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quinta-feira, 19 de outubro de 2023

POEMA: MATÉRIA DE POESIA - MANOEL DE BARROS - COM GABARITO

 Poema: Matéria de Poesia

             Manoel de Barros

Todas as coisas cujos valores podem ser
disputados no cuspe à distância
servem para poesia

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyIDxJctdtGv7PCa2MzUIk_HDNDTE44SIkEsVK2hr9Z83CUsYgFbEKikNURxcWz_DWVUZign0M2RBYuFYAqDIESoVpMYNC5spc2i7AzJct-kE_PIjAPoQ_ahYJ-NaRCIu539HQBehVm9_K40UQK2t2n-nEILQc3r_xLVHIC-SZxlXbztbUugAYhtZSYbg/s1600/POESIASS.jpg


O homem que possui um pente
e uma árvore
serve para poesia

Terreno de 10 x 20, sujo de mato — os que
nele gorjeiam: detritos semoventes, latas
servem para poesia

Um chevrolé gosmento
Coleção de besouros abstêmios
O bule de Braque sem boca
são bons para poesia.

As coisas que não levam a nada
têm grande importância

Cada coisa ordinária é um elemento de estima

Cada coisa sem préstimo
tem seu lugar
na poesia ou na geral.

O que se encontra em ninho de João-Ferreira:
caco de vidro, grampos,
retratos de formatura,
servem demais para poesia.

As coisas que não pretendem, como
por exemplo: pedras que cheiram
água, homens
que atravessam períodos de árvore,
se prestam para poesia.

Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma
e que você não pode vender no mercado
como, por exemplo, o coração verde
dos pássaros,
serve para poesia.

As coisas que os líquenes comem
— sapatos, adjetivos —
têm muita importância para os pulmões
da poesia.

Tudo aquilo que a nossa
civilização rejeita, pisa e mija em cima,
serve para poesia.

Os loucos de água e estandarte
servem demais

O traste é ótimo
O pobre-diabo é colosso

Tudo que explique
o alicate cremoso
e o lodo das estrelas
serve demais da conta.

Pessoas desimportantes
dão pra poesia
qualquer pessoa ou escada.

Tudo que explique
a lagartixa da esteira
e a laminação de sabiás
é muito importante para a poesia.

O que é bom para o lixo é bom para a poesia.

Importante sobremaneira é a palavra repositório;
a palavra repositório eu conheço bem:
tem muitas repercussões
como um algibe entupido de silêncio
sabe a destroços.

As coisas jogadas fora
têm grande importância
— como um homem jogado fora.

Aliás é também objeto de poesia
saber qual o período médio
que um homem jogado fora
pode permanecer na terra sem nascerem
em sua boca as raízes da escória.

As coisas sem importância são bens de poesia
Pois é assim que um chevrolé gosmento chega
ao poema, e as andorinhas de junho.

Gramática Expositiva do Chão (Poesia quase toda) – Manoel de Barros. Editora Civilização Brasileira – edição 1990.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema principal do poema "Matéria de Poesia" de Manoel de Barros?

      O poema fala sobre como elementos comuns e frequentemente negligenciados na vida cotidiana têm um lugar importante na poesia.

02 – Quais são alguns exemplos de coisas comuns mencionadas no poema que são consideradas apropriadas para a poesia?

      O poema menciona exemplos como um pente, uma árvore, um terreno sujo, um chevrolé gosmento, uma coleção de besouros abstêmios, entre outros.

03 – Por que o poeta afirma que as coisas que não levam a lugar nenhum são importantes na poesia?

      O poeta acredita que coisas que não têm um propósito aparente ou que não conduzem a nada têm um valor significativo na poesia, pois podem ser exploradas de maneira criativa.

04 – Qual é a importância dada às coisas rejeitadas e ignoradas pela sociedade no poema?

      O poema enfatiza que as coisas rejeitadas e menosprezadas pela sociedade têm grande importância na poesia, pois podem ser fontes ricas de inspiração.

