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domingo, 8 de junho de 2025

POEMA: TREMELIQUES - TATIANA BELINKY - COM GABARITO

 Poema: Tremeliques

             Tatiana Belinky

Eu ataco os preocupados

Nervosinhos, meio assustados,

Que olham em redor

Com certo temor

Volta e meia sobressaltados.

 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8696GznLZeMa1CEtk11KXtZ0nZFw6bCRSNwOTuyYDYA5xyTAg4DMArvqeMi8SH2mqz7fkyZXvfxPTTkSLT3t5kX1RQmsllUEiNuE93TZxh4ufxBx_qKg-WUQLAbIgaBszIUrSoJt9jY9d9HLCK5RGflCqfyhdqy7Gp7-RB7huD-inu3rOqIM0uOs0W3c/s320/generate_card.jpg

“Tremeliques” atacam à toa

Menino, menina ou coroa

Eles são a frescura

Que às vezes tem cura

Mas a vítima é qualquer pessoa.

Belinky, Tatiana. Limeriques dos tremeliques. São Paulo: Biruta, 2006. p. 12 e 16.

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 98.

Entendendo o poema:

01 – Quem são as vítimas preferenciais dos "Tremeliques" no poema?

      Os "Tremeliques" atacam principalmente os preocupados, nervosinhos e meio assustados, que olham ao redor com certo temor e vivem sobressaltados.

02 – A que tipo de pessoa os "Tremeliques" podem afetar, de acordo com o poema?

      Os "Tremeliques" podem atacar a qualquer pessoa, seja menino, menina ou coroa (adulto).

03 – Como o poema descreve a natureza dos "Tremeliques"?

      O poema descreve os "Tremeliques" como uma "frescura" que, às vezes, pode ter cura.

04 – Qual o estado emocional das pessoas que sofrem de "Tremeliques"?

      As pessoas que sofrem de "Tremeliques" estão preocupadas, nervosas, assustadas e vivem com temor, sentindo-se sobressaltadas.

05 – Apesar de serem uma "frescura", os "Tremeliques" são incuráveis?

      Não, o poema sugere que os "Tremeliques", embora sejam uma "frescura", às vezes têm cura.

 

 

quarta-feira, 4 de junho de 2025

POEMA: O ENGENHEIRO - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

 Poema: O engenheiro

             João Cabral de Melo Neto

A luz, o sol, o ar livre
envolvem o sonho do engenheiro.
O engenheiro sonha coisas claras:
superfícies, tênis, um copo de água.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiV-Q4htCeOjTFPvD-PeTVbd9tHS2P1w05pm2TThJ-W7bVdM0zt3ZzUUTUgrOwZbiXQV0qQTofp2T20fjKLqguiwTsn4prrgBNG4AdeKFeRlVm3Hd0RS9OFIYAIqjrQFH4gXjUyKboWHXFvreyNCIxy7u-n4TSwnVFNYdwEsCxz25Jax5LUBprmA0x5LAk/s320/praia-de-grumari-rio-de-janeiro-ao-ar-livre.jpg


O lápis, o esquadro, o papel;
o desenho, o projeto, o número:
o engenheiro pensa o mundo justo,
mundo que nenhum véu encobre.

(Em certas tardes nós subíamos
ao edifício. A cidade diária,
como um jornal que todos liam,
ganhava um pulmão de cimento e vidro).

A água, o vento, a claridade,
de um lado o rio, no alto as nuvens,
situavam na natureza o edifício
crescendo de suas forças simples.

João Cabral de Melo Neto. Poesia completas. 3. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979. p. 376.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 341.

Entendendo o poema:

01 – Quais são os elementos que inspiram o "sonho" e o "pensamento" do engenheiro, de acordo com o poema?

      Os elementos que inspiram o engenheiro são a luz, o sol, o ar livre, e objetos concretos e precisos como superfícies, tênis, um copo de água, lápis, esquadro, papel, desenho, projeto e número.

02 – Como o poema descreve o tipo de "mundo" que o engenheiro aspira construir?

      O engenheiro pensa em um "mundo justo", um mundo que "nenhum véu encobre", sugerindo algo transparente, lógico e sem ilusões ou enganos.

03 – Qual a relação entre o edifício em construção e a cidade, conforme a terceira estrofe?

      O edifício é comparado a um "pulmão de cimento e vidro" que a "cidade diária, como um jornal que todos liam, ganhava", indicando que a construção trazia vitalidade e uma nova dimensão à vida urbana.

04 – De que forma o poema situa o edifício em relação à natureza?

      O edifício é situado na natureza através de elementos como a água, o vento, a claridade, o rio e as nuvens, mostrando que ele cresce a partir e em harmonia com as "suas forças simples".

05 – Qual a visão geral do poema sobre o papel do engenheiro e da engenharia?

      O poema apresenta uma visão do engenheiro como um sonhador e pensador prático, que busca construir um mundo claro e justo através de elementos concretos e da lógica. A engenharia é retratada como uma disciplina que se integra à natureza, transformando o ambiente e impulsionando o desenvolvimento urbano com precisão e transparência.

