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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

SONETO: EU DELIRO, GERTRÚRIA, EU DESESPERO - MANOEL BOCAGE - COM GABARITO

 Soneto: Eu Deliro, Gertrúria, eu Desespero

              Manoel Bocage

Eu deliro, Gertrúria, eu desespero
No inferno de suspeitas e temores.
Eu da morte as angústias e os horrores
Por mil vezes sem morrer tolero.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsGgkawzDCTcii7Qe5oh1FyfYYg1oxY7I6K7gwqZsJrz3wfnTNBVh0GtpDIZL9y28tEyTmPoX93kjXcUTT2n9lhjjTkh8L0z7qGpqmFjp9iJOE699x6tbJfhHSndpHCBeLVbzKod1DjAjFlD9GC9jSlMqEcRm0_oPZPq0jGQf_waV7dOj8W7TRu9fZmqg/s1600/BOCAGE.jpg



Pelo Céu, por teus olhos te assevero
Que ferve esta alma em cândidos amores;
Longe o prazer de ilícitos favores!
Quero o teu coração, mais nada quero.

Ah! não sejas também qual é comigo
A cega divindade, a Sorte dura.
A vária Deusa, que me nega abrigo!

Tudo perdi: mas valha-me a ternura
Amor me valha, e pague-me contigo
Os roubos que me faz a má ventura.

BOCAGE, M. M. Barbosa du. Sonetos. Lisboa: Livraria Bertrand, s/d.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 385.

Entendendo o soneto:

01 – Qual a principal emoção expressa pelo eu lírico nesse soneto?

      A principal emoção expressa pelo eu lírico é a angústia amorosa. O poeta se encontra em um estado de sofrimento intenso, marcado pela incerteza, pelo medo e pela desesperança em relação ao amor que sente por Gertrúria.

02 – Como o eu lírico descreve o estado emocional em que se encontra?

      O eu lírico descreve seu estado emocional como um verdadeiro inferno. Ele se sente atormentado por suspeitas e temores, e a ideia da morte ronda seus pensamentos. A repetição de "eu deliro" e "eu desespero" intensifica a ideia de um sofrimento profundo e quase insustentável.

03 – Qual a importância da figura de Gertrúria no poema?

      Gertrúria é a figura central do poema, a musa inspiradora do sofrimento do eu lírico. Ela é idealizada como um ser celestial, mas ao mesmo tempo inalcançável. A amada é vista como a causa e o objeto do amor do poeta, e sua presença ausente intensifica a dor do amante.

04 – Que tipo de amor o eu lírico expressa por Gertrúria?

      O amor expresso pelo eu lírico é um amor passional e idealizado. Ele se declara apaixonado de forma intensa e fervorosa, buscando a pureza e a sinceridade nos sentimentos de Gertrúria. O poeta rejeita os "ilícitos favores" e deseja apenas o coração da amada.

05 – Qual a relação entre o sofrimento amoroso e a figura da Fortuna no poema?

      O sofrimento amoroso do eu lírico é atribuído à Fortuna, personificada como uma deusa cega e cruel. A Fortuna é vista como a responsável por negar o amor ao poeta, roubando sua felicidade e condenando-o à infelicidade. O amor, por sua vez, é visto como a única força capaz de compensar as perdas causadas pela má sorte.

 




 

SONETO: RECREIOS CAMPESTRES NA COMPANHIA DE MARÍLIA - BOCAGE - COM GABARITO

 Soneto: Recreios campestres na companhia de Marília

             Bocage

Olha, Marília, as flautas dos pastores
Que bem que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores?

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBwSTDkHSJct6yLpbhyphenhyphenLJE93t3kGCgz82W5wqB6295QZ2PleITHFZGTWQZ5nGJl1MTB4sZ16kGgmKFi_IEnYSj0_EEZ5hT-wdrkZDpIYaYE-Ghl2B_R8v60Lsb5xiTtHwhC1nctScQoL886_Ii-nJnIvpJA9ZR2e_P31yysSV_4Kdlc-NTqBIJ0OmqbXA/s320/BOCAGE.jpg 
Marília, as flautas dos pastores
Vê como ali beijando-se os Amores

Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes,
As vagas borboletas de mil cores!

Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Ora nas folhas a abelhinha para,
Ora nos ares sussurrando gira:

Que alegre campo! Que manhã tão clara!
Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira,
Mais tristeza que a morte me causara.

BOCAGE. Obras de Bocage. Porto: Lello & Irmão, 1968. p. 152.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 386.

Entendendo o soneto:

01 – Qual a principal temática explorada por Bocage nesse soneto?

      A principal temática é a celebração da natureza e do amor em um cenário bucólico. O poeta convida sua amada Marília a apreciar a beleza do campo, dos animais e das flores, tudo isso enquanto expressa seus sentimentos apaixonados.

02 – Que elementos da natureza são descritos no soneto e qual o efeito que eles causam no eu lírico?

      Bocage descreve diversos elementos da natureza, como as flautas dos pastores, o rio Tejo, os Zéfiros (ventos suaves), as flores, borboletas, o rouxinol e as abelhas. Esses elementos evocam sensações de prazer, alegria e leveza no eu lírico, que se sente em harmonia com o ambiente natural.

03 – Qual o papel de Marília no poema?

      Marília é a destinatária do poema e a companheira do eu lírico. Ela é convidada a apreciar a beleza da natureza ao lado do poeta, e sua presença intensifica a felicidade e o prazer do momento. A figura de Marília serve como um catalisador para a expressão dos sentimentos amorosos do eu lírico.

04 – Qual a importância do contraste entre a beleza da natureza e o sentimento expresso nos últimos versos?

      O contraste entre a beleza da natureza e a tristeza expressa nos últimos versos enfatiza a dependência emocional do eu lírico em relação a Marília. A beleza do campo só tem sentido para ele quando compartilhada com a amada. A ausência de Marília transformaria a natureza em algo triste e sem graça.

05 – Que características do Arcadismo podem ser identificadas nesse soneto?

      O soneto apresenta diversas características do Arcadismo, como:

·        A valorização da natureza e da vida simples no campo;

·        A busca pela beleza e pela harmonia;

·        O uso de elementos da mitologia clássica (Zéfiros);

·        A expressão de sentimentos amorosos em um contexto bucólico;

·        A presença de um eu lírico que se identifica com a natureza.

 

 

SONETO: MEU SER EVAPOREI NA LIDA INSANA - M.M.BARBOSA DU BOCAGE - COM GABARITO

 Soneto: Meu ser evaporei na lida insana

             M. M. Barbosa du Bocage

Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel de paixões, que me arrastava.
Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Em mim quase imortal a essência humana.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMEU_JvcdWl3MRYrive6sz0ox9YBXpn15XMvgRa3NJejOvzOXFxiudYUO9gwkX11Mj0bNbf5FWlud8sBEokzPoJmqNGrGswOkrKG9T2wut7kjCFxJKHGBbdCxodac_YhhlGHWqhESD-WIMRkHCz3fc-ZhDbg7W78lAJSsyKWtNPU3LFTV1H89quGJUzGg/s320/BOCAGE.jpg


De que inúmeros sóis a mente ufana
Existência falaz me não dourava!
Mas eis sucumbe a Natureza escrava
Ao mal, que a vida em sua origem dana.

Prazeres, sócios meus e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos.

Deus, oh Deus!… Quando a morte a luz me roube,
Ganhe num momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube.

BOCAGE, M. M. Barbosa du. Sonetos. Lisboa: Livraria Bertrand, s/d.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 384.

Entendendo o soneto:

01 – Qual a principal temática abordada por Bocage nesse soneto?

      O soneto de Bocage explora a efemeridade da vida, a luta contra as paixões e o arrependimento diante da morte. O eu lírico reflete sobre a vaidade das ambições mundanas e a busca incessante por prazeres que, no final, se revelam ilusórios.

