quarta-feira, 26 de outubro de 2022

A XÍCARA E O BULE: UM APÓLOGO - EDUARDO CÂNDIDO - COM GABARITO

 A XÍCARA E O BULE: UM APÓLOGO

                 Eduardo Cândido

 

Após o café da tarde, sobre a mesa da varanda, a Xícara disse para o velho Bule:

– Ah… eu sou a mais bela peça da copa!

A qual respondeu o Bule:

– Tu? Ora essa!

– Sim! Sou a mais bela peça, e a mais importante também! – retrucou a xícara indignada.

– É mesmo? – perguntou o Bule, com ironia.

– Podes rir bule velho! – disse a Xícara, fechando a cara.

– Ora, não me leve a mal. Tu sabes que eu gosto muito de ti – disse amigavelmente o Bule cheio de chá.

Mas dona Xícara, ignorando o senhor Bule, continuou a discorrer amorosamente sobre as suas qualidades admiráveis:

– Pois então. É a mim que os senhores levam à boca, todos os dias, e me cobrem de beijos enquanto bebem o chá. Sou feita de porcelana delicada, com belas florzinhas pintadas de dourado, que refletem a luz e brilham como num sonho. Não é qualquer um da casa que pode me tocar.

O Bule, muito sensato, tentou transmitir uma lição:

– Mas, minha amiga, o que realmente importa é o nosso destino. O que disseste sobre tuas florzinhas é somente vaidade, mas ir à boca dos senhores é o teu dever. E sou eu que fervo a água e preparo o chá no meu interior, o qual é servido por ti. Tal é o meu destino. Tu percebes que nós dois, juntos, temos um sentido na vida?

Dona Xícara riu-se, e disse com desprezo:

– Oh, sim! Então não sou diferente dos copos de vidro grosseiro que as crianças usam para beber? Escuta, filósofo, serei franca contigo: tu tens inveja…

– Inveja? – perguntou o Bule.

– Sim! – respondeu a Xícara – pois eu estou sempre cheirosa e doce, e tu tens cheiro de bule velho e borra de chá. Lavam-me cuidadosamente, e guardam-me no armário de vidro, junto com as louças finas e os cristais, para embelezar a casa; enquanto tu és lavado com palha de aço e te escondem dentro da pia, para que não te vejam. Sou estimada, e quanto mais velha eu me torno, mais valiosa fico. E tu? És velho, manchado, cheio de amassadinhos, e és feito de metal ordinário…

O Bule ia responder alguma coisa, porém desistiu. Como poderia argumentar com uma xícara vaidosa e cabeçuda?

Nesse momento o gato da casa, inesperadamente, pulou em cima da mesa da varanda tentando caçar um besouro. O gato foi tão rápido e desastrado que nem escutou os gritos do senhor Bule e da dona Xícara:

– Cuidado!

Mas era tarde demais, e os dois caíram no chão. O velho Bule, que tinha uma base pesada, caiu e rodou como um pião, ficando em pé quando parou. E a bela Xícara, pobrezinha, espatifou-se nas lajes da varanda.

Uma lágrima de chá deslizou suavemente pela fronte do senhor Bule, enquanto observava a pequena luz de vida que aos poucos desaparecia dos caquinhos de porcelana.

– Minha amiga – disse o Bule, entristecido – escarneceste dos meus amassadinhos. Pois são as marcas da experiência, dos muitos tombos que levei na vida…

E a Xícara, definhando, respondeu num fio de voz:

– Sem essa, convencido! Se não fosse eu, tu não terias a oportunidade de ficar aí, fazendo pose de sábio!…

 Fonte: Maxi: ensino fundamental 2:multidisciplinar:6 º ao 9º ano/obra coletiva: Thais Ginicolo Cabral. 1.ed. São Paulo: Maxiprint,2019.7º ano Caderno 4 p.14-17.

Entendendo o texto

01. O texto “A Xícara e o Bule: um apólogo” é um texto tipo narrativo. Aponte os elementos da narrativa presentes nele.

Como todo texto narrativo literário, esse apólogo tem um narrador, que é narrador-observador, com foco narrativo em 3ª pessoa; personagens: a Xícara e o bule (personagens principais), o gato e o besouro (personagens secundários); tempo: após o café da tarde; espaço: sobre a mesa da varanda; e enredo: discussão dos personagens sobre vaidade e humildade.

02. Esse texto é um apólogo. Quais as principais características desse gênero presentes no texto?

Os personagens principais, a xícara e o bule, que são objetos inanimados, ganham vida, a fim de transmitir um ensinamento: a vaidade destrói a inteligência.

