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quinta-feira, 12 de setembro de 2024

ARTIGO DE OPINIÃO: OS HUMANOS SÃO MEUS AMIGOS - ANTÔNIO PRATA - COM GABARITO

 ARTIGO DE OPINIÃO: Os humanos são meus amigos

           Antônio Prata

        Mas os vegetarianos sempre criam caso quando critico sua doutrina alimentar juro que não queria escrever sobre vegetarismo outra vez. Primeiro porque já escrevi duas colunas sobre o assunto e não gosto de me repetir. Segundo porque aprendi, em quatro anos fazendo esta coluna, que não se pode discutir da existência de Deus às opções políticas de cada um [...] mas basta questionar um vegetariano para sentir na carne as duras consequências. Ameaçaram até fazer sashimi da minha estimada mãe e oferece-la aos tubarões.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8uThsoRqx-RE37H9jG3PiHgri2lWnjYgFY9Qaz4FZ7br6839C6wTC9XXc1ZesgliiiopLYvo7VmQMIu1ABKoIFtYGvxCeLuHx-DPJChbscjMEOyttW8ynkwuyfwLyOx2I0-EbVsZ14xLQ_YDeyqI8RTLnYBx8tzcJKNxsrtyhkyrh2gRPCNCVNRn3PeM/s320/VEGETAL.jpg


        Acontece que às vezes o tema insiste em voltar, toca a campainha, liga nos telefones fixo e celular, manda cartas, e-mails, mensagens em sonhos e me sussurra no ouvido. Como um simples operário da inspiração, nada me resta a não ser respeitá-la.

        Na boa, pouco me importa se você come carne, rabanete ou sorvete de pistache. Cada um faz o que quer. Só não me venha com o argumento que vi no adesivo de um carro outro dia: “Os animais são nossos amigos, não comida”, com o desenho de uma vaquinha, uma galinha e um peixinho, todos sorrindo felizes e contentes. Minhas queridas, não nos iludamos, os animais não são nossos amigos. Pelo contrário, estamos todos os seres vivos numa intensa competição, cada um come quem consegue e salve-se quem puder. Imagine se você está no meio do mato e aparece uma onça faminta, o que você vai dizer? Oi, oncinha, você viu o último paredão do Big Brother? Posso te adicionar no Orkut?

        Claro que, durante a evolução, algumas espécies desenvolveram parcerias. Temos desde as bactérias no intestino, por exemplo, que nos ajudam na digestão, ao cachorro do quintal, que nos acompanha em nossa solidão em troca de comida e um cafuné de vez em quando. Tudo bem. Mas o fato de precisarmos ou nos afeiçoarmos a uma ou outra espécie não significa que todos os bichos são nossos amiguinhos. É impossível ficar amigo de uma galinha, de uma vaca, de um peixinho dourado. Você pode até tentar, mas garanto que vai ser uma amizade de mão única. Te asseguro que, mesmo que você convide a galinha todo dia para comer na lanchonete da esquina, ela não aparecerá, nem a querida vaca responderá a seus e-mails.

        Os animais nos são úteis não só como doente nutricional, mas como cobaias em pesquisas científicas. Para salvar vidas humanas, sacrificamos milhares de camundongos. Quem é contra matar ratos para salvar pessoas está lidando com uma lógica absurda: defende que se mate gente para salvar roedores! Se a moda pega, daqui a pouco terei de andar por aí com camisetas dizendo: “Os humanos são meus amigos. Salvem os humanos!” Não te parece meio absurdo?

Antônio Prata. Capricho, nº 963.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 6º ano. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. 7ª edição reformulada – São Paulo: ed. Saraiva, 2012. p. 217.

Entendendo o texto:

01 – Qual a principal tese defendida por Antônio Prata no texto?

      O autor defende a ideia de que a relação entre humanos e animais não é de amizade, mas sim de competição pela sobrevivência. Ele critica a visão romantizada dos animais presente em algumas correntes do vegetarianismo.

02 – Qual é a reação comum das pessoas quando o autor questiona o vegetarianismo?

      As pessoas reagem de forma bastante intensa, muitas vezes com ameaças e argumentos emocionais, como no caso da ameaça de fazer sashimi da mãe do autor.

03 – Por que o autor considera a frase "Os animais são nossos amigos" uma ilusão?

      Prata argumenta que a natureza é regida pela lei da sobrevivência, onde cada espécie luta por seus próprios interesses. A amizade, como a entendemos entre humanos, não se aplica a essa relação.

04 – Quais exemplos o autor utiliza para ilustrar sua tese?

