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sexta-feira, 17 de outubro de 2025

POEMA: ESCOVA - MANOEL DE BARROS - COM GABARITO

 Poema: Escova

            Manoel de Barros

        Eu tinha vontade de fazer como os dois homens que vi sentados na terra escovando osso. No começo achei que aqueles homens não batiam bem. Porque ficavam ali sentados na terra o dia inteiro escovando osso. Depois aprendi que aqueles homens eram arqueólogos. 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKb01tlr6u2qUDV_CuBD9spofHVgRDfUCc-oWsmf4u5GSad0VGt8ucPtzHlq3U0T4BPjBQwFBlQPvYLOrXKZmsuUpK3C1QSfjGIl6rf2h4TxavYpX5M0yn6TplNUihJWpxITr8drpzB-dH9JP8DBWPvGvdLvq4eZzdd0YJaR3ohyY_SlD0wafJtL4a2mQ/s1600/ESCOVA%20OSSOS.jpg


E que eles faziam o serviço de escovar osso por amor. E que eles queriam encontrar nos ossos vestígios de antigas civilizações que estariam enterrados por séculos naquele chão. Logo pensei de escovar palavras. Porque eu havia lido em algum lugar que as palavras eram conchas de clamores antigos. Eu queria ir atrás dos clamores antigos que estariam guardados dentro das palavras. Eu já sabia também que as palavras possuem no corpo muitas oralidades remontadas e muitas significâncias remontadas. Eu queria então escovar as palavras para escutar o primeiro esgar de cada uma. Para escutar os primeiros sons, mesmo que ainda bígrafos.

        Comecei a fazer isso sentado em minha escrivaninha. Passava horas inteiras, dias inteiros fechado no quarto, trancado, a escovar palavras. Logo a turma perguntou: o que eu fazia o dia inteiro trancado naquele quarto? Eu respondi a eles, meio entressonhado, que eu estava escovando palavras. Eles acharam que eu não batia bem. Então eu joguei a escova fora.

Manoel de Barros. Memórias inventadas: as infâncias de Manoel de Barros. São Paulo: Planeta, 2008, p. 21.

Fonte: Set Brasil. Ensino Fundamental, anos finais, 6º ano, livro 2. Thaís Ginícolo Cabral – São Paulo: Moderna, 2019. p. 49.

Entendendo o poema:

01 – Qual era a atividade inusitada que o eu lírico observou ser realizada por dois homens sentados na terra?

      O eu lírico observou dois homens sentados na terra escovando osso.

02 – Qual era a profissão e o objetivo dos homens que escovavam ossos?

      Os homens eram arqueólogos. Eles faziam o serviço de escovar ossos por amor e queriam encontrar nos ossos vestígios de antigas civilizações que estariam enterrados por séculos naquele chão.

03 – Por que o eu lírico decidiu, então, começar a "escovar palavras"? Qual era a sua justificativa para essa escolha?

      Ele decidiu escovar palavras porque havia lido que as palavras eram "conchas de clamores antigos". Seu objetivo era ir atrás dos clamores antigos e escutar o primeiro esgar (primeiros sons) de cada palavra.

04 – Onde o eu lírico realizava a atividade de "escovar palavras" e qual foi a reação das pessoas ao descobrir o que ele fazia?

      Ele realizava a atividade sentado em sua escrivaninha, passando horas e dias inteiros fechado e trancado no quarto. A reação da "turma" foi achar que ele "não batia bem" (não era normal ou estava louco).

05 – Qual foi a atitude final do eu lírico após as pessoas questionarem e duvidarem de sua sanidade mental em relação à escovação de palavras?

      Após a reação das pessoas, o eu lírico jogou a escova fora.

 

 

POEMA: LUAR - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poema: Luar

         Cecília Meireles

Face do muro tão plana,
com o sabugueiro florido.

O luar parece que abana
as ramagens na parede.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmysCRE2rTFh1bVn75rpD__hvCGZfw8oIbhPWKYmo0ER40CDusHAggEtr8nX0QPUEnsiyBzNMIjSu4zi_Z7mcVKf5eT3-9IlQRKkA63HvJYH7r263AnaQUotBSdsHn9kLMO8xK6ZgkAlaJNmlKYkenh8HFK5-cSYz5K2a_LSUn1eXsimM69DJaBRTOBF4/s320/8440084-belo-cenario-noturno-com-arvore-silhueta-e-luar-foto.jpg


A noite toda é um zumbido
e um florir de vagalumes.

A boca morre de sede
junto à frescura dos galhos.

Andam nascendo os perfumes
na seda crespa dos cravos.

Brota o sono dos canteiros
como o cristal dos orvalhos.

Cecília Meireles. Viagem, Obra Poética. Aguilar, 1972.

Fonte: Gramática da Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 71.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a atmosfera geral criada pelo poema "Luar" e de que forma o foco na luz noturna contribui para esse clima?