02 – Que figura de linguagem é predominante no soneto? E qual o seu efeito?

      A metáfora é a figura de linguagem mais evidente no soneto. Bocage utiliza diversas metáforas para expressar seus sentimentos e ideias, como "Meu ser evaporei na lida insana", comparando sua vida ao vapor que se dissipa. O efeito dessas metáforas é intensificar a expressão dos sentimentos do eu lírico e criar imagens mais vívidas para o leitor.

03 – Qual a importância da natureza no contexto do soneto?

      A natureza é representada como uma força poderosa e implacável que subjuga o homem. A "Natureza escrava" simboliza a condição humana, subjugada pelas paixões e pelos males da vida. A natureza, portanto, representa um contraponto à vaidade humana e à busca por imortalidade.

04 – Qual o papel da religião no soneto?

      A religião aparece no soneto como uma busca por consolo e salvação diante da morte. O eu lírico invoca Deus, expressando um desejo de redenção e de que, após a morte, possa compensar os erros cometidos durante a vida.

05 – Qual o tom geral do soneto? E como ele se relaciona com a temática abordada?

      O tom geral do soneto é melancólico e reflexivo. O eu lírico demonstra arrependimento pelas escolhas feitas e pela vida levada, expressando um sentimento de angústia diante da finitude da existência. Esse tom melancólico reforça a temática da efemeridade da vida e da necessidade de refletir sobre as nossas ações.

 

 

terça-feira, 7 de maio de 2024

POESIA:PALACIANA "GLOSA" - MANUEL MARIA DE BARBOSA DU BOCAGE - COM GABARITO

 POESIA: PALACIANA “GLOSA”

               Manuel Maria de Barbosa du Bocage

MOTE

Almas, vidas, pensamentos.

GLOSA

Calções, polainas, sapatos,
Percevejos, pulgas, piolhos,
Azeites, vinagres, molhos,
Tigelas, pires e pratos:
Cadelas, galgos e gatos,
Pauladas, dores, tormentos,
Burros, cavalos, jumentos,
Naus, navios, caravelas,
Corações, tripas, moelas,
Almas, vidas, pensamentos!

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLm4qlGEosKk0M-Iau_vcy6gskOcJ5xL-3pXVOFj9Ab__60RMFuXIrWqug0MH7lNKBDu0aGS4NJFRge_CpmsJn1lvhZCWsA5dSUa4AMsDqPR4G_uqKhZFQpeqFtFPIzQm5ExHEookpEqW-_IfcPhv_731htRQ5UvuTBDV9aM2rXo84krDZhsg6dF7_LRE/s320/ALMAS.jpg


Manuel Maria Barbosa du Bocage. In: LAJOLO, Marisa (Seleção de textos, notas, estudos biográficos e críticos). Bocage. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1990. p. 88.

Fonte: Língua Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem. Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição. São Paulo, 2016. p. 119-120.

Entendendo a poesia:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo.

·        Mote: motivo prévio, tema inicial composto de poucos versos. Pode ser uma cantiga popular, um poema, um provérbio, um trocadilho ou mesmo uma criação original do próprio poeta.

·        Glosa: estrofe que retoma e desenvolve o mote.

·        Galgos: cães muito ágeis, de pernas compridas e abdômen estreito.

02 – Embora a poesia de Bocage seja composta de palavras muito diferentes, há nele uma coerência interna. Observe atentamente cada um dos versos e explique que tipo de relação pode ser estabelecida entre das palavras que os compõem e entre eles.

      As três palavras que compõem o mote da poesia – “Almas, vidas, pensamentos” – são interpretadas por Bocage como pertencentes ao mesmo campo semântico. Dessa forma, ele desenvolve uma glosa composta de nove versos novos, estruturados em três palavras de mesmo campo semântico, para dar continuidade ao esquema proposto no mote. Disso decorre a coerência textual.