      Ele usa exemplos como a relação entre predador e presa (onça e humano), a relação utilitária entre humanos e animais domésticos (cachorro) e a utilização de animais em pesquisas científicas.

05 – Qual é a crítica do autor à lógica de quem defende a vida animal em detrimento da vida humana?

      O autor considera essa lógica absurda, pois implica em valorizar a vida de um animal mais do que a vida de um ser humano.

06 – Qual a intenção do autor ao escrever este texto?

      A intenção do autor é provocar uma reflexão sobre a relação entre humanos e animais, questionando a visão idealizada e emocional que muitas vezes permeia esse debate.

07 – Você concorda com a visão de Antônio Prata? Por quê?

      Esta é uma pergunta aberta que incentiva a reflexão individual. A resposta dependerá da visão de mundo e dos valores de cada leitor. É importante considerar os argumentos apresentados pelo autor, mas também analisar outras perspectivas sobre o tema.

 

sábado, 25 de maio de 2024

CRÔNICA: EMBARQUE - ANTÔNIO PRATA - COM GABARITO

 Crônica: Embarque

              Antônio Prata

        “Rodrigo?!, soltou a mulher, uns cinco metros adiante, olhando pra mim. Confuso, parei de empurrar o carinho de bagagens, olhei pra trás, olhei em volta, mas, antes que eu terminasse a busca, ela insistiu; “Rodrigo!” – agora já não mais uma pergunta, e sim uma afirmação. Um vento frio soprou no meu estômago: senti como se tivesse cruzado uma aduana invisível que separa o embarque de Congonhas de um livro do Kafka.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3xV5TjvafHhPkGqi5Xa7vTKBLAS1a5a2bpGQ335zmoOGnyaV3ijcA_Ym97SDEJab5UfUaWusQmxNPNIImY63H11Wvm_xx0_zjslO8ltYMQ4RkjFtu4zQ0hsMmXYuJXzi0v6D5zQwcJBr8-5CAMxyOTiHYSvogoQmFxV3vkcfF4eSxnkFiSDoVKgBUqMQ/s320/aeroporto-congonhas-infraero-divulgacao_widelg.jpg

        Há, sem dúvida, aspectos meus que desconheço; há, talvez, rincões de minh’alma que nem com cinco décadas de análise conseguirei acessar, mas, depois de 37 anos sobre a Terra, algo posso afirmar sobre mim, sem titubear: eu não me chamo Rodrigo. A mulher, porém, não pensava assim – e, a julgar pela voz trêmula, pela boca cerrada e pela sobrancelha franzida, isso não era muito promissor.

        Ela aparentava uns 40, 50 anos, tinha um cabelo preto, farto e olhos espantados, circundados por rugas profundas – vincos que, suspeitei, não deviam ser totalmente desvinculados do tal Rodrigo. Havia dor e susto ali, mas havia afeto também. Pensei menos num estelionatário que tivesse dado um golpe na venda de um carro do que num namoro de fim catastrófico.

        Quem sabe o Rodrigo tinha prometido casar, ter filhos, passarem a aposentadoria juntos num sítio e, um belo dia, escafedeu-se? Agora, numa terça de manhã, assim, do nada, ela o encontra – ou acha que o encontra – na sala de embarque do aeroporto. Dava mesmo pra entender o choque – caso eu fosse o Rodrigo.

        Como eu não era – e continuo não sendo –, resolvi desfazer a confusão e fui caminhando em direção à mulher. Quem sabe eu nem precisasse falar nada? Quem sabe bastaria ela me ver de perto pra sorrir, envergonhada, “Nossa, achei que...”, “Tranquilo, acontece”. Eu seguiria andando, atravessaria o corredor que separa o Franz Kafka do Franz Café, compraria um pão de queijo e leria o meu jornal. A um metro da mulher, no entanto: “Rodrigo...”.

        Se o primeiro “Rodrigo?!” foi um “Meu Deus, é você?!” – e me deixou confuso –, se o segundo “Rodrigo!” foi um “Sim, é você!” – e me deixou com medo –, o terceiro “Rodrigo...” tava mais pra um “Você, hein?” – que me encheu de culpa. O Rodrigo sem duvida havia pisado na bola, grandão, com aquela mulher, a havia feito sofrer, chorar, espernear e esperar noites a fio: agora estava ali – ou, pelo menos, era o que ela pensava – para receber o troco.

        Fui chegando perto, já pegando o RG para o caso de precisar desfazer, oficialmente, o mal-entendido, mas nem consegui sacar o documento: num salto, ela veio pra cima de mim. Esperei unhadas, mordidas, uma facada talvez.