05 – Qual é o papel dos elementos naturais, como pássaros e árvores, no poema?

      O poema sugere que elementos naturais, como o coração verde dos pássaros e homens que atravessam períodos de árvore, são adequados para a poesia e têm importância.

06 – O que o poeta quer dizer com a palavra "repositório" e por que ela é mencionada no poema?

      O poeta se refere à palavra "repositório" como uma palavra importante na poesia, com muitas repercussões. Ele a usa para enfatizar a riqueza e a profundidade das palavras na poesia.

07 – Como o poeta descreve o processo de um objeto ou pessoa comum se tornar parte da poesia no poema?

      O poema sugere que objetos comuns e pessoas desimportantes se tornam parte da poesia através de uma transformação criativa, onde elementos negligenciados e rejeitados são valorizados e explorados na arte poética.

 

 

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

POEMA: O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS - MANOEL DE BARROS - COM GABARITO

 Poema: O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS

Manoel de Barros    


Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Manoel de Barros, Memórias inventadas – A infância. São Paulo: Planeta, 2003. p. IX.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 54-6.

Entendendo o poema:

01 – Você conhece Manoel de Barros? Já leu algum poema desse escritor?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – A que ou a quem você acha que o título do poema se refere?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – O eu lírico afirma que seu objetivo, ao escrever poemas, é compor silêncios. Para você, qual é o sentido dessa afirmação?

      Resposta pessoal do aluno.

04 – O eu lírico fala sobre a matéria-prima de seus poemas: as palavras.

a)   Explique por que o eu lírico diz que não gosta “das palavras fatigadas de informar”.

O eu lírico não gosta de usar as palavras com seus significados “dicionarizados”, por isso diz não gostar das palavras “fatigadas de informar”. A expressão “palavras de informar” refere-se à linguagem denotativa, usada em textos cuja função é preferencialmente explicar, definir algo, sugerir ou instruir.

b)   De que palavras o eu lírico gosta? Por quê?

O eu lírico gosta de palavras “que vivem de barriga no chão / tipo água pedra sapo”, ou seja, rasteiras, simples, ligadas à terra. O eu lírico valoriza a natureza e o mundo natural.

05 – Qual é o sentido do verso “Entendo bem o sotaque das águas”?  De que maneira esse verso se relaciona à ideia “dar respeito às coisas desimportantes”?

      Entender bem o sotaque das águas é saber contemplar a natureza, é conhece-la bem, ser íntimo dela. Na sociedade contemporânea, esse estado contemplativo é considerado desimportante, sem utilidade, uma perda de tempo.

06 – O eu lírico diz preferir a velocidade das tartarugas à dos mísseis; os insetos aos aviões.

a)   Que valores ele defende ao fazer essas afirmações?

O eu lírico inverte a lógica do seu tempo, que valoriza a velocidade, a tecnologia; por isso a referência aos mísseis e aos aviões. Usando a lógica inversa, ele preza o tempo da contemplação, que deve ser lento, que se arrasta, e a conexão com o mundo natural e simples.

b)   Você se identifica com essa perspectiva de mundo? No lugar e no tempo em que você vive, acha que esses são valores predominantes? Explique.

Resposta pessoal do aluno.

07 – Releia os versos:

“Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.”

a)   A palavra atraso geralmente tem conotação negativa. Nesses versos, ela foi usada em sentido negativo? Explique.

Não. No poema, a palavra atraso é usada para definir um tempo diferente, um ritmo mais lento, que é o do eu lírico. Ao usar esse termo, o eu lírico nos induz a questionar o tempo desnecessariamente acelerado da vida contemporânea.

b)   De que maneira esses versos estão ligados ao contexto de vida do poeta Manoel de Barros?

Os versos estão ligados ao fato de o poeta ser um homem do Pantanal, de ter optado por voltar à zona rural e viver como criador de gado. Dessa forma, o poeta passou grande parte da vida em contato direto dom a natureza e os animais.

08 – Explique o sentido do verso “Meu quintal é maior do que o mundo”.