03 – Baseando-se nas definições de Mote e Glosa, você defenderia que a poesia de Bocage segue o padrão dos poemas medievais, ou seja, os versos que compõem a glosa retomam e desenvolvem um mote (motivo, tema)? Justifique.

      Não, na poesia de Bocage o mote não é propriamente desenvolvido, Ele serve apenas de inspiração formal para que o poeta escreva a glosa.

04 – O que é a estrutura principal desta poesia?

      A poesia "Glosa" é uma composição estruturada como uma lista de palavras em forma de verso, organizada em rima.

05 – Quais elementos cotidianos são mencionados na lista de palavras?

      A poesia faz uma enumeração de objetos e seres cotidianos, como calções, polainas, sapatos, percevejos, pulgas, piolhos, azeites, vinagres, molhos, tigelas, pires, pratos, cadelas, galgos, gatos, pauladas, dores, tormentos, burros, cavalos, jumentos, naus, navios, caravelas, corações, tripas, moelas.

06 – Qual é a intenção do autor ao listar esses objetos e seres?

      O autor parece fazer uma reflexão sobre a diversidade da existência e a complexidade do mundo através da enumeração caótica de elementos mundanos e vivos.

07 – O que a poesia sugere sobre a natureza da vida e do pensamento?

      A poesia sugere uma visão da vida como uma sucessão caótica de elementos e seres diversos, refletindo a complexidade e a diversidade da experiência humana e da mente.

08 – Como os versos finais ("Almas, vidas, pensamentos!") resumem o tema geral da poesia?

      Os versos finais enfatizam a profundidade e a essência da vida humana, apontando para a interioridade dos seres por trás da multiplicidade de formas e experiências enumeradas ao longo da poesia.

POESIA: IMPORTUNA RAZÃO, NÃO ME PERSIGAS - MANUEL MARIA DE BARBOSA DU BOCAGE - COM GABARITO

 Poesia: Importuna Razão, não me persigas

            Manuel Maria de Barbosa du Bocage

Importuna Razão, não me persigas;
Cesse a ríspida voz que em vão murmura;
Se a lei de Amor, se a força da ternura
Nem domas, nem contrastas, nem mitigas;

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwHregY4CBKteCk3lkvdztmyP8B0j7ncno5h28D3eda5DK6iz3ni0UgWMNz0jNWHudkoo46zGSqGX3DWWUHmNo86aduN4zFuruuy0NRmZEHj7RWg2BlXtFMHQr6hqxjuAltVi8-XJHMgMl2vUILbRX2Kz0nYnnzXcBVmOiA4XwhfXu71mdFxEfeePzfAg/s320/RAZ%C3%83O.jpg



Se acusas os mortais, e os não abrigas,
Se (conhecendo o mal) não dás a cura,
Deixa-me apreciar minha loucura,
Importuna Razão, não me persigas.

É teu fim, teu projeto encher de pejo
Esta alma, frágil vítima daquela
Que, injusta e vária, noutros laços vejo.

Queres que fuja de Marília bela,
Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo
É carpir, delirar, morrer por ela.

BOCAGE, Manuel Maria de Barbosa du. In: LAJOLO, Marisa (Seleção de textos, notas, estudos biográficos e críticos). Bocage. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1990. p. 36-37.

Fonte: Língua Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem. Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição. São Paulo, 2016. p. 117.

Entendendo a poesia:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Importuna: incômoda, inconveniente.

·        Pejo: sentimento de vergonha.

·        Mitigas: alivias, aplacas.

·        Carpir: lamentar, prantear.

02 – Qual é o tema central da poesia "Importuna Razão, não me persigas"?

      O tema central da poesia é o conflito entre a razão e o amor, em que o eu lírico suplica para que a razão não interfira em seus sentimentos amorosos.

03 – Quem é Marília, mencionada na poesia?

      Marília é a pessoa amada pelo eu lírico, uma figura feminina pela qual o poeta expressa profundos sentimentos e desejos.

04 – Como o eu lírico descreve a interferência da razão em sua vida amorosa?