        Em vez disso, me deu um abraço e começou a chorar: “Rodrigo! Ah, Rodrigo!”. Fiquei ali por um tempo, imóvel e perplexo, sentindo o cheiro, o calor e os tremeliques daquela estranha. Então ela se afastou, olhou pro chão, olhou pra mim e disse, baixinho: “Rodrigo, você me perdoa?”.

        Olhei no fundo dos olhos dela e acabei, finalmente, com aquele absurdo: “Perdoo”. Aos poucos, os soluços foram diminuindo, ela enxugou as lágrimas, disse “Brigada” e, atendendo à última chamada para o embarque do voo 1047, pra Maringá, sumiu pelo portão nove.

PRATA, Antônio. Embarque. Folha de S. Paulo, 7 dez. 2014. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2014/12/1558637-embarque.shtml. Acesso em: 6 out. 2015.

Fonte: Língua Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem. Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição. São Paulo, 2016. p. 222-223.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com a crônica, qual o significado das palavras abaixo:

    Aduana: antigo nome da repartição pública que, no aeroporto, é responsável pela inspeção de bagagens e mercadorias; alfândega.

·         Congonhas: aeroporto localizado na cidade de São Paulo.

·         Rincões: lugares afastados, longínquos.

02 – A crônica relata uma experiência vivida pelo narrador. 

a)    Que acontecimento deu origem à crônica?

A crônica relata um mal-entendido provocado por uma mulher que, em um aeroporto, confundiu o narrador com alguém chamado Rodrigo.

b)    Em que espaço aconteceram as ações narradas e em que período de tempo? 

As ações aconteceram no aeroporto de Congonhas e duraram poucos minutos.

c)    Que recurso o narrador usou, no primeiro parágrafo, para sugerir que a situação foi inesperada? 

A crônica é iniciada pela fala da mulher que chamava o narrador de Rodrigo, surpreendendo-o.

03 – Embora o narrador não conhecesse a mulher que o confundia com Rodrigo, estabeleceu certa sintonia com ela. 

a)    Como se evidencia, no terceiro parágrafo, uma relação de simpatia e compreensão? 

Ao olhar para a mulher, o narrador sente pena, pois interpreta as rugas em torno dos olhos dela como sinais de dor, susto e afeto, provocados por alguma coisa que Rodrigo teria feito.

b)    No sexto parágrafo, percebemos que o narrador chega a se confundir com Rodrigo. Transcreva o trecho que faz essa sugestão. 

“...que me encheu de culpa”.

c)    Em outros momentos, o narrador procura marcar sua própria identidade. Cite uma dessas passagens. 

algo posso afirmar sobre mim, sem titubear: eu não me chamo Rodrigo” ou “Como eu não era – e continuo não sendo”.

04 – Pela pontuação, o narrador sugere três maneiras de pronunciar o nome Rodrigo e três diferentes intenções da falante. 

a)    Como o narrador interpretou as frases “Rodrigo?!”, “Rodrigo!” e “Rodrigo...”? 

Para o narrador, “Rodrigo?!” indicava dúvida; “Rodrigo!”, afirmação; “Rodrigo...”, a acusação.

b)    A interpretação do último chamamento corresponde, de fato, ao contexto? Por quê? 

Não. O chamamento não indica uma acusação ou queixa por algum erro de Rodrigo. A mulher pede perdão, sugerindo que ela própria não teria se comportado bem.

05 – A narrativa traz um desfecho imprevisível. Releia: “Olhei no fundo dos olhos dela e acabei, finalmente, com aquele absurdo: ‘Perdoo’”. Por que a resposta do narrador quebra a expectativa do leitor?

      Em vez de revelar sua correta identidade, como desejara fazer durante toda a narrativa, o narrador finge ser, de fato, Rodrigo e oferece o perdão solicitado pela mulher.

06 – O cronista apresenta o relato como uma experiência pessoal.

a)    Na sua opinião, os fatos narrados realmente acontecem ou são fictícios? Justifique.

Resposta pessoal do aluno.

b)    Com a narrativa desse rápido encontro, o cronista estimula certa reflexão sobre as relações humanas. O que chamou sua atenção quanto a esse aspecto?

Resposta pessoal do aluno.