 

 

 

domingo, 1 de junho de 2025

POEMA: O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO - FRAGMENTO - VINÍCIUS DE MORAES - COM GABARITO

 Poema: O operário em construção – Fragmento

              Vinicius de Moraes

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEsvUWqkPE00zUsVh1wnJkO2PxZGmwsmudb7gn2KKx-sctjWvE10PNZuqg9yz1pNIXpA3IusijzKZjfmquc1bArDyfhjymNXKoE0LfMq_D9Z3aQZSKx09UJFbcKXKfXLN77ApYytnYbUsmT1AkUu08ueOAvzVLZsGe72WcCYAHNfUNYAnlFueSYenawmo/s320/maxresdefault.jpg

Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

[...]

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
— Garrafa, prato, facão —
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!

[...].

Poesia completa e prosa, cit. p. 293-294.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 274.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal atividade do operário descrita no início do poema e qual a comparação inusitada utilizada para ilustrar sua ascensão nas construções?

      A principal atividade do operário é erguer casas onde antes só havia chão. A comparação inusitada utilizada para ilustrar sua ascensão é a de "um pássaro sem asas", que, paradoxalmente, sobe com as casas que lhe "brotavam da mão", enfatizando a força de seu trabalho manual.

02 – Segundo o poema, que aspectos importantes da sua própria obra o operário desconhecia inicialmente?

      Inicialmente, o operário desconhecia a "grande missão" do seu trabalho. Especificamente, não sabia que a casa de um homem é um "templo sem religião" e que a casa que ele construía, embora representasse a liberdade para outros, era para ele uma forma de "escravidão", aprisionando-o em um ciclo de trabalho.

03 – Que "fato extraordinário" o operário passa a compreender em um determinado momento, e qual a situação cotidiana que desencadeia essa revelação?

      O "fato extraordinário" que o operário passa a compreender é que "o operário faz a coisa / E a coisa faz o operário", revelando uma relação de interdependência e transformação mútua entre o trabalhador e o produto do seu trabalho. Essa revelação ocorre em uma situação cotidiana, à mesa, ao cortar o pão.

04 – Após a súbita emoção, o que o operário constata de forma "assombrada" ao olhar ao seu redor?

      Ao olhar ao seu redor, o operário constata de forma "assombrada" que praticamente tudo o que está à sua volta – desde os objetos simples da mesa ("garrafa, prato, facão") até estruturas maiores como "gamela, banco, enxerga, caldeirão", e até mesmo conceitos abstratos como "casa, cidade, nação" – era ele quem fazia, ele, um humilde operário em construção.

05 – Qual a mudança na autopercepção do operário que o poema destaca ao final do fragmento?

      A mudança na autopercepção do operário é que ele passa de ser um mero executor de tarefas ("um humilde operário / Um operário em construção") para um indivíduo consciente do seu papel fundamental na criação do mundo material ("Ele, um humilde operário / Um operário que sabia / Exercer a profissão"). Há um reconhecimento do seu valor e da sua habilidade.

06 – A quem o eu lírico se dirige na penúltima estrofe e qual a sua afirmação sobre o conhecimento do operário naquele momento?

      O eu lírico se dirige aos "homens de pensamento" e afirma que eles nunca saberão o quanto aquele humilde operário soube naquele momento. Isso sugere que a compreensão do operário, embora não intelectualizada, possui uma profundidade e um significado que escapam àqueles que apenas teorizam sobre o trabalho.

07 – Qual a principal reflexão sobre o trabalho e a consciência do trabalhador que emerge deste fragmento do poema?

      A principal reflexão que emerge é sobre a complexa relação entre o trabalhador e o seu trabalho, a alienação inicial da sua importância e o potencial despertar para a consciência do seu papel fundamental na construção da realidade. O poema destaca a dignidade do trabalho manual e a profunda compreensão que pode surgir da experiência prática, contrastando com a mera abstração intelectual.

 

POEMA: MÚSICA - FRAGMENTO - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poema: Música – Fragmento

             Cecília Meireles

Noite perdida,
não te lamento:
embarco a vida
no pensamento,
busco a alvorada
do sonho isento,
puro e sem nada,
- rosa encarnada,
intacta, ao vento.
Noite perdida,
noite encontrada,
morta, vivida,
[...].

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1WifcYnPeyAYON5nuyBcki_c_sYmC9XNh2y89W-Wf6ZaBH6TNp2sh5R7XniNyMXNfuBIL8z6qV-wh5CFCO-KOGbLzwfysdWmDfXIqmyWncwk_RiVzlfhsoJM-k5PkHLT0yZuLOg61UpyhyYxndPXHlDRNgL0MP0jAe_8Llil_20OunBPtoG7kExd3NjM/s320/2309752-silhueta-design-de-jovem-solitario-em-noite-silenciosa-no-pico-do-penhasco-vetor.jpg


Cecília Meireles. Obra poética, cit., p. 84-85.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 269.

Entendendo o poema:

01 – Qual a atitude do eu lírico em relação à "noite perdida" mencionada no início do poema?

      A atitude do eu lírico em relação à "noite perdida" é de não lamentá-la ("não te lamento"). Essa postura sugere uma aceitação do passado ou de uma experiência talvez negativa, sem se deter na tristeza ou no arrependimento.

02 – Onde o eu lírico decide "embarcar a vida" e qual o destino dessa jornada?

      O eu lírico decide "embarcar a vida no pensamento". O destino dessa jornada é a busca pela "alvorada do sonho isento", um sonho puro e livre de influências ou pesos ("sem nada").

03 – Que imagem é utilizada para descrever a natureza desse sonho buscado pelo eu lírico?

