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sexta-feira, 9 de agosto de 2024

ENIGMA: O CASO DA ZELADORA - (FRAGMENTO) - AGATHA CHRISTIE - COM GABARITO

 Enigma: O caso da zeladora – Fragmento

               Agatha Christie

        -- E aí – perguntou o dr. Haydock para sua paciente –, como estão as coisas?

        Recostada no travesseiro, Miss Marple mostrou a ele um sorrido lívido.

        -- Creio, de fato, que estou melhor – reconheceu –, mas sinto um desânimo tão grande. Não consigo parar de pensar o quanto teria sido melhor se tivesse morrido. Afinal, sou uma velha. Ninguém me quer, ninguém se preocupa comigo.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqqoufUrUQLVpzH5aq420JHR-_rlgOIuJVC3wFZzchEtga1a2dCyix1rgPbwxY15YpKlv0QT5YoFfBcu9LArPwIqa7kpBZqFOSRlnm3v06AQyQeUyO9_A71CO6qkwmDhjG_Mjt3vR44jHaHb4Ug-Cnrvu_8a9926ymMSJqBVGvO_R1jkD4a7v4p5NFUcA/s320/ZELADORA.jpg


        O dr. Haydock parou com o jeito brusco que lhe era peculiar.

        -- Sim, eu sei, uma típica reação desse tipo de gripe. O que a senhora precisa é de algo que preencha sua mente. Um tónico cerebral.

        Miss Marple suspirou e balançou a cabeça.

        -- E adivinhe só – continuou o dr. Haydock –, trouxe o medicamento comigo.

        Ele jogou um envelope grande na cama.

        -- Feito sob medida para a senhora. O tipo de enigma que combina com o seu estilo.

        -- Um enigma? – Miss Marphe mostrou-se interessada.

        -- Uma proeza literária de minha parte – disse o médico, enrubescendo um pouco. – Tentei fazer uma história comum com isso. “Ele disse”, “ela falou”, “a garota pensou”, etc. Os fatos da história são verdadeiros.

        -- Mas por que é um enigma? – quis saber Miss Marple.

        O dr. Haydock deu um sorriso largo.

        -- Porque a interpretação depende da senhora. Quero ver se a senhora é tão esperta quanto sempre pareceu.

        Depois dessa alfinetada, ele foi embora.

        Miss Marple apanhou o manuscrito e começou a ler [...].

        Quando o dr. Haydock chegou no dia seguinte, ficou contente ao observar as bochechas coradas de Miss Marple e, sem dúvida, mais animação em sua conduta.

        -- Bem – ele perguntou –, qual é o veredicto?

        -- Qual é a questão, dr. Haydock? –, rebateu Miss Marple.

        -- Ah, minha querida senhora, terei de lhe contar isso?

        -- Suponho – disse Miss Marple – que é o comportamento curioso da zeladora. Por que ela se comportou daquele jeito tão estranho? [...] A propósito, o que aconteceu com ela?

        -- Fugiu para Liverpool.

        -- Tudo muito conveniente para certa pessoa – afirmou Miss Marple. – Sim, acho que a “questão da conduta da zeladora” pode ser solucionada de modo fácil. Suborno, não foi?

        -- É essa a sua resolução?

        -- Bem, se não era natural para ela comportar-se daquele jeito, deve ter sido “colocada em ação”, como as pessoas dizem, e isso significa que alguém pagou para ela fazer o que fez.

        [...]

        -- Pontuação máxima para a senhora, Miss Marple... e pontuação máxima para mim também pela minha prescrição. A senhora está parecendo quase a mesma de novo.

CHRISTIE, Agatha. O caso da zeladora. In: Os últimos casos de Miss Marple. Trad. Márcia Knop e Pedro Gonzaga. Porto Alegre: L&PM, 2013. p. 69-85.

Entendendo o enigma:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Lívido: muito pálido.

·        Enrubescendo: do verbo “enrubescer”; corar, tornar-se vermelho.

·        Manuscrito: texto escrito à mão.

·        Proeza: algo que ultrapassa os limites do habitual.

·        Tônico: medicamento que traz vitalidade ao organismo.