      A atmosfera geral é de paz, mistério e profunda tranquilidade noturna. O foco na luz noturna (o luar e o florir de vagalumes) contribui para isso ao criar um ambiente de meias-sombras e brilhos intermitentes, tornando a cena mais etérea e sutil. O luar não ilumina de forma agressiva, mas sugere a leveza e a quietude da paisagem.

02 – Além da visão (a face do muro, o sabugueiro, os vagalumes), quais outros sentidos humanos são ativados no poema e quais elementos os evocam?

      Audição: Pelo "zumbido" da noite, que indica um som contínuo e baixo, típico da atividade dos insetos noturnos.

      Olfato: Pelos "perfumes" que "nascem" na "seda crespa dos cravos".

      Tato/Paladar (Metafórico): Pela sensação de "sede" junto à "frescura dos galhos", expressando um anseio ou desejo por absorver a pureza e a umidade da noite.

03 – Identifique e analise o recurso estilístico empregado no verso "O luar parece que abana as ramagens na parede."

      O recurso é a Personificação (ou Prosopopeia). O luar, um elemento inanimado, é dotado da ação humana de "abanar" (mover suavemente). Isso sugere que o movimento das sombras projetadas na parede, causado pela luz da lua, cria uma ilusão de vida e dança na cena, reforçando o caráter sutil e quase onírico da observação.

04 – O que a imagem da "boca morre de sede junto à frescura dos galhos" pode sugerir em um contexto que é primariamente sensorial e natural?

      A imagem é uma metáfora que expressa um intenso desejo ou anseio. A sede, neste contexto de frescor e perfume, sugere uma carência que transcende o físico — uma sede espiritual ou emocional. O eu lírico anseia por absorver a pureza, a paz e a renovação que a natureza noturna oferece, mas sente-se separado ou incapaz de alcançar plenamente essa "frescura".

05 – Analise o significado da metáfora que encerra o poema: "Brota o sono dos canteiros / como o cristal dos orvalhos."

      Esta metáfora encerra a cena com uma imagem de total quietude. Ela compara o surgimento do sono (o repouso completo da natureza) ao surgimento do orvalho (a umidade que se condensa). O sono, um estado abstrato, é materializado e visualizado de forma tangível, pura e brilhante ("cristal"), indicando que a tranquilidade noturna está completa e é tão preciosa quanto o brilho das gotículas de orvalho ao amanhecer.

 

 

POEMA: O PLENO E O VAZIO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: O Pleno E o Vazio

            Carlos Drummond de Andrade

Oh se me lembro e quanto.
E se não me lembrasse?
Outra seria minh’alma,
bem diversa minha face.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJ6wQ8fPmANMEdcXQL6RTpLXF5B0yzMLk-RhuTrXqT40WmU_fMqQiF07cght5Et4CrkzYYV84NHZ2sWZgNTvI76-lOxXWtF00rtSSLwccIWD6SdXiugN6ebWgKH1gm_hErE4sumjiEYB8nIxjjk_1wmyoQaAwfX0JtqQHRAHDzOLg3rqKnX1oNS326WIY/s1600/ALMA.jpg



Oh como esqueço e quanto.
E se não esquecesse?
Seria homem-espanto,
ambulando sem cabeça.

Oh como esqueço e lembro,
como lembro e esqueço
em correntezas iguais
e simultâneos enlaces.
Mas como posso, no fim,
recompor os meus disfarces?

Que caixa esquisita guarda
em mim sua névoa e cinza,
seu patrimônio de chamas,
enquanto a vida confere
seu limite, e cada hora
é uma hora devida
no balanço da memória
que chora e que ri, partida?

Corpo. Rio de Janeiro, Record, 1984.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 194.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a principal dicotomia (oposição) explorada nos dois primeiros quartetos do poema, e como ela afeta a identidade do eu lírico?

      A dicotomia principal é entre Lembrança (Pleno) e Esquecimento (Vazio).

      Lembrar ("Oh se me lembro e quanto") implica que a memória molda a identidade ("Outra seria minh’alma, / bem diversa minha face").

      Esquecer ("Oh como esqueço e quanto") é visto como um mecanismo de sobrevivência. A falta total de esquecimento ("E se não esquecesse?") o tornaria um "homem-espanto, / ambulando sem cabeça," sugerindo que a memória total e incessante seria destrutiva, impedindo a vida.

02 – Na terceira estrofe, o eu lírico descreve o ato de lembrar e esquecer como "em correntezas iguais / e simultâneos enlaces." O que essa imagem sugere sobre o processo da memória?

      Essa imagem sugere que lembrar e esquecer não são processos opostos e excludentes, mas sim forças coexistentes e igualmente poderosas que agem ao mesmo tempo. A memória não é um reservatório estático, mas um fluxo dinâmico ("correntezas") onde o pleno e o vazio estão continuamente se misturando e se interligando ("simultâneos enlaces").

