Poema: O CORVO –
Fragmento
Edgar
Allan Poe
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
“Uma visita”, eu me disse, “está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais.”
Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipGcUt4JT05ur9UMKW1TEUQZ7VmdULJB4so5flWFWm087eArDd4IAUpinvchEzJkd47fAG0JRN1HrsBRXWiF0rbhv2bNotcymTI7R7Y_eWufkqhYftd3jTb8RSN__mN2Qp7X6DS9CwDWnQrMl20CTcxEIewRzh-tALKGLhu5W9FY-JgE1ZmhhGDhtpjsE/s320/Corvus-brachyrhynchos-001.jpg
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Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu’ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P’ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais –
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!
[...]
Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
“Maldito”, a mim disse, “deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!”
Disse o Corvo, “nunca mais”.
[...]
“Profeta”, disse eu, “profeta – ou demônio ou ave preta! –
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais,
Dize a esta alma entristecida, se no Éden de outra vida,
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!”
Disse o Corvo, “Nunca mais”.
“Que esse grito nos aparte, ave ou diabo”, eu disse.
“Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!”
Disse o Corvo, “Nunca mais”.
E o Corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda,
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha dor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais.
E a minh’alma dessa sombra que no chão há de mais e mais,
Libertar-se-á… nunca mais!
POE, Edgar Allan. Três
poemas e uma gênese com traduções de Fernando Pessoa. Lisboa: & etc. Você
encontra o texto original, em inglês, e a tradução completa de Fernando Pessoa
no endereço http://www.lsi.usp.br/art/pessoa/coligidas/trad/theraven.html No
endereço http://thorns.com.br/HTM_Noticias/EdgarAllanPoeHistoria.htm você
encontra a tradução de Fernando Pessoa e a de Machado de Assis.
Fonte: Português – José
De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora
Scipione. p. 298-299.
Entendendo o poema:
01
– Qual a atmosfera predominante no início do poema? Como o poeta a constrói?
A atmosfera
predominante no início do poema é de melancolia, solidão e mistério. Poe a
constrói através da descrição de uma noite escura e tempestuosa, da leitura de
livros antigos e obscuros, e da evocação da figura da amada falecida. A escolha
de palavras como "agreste", "triste",
"ancestrais", "morrendo negro" e "umbrais"
contribui para criar esse clima sombrio e introspectivo.
02
– Qual o papel do corvo na história? O que representa para o narrador?
O corvo
representa um símbolo da morte, da perda e da melancolia para o narrador. Sua
aparição na escuridão da noite e sua insistente repetição da frase "nunca
mais" intensificam a angústia do protagonista, que busca em vão um alívio
para sua dor. O corvo pode ser interpretado como uma personificação da própria
morte, que atormenta o narrador com a lembrança da amada perdida.
03
– Qual a importância da repetição da frase "nunca mais" no poema?
A repetição da
frase "nunca mais" tem um efeito hipnótico e obsessivo, reforçando a
ideia de que o narrador está preso a um ciclo de dor e sofrimento do qual não
consegue escapar. Essa repetição também enfatiza a irreversibilidade da morte e
a impossibilidade de reencontrar a amada.
04
– Como a figura da amada falecida é representada no poema? Qual o seu papel na
história?
A amada falecida
é representada como uma figura idealizada e inalcançável. Seu nome não é
revelado, o que a torna ainda mais misteriosa e desejada. A presença da amada
na memória do narrador intensifica sua solidão e sofrimento, e a
impossibilidade de reencontrá-la o leva a uma profunda depressão.
05
– Quais as emoções predominantes no narrador? Como elas se manifestam no poema?
As emoções
predominantes no narrador são a tristeza, a angústia, a solidão e a
desesperança. Essas emoções se manifestam através de suas reflexões sobre a
morte da amada, da busca por um alívio para sua dor e da interação com o corvo.
A linguagem poética, marcada por imagens sombrias e vívidas, contribui para
transmitir a intensidade dessas emoções.
06
– Qual o papel da atmosfera gótica na construção do poema?
A atmosfera
gótica, caracterizada por elementos como o mistério, o terror, a morte e o
sobrenatural, desempenha um papel fundamental na construção do poema. Ela cria
um clima de suspense e angústia, intensificando as emoções do narrador e do
leitor. A presença do corvo, da noite escura e da figura da amada falecida são
elementos típicos do gótico que contribuem para a construção dessa atmosfera.
07
– Qual a mensagem principal do poema?
A mensagem
principal do poema pode ser interpretada como uma reflexão sobre a natureza da
dor, da perda e da morte. Poe explora a intensidade do sofrimento humano diante
da finitude e da impossibilidade de controlar o destino. A história do narrador
serve como um alerta sobre os perigos da obsessão e da melancolia, e a
importância de buscar um significado para a vida mesmo diante da dor.