      Ao informar que seu quintal é maior do que o mundo, o eu lírico mostra que, para ele, as “miudezas” do quintal são mais importantes e, portanto, maiores do que qualquer outra coisa. As “inutilidades”, os seres e as coisas “desimportantes” de seu quintal são seu universo particular e a matéria de sua poesia.

09 – Releia os versos de “O apanhador de desperdícios”.

a)   A quem “O apanhador de desperdícios” se refere? Justifique.

Refere-se ao eu lírico. No verso “Sou um apanhador de desperdícios:”, isso fica explícito.

b)   A resposta à questão anterior confirma a hipótese que você levantou antes de ler o poema?

Resposta pessoal do aluno.

10 – Releia os quatro últimos versos do poema do Manoel de Barros. O eu lírico deseja que sua voz tenha um formato de canto. Para você, o que isso significa? De que maneira esse desejo está ligado ao fato de o eu lírico afirmar não ser da informática, mas da “invencionática”?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O canto está ligado às artes, ao trabalho artístico da voz, assim como o poema está ligado ao trabalho artístico e criativo com as palavras, ou seja, ao trabalho da “invencionática”, da invenção, da subjetividade, em contraposição ao da informática, que tem uma linguagem objetiva, exata.

 

 

 

domingo, 31 de julho de 2022

CHARGE: POESIA É VOAR FORA DA ASA - BLOGDOELIOMAR/CHARGE- COM GABARITO

 Charge: Poesia é voar fora da asa

 

Fonte da imagem -https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjixDX_B6Dgui_QrDSiNyvuKB7GlC6cGaWHokrarkMKQ42sFjmbqTmt6TN6J5LxPdRXZ7-j7oeIeq7JfaoCi6mEmnG3dW5xGLPm98lS__c6IjMYhgZFZ3SQP_ihK0kXoks3WTbky0TV6fnnuYUKgqvA3MGkqC7COYztAmyjuScKYEVRMt9F61wrQhz3/w346-h270/POESIA.jpg

Disponível em: blog.opovo.com.br/blogdoeliomar/charge-clayton-259. Acesso em: 20 jan. 2016.

             Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 66-7.

Entendendo a charge:


01 – O que a imagem da charge representa?

      O poeta Manoel de Barros transmutando-se, transformando-se em pássaros.

02 – Explique a metáfora empregada no verso de Manoel de Barros: “Poesia é voar fora da asa”.

      A metáfora remete à ideia de que, por meio da leitura e da escrita, é possível se deslocar para outros lugares, para outras realidades.

03 – Observe na charge a caricatura do poeta: os braços abertos, a expressão facial, o sorriso largo, o rosto alegre. O que podemos deduzir a partir dela?

      O caricaturista destaca traços da personalidade do poeta: pessoa de bem com a vida, feliz com seu ofício de escrever, de criar; e sempre “de braços abertos para o mundo”.

 

terça-feira, 19 de julho de 2022

POEMA: O LIVRO DE BERNARDO - FRAGMENTO 18 - MANOEL DE BARROS - COM GABARITO

 Poema: O livro de Bernardo – Fragmento 18

            Manoel de Barros

[...]

A chuva
azula a voz
das andorinhas.

[...].

BARROS, Manoel de. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010. p. 415.

Fonte: Livro Língua Portuguesa – Singular & Plural – 7° ano – Laura de Figueiredo – 2ª edição. São Paulo, 2015 – Moderna. p. 228.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com a ciência, quais são os cinco sentidos do corpo humano?

      Visão, tato, paladar, audição e olfato.

02 – Com qual dos nossos sentidos percebemos a voz de uma pessoa ou de um animal?

      Audição.

03 – Que características pode ter uma voz?

      Pode ser grave, aguda, alta, baixa, estridente, etc.

04 – Com qual sentido vemos as cores?

      Visão.

05 – De acordo com essa classificação dos nossos cinco sentidos, uma voz poderia ter cor? Por quê?

      Não, porque a voz se percebe com a audição e a cor com a visão.

