TEXTO: QUANDO A INTERNET SE TRANSFORMA EM VÍCIO
Adultos e adolescentes desenvolvem dependência pelo universo digital e são obrigados a fazer tratamento para se livrarem do problema.
No Orkut, a badalada rede de amizades da internet, uma adolescente abre a discussão: “Galera, vocês já foram chamados de doentes por causa do computador?”. A pergunta é encarada com naturalidade. “ já várias vezes”, admite uma garota. “Deixo de sair, ver TV e até mesmo dormir”, conta um jovem. “Passei o fim de semana todo na internet. Eu tentava parar, mas era mais forte que eu”, relata um internauta. “O viciado em droga diz que para quando quiser, mas nunca consegue. Será esse o nosso caso? ” outro adolescente levanta a hipótese.
Esses cinco internautas estão entre os mais de 600 que fazem parte de uma comunidade do Orkut chamada “Viciados em Internet Anônimos”. Embora o nome tenha sido propositalmente criado com um quê de exagero e outro de humor, médicos e psicólogos alertam que a comparação feita pelo último adolescente não é nada absurda: assim como as drogas, o álcool e o cigarro, a internet pode causar dependência.
“Ninguém se torna dependente de uma coisa que não traz prazer. A internet é, sem dúvida, prazerosa e se torna dependência quando passa a preencher uma carência, diminuir a ansiedade, aliviar uma angústia”, diz o psiquiatra André Malbergier, coordenador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo(USP).
O vício se concentra nos programas de conversa em tempo real, como o MSN Messenger e as salas de bate-papo. Como se pode “teclar” com várias pessoas ao mesmo tempo, não é difícil que o internauta passe horas e horas na frente do computador.
Os especialistas dizem que é cada vez maior o número de pessoas com essa nova queixa, mas que ainda é impossível estimar o tamanho do problema. “Pouquíssimas pessoas de dizem dependentes porque a internet não tem cara de vício. Ao contrário da droga, que fica escondida, a internet está em casa, no trabalho e até na rua”, diz a psicóloga em Informática, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Dois grupos
Os poucos que procuram ajuda podem ser divididos em dois grupos. O primeiro é formado por adolescentes, levados por pais preocupados com as notas baixas na escola e as atitudes antissociais. O segundo é composto por adultos que só se dão conta do problema quando o rendimento no trabalho cai por causa das madrugadas em frente ao computador ou quando o casamento já está por um fio.
A compulsão pelo computador já foi a causa de episódios trágicos. Nos Estados Unidos, em1997, a Justiça condenou uma mulher a dois anos e meio de prisão porque deixava os três filhos pequenos trancados durante horas no quarto para conversar com amigos virtuais. Cinco anos mais tarde, na Coreia do Sul, dois jovens morreram de exaustão depois de passar mais de 48 horas numa LAN house (casa de jogos de computador e internet).
No Brasil, o uso da internet cresce a cada dia. Segundo uma pesquisa Ibope/NetRatings, o Brasil é o país que mais usa a internet no mundo, com 15 horas e 14 minutos por usuários residencial durante o mês de abril – liderança que pertencia ao Japão.
Ajuda
“O caso é tão parecido com o da droga que o dependente de internet também tem a síndrome da abstinência. Quando tenta diminuir o uso do computador, fica irritadiço e ansioso”, diz o neuropsicólogo Daniel Fuentes, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
O tratamento também é semelhante ao que se submete um dependente de droga. Inclui psicoterapia para tentar descobrir que conflitos pessoais levaram à dependência – parte dos viciados em internet, dizem os especialistas, têm extrema dificuldade de relacionamento social.Em muitos casos é preciso tomar remédios que diminuam o impulso pelo computador.
A psiquiatra Norma Martino Magolbo diz que os pais podem ajudar a evitar o problema: “Computador não pode ficar no quarto das crianças ou dos adolescentes. Deve ficar num lugar comum da casa, por onde todos passem. Assim fica mais difícil que o filho se feche e se isole”.