 

domingo, 7 de agosto de 2022

CRÔNICA: O CAMALEÃO DALTÔNICO - ANTÔNIO PRATA - COM GABARITO

Crônica: O camaleão daltônico

              Antônio Prata

         Era uma vez um camaleão daltônico. Quando a folha era verde, ele ficava vermelho, na terra vermelha, se pintava de verde, comendo bananas, se besuntava de azul, e, entrando na água, se amarelava todo. Um dia, os outros camaleões o chamaram para uma conversa. “Aí, parceiro, a gente não tem garra, não tem veneno, não tem juba, a nossa parada é disfarce. Com você na área, geral tá correndo perigo. Vaza.”

        O camaleão daltônico pegou sua trouxinha e, azul de raiva, foi morar do outro lado da floresta. Acontece que, justamente naquele dia, nos confins da mata, havia um fotógrafo da “National Geographic” clicando umas borboletas. O fotógrafo da “National Geographic” pirou no camaleão daltônico, que, cor de abóbora, sobre uma vitória-régia, estampou as capas da revista nos quatro cantos do globo. Pouco tempo depois, todos os camaleões da floresta entraram numas de contraste, pra imitar o camaleão daltônico.

        Quem gostou muito da novidade, além dos fotógrafos da “National Geographic”, foram os gaviões, as cobras e os quatis: numa única tarde, boa parte dos camaleões foi extinta. Entre os que sobraram, os mais à direita culpam o camaleão daltônico, os à esquerda culpam a mídia – e seitas apocalípticas pregam que a semiextinção dos camaleões é prova irrefutável do fim dos tempos e da chegada iminente do Grande Camaleão.

PRATA, Antônio. Publicada em: 23 mar. 2015. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2015/03/1606438-o-camaleao-daltonico.shtml.  Acesso em: 9 nov. 2015.

       Fonte: Língua Portuguesa – Se liga na língua – Literatura, Produção de texto, Linguagem – 2 Ensino Médio – 1ª edição – São Paulo, 2016 – Moderna – p. 256-7.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado da palavra daltônico?

      Que não distingue as cores adequadamente.

02 – Explique o efeito que o cronista produziu com a expressão era uma vez.

      Era uma vez é uma expressão típica dos contos de fadas ou fábulas e institui um universo imaginário.

03 – O tipo de artigo usado na expressão é relevante para a construção desse sentido? Justifique.

      Por empregar um artigo indefinido, a expressão sugere uma época indeterminada, favorecendo a instituição do mundo imaginário.

04 – Segundo o texto, o que é um “camaleão daltônico”?

      Um camaleão cuja cor não acompanha a dos ambientes em que está.

05 – Que termos foram empregados, no segundo e no terceiro períodos, para retomar camaleão daltônico? Eles também retomam a noção de indeterminação expressa pelo artigo um, que acompanhava essa expressão? Justifique.

      São empregados os pronomes ele e o. Eles não retomam a noção de indeterminação, pois o referente já está definido (o “camaleão daltônico” já foi apresentado ao leitor).

06 – O que justifica o uso do artigo definido em da floresta?

      Trata-se de uma floresta específica: aquela habitada pelos camaleões de que fala o texto.

07 – O que é “National Geographic”? Por que foi escolhida essa caracterização para o fotógrafo?

      É o nome de uma publicação voltada a assuntos relativos ao planeta, principalmente ao meio ambiente e a determinadas culturas.

08 – Compare estas três referências e comente as diferenças de sentido promovidas pelo uso de diferentes artigos.

• “Um fotógrafo da National Geographic”.

• “O fotógrafo da National Geographic”.

• “Os fotógrafos da National Geographic”.

      O artigo indefinido um indetermina o substantivo: trata-se de um fotógrafo qualquer. O artigo definido o particulariza: indica um fotógrafo específico, já conhecido pelo interlocutor. O artigo definido os generaliza o substantivo ao indicar totalidade.

09 – Como é formada a palavra numas (“entraram numas de contraste”)?

      É formada pela combinação da preposição em com o artigo indefinido umas.

10 – No sentido usado no texto, a expressão entrar numas é uma gíria. O que ela significa?

      O termo significa “seguir certa moda”, “comportar-se de certo jeito”.

11 – O emprego da gíria numas destoa do conjunto do texto? Justifique.

      Não. O texto emprega várias gírias, como parceiro, na área, vaza.

12 – Explique o uso do artigo definido antecedendo gaviões, cobras e quatis.

      O artigo definido, nesse caso, serve para indicar a espécie, o grupo desses animais, sem particularizar o indivíduo.

13 – Em “Entre os que sobraram, os mais à direita culpam o camaleão daltônico, os à esquerda culpam a mídia”, os não é um artigo, é um pronome demonstrativo, com sentido de aqueles. Com base na função sintática do artigo, explique que característica típica dele não existe nesse uso.

