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quinta-feira, 3 de julho de 2025

POESIA: POEMA DE AMOR - FABRÍCIO CORSALETTI - COM GABARITO

 Poesia: Poema de amor

             Fabrício Corsaletti

Agora o meu amor envolve o seu rosto.
Você projeta a cidade de homens livres.
Tento aproximá-la do pássaro branco.
Você só quer que eu me concentre.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCwCpOm5VPmTm8SYCd9EcwPc8X8GFHwb-DgILr0Dy6SEsRJddSjjSq8YTBi5a7dbnRGZImRKXwmVzcYEvTf8D8qOi4huju4DXbX9K2ofrJcZeKTGuz4YcMLrBRzGG9Wgdib3ZSVAeeoFI6ItSV34cH1H7l6PnVKL97s6GciIJTJRcHmunJXwyeE8X6IRM/s1600/images.jpg

Percebo a cidade de homens livres.
Começo a existir e a você me dirijo.
Meus poemas fazem você nascer mais um pouco.
Mas você abandona a cidade de homens livres;
Em direção à porta de saída,
Seu passo aperfeiçoa o amor.

Fabrício Corsaletti. In: Estudos para seu corpo. São Paulo: Cia das Letras, 2007. p. 122.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 371.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o tema central do poema?

      O tema central do poema é a dinâmica de um relacionamento amoroso, onde o eu-lírico busca uma conexão profunda e a amada parece ter outros focos ou caminhos. Há uma exploração da tentativa de aproximação e da percepção de uma distância ou independência por parte da pessoa amada.

02 – Como o eu-lírico expressa seu amor e sua intenção em relação à pessoa amada no início do poema?

      No início do poema, o eu-lírico expressa seu amor de forma envolvente ("Agora o meu amor envolve o seu rosto") e revela sua intenção de aproximar a amada de algo puro e delicado ("Tento aproximá-la do pássaro branco"). Ele também demonstra a importância da amada para sua própria existência ("Começo a existir e a você me dirijo").

03 – O que a expressão "Você projeta a cidade de homens livres" sugere sobre a pessoa amada?

      Essa expressão sugere que a pessoa amada possui uma natureza independente e idealista. Ela parece estar ligada a conceitos de liberdade e autonomia, talvez construindo ou buscando um espaço onde haja essa liberdade, o que pode ser um contraste com o desejo do eu-lírico de envolvê-la em seu amor.

04 – Qual é a contradição percebida pelo eu-lírico em relação aos seus esforços poéticos?

      O eu-lírico percebe uma contradição porque, apesar de seus poemas fazerem a amada "nascer mais um pouco", ou seja, darem-lhe vida e forma através da arte, ela abandona o ideal de "cidade de homens livres" e se dirige à saída. Isso indica que, mesmo com a influência de sua poesia, a amada segue um caminho próprio, que pode ser de distanciamento.

05 – O que significa o verso "Seu passo aperfeiçoa o amor" no final do poema?

      Esse verso sugere que a ação da amada, mesmo que seja a de se afastar ou seguir um caminho próprio, de alguma forma contribui para a complexidade e a profundidade do amor para o eu-lírico. O afastamento ou a independência dela, paradoxalmente, "aperfeiçoam" a compreensão do amor, talvez ao revelar suas nuances, desafios ou a liberdade intrínseca a ele.

 

 

POESIA: TUA SEDUÇÃO É MENOS DE MULHER DO QUE...- JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

 Poesia: Tua sedução é menos de mulher do que...

            João Cabral de Melo Neto

Tua sedução é menos
de mulher do que de casa:
pois vem de como é por dentro
ou por detrás da fachada.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPHXA8lNTvvnqdMnV2nNPkRARNjHAx5A2Pb7xpMgHdoLGKP7xWcUnfP7gpi94oWG9bOiIt5PJ_sGmGzL5RZMAEbodaVZEysO5nbzx8Mjr3XEA80F_aHnjasvz1ZW65A3IBGwBvHJw0rIMRg7q5biqaZAAvieANitvuT9sIvKs5e5PQZl0RfqSP-9d1dEo/s320/SEDUCAAO.jpg



Mesmo quando ela possui
tua plácida elegância,
esse teu reboco claro,
riso franco de varandas,

uma casa não é nunca
só para ser contemplada;
melhor: somente por dentro
é possível contemplá-la.

Seduz pelo que é dentro,
ou será, quando se abra;
pelo que pode ser dentro
de suas paredes fechadas;

pelo que dentro fizeram
com seus vazios, com o nada;
pelos espaços de dentro,
não pelo que dentro guarda;

pelos espaços de dentro:
seus recintos, suas áreas,
organizando-se dentro
em corredores e salas,

os quais sugerindo ao homem
estâncias aconchegadas,
paredes bem revestidas
ou recessos bons de cavas,

exercem sobre esse homem
efeito igual ao que causas:
a vontade de corrê-la
por dentro, de visitá-la.