02 – O que motivou a conversa inicial entre o dr. Haydock e Miss Marple?

      A conversa foi motivada pelo estado de saúde de Miss Marple, que estava se recuperando de uma gripe e sentia-se desanimada, desejando até ter morrido.

03 – Como Miss Marple descreveu seu estado de espírito ao dr. Haydock?

      Miss Marple disse que, apesar de estar melhorando fisicamente, sentia um grande desânimo e achava que ninguém se importava com ela.

04 – O que o dr. Haydock sugeriu como tratamento para o desânimo de Miss Marple?

      O dr. Haydock sugeriu que Miss Marple precisava de algo para preencher sua mente, algo como um "tónico cerebral", e trouxe um enigma para ela resolver.

05 – Como o dr. Haydock apresentou o enigma a Miss Marple?

      O dr. Haydock jogou um envelope grande na cama de Miss Marple, dizendo que era um enigma feito sob medida para ela e que era uma história com fatos verdadeiros que precisava ser interpretada.

06 – Qual foi a reação inicial de Miss Marple ao ouvir sobre o enigma?

      Miss Marple mostrou-se interessada quando ouviu que se tratava de um enigma.

07 – Como Miss Marple parecia no dia seguinte, após ler o manuscrito?

      No dia seguinte, Miss Marple parecia mais animada, com as bochechas coradas, o que agradou o dr. Haydock.

08 – Qual foi a primeira pergunta que Miss Marple fez ao dr. Haydock sobre o enigma?

      Miss Marple perguntou qual era a questão central do enigma.

09 – Qual foi a dedução inicial de Miss Marple sobre o comportamento da zeladora?

      Miss Marple deduziu que o comportamento estranho da zeladora devia-se a um suborno, alguém pagou para ela agir daquela maneira.

10 – Qual foi a reação do dr. Haydock à resolução de Miss Marple sobre o enigma?

      O dr. Haydock concordou com a resolução de Miss Marple, elogiando-a e dizendo que ambos mereciam pontuação máxima, ele pela prescrição e ela pela resolução.

11 – Qual foi a conclusão final sobre o estado de Miss Marple após resolver o enigma?

      A conclusão foi que Miss Marple estava parecendo quase a mesma de antes, indicando que resolver o enigma teve um efeito positivo em sua recuperação.

 

 

ENIGMA: O INCRÍVEL CASO DO VIDEOGAME - JACOB DOS SANTOS BIZIAK - COM GABARITO

 Enigma: O incrível caso do videogame

              Jacob dos Santos Biziak

        Depois de tanto trabalho e tanto ter suas histórias divulgadas pelo mundo, em diversas línguas, Sherlock Homes se aposentou. Inúmeros mistérios foram resolvidos com sua ajuda. No entanto, o maior mistério de sua vida continua em aberto: Seria possível ter sossego um dia? Pensando nisso, resolveu viajar para longe de Londres. O destino escolhido foi o Brasil. A ideia não era conhecer somente um lugar do país, mas vários. Decidiu, então, que poderia ser interessante começar de baixo para cima, do mais frio ao mais quente. Resolveu, também, que iria sozinho, sem seu fiel companheiro Watson. Afinal, acreditava que, assim, seria mais difícil ser reconhecido. A viagem, enfim, começou e seguiu uma ordem: Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, São Paulo... eis que, de repente, o descanso acabou.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQkCmOmKqpy21kV2QJooghbrwEINXqQUCoOKMv9scxa_JM_XRdKM56Xgna5zsFm3IxdGWYNJknMLxyUVCmi1THExHBovwfv2zWoLovww-PD7fwIDoBpI9sxMWbQXf-8rvsgj_4PdtI9vmYY-K_m7Hq12nFBofbQCdZ0-XGWWOAO_mg0jugIEhiJwNk2MU/s320/Sherlock_Holmes_Portrait_Paget.jpg


        Batendo pernas pelo parque Ibirapuera em São Paulo, observando árvores e pássaros, ouviu algo que se parecia com “senhor Holmes”. Como não tinha certeza sobre ter, de fato, ouvido seu nome, resolveu ignorar. Não era possível que alguém ali o reconhecesse. Passados alguns segundos, novamente escutou:

        -- Senhor Holmes, muito prazer, detetive Silveira.