      A natureza desse sonho buscado é descrita através da imagem de uma "- rosa encarnada, / intacta, ao vento". Essa imagem evoca beleza, pureza, intensidade (encarnada), preservação (intacta) e liberdade (ao vento).

04 – Qual a aparente contradição apresentada na última estrofe do fragmento em relação à "noite perdida"?

      A aparente contradição é que a "noite perdida" é, simultaneamente, uma "noite encontrada". Essa dualidade sugere que mesmo as experiências negativas ou os momentos perdidos podem levar a algum tipo de descoberta, aprendizado ou novo sentido.

05 – Qual a sensação geral que o fragmento do poema transmite em relação ao passado e ao futuro?

      A sensação geral transmitida é de um desapego do passado ("noite perdida, não te lamento") e uma esperançosa busca pelo futuro ("busco a alvorada do sonho isento"). Há uma aceitação do que se foi, mas um direcionamento da energia vital para a construção de um futuro idealizado e puro, ancorado no poder do pensamento.

 



 

POEMA: PEQUENA CANÇÃO DA ONDA - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poema: Pequena canção da onda

             Cecília Meireles

Os peixes de prata ficaram perdidos,
com as velas e os remos, no meio do mar.
A areia chamava, de longe, de longe,
ouvia-se a areia chamar e chorar!

 Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKBax4yemmXjoxnzvuo8XBWN1NzoOqcegibxjIQ8WICLDr1t3Ak2-vdIRG-NskfV7pWUhxRae11pCXgnqLsP2oNZcFg-uM0Usi0uNNDIBUD2mEL41e9bJS9PORoIJ1i7rSdc8qD2VDlcv6hrO14ox97dStvpNrqKzJ-J-5TsZonvNI5YGaIIForxehSMk/s320/65118921-desenho-animado-desenhado-%C3%A0-m%C3%A3o-da-paisagem-do-mar-desenho-animado-colorido-do-fundo-do-mar-ou-do-oc.jpg


A areia tem rosto de música
e o resto é tudo luar!

Por ventos contrários, em noite sem luzes,
do meio do oceano deixei-me rolar!
Meu corpo sonhava com a areia, com a areia,
desprendi-me do mundo do mar!

Mas o vento deu na areia.
A areia é de desmanchar.
Morro por seguir meu sonho,
longe do reino do mar!

Cecília Meireles. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1987. p. 145.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 269.

Entendendo o poema:

01 – Qual a situação inicial apresentada no poema em relação aos "peixes de prata" e onde eles se encontram?

      A situação inicial apresenta os "peixes de prata" como perdidos "com as velas e os remos, no meio do mar". Essa imagem sugere uma desorientação e uma mistura de elementos marítimos (velas e remos) com a natureza dos peixes, criando uma sensação de deslocamento e talvez de busca.

02 – Como a areia é personificada no poema e qual o seu apelo para o eu lírico?

      A areia é personificada como algo que "chamava, de longe, de longe" e que se podia "ouvir a areia chamar e chorar!". Esse apelo distante e carregado de emoção (choro) sugere um forte desejo ou nostalgia do eu lírico pela terra firme, pela estabilidade e talvez por um estado de ser diferente do oceano.

03 – Que características são atribuídas à areia na segunda estrofe e como essa descrição se contrasta com o "resto" do cenário?

      À areia é atribuído um "rosto de música", sugerindo uma qualidade sonora, rítmica e talvez melancólica. Essa descrição contrasta com o "resto" do cenário, que é definido como "tudo luar!", evocando uma atmosfera mais etérea, luminosa e talvez fria ou distante.

04 – Qual a decisão tomada pelo eu lírico em relação ao oceano e qual o seu destino ao alcançar a areia?

      O eu lírico decide se deixar rolar "do meio do oceano" por "ventos contrários, em noite sem luzes", impulsionado pelo sonho com a areia. No entanto, ao alcançar a areia, descobre que "a areia é de desmanchar", revelando a fragilidade e a impermanência do seu objeto de desejo.

05 – Qual o sentimento final expresso pelo eu lírico e qual a causa desse sentimento?

      O sentimento final expresso pelo eu lírico é de morte iminente: "Morro por seguir meu sonho, / longe do reino do mar!". A causa desse sentimento é a desilusão ao perceber a natureza efêmera da areia, o que o leva a um destino fatal por ter abandonado seu ambiente natural (o reino do mar) em busca de um sonho que se desfaz. O poema evoca uma reflexão sobre a busca por ideais e as possíveis consequências da desilusão.

 

 

POEMA: PARA NÃO DEIXAR DE AMARTE NUNCA - PABLO NERUDA - COM GABARITO

 Poema: Para não Deixar de Amarte Nunca

             Pablo Neruda

Saberás que não te amo e que te amo 
pois que de dois modos é a vida, 
a palavra é uma asa do silêncio, 
o fogo tem a sua metade de frio. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9aH0CvYui852OCjICeKYAbMBwxAGmYrIlZSx7NvxUeZoEi9ydbTX7ZuevUwUjbHAA_aZa4yGNKjoE0tAw6950Qyjgzyui48Ii0gZ7qjP1x0EiYGE6iEBdr7hheO8LZ_0aFnoo-evP853Uz4NEDV3lG9xr7xNwOhoeIZ6R3LaIEkUjFnnzJtd9MbzOVxs/s1600/images.jpg


Amo-te para começar a amar-te, 
para recomeçar o infinito 
e para não deixar de amar-te nunca: 
por isso não te amo ainda. 

