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terça-feira, 16 de janeiro de 2024

CRÔNICA: MINHA TERRA, MINHA CASA E MINHA GENTE - VIRIATO CORRÊA - COM GABARITO

 Crônica: Minha terra, minha casa e minha gente

              Viriato Corrêa

        PIRAPEMAS, o povoado em que eu nasci, era um dos lugarejos mais pobres e mais humildes do mundo. Ficava à margem do Itapicuru, no Maranhão, no alto da ribanceira do rio.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEip3YTi_roAjc77SbPhzPYRTFIapKl68OjBsh_gKo_CD7rFNK4Hq2w1NA1WS32bI4vKLnsVrudheHoR0aLovX-fgtdS8fvkz-fEKiGVYLb7aZIFjlECFWTFUVhljd2T_SvXt4JeJl3G1f8Z60nJHaj1cHW9g8L0wVp9xiGx2glC0nxzFK7UIuEiAnkoW2M/s1600/PIRAPEMAS.jpg


 Uma ruazinha apenas, com vinte ou trinta casas, algumas palhoças espalhadas pelos arredores e nada mais. Nem igreja, nem farmácia, nem vigário. De civilização — a escola, apenas.

    A rua e os caminhos tinham mais bichos do que gente. Criava-se tudo à solta: as galinhas, os porcos, as cabras, os carneiros e os bois.

      Vila pacata e simples de gente simples e pacata. Parecia que ali as criaturas formavam uma só família. Se alguém matava um porco, a metade do porco era para distribuir pela vizinhança. Se um morador não tinha em casa café torrado para obsequiar uma visita, mandava-o buscar, sem-cerimônia, ao vizinho.

        A melhor casa de telha era a da minha família, com muitos quartos e largo avarandado na frente e atrás. Chamavam-lhe a casa-grande por ser realmente a maior do povoado.

        Para aquela gente paupérrima, éramos ricos.

        Meu pai tinha umas duzentas cabeças de gado no campo, uma engenhoca de moer cana, uma máquina de descaroçar algodão e uma casa de negócios, em que vinham comprar moradores até de quinze ou vinte léguas distantes.

        Não havia no lugarejo ninguém mais importante do que meu pai. Era tudo: autoridade policial, juiz, conselheiro, até médico.

        A sua figura inspirava respeito; a sua presença serenava discórdias. Se havia uma desordem, mal ele chegava à desordem acabava. Bastava que desse razão a uma pessoa, para que todo mundo afirmasse que essa pessoa é que estava com a razão. Os seus conselhos faziam marido e mulher, desunidos, voltarem a viver juntos. Ninguém tomava um remédio sem lhe perguntar que remédio devia tomar.

        Era um homem inculto, mas com uma inteligência tão viva, que se acreditava ter ele cursado escolas. E, ao lado disso, uma alma aberta, franca, alegre, jovial e generosa, que fazia amigos ao primeiro contato.

        Nossa casa vivia cheia de gente. Gente da família, gente do povoado, gente de fora.

        Meus pais eram padrinhos de quase toda a meninada dos arredores e o maior prazer de minha mãe era criar.

        Se uma de suas comadres morria, deixando filhos pequeninos, ela, a pretexto de que as madrinhas devem ser segundas mães, ia buscá-los para que não morressem de abandono e de fome.

        Às vezes, pela porta adentro, nos entravam verdadeiras braçadas de fedelhos, enchendo os quartos de alaridos e de berros. E minha mãe os criava com os mesmos cuidados e os mesmos carinhos com que criava os filhos.

        Os “gaiolas” (vaporezinhos de roda que faziam a navegação do rio) paravam no povoado para se abastecer de lenha e para embarcar e desembarcar mercadorias e passageiros.

        Não sei por que, os fazendeiros do sertão, quando tinham de tomar passagem para a capital, preferiam aquele porto insignificante. Rara era a semana em que não chegava gente de fora à povoação.

        E, como a nossa casa era a maior de todas, era nela que eles se hospedavam.

        No interior do Brasil a hospitalidade é um dever sagrado que se cumpre religiosamente. Nossa casa vivia apinhada de criaturas estranhas vindas de longe.