03. Que comportamento humano é analisado e discutido no apólogo de Eduardo Cândido? Explique-o.

O comportamento analisado e discutido nesse apólogo é a vaidade. A Xícara considera-se a peça mais bela e a mais importante da copa.

04. Em um apólogo, os personagens representam traços positivos e negativos do caráter humano, ilustrando suas virtudes e seus vícios. De que forma essa característica do gênero é apresentada no texto?

De modo amigável e sensato, o Bule tenta fazer a Xícara perceber que cada um tem a sua importância e o seu dever, e que, juntos, eles têm um sentido na vida, mas, por conta de sua vaidade, a Xícara é incapaz de perceber isso.

05. Em uma narrativa, chamamos de desfecho a solução do conflito vivido pelos personagens. Comente o desfecho desse apólogo.

A vaidade da Xícara é mantida mesmo após o Bule ter explicado e ela que as marcas que carregava eram sinais de suas experiências, ao que ela atribui ser uma oportunidade de o Bule se fazer de sábio graças a ela.

 

terça-feira, 25 de outubro de 2022

ARTIGO DE OPINIÃO: EVENTO ESPORTIVO NÃO É LUGAR DE MANIFESTAÇÃO POLÍTICA - TIAGO LEIFERT - COM GABARITO

 Artigo de opinião: Evento esportivo não é lugar de manifestação política

               Um evento como um jogo de futebol serve a manifestações políticas? Eu acho que não

        Eu não gosto da obrigação de tocar o Hino Nacional antes de eventos esportivos. Na Copa São Paulo de Futebol Júnior, no mês passado, os caras tocavam o hino inteiro antes do jogo. Tipo cinco minutos de música. Não vejo necessidade, não acho que patriotismo funciona enfiando um hino goela abaixo de torcedores. Me incomoda também saber que o hino é uma lei estadual, uma interferência da Assembleia Legislativa no rito esportivo.

        Quando política e esporte se misturam dá ruim. Vou poupá-los dos detalhes, mas basta olhar nossos últimos grandes eventos para entender que essas duas substâncias não devem ser consumidas ao mesmo tempo. O que me leva à minha primeira grande preocupação de 2018: é ano eleitoral.

        Nos Estados Unidos, Colin Kaepernick, jogador da NFL, a liga de futebol americano, resolveu se ajoelhar durante o hino americano para protestar contra a forma como a polícia trata os negros. Trump ficou pistola, os torcedores conservadores também, considerando um desrespeito ao hino. Independentemente do que você, leitor, ache, Kaepernick está desempregado. Nenhum time quis esse “troublemaker” no elenco. Como eu estava dizendo, quando esporte e política se misturam…

        Será que o evento esportivo é um local apropriado para manifestações políticas? Eu acho que não. Olhando por todos os lados, não vejo motivos para politizar o esporte.

        Do ponto de vista do atleta: ele veste uma camisa que não é dele (que, aliás, ele largará por um salário melhor), uma camisa que representa torcedores que caem por todo o espectro político. A câmera e o microfone só estão apontados para aquele jogador por causa da camisa que ele está vestindo e de sua performance esportiva.

        Não acho justo ele hackear esse momento, pelo qual está sendo pago, para levar adiante causas pessoais. É para isso que existe a rede social: ali, o jogador faz o que quiser. No campo? Ele está para entreter e representar até mesmo os torcedores que votam e pensam diferente.

        Acho também que temos de respeitar os espaços destinados à diversão, senão nosso mundo vai ficar ainda mais maluco. Imagine só: você chega em casa cansado, abre uma garrafa de vinho e ela grita “Fora, Temer!”. O catupiry da pizza veio em forma de letras “Lula preso amanhã”, e ainda usaram uma calabresa para fazer a letra O. A gente precisa respirar.

        Você liga no basquete, no vôlei, no futebol para ter umas duas horas de paixão, suspense, humor.

        Do mesmo jeito que você escolhe uma série no Netflix ou assiste a uma novela. É um desligamento da realidade; nosso cérebro precisa dessa quase meditação para aguentar o dia seguinte. E aí você senta para ver um jogo e esfregam um hino na sua cara, como se aqui fosse uma “república popular”, e seu jogador favorito resolve lacrar na hora de comemorar o gol do título do seu time. É justo? Não.

        Tem muita coisa contaminada por aí. Precisamos imunizar o pouco espaço que ainda temos de diversão. Textão é no Facebook. Deixem o esporte em paz.