Amo-te e não te amo como se tivesse 
nas minhas mãos a chave da felicidade 
e um incerto destino infeliz. 

O meu amor tem duas vidas para amar-te. 
Por isso te amo quando não te amo 
e por isso te amo quando te amo. 

Pablo Neruda. Presente de um poeta. 3. ed. Tradução de Thiago de Mello. São Paulo: Ver, 2003. p. 26-27.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 238.

Entendendo o poema:

01 – Qual a aparente contradição expressa no primeiro verso ("Saberás que não te amo e que te amo") e como os versos seguintes tentam explicar essa dualidade?

      A aparente contradição reside na afirmação simultânea de não amar e amar. Os versos seguintes explicam essa dualidade ao apresentar a vida como tendo "dois modos", a palavra como uma "asa do silêncio" e o fogo com sua "metade de frio". Essas imagens paradoxais sugerem que o amor de Neruda é complexo, permeado por opostos que coexistem e se complementam, indicando uma profundidade que vai além de uma simples afirmação ou negação.

02 – Na segunda estrofe, qual o propósito declarado do eu lírico ao amar ("Amo-te para começar a amar-te") e como essa intenção se relaciona com a ideia de eternidade e a razão de ainda não amar completamente ("por isso não te amo ainda")?

      O propósito declarado é amar para "começar a amar-te", para "recomeçar o infinito" e para "não deixar de amar-te nunca". Essa intenção revela um amor que se projeta para o futuro, buscando a eternidade e a continuidade. A razão de ainda não amar completamente ("por isso não te amo ainda") sugere que esse amor é um processo contínuo, um eterno recomeço, e que a plenitude do sentimento reside nessa busca incessante e não em um estado finalizado.

03 – Como o eu lírico descreve a natureza do seu amor na terceira estrofe, utilizando a metáfora da "chave da felicidade" e do "incerto destino infeliz"?

      O eu lírico descreve seu amor como algo que não possui a "chave da felicidade" em suas mãos, nem um "incerto destino infeliz". Essa metáfora sugere que seu amor não é uma garantia de felicidade plena nem está fadado à tristeza. É um sentimento mais genuíno e desapegado, que existe independentemente de promessas de felicidade ou temores de infelicidade.

04 – Qual a afirmação final do eu lírico sobre a duração do seu amor ("O meu amor tem duas vidas para amar-te") e como isso se conecta com a dualidade apresentada no início do poema?

      A afirmação final de que seu amor tem "duas vidas para amar-te" reforça a dualidade apresentada no início do poema. Essas "duas vidas" podem ser interpretadas como as duas faces do amor expressas ao longo do poema: o amar e o não amar simultaneamente, o presente e o futuro, a intensidade e a busca. Essa dualidade é essencial para a perpetuação do sentimento.

05 – Qual a principal ideia ou sentimento que o poema busca transmitir sobre a natureza do amor, considerando as contradições e a linguagem paradoxal utilizada?

      A principal ideia transmitida é a de que o amor verdadeiro é complexo, dinâmico e paradoxal. Ele não se limita a uma simples afirmação, mas abrange contradições e um movimento constante de recomeço. O poema sugere que a intensidade do amor reside justamente nessa dualidade, nessa busca incessante e na promessa de um sentimento que se renova perpetuamente, evitando a estagnação e garantindo sua eternidade ("para não deixar de amar-te nunca").

POEMA: CRISTO - JOSÉ RÉGIO - COM GABARITO

 Poema: CRISTO

             José Régio
Quando eu nasci, Senhor, já tu lá estavas,
Crucificado, lívido, esquecido.
Não respondeste, pois, ao meu gemido,
Que há muito tempo já que não falavas...

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWG6vl1XSyX4Q8hPNlTZVkSl_9ojQTVpZw2kFyw-kbQ3OHYXZugDLFajBVtBh6Ueu_HwIJZaGvc6jRqwQ6TuhfEsaRkU6JQlJvKf8HZr1cIQcjTL3g0stZ7WJUX3IrnHR_j0JCzpaY6IhG1zJk_Zb_Jxy3t_jYVwfUbUTG1yEBHLGWX1dNOL-zcZXNhvI/s1600/download.png



Redemoinhavam, longe, as turbas bravas,
Alevantando ao ar fumo e alarido.
E a tua benta Cruz de Deus vencido,
Quis eu erguê-la em minhas mãos escravas!

A turba veio então, seguiu-me os rastros;
E riu-se, e eu nem sequer fui açoitado,
E dos braços da Cruz fizeram mastros...

Senhor! eis-me vencido e tolerado:
Resta-me abrir os braços a teu lado,
E apodrecer contigo à luz dos astros!

Poemas de Deus e do diabo. 8. ed. Porto: Brasília Ed. 1972. p. 31.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 211.

Entendendo o poema:

01 – Qual a primeira constatação do eu lírico ao se referir a Cristo no início do poema, e que tom essa constatação estabelece para o restante dos versos?

      A primeira constatação do eu lírico é que, no momento de seu nascimento, Cristo já estava crucificado, "lívido, esquecido". Esse tom estabelece uma atmosfera de sofrimento preexistente, de abandono e de um silêncio divino que precede a própria existência do eu lírico, permeando todo o poema com uma sensação de ausência de resposta e de um fardo já imposto.

