem de jaula resistente que detém um ser feroz, para ela passa à delicadeza de uma gaiola que guarda um pássaro, de “alada palpitação”.

      “Uma vezes, tais gaiolas

       vão penduradas nos muros;

       outras vezes, mais privadas,

       vão num bolso, num dos pulsos.

 

       Mas onde esteja: a gaiola

       será de pássaro ou pássara:

       é alada a palpitação,

       a saltação que ela guarda.”

08 – A que se assemelha a imagem dos ponteiros do relógio?

      São semelhantes às asas de um pássaro, remete-nos ao tempo-pássaro, ao desejo da ave de voar, de ganhar o céu e a liberdade, mas que impossibilitada de fazê-lo, tem de contentar-se com o curto bater de suas asas dentro do espaço limitado da gaiola.

09 – O eu lírico através do poema fala da diferença entre o operário e os artesões e artistas. Explique.

      Ele diz que a figura do operário veste bem o ponteiro do relógio que trabalha sem parar, no mesmo ritmo, mecanicamente e diferentemente dos artesãos e artistas que fogem do compasso rotineiro do tempo, procurando evadir-se na arte, o trabalho dos ponteiros-operários.

 

 

 

 


sexta-feira, 24 de julho de 2020

POEMA: O FERRAGEIRO DE CARMONA - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

Poema: O Ferrageiro de Carmona    

                 João Cabral de Melo Neto

Um ferrageiro de Carmona
que me informava de um balcão:
«Aquilo? É de ferro fundido,
foi a fôrma que fez, não a mão.

Só trabalho em ferro forjado
que é quando se trabalha ferro;
então, corpo a corpo com ele,
domo-o, dobro-o, até o onde quero.

O ferro fundido é sem luta,
é só derramá-lo na fôrma.
Não há nele a queda-de-braço
e o cara-a-cara de uma forja.

Existe grande diferença
do ferro forjado ao fundido;
é uma distância tão enorme
que não pode medir-se a gritos.

Conhece a Giralda em Sevilha?
De certo subiu lá em cima
Reparou nas flores de ferro
dos quatro jarros das esquinas?

Pois aquilo é ferro forjado.
Flores criadas numa outra língua.
Nada têm das flores de fôrma
moldadas pelas das campinas.

Dou-lhe aqui humilde receita,
ao senhor que dizem ser poeta:
o ferro não deve fundir-se
nem deve a voz ter diarreia.

Forjar: domar o ferro à força,
não até uma flor já sabida,
mas ao que pode até ser flor
se flor parece a quem o diga.

                           João Cabral de Melo Neto, in 'Serial e Antes, A Educação pela Pedra e Depois, Rio de Janeiro, 1997'

Entendendo o poema:

01 – O poema mostra:

(F) O fazer poético como um processo racional, fundamentado em modelos preexistentes.

(F) A relação criador-criatura enfocada sob uma perspectiva irônica.

(V) Uma analogia entre o ofício do ferrageiro e o do poeta.

(V) A “flor” forjada como exemplo de obra de arte criativa.

(F) A criação da poesia como um processo cuja marca é a fluência das palavras, sem controle seletivo.

(V) A verossimilhança, o efeito de verdade na obra de arte, ligada à ação persuasiva do artefato sobre objeto natural.

(V) A ação de forjar ligada à marca da pessoalidade no processo criativo, contrapondo-se ao plano do fundir, cuja marca é a ausência do sujeito.

02 – João Cabral de Melo Neto, mais conhecido como o “poeta das simetrias”, apresenta um texto exato e extremamente racionalizado. Em seus poemas, rompe com o mito da poesia de inspiração, pois prega que a poesia não está no sentimento do poeta ou mesmo na beleza dos fatos, mas na organização do texto, no rigor de sua construção. Com base no poema, analise as afirmativas a seguir:

I – O poema é construído a partir de oposições semânticas, como a que existe entre “ferro forjado” e “ferro fundido”.

II – O eu lírico valoriza o trabalho com ferro fundido e desqualifica o com ferro forjado.