        Às vezes, tarde da noite, ouviam-se rumores no terreiro. Eram hóspedes pedindo pousada.

        Ao hóspede que chega não se pergunta de que precisa. Quem vem de longe, através de caminhos difíceis e desertos, certamente tem cansaço e fome. Necessita de alimento e de cama.

        À nossa porta, ora à meia-noite, ora mais tarde, chegavam frequentemente dez, doze, quinze pessoas desconhecidas. A essa hora acordavam meu pai e minha mãe para mandar fazer comida para os hóspedes.

        Em certos dias, ao amanhecer, eu despertava num quarto que não era o meu e no meio de um punhado de crianças. É que nem sempre havia redes para todas as pessoas de fora. A família desalojava-se: dormiam duas ou três pessoas juntas, para que não faltasse acomodação aos estranhos.

        Em outras ocasiões, quando os hóspedes chegavam, o "gaiola" havia passado na véspera. Só havia outro, dez ou quinze dias depois.

        Dez ou quinze dias ficavam famílias inteiras em nossa casa, morando e comendo tranquilamente.

        Ao se despedirem apertavam a mão de minha mãe, apertavam a mão de meu pai, dizendo-lhes "obrigado" e nada mais.

       É que nada mais lhes era permitido. No sertão do Brasil, quem perguntar o preço da hospedagem ofende aquele que a deu.

        A hospitalidade por lá é uma religião e ninguém se furta a um dever religioso.

Viriato Corrêa. Cazuza. 27. ed. São Paulo: Nacional, 1997. p. 16-7.

Entendendo a crônica:

01 – Qual é o cenário descrito na crônica "Minha terra, minha casa e minha gente" de Viriato Corrêa?

      O cenário descrito é o povoado de PIRAPEMAS, localizado à margem do Rio Itapicuru, no Maranhão.

02 – Como era a vida no povoado de PIRAPEMAS, de acordo com a crônica?

      A vida em PIRAPEMAS era simples e pacata, com poucas casas, ausência de infraestrutura, e os habitantes viviam em harmonia, compartilhando recursos e ajudando-se mutuamente.

03 – Qual era o papel do pai do autor na comunidade de PIRAPEMAS?

      O pai do autor desempenhava múltiplos papéis na comunidade, sendo considerado uma figura de autoridade policial, juiz, conselheiro e até médico. Ele era uma pessoa respeitada e influente.

04 – Como a crônica descreve a hospitalidade na região do sertão do Brasil?

      A crônica destaca a hospitalidade como um dever sagrado cumprido religiosamente no sertão do Brasil. A casa do autor era frequentemente visitada por estranhos, e oferecer comida e abrigo a viajantes era uma prática comum.

05 – Por que os fazendeiros do sertão preferiam o porto insignificante de PIRAPEMAS para tomar passagem para a capital?

      A crônica não fornece uma explicação específica, mas sugere que os fazendeiros preferiam PIRAPEMAS devido à sua hospitalidade e à tradição de receber bem os viajantes.

06 – Como a mãe do autor demonstrava seu envolvimento com a comunidade?

      A mãe do autor era madrinha de muitas crianças da região e tinha o hábito de acolher órfãos, cuidando deles como se fossem seus próprios filhos. Ela era ativa na criação e educação das crianças da comunidade.

07 – Quais são as características da casa do autor em PIRAPEMAS?

      A casa do autor era a maior do povoado, chamada de casa-grande, com muitos quartos e uma ampla varanda. A família do autor era considerada rica pelos padrões locais, com posses como cabeças de gado, uma engenhoca de moer cana e uma máquina de descaroçar algodão.

 

CRÔNICA: A CONTADEIRA DE HISTÓRIAS - VIRIATO CORRÊA - COM GABARITO

 Crônica: A contadeira de histórias

              Viriato Corrêa

        Vovó Candinha é outra figura que nunca se apagou de minha recordação.