João Cabral de Melo Neto. Poesias completas. 3. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979. p. 153.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 343.

Entendendo a poesia:

01 – Qual a comparação inusitada que o poema estabelece para descrever a sedução?

      O poema compara a sedução da pessoa amada não tanto à de uma mulher, mas sim à de uma casa, explorando as similaridades entre ambas.

02 – De que forma a sedução, tanto da mulher quanto da casa, é descrita como vinda do "interior" e não da "fachada"?

      O poema sugere que a verdadeira sedução vem do que a casa "é por dentro" ou "por detrás da fachada", e do que "pode ser dentro de suas paredes fechadas", assim como a sedução da mulher não se limita à sua aparência externa ("reboco claro", "riso franco de varandas").

03 – Por que, segundo o poema, uma casa não deve ser "só para ser contemplada" de fora?

      O poema afirma que "somente por dentro é possível contemplá-la", ou seja, a verdadeira essência e o que há de mais sedutor em uma casa (e na mulher) só podem ser conhecidos e apreciados ao se explorar seu interior.

04 – Quais elementos internos de uma casa são utilizados para ilustrar essa sedução no poema?

      São usados elementos como os vazios, o nada, os espaços de dentro (recintos, áreas), e como eles se organizam em corredores e salas, sugerindo estâncias aconchegadas e recessos.

05 – O que significa a frase "pelo que dentro fizeram / com seus vazios, com o nada" no contexto da sedução da casa?

      Essa frase sugere que a sedução não está apenas no que a casa contém materialmente, mas na maneira como seus espaços foram concebidos e moldados, preenchendo o vazio e o "nada" para criar um ambiente acolhedor e convidativo.

06 – Que "efeito" a casa (e, por extensão, a mulher) exerce sobre o homem, de acordo com o poema?

      O efeito exercido é a "vontade de corrê-la / por dentro, de visitá-la", indicando o desejo de explorar, conhecer intimamente e se aprofundar na essência do que seduz.

07 – Qual a principal ideia que João Cabral de Melo Neto explora ao comparar a sedução feminina à de uma casa?

      A principal ideia é que a sedução autêntica reside na profundidade e no mistério do interior, seja de uma pessoa ou de um espaço. Não se trata de uma atração superficial, mas de um convite a explorar o que está além da superfície, o que é construído e organizado em seu âmago.

 

 

 

quarta-feira, 25 de junho de 2025

POESIA: UMA MULHER QUE SE ABRE - MARIZE CASTRO - COM GABARITO

 Poesia: Uma mulher que se abre

           Marize Castro

        Quando uma mulher se abre o que há de mais solitário se alarga. Espantalhos de dor se mostram e se decompõem. Flocos de agonia se aproximam. Crescem perdas. Voam conchas.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmpwpTeWxv-x6ZTm-28YXbP4Qof1_7PDT-VHmmSGyVAItjH4SRROXrsL8Pqmke0d6R0yqHESQka05ul5H9hO262Rp684SYNCk-xXrRSU8J6o644qt9s61OFzT62ah6Qi6-y0EXFGmyV6sGUAXk7DHZ2FRiVUqboFjs-2iqKltza5DEosqBDzVRO9z19i8/s1600/images.jpg


        Uma mulher que se abre é uma mulher mergulhada em anáguas e sendas. Saltando sobre a luz. Deram-lhe lanças e um falso espelho para enganar as feridas.

        Quebrada, ela conduz corações ao túmulo. Esperando, que uma nova morte, traga-lhe nova grinalda e novo véu.

        Em surdina, uma mulher que se abre deseja o esquecimento e a maternidade. Quer parir, dormir, trepar. Morte à memória!

        – O mundo não corrompe quem habita os subterrâneos.

        Disse-lhe um livro com o sol no ventre.

        O extravio de uma mulher que se abre é um deslumbre. Uma significação doce e mórbida. Possui a beleza e está carregado de hóstias e sepulturas.

        Moças e rapazes, caindo em abismos, sustentam essa mulher aberta. Beijam-lhe o útero exposto.

        Afogado em seus cabelos, ela se arqueia na esperança que o amor, quando novamente acontecer, não traga algemas.

        Uma mulher que se abre é pedra, cratera, rio, relíquia.

        Traz na língua o perdão e suas chamas.

Publicado no Diário de Natal, em 18 de julho de 1999.

Entendendo a poesia:

01 – Que sentimentos e imagens são associados à abertura da mulher no início do poema?

      No início do poema, a abertura da mulher está associada a sentimentos de solidão que se alarga, ao aparecimento e decomposição de "espantalhos de dor", à aproximação de "flocos de agonia", ao crescimento de perdas e ao voo de conchas. Essas imagens sugerem um processo de exposição vulnerável e dolorosa.

02 – O que o poema sugere sobre os "presentes" dados a uma mulher que se abre?