III – O poema se utiliza da metáfora do trabalho do ferreiro para falar do fazer poético.

É correto o que se afirma em:

a)   Apenas I.

b)   Apenas II.

c)   I e III.

d)   Apenas a III.

03 – De que se trata o poema?

      Fala do ato de criação do fazer poético.

04 – O poeta recorre a que comparação para ilustrar sua fala?

      Ele recorre à comparação do ato de forjar o metal e o ato de engendrar as palavras.

05 – Que palavras o eu lírico usa que revela-se como autoritário, firme e austero o ato de escrever?

      Ferro, forjado, fundido.

06 – Para reproduzir a labuta do ato criativo o eu lírico recorre a quê advérbios?

      Corpo a corpo, cara a cara, a gritos, a mão.

 


POEMA: O SERTANEJO FALANDO - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

Poema: O Sertanejo Falando

             João Cabral de Melo Neto

A fala a nível do sertanejo engana:
as palavras dele vêm, como rebuçadas
(palavras confeito, pílula), na glace
de uma entonação lisa, de adocicada.
Enquanto que sob ela, dura e endurece
o caroço de pedra, a amêndoa pétrea,
dessa árvore pedrenta (o sertanejo)
incapaz de não se expressar em pedra.


Daí porque o sertanejo fala pouco:
as palavras de pedra ulceram a boca
e no idioma pedra se fala doloroso;
o natural desse idioma fala à força.
Daí também porque ele fala devagar:
tem de pegar as palavras com cuidado,
confeitá-la na língua, rebuçá-las;
pois toma tempo todo esse trabalho.

                               (A educação pela pedra, 1962-1965). Fonte: www.academia.org.br O Sertanejo Falando (João Cabral de Melo Neto)

Entendendo o poema:

01 – É possível observar no poema a ocorrência de suas funções da linguagem, que são:

a)   Referencial e poética.

b)   Fática e poética.

c)   Poética e metalinguística.

d)   Emotiva e metalinguística.

02 – O poema nos revela que realidade?

      A realidade de um meio ambiente específico, da terra da educação pela pedra, terra em que “de nascença a pedra entranha a alma”, terra do martírio dos apedrejados pelas forças da natureza e pelas leis pedregosas da história.

03 – No verso: “As palavras dele vêm como rebuçadas”, o que o eu lírico quis dizer?

      Que a língua imposta é insuficiente e inadequada como instrumentos de expressão e comunicação no seu verdadeiro mundo, e por isso ele não quer obedecer às fronteiras que essa língua lhe impõe.

04 – Em que verso o eu lírico diz que é incapaz de se expressar nessa língua sem sofrer?

      “As palavras de pedra ulceram a boca”.

05 – Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre o poema.

(F) O eu lírico do poema é o próprio sertanejo que reflete sobre sua forma de falar.

(V) A ideia dos quatro primeiros versos da primeira estrofe é retomada nos quatro últimos da segunda; neles é descrita a melodia aparentemente doce da fala do sertanejo.

(V) Os quatro últimos versos da primeira estrofe estão relacionados aos quatro primeiros da segunda; neles é descrita a essência rude do falar sertanejo.

(F) O sertanejo falando opõe-se aos demais poemas de A educação pela pedra; nele João Cabral de Melo Neto apresenta um rigor formal, uma preocupação com a estrutura do poema, ausente no restante do livro.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:

a)   V – V – V – F.

b)   F – V – F – V.

c)   V – F – V – V.

d)   F – F – F – V.

e)   F – V – V – F.

06 – Esse poema consta na primeira parte de A educação pela pedra, considerada pelo autor sua obra máxima. Depois de uma leitura atenta, responda:

a)   Qual o contraste entre a busca da palavra e o resultado sua execução na boca do sertanejo?