        Não havia, realmente, mulher que tivesse maior prestígio para as crianças de minha idade. Para nós, era um ser à parte, quase sobrenatural, que se não confundia com as outras criaturas. É que ninguém no mundo contava melhor histórias de fadas do que ela.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjk2bAMI0B-7VnpkHXrbCh5kA9cWXV68eB1tC_S1_nzOq845ZhKheGF6eKTmmmwrlqu-tti9lx2LSYzO0IakSNLBbjgPetWZku65c-2FOUNKBtoRqoZXWKc44o0Ew1eaOS1A1kwV3vPHdq41QI7pFzpfYJ4ranoS2PXje-FVTb4lWmW27xhJwNq2VPNeQ4/s320/HISTORINHA.jpg


        Devia ter seus setenta anos: rija, gorda, preta, bem preta e a cabeça branca como algodão em pasta.

        Morava distante. Vinha ao povoado, de quando em quando, visitar a Luzia, sua filha caçula, casada com o Lourenço Sapateiro.

        E quando corria a notícia de que ela ia chegar, a meninada se assanhava como se ficasse à espera de uma festa. Não saíamos da porta da Luzia, perguntando insistentemente:

        — Quando ela chega?

        — Traz muitas histórias bonitas?

        — Traz muitas novas?

        Era pela manhã que vovó Candinha costumava chegar. O dia nem sempre havia acabado de nascer e já a pequenada estava à beira do rio para recebê-la. Mal ia saltando da canoa, nós corríamos a abraçá-la com tanta afoiteza e tanta efusão que havia perigo de lhe rasgarmos o vestido rodado, de chita ramalhuda.

        — Quantas histórias a vovó traz? perguntávamos.

        — Um bandão delas, respondia a velha.

        De dia não conseguíamos que ela nos contasse, história nenhuma.

        — Quem conta histórias de dia, dizia, negando-se, cria rabo como macaco.

        Mal a noite começava a cair, a meninada caminhava para a casa de Luzia, como se se dirigisse para um teatro. Após o jantar, vovó Candinha vinha então sentar-se ao batente da porta que dava para o terreiro.

        Enquanto se esperavam os retardatários, ela fumava pachorrentamente o seu cachimbo.

        Sentávamo-nos em derredor, caladinhos, de ouvido atento, como não fora tão atento o nosso ouvido na escola.

        Ela começava:

        — Era uma vez uma princesa muito orgulhosa, que fez grande má-criação à fada sua madrinha...

        Acendiam-se os nossos olhos, batiam emocionados os nossos corações...

        Não sei se é impressão de meninice, mas a verdade é que até hoje, não encontrei ninguém que tivesse mais jeito para contar histórias infantis.

        Na sua boca, as coisas simples e as coisas insignificantes tomavam um tom de grandeza que nos arrebatava; tudo era surpresa e maravilha que nos entrava de um jacto na compreensão e no entusiasmo.

        E não sei onde ela ia buscar tanta coisa bonita. Ora eram princesas formosas, aprisionadas em palácios de coral, erguidos no fundo do oceano ou das florestas; ora reis apaixonados que abandonavam o trono para procurar pelo mundo a mulher amada, que as fadas invejosas tinham transformado em coruja ou rã.

        Não perdíamos uma só das suas palavras, um só dos seus gestos.

        Ela ia contando, contando... Os nossos olhinhos nem piscavam...

        A lua, como se fosse uma princesa encantada, ia vagando pelo céu, toda vestida de branco, a mandar para a terra a suavidade dos seus alvos véus de virgem.

        Lá pelas tantas, um de nós encostava a cabeça no companheiro mais próximo e fechava os olhos cansado. Depois outro; depois outro.

        E quando vovó Candinha acabava a história, todos nós dormíamos uns encostados aos outros, a sonhar com os palácios do fundo do mar, com as fadas e as princesas maravilhosas.

Viriato Corrêa. Cazuza. 27. ed. São Paulo: Nacional, 1997. p. 16-7.

Entendendo a crônica:

01 – Quem é Vovó Candinha na crônica "A Contadeira de Histórias"?

