Soneto: Eu Deliro, Gertrúria, eu Desespero
Manoel Bocage
Eu deliro, Gertrúria, eu
desespero
No inferno de suspeitas e temores.
Eu da morte as angústias e os horrores
Por mil vezes sem morrer tolero.
Pelo Céu, por teus olhos te assevero
Que ferve esta alma em cândidos amores;
Longe o prazer de ilícitos favores!
Quero o teu coração, mais nada quero.
Ah! não sejas também qual é comigo
A cega divindade, a Sorte dura.
A vária Deusa, que me nega abrigo!
Tudo perdi: mas valha-me a ternura
Amor me valha, e pague-me contigo
Os roubos que me faz a má ventura.
BOCAGE, M. M. Barbosa du. Sonetos. Lisboa: Livraria Bertrand, s/d.
Fonte: Português – José
De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora
Scipione. p. 385.
Entendendo o soneto:
01
– Qual a principal emoção expressa pelo eu lírico nesse soneto?
A principal
emoção expressa pelo eu lírico é a angústia amorosa. O poeta se encontra em um
estado de sofrimento intenso, marcado pela incerteza, pelo medo e pela
desesperança em relação ao amor que sente por Gertrúria.
02
– Como o eu lírico descreve o estado emocional em que se encontra?
O eu lírico
descreve seu estado emocional como um verdadeiro inferno. Ele se sente
atormentado por suspeitas e temores, e a ideia da morte ronda seus pensamentos.
A repetição de "eu deliro" e "eu desespero" intensifica a
ideia de um sofrimento profundo e quase insustentável.
03
– Qual a importância da figura de Gertrúria no poema?
Gertrúria é a
figura central do poema, a musa inspiradora do sofrimento do eu lírico. Ela é
idealizada como um ser celestial, mas ao mesmo tempo inalcançável. A amada é
vista como a causa e o objeto do amor do poeta, e sua presença ausente
intensifica a dor do amante.
04
– Que tipo de amor o eu lírico expressa por Gertrúria?
O amor expresso
pelo eu lírico é um amor passional e idealizado. Ele se declara apaixonado de
forma intensa e fervorosa, buscando a pureza e a sinceridade nos sentimentos de
Gertrúria. O poeta rejeita os "ilícitos favores" e deseja apenas o
coração da amada.
05
– Qual a relação entre o sofrimento amoroso e a figura da Fortuna no poema?
O sofrimento
amoroso do eu lírico é atribuído à Fortuna, personificada como uma deusa cega e
cruel. A Fortuna é vista como a responsável por negar o amor ao poeta, roubando
sua felicidade e condenando-o à infelicidade. O amor, por sua vez, é visto como
a única força capaz de compensar as perdas causadas pela má sorte.