03 – Por que o eu lírico questiona: "Mas como posso, no fim, / recompor os meus disfarces?" após refletir sobre a memória e o esquecimento?

      O questionamento revela uma crise de identidade. O "disfarce" representa a persona social ou a identidade coerente que o indivíduo apresenta ao mundo. Ao constatar que a memória e o esquecimento atuam em "correntezas iguais," ele percebe que seu ser é constantemente alterado e instável. Assim, ele duvida de sua capacidade de manter uma identidade fixa e crível (o disfarce) diante da complexidade e da inconstância de sua vida interior.

04 – O que a "caixa esquisita" mencionada na última estrofe simboliza e o que ela contém?

      A "caixa esquisita" simboliza o interior do ser humano, a mente ou a psique, especificamente o local onde a memória e a consciência residem. O que ela guarda é a totalidade das experiências:

      "névoa e cinza": o esquecimento, a dor e o que foi perdido.

      "patrimônio de chamas": as lembranças intensas, a paixão e a vitalidade do que foi vivido. É o repositório paradoxal que contém a destruição e a riqueza emocional da vida.

05 – Como a última estrofe relaciona a memória ("balanço da memória") com o conceito de tempo ("cada hora / é uma hora devida")?

      A última estrofe estabelece uma relação direta entre a memória e o tempo vivido como uma dívida existencial. O "balanço da memória" é a contabilidade que a vida faz, comparando o que foi vivido com o que resta. A frase "cada hora / é uma hora devida" sugere que o tempo não é apenas passado, mas uma responsabilidade ou um compromisso com o ser. A memória, ao fazer esse balanço e estar "partida" (entre o riso e o choro), é o instrumento que nos força a enfrentar o preço emocional do tempo.

 

 

POEMA: DIANTE DE UMA CRIANÇA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: Diante de uma criança

          Carlos Drummond de Andrade

Como fazer feliz meu filho?
Não há receitas para tal.
Todo o saber, todo o meu brilho
de vaidoso intelectual

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsU9664caxkVv94aYKysYoYdcSW1NOhDylsu6Tc2DYfCmNhpot2zfimi7oOFGc1QjfN2VU0tpfPBmHpXal9C7nSDeVeiyAyGkQqzzTln01On1RPhYNvroMonTj4jwfG1VBp1lYnaO13Y0OUJ6BrOIR-y47fNx3TwluWhzD99IOBxtAQobUXWvAlKdO7H4/s320/CRIAN%C3%87A.jpg



vacila ante a interrogação
gravada em mim, impressa no ar.
Bola, bombons, patinação
talvez bastem para encantar?

Imprevistas, fartas mesadas,
louvores, prêmios, complacências,
milhões de coisas desejadas,
concedidas sem reticências?

Liberdade alheia a limites,
perdão de erros, sem julgamento,
e dizer-lhe que estamos quites,
conforme a lei do esquecimento?

Submeter-me à sua vontade
sem ponderar, sem discutir?
Dar-lhe tudo aquilo que há
de entontecer um grão-vizir?

E, se depois de tanto mimo
que o atraia, ele se sente
pobre, sem paz e sem arrimo,
alma vazia, amargamente?

Não é feliz. Mas que fazer
para consolo desta criança?
Como em seu íntimo acender
uma fagulha de confiança?

Eis que acode meu coração
e oferece, como uma flor,
a doçura desta lição:
dar a meu filho meu amor.

Pois o amor resgata a pobreza,
vence o tédio, ilumina o dia
e instaura em nossa natureza
a imperecível alegria.

Carlos Drummond de Andrade. Farewell. Rio de Janeiro, Record, 1996.

Fonte: Gramática da Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 76.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a "interrogação" central que confronta o eu lírico e como ele caracteriza a sua própria capacidade intelectual de responder a ela no início do poema?

      A interrogação central é: "Como fazer feliz meu filho?" O eu lírico, que se define como um "vaidoso intelectual" cheio de "saber" e "brilho," reconhece que todo esse conhecimento "vacila" diante da simplicidade e da profundidade da questão. Isso estabelece a falha da razão pura frente ao problema existencial e afetivo.

02 – Que técnica estrutural Drummond utiliza nas estrofes 2 a 5 para abordar as possíveis "receitas" de felicidade, e qual é o efeito dessa técnica?

      Drummond utiliza a técnica da enumeração e da interrogação retórica. Ele lista exaustivamente soluções materialistas e permissivas ("Bola, bombons," "mesadas," "liberdade alheia a limites") e as apresenta em forma de perguntas, como se estivesse testando e, implicitamente, refutando cada uma delas. O efeito é construir um argumento progressivo que demonstra o esgotamento das soluções superficiais.