      Vovó Candinha é uma personagem destacada na crônica "A Contadeira de Histórias" de Viriato Corrêa. Ela é uma mulher idosa, negra, robusta, conhecida por sua habilidade em contar histórias de fadas.

02 – Como as crianças viam Vovó Candinha na narrativa?

      Na perspectiva das crianças na narrativa, Vovó Candinha era vista como uma figura quase sobrenatural, com grande prestígio e habilidade extraordinária em contar histórias de fadas.

03 – Onde Vovó Candinha morava e como era a sua visita ao povoado?

      Vovó Candinha morava distante e ocasionalmente visitava o povoado para ver sua filha caçula, Luzia, casada com Lourenço Sapateiro. Sua chegada era aguardada com grande expectativa pela criançada.

04 – Quando e como as crianças recebiam Vovó Candinha em suas visitas?

      As crianças recebiam Vovó Candinha à beira do rio, pela manhã, quando ela chegava. Corriam para abraçá-la com entusiasmo, ansiosas por ouvir suas histórias de fadas.

05 – Por que as crianças não conseguiam que Vovó Candinha contasse histórias durante o dia?

      Vovó Candinha se recusava a contar histórias durante o dia, alegando que quem conta histórias de dia cria rabo como macaco. As narrativas aconteciam à noite, após o jantar.

06 – Como as crianças reagiam quando Vovó Candinha começava a contar suas histórias à noite?

      As crianças se sentavam ao redor de Vovó Candinha, com ouvidos atentos e olhos brilhantes, emocionadas com suas histórias de fadas. Os corações batiam emocionados e os olhos se acendiam.

07 – Como o autor descreve a habilidade de Vovó Candinha em contar histórias infantis?

      O autor descreve a habilidade de Vovó Candinha como única e incomparável. Segundo o narrador, até hoje, não encontrou ninguém com tanto jeito para contar histórias infantis como ela, destacando a capacidade de transformar coisas simples em surpresas e maravilhas que cativavam as crianças.

 

CRÔNICA: O PRIMEIRO DIA - VIRIATO CORRÊA - COM GABARITO

 Crônica: O primeiro dia

               Viriato Corrêa

        A notícia de que eu ia entrar para a escola produziu rebuliço na criançada.

        Eram quinze ou dezoito os meninos que brincavam comigo: o Quincas, que já estava com os dentes quase todos mudados; a Chiquitita, sempre de pernas raladas pelas travessuras; o Ioiô, que fazia caretas horríveis virando as pálpebras pelo avesso; o Manduca, dando, com agilidade de um sagui, saltos como os artistas de circo; a Teteia, que subia às árvores como qualquer menino; o Pinguinho, o Chiquinho, a Rosa, o Maneco, o Vavá e vários outros, quase tudo gentinha miúda que ainda chupava o dedo.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvNq0qitwsIOlAbAjEWrQMDnfmG_2mL_rGGsNeWsAqMNZ-VQi_Z7tCavj7ps_aLBe6koeulURk5X1jbo5hxGtWg4r4za7OyRE6WY3Bfba10zQFbPC3yZhDP2JgTTt247y6YHEsheh93HBmp6zJnaYQtp28MZZX5uOsRTD6FNSyYMDzDaFOVra42Jd4zxw/s1600/MENINOSSSS.jpg


  Correram todos à minha casa para saber a verdade. Durante uma semana não se conversou outra coisa. O Chiquinho entusiasmou-se. Ia também dizer aos pais que queria entrar para a escola. O Vavá e o Maneco decidiram-se: entrariam também.

        A Teteia ficou desolada.

        — A gente assim não brinca mais, disse.

        — Como não? respondi. A aula é pela manhã, temos a tarde toda para brincar.

        Ela replicou:

        — Vá contando com isso. O Juquinha, desde que começou a aprender, não brincou mais conosco. Vocês ficam logo pensando que são gente grande.

        O Ioiô não dava palavra. Toquei-lhe no ombro:

        — E você? Não quer também entrar para a escola? Ele me olhou de esguelha e respondeu num tom gaiato:

        — Eu? Cruz! Não nasci para levar "bolo". A palmatória de lá trabalha na mão da gente... O Hilário me disse que "bolo" de palmatória dói muito mais do que "bolo" de chinela.