LEIFERT, Tiago. GQ Brasil, 226 fev. 2018. Disponível em: https://gq.globo.com/Colunas/Tiago-Leifert/noticia/2018/02/evento-esportivo-não-e-lugar-de-manifestacao-politica.html. Acesso em: 27 mar. 2020.

Fonte: Língua Portuguesa – Se liga nas linguagens – Área do conhecimento: Linguagens e suas Tecnologias – Ensino Médio – 1ª edição – São Paulo, 2020 – Moderna – p. 36-8.

Entendendo o artigo de opinião:

01 – Tiago Leifert defende a tese de que “quando política e esporte se misturam dá ruim”.

a)   Você concorda com a tese defendida pelo autor? Por quê?

Resposta pessoal do aluno.

b)   Como argumento para reafirmar sua tese, o autor sugere aos leitores que se lembrem de eventos esportivos anteriores. Considerando o momento histórico em que o texto foi escrito (ano de 2018), faça uma pesquisa rápida e descubra: a quais grandes eventos o autor estaria se referindo?

Á Copa do Mundo FIFA de futebol masculino, realizada em 2014 no Brasil, e aos Jogos Olímpicos, realizados no Rio de Janeiro (RJ) em 2016.

c)   Por qual motivo o autor elege esses eventos como ilustrações de sua tese de que política e esporte não devem se misturar?

Por se tratarem de eventos esportivos caracterizados por decisões políticas que levaram a denúncias de superfaturamento e desvios de recursos.

d)   Elabore uma contra argumentação a essa tese, buscando estabelecer contrapontos que indiquem aspectos positivos da realização dos megaeventos esportivos no país.

Resposta pessoal do aluno.

02 – No quinto parágrafo, o autor afirma que o atleta “veste uma camisa que não é dele [...], uma camisa que representa torcedores que caem por todo o espectro político”.

a)   Em sua opinião, o fato de o atleta representar torcedores com diferentes posições políticas justifica a negação de sua manifestação política em campo? Por quê?

Resposta pessoal do aluno.

b)   Colin Kaepernick se manifestou, em campo, contra a violência policial dispensada aos negros de seu país. Qual é a sua opinião sobre esse tipo de protesto?

Resposta pessoal do aluno.

c)   Tiago Leifert se posiciona contrariamente à manifestação política do atleta estadunidense. Quais são os argumentos utilizados pelo jornalista para sustentar sua opinião?

O autor defende que o atleta é contratado para entreter torcedores de todas as posições políticas, incluindo aqueles que votam e pensam diferente dele, e que, por isso, não deve se aproveitar da exposição midiática para expor ou defender causas próprias ou pessoais.

d)   Levando em consideração os motivos de Kaepernick para realizar o protesto, como você avalia a opinião do jornalista?

Resposta pessoal do aluno.

03 – O artigo de opinião de Tiago Leifert expressa seu posicionamento sobre as relações entre política e esporte. Retome a leitura e identifique expressões que estejam introduzindo juízos de valor.

      Sugestão: “Eu não gosto da”, “Não vejo necessidade”, “Me incomoda também", “minha primeira grande preocupação”, “Não acho justo”.

04 – Analise a posição social ocupada por Tiago Leifert. Qual é o impacto dessa posição no poder de convencimento de sua argumentação e na formação da opinião pública?

      O autor era apresentador de um programa esportivo de grande audiência e, dessa forma, suas declarações acabam tendo muita repercussão e poder de convencimento na formação da opinião pública.

05 – Leifert afirma que o presidente americano Donald Trump “ficou pistola” e que considerou o protesto de Kaepernick um desrespeito ao hino do país.

a)   Qual é o significado dessa gíria no texto?

“Ficar pistola”, no texto, tem o significado de “ficar bravo”, “reprovar o protesto”.

b)   Identifique outras gírias ou expressões informais usadas pelo autor. Em sua opinião, qual é o papel delas no texto?

“Os caras”; “goela abaixo”; “dá ruim”, “hackear”; “mais maluco”; “lacrar”; “textão”; entre outras. O uso das gírias estabelece um vínculo afetivo com o leitor e cria uma imagem de um locutor descolado, menos careta e informal.

06 – Identifique a relação de causa e consequência estabelecida por Leifert ao relator o caso do protesto de Kaepernick.

      O jogador protestou, o presidente e os torcedores conservadores desaprovaram e consideraram um desrespeito ao hino e, por isso, Kaepernick foi demitido.