06 – Mas a poesia vai além da ciência. Em termos poéticos, como seria uma “voz azul”?

      Resposta pessoal do aluno.

 

 

POEMA: O CASACO - MANOEL DE BARROS - COM GABARITO

 Poema: O casaco

            Manoel de Barros

Um homem estava anoitecido.
Se sentia por dentro um trapo social.
Igual se, por fora, usasse um casaco rasgado e sujo.
Tentou sair da angústia.
Isto ser:
Ele queria jogar o casaco rasgado e sujo no lixo.
Ele queria amanhecer.

BARROS, Manoel de. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010. p. 445.

Fonte: Livro Língua Portuguesa – Singular & Plural – 7° ano – Laura de Figueiredo – 2ª edição. São Paulo, 2015 – Moderna. p. 219.

Entendendo o poema:

01 – Quais são as principais características da noite?

      Podem-se citar o silêncio, a escuridão, as temperaturas mais frias. Além disso, pode-se mencionar que a noite tem o caráter de algo que termina, pois é o fim do dia.

02 – Essas características nos fazem lembrar de sentimentos positivos? Quais? E de sentimentos negativos? Quais?

      Entre os pensamentos positivos, podemos citar calmaria, tranquilidade, descanso, aconchego. Entre os negativos, citaríamos solidão, tristeza, saudade, perda.

03 – Considerando o poema lido como um todo, quais tipos de sentimento você acha que mais combinam com ele: os positivos ou os negativos?

      Os negativos.

04 – Como seria, então, uma pessoa anoitecida, no contexto do poema?

      Uma pessoa triste e solitária, que estaria perto do fim.

05 – O que é um trapo? Que tipo de sentimento podemos relacionar a um trapo?

      Trapo é um resto de tecido velho que não serve mais para quase nada. Um trapo pode ser comparado ao sentimento de abandono, solidão, desprezo, inutilidade.

06 – O eu lírico compara usar um casaco rasgado e sujo a quê?

      À sensação de ser “um trapo social”.

07 – Como são, em geral, os amanheceres?

      São iluminados, coloridos, com muitos pássaros cantando.

08 – Que tipo de sentimento podemos comparar ao amanhecer? Portanto, que sentido pode ter o verso: “Ele queria amanhecer”?

      Podemos comparar o amanhecer a sentimentos de felicidade, alegria. Portanto, o verso pode significar que o homem desejava livrar-se da angústia e sentir-se novamente alegre.

 

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

POEMA: MENINO DO MATO (FRAGMENTO) - MANOEL DE BARROS - COM GABARITO

 Poema: Menino do mato (Fragmento)

             Manoel de Barros

Eu queria usar palavras de ave para escrever.

Onde a gente morava era um lugar imensamente e sem nomeação.

Ali a gente brincava de brincar com palavras tipo assim:

Hoje eu vi uma formiga ajoelhada na pedra!

A Mãe que ouvira a brincadeira falou:

Já vem você com suas visões!

Porque formigas nem têm joelhos ajoelháveis e nem há pedras de sacristias por aqui.

Isso é traquinagem da sua imaginação.

O menino tinha no olhar um silêncio de chão e na sua voz uma candura de Fontes.

O Pai achava que a gente queria desver o mundo para encontrar nas palavras novas coisas de ver assim: eu via a manhã pousada sobre as margens do rio do mesmo modo que uma garça aberta na solidão de uma pedra.

Eram novidades que os meninos criavam com as suas palavras.

Assim Bernardo emendou nova criação:

Eu hoje vi um sapo com olhar de árvore.

Então era preciso desver o mundo para sair daquele lugar imensamente e sem lado.

A gente queria encontrar imagens de aves abençoadas pela inocência.

O que a gente aprendia naquele lugar era só ignorâncias para a gente bem entender a voz das águas e dos caracóis.

A gente gostava das palavras quando elas perturbavam o sentido normal das ideias.

Porque a gente também sabia que só os absurdos enriquecem a poesia.