        Protestamos. A palmatória era para as crianças vadias e nós iríamos estudar.

        — Vocês querem ir, vão. Eu fico brincando, concluiu ele com uma careta.

        Chegou, finalmente, o dia da reabertura das aulas.

        Fui a primeira pessoa que acordou lá em casa. A manhã ainda não tinha acabado de clarear e eu já andava pelos quartos, como barata tonta, de camisolão, perturbando o sono alheio.

        Naquele dia tudo se juntava para me dar contentamento ao coração. Minha mãe caprichava em satisfazer a todos os meus desejos de criança. Além das calcinhas de menino, ela me fizera uma camisa igualzinha às camisas de meu pai, com punhos, abertura e colarinho. Havia ainda uns sapatos novos, um gorro azul com borla de seda e uma blusa à marinheira.

        E, mal me acabaram de vestir, pus-me a passear pela calçada de minha casa, cheio de mim como um pavãozinho que expõe o esplendor de suas penas bonitas.

        O Chiquinho e o Vavá combinaram passar pela minha porta para irmos juntos à casa do Maneco. Mas, era tanta a minha ansiedade em chegar à escola, que eu é que os fui buscar.

        E fiz tudo isso correndo, o coração aos pulos, numa alegria tão risonha que minha mãe, de contente, encheu os olhos d’água.

        A escola ficava no fim da rua, num casebre de palha com biqueiras de telha, caiado por fora. Dentro — unicamente um grande salão, com casas de maribondos no teto, o chão batido, sem tijolo.

        De mobiliário, apenas os bancos e as mesas estreitas dos alunos, a grande mesa do professor e o quadro-negro arrimado ao cavalete.

        A minha decepção começou logo que entrei.

        Eu tinha visto aquela sala num dia de festa, ressoando pelas vibrações de cantos, com bandeirinhas tremulantes, ramos e flores sobre a mesa. Agora ela se me apresentava tal qual era: as paredes nuas, cor de barro, sem coisa alguma que me alegrasse a vista.

        Durante minutos fiquei zonzo, como a duvidar de que aquela fosse a casa que eu tanto desejara.

        E os meus olhinhos inquietos percorriam os cantos da sala, à procura de qualquer coisa que me consolasse. Nada. As paredes sem caiação, a mobília polida de preto — tudo grave, sombrio e feio, como se a intenção ali fosse entristecer a gente.

        Olhei o Chiquinho, olhei o Maneco, olhei o Vavá. Tinham o mesmo ar tímido e encolhido que me afligia a alma.

        Procurei um rosto alegre naqueles rostos. Nenhum. Os meninos pareciam condenados: olhos baixos, voz assustada e dolorosa expressão de terror na fisionomia.

        Tentei encarar o professor e um frio esquisito me correu da cabeça aos pés. O que eu via era uma criatura incrível, de cara amarrada, intratável e feroz.

        Os nossos olhos cruzaram-se. Senti uma vontade louca de fugir dali. Pareceu-me estar diante de um carrasco.

        O Vavá veio sentar-se ao meu lado, como se tivesse medo de ficar sozinho no banco, por trás do meu. O velho João Ricardo ergueu-se subitamente, agarrou-o pela orelha e levou-o de novo ao banco.

        O movimento foi tão brutal que o Pedrinho, que estava perto, se espantou, e, com o cotovelo, derramou o tinteiro. O Adão riu. O professor vibrou-lhe a régua na cabeça.

        E, daí por diante, não se sentou mais. Pôs-se a passear pela sala, de mãos para trás, vigiando-nos através dos óculos pretos, com o ar terrível de quem está com vontade de encontrar um pretexto para castigos.

        O Hilário cochichou com o Jovino. O professor bateu com a régua na cabeça dos dois.

        O Donato levantou os olhos do livro, acompanhando o voo de um maribondo. A régua cantou-lhe no alto da cabeça.

        À tarde quando os meus companheiros me vieram buscar para os brinquedos de costume, eu estava murcho, mole, fatigado e triste.