      O poema sugere que a uma mulher que se abre "deram-lhe lanças e um falso espelho para enganar as feridas". Isso pode indicar que as ferramentas oferecidas a ela para lidar com sua vulnerabilidade são inadequadas, ou até mesmo prejudiciais, pois as lanças podem simbolizar defesa ou ataque, e o espelho falso, uma ilusão ou negação da dor real.

03 – Quais são os desejos contraditórios expressos por uma mulher que se abre no quarto verso?

      No quarto verso, os desejos expressos são contraditórios: ela "deseja o esquecimento e a maternidade". Essa dualidade entre querer apagar o passado ("Morte à memória!") e o desejo de criar vida ("Quer parir, dormir, trepar") revela uma busca por renovação e libertação das marcas do passado.

04 – O que significa a afirmação "O mundo não corrompe quem habita os subterrâneos" no contexto do poema?

      Essa afirmação, dita por um "livro com o sol no ventre", sugere que a vulnerabilidade e a exploração das profundezas do ser (os "subterrâneos") podem oferecer uma forma de proteção contra a corrupção do mundo exterior. Implica que a verdadeira força e pureza podem ser encontradas na imersão e na aceitação das próprias complexidades e dores.

05 – Que elementos simbólicos o poema utiliza para descrever a mulher que se abre no final?

      No final, a mulher que se abre é descrita com elementos simbólicos poderosos: ela é "pedra, cratera, rio, relíquia". Esses símbolos representam, respectivamente, solidez e resistência (pedra), profundidade e força vulcânica (cratera), fluidez e persistência (rio), e valor e história (relíquia). Juntos, eles ilustram a complexidade, a resiliência e a sacralidade da mulher em seu processo de abertura.

 

POESIA: UM FIO - ARNALDO ANTUNES - COM GABARITO

 Poesia: Um fio

             Arnaldo Antunes

Um fio do seu cabelo está na minha cabeça

e não há nada que faça

com que isso

desaconteça.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnbAOmAsQ70Yo3-2zaJCriFYIZAFk9zDLUkYBUtKAu-UNYPtvYpCUh-KPAFppLptxcB_y5C-rekGmsjMSJEyTn5B0pO2OJSN1KBigOFwZAKtCxj-f6ZTA-7oQ9shkAYtnAeodHw0w-7yJpmSNQEkBkIr7f_nYAsSAam67eaKvzAwPPRtKhw4Gtyi-h5ak/s320/maxresdefault.jpg


Um fio do meu cabelo está na sua

e não há nada

que o substitua.

Nem o sol,

nem a lua.

Nem a luz do pensamento mais intenso

que você pense

que eu penso.

ANTUNES, Arnaldo. Nada de DNA. In: Como é que chama o nome disso. Antologia. São Paulo: Publifolha, 2006.

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 181.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o objeto central que simboliza a conexão entre as duas pessoas no poema?

      O objeto central que simboliza a conexão é um fio de cabelo. O poema descreve um fio do cabelo da pessoa amada na cabeça do eu lírico, e um fio do cabelo do eu lírico na pessoa amada.

02 – O que o refrão "e não há nada que faça com que isso desaconteça" e "e não há nada que o substitua" sugere sobre a natureza dessa conexão?

      O refrão "e não há nada que faça com que isso desaconteça" e "e não há nada que o substitua" sugere que a conexão entre as duas pessoas é indelével e insubstituível. É uma ligação que, uma vez estabelecida, não pode ser desfeita ou trocada por nada. Isso reforça a ideia de uma união profunda e permanente.

03 – O poema menciona elementos cósmicos como "o sol" e "a lua". Qual o papel desses elementos na mensagem do poema?

      "O sol" e "a lua" são elementos cósmicos que representam grandezas universais e, em muitas culturas, simbolizam poder e permanência. Ao afirmar que "Nem o sol, / nem a lua" podem substituir o fio de cabelo, o poema eleva a importância da conexão amorosa acima de forças cósmicas, mostrando que a ligação entre os amantes é de um valor inestimável e incomparável.

04 – O que a última estrofe, "Nem a luz do pensamento mais intenso / que você pense / que eu penso", revela sobre a profundidade da ligação?

      A última estrofe revela que a profundidade da ligação transcende até mesmo o nível do pensamento e da cognição. Significa que a conexão não se baseia apenas em ideias ou intenções, por mais intensas que sejam. É uma união que existe em um nível mais profundo e intrínseco, independente do que um ou outro possa pensar ou conceber.

05 – De que forma o poema utiliza a simplicidade da imagem do "fio de cabelo" para transmitir uma ideia de grande complexidade emocional e afetiva?