      O eu lírico descreve a razão como importuna e ríspida, tentando domar ou mitigar seus sentimentos de amor e loucura por Marília.

05 – Qual é a atitude do eu lírico em relação às acusações da razão?

      O eu lírico parece rejeitar as acusações da razão e expressa o desejo de apreciar sua própria loucura, indicando uma preferência pelos sentimentos amorosos em detrimento da lógica racional.

06 – Qual é a ironia presente na expressão "Deixa-me apreciar minha loucura"?

      A ironia está em reconhecer a própria loucura romântica como algo apreciável e legítimo, mesmo que a razão tente reprimi-la ou criticá-la.

07 – Que tipo de dilema emocional o eu lírico enfrenta em relação a Marília?

      O eu lírico enfrenta o dilema emocional de ser atraído por Marília, mesmo reconhecendo injustiça e variabilidade nela, o que contrasta com a racionalidade.

08 – Como o eu lírico expressa seu desejo final em relação a Marília?

      O eu lírico expressa um desejo intenso por Marília, desejando não fugir dela, mas sim lamentar, delirar e até morrer por ela, apesar das contradições percebidas.

 

domingo, 26 de maio de 2019

SONETO: A FROUXIDÃO NO AMOR É UMA OFENSA - BOCAGE - COM GABARITO

Soneto: A frouxidão no amor é uma ofensa
                
                       Bocage

A frouxidão no amor é uma ofensa,
Ofensa que se eleva a grau supremo;
Paixão requer paixão, fervor e extremo;
Com extremo e fervor se recompensa.

Vê qual sou, vê qual és, vê que diferença!
Eu descoro, eu praguejo, eu ardo, eu gemo;
Eu choro, eu desespero, eu clamo, eu tremo;

Em sombras a razão se me condensa.

Tu só tens gratidão, só tens brandura,
E antes que um coração pouco amoroso,
Quisera ver-te uma alma ingrata e dura.

Talvez me enfadaria aspecto iroso,
Mas de teu peito a lânguida ternura
Tem-me cativo e não me faz ditoso.

                              Manuel Maria Barbosa du Bocage

Entendendo o soneto:

01 – Há, a seguir, um conjunto de características comuns à poesia árcade. Indique quais delas se verificam no soneto em estudo.
·        Pastoralismo.
·        Amor convencional.
·        Bucolismo.
·        Mitologia clássica.
·        Manutenção de formas clássicas; uso preferencial do soneto.
·        Racionalismo.
·        Fugere urbem.
·        Carpe diem.

02 – Para o eu lírico, o amor:
a)   Em demasia ofende o ser amado.
b)   É um sentimento supremo.
c)   Tem algumas recompensas.
d)   Deve ser uma entrega total.

03 – No verso “Vê qual sou, vê qual és, vê que diferença!”, o eu lírico expressa:
a)   Uma comparação.
b)   Uma suposição.
c)   Uma dúvida.
d)   Uma ironia.

04 – Segundo os versos do poema, as atitudes da mulher amada:
a)   Surpreendem o eu lírico.
b)   Desagradam o eu lírico. 
c)   Enlouquecem o eu lírico.
d)   Encantam o eu lírico.

05 – O eu lírico apresenta-se no poema como uma pessoa:
a)   Racional.
b)   Passional.
c)   Ingrato.
d)   Violento.

06 – De acordo com o poema:
a)   O eu lírico sente-se preso e infeliz.
b)   O eu lírico sente-se plenamente amado.
c)   O eu lírico considera a pessoa amada dura e ingrata.
d)   O eu lírico vive bem com a pessoa amada apesar das diferenças.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

POEMA: FÍLIS E AMOR - BOCAGE - COM GABARITO

Poema: Fílis e Amor
           
   Bocage

Num denso bosque
pouco trilhado,
e a termos crimes
Acomodado,

Por entre a rama
Fresca e sombria
do tenro arbusto
Que me encobria,

Vi sem aljava
Jazer Cupido
junto a Fílis,
À mãe fugido.