03 – Cite três exemplos de soluções materiais ou permissivas que o eu lírico questiona no poema e qual é o risco final dessas atitudes.

      Bens materiais: "Bola, bombons, patinação" ou "milhões de coisas desejadas."

      Excesso de mesada: "Imprevistas, fartas mesadas."

      Permissividade: "Liberdade alheia a limites," "perdão de erros, sem julgamento."

      O risco final é que a criança se sinta "pobre, sem paz e sem arrimo, alma vazia, amargamente," ou seja, o vazio existencial provocado pela superabundância material e pela falta de limites.

04 – Na quinta estrofe, o eu lírico pergunta se deve dar ao filho "tudo aquilo que há / de entontecer um grão-vizir." Qual é o significado dessa metáfora?

      A metáfora do "grão-vizir" (alto dignitário de um império oriental, associado a poder e riqueza absolutos) é usada para expressar a ideia de opulência e poder excessivos. O eu lírico questiona se deve entregar ao filho um nível de privilégios e submissão que seria suficiente para "entontecer" (tornar tolo, desorientar) até mesmo uma figura habituada ao máximo de riqueza.

05 – Nas estrofes 8 e 9, de onde vem a resposta para o dilema do eu lírico, já que a razão falhou? Qual metáfora ele usa para descrever essa revelação?

      A resposta não vem da mente, mas sim do "coração," que "acode" (socorre) o eu lírico. O coração oferece a lição "como uma flor," uma metáfora que sugere que a verdade é simples, pura, espontânea e delicada, contrastando com a complexidade e a aridez das "receitas" intelectuais que foram previamente descartadas.

06 – Qual é a "doçura desta lição" oferecida pelo coração e qual a sua relação com a "fagulha de confiança" da criança?

      A lição central é a importância irrefutável do amor incondicional, resumida na frase: "dar a meu filho meu amor." O amor é apresentado como o único elemento capaz de acender a "fagulha de confiança" na criança, preenchendo o vazio existencial que nem os bens materiais nem a permissividade conseguiram suprir.

07 – De acordo com a estrofe final, quais são os quatro grandes poderes do amor na natureza humana?

      O amor é apresentado como a força suprema que: Resgata a pobreza (espiritual); Vence o tédio; Ilumina o dia; Instaura em nossa natureza a imperecível alegria.

 

POEMA: RITMO - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poema: Ritmo

          Cecília Meireles

O ritmo em que gemo
doçuras e mágoas
é um dourado remo
por douradas águas.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7o8TUBjndPY8HY1Rx4CUIcHI-ahSXFC0eyDYSpFC2-IJ-Wy430entaelch4E1Mc1oQBF5EN0NZwFEEX26AjvlTaxfYrvOPS3Mb7rkWtu2OJ4IKJJeM3wTO2sfXQlqttMJAryCAxDWFz6mwgDPgIip4UjIkDS3mLweP6KSofPHj5Lm26QKxjQV7US0rjY/s1600/RITMO.jpg



Tudo, quando passo,
olha-me e suspira.
– Será meu compasso
que tanto os admira?

Cecília Meireles. Vaga música. Obra Poética. Aguilar, 1972.

Fonte: Gramática da Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 73.

Entendendo o poema:

01 – Na primeira estrofe, o "ritmo" em que o eu lírico "gemo doçuras e mágoas" é comparado a um "dourado remo por douradas águas." O que esta metáfora sugere sobre a natureza desse ritmo?

      A metáfora sugere que o ritmo com que o eu lírico expressa suas emoções (alegrias e tristezas) é controlado, harmonioso e artisticamente belo. O "remo" nas "águas" indica um movimento constante e medido (o ritmo), e o uso do adjetivo "dourado" confere a essa expressão uma qualidade nobre, preciosa e poética, transformando até o "gemido" em arte.

02 – Qual é o tema central explorado na relação entre o título do poema ("Ritmo") e o conteúdo da primeira estrofe?

      O tema central é a forma ou o modo como a subjetividade e a emoção são transformadas em expressão. O poema sugere que o que define o eu lírico não é apenas o que ele sente ("doçuras e mágoas"), mas o ritmo, a cadência ou a harmonia com que essas emoções, por mais contraditórias que sejam, se manifestam no mundo.

03 – Identifique e analise o recurso estilístico utilizado nos versos da segunda estrofe: "Tudo, quando passo, / olha-me e suspira."

      O recurso é a Personificação (ou Prosopopeia). O mundo inanimado ou a totalidade das coisas ("Tudo") é dotado de características e emoções humanas, como a capacidade de "olhar" e "suspirar". Isso eleva o ritmo e o movimento do eu lírico a um nível de encanto ou fascínio universal, sugerindo que sua cadência poética emociona a própria natureza.

04 – Na segunda estrofe, o eu lírico utiliza o termo "compasso" na pergunta. Qual é a relação semântica entre "compasso" e "ritmo" no contexto do poema?