        A Chiquitita perguntou-me, curiosa:

        — Cazuza, você gostou?

        Eu quis enganar a mim próprio, escondendo a minha decepção, mas o Vavá, que ainda tinha as orelhas a arder, respondeu prontamente:

        — Gostou nada! Quem pode gostar daquilo?! É um inferno! O Ioiô fez uma careta e disse triunfante:

        — Eu tinha ou não tinha razão?! Eu sabia! Vanico me contou. Se escola é aquilo, eu juro que lá não entro.

        Escola, realmente, não podia ser aquilo. Escola não podia ser aquela coisa enfadonha, feia, triste, que metia medo às crianças. Não podia ter aquele aspecto de prisão, aquele rigor de cadeia.

        Escola devia ser um lugar agradável, cheio de atrativos, de encantos, de beleza, de alegria, de tudo que recreasse e satisfizesse o espírito.

Viriato Corrêa. Cazuza. 27. ed. São Paulo: Nacional, 1997. p. 16-7.

Entendendo a crônica:

01 – Qual foi a reação da criançada ao saber que o narrador iria entrar para a escola?

      A criançada ficou agitada e correu à casa do narrador para descobrir se era verdade que ele ia entrar para a escola.

02 – Como o narrador descreve seus colegas de brincadeiras?

      Ele descreve seus colegas, como o Quincas, Chiquitita, Ioiô, Manduca, Tetéia, Pinguinho, Chiquinho, Rosa, Maneco, Vavá, entre outros, como uma "gentinha miúda que ainda chupava o dedo."

03 – Qual foi a reação de alguns dos amigos do narrador em relação à ideia de entrar para a escola?

      Chiquinho entusiasmou-se e decidiu entrar para a escola, enquanto Vavá e Maneco também tomaram a mesma decisão. No entanto, Tetéia ficou desolada e afirmou que não brincaria mais com eles.

04 – Por que o Ioiô não quer entrar para a escola?

      O Ioiô não quer entrar para a escola porque teme levar "bolo" (punição) com a palmatória, e acredita que a palmatória da escola dói mais do que a chinela.

05 – Como o narrador descreve o dia da reabertura das aulas e sua preparação para ir à escola?

      O narrador descreve o dia como cheio de contentamento e destaca a atenção especial de sua mãe, que providenciou roupas novas, incluindo uma camisa igual à do pai, sapatos novos, um gorro azul com borla de seda e uma blusa à marinheira.

06 – Qual foi a decepção do narrador ao entrar na escola pela primeira vez?

      A decepção do narrador ao entrar na escola foi causada pela aparência séria, sombria e sem graça da sala de aula, que contrastava com suas expectativas anteriores de um ambiente alegre e festivo.

07 – Como o narrador e seus colegas reagem ao ambiente e ao professor da escola?

      O narrador e seus colegas ficam desanimados e assustados ao perceberem a seriedade do ambiente da escola, com paredes nuas, mobiliário simples e um professor ameaçador. Alguns colegas sofrem punições logo no início, o que contribui para a decepção geral em relação à escola.

 

CRÔNICA: AS CALCINHAS - VIRIATO CORRÊA - COM GABARITO

 Crônica: As calcinhas

              Viriato Corrêa

        Não me lembro qual a minha idade quando ficou decidido que, no ano seguinte, eu entraria para a escola.

      Mas eu devia ser muito e muito pequeno. Tão pequenino que não pronunciava direito as palavras e ainda chupava o dedo e vestia roupinhas de menina.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8BJB6LMJC4iTMCq9Cn-IrQ6Ne4c7u2mtko6ZSE8bvuKQSNSD1ZiQ0yd4kSYzhRkNvDzm1hZpOTuSdjVZGsJ-LqoRNkNKxCZLjXIvrvqhwJ10tDVjbjA5pLAhGF48I4Y4tHmB3dhHgmN5lU6KcbOrJJ0eNHDLyAN94hZIfAWPXS9oSTOE2ajyOuB4TFtM/s320/CALCINHA.jpeg


    Mas não imaginem que eu fosse um menino excepcional, desses meninos-prodígios, ajuizados e sisudos, que não riem, não brincam e não saltam, dando à gente a impressão de que já nasceram velhos.