      O termo não é determinante do substantivo.

14 – O produtor do texto escreveu “a semiextinção dos camaleões é prova irrefutável do fim dos tempos” sem o emprego de artigo antes do substantivo prova. Que tipo de artigo poderia ser colocado para manter o sentido original? Por quê?

      O artigo indefinido manteria o sentido (uma das provas); já o artigo definido expressaria a ideia de que existe uma única prova, um sentido diferente do que está no texto.

15 – Nesse contexto, o que seria o “Grande Camaleão”? Por que o artigo definido antecede a expressão?

      O “Grande Camaleão” seria uma divindade que apareceria no final dos tempos, imitando previsões de muitas religiões e seitas humanas. O artigo indica a especificação.

16 – Com essa fábula sobre os camaleões, a crônica satiriza o comportamento humano. Na sua opinião, o que o cronista quer evidenciar?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A crônica mostra algumas características humanas, como o desejo de exposição na mídia, a isenção de alguns na indicação dos culpados por certas situações, a divergência ideológica entre grupos e a crença em algumas lendas.

 


quarta-feira, 12 de maio de 2021

CRÔNICA: BRILHANTE, ADAMASTOR - ANTONIO PRATA - COM GABARITO

 CRÔNICA: BRILHANTE, ADAMASTOR        

                        Antonio Prata

Este ano o verão demorou a chegar e parece querer compensar o atraso trabalhando dobrado. Subo a Angélica de carro e vejo um amigo a pé, pela calçada. Ele sua, bufa e resmunga qualquer coisa, provavelmente contra o sol, a gravidade, nossa condição bípede, Deus e todos os santos. Dou uma buzinada, abro o vidro, pergunto aonde vai, diz que ao fórum de Pinheiros. Vou para perto, ofereço uma carona. Ele salta pra dentro do carro e logo fico sabendo que sua infelicidade tem menos a ver com verão do que com o vizinho, um sujeito de maus bofes chamado Adamastor.

Meu amigo é educado e pacífico. Não cito seu nome, pois é réu num processo aberto pelo tal Adamastor no Tribunal de Pequenas Causas; não quero prejudicá-lo. Vamos chamá-lo de Ivo, nome que me parece adequado a um sujeito educado e pacífico. Assim como Adamastor cabe perfeitamente a um homem ignorante e agressivo - e vejam a coincidência, pois Adamastor é mesmo o nome do vizinho, que faço questão de citar para que se cubra de infâmia. Adamastor. Adamastor. Adamastor.

Ivo mora numa casa térrea. A casa fica de lado pra rua, de frente pra um jardinzinho comprido e prum muro de quatro metros de altura. Do outro lado do muro vive o Adamastor, mas Ivo nunca se lembra disso ao abrir a porta, todas as manhãs, pois entre o Adamastor e meu amigo, além do muro, há uma enorme trepadeira, uma tela verde de 4 x 10 metros, que o próprio Ivo plantou faz uma década, e ali está a embelezar sua vista e purificar o ar da cidade.

Se todos tivessem trepadeiras como a do Ivo, talvez não fizesse tanto calor. Talvez o verão não demorasse a chegar nem estivesse trabalhando dobrado. Talvez ainda houvesse garoa. Talvez o mundo estivesse salvo. Mas o mundo não está salvo, há menos trepadeiras do que sujeitos feito o Adamastor que, vejam só, encasquetou que a planta deixa sua casa úmida e que o Ivo precisa arrancá-la.

Eu disse que o Ivo era educado e pacífico. Não minto. Quando o Adamastor apareceu, trazendo o cunhado para intimidar, meu amigo ouviu calmamente sua queixa. Disse que ia chamar um engenheiro capaz de dizer se a trepadeira era a culpada pela umidade e, caso se confirmasse a suspeita, ele a cortaria. "É a trepadeira!", afirmou o Adamastor, com aquele pequeno gozo sadomasoquista de quem acredita que o próprio sofrimento é fruto única e exclusivamente do prazer alheio e que, uma vez exterminada a alegria do outro, seu incômodo cessará, na triste matemática dos egoístas, onde só existe a soma zero.