      No contexto do poema, "compasso" é sinônimo de "ritmo" ou "medida". A palavra reforça a ideia de que a admiração do mundo se deve à regularidade, harmonia e à cadência do movimento do eu lírico. O compasso é o princípio estruturante, quase musical, que organiza poeticamente a expressão das suas emoções.

05 – Qual é a reflexão principal que o eu lírico faz na segunda estrofe, após notar a reação do "Tudo" ao seu redor?

      A reflexão principal é um autoquestionamento sobre o valor e a fonte do seu encanto. O eu lírico reconhece o fascínio que exerce sobre o mundo ("olha-me e suspira") e indaga se a razão dessa admiração está na organização estética, na harmonia inerente ou na beleza rítmica de sua expressão ("Será meu compasso que tanto os admira?").

 

 

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

POEMA: POEMA DAS REFORMAS - CLÁUDIO MURILO - COM GABARITO

 Poema: Poema das reformas

             Cláudio Murilo

É preciso reformar a casa,

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi15cCy6mRqgYRp3LF9kJimgPjLVqRfR96w8rBdw_7jxewuRWwp_skGbi3zmyqlsNEqCNncmKOQXw_xZ-mzA1H4A1XMWimJnrepa4rUVZhrzk-zyueGsotR6kxOjU0GouwPDNjMvBFQTuazWT2yl9UhVO-ojfMGe8plzP5yz2YQNzUk6aoUa1W0kyyvbBA/s320/conceito-de-desenho-animado-de-renovacao-com-homem-e-mulher-aplicando-papeis-de-parede-ilustracao-vetorial_1284-77317.jpg

Abrir as janelas,

Que o vento penetre

Em todos os cantos.




É preciso destruir as cercas,

Que as crianças entrem,

Pisem nos canteiros,

Construam a sua alegria.

 

É preciso reformar a rua,

Que todos andem por ela.

As lojas, os bares, os cinemas

Nos mantenham assim

Unidos e em paz.

 

É preciso reformar a cidade.

É preciso, antes e sempre,

Reformar o homem.

 

É preciso despi-lo,

É preciso mostrar

Que todos somos irmãos.

É preciso um novo dilúvio.

É preciso reescrever os livros

É preciso reencontrar a terra

É preciso que uma torrente

Invada todos nós

E lave nossa alma.

Affonso Romano de Sant’Anna et alii. Poesia viva I. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1968.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 167.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a ideia central ou o tema principal que o poeta Cláudio Murilo busca transmitir ao longo do poema?

      O tema central é a necessidade urgente de uma transformação profunda e abrangente, que vai da reforma do espaço físico (casa, rua, cidade) até, e principalmente, a reforma interior e social do ser humano. O poeta defende a destruição de barreiras (físicas e sociais) e a purificação da alma para que se estabeleça a fraternidade e a paz.

02 – O que simbolizam as ações de "abrir as janelas" e "destruir as cercas" na primeira estrofe?

      "Abrir as janelas" simboliza a necessidade de transparência, renovação e de deixar novas ideias ou influências entrarem (o "vento") para arejar e purificar o ambiente.

      "Destruir as cercas" representa a quebra de barreiras, divisões e preconceitos que separam as pessoas. O desejo de que as crianças "entrem" e "pisem nos canteiros" sugere a valorização da liberdade, da alegria espontânea e do convívio sem restrições sociais.

03 – Por que o poeta afirma que "É preciso, antes e sempre, / Reformar o homem"?

      O poeta entende que as reformas estruturais (casa, rua, cidade) são insuficientes se a essência do problema, que está no próprio ser humano, não for tratada. A reforma do homem é prioridade porque é a mudança de mentalidade, de valores e a aceitação da fraternidade ("todos somos irmãos") que sustentarão qualquer transformação social duradoura. Sem a reforma interior, as reformas externas não terão impacto real.

04 – Que tipo de transformação radical o poeta propõe ao mencionar "É preciso um novo dilúvio" e "É preciso que uma torrente / Invada todos nós / E lave nossa alma"?

      Ao invocar a ideia de um "novo dilúvio" e de uma "torrente", o poeta sugere a necessidade de uma purificação total e cataclísmica, uma intervenção drástica para limpar as falhas e vícios da humanidade. O dilúvio aqui não é literal, mas uma metáfora para uma lavagem espiritual e moral em escala universal, que "lave nossa alma" e prepare o ser humano para um recomeço baseado na solidariedade e na verdade.

05 – A reforma proposta no poema é apenas individual ou possui uma dimensão coletiva e social? Justifique com elementos do texto.