A mais brilhante
dele afastando
Dizia a Fílis
com riso brando:

" Mimosa Ninfa
Glória de amor,
De-me um beijinho,
por esta flor?"

"Sou criancinha,
não tenhas pejo",
Sorriu-se Fílis,
Dando-lhe um beijo.

Mas o travesso
logo outro pede
À simples ninfa
que lhe concede.

Que por matar-lhe
Doces desejos,
A cada instante
Repete os beijos.

Assim brincavam
Fílis e Amor,
Eis que o menino
Sempre traidor

Com a pequenina
Boca risonha
Lhe comunica
Sua Peçonha.

Descora Fílis,
e de repente
Solta um suspiro
D'Alma inocente.

Mal que o gemido
Férvido soa
O mau Cupido
com ela voa.

Ninguém, ó Ninfa
(Diz a voar)
Brinca comigo
sem suspirar.
              Manuel Maria Barbosa du Bocage. In: Poesia. Org.
Leodegário A. de Azevedo Filho. Rio de Janeiro, Agir, 1985.

Entendendo o poema:

01 – Bocage não estava interessado na mitologia por ela mesma. Como sempre ocorre nas obras do Arcadismo, nesta cançoneta os deuses são utilizados como um recurso expressivo. Esse encontro de Cupido com a ninfa Fílis constitui uma alegoria. Escreva um resumo do pequeno enredo em que se envolvem as personagens alegóricas do poema.
      Tendo fugido de Vênus, sua mãe, Cupido brinca com Fílis, num bosque. Conseguindo enganar a ninfa na troca de rosas por beijos, pretensamente inocentes, comunica-lhe o veneno do amor. Perdendo sua inocência, ela suspira de desejos.

02 – Numa alegoria, cada detalhe é importante para a concretização dos elementos abstratos. A paisagem descrita nas primeiras estrofes já possui um significado alegórico. Quais são as características do bosque que tornam adequado para os encontros amorosos?
      O bosque é “denso” e “pouco trilhado”, e por isso acostumado a “ternos crimes”.

03 – Cupido, traiçoeiramente, consegue se valer da ingenuidade de Fílis. Qual o argumento utilizado por Cupido para obter o primeiro beijo?
      Ele diz que Fílis não deve se envergonhar, porque ele é apenas uma criancinha.

04 – Podemos agora interpretar a alegoria, traduzindo seus elementos. O Cupido, por exemplo, representa o amor, que se insinua nas relações mais inocentes.
a)   O que Fílis representa?
Representa a mulher ingênua; ou a mulher que se julga invulnerável ao amor; a mulher que acredita poder brincar com o amor, sem se apaixonar.

b)   O que o bosque representa?
Representa o conjunto de circunstâncias que tornam a pessoa mais vulnerável ao amor: o isolamento, a solidão, etc.

c)   Qual é a “moral da história”, enunciado pelo próprio Cupido?
Ninguém brinca com o amor sem suspirar, isto é, sem sofrer.

quarta-feira, 2 de maio de 2018

POEMA: À MESMA - BOCAGE - COM GABARITO

 Poema: À Mesma

Texto I

        Neste soneto, Bocage fala sobre os prazeres vividos pelos amantes em um cenário acolhedor.


Se é doce no recente, ameno Estio
Ver toucar-se a manhã de etéreas flores,
E, lambendo-se as areias, e os verdores,
Mole e queixoso deslizar-se o rio:

Se é doce no inocente desafio
Ouvirem-se os voláteis amadores,
Seus versos modulando, e seus ardores
Dentre os aromas do pomar sombrio:

Se é doce mares, céus ver anilados
Pela quadra gentil, de Amor querida,
Que esperta os corações, floreia os prados:

Mais doce é ver-te de meus ais vencida,
Dar-me em teus brandos olhos desmaiados
Morte, morte de amor, melhor que a vida.

                   Bocage, Manuel Maria Barbosa du. Obras de Bocarge.
                                     Porto: Lello & Irmão Editores, 1968. p. 423.