        Sherlock olhou para os céus, apertou bem os olhos e não conseguiu acreditar. Voltou-se para o homem que lhe estendia a mão e disse:

        -- Como é possível o senhor ter me reconhecido?! Estou de férias, algo que nunca fiz na vida. Como me descobriu e justamente aqui?!

        -- Ora, senhor Holmes, eu também sou um bom detetive. Não é porque não consigo encontrar um ladrão de videogame que não conseguiria rastrear o senhor! Na verdade, mesmo em um caso como esse, eu não o chamaria diretamente de Londres para cá. Mas nossas câmeras no aeroporto registraram sua entrada no país. Os policiais ficaram tão curioso com a suposta coincidência do nome até descobrirem que o Holmes que estava chegando ao Brasil era exatamente o mesmo famosíssimo da Inglaterra. Isso tem sido comentado na polícia brasileira há dias. Estamos acompanhando e protegendo o senhor desde sua chegada. Afinal, não queremos que nada de ruim lhe aconteça. Quando eu soube que o senhor estaria em São Paulo, tratei de rastreá-lo. E, agora, cá estamos. Preciso muito de um palpite do senhor sobre um caso. Não quero que se desligue totalmente de suas férias, mas que me dê, ao menos, uma dica. Seria possível?

        -- O que se passa? É urgente?

        -- Não, não é urgente, mas é intrigante. Poderia me acompanhar? Assim lhe ponho a par da ocorrência.

        No caminho, Silveira resumiu o que vinha acontecendo. De fato, o caso não era urgente. Ainda assim, durava meses. A polícia estava sendo fortemente cobrada por uma solução, já que envolvia um poderoso empresário, viúvo, que viajava sempre a trabalho por diversos países.

        O filho desse viúvo, toda semana, sem falta, tem um videogame roubado. Sem deixar vestígios, um aparelho sempre some no espaço de sete dias. Assim, que desaparece, o pai trata – mesmo distante - de repor com um novo eletrônico ainda melhor que o anterior. Assim, aparelhos de todos os lugares do mundo começaram a chegar.

        Nunca foram encontradas marcas de arrombamentos, invasões, sujeiras, pedaços de qualquer coisa quebrada. Todos os funcionários da casa são antigos, antes de o menino nascer. Foram interrogados e descartados como suspeitos, por enquanto, em função de seu ótimo histórico de convivência com a família.

        Nas últimas vezes, até fios de cabelos diferentes que frequentam a casa foram procurados: mais uma vez, sem sucesso. A cada sumiço de videogame, o menino ligava para o pai, chorando, dizendo o quanto se sentia inseguro e uma queixa era feita à polícia. Parecia que os aparelhos simplesmente evaporavam. Em um dia, quando o fim de mais um ciclo de semana se aproximava, a casa foi inteiramente cercada por policiais escondidos, esperando a hora de o ladrão sair com o aparelho. As câmeras, os detetives, nada e nem ninguém capazes de ver qualquer movimentação estranha. Logo pela manhã, os gritos: o novo aparelho tinha sumido também.

        -- Me levem à cena, à casa do empresário. Não vamos perder mais tempo. Se há algo a ser descoberto, é lá. – pediu Sherlock.

        -- Mesmo a casa já tendo sido revirada? – perguntou Silveira.

        -- Talvez exista algo menos óbvio que ainda não tenha sido buscado. Os mistérios, quase sempre, dependem de acreditarmos em determinadas soluções. Por isso, preciso saber se todos estão prontos para o que pode ser descoberto.

        -- Do jeito como o senhor fala, chego a sentir um pequeno medo.

        -- Vamos logo à casa. Em minha cabeça, pelo que você conta, só há uma possibilidade.

        Chegando à mansão, em uma região distante do centro de São Paulo, Sherlock foi logo apresentado ao pai – que, por coincidência, também estava no Brasil naqueles dias – e ao menino. O famoso detetive inglês perguntou ao empresário:

        -- Lamento pela pergunta, mas há quanto tempo a mãe do garoto faleceu?