      A reforma é claramente coletiva e social, embora dependa da mudança individual. A dimensão social é vista na menção explícita à reforma da "rua" e da "cidade", no desejo de que "todos andem por ela" e que o comércio e a cultura ("lojas, bares, cinemas") os mantenham "Unidos e em paz". Além disso, o foco final é na reforma do homem para que ele aceite que "todos somos irmãos", um conceito fundamentalmente social e de convivência.

 

 

 





POEMA: O SEGUNDO, QUE ME VIGIA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: O Segundo, Que Me Vigia

           Carlos Drummond de Andrade

Implacável ponteiro dos segundos.
Não, não quero este decassílabo.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfW3-SovoDS_NlOPbjbx_oPdAxIDY4CJm05d_kD-UDciLptV1oiw9_nCt2N0s1O8VLcEKhSa6eGhsKqvJ4OkuvUw5-R37kFsmy7_u8yUCWzbe6D4S16ASi4KzsO2jzLGJ-QUt0pnuDWMpSrOmvvNSFwe2zOmP73eP9Sno_Qmo-MxUL3Yrtx22UhzmUpL4/s320/RELOGIO.jpg


O que eu queria dizer era:
O segundo, não o tempo, é implacável.
Tolera-se o minuto. A hora suporta-se.
Admite-se o dia, o mês, o ano, a vida,
a possível eternidade.
Mas o segundo é implacável.
Sempre vigiando e correndo e vigiando.
De mim não se condói, não para, não perdoa.
Avisa talvez que a morte foi adiada
ou apressada
por quantos segundos?

Carlos Drummond de Andrade. Farewell. Rio de Janeiro, Record, 1996.

Fonte: Gramática da Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 24.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a correção ou a distinção que o eu lírico faz logo no início do poema, e por que ele a considera importante?

      O eu lírico corrige a ideia inicial do "Implacável ponteiro dos segundos," rejeitando o verso por ser um decassílabo (métrica poética) e, principalmente, por ser impreciso. A correção é: "O segundo, não o tempo, é implacável." Essa distinção é crucial porque ele quer isolar a menor e mais rápida unidade de tempo, o segundo, como o agente da implacabilidade. O tempo em suas unidades maiores (minuto, hora, dia) é tolerável; o segundo, por sua constância e rapidez, é o que realmente oprime e vigia.

02 – Por que o eu lírico afirma que as unidades de tempo maiores ("minuto," "hora," "dia," "vida") são mais toleráveis que o segundo?

      O eu lírico sugere que as unidades maiores dão uma ilusão de controle, extensão ou pausa. O minuto, a hora e a vida podem ser "tolerados," "suportados" ou "admitidos" porque oferecem um horizonte mais vasto. Já o segundo, por ser a unidade de medida mais imediata e constante, representa a pressão incessante e ininterrupta do presente que escapa a todo instante, tornando-se o verdadeiro símbolo da implacabilidade.

03 – Quais ações o eu lírico atribui ao segundo que reforçam seu caráter de "vigilante" impiedoso?

      O segundo é personificado com ações de vigilância e falta de piedade. Ele está "Sempre vigiando e correndo e vigiando," e dele se diz que "não se condói, não para, não perdoa." Essas ações atribuem ao segundo uma qualidade de observador constante e juiz severo que não tem empatia pela condição humana e não concede trégua ao sujeito poético.

04 – Qual é a principal relação que o segundo estabelece com a morte na estrofe final?

      O segundo é relacionado à morte como um anunciador ou agente de medida da finitude. A pergunta retórica (o segundo "Avisa talvez que a morte foi adiada / ou apressada / por quantos segundos?") sugere que o segundo é a unidade pela qual se mede o quanto a vida foi prolongada ou encurtada. Ele representa o limite temporal inegociável da existência, sendo a unidade mínima que determina o momento do fim.

05 – O que o poema, em sua brevidade e foco em uma única unidade de tempo, comunica sobre a experiência da passagem do tempo na modernidade ou na consciência individual?

      O poema comunica a ansiedade e a opressão geradas pela passagem do tempo em sua forma mais fragmentada e ininterrupta. Ao focar no segundo, Drummond reflete sobre a percepção aguda da finitude e a sensação de que a vida é constantemente drenada, grão por grão. A implacabilidade do segundo espelha a consciência angustiante de que a vida está sempre correndo, sob vigilância, sem nunca poder ser verdadeiramente detida ou controlada.

 

 

POEMA: TÂNATOS TANAJURA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: Tânatos Tanajura

          Carlos Drummond de Andrade

I
Tanajura
flor de chuva
chuviflor
em revoo
de arco-íris.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKwgvrCUOQz2WthyphenhyphenvH1QtJHVmdWpY4xMq68IvNYJ4qtcn-uMuUIublQHioaGMUqqqhPsK9y95328hsC8FZO9ArsMHoJf44I1yKZIlbnGGYRS9esMJwJs-41GGuUOI91BtERy_AeQzwieL8pX1uJ8WUlkqc7pMoU4P51M9B_B4jnXu1or_-ZwIBq0o76Jg/s320/ARCO%20IRIS.jpg



Erráticas
no ar escuro
que se aclara
ao sol da caça.