Pois bem, meu amigo chamou não um nem dois, mas três engenheiros. Todos disseram, na frente do Adamastor, que a trepadeira é inocente. Que a umidade vem do chão, do lado da casa do querelante, mas Adamastor não aceita e, 15 dias atrás, ao abrir a porta, Ivo encontrou, além da trepadeira, uma intimação judicial. Adamastor está levando a trepadeira aos tribunais. Não lhe importam a engenharia, a botânica, a lógica. O negócio é pessoal. Com seu nome de gigante e sua alma de gnomo, ele vai até o fim, até arrancar a trepadeira, até deixar o mundo um pouquinho pior e poder gozar, em sua toca úmida e abafada, o triunfo de sua mediocridade. Brilhante, Adamastor.

PRATA, Antonio. Brilhante, Adamastor. Folha de S.Paulo, São Paulo, 8 fev. 2012. Caderno Cotidiano. Disponível em: folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/24685-brilhante-adamastor.shtml. Acesso em: ago. 2015.

Fonte: Livro: Língua Portuguesa: linguagem e interação/ Faraco, Moura, Maruxo Jr. – 3.ed. São Paulo: Ática, 2016. p.82-5. 

"Adamastor é o nome de um gigante mitológico, citado pelo poeta Luís de Camões em seu poema épico Os lusíadas. Nesse poema, que narra uma das primeiras viagens marítimas empreendidas pelos portugueses ao redor do continente africano, o gigante Adamastor tenta destruir os navios portugueses num dos pontos do percurso da viagem. Na mitologia dessa obra poética, Adamastor representa os perigos naturais enfrentados pelos navegadores ao longo de sua jornada. Na crônica de Antonio Prata, o nome Adamastor remete metaforicamente a esse gigante. Veja como Camões descreve Adamastor:

De disforme e grandíssima estatura,

O rosto carregado, a barba esquálida,

Os olhos encovados, e a postura

Medonha e má, e a cor terrena e pálida,

Cheios de terra e crespos os cabelos,

A boca negra, os dentes amarelos."

CAMÕES, Luís Vaz de. Os lusíadas. 13ª ed. São Paulo: Melhoramentos, [s.d].

Glossário:

esquálido: imundo; desalinhado.

LEGENDA: O gigante Adamastor, em escultura de Julio Vaz Júnior (1877-1963) instalada no miradouro de Santa Catarina, em Lisboa.FONTE: © JB-2078/Alamy/Other Images

ENTENDENDO A CRÔNICA

1. Na crônica, qual evento pode ser considerado o motivo que desencadeia a sucessão de ações? Justifique sua resposta.

O encontro entre os dois amigos. É o encontro que desencadeia a história narrada e comentada na crônica.

2. Duas das personagens presentes no texto podem ser consideradas centrais - o protagonista e o antagonista.

a) Quem são elas?

     Ivo e Adamastor.

b) Por que estão em oposição uma à outra?

   Há uma disputa entre elas por causa da trepadeira, o que as coloca em posições antagônicas.

3. Uma das características que o enunciador atribui a Ivo é ser educado e pacífico. Vamos relacioná-la ao desenvolvimento da crônica.

a) Que ações empreendidas por essa personagem poderiam justificar a atribuição dessa característica?

A tentativa de negociar o corte da trepadeira com o vizinho Adamastor.

b) Em pelo menos duas passagens do texto, essa característica é explicitada e reforçada. Releia os trechos:

I.

Meu amigo é educado e pacífico. Não cito seu nome, pois é réu num processo aberto pelo tal Adamastor no Tribunal de Pequenas Causas; não quero prejudicá-lo. Vamos chamá-lo de Ivo, nome que me parece adequado a um sujeito educado e pacífico. [...] (linhas 12-17)

II.

Eu disse que o Ivo era educado e pacífico. Não minto. [...] (linhas 39-40)

Em sua opinião, por que a insistência nessa característica?

Ao insistir nessa característica de Ivo, ressalta-se, por contraste, a característica de Adamastor: a truculência.

4. O desfecho do texto é construído com ironia. Releia-o a seguir, observando especialmente os trechos em destaque:

 [...] Com seu nome de gigante e sua alma de gnomo, ele vai até o fim, até arrancar a trepadeira, até deixar o mundo um pouquinho pior e poder gozar, em sua toca úmida e abafada, o triunfo de sua mediocridade. Brilhante, Adamastor. (linhas 59-64)

a)   Explique a ironia, em destaque.

          A ironia forma-se pelo contraste entre o sentido do enunciado "[...] até deixar o mundo um pouquinho pior [...]" e o elogio que encerra a crônica, "Brilhante, Adamastor".

b) Em sua opinião, o que leva o autor da crônica a esse desfecho irônico?

    Resposta pessoal. Sugestão: Perceber que a atitude irônica se deve ao fato de o autor criticar as ações empreendidas pelo vizinho - mesmo sabendo que a trepadeira não é a responsável pela umidade da casa, ele insiste em que ela seja destruída.