07 – Com qual propósito Leifert construiu essa relação?

      Ao estabelecer uma relação direta entre a empregabilidade do atleta e a expectativa de atuação acrítica, Leifert confirma sua opinião de que não é boa a mistura entre política e esporte e legítima a punição.

08 – No sexto parágrafo, o autor faz a seguinte afirmação: “Não acho justo ele hackear esse momento, pelo qual está sendo pago, para levar adiante causas pessoais”.

a)   Qual é o significado, no contexto, atribuído à expressão “hackear esse momento”?

Refere-se ao ato de sequestrar dos espectadores e torcedores a possibilidade de apreciarem o esporte de uma forma tida como legítima.

b)   Qual é a sua opinião a respeito dessa afirmação?

Resposta pessoal do aluno.

c)   Suponha, por exemplo, que as manifestações políticas dos atletas sejam proibidas para evitar esse “hackeamento”. Tente imaginar quais seriam as consequências dessa proibição para os atletas.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Uma suposta censura política, no sentido de coibir o “hackeamento” da experiência do “consumidor” do espetáculo esportivo, implicaria o apagamento das identidades políticas desses atletas, de sua liberdade de expressão e do exercício de sua plena cidadania.

ARTES VISUAIS: O MURALISMO E O GRAFITE - AMANDA NAHU - COM GABARITO

 Artes visuais: O muralismo e o grafite

Fonte da imagem - https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhq9J44QkQWZxBmfCqAMeeyx5O6_spxjXYo2lPrnRqw4cdOKx0nCS-qwQyo4Pj0YiA0wa3OoD8aw8zFfKyIsRkxlNXe_dseFRcTmhAfJFyPyhUzChs4uWv5zYKZELNHOJXaRPiBcCHLi0aX0gUovifbtL7jhD5UQ50ppYieds-mG6NkIVj8SSk7qWF1/s1600/muralismo.jpg

Obra de Amanda Nahu, integrante do projeto Xalabas, realizado na cidade de Praia, em Cabo Verde, 2018. Dimensões: 7m x 2m.

Fonte: Língua Portuguesa – Se liga nas linguagens – Área do conhecimento: Linguagens e suas Tecnologias – Ensino Médio – 1ª edição – São Paulo, 2020 – Moderna – p. 10-11.

        A fotografia reproduzida é de um mural pintado na paisagem urbana da cidade de Praia, pela artista baiana Ananda Nahu, em parceria com o projeto Xalabas, iniciativa local que visa ampliar e diversificar a oferta turística nesse território africano.

        Observe atentamente a imagem e analise os elementos gráficos e estéticos que a compõem.

Entendendo as Artes Visuais:

01 – Pense no suporte em que está inserida a obra da artista baiana.

a)   Onde o mural foi pintado?

O mural foi pintado em um muro de uma edificação que dá para a rua.

b)   O que o suporte escolhido possibilitou ao público?

A escolha desse suporte possibilitou um maior acesso à obra de arte, tornando-a pública e ampliando seu alcance.

02 – Você já ouviu falar em intervenção urbana? Pense nos sentidos dessa expressão e conclua: Por que a obra de Ananda poderia ser um exemplo de intervenção urbana?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A pintura de Ananda Nahu é um exemplo de intervenção urbana, já que representa uma interferência no espaço físico preexistente de um bairro de uma cidade, alterando inclusive a relação que as pessoas têm com o local, que é público.

03 – Em sua opinião, o mural de Ananda pode colaborar para o aumento d turismo local, como objetiva o projeto Xalabas?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A ação do projeto Xalabas colabora para o aumento do turismo ao criar novos roteiros de visitação que promovem mais pontos de interação e apreciação na cidade, seja pelo estímulo visual com a arte urbana, seja por meio da gastronomia e do artesanato locais, de serviços de entretenimento e da constituição de uma rede local de base comunitária.

04 – Ananda Nahu gosta de se apresentar como uma artista “grafiteira”. Com base em seus conhecimentos, tente explicar por que ela se denomina assim. Não se esqueça de levar em conta aspectos como o suporte da obra que ela produziu, o lugar onde está exposta, o material usado em sua composição e sua função social.

      Resposta pessoal do aluno.

05 – Ananda Nahu considera que sua obra de Cabo Verde tem uma função social. Você concorda com a artista? Conhece outros projetos artísticos que também têm cunho social?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim, já que a obra de Ananda Nahu valoriza os habitantes locais, dialoga com o entorno de forma democrática – uma vez que está na rua – e está inserida em um projeto de incentivo ao turismo que extrapola a simples fruição estética de um mural.