Foi o trovão,
tanajura,
tempo de amar,
tanajura,
tempinho de botar ovo
e de morrer,
tanajura.

II
Corre-corre na rua
a colher na enxurrada
a chuvatanajura.

Na tonta procura,
qual a mais gordinha
rainha do reino obscuro?
Oi, tana, tana, tanajura,
morte bailante
na tarde impura.

Esta hei de guardá-la,
esta hei de querer-lhe
como ao gato, ao caramujo
de minha estimação.

Carlos Drummond de Andrade. Farewell. Rio de Janeiro, Record, 1996.

Fonte: Gramática da Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 70.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a principal dualidade temática explorada no título e ao longo do poema "Tânatos Tanajura"?

      A principal dualidade temática é a oposição e a união entre Vida e Morte. O termo Tânatos (personificação grega da Morte) e Tanajura (um inseto de vida breve e cíclica) juntos exploram a natureza efêmera da existência, onde o tempo de voar, amar e botar ovo é, simultaneamente, o "tempinho... de morrer".

02 – Explique o significado das expressões "flor de chuva" e "chuviflor" aplicadas à Tanajura na primeira estrofe da Parte I?

      Essas expressões são metáforas que associam a Tanajura à beleza, fragilidade e efemeridade das flores. Elas sublinham que a aparição do inseto é diretamente ligada à chuva (fenômeno sazonal), indicando uma existência breve e uma beleza passageira, como o florescer que dura apenas um momento.

03 – Na terceira estrofe da Parte I, a repetição do vocativo "tanajura" em versos sucessivos confere qual efeito ao ritmo e ao tom do poema?

        “Foi o trovão, tanajura, tempo de amar, tanajura, tempinho de botar ovo e de morrer, tanajura.”

      A repetição (anáfora/vocativo) estabelece um tom de cantiga, lamento ou oração ritmada. Ela confere ao trecho um efeito de ternura melancólica e reforça a fatalidade e a simplicidade do ciclo de vida do inseto, quase como se o eu lírico estivesse se despedindo.

04 – Na Parte II, o que a frase "morte bailante na tarde impura" sugere sobre o destino das tanajuras e a relação humana com elas?

      A frase sugere um forte contraste trágico: o "bailante" remete ao voo gracioso e à liberdade do inseto, que é subitamente interrompido pela "morte" causada pela caça humana. O termo "tarde impura" pode ser uma reflexão do eu lírico sobre a visão predatória e o abate em massa dos insetos pelos coletores.

05 – Qual é o significado do verso final na Parte II, quando o eu lírico afirma que irá "guardá-la" e "querer-lhe / como ao gato, ao caramujo de minha estimação"?

      Este verso representa um ato de individualização e afeto que contrasta com a caça em massa. O eu lírico retira uma Tanajura específica do destino coletivo (ser comida) para conceder-lhe um valor individual e sentimental, elevando o inseto efêmero ao status de um animal de estimação, demonstrando ternura e uma crítica sutil à indiferença humana.

 

 

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

POEMA: O TEMPO PASSA? NÃO PASSA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: O tempo passa? Não passa

             Carlos Drummond de Andrade

O tempo passa? Não passa
no abismo do coração.
Lá dentro, perdura a graça
do amor, florindo em canção.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJbpOqMJwPdUCFIVVotO0POUVkdLGfEGr1GpM4U1TZdowrami1P3sVzBnRENKMBo7qEYnME81jbTsm8jhr-CbVA4vYBO80fYUZ4GHvZUJTAmCVwncJfNq4FRYUQrnul6eBZzy0QLPxgdyrVyj-oBQqL66zp3ERVDXEWlNbUSGTon-8OdbUInEkkkJDSsE/s320/TEMPO.jpg



O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.

Não há tempo consumido
nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.

O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada,
amar é o sumo da vida.

São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora,
e o teu aniversário
é um nascer toda hora.

E nosso amor, que brotou
do tempo, não tem idade,
pois só quem ama escutou
o apelo da eternidade.

Amar se aprende amando. Rio de Janeiro, Record, 1985.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 156.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o poema, o tempo realmente passa?

      Segundo o poema, o tempo não passa "no abismo do coração". Isso sugere que, para o eu-lírico, o tempo cronológico não afeta a essência do amor e dos sentimentos.

02 – Como o poeta descreve o efeito do tempo sobre o relacionamento do casal?

      Em vez de separá-los, o tempo os "aproxima cada vez mais, [os] reduz a um só verso e uma rima", simbolizando a união e a perfeita sintonia entre os dois.

03 – Que tipo de tempo o eu-lírico considera o mais importante?