02 – Como o eu lírico descreve a reação das "turbas bravas" e qual o contraste que ele estabelece com a imagem de Cristo na cruz?

      O eu lírico descreve as "turbas bravas" como algo distante, em movimento caótico ("Redemoinhavam, longe"), produzindo "fumo e alarido". Esse barulho e agitação contrastam fortemente com a imagem de Cristo "crucificado, lívido, esquecido" e com o seu silêncio, evidenciando a indiferença ou hostilidade do mundo em relação ao sofrimento de Cristo.

03 – Qual a ação que o eu lírico deseja realizar em relação à cruz de Cristo e o que essa ação simboliza?

      O eu lírico deseja erguer a "benta Cruz de Deus vencido" em suas "mãos escravas". Essa ação simboliza uma tentativa de resgate, de identificação com o sofrimento de Cristo e talvez um desejo de dar um novo significado ou de assumir o peso dessa cruz em um mundo que parece tê-la abandonado.

04 – Descreva a reação da turba diante da tentativa do eu lírico de erguer a cruz. Qual a ironia presente nessa reação?

      A turba seguiu os rastros do eu lírico e riu-se dele, e ele sequer foi açoitado. A ironia reside no fato de que Cristo, ao carregar a cruz, sofreu açoitamento e a crucificação, enquanto o eu lírico, em sua tentativa de reerguer o símbolo desse sofrimento, é apenas ridicularizado e ignorado pela mesma turba. Isso sugere uma banalização do sacrifício e uma perda da sua significância para o mundo.

05 – Qual a resolução final do eu lírico diante de sua própria derrota e da aparente indiferença do mundo? Que imagem final encerra o poema?

      A resolução final do eu lírico é aceitar sua derrota ("eis-me vencido e tolerado") e se unir ao sofrimento de Cristo: "Resta-me abrir os braços a teu lado, / E apodrecer contigo à luz dos astros!". A imagem final é a de ambos, o eu lírico e Cristo, em um estado de decadência lado a lado, sob a fria e distante luz dos astros, enfatizando um sentimento de desolação e de um destino compartilhado de sofrimento e esquecimento.

 

POEMA: OS CORTEJOS - MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: Os cortejos

             Mário de Andrade

Monotonias das minhas retinas...

Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...

Todos os sempres das minhas visões! "Bon Giorno, caro".

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5oBec4uoOuK4I1zlfWTmaL33TxJJw8eKWiCsy9bmo8GHeptXRnb4Ab6ZY2S9oSkwmTFJkrbqUTT3z6huSNXhjR2RkVJj0jSD46y4A48fekT79zEC3NPUNpNmcgFkKwLOmlcHcLNTcxfgPBGMYArMzvDpbIYTviThvDrw3g9BJ9nwj2Nc-CNDYsxysdKI/s320/cortejo-ao-mar-fotos-carlos-de-los-santos-1-720x475.jpg

Horríveis as cidades!

Vaidades e mais vaidades...

Nada de asas! Nada de poesia! Nada de alegria!

Oh! os tumultuários das ausências!

Paulicéia — a grande boca de mil dentes;

e os jorros dentre a língua trissulca

de pus e de mais pus de distinção...

Giram homens fracos, baixos, magros...

Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...

 

Estes homens de São Paulo,

todos iguais e desiguais,

quando vivem dentro dos meus olhos tão ricos,

parecem-me uns macacos, uns macacos.

Poesias completas. São Paulo: Círculo do Livro. s. d. p. 40.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 95.

Entendendo o poema:

01 – Qual a sensação inicial expressa pelo eu lírico em relação às suas próprias percepções ("Monotonias das minhas retinas...") e como ele descreve o movimento das pessoas que observa?

      A sensação inicial expressa pelo eu lírico é de monotonia em suas próprias percepções ("Monotonias das minhas retinas..."). Ele descreve o movimento das pessoas que observa como "Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...", sugerindo um fluxo contínuo, talvez repetitivo e inquietante, de indivíduos.

02 – Como o eu lírico expressa sua aversão às cidades na segunda estrofe? Quais elementos ele associa a essa crítica?

      O eu lírico expressa sua aversão às cidades chamando-as de "Horríveis!" e as associa a "Vaidades e mais vaidades...". Ele sente falta de elementos que considera essenciais, como "Nada de asas! Nada de poesia! Nada de alegria!". A cidade é vista como um lugar de "tumultuários das ausências", onde algo fundamental está faltando.

03 – Que imagem forte e negativa o eu lírico utiliza para descrever a cidade de São Paulo ("Paulicéia")?

      O eu lírico utiliza a imagem forte e negativa de "Paulicéia — a grande boca de mil dentes; / e os jorros dentre a língua trissulca / de pus e de mais pus de distinção...". Essa metáfora apresenta a cidade como uma entidade voraz e doentia, com uma linguagem corrompida pela superficialidade e pela busca incessante por distinção social.

04 – Como o eu lírico descreve fisicamente os homens de São Paulo que observa, e a que comparação depreciativa ele os associa quando os vê através de seus "olhos tão ricos"?

      O eu lírico descreve fisicamente os homens de São Paulo como "fracos, baixos, magros...". Quando os observa através de seus "olhos tão ricos", ele os associa a uma comparação depreciativa, chamando-os de "uns macacos, uns macacos", sugerindo uma visão de inferioridade, imitação ou falta de individualidade.