06 – Agora, observe atentamente os aspectos estéticos do mural de Ananda Nahu, e responda:

a)   Qual é a personagem que está retratada no mural? Que idade você acha que ela tem?

A personagem retratada é uma menina negra, tem entre 7 e 10 anos de idade.

b)   De onde você acha que e essa personagem? Onde ela vive?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Conte aos alunos que Ananda Nahu, junto com líderes comunitários do bairro da Achada Grande Frente, da cidade de Praia, e produtores do projeto Xalabas, escolheu algumas crianças do bairro para fotografar. Dentre elas, a artista escolheu Joyce, uma menina de 7 anos, para pintar a lateral do edifício.

c)   Caracterize fisicamente a personagem.

A menina foi retratada de perfil, tem uma expressão séria e um olhar altivo. Ela usa adornos no cabelo e está envolta por um tecido que apresenta um padrão específico, com a cor branca e diferentes tonalidades de azul. A mão dela parece segurar o tecido e estar apoiada sobre o ombro.

d)   Observe com atenção o tecido que envolve a personagem. Pesquise na internet que tecido é esse e arrisque interpretar: Que simbologia importante ele traz para a obra?

Os padrões do tecido em que a menina está envolvida são tradicionais de Cabo Verde, resultado da tessitura de fios de algodão de diferentes cores. O uso desse tecido tem um significado simbólico para a população, pois se relaciona com a afirmação da identidade da cultura cabo-verdiana.

e)   Tente explicar de que forma o olhar da personagem é retratado e que efeito ele produz em você ou nos passantes.

O olhar da menina está voltado para o espectador, opção que reforça o protagonismo da personagem e a empodera.

f)    Atente para o fundo da imagem. Descreva-o.

O fundo da imagem é bastante colorido, com diferentes motivos e formas. Ele é composto de um céu vermelho, delicado e estilizado. É um céu noturno, porque há estrelas e uma lua cheia. Abaixo do céu, há três faixas com texturas diferentes: a primeira tem um padrão floral, a segunda apresenta uma sequência de faixas com diferentes tonalidades de verde e, por último, há uma textura que lembra os padrões dos pelos de uma zebra.

g)   Note que há diferenças entre a personagem retratada em primeiro plano e o fundo pintado atrás dela. Aponte essas diferenças. Para isso, retome a questão do olhar da personagem, além da luz, da sombra, do volume e da perspectiva.

A figura da menina apresenta maior realismo devido à técnica de luz e sombra utilizada na pintura, responsável por dar volume ao retrato. Já o fundo é uma composição de superfícies planas e, por isso, não apresenta perspectiva nem realismo. O mural mistura diferentes técnicas de perspectiva e volume.

h)   Quais cores predominam na composição e que efeito elas produzem?

As cores que predominam são tonalidades de vermelho, azul e verde. São cores fortes e contrastantes que fazem a pintura chamar atenção em meio à paisagem.

 

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

CRÔNICA: TESTEMUNHA TRANQUILA - STANISLAW PONTE PRETA - COM GABARITO

 CRÔNICA: TESTEMUNHA TRANQUILA

                   Stanislaw Ponte Preta

O camarada chegou assim com ar suspeito, olhou pros lados e — como não parecia ter ninguém por perto — forçou a porta do apartamento e entrou. Eu estava parado olhando, para ver no que ia dar aquilo. Na verdade eu estava vendo nitidamente toda a cena e senti que o camarada era um mau-caráter.

E foi batata. Entrou no apartamento e olhou em volta. Penumbra total. Caminhou até o telefone e desligou com cuidado, na certa para que o aparelho não tocasse enquanto ele estivesse ali. Isto — pensei — é porque ele não quer que ninguém note a sua presença: logo, só pode ser um ladrão, ou coisa assim.

Mas não era. Se fosse ladrão estaria revistando as gavetas, mexendo em tudo, procurando coisas para levar. O cara — ao contrário — parecia morar perfeitamente no ambiente, pois mesmo na penumbra se orientou muito bem e andou desembaraçado até uma poltrona, onde sentou e ficou quieto:

— Pior que ladrão. Esse cara deve ser um assassino e está esperando alguém chegar para matar — eu tornei a pensar e me lembro (inclusive) que cheguei a suspirar aliviado por não conhecer o homem e — portanto — ser difícil que ele estivesse esperando por mim. Pensamento bobo, de resto, pois eu não tinha nada a ver com aquilo.