      O poema utiliza a aparente simplicidade de um "fio de cabelo" como uma metáfora poderosa para a interconexão e a inseparabilidade em um relacionamento. Um simples fio de cabelo, que poderia ser considerado trivial, torna-se um símbolo da união profunda e inabalável entre duas pessoas. Através dessa imagem cotidiana, Antunes consegue expressar a ideia de que o amor e a conexão podem ser tão sutis quanto um fio, mas ao mesmo tempo tão fortes que desafiam o tempo, o universo e até mesmo os pensamentos mais profundos.

 

 

POESIA: O CONSTANTE DIÁLOGO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poesia: O CONSTANTE DIÁLOGO


            Carlos Drummond de Andrade

Há tantos diálogos

Diálogo com o ser amante

                     o semelhante

                     o diferente

                     o indiferente

                     o oposto

                     o adversário

                     o surdo-mudo

                     o possesso

                     o irracional

                     o vegetal

                     o mineral

                     o inominado.

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhu_9JxFlHfDzxNhdenGZl7zhrcUt437ibE41JWu9E77ZV5DpnYOn2VuB5EV0wDgRDzWy4tJIAcKZgtG1rX3mjiUPuKlJw2YN-H4cXDSAcAZ0FrrD2FCrFFVl7qA7W4zKF_t-BE4JxYOg6wpF6B69jGT_a5lYTnnSuE6T4C6bbPcbBrAFCfSjKXRGb3LfM/s320/29896047-pessoa-conversa-sobre-dentro-desenho-animado-estilo-dialogo-bate-papo-discurso-bolha-falando-pessoas-estoque-ilustracao-vetor.jpg

Diálogo consigo mesmo

                     com a noite

                     os astros

                     os mortos

                     as ideias

                     o sonho

                     o passado

                     o mais que futuro.

 

Escolhe teu diálogo

                     e

Tua melhor palavra

                      ou

Teu melhor silêncio

Mesmo no silêncio e com o silêncio

dialogamos.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa. 8. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002. p. 854-855.

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 146.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o tema central abordado no poema "O Constante Diálogo"?

      O tema central do poema é a amplitude e a ubiquidade do diálogo na existência humana. Drummond explora as diversas formas e objetos com os quais o indivíduo dialoga, evidenciando que essa interação vai muito além da comunicação verbal entre pessoas.

02 – O poema lista diferentes tipos de "ser amante" com os quais se pode dialogar. Quais são alguns exemplos e o que essa variedade sugere?

      O poema menciona o "ser amante", o "semelhante", o "diferente", o "indiferente", o "oposto", o "adversário", o "surdo-mudo", o "possesso", o "irracional", o "vegetal", o "mineral" e o "inominado". Essa variedade sugere que o diálogo não se restringe apenas a seres humanos ou a interações positivas, mas se estende a todas as formas de existência, incluindo a natureza e aquilo que não pode ser nomeado ou compreendido de imediato.

03 – Além do diálogo com outros seres, com o que mais o eu lírico afirma que se pode dialogar?

      O eu lírico afirma que se pode dialogar consigo mesmo, com a noite, os astros, os mortos, as ideias, o sonho, o passado e o "mais que futuro". Isso mostra que o diálogo também ocorre em um plano interno e transcendental, envolvendo reflexões, memórias e projeções.

04 – Qual é a escolha que o poema apresenta ao leitor na parte final?

      Na parte final, o poema apresenta a escolha entre "Tua melhor palavra" ou "Teu melhor silêncio". Isso sugere que o diálogo pode ser tanto verbal quanto não verbal, e que a sabedoria reside em saber quando usar a palavra e quando optar pelo silêncio, pois "Mesmo no silêncio e com o silêncio / dialogamos."

05 – Como o poema de Drummond amplia a compreensão tradicional de "diálogo"?

      O poema de Drummond amplia a compreensão tradicional de "diálogo" ao mostrar que ele não é apenas uma troca de palavras entre duas ou mais pessoas. Para o poeta, o diálogo é uma condição existencial constante, que abrange interações com o mundo físico, o universo abstrato, o eu interior, e até mesmo com o que parece inanimado ou incompreensível. A essência do diálogo, então, está na conexão e na percepção do mundo e de si mesmo.

 

 

POESIA: DESOBJETO - MANOEL DE BARROS - COM GABARITO

 Poesia: Desobjeto

             Manoel de Barros

        O menino que era esquerdo viu no meio do quintal um pente. O pente estava próximo de não ser mais um pente. Estaria mais perto de ser uma folha dentada. Dentada um tanto que já se havia incluído no chão que nem uma pedra um caramujo um sapo. Era alguma coisa nova o pente. O chão teria comido logo um pouco de seus dentes. Camadas de areia e formigas roeram seu organismo. Se é que um pente tem organismo.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR7R10IpJFb9TnM_2stnbtY3IDyyAOPKDeCPtf0Q1VaUu9Nig0dik28V4Og7DSGtDYhh0P3mcDU4vHEsOz-y9AGXQeRwwlvhMHmXP9JO2wSQBpZvaTJTtLXRlva8Y8SPIapaIdIprdzJG-d8q9EuqiBRpfr0n4xmPzdUItGPjEDXefgKjIbXgW9r0l5dg/s320/istockphoto-612378706-612x612.jpg