A busca da palavra pelo sertanejo é, segundo o poema, um processo árduo: “As palavras de pedra ulceram a boca / o natural desse idioma fala à força”. No que se refere a sua execução na boca do sertanejo, “as palavras vêm, como rebuscadas (...), na glace / de uma entonação lisa, de adocicada”, as palavras enganam e parecem mais soltas e espontâneas do que realmente são. Dessa forma, o contraste entre a busca áspera e o resultado na execução aparentemente suave da língua pelo sertanejo fica evidente.

b)   A que se refere, no texto, a palavra ela, no primeiro verso da segunda estrofe? Justifique sua resposta.

No primeiro verso da segunda estrofe, a palavra refere-se à fala do sertanejo que, segundo o eu lírico, engana por parecer lisa e adocicada, quando é, na verdade, ao natural, “falada à força”. Trata-se de um pronome pessoal utilizado como elemento anafórico.

 





quarta-feira, 24 de junho de 2020

POEMA: CARTÃO DE NATAL - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

Poema:  Cartão de Natal

               João Cabral de Melo Neto

Pois que reinaugurando essa criança
pensam os homens 
reinaugurar a sua vida
e começar novo caderno, 
fresco como o pão do dia;
pois que nestes dias a aventura
parece em ponto de voo, e parece
que vão enfim poder
explodir suas sementes:

Que desta vez não perca esse caderno
sua atração núbil para o dente;
que o entusiasmo conserve vivas 
suas molas, 
e possa enfim o ferro
comer a ferrugem 
o sim comer o não.

                                        Texto extraído do livro "João Cabral de Melo Neto - Obra Completa", Editora Nova Aguilar, 1994.

Entendendo o poema:

01 – No poema, João Cabral:

a)   Critica o egoísmo, e manifesta o desejo de que na passagem do Natal as pessoas se tornem generosas e façam o sim comer o não.

b)   Demonstra a sua aversão às festividades natalinas, pois nestes dias a aventura parece em ponto de voo, mas depois a rotina segue como sempre.

c)   Critica a atração núbil para o dente daqueles que transformam o Natal em uma apologia ao consumo e se esquecem do seu caráter religioso.

d)   Observa com otimismo que o Natal é um momento de renovação em que os homens se transformam para melhor e fazem o ferro comer a ferrugem.

e)   Manifesta a esperança de que o Natal traga, de fato, uma transformação, e que, ao contrário de outros natais, seja possível começar novo caderno.

02 – É CORRETO perceber no poema uma equivalência entre:

a)   Ferrugem e aventura.

b)   Dente e entusiasmo.

c)   Caderno e vida.

d)   Sementes e pão do dia.

e)   Ferro e atração núbil.

03 – “Pois que reinaugurando essa criança...”. O segmento grifado acima pode ser substituído, no contexto, por:

a)   Mesmo que estejam.

b)   Apesar de estarem.

c)   Ainda que estejam.

d)   Como estão.

e)   Mas estão.

04 – “... que desta vez não perca esse caderno...”. Com a frase acima, o poeta:

a)   Alude a uma impossibilidade.

b)   Exprime um desejo.

c)   Demonstra estar confuso.

d)   Revela sua hesitação.

e)   Manifesta desconfiança.

 

 


terça-feira, 7 de abril de 2020

POEMA: O AUTO DO FRADE (FRAGMENTO) - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

Poema: O Auto do Frade (Fragmento)  

              João Cabral de Melo Neto

(Doze trechos deste longo e sensacional poema).

Acordar não é de dentro,
acordar é ter saída.
Acordar é reacordar-se
ao que em nosso redor gira. (p. 17)

Padre existe é para rezar
pela alma, mas não contra a fome. (p. 23)

Por que será que ele não fala,
nem diz nada sua boca muda?
Senhor que ele foi das palavras,
não há uma só que hoje acuda. (p.26)

– Parecia que estava bêbado.
Era álcool ou sua desrazão?
– Bêbado da luz do Recife:
fez esquecer sua aflição.
– Mas pareceu falar em versos.
É isso estar bêbado ou não?
– Mesmo sem querer fala em verso
quem fala a partir do coração. (p. 31)