De repente ele se retesou na cadeira. Passos no corredor. Os passos, ou melhor, a pessoa que dava os passos, parou em frente à porta do apartamento. O detalhe era visível pela réstia de luz, que vinha por baixo da porta.

Som de chave na fechadura e a porta se abriu lentamente e logo a silhueta de uma mulher se desenhou contra a luz. Bonita ou feia? — pensei eu. Pois era uma graça, meus caros. Quando ela acendeu a luz da sala é que eu pude ver. Era boa às pampas. Quando viu o cara na poltrona ainda tentou recuar, mas ele avançou e fechou a porta com um pontapé… e eu ali olhando. Fechou a porta, caminhou em direção à bonitinha e pataco… tacou-lhe a primeira bolacha. Ela estremeceu nos alicerces e pimba… tacou outra. Os caros leitores perguntarão:— E você? Assistindo àquilo tudo sem tomar uma atitude?

— a pergunta é razoável. Eu tomei uma atitude, realmente. Desliguei a televisão, a imagem dos dois desapareceu e eu fui dormir.

https://contobrasileiro.com.br/testemunha-tranquila-cronica-de-stanislaw-ponte-preta/

Fonte: Figueiredo, Adriana Giarola Ferraz-Sistema Maxi de Ensino: ensino médio: língua portuguesa 2º ano: cadernos de1 a 4: manual do professor/Adriana Giarola Ferraz Figueiredo, Denise Silveira Silva Barros, Alberto Luís Pugina Silva. 1.ed. São Paulo: Maxiprint Editora,2018. p.26-7.

 

Entendendo o texto

01. A crônica de Stanislaw Ponte Preta apresenta que tipo de narrador? Explique.

Trata-se de um narrador-personagem, pois apesar de o narrador contar a história de um homem suspeito, em 3ª pessoa, ele também é um personagem, ele participa da história, como demonstra o trecho a seguir: “Eu estava parado olhando, para ver no que ia dar aquilo”, por exemplo.

02. O texto lido tem um desfecho inusitado. O que acontece de inesperado no fim da crônica? Justifique a sua resposta.

O desfecho da crônica esclarece que o narrador está apenas assistindo à televisão. Trata-se de um telespectador, portanto, o que é narrado nada mais é do que parte de um programa televisivo.

03. Analisando o título da crônica e o desfecho apresentado, é possível concluir que há uma crítica implícita nesse contexto. Qual é essa crítica? Fundamente a sua resposta com um trecho do texto.

O título “Testemunha tranquila” remete-nos ao fim da crônica, quando o leitor descobre que o narrador é somente, um telespectador de algum programa de tevê. Diante disso e do enredo, é possível inferir que há uma crítica a esse tipo de espectador que, mesmo diante de um fato um tanto quanto questionável, o homem misterioso bater em uma mulher, mesmo que dentro de um programa de tevê, a única atitude do telespectador foi desligar a tevê e esquecer o que tinha visto: “Eu tomei uma atitude, realmente. Desliguei a televisão, a imagem dos dois desapareceu e eu fui dormir.”

04. Releia este período: “Na verdade eu estava vendo nitidamente toda a cena e senti que o camarada era um mau-caráter.” O vocábulo que, destacado no texto, apresenta que classificação morfológica? Explique a sua resposta.

Nesse período, o vocábulo “que” corresponde a uma conjunção integrante, pois ele está ligando uma oração principal a uma oração subordinada substantiva objetiva direta.

05. No excerto “Se fosse ladrão estaria revistando as gavetas, mexendo em tudo, procurando coisas para levar. O cara – ao contrário – parecia morar perfeitamente no ambiente, pois mesmo na penumbra se orientou muito bem e andou desembaraçado até uma poltrona, onde sentou e ficou quieto: “há duas incidências da palavra se.

a)   Qual é a função morfológica exercida pelo se nesses dois contextos distintos?

Na primeira ocorrência, “se” é uma conjunção subordinada condicional, pois introduz uma oração subordinada adverbial condicional e pode ser substituído por “caso”. Na segunda ocorrência, trata-se de um pronome reflexivo, pois o sujeito pratica e sofre a ação ao mesmo tempo.

b)   Na segunda incidência do vocábulo se, qual é a função sintática exercida?

Nessa ocorrência, “se” exerce a função de objeto direto do verbo “orientar”, que é transitivo direto pronominal, pois nesse contexto quem orienta, orienta alguém, o homem suspeito orientou a si mesmo.