        O fato é que o pente estava sem costela. Não se poderia mais dizer se aquela coisa fora um pente ou um leque. As cores a chifre de que fora feito o pente deram lugar a um esverdeado musgo. Acho que os bichos do lugar mijavam muito naquele desobjeto. O fato é que o pente perdera sua personalidade. Estava encostado às raízes de uma árvore e não servia mais nem pra pentear macaco. O menino que era esquerdo e tinha cacoete pra poeta, justamente ele enxergara o pente naquele estado terminal. E o menino deu pra imaginar que o pente, naquele estado, já estaria incorporado à natureza como um rio, um osso, um lagarto. Eu acho que as árvores colaboravam na solidão daquele pente.

BARROS, Manoel de. Memórias inventadas. São Paulo: Planeta, 2003.

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 164.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o objeto central do poema e em que estado ele é encontrado pelo menino?

      O objeto central do poema é um pente. Ele é encontrado pelo menino em um estado de deterioração avançada, "próximo de não ser mais um pente", mas sim "uma folha dentada", ou "uma pedra um caramujo um sapo". O pente está sem dentes, sem "costela" e suas cores originais deram lugar a um "esverdeado musgo".

02 – O que acontece com a "personalidade" do pente à medida que ele se deteriora?

      O poema afirma que o pente perdera sua personalidade. Ou seja, ele deixou de cumprir sua função original e se tornou algo irreconhecível, que não podia mais ser identificado como um pente ou até mesmo um leque. Sua identidade e propósito foram desfeitos pela ação do tempo e da natureza.

03 – De que forma o menino, que "tinha cacoete pra poeta", interpreta o estado do pente?

      O menino, com sua sensibilidade poética, imagina que o pente, em seu estado terminal, já estaria incorporado à natureza. Ele compara o pente a elementos naturais como "um rio, um osso, um lagarto", sugerindo que o objeto perdeu sua forma e função originais para se integrar ao ciclo natural de deterioração e transformação.

04 – Quais elementos da natureza são citados como agentes da transformação do pente?

      O poema menciona diversos elementos da natureza que contribuíram para a transformação do pente: o chão, que "comeu logo um pouco de seus dentes"; camadas de areia e formigas, que "roeram seu organismo"; e as raízes de uma árvore, às quais o pente estava encostado. Além disso, há a menção de "bichos do lugar [que] mijavam muito naquele desobjeto", e a colaboração das árvores na "solidão" do pente.

05 – O que o título "Desobjeto" e a descrição do pente revelam sobre a visão de Manoel de Barros a respeito dos objetos e da natureza?

      O título "Desobjeto" e a descrição do pente revelam a visão peculiar de Manoel de Barros sobre a transitoriedade dos objetos e a capacidade da natureza de reabsorver e transformar tudo. O pente, ao perder sua funcionalidade e forma, deixa de ser um "objeto" no sentido convencional para se tornar parte de um processo natural de decomposição e reintegração. Isso reflete a valorização do poeta pelo trivial, pelo imperfeito e pela beleza encontrada na desconstrução e na ciclicidade da vida.

 

 

 

POESIA: O POETA COMEÇA O DIA - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

 Poesia: O poeta começa o dia

             Mário Quintana

Pela janela atiro meus sapatos, meu ouro, minha alma ao meio da rua.
Como Harum-al-Raschid, eu saio incógnito, feliz de desperdício...
Me espera o ônibus, o horário, a morte – que importa?

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbzB2SNERIuDwlfpOTNKEnRHOI4ZtD9h22HlPjVcxoFW8C2VJMTQCgUyXDjRDRwn2RQTnfe04NY8f8BJEyHM9uRkJF6x4PANnvdk3s65J6WercwzIobpgmudZPZPWXRYycZpEceNRCyB0s1EQNatjgnPx_XGdwaIE0VrKM9sNB13ZM8YMG5x3RPSss-L4/s320/71XVRUY9MGL._UF1000,1000_QL80_.jpg


Eu sei me teleportar: estou agora
Em um Mercado Estelar... e olha!
Acabo de trocar
-- em meio aos ruídos da rua
alheio aos risos da rua –
todas as jubas do Sol

por uma trança da Lua!

Quintana, Mário. 80 anos de poesia. 13. ed. São Paulo: Globo, 2008. p. 165.

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 166.

Entendendo a poesia:

01 – O que o ato de "atirar" sapatos, ouro e alma pela janela simboliza no poema?

      O ato de "atirar" sapatos, ouro e alma pela janela simboliza um desapego radical do poeta em relação aos bens materiais e às preocupações terrenas. É uma libertação das convenções e valores mundanos para abraçar uma existência mais livre e imaginativa.