Texto II: Doçura de, no estio recente

        Manuel Bandeira reelabora, neste poema, o soneto de Bocage.

Doçura de, no estio recente,
Ver a manhã toucar-se de flores
E o rio mole queixoso
Deslizar, lambendo areias e verduras;

Doçura de ouvir as aves
Em desafio de amores
Cantos, risadas
Na ramagem do pomar sombrio.

Doçura de ver mar e céus
Anilados pela quadra gentil
Que floreia as campinas
Que alegra os corações.

Doçura muito maior
De te ver
Vencida pelos meus ais
Me dar nos teus brandos olhos desmaiados
Morte, morte de amor, muito melhor do que a vida,
Puxa!
                                      Bandeira, Manoel. Poesia completa e prosa.
                                          Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985. p. 78.


Entendendo o poema:
01 – O que há de comum entre os dois poemas?
      Os dois poemas dizem essencialmente o mesmo, tanto que podemos reconhecer no poema de Bandeira quase todos os versos presentes no soneto de Bocage.

02 – Em termos formais, em que eles se diferenciam?
      O poema de Bocage é um soneto composto por versos decassílabos que apresentam rimas interpoladas (ABBA ABBA CDC CDC). Manuel Bandeira abandona a forma fixa utilizada por Bocage (soneto); ele não faz uso de uma métrica regular nem de rimas.

03 – As três primeiras estrofes do soneto de Bocage introduzem um raciocínio baseado em hipóteses. A conclusão desse raciocínio é apresentada na última estofe do soneto.
a)   Que raciocínio é esse?
      As hipóteses propostas nas três estrofes dizem respeito às alegrias e prazeres provocados pela possibilidade de alguém usufruir os dons da natureza.
      Na primeira estrofe, o eu lírico destaca o prazer de ver uma manhã de verão se enfeitar de flores e acompanhar a trajetória do rio, que banha as areias e os prados.
      Na segunda estrofe, a alegria de desfrutar o canto dos pássaros em um pomar.
      Na terceira estrofe, o eu lírico fala da doçura de ver os mares e céus azulados pela primavera, que traz alegria para os corações e enche os prados de flores.

     b) Qual a conclusão a que chega o eu lírico?
      O eu lírico conclui que o prazer associado à natureza é menor do que aquele oferecido pelos braços da amada.

04 – A linguagem é um elemento fundamental da releitura que Bandeira faz do soneto de Bocage. Por quê?
      Bandeira elimina as inversões sintáticas e usa sinônimos para alguns dos termos utilizados por Bocage. Ao fazer isso, produz quase uma “tradução” moderna do poema de Bocage.

05 – O poema de Bandeira apresenta palavras organizadas de forma diferente. O que essa disposição sugere ao leitor?
      Na primeira estrofe, os adjetivos mole e queixoso foram separados em dois versos independentes, que sugerem o caminho da água do rio, que desliza “lambendo areias e verduras”.
      Na segunda estrofe, a sobreposição dos substantivos amorescantos e risadas em verso diferentes pode ilustrar o efeito dos cantos dos pássaros, que se confundem na alegria do pomar, ou também criar uma imagem gráfica que lembra a presença dos pássaros, nos galhos das árvores, enquanto cantam.

06 – Considere, agora, as diferenças identificadas.
     a) Com base nelas é possível afirmar que o segundo poema é mais moderno do que o primeiro? Explique.
      Sim. O fato de não ser um poema com forma fixa, de haver uma disposição diferente das palavras, de haver uma estrutura sintática mais direta, tudo isso caracteriza um estilo mais despojado, que soa mais atual.

     b) A interjeição, puxa! presente no final do poema de Bandeira, ajuda a caracterizar um olhar mais atual para o tema do amor? Por quê?
      Sim. A interjeição puxa! traduz uma certa irreverência e ironia sobre tantas maravilhas associadas ao tema do amor no poema de Bocage. Esse é um cenário positivo demais para ser apresentado por um poeta do século XX.