05 – Qual a principal crítica social e/ou existencial que parece emergir do poema "Os Cortejos"?

      A principal crítica que emerge do poema parece ser uma crítica à superficialidade, à monotonia e à falta de autenticidade da vida urbana moderna, especialmente em São Paulo. O eu lírico expressa um profundo desencanto com as vaidades sociais, a ausência de poesia e alegria, e a aparente homogeneização e perda de individualidade dos habitantes da cidade, vistos como seres repetitivos e até mesmo animalescos. O poema revela um olhar crítico e desiludido sobre a sociedade e a condição humana no contexto urbano.

 

 

POEMA: AS JANELAS - FRAGMENTO - GUILLAUME APOLLINAIRE - COM GABARITO

 Poema: AS JANELAS – Fragmento

            Guillaume Apollinaire

Do vermelho ao verde todo amarelo morre
Quando cantam as araras nas florestas natais
[...]
Aves chinesas de uma asa só voando em dupla
É preciso um poema sobre isso
Enviaremos mensagem telefônica

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOLFx3Lec2D_B3-MMWbKzGgF9a7BIxzeq73G4P-hMKTeqE9st46FxhInQIUSqypQP1moi6vQX0rdSCFfTMD5nWwX7f2zCFlrHz4eueJdEQMf4KeZOteRnh7emzDVvo2LRcpvgYRESTImKWeGmJZuJxLdi0HF1SbM8uHgY0nBvsQngfILdoaM9mPaTb-us/s320/JANELAS.jpg


Traumatismo gigante
Faz escorrer os olhos
Garota bonita entre jovens turinenses
O moço pobre se assoava na gravata branca
Você vai erguer a cortina
E agora veja a janela se abre
Aranhas quando as mãos teciam a luz
Beleza palidez insondáveis violetas
Tentaremos em vão ter algum descanso
Vamos começar à meia-noite
Quando se tem tempo tem-se a liberdade
Marisco Lampreia múltiplos Sóis e o Ouriço do crepúsculo
Um velho par de sapatos amarelos diante da janela
Tours

As Torres são as ruas
[...]

Ó Paris
Do vermelho ao verde todo jovem perece
Paris Vancouver Hyères Maintenon Nova York e as Antilhas
A janela se abre como uma laranja
O belo fruto da luz.

Guillaume Apollinaire. Tradução de Décio Pignatari. In: Décio Pignatari, org. 31 poetas e 214 poemas – Do Rig-Veda e Safo a Apollinaire. São Paulo: Companhia das Letras, 199. p. 109-110.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 31.

Entendendo o poema:

01 – Qual o significado da palavra lampreia, no texto?

      É um animal marinho.

02 – Qual a imagem inicial do poema e o que a cor amarela parece simbolizar na primeira estrofe?

      A imagem inicial do poema é a transição de cores "do vermelho ao verde", culminando na morte do "todo amarelo". A cor amarela, nesse contexto, parece simbolizar transitoriedade, o fim de um ciclo ou talvez um estado de declínio entre a vitalidade (vermelho) e a esperança ou natureza (verde).

03 – Identifique duas imagens que evocam o exótico ou o distante no poema e explique brevemente seus possíveis significados.

      Duas imagens que evocam o exótico são "araras nas florestas natais" e "Aves chinesas de uma asa só voando em dupla". As araras remetem a terras tropicais e exuberantes, sugerindo um lugar distante e talvez idealizado. As aves chinesas de uma asa só, voando em dupla, criam uma imagem surreal e misteriosa, ligada a uma cultura distante e a uma necessidade de complementaridade para alcançar o movimento.

04 – Quais elementos do poema sugerem a modernidade e a quebra com a poesia tradicional?

      Vários elementos sugerem a modernidade e a quebra com a tradição: a menção a "mensagem telefônica" como forma de comunicação, a expressão abrupta "Traumatismo gigante", a justaposição de imagens díspares sem uma conexão lógica aparente ("Garota bonita entre jovens turinenses / O moço pobre se assoava na gravata branca"), e a própria fragmentação do poema. A ausência de rima e métrica regulares também contribui para essa sensação de modernidade e liberdade formal.

05 – Analise a metáfora presente na penúltima estrofe: "A janela se abre como uma laranja / O belo fruto da luz." O que essa comparação sugere?

      A metáfora compara a abertura da janela a uma laranja, descrita como o "belo fruto da luz". Essa comparação sugere uma explosão de luminosidade e vitalidade, assim como ao abrir uma janela e deixar a luz entrar. A laranja, com sua forma arredondada e cor vibrante, evoca também uma sensação de plenitude e frescor, como se a janela fosse uma fonte de energia e beleza natural.

06 – Qual a sensação geral que o fragmento do poema transmite ao leitor, considerando a variedade de imagens e a aparente falta de uma narrativa linear?

      A sensação geral que o fragmento transmite é de fragmentação, dinamismo e uma tentativa de capturar a complexidade e a simultaneidade da experiência moderna. A variedade de imagens, que vão do exótico ao cotidiano, do concreto ao abstrato, cria uma atmosfera onírica e impressionista. A ausência de uma narrativa linear força o leitor a conectar as imagens de forma intuitiva, evocando sentimentos de estranhamento, beleza, melancolia e a constante transformação do mundo ("Do vermelho ao verde todo jovem perece"). O poema parece celebrar a liberdade da linguagem e a capacidade de evocar múltiplas sensações através da justaposição de elementos diversos.