[...]

Manoel de Barros. Menino do mato. São Paulo: Leya, 2010. p. 9-10.

Fonte: Língua Portuguesa – Português – Apoema – Editora do Brasil – São Paulo, 2018. 1ª edição – 6° ano. p. 117-8.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Candura: pureza; simplicidade.

·        Sacristia: lugar de uma igreja em que são guardados objetos sagrados e as vestimentas sacerdotais.

02 – De que brincadeira fala o poema? Como seria essa brincadeira?

      Brincadeira com palavras. As crianças fariam jogos brincando com as palavras, inventando frases, combinando sons.

03 – Releia o verso abaixo do poema.

        “Isso é traquinagem da sua imaginação.”

a)   Quem fala e a quem se dirige?

A mãe fala, dirigindo-se ao filho.

b)   De acordo com o sentido geral do texto, o que significa traquinagem?

Brincadeira; travessura; coisa de menino levado.

c)   Qual foi a frase criada pelo menino e considerada pela mãe uma “traquinagem” da imaginação dele?

“Hoje eu vi uma formiga ajoelhada na pedra!”

d)   Por que a mãe considerou a frase uma “traquinagem da sua imaginação”?

Porque ela disse que formigas não se ajoelham e que o menino estaria inventando coisas.

e)   Quais eram as “traquinagens” feitas pelo menino?

Inventar frases, brincar com as palavras.

04 – Releia os versos abaixo:

        “O Pai achava que a gente queria desver o mundo

        para encontrar nas palavras novas coisas de ver.”

a)   Observe o verbo desver em um contexto bem diferente: um meme que circulou na internet em que a personagem faz um pedido dirigindo à rede social. Que sentido tem o verbo nesse caso?

Nesse caso, o verbo significa que não se quer ver determinada coisa desagradável ou desinteressante. Assim como há coisas para curtir e comentar, deveria haver outras para não ver, deixar de ver.

b)   Uma formiga ajoelhada numa pedra seria uma “nova coisa de ver”? Por quê?

Sim, porque, na realidade, uma formiga não se ajoelha. No poema, as palavras criaram essa possibilidade, essa “nova coisa de ver”.

c)   No contexto geral do poema, o que pode significar a expressão “desver o mundo”?

Pode significar ver o mundo de outro modo, de um modo diferente do habitual.

 

 

sábado, 14 de agosto de 2021

POEMA: O MENINO QUE CARREGAVA ÁGUA NA PENEIRA - MANOEL DE BARROS - COM GABARITO

 POEMA: O menino que carregava água na peneira

  Manoel de Barros

 

Tenho um livro sobre águas e meninos.

Gostei mais de um menino que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira

Era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água

O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.

Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio.

Manoel de Barros. Poesia completa. São Paulo: Leya Brasil, 2010. p. 460.

Entendendo o texto

1) Como a primeira pessoa do discurso pode ser identificada no poema? Justifique sua resposta.

A primeira pessoa do discurso no poema corresponde ao pronome pessoal do caso reto “eu” e pode ser identificada nos dois primeiros versos do poema pela terminação dos verbos “ter” e “gostar”, que indicam a quem pertence a voz manifestada na composição.

2) Considerando o contexto do poema, é possível afirmar que “a mãe” no 3o, 5o e último versos se refere:

( x ) a uma pessoa de quem o eu lírico fala.

( ) a uma pessoa com quem o eu lírico fala.

Por quê?

“A mãe” é uma pessoa de quem ou sobre quem o eu lírico do poema fala, pois o eu lírico não estabelece um diálogo direto com “a mãe” na composição, apenas registra a interação dela com “o menino”.

3) De acordo com o contexto do poema, reescreva o último verso substituindo “a mãe” e “o menino” pelos pronomes adequados.

Ela reparou que ele gostava mais do vazio do que do cheio.

4) Se retirássemos do poema o verso que você escreveu em sua resposta anterior e o apresentássemos sozinho ele teria sentido? Justifique sua resposta.