02 – A que figura histórica o poeta se compara e o que essa comparação sugere sobre sua atitude?

      O poeta se compara a Harum-al-Raschid, um califa lendário conhecido por suas incursões incógnitas entre o povo para observar a vida e buscar conhecimento. Essa comparação sugere que o poeta também busca uma experiência autêntica e sem amarras, agindo de forma "incógnita" e "feliz de desperdício" para absorver a essência do mundo ao seu redor, sem se prender a expectativas ou julgamentos.

03 – Como o poeta lida com as pressões do cotidiano, como "o ônibus, o horário, a morte"?

      O poeta demonstra uma indiferença em relação às pressões do cotidiano. Ele afirma que "o ônibus, o horário, a morte – que importa?", revelando que sua mente transcende essas preocupações mundanas. Ele se vale da capacidade de teleportar-se (metaforicamente, através da imaginação) para escapar da rotina e das limitações da realidade.

04 – Qual é o lugar "mágico" para onde o poeta se teleporta e o que ele faz nesse local?

      O poeta se teleporta para um "Mercado Estelar". Nesse local inusitado, ele realiza uma troca fantástica: "todas as jubas do Sol por uma trança da Lua!" Isso reforça a ideia de que a imaginação do poeta o leva a lugares extraordinários, onde a lógica comum é subvertida e o valor está na beleza e na fantasia, não no material.

05 – Qual é a principal mensagem que o poema transmite sobre a natureza da poesia e a mente do poeta?

      O poema transmite a mensagem de que a poesia é um portal para a liberdade e a imaginação ilimitada. A mente do poeta não se conforma com as trivialidades e as limitações da vida comum; ela busca a transcendência e a capacidade de transformar a realidade através da fantasia. Mesmo em meio ao barulho e à rotina da rua, o poeta é capaz de criar seu próprio universo de significados e maravilhas.

 

 

domingo, 1 de junho de 2025

POESIA: RECEITA DE MULHER - FRAGMENTO - VINÍCIUS DE MORAES - COM GABARITO

 Poesia: Receita de mulher – Fragmento

             Vinicius de Moraes

As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa).

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcN82X7r35NL_dh4SWN23VgS9dypNbBFGxx_b67mStJxsA-K33yBoOTRzLrTKDq3xlVRi6AKiWzDTAav1qyXvffzmf_8sLs6PBRi9xE8ehH0gxmdy7iZZ07xDsvxBb-gZ2l_y4Upicpu4uPvItobxa3hccUxk_g5WxnC4xLkjxsqMYgLoBrhxMryLNn9o/s320/maxresdefault.jpg

Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como o âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos.

[...]

Vinícius de Moraes. Antologia poética. Rio de Janeiro: José Olympio, 1984. p. 192.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 290.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é a ideia central que Vinicius de Moraes defende sobre a mulher neste poema?

      A ideia central que Vinicius defende é que a beleza é fundamental na mulher. Ele não se refere apenas à beleza física óbvia, mas a uma beleza que engloba graça, elegância, mistério e uma certa leveza que se assemelha a uma flor ou a uma garça.

02 – Que tipo de metáforas e comparações o poeta utiliza para descrever a beleza que ele busca?

      O poeta utiliza metáforas e comparações como "qualquer coisa de flor", "qualquer coisa de dança", "haute couture" (alta costura), a "impressão de ver uma garça apenas pousada", um rosto que adquire a "cor só encontrável no terceiro minuto da aurora", pálpebras cerradas que "Lembrem um verso de Éluard" e braços tocados "como o âmbar de uma tarde".

03 – Para Vinicius, a beleza feminina deve ser apenas visível ou deve ter uma dimensão mais profunda? Explique.

      Para Vinicius, a beleza feminina não deve ser apenas visível; ela deve ter uma dimensão mais profunda e quase etérea. Ele afirma: "É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche / No olhar dos homens." Isso sugere que a beleza deve ser uma essência, uma aura, que se manifesta e é percebida, mas que não se restringe apenas à carne ou a algo puramente material.

04 – O que o verso "As muito feias que me perdoem / Mas beleza é fundamental" revela sobre a perspectiva do poeta?

      Este verso revela a sinceridade e a frontalidade da perspectiva do poeta sobre a importância da beleza. Embora pareça controverso à primeira vista, ele estabelece de imediato o pré-requisito da beleza como ponto de partida para sua "receita de mulher", destacando seu valor primordial em sua concepção idealizada.

05 – Como o poema aborda a interação entre a beleza da mulher e a percepção masculina?

      O poema aborda a interação entre a beleza da mulher e a percepção masculina ao afirmar que a beleza deve "refletir-se e desabrochar / No olhar dos homens". Isso indica que, para o poeta, a beleza feminina não é um conceito isolado, mas algo que ganha vida e validação na forma como é vista e apreciada pelo olhar masculino, gerando admiração e fascínio.