Apesar dos riscos da internet, os especialistas lembram que a dependência é exceção. “Não podemos transformar a internet no vilão, porque o problema é o uso que nós fazemos dela”, diz Maluh Duprat, da PUC-SP .”A internet é um instrumento fundamental. Não dá para viver sem ela.”
Aprisionado pela tela do computador
“Quando eu saio de casa para o trabalho, ele está lá. Eu chego em casa, ele continua lá. Entro no banho, ele está lá. Saio do banho, ele continua no mesmíssimo lugar”, conta a mãe de Pedro(nome fictício), um adolescente de 14 anos. O “lá” a que ela se refere é o computador da família.
O incômodo com o filho sempre grudado na internet piorou quando as notas no colégio começaram a despencar. ”Aquilo não era normal”, diz ela, que resolveu levá-lo a um psicólogo em agosto do ano passado para descobrir qual era o problema. Diagnóstico: vício em internet.
Pedro chegou a ficar 13 horas seguidas diante do computador, conversando com os 101 amigos que ele diz ter no MSN Messenger (programa de conversa em tempo real)- muitos dos quais nunca conheceu pessoalmente. “Foi horrível depois que desliguei o computador naquele dia. Minhas costas começaram a doer muito”, lembra o adolescente.
Além das notas do colégio, outro sinal de que havia um certo exagero na internet eram as contas de telefone que chegavam no fim do mês. De R$40, saltaram para R$150. A internet é propositalmente de conexão discada, e não de banda larga, para que sirva de medida – e freio – do tempo de acesso.
Desde que o problema foi descoberto, Pedro se consulta toda semana com um psicólogo. Ele diz que ainda passa muito tempo na internet, mas que já tomou consciência de que é preciso se controlar. “Estou começando a ver que tenho como dividir meu tempo. Antes eu dizia para mim mesmo que ia ficar só uma hora na internet, mas acabava ficando o dia inteiro. Agora consigo me controlar um pouco.”
A mãe mal pode esperar pelo momento de ver o filho fora do computador. “Se conseguiu passar 13 horas na internet, tenho certeza de que ainda vai ficar pelo menos uma hora lendo um livro.”
Quando a internet se transforma em vício.
Correio de Uberlândia, 21 maio 2008.
ESCREVENDO SOBRE O TEXTO
1.No texto são relatadas, de forma detalhada, informações sobre determinado assunto ou acontecimento, que merecem ser divulgadas ao público em geral. Qual assunto está sendo divulgado?
R- A dependência digital.
2.De acordo com o texto, que situações podem fazer com que uma pessoa se vicie na internet?
R- Preencher uma carência diminuir a ansiedade, aliviar a angústia,, geralmente tem extrema dificuldade de relacionamento social.
3.O texto cita alguns recursos da internet que incentivam as pessoas a passar horas na frente de um computador. Que recursos são esses?
R- Salas de bate-papo, jogos virtuais,watsap, facebook e outros.
4.Em um parágrafo do texto, a psiquiatra Norma Martino Magolbo diz que os pais podem ajudar a evitar o problema da dependência da internet.
De que modo eles podem fazer isso?
R- Que o computador deve ficar num lugar comum da casa, por onde todos passam.
5.Como essa atitude auxilia a evitar esse problema?
R- Assim fica mais difícil que o filho se feche e se isole.
6.Segundo o texto, alguns grupos de pessoas buscam ajuda para se livrar da dependência da internet.
a)Quais grupos são esses?
R- O primeiro é formado por adolescentes, levados por pais e o outro é composto por adultos.
b)O que leva a buscar ajuda?
R- O primeiro grupo quando as notas diminuíram na escola e as atitudes antissociais; já os adultos só se dão conta do problema quando o rendimento no trabalho cai por causa das madrugadas em frente ao computador ou quando o casamento já está por um fio.
7- Em sua opinião, por que para algumas pessoas é difícil assumir que elas estão viciadas em internet?
Resposta Pessoal