 

ARTIGO DE OPINIÃO: O MITO DO TEMPO REAL - LULI RADFAHER - CRASE - COM GABARITO

 ARTIGO DE OPINIÃO: O MITO DO TEMPO REAL

                                              Luli Radfahrer

         O descompasso entre a velocidade das máquinas e a capacidade de compreensão de seus usuários leva a um quadro de ansiedade social sem precedentes. Em blogs, redes sociais, podcasts e mensagens eletrônicas diversas todos pedem desculpas pela demora em responder às demandas de seus interlocutores, impacientes como nunca. E-mails que não sejam atendidos em algumas horas acabam encaminhados para outras redes, em um apelo público por uma resposta.

        No desespero por contato instantâneo, telefones chamam repetidamente em horas impróprias, mensagens de texto são trocadas madrugada adentro, conversas multiplicam-se por comunicadores instantâneos e toda ocasião – do trânsito ao banheiro, do elevador à cama, da hora do almoço ao fim de semana – parece uma lacuna propícia para se resolver uma pendência.

        A resposta imediata a uma requisição é chamada tecnicamente de “tempo real”, mesmo que não haja nada verdadeiramente real nem humano nessa velocidade. O tempo imediato, sem pausas nem espera, em que tudo acontece num estalar de dedos é uma ficção. Desejá-lo não aumenta a eficiência. Pelo contrário, pode ser extremamente prejudicial.

         O contato estabelecido com o mundo real é marcado por demoras e esperas, tempos aparentemente perdidos em que boa parte da reflexão e do aprendizado acontecem. Entupir cada pausa com textos, músicas, jogos, vídeos e atividades multitarefa leva a uma sobrecarga cognitiva que só aumenta o estresse e a frustração. Conectados por tempo integral, todos parecem estar cada vez mais tensos, divididos, esquartejados entre várias demandas, muitas delas desnecessárias.

         A dependência da conexão é tamanha que leva usuários de smartphones a sofrerem uma espécie de síndrome de abstinência cada vez que são submetidos ao extremo desconforto cada vez que os esquecem ou veem sua bateria esgotar.

         Muitos combatem a superficialidade nas relações digitais pelos motivos errados, questionando a validade dos “amigos” no Facebook ou “seguidores” no Twitter ao compará-los com seus equivalentes analógicos. O problema não está na tecnologia, mas na intensidade dispensada em cada interação. Seja qual for o meio em que ele se dê, o contato entre indivíduos demanda tempo, e nesse tempo não é só a informação pura e simples que se troca. Festas, conversas, leituras, relacionamentos, músicas e filmes de qualidade não podem ser acelerados ou resumidos a sinopses. Conversas, ao vivo ou mediadas por qualquer tecnologia, perdem boa parte de sua intensidade com a segmentação. O tempo empenhado em cada uma delas é muito valioso, não faz sentido economizá-lo, empilhá-lo ou segmentá-lo. O tempo humano (que talvez seja irreal, se o “outro” for provado real) é bem mais devagar. Nossas vidas são marcadas tanto pela velocidade quanto pela lentidão.

         Acelerado, multitarefa e disponível em páginas e bases de dados cada vez maiores e interligadas, o conteúdo da rede é congelado em prateleiras cada vez maiores e mais complexas. Se por um lado essa compilação FÁCILita o acesso à informação, por outro ela achata a percepção de continuidade, tempos e processos. Na grande biblioteca digital tudo acontece no presente contínuo. O passado é achatado, o futuro vem por mágica.

        Essa quebra da sequência histórica faz com que muitos processos pareçam herméticos ou misteriosos demais. Quando não há uma compreensão das etapas componentes de um processo, não há como intervir nelas, propondo correções, adaptações ou melhorias. Tal impotência leva a uma apatia, em que as condições impostas são aceitas por falta de alternativa. Escondidos seus processos industriais, os produtos adquirem uma aura quase divina, transformando seus usuários em consumidores vorazes, que se estapeiam em lojas à procura do último aparelho eletrônico que se proponha a preencher o vazio que sentem.

        Incapazes de propor alternativas ou sugerir mudanças, os consumidores bovinos são estimulados pela publicidade a um gigantesco hedonismo e pragmatismo. A FÁCILidade de acesso à abundância leva a uma passividade e a um pensamento pragmático que defende a ideia de “vamos aproveitar agora, pois quando acontecer um problema alguém terá descoberto a solução”, visível na forma com que se abordam problemas de saúde, obesidade, consumo, lixo eletrônico, esgotamento de recursos e poluição ambiental.