 

 

POEMA: EU SOU TREZENTOS ... MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: EU SOU TREZENTOS...

             MÁRIO DE ANDRADE

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta, 
As sensações renascem de si mesmas sem repouso, 
Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras! 
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfcPxp-VuugFgH4YhuL4BQsR3X7Ie6eMTepfPMVr1dhkjprSeSzOAbWQTTrzbg-vRt-RRq_DlztLc7yS47RfBEVfdP2QcJj2vFdL5Labz7YpXd1Q_nIyIl0PfQG5YW0HIJAgrgKHn9dSy8tNfjCK9cc8499e-LLbBUz8UqtMqdDxW_TKG8ElVofLntQas/s320/CAI%C3%87ARA.jpg


Abraço no meu leito as melhores palavras, 
E os suspiros que dou são violinos alheios; 
Eu piso a terra como quem descobre a furto 
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta, 
Mas um dia afinal eu toparei comigo... 
Tenhamos paciência, andorinhas curtas, 
Só o esquecimento é que condensa, 
E então minha alma servirá de abrigo.

Poesias completas. São Paulo: Círculo do Livro. s. d. p. 189.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 96.

Entendendo o poema:

01 – Qual a primeira afirmação do eu lírico e o que sugere essa repetição numérica ("Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta")?

      A primeira afirmação do eu lírico é "Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta". Essa repetição numérica sugere uma multiplicidade de identidades, sensações e experiências que o eu lírico sente possuir. A imprecisão do número ("trezentos" e logo em seguida "trezentos-e-cinquenta") reforça a ideia de uma identidade fluida e em constante transformação, difícil de definir com precisão.

02 – Identifique as exclamações na primeira estrofe e interprete o que elas revelam sobre o estado emocional do eu lírico.

      As exclamações na primeira estrofe são "Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras!". Essas exclamações carregam um tom de intensidade, admiração e talvez até de estranhamento diante da variedade de elementos que compõem sua experiência. "Espelhos" podem simbolizar a reflexão sobre si mesmo em suas múltiplas facetas. "Pirineus" evocam uma grandiosidade natural e distante, enquanto "caiçaras" remetem a uma identidade cultural brasileira específica. A disposição dessas exclamações sugere um espírito inquieto e abrangente.

03 – Como o eu lírico descreve a relação com as palavras e os suspiros na segunda estrofe? Que efeito essa descrição produz?

      O eu lírico descreve que abraça "no meu leito as melhores palavras" e que seus suspiros são "violinos alheios". Essa descrição produz um efeito de intimidade com a linguagem, como se as palavras fossem um conforto ou um amante. Já a imagem dos suspiros como "violinos alheios" sugere que suas emoções podem ser expressas através de algo externo, talvez através da arte ou da experiência de outros, indicando uma permeabilidade entre o eu e o mundo.

04 – Qual a ação inusitada que o eu lírico descreve em relação ao ato de beijar e o que essa imagem pode simbolizar?

      O eu lírico descreve que pisa a terra "como quem descobre a furto / Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!". Essa imagem inusitada sugere uma busca constante por autoconhecimento e por reafirmação de sua identidade em lugares inesperados e cotidianos. Os "próprios beijos" encontrados furtivamente podem simbolizar momentos de autoaceitação, de reconhecimento de si mesmo em meio à vida agitada da cidade.

05 – Qual a esperança ou resolução expressa na última estrofe em relação ao encontro consigo mesmo e ao papel do esquecimento?

      Na última estrofe, o eu lírico expressa a esperança de que "um dia afinal eu toparei comigo...", indicando uma busca por uma identidade mais unificada. Ele pede paciência ("Tenhamos paciência, andorinhas curtas") e afirma que "só o esquecimento é que condensa", sugerindo que o tempo e o deixar para trás certas experiências são necessários para que sua alma encontre um abrigo, talvez uma forma mais estável ou compreensível de ser. O esquecimento, paradoxalmente, é visto como um processo de sedimentação da identidade.

 

 

POEMA: O GATO - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

 Poema: O GATO

             Mário Quintana

O gato chega à porta do quarto onde escrevo...
Entrepara... hesita... avança...
Fita-me.
Fitamo-nos.
Olhos nos olhos...
Quase com terror!
Como duas criaturas incomunicáveis e solitárias
que fossem feitas cada uma por um Deus diferente.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhELi7a90tErOi9chfbTAr-E77rhOgkzS9S9eSeoO_TchAOlHsX_3tII5W0XEFqK9M3XJs1ygXkQsujgq7e6bEnNmQNEoE6bPWhWxc_VbY42JA-913pdQ51Zr3y0dblpjyCQxVUYWm-xfdbrnSnhdpIK9XueX3p3SQx2D-CsF1nNMW-NqHjrLxCSug-C3A/s320/vida-de-gato.jpg


Mario Quintana. Preparativos de viagem. São Paulo: Globo, 1997. p. 25.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 204.

Entendendo o poema:

01 – Descreva a progressão da chegada do gato ao quarto do eu lírico, destacando os verbos utilizados.

      A chegada do gato é descrita em etapas, com verbos que indicam cautela e hesitação: "chega", "Entrepara", "hesita", "avança". Essa progressão lenta e gradual cria uma atmosfera de expectativa e um certo estranhamento no encontro.