 

 

 

 

 

domingo, 8 de abril de 2018

CRÔNICA: SOU O QUE SOU - ANTONIO PRATA - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


CRÔNICA: SOU O QUE SOU
                        Antonio Prata

     De repente, aquela garota ficou com uns quilinhos a mais e, por isso, se nega a sair com os amigos enquanto não emagrecer. Já um desses amigos, que é apaixonado por ela, sente-se cada vez mais feio e isolado porque o rosto se encheu de espinhas e o nariz não para de crescer. Cada um em seu canto, os dois têm um sonho em comum: ser o que não são. Ela gostaria de ser a Gisele Bundchen, e ele, o Rodrigo Santoro. Como seria se eles fossem eles mesmos?
                               SOCORRO, SOU FOFO
        O autor, numa crise de autoestima (e de autocrítica) – quem não passa por isso?
        Tá bom, eu admito. Não adianta negar, fingir é inútil, de nada vale lutar contra os fatos. Uma hora na vida a gente tem que assumir, se contentar com o que tem, olhar diante do espelho e aceitar o que ele nos devolve: sou fofo mesmo, e daí?
         Se pudesse escolher, eu não seria. Queria ser um cara irresistível, musculoso, alto, desses que fazem as mulheres suspirarem quando passam e cochicharem, vermelhinhas: “Nossa, que homem!” Eu as esnobaria, as trataria mal. E elas sempre voltariam aos meus braços, claro.
        Infelizmente, a natureza não me deu os traços, os bíceps, a altura, a voz e outros requisitos necessários para me candidatar a um cargo de Rodrigo Santoro, de Du Moscovis ou Clint Eastwood na juventude. (Sim, meninas, aquele “tiozinho” de A menina de Ouro foi um dos maiores galãs de faroeste.) Não bastassem as deficiências genéticas, uma boa educação acabou de vez com a possibilidade de uma personalidade canalha, uma postura cafajeste ou, mínimo, uma arrogância esnobe.
        Assim sendo, tive desde cedo que apelar para técnicas mais complexas de persuasão, como a gentileza, o bom papo, as piadas e outras compensações. E não tardou, tendo trilhado com esforço esse caminho, para começar a ouvir os primeiros: “Ai, você é muito fofo”!
        No começo eu achava. Reclamava, soltava uns palavrões, dava uma ou duas cusparadas no chão, fechava a cara. Digamos que, diante da possibilidade de ser visto como ursinho de pelúcia, eu afastava quaisquer equívocos apertando a opção “Conan, o Bárbaro” do meu batcinto. Nesses momentos eu preferia ser visto como um tijolo, uma alface ou uma lista telefônica a ser visto como um (argh!) fofo.
        Aos poucos, no entanto, fui vendo que ser fofo não era o fim do caminho. Não seria necessário entrar numa clínica de recuperação (FA, Fofos Anônimos) ou numa academia de ginástica. Havia mulheres que valorizavam um bom “fofo”. Havia até aquelas que, pasmem! Queriam namorar um “fofo”. Já faz alguns anos que estou “trabalhando” esse meu lado, aprendendo a ser fofo e não ter vergonha disso. Hoje, como vocês estão vendo, posso falar em público sobre isso, sem ficar vermelho. Não se iludam, se pudesse escolher, nascia de novo com 1,85 m, jaqueta de couro, barba por fazer, bronzeado e com voz de dublador de protagonista em filme de ação. Mas a opção, infelizmente, não existe. O que me resta é não só aceitar a (ai, que horror) “fofura” em mim supostamente contida, como, mais ainda, tentar acentuá-la. Como neste texto aqui, em que exponho minhas fraquezas, frustrações e angústias a todas vocês. Modéstia e orgulho à parte, não é uma atitude fofa?

                                                        Antônio Prata. Capricho, No 966.

Entendendo o texto:
01 – O subtítulo do texto faz referência a uma “crise de autoestima (e de autocrítica)” do autor.
     a) Quando escreveu o texto, o autor estava com a autoestima alta ou baixa? Por quê?
      Professor: Abra a discussão com a classe. Sugestão: Sob certo ponto de vista, estava baixa, porque ele admite que é e vai continuar sendo “fofo”, embora não seja essa sua opção. Por outro lado, consegue tirar proveito da “fofura”, o que mostra que a autoestima dele não está tão baixa.

     b) Em que consiste a autocrítica que ele faz no texto?
      Em valorizar os aspectos positivos da fofura e, ao mesmo tempo, fazer uma confissão a respeito dos reais motivos que o levaram a trilhar o caminho da fofura.

