ARTIGO DE OPINIÃO: Os humanos são meus amigos
Antônio Prata
Mas os vegetarianos sempre criam caso
quando critico sua doutrina alimentar juro que não queria escrever sobre
vegetarismo outra vez. Primeiro porque já escrevi duas colunas sobre o assunto
e não gosto de me repetir. Segundo porque aprendi, em quatro anos fazendo esta
coluna, que não se pode discutir da existência de Deus às opções políticas de
cada um [...] mas basta questionar um vegetariano para sentir na carne as duras
consequências. Ameaçaram até fazer sashimi da minha estimada mãe e oferece-la
aos tubarões.
Acontece que às vezes o tema insiste em
voltar, toca a campainha, liga nos telefones fixo e celular, manda cartas,
e-mails, mensagens em sonhos e me sussurra no ouvido. Como um simples operário
da inspiração, nada me resta a não ser respeitá-la.
Na boa, pouco me importa se você come
carne, rabanete ou sorvete de pistache. Cada um faz o que quer. Só não me venha
com o argumento que vi no adesivo de um carro outro dia: “Os animais são nossos
amigos, não comida”, com o desenho de uma vaquinha, uma galinha e um peixinho,
todos sorrindo felizes e contentes. Minhas queridas, não nos iludamos, os
animais não são nossos amigos. Pelo contrário, estamos todos os seres vivos
numa intensa competição, cada um come quem consegue e salve-se quem puder.
Imagine se você está no meio do mato e aparece uma onça faminta, o que você vai
dizer? Oi, oncinha, você viu o último paredão do Big Brother? Posso te
adicionar no Orkut?
Claro que, durante a evolução, algumas
espécies desenvolveram parcerias. Temos desde as bactérias no intestino, por
exemplo, que nos ajudam na digestão, ao cachorro do quintal, que nos acompanha
em nossa solidão em troca de comida e um cafuné de vez em quando. Tudo bem. Mas
o fato de precisarmos ou nos afeiçoarmos a uma ou outra espécie não significa
que todos os bichos são nossos amiguinhos. É impossível ficar amigo de uma
galinha, de uma vaca, de um peixinho dourado. Você pode até tentar, mas garanto
que vai ser uma amizade de mão única. Te asseguro que, mesmo que você convide a
galinha todo dia para comer na lanchonete da esquina, ela não aparecerá, nem a
querida vaca responderá a seus e-mails.
Os animais nos são úteis não só como
doente nutricional, mas como cobaias em pesquisas científicas. Para salvar
vidas humanas, sacrificamos milhares de camundongos. Quem é contra matar ratos
para salvar pessoas está lidando com uma lógica absurda: defende que se mate
gente para salvar roedores! Se a moda pega, daqui a pouco terei de andar por aí
com camisetas dizendo: “Os humanos são meus amigos. Salvem os humanos!” Não te
parece meio absurdo?
Antônio Prata.
Capricho, nº 963.
Fonte: Livro –
Português: Linguagens, 6º ano. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães.
7ª edição reformulada – São Paulo: ed. Saraiva, 2012. p. 217.
Entendendo o texto:
01
– Qual a principal tese defendida por Antônio Prata no texto?
O autor defende a
ideia de que a relação entre humanos e animais não é de amizade, mas sim de
competição pela sobrevivência. Ele critica a visão romantizada dos animais
presente em algumas correntes do vegetarianismo.
02
– Qual é a reação comum das pessoas quando o autor questiona o vegetarianismo?
As pessoas reagem
de forma bastante intensa, muitas vezes com ameaças e argumentos emocionais,
como no caso da ameaça de fazer sashimi da mãe do autor.
03
– Por que o autor considera a frase "Os animais são nossos amigos"
uma ilusão?
Prata argumenta
que a natureza é regida pela lei da sobrevivência, onde cada espécie luta por
seus próprios interesses. A amizade, como a entendemos entre humanos, não se
aplica a essa relação.
04
– Quais exemplos o autor utiliza para ilustrar sua tese?
Ele usa exemplos
como a relação entre predador e presa (onça e humano), a relação utilitária
entre humanos e animais domésticos (cachorro) e a utilização de animais em
pesquisas científicas.
05
– Qual é a crítica do autor à lógica de quem defende a vida animal em
detrimento da vida humana?
O autor considera
essa lógica absurda, pois implica em valorizar a vida de um animal mais do que
a vida de um ser humano.
06
– Qual a intenção do autor ao escrever este texto?
A intenção do autor é
provocar uma reflexão sobre a relação entre humanos e animais, questionando a
visão idealizada e emocional que muitas vezes permeia esse debate.
07
– Você concorda com a visão de Antônio Prata? Por quê?
Esta é uma
pergunta aberta que incentiva a reflexão individual. A resposta dependerá da
visão de mundo e dos valores de cada leitor. É importante considerar os
argumentos apresentados pelo autor, mas também analisar outras perspectivas
sobre o tema.