 

 

quarta-feira, 9 de abril de 2025

POESIA: AMOR - PABLO NERUDA - COM GABARITO

 Poesia: Amor

           Pablo Neruda

Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não querer-te chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHBQ6xAKMouVieum6xSCOLTafgoudrSFRwfCK1I9O525oeUsLoGwbBhz-nsY7EEPzxuyABnUD79SeeSVWTlXccW79DEUioc3jEVAYZ9TtzGnlm_b7v2P8e9jRTCQZzbrXW7axYOfCY2I_sV2Dp4dHtapovcZMS7628uR6FLTJi8KRj2kP03yTa4J0SlNc/s320/pngtree-cartoon-love-red-love-heart-shaped-dialog-png-image_368186.jpg



Quero-te só porque a ti te quero.
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te como um cego.

Talvez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,

Nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor, a sangue e fogo.

Pablo Neruda. Tradução de Thiago de Mello. In: Presente de um poeta. 3. ed. São Paulo: Ver, 2003. p. 47.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 74.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o tema central do poema?

      O tema central do poema é a natureza paradoxal do amor. Neruda explora a intensidade contraditória do sentimento, onde amor e ódio, presença e ausência, esperança e desespero se entrelaçam. O poema captura a essência de um amor que é ao mesmo tempo arrebatador e doloroso.

02 – Como o poema utiliza a linguagem para expressar a intensidade do amor?

      Neruda utiliza uma linguagem carregada de paradoxos e antíteses para expressar a intensidade do amor. Frases como "odeio-te sem fim e odiando te rogo" e "não te ver e amar-te como um cego" ilustram a contradição do sentimento. Além disso, o uso de imagens fortes, como "a sangue e fogo", intensifica a paixão avassaladora descrita no poema.

03 – Qual o significado da expressão "Nesta história só eu me morro"?

      A expressão "Nesta história só eu me morro" revela a natureza unilateral do amor descrito no poema. O eu lírico sente que está se consumindo nesse amor, que o está destruindo. Essa frase também pode sugerir um sentimento de solidão e desespero, onde o amor se torna uma experiência solitária e dolorosa.

04 – Como a imagem da "luz de Janeiro", contribui para o significado do poema?

      A imagem da "luz de Janeiro", simboliza a intensidade e o calor do amor, mas também sua capacidade de ferir. O "raio cruel" dessa luz sugere que o amor, apesar de belo e desejado, pode ser doloroso e destrutivo, consumindo o coração do eu lírico.

05 – Qual a mensagem principal que Pablo Neruda transmite com esse poema?

      A mensagem principal do poema é que o amor é uma força complexa e contraditória, capaz de gerar tanto prazer quanto dor. Neruda explora a intensidade desse sentimento, mostrando que o amor pode ser ao mesmo tempo apaixonado e destrutivo, e que muitas vezes leva a um sentimento de solidão.

 

POESIA: EU VEJO UMA GRAVURA - RENALDO JARDIM - COM GABARITO

 Poesia: Eu vejo uma gravura

             Reynaldo Jardim

Eu vejo uma gravura
grande e rasa.
No primeiro plano
uma casa.
À direita da casa
outra casa.
Lá no fundo da casa
outra casa.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYD6RkOo6yQHPLQkERcfED0mlqPxZZQpbrcsRvaiveIlmcUQ9TVsV0359I8vhaHJ0XNAEcfJOHC9WwAyOWkcGd3KY4WGoDqrhO-7cHM5gv6lTbwb_4aV6CHFTddROw01dQVRJ3tAKwDV0-thh0QW_rdxhiHkpbdDYHHXjqgrqNIpoK48BBQNETctaHKn0/s1600/CASA.png


Em frente da casa
uma vala:
onde escorre a lama
doutra casa.
E no chão da casa
outra vala:
onde escorre o esgoto
doutra casa.

Esta casa que eu vejo
não se casa
com o que chamamos
uma casa.
Pois as paredes são
Esburacadas
onde passam aranhas
e baratas.
E os telhados são
folhas de zinco.
E podem cair
a qualquer vento.
E matar uma mulher
que mora dentro.
E matar a criança
que está dentro
da mulher que mora
nessa casa.
Ou da mulher que mora
noutra casa.

É preciso pintar
outra gravura
com casas de argamassa
na paisagem.

Crianças cantando
a segurança
da vida construída
à sua imagem.

Joana em flor. Rio de Janeiro: José Álvaro Editor, 1965. p. 63.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 123.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o tema central do poema?

      O tema central do poema é a crítica à precariedade da habitação e das condições de vida em áreas marginalizadas. Reynaldo Jardim utiliza a imagem da "gravura" para representar a realidade crua e desoladora dessas comunidades.

02 – Como a repetição da palavra "casa" contribui para o significado do poema?