02 – No 1º parágrafo, o autor admite que é fofo.
     a) Em que sentido ele emprega essa palavra nesse contexto?
      Com o sentido de gordo, obeso.

     b) Apesar de admitir que é fofo, ele convive bem com a ideia de ser assim? Comprove sua resposta com palavras do texto.
      Não, pois chega a afirmar, no 2º parágrafo: “Se pudesse escolher, eu não seria [fofo]”.

03 – No 2º e no 3º parágrafos, o autor revela o perfil de homem que reconhece ser ideal para agradar às garotas: forte, bonitão, esnobe e um pouco “canalha”.
     a) Levante hipóteses: Qual é a origem desse modelo de homem ideal?
      A televisão, os filmes e as propagandas.

     b) De acordo com o 3º parágrafo, por que o autor não corresponde às exigências físicas desse perfil?
      Por razões genéticas, ou seja, não nasceu com tipo físico para ser um galã.

     c) E por que seria incapaz de ter uma postura “canalha” com as mulheres?
      Porque teve uma boa educação e não conseguiria ser esnobe e canalha com as mulheres.

04 – No 4º parágrafo, o narrador cita algumas técnicas que usa para persuadir as garotas, como a gentileza, o bom papo, as piadas, etc. Graças a elas, começou a ouvir: “Ai, você é muito fofo!”.
     a) Levante hipóteses: Por que ele considera essas técnicas “mais complexas”?
      Porque elas exigem um empenho maior da pessoa, que tem de se esforçar para agradar. Professor: Aproveite para contrapor as duas “técnicas”: por oposição, depreende-se que, para o autor, ter beleza física equivalente a uma “técnica simples”, ou seja, não é preciso fazer nenhum esforço.

     b) Em que sentido a palavra fofo é empregada nesse novo contexto?
      Com o sentido de pessoa cativante, simpática, encantadora, educada, inteligente, engraçada, etc.

     c) Por que então o autor reclamava, xingava, etc.?
      Porque essa palavra o fazia lembrar-se de suas características físicas.

     d) Como você entende o trecho “eu afastava quaisquer equívocos apertando a opção Conan, o Bárbaro do meu batcinto”?
      Ele dá a entender que, como num passe de mágica, deixava sua postura simpática e transformava-se num ser grosseiro, quase medieval.

05 – No último parágrafo, o autor diz estar “trabalhando” o seu lado “fofo” há anos. Por isso, não só aceita sua fofura, mas também a acentua ainda mais.
     a) Se o autor está “trabalhando” seu lado “fofo”, por que então diz “Não se iludam” e afirma que, se pudesse escolher, nasceria de novo com 1,85 m, jaqueta de couro, barba por fazer, etc.?
      Ele assume sua fofura, mas não a aceita completamente, ou aceita por condição, não por opção. Para ele, ainda que aceite, seria muito mais fácil ter nascido galã.

     b) Para ele, escrever o texto lido é uma forma de acentuar seu lado “fofo”. Explique por quê.
      Porque, ao escrever sobre sua própria fofura, ele não procura disfarça-la. Ao contrário, ao transformá-la no tema de um texto publicado numa revista, ele a acentua e, além disso, torna-se uma pessoa conhecida e considerada “bem resolvida” com sua fofura.

06 – É muito comum em nossa língua a expressão modéstia à parte. Na última frase do texto, entretanto, o autor diz: “Modéstia e orgulho à parte, não é uma atitude fofa”?
     a) Que novo sentido traz essa alteração?
      Ao introduzir a palavra orgulho na expressão modéstia à parte, o autor revela que está orgulhoso por ter tido a coragem de falar publicamente de sua fofura; e essa coragem, assim como a humildade, revela-se como mais uma qualidade dele.

     b) Com que sentido foi empregada a palavra fofa nessa frase?
      Entre outras possibilidades, com o sentido de “corajosa, inteligente, prudente, esperta”.

     c) Entre a frase final do texto e o título, houve uma mudança?
      Sim, o título sugere que ele quer fugir da fofura, ao passo que a frase final sempre sugere que ele a assume.

     d) O subtítulo sugere que o texto foi escrito numa “rise de autoestima”. Na sua opinião, o autor conseguiu sair dessa crise? Justifique sua resposta.
       Sim, por sua autoestima melhorou, já que termina falando em “modéstia” e “orgulho” e consegue extrair vantagens de sua condição de fofo.