Não, pois nesse caso os pronomes pessoais foram utilizados para substituir nomes citados anteriormente no poema, isto é, em um determinado contexto. Sem a leitura dos versos anteriores seria impossível, no entanto, saber a quem se referem.

 

domingo, 4 de abril de 2021

RELATO/BIOGRAFIA: MANOEL DE BARROS - COM GABARITO

 Relato: Manoel de Barros

        Hoje eu completei oitenta e cinco anos. O poeta nasceu de treze. Naquela ocasião escrevi uma carta aos meus pais, que moravam na fazenda, contando que eu já decidira o que queria ser no futuro. Que eu não queria ser doutor. Nem doutor de curar nem doutor de fazer casa nem doutor de medir terras. Que eu queria era ser fraseador. Meu pai ficou meio vago, depois de ler a carta. Minha mãe inclinou a cabeça. Eu queria ser fraseador e não doutor. Então, o meu irmão mais velho perguntou: Mas esse tal de fraseador bota mantimento em casa? Eu não queria ser doutor, eu só queria ser fraseador. Meu irmão insistiu: Mas se fraseador não bota mantimento em casa, nós temos que botar uma enxada na mão desse menino pra ele deixar de variar. A mãe baixou a cabeça um pouco mais. O pai continuou meio vago. Mas não botou enxada.

Manoel de Barros – Memórias inventadas. São Paulo: Alfaguara, 2018.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 6º ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição- 2018. p. 41-2.

Entendendo o relato:

01 – O que o poeta Manoel de Barros quis dizer ao afirmar que, desde cedo, já queria ser fraseador?

      Ele quis dizer que desde menino já queria ser poeta.

02 – Que frase do texto confirma que Manoel de Barros se descobriu poeta quando era adolescente?

      “O poeta nasceu de treze”.

03 – Releia o trecho a seguir.

        “[...] escrevi uma carta aos meus pais, que moravam na fazenda, contando que eu já decidira o que queria ser no futuro. Que eu não queria ser doutor. Nem doutor de curar nem doutor de fazer casa nem doutor de medir terras.” Responda:

a)   Quais profissões o poeta descarta ao afirmar que não queria ser “doutor de curar”, “doutor de fazer casa” nem “doutor de medir terras”?

As profissões de médico e de engenheiro.

b)   Na carta que escreveu aos pais, o autor afirma a eles o que não quer ser antes de contar o que queria ser no futuro. Em sua opinião, que motivo o levou a usar essa estratégia?

Resposta pessoal do aluno.

04 – Ao receberem a carta, pai, mãe e irmão tiveram reações diferentes. Identifique a reação de cada um.

      O pai ficou meio vago, a mãe abaixou a cabeça e o irmão questionou a possibilidade de se ganhar a vida como fraseador.

05 – Releia esta pergunta do irmão do poeta.

        “Mas esse tal de fraseador bota mantimento em casa?”.

a)   Ao fazer essa pergunta, que tipo de preocupação o irmão manifesta?

Manifesta preocupação com a remuneração do trabalho e se ele pode garantir a sobrevivência.

b)   Ao manifestar essa preocupação, o irmão de Manoel também revela sua opinião sobre o trabalho dos poetas. Qual seria essa opinião?

O irmão de Manoel provavelmente considera que esse trabalho não remunera o suficiente para garantir a sobrevivência de quem o pratica e dos que dele eventualmente dependem. Pode até considerar que ser poeta não é um trabalho.

06 – Na sociedade em que vivemos, há quem considere o poeta um artista, uma pessoa de grande sensibilidade, alguém que lida bem com as palavras. Mas há também aqueles que o consideram um sonhador, alguém que não tem os pés no chão ou julguem que sua atividade é irrelevante. O que você pensa sobre esse assunto?

      Resposta pessoal do aluno.

07 – O pai seguiu o conselho do irmão do poeta? O que o pai demonstrou com essa atitude?

      Não. Com essa atitude, o pai demonstrou respeitar a decisão do filho.