        -- Há cerca de seis meses – ele respondeu.

        Com isso, Sherlock pediu para ver o quarto do menino. Sem entenderem muita coisa, o detetive Silveira, o pai e o filho levaram Holmes até o local. Lá, Sherlock começou a bater nas superfícies de madeira que formavam os móveis, mesmo nos locais mais escondidos. Fez isso por diversos minutos. Ninguém entendia nada.

        Após cerca de quase uma hora, o detetive inglês abriu o armário de roupas. Algo lhe chamou aa atenção. Conforme batia nas paredes da parte de trás do armário, uma delas parecia oca. Bateu novamente três vezes. Após isso, apertou a parede e percebeu que ela estava bamba. Sem muito esforço, ela caiu, e um vão atrás dela foi revelado. Iluminado com a luz advinha da câmera do celular, o segredo se fez luz! Todos os videogames roubados estavam lá, uns sobre os outros. Sherlock olhou para o pai, que estava incrédulo. Depois, olhou para o menino, de cujos olhos desciam lágrimas.

        -- Como o senhor chegou com tanta facilidade a isso? – perguntou o detetive Silveira.

        -- Elementar, meu caro Silveira. A casa nunca foi arrombada, e ninguém nunca foi visto saindo com algum aparelho: só podia ser alguém de dentro da mansão, logo. Todos os funcionários são antigos e, de início, não teriam motivos para isso, a não ser que alguém tivesse sofrido alguma mudança recente em sua vida, a ponto de precisar roubar. Para minha surpresa, o único que teve a vida drasticamente mudada foi o próprio garoto, dono dos eletrônicos. Sempre que algum some, ele liga para o pai, clamando por sua segurança. Logo, não foi difícil pensar: o próprio menino desaparece com os aparelhos. Com isso, ele não busca ainda mais segurança contratada para a casa, mas, sim, a única que lhe pode salvar neste momento: a do próprio pai. Incapaz de dizer isso, o roubo de cada videogame, ao longo do tempo, poderia chamar a atenção de seu pai e trazê-lo de volta, permanentemente, à casa...

Biziak, Jacob dos Santos.

Entendendo o enigma:

01 – Por que Sherlock Holmes decidiu viajar para o Brasil?

      Para tentar ter um tempo de sossego e paz longe de Londres, viajando por vários lugares do país, começando de baixo para cima, do mais frio ao mais quente.

02 – Quem foi a primeira pessoa a reconhecer Holmes no Brasil e onde isso aconteceu?

      O detetive Silveira, no parque Ibirapuera em São Paulo.

03 – Qual era o caso que o detetive Silveira queria que Holmes ajudasse a resolver?

      O roubo semanal de videogames da casa de um poderoso empresário viúvo.

04 – Como Holmes foi identificado ao entrar no Brasil?

      Pelas câmeras no aeroporto, que registraram sua entrada no país e despertaram a curiosidade dos policiais brasileiros.

05 – Qual era a reação de Holmes ao ser reconhecido e abordado por Silveira?

      Ele ficou surpreso e incrédulo por ter sido reconhecido, especialmente enquanto estava de férias.

06 – O que fez Holmes aceitar acompanhar Silveira e se envolver no caso?

      Embora estivesse de férias, ele se interessou pelo caráter intrigante do caso e decidiu ajudar.

07 – Como o pai do menino reagia a cada vez que um videogame era roubado?

      Mesmo estando distante, ele rapidamente substituía o aparelho roubado por um novo, ainda melhor que o anterior.

08 – O que Holmes fez ao chegar à mansão do empresário?

      Ele examinou o quarto do menino, batendo nas superfícies de madeira e investigando cuidadosamente.

09 – Como Holmes descobriu o esconderijo dos videogames?

      Ele percebeu que uma parede do armário de roupas parecia oca e bamba. Após apertar e derrubá-la, encontrou um vão escondido onde estavam todos os videogames roubados.

10 – Qual foi a dedução de Holmes sobre o motivo do menino roubar os videogames?

      O menino estava buscando atenção e segurança do pai. Os roubos constantes eram uma maneira de chamar a atenção do pai e tentar trazê-lo de volta para casa permanentemente.