      A repetição da palavra "casa" enfatiza a monotonia e a uniformidade das moradias precárias. Essa repetição cria um efeito de estranhamento, pois as "casas" descritas no poema não correspondem ao conceito tradicional de lar, mas sim a estruturas frágeis e insalubres.

03 – Qual o significado das "valas" mencionadas no poema?

      As "valas" representam a falta de saneamento básico e a precariedade da infraestrutura nas áreas marginalizadas. A lama e o esgoto que escorrem pelas valas simbolizam a insalubridade e o risco à saúde que os moradores dessas comunidades enfrentam.

04 – Como a imagem dos "telhados de zinco" contribui para a construção da crítica social?

      Os "telhados de zinco" simbolizam a fragilidade e a precariedade das moradias. A menção à possibilidade de os telhados caírem com o vento e matarem os moradores intensifica a sensação de insegurança e vulnerabilidade.

05 – Qual o significado do verso "Esta casa que eu vejo não se casa com o que chamamos uma casa"?

      Esse verso destaca o contraste entre a realidade das moradias precárias e o conceito idealizado de lar. As "casas" descritas no poema não oferecem segurança, conforto ou dignidade, e por isso não podem ser consideradas como verdadeiros lares.

06 – Como a proposta de "pintar outra gravura" se relaciona com a crítica social presente no poema?

      A proposta de "pintar outra gravura com casas de argamassa na paisagem" representa o desejo de transformar a realidade precária em um cenário de dignidade e segurança. Essa proposta expressa a esperança de construir um futuro melhor para as comunidades marginalizadas.

07 – Qual a mensagem principal que Reynaldo Jardim transmite com esse poema?

      Reynaldo Jardim transmite uma mensagem de denúncia e esperança. O poema expõe a dura realidade das moradias precárias, mas também expressa o desejo de construir um futuro mais justo e digno para todos.

 

POESIA: SONETO DO AMOR COMO UM RÍO - VINÍCIUS DE MORAES - COM GABARITO

 Poesia: Soneto do amor como um rio

             Vinícius de Moraes

Este infinito amor de um ano faz
Que é maior do que o tempo e do que tudo
Este amor que é real, e que, contudo
Eu já não cria que existisse mais.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQvD9sscnhxzrlBwr93X2VjwpoX_LyxzIe9yO7Ugmv7OJuDR_OzvZt6HRlPq3WD1oBK7lDvtvqrVDzh0qflF6WqW2-Fir91Q0G9iQ77XbJctOXR7rzgNDratD5OE0TmiKXwfkyFnrC70e2336CHJ1_2QEh2CbKOFixvMKYS0iFw0a1FEq4TIVM8tHOqIU/s1600/06_sunset_river_sea.jpg



Este amor que surgiu insuspeitado
E que dentro do drama fez-se em paz
Este amor que é o túmulo onde jaz
Meu corpo para sempre sepultado.

Este amor meu é como um rio; um rio
Noturno interminável e tardio
A deslizar macio pelo ermo

E que em seu curso sideral me leva
Iluminado de paixão na treva
Para o espaço sem fim de um mar sem termo.

Para viver um grande amor. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973. p. 164.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 144.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é a principal metáfora utilizada no poema para descrever o amor?

      A principal metáfora é a do rio. O eu lírico compara seu amor a um rio noturno, interminável e tardio, que o leva para um mar sem termo. Essa metáfora sugere a ideia de um amor fluído, constante e profundo, que o transporta para um estado de paixão e entrega.

02 – Como o eu lírico descreve a natureza do amor que sente?

      O eu lírico descreve o amor como algo surpreendente e inesperado, que surgiu em meio ao drama e trouxe paz. Ele o considera maior que o tempo e todas as coisas, algo real, embora já não acreditasse que pudesse existir. Ele também o define como um túmulo onde seu corpo está eternamente sepultado.

03 – Que sentimentos o poema evoca em relação ao amor?

      O poema evoca sentimentos de paixão intensa, entrega total, transcendência e a sensação de ser levado por uma força maior. O amor é apresentado como algo que transforma e absorve o ser, conduzindo-o a um estado de plenitude e imensidão.

04 – Qual é o significado da expressão "túmulo onde jaz meu corpo para sempre sepultado"?

      Essa expressão sugere que o amor representa uma espécie de morte simbólica para o eu lírico, onde ele se entrega completamente e se perde em seus sentimentos. É uma metáfora para a intensidade e a profundidade do amor, que o absorve por completo.

05 – Como o poema utiliza a imagem do rio para expressar a ideia de eternidade e imensidão do amor?

      A imagem do rio noturno, interminável e tardio, que desliza suavemente pelo ermo e leva o eu lírico para um mar sem termo, sugere a ideia de um amor que transcende o tempo e o espaço. O rio representa a continuidade e a fluidez do amor, enquanto o mar simboliza a sua imensidão e eternidade.