        Em alta velocidade há pouco espaço para a reflexão. Reduzidos a impulsos e reflexos, corremos o risco de deixar para trás tudo aquilo que nos diferencia das outras espécies.

 (Luli Radfahrer. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luliradfahrer/1191007-o-mito-do-tempo-real.shtml.)

Fonte: Figueiredo, Adriana Giarola Ferraz-Sistema Maxi de Ensino: ensino médio: língua portuguesa 2º ano: cadernos de1 a 4: manual do professor/Adriana Giarola Ferraz Figueiredo, Denise Silveira Silva Barros, Alberto Luís Pugina Silva. 1.ed. São Paulo: Maxiprint Editora,2018. p.17-9.

 

01) O tema de um texto é o seu tópico central, em torno do qual todas as informações convergem para que o texto tenha unidade. Em vista desse aspecto, assinale a alternativa que apresenta o tema sobre o qual o texto versa.

a) A falta de paciência em esperar por respostas.

b) A dinâmica das interações na contemporaneidade.

c) O excesso de informações disponíveis no mundo virtual.

d) O esvaziamento das relações humanas nos dias de hoje.

 

02)(UTFPR) Analise o uso da crase no fragmento:

     Escondidos seus processos industriais, os produtos adquirem uma aura quase divina, transformando seus usuários em consumidores vorazes, que se estapeiam em lojas à procura do último aparelho eletrônico.

 

Assinale a alternativa em que o emprego da crase se justifica pelo mesmo uso que no fragmento acima.

a)   Ela ficou parada à espera de uma oportunidade para dar sua opinião.

b)   Os imigrantes sírios voltaram à terra de seus antepassados.

c)   Todos os funcionários do jornal foram à Lapa inaugurar a gráfica.

d)   Dirigia-se àquela população como seu reduto eleitoral.

e)   A placa indicava que era proibido virar à esquerda nesta rua.

 

 

03. (PUC-PR) Leia as sentenças e assinale o que se pede a seguir.

      I. Em 2014, os brasileiros, confiantes e crédulos, saíram a consumir, como se consumo fosse investimento. E o Estado agora nos convoca à pagar também suas dívidas, que não são nossas. (Veja. São Paulo: Abril, p.23, 10 jun.2015. Adaptado).

     II.  Pode-se dizer que as gerações da Idade Média falam às gerações atuais por meio das grandes obras de arquitetura que exprimem a devoção e o espírito da época. (WHITNEY, W. A vida da linguagem. Petrópolis: Vozes, 2010. p.17).

    III. À linguagem é uma expressão destinada a transmissão do pensamento.

    IV. O atendimento a gestantes foi suspenso ontem à tarde e a Prefeitura pouco pode fazer a curto prazo para amenizar a situação.

     V. Transmita a cada um dos pacientes às instruções necessárias à continuidade do tratamento.

 

O sinal indicativo de crase está adequadamente empregado na(s) alternativa(s):

a)   IV somente.

b)   I, III e V.

c)   II, III e IV.

d)   I e IV.

e)   II e IV.

 

04. (Fatec-SP) Assinale a alternativa que apresenta o correto emprego da crase.

     a) Alguns atletas olímpicos irão à São Paulo fazer exames médicos periódicos.

     b) À um ano dos jogos Olímpicos do Rio, é impossível adquirir alguns ingressos.

     c) Nossos atletas, à partir dessa semana, serão submetidos a novos treinamentos.

     d) Nenhum atleta dessa delegação pode comer o que deseja o tempo todo, à vontade.

      e) A homenagem à João Carlos de Oliveira, o João do Paulo, resgata a nossa história olímpica.

 

05. (Acafe-SC) Assinale a alternativa correta quanto ao acento indicador da crase.

       a) Em tempos de doenças transmitidas à seres humanos pelo mosquito Aedes aegypti, médicos de todo o país dirigem-se à Curitiba para estudar temas transversais relacionados a dengue, a Chikungunya e ao zika.

       b) Convém não confundir a habitação voltada a moradia própria, mesmo que irregular, com a ação de especuladores, que, às vezes, invadem às áreas de preservação permanente e vendem até barracos prontos.

       c) Temos que aprender à punir com o voto todos os corruptores, da direita a esquerda, ano a ano, independentemente da cor partidária.

       d) Rosamaria recebeu do Juizado Militar a opção da liberdade vigiada e pôde sair da cadeia, embora a liberação tivesse fortes limitações como proibição de deixar a cidade, de chegar a casa após as 22h e de trabalhar.