02 – Qual a ação recíproca que ocorre entre o eu lírico e o gato após a entrada do animal no quarto?

      Após a entrada do gato, ocorre uma troca de olhares intensa: "Fita-me. / Fitamo-nos. / Olhos nos olhos...". Essa ação recíproca estabelece um momento de conexão visual direta entre os dois seres.

03 – Que emoção é quase explicitamente mencionada em relação a esse encontro visual?

      A emoção quase explicitamente mencionada em relação a esse encontro visual é o "terror". Essa palavra forte sugere um sentimento de estranheza profunda ou até mesmo de reconhecimento de algo desconhecido e potencialmente perturbador no outro.

04 – Qual a comparação utilizada pelo eu lírico para descrever a sensação de distância e incompreensão mútua entre ele e o gato?

      O eu lírico compara a sensação de distância e incompreensão mútua à de "duas criaturas incomunicáveis e solitárias / que fossem feitas cada uma por um Deus diferente". Essa comparação enfatiza a ideia de origens distintas e, consequentemente, de uma barreira fundamental na comunicação e na compreensão entre os dois seres.

05 – Qual a principal reflexão ou sentimento que o poema evoca sobre a natureza da comunicação e da solidão, mesmo em um encontro aparentemente simples?

      O poema evoca uma reflexão sobre a complexidade da comunicação e a persistência da solidão, mesmo em um encontro direto. A troca de olhares, apesar de intensa, não elimina a sensação de estranhamento e incomunicabilidade. A comparação com criaturas feitas por "Deus diferente" sugere uma barreira essencial que transcende a simples interação física, revelando a potencial solidão intrínseca a cada ser, mesmo na presença do outro.

 

 

POEMA: RAZÃO DE SER - PAULO LEMINSKI - COM GABARITO

 Poema: Razão de ser

             Paulo Leminski

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
Preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiamnfNmJMsMChnYyhF89bVDPyEPCtKLCa7JMq3aDeKPVdyKq8Hj-NSfy_91fv62_If96jcUbWoMphRdAMqZwBv-sb32PhAs-T2MYUcyp9PaScmtlLXKJgWcLb6IA8meewetn9IMJQ95yDh49WGRmRe_qNQmdnzvZLbB4fAeKEn-HixjAA1af3IL4JnZms/s320/ESCRITA.jpg


Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Paulo Leminski. Melhores poemas. 6. ed. Seleção de Fred Góes, Álvaro Martins. São Paulo: Global, 2002. p. 133.

 Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 156.

Entendendo o poema:

01 – Qual a resposta concisa que o eu lírico oferece para a sua prática da escrita na primeira e na terceira estrofe?

      Na primeira estrofe, o eu lírico responde com um direto "Escrevo. E pronto." Na terceira estrofe, ele reafirma sua prática com um simples "Eu escrevo apenas." Ambas as respostas sugerem uma ação natural e talvez instintiva, sem a necessidade de justificativas elaboradas.

02 – Quais as duas razões que o eu lírico apresenta como motivações para a escrita nas duas primeiras estrofes?

      As duas razões apresentadas são: a necessidade ("Escrevo porque preciso / Preciso porque estou tonto") e um impulso quase natural ligado ao amanhecer e à inspiração cósmica ("Escrevo porque amanhece, / E as estrelas lá no céu / Lembram letras no papel, / Quando o poema me anoitece"). A primeira razão sugere um estado de desequilíbrio ou confusão que a escrita busca ordenar, enquanto a segunda aponta para uma conexão entre o universo e a criação poética.

03 – Como o eu lírico estabelece uma relação entre os fenômenos naturais (aranha tecendo e peixe agindo) e a sua própria ação de escrever na terceira estrofe?

      O eu lírico estabelece uma relação de paralelismo entre as ações da aranha ("tece teias") e do peixe ("beija e morde o que vê") e a sua própria ação de escrever ("Eu escrevo apenas"). Ao apresentar essas ações da natureza como algo intrínseco e sem questionamento de propósito, ele sugere que a escrita também pode ser uma atividade natural e essencial para ele, dispensando uma razão específica.

04 – Qual a pergunta retórica que encerra o poema e qual o seu possível significado em relação à arte e à necessidade de justificação?

      A pergunta retórica que encerra o poema é "Tem que ter por quê?". Essa pergunta questiona a necessidade de sempre buscar uma razão ou uma finalidade para a arte, no caso, para a escrita. Sugere que a criação pode ser um impulso intrínseco, uma forma de ser e de estar no mundo que não precisa de justificativas racionais ou externas.

05 – Qual a atmosfera geral do poema em relação à escrita: ela é apresentada como um esforço consciente, uma necessidade premente ou algo mais espontâneo e natural? Justifique com elementos do texto.

      A atmosfera geral do poema sugere que a escrita é algo mais espontâneo e natural para o eu lírico. A concisão das afirmações ("Escrevo. E pronto."), a comparação com ações instintivas da natureza (aranha tecendo, peixe agindo), e a pergunta retórica final ("Tem que ter por quê?") indicam que a escrita flui como uma necessidade interna e até mesmo como uma resposta ao mundo ao seu redor (o amanhecer, as estrelas), sem a exigência de uma razão lógica ou premeditada. A "tonteira" inicial sugere um impulso interno que encontra na escrita sua forma de expressão e equilíbrio.