      O poeta afirma que o "tempo é todo vestido de amor e tempo de amar", indicando que o tempo só tem valor quando é dedicado ao amor.

04 – Na penúltima estrofe, o que o poeta quer dizer com a frase "São mitos de calendário / tanto o ontem como o agora"?

      Essa frase sugere que as marcações do tempo (como dias, semanas e anos) são ilusões. O que realmente importa é a presença e a eternidade do amor, que faz com que cada momento seja um "nascer toda hora".

05 – Qual é a relação entre o amor e a eternidade para o eu-lírico?

      Para o poeta, o amor não tem idade e transcende o tempo, pois ele é a única coisa que permite ao ser humano "escutar o apelo da eternidade".

 

 

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

POEMA: O POETA E A POESIA - FRAGMENTO - CORA CORALINA - COM GABARITO

 Poema: O poeta e a poesia – Fragmento

            Cora Coralina

Não é o poeta que cria a poesia.
E sim, a poesia que condiciona o poeta.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8Mug8j3HxA0sYEBfczhM5J5i03vY9TylJuhGSUpSCy5wDUS1cMvVPbv2PNdpyYK9pqG1pqXssAbI7FFxj03U0lu_jV939r3NQc9lHRSL7E92ZOLUbs7ngN10UjJfLcS9G6T7tT3mjK5nVoAeaoKFOcWEyTJwVkcsSiksks7tb0mKhEOqrFzKYfZbHOMo/s320/POETA.jpg


Poeta é a sensibilidade acima do vulgar.
Poeta é o operário, o artífice da palavra.
E com ela compõe a ourivesaria de um verso.

Poeta, não somente o que escreve.
É aquele que sente a poesia,
se extasia sensível ao achado
de uma rima, à autenticidade de um verso.

Poeta é ser ambicioso, insatisfeito,
procurando no jogo das palavras,
no imprevisto texto, atingir a perfeição inalcançável.

O autêntico sabe que jamais
chegará ao prêmio Nobel.
O medíocre se acredita sempre perto dele.

Alguns vêm a mim.
Querem a palavra, o incentivo, à apreciação.
Que dizer a um jovem ansioso na sede precoce de lançar um livro…

Tão pobre ainda a sua bagagem cultural,
tão restrito seu vocabulário,
enxugando lágrimas que não chorou,
dores que não sentiu,
sofrimentos imaginários que não experimentou.

Falam exaltados de fome e saudades, tão desgastadas
de tantos já passados.
Primário nos rudimentos de sua escrita
e aquela pressa moça de subir.
Alcançar estatura de poeta, publicar um livro,

Oriento para a leitura, reescrever,
processar seus dados concretos.
Não fechar o caminho, não negar possibilidades.
É a linguagem deles, seus sonhos.
A escola não os ajudou, inculpados, eles.

[...]

Vintém de cobre – Meias confissões de Aninha. Editora da Universidade Federal de Goiás, 1983.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 105.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com a autora, qual é a verdadeira relação entre o poeta e a poesia?

      Para Cora Coralina, não é o poeta que cria a poesia. É a poesia que "condiciona o poeta", sugerindo que a poesia é uma força maior que molda e define quem o poeta é.

02 – Como a autora define um poeta em relação à sua sensibilidade e ao seu ofício?

      Ela o define como uma "sensibilidade acima do vulgar" e o compara a um "operário, o artífice da palavra". O poeta usa a palavra para criar a "ourivesaria de um verso".

03 – Segundo o texto, quem é o verdadeiro poeta?

      O verdadeiro poeta não é apenas aquele que escreve. É também aquele que sente a poesia, que se emociona com a rima e a autenticidade de um verso.

04 – Qual a diferença que a autora aponta entre o poeta autêntico e o medíocre?

      O poeta autêntico é ambicioso e insatisfeito, buscando uma perfeição inalcançável e sabendo que jamais alcançará um prêmio Nobel. Já o medíocre "se acredita sempre perto dele", mostrando uma falta de autocrítica.

05 – O que a autora observa nos jovens poetas que a procuram?

      Ela nota que muitos jovens têm uma "sede precoce de lançar um livro" e uma "pressa moça de subir". No entanto, a autora percebe que eles têm uma "pobre... bagagem cultural" e um vocabulário restrito, escrevendo sobre sentimentos e dores que não vivenciaram de fato.

06 – Que tipo de sentimentos esses jovens poetas costumam abordar em suas obras?

      Eles escrevem sobre temas como "fome e saudades", que a autora considera "desgastadas" de tanto serem exploradas por poetas de outras épocas.

07 – Qual é o conselho que a autora dá aos jovens escritores?

      A autora os orienta a ler mais, reescrever seus textos e a processar seus "dados concretos", ou seja, a escrever sobre suas próprias experiências. Ela também ressalta a importância de não negar as possibilidades de cada um, mesmo que a "escola não os ajudou".