 

domingo, 14 de abril de 2019

POEMA: OS DOIS - MANOEL DE BARROS - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: Os dois
                MANOEL DE BARROS


Eu sou dois seres.
O primeiro é fruto do amor de João e Alice.
O segundo é letral:
É fruto de uma natureza que pensa por imagens,
Como diria Paul Valery.
O primeiro está aqui de unha, roupa, chapéu e vaidades.
O segundo está aqui em letras, sílabas, vaidades e frases.
E aceitamos que você empregue o seu amor em nós.

                       BARROS, Manoel. Poemas rupestres. Rio de Janeiro: Record, 2004.

Entendendo o poema:
01 – O eu poético diz que é dois seres.
a)   A quem se refere ao explicar o “primeiro” ser?
Ele se refere aos seus pais.

b)   O que significa dizer que o segundo é “letral”?
Significa que ele e apaixonado pela escrita.

02 – Qual a característica marcante nos “dois seres” que o eu poético afirma ser? Como se pode perceber isso?
      É o amor. “E aceitamos que você empregue o seu amos em nós”.

03 – Quem é o autor?
      É Manoel de Barros.




domingo, 30 de dezembro de 2018

POEMA: A NAMORADA - MANOEL DE BARROS - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: A namorada

                            Manoel de Barros

Havia um muro alto entre nossas casas.
Difícil de mandar recado para ela.
Não havia e-mail.
O pai era uma onça.
A gente amarrava o bilhete numa pedra presa por
um cordão
E pinchava a pedra no quintal da casa dela.
Se a namorada respondesse pela mesma pedra
Era uma glória!
Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos da goiabeira
E então era agonia.
No tempo do onça era assim.

Texto extraído do livro "Tratado geral das grandezas do ínfimo",
Editora Record - Rio de Janeiro, 2001, pág. 17.
Entendendo o poema:
01 – Qual o assunto tratado no poema?
      O eu lírico anuncia o seu jeito de se comunicar com a namorada.

02 – Que verso conta o que dificultava ou impedia a comunicação entre os namorados?
      O pai era uma onça.

03 – Quais versos sugerem que o eu lírico se refere a uma outra época, diferente da atual?
      Não havia e-mail / no tempo do onça era assim.

04 – Leia os versos:
        “O pai era uma onça”
        “No tempo do onça era assim”.
a)   A palavra onça, nesses versos, é empregado no sentido real ou figurado?
No sentido figurado.

b)   Qual o significado da palavra onça nesse verso?
No primeiro verso significa fera termo que caracteriza o pai. Como uma pessoa difícil, severa e briguenta;
No segundo verso significa tempos passados, antigos.

05 – A forma de comunicação entre o eu lírico e a namorada era bem sucedida quando namorada respondia pela mesma pedra.
a)   Que verso indica que esse momento era motivo de felicidade para o eu lírico?
O verso “Era uma glória.”

b)   Em que situação a comunicação não era bem sucedida? Que verso transmite a apreensão do eu lírico?
Se o bilhete enganchasse na goiabeira / E então era agonia.

06 – O que é possível deduzir sobre os motivos de eu lírico:
a)   Considerar uma glória se a namorada respondesse na mesma pedra?
Poderia significar que a namorada tinha recebido a mensagem e se corresponderia com ele.

b)   Considerar uma agonia se o bilhete enganchasse nos galhos da goiabeira?
Qualquer pessoa poderia ler o bilhete, inclusive o pai da menina, e a mensagem não chegar até a namorada.

07 – No poema, o eu lírico cita o e-mail como um recurso de comunicação que ainda não existia naquele tempo. Considerando que o pai da namorada era uma onça, o que fica subentendido a partir do verso “Não havia e-mail”?
      O uso do e-mail evitaria que o pai ou outras pessoas pudessem ler o conteúdo da mensagem.

08 – A leitura desse poema o faz lembrar algum outro texto ou história de amor entre dois jovens impedidos de se relacionar por causa dos pais?
      A história de Romeu e Julieta.