Eu era um ponto qualquer
na planície sem medida,
em que as coisas recortadas
pareciam mais precisas,
mais lavadas, mais dispostas
segundo clara justiça. (p. 36)

Sei que traçar no papel
é mais fácil que na vida.
Sei que o mundo jamais é
a página pura e passiva.
O mundo não é uma folha
de papel, receptiva:
o mundo tem alma autônoma,
é de alma inquieta e explosiva. (p. 36)

Risco nesse papel praia,
em sua brancura crítica,
que exige sempre a justeza
em qualquer caligrafia;
que exige que as coisas nele
sejam de linhas precisas;
e que não faz diferença
entre a justeza e a justiça. (p. 37)

Parece que o sagrado é poeira:
Muito facilmente é raspado. (p. 45)

– Veio andando calmo e sem medo,
ar aberto de amigo, e brando.
– Não veio desafiando a morte
nem indiferença ostentando.
– Veio como se num passeio,
mas onde o esperasse um estranho. (p. 57)

– É um homem como qualquer um,
e profeta não se pretende.
– É um homem e isso não chegou:
um homem plantado e terrestre.
(…)
Viveu bem plantado na vida,
coisa que a gente nunca esquece. (p. 61)

O peso do morto é o motor,
porém o carrasco é o operário. (p. 69)

– Esperar é viver num tempo
em que o tempo foi suspendido.
– Mesmo sabendo o que se espera,
na espera tensa ele é abolido.
– Se se quer que chegue ou que não,
numa espera o tempo é abolido.
– E o tempo longo mais encurta
o da vida, é como um suicídio. (p. 74)
                                                          Edição: Editora Objetiva, 2010.
(Fonte: Livro - Língua, Literatura, Redação - José de Nicola. Vol.3 . 9ª ed. Ed. Scipione - p.248/9)

SÍNTESE

        O Auto do Frade de 1984, é um poema de fundo histórico falando sobre a vida e destino de Frei Caneca, condenado à morte em 1825 por estar envolvido na Confederação do Equador. Um poema para vozes, exemplo do teatro poético do autor, João Cabral de Melo Neto.
        Em Auto do Frade, a estrutura textual é diversa: os monólogos são construídos em redondilhas maiores, enquanto os demais versos são octossílabos.
        Os versos exprimem a força política e revolucionária das palavras de Frei Caneca.
        A morte é o tema central.
        Os personagens são: Frei Caneca (Joaquim do Amor Divino Rabelo), as pessoas de Recife e os oficiais da justiça.
        João Cabral divide seu poema em sete partes, que são elas: na cela, na porta da cadeia, da cadeia à Igreja do Terço, no Adro do Terço, da Igreja do Terço ao Forte, na Praça do Forte e no Pátio do Carmo; e domina seu texto de poema para vozes, diga-se de passagem, um poema para muitas vozes, onde aparecem vozes da sociedade em geral que vai, desde as autoridades jurídicas, eclesiásticas, políticas, militares e o povo representado pelas ruas do Recife.

Entendendo o poema:

01 – De que se trata este poema?
      É de fundo histórico falando sobre a vida e o destino de Frei Caneca.

02 – Por que ele é condenado à morte em 1825?
      Por estar envolvido na Confederação do Equador.

03 – O Auto do Frade tem uma estrutura textual diversa. Explique.
      Os monólogos são construídos em redondilhas maiores, enquanto os demais versos são octossílabos.

04 – Como se divide o poema? Explique.
      Divide-se em sete partes, que são elas: na cela, na porta da cadeia, da cadeia à Igreja do Terço, no Adro do Terço, da Igreja do Terço ao Forte, na Praça do Forte e no Pátio do Carmo.

05 – Nos versos: “Padre existe é para rezar / pela alma, mas não contra a fome”. (p. 23). De que o Frade falava nestes versos?
      Ele tinha o dom da palavra, seus sermões eram capazes de mobilizar bastante pessoas; por isso, proibido de falar, pois sua fala causava grande perigo ao Império.