        Pelo contrário. Eu era uma criança alegre, traquinas e estouvada, que vivia correndo pelo quintal e fazendo estripulias pela casa.

        Dois motivos é que me deram vontade de estudar.

        O primeiro deles — as calças. Desde que me entendi, tive a preocupação de ser homem e nunca me pude ajeitar nos vestidinhos rendados de menina. Sempre olhei com inveja os garotos mais taludos do que eu, não porque eles fossem maiores e gozassem regalias que os garotinhos não gozam, mas porque usavam calças.

        Minha mãe prometia frequentemente:

        — Quando você entrar para a escola deixará dos vestidinhos.

        E, por amor às calças, comecei a mostrar amor aos livros.

        O segundo motivo é que o primeiro contato que tive com uma escola foi através de uma festa. E ficou-me na cabeça a ideia de que a escola era um lugar de alegria.

        Eu conto a vocês.

        Havia outrora nos sertões do Norte uma festa que hoje não mais existe em parte nenhuma. Chamava-se "festa da palmatória".

        As escolas antigamente não tinham, às vezes, mobiliário que prestasse, material de ensino que servisse, professores que cuidassem das lições, mas... uma palmatória, rija, feita de boa madeira, não havia escola que não tivesse.

        No espírito das crianças à palmatória tomava a feição de um monstro. Punham-se-lhe em cima todos os nomes feios. Chamavam-lhe a "danada", a "tirana", a "malvada", a "bandida".

        A meninada vingava-se dela no fim do ano, fazendo-lhe uma festa gaiata, com algazarra e cantoria.

        Era isso a 7 de dezembro, justamente no dia em que se encerravam as aulas. Festa de infinita singeleza e de infinita ingenuidade, como costumavam ser as festas infantis.

        A escola amanhecia enfeitada com ramos e palmas verdes. Flores, muitas flores na mesa e na cadeira do professor. A palmatória, amarrada com laços de fita, pendia dum prego, na parede.

        Os meninos, mais bem vestidos que nos outros dias, iam cedinho para a porta da escola, brincar.

        Quando o professor apontava ao longe, cessava o brinquedo. Faziam-se alas. Ele entrava comovido, ia para junto da mesa e encerrava as aulas com um discurso.

        O discurso era, palavrinha por palavrinha, quase sempre o mesmo de todos os anos. Sempre conselhos: começava desejando que os alunos fossem felizes durante as férias e terminava lembrando-lhes que não se esquecessem das lições aprendidas e de nenhum dos deveres de moral e disciplina.

        Em seguida, o professor abençoava os estudantes um por um e retirava-se.

        A escola ficava entregue à pequenada. O aluno mais velho tirava à palmatória do prego, amarrava-a num cabo de vassoura e empunhava-o como se empunha um estandarte.

        As crianças formavam, então, duas a duas, e saíam em passeata pelas ruas da povoação ou da vila, gritando e pulando. No começo — uma ladainha triste, cantada em coro, a chorar a morte da palmatória. Depois, as emboladas, os desafios, as cantigas alegres do sertão.

        Levaram-me, naquele ano, à porta da escola para assistir à festa.

        Recordo-me bem de tudo. Era um dia bonito, muito azul, muito luminoso e muito fresco. Havia chovido na véspera e as árvores, bem lavadas e verdes, pareciam criaturas que mudam de roupa depois do banho. Pássaros cantavam alegremente nas árvores, como se também eles começassem as férias.

        O discurso do professor, as flores e as palmas verdes, a alegria da meninada, a passeata, assanharam-me o sangue. Voltei para casa contentíssimo. Fiquei tendo da escola a ideia de que era um lugar agradável, que dava prazer à gente.

        E daí por diante não falei mais noutra coisa. Todo livro que eu apanhava, abria-o com solenidade e punha-me a recitar em voz alta o que me vinha à cabeça fingindo que o estava lendo.

        Meu pai e minha mãe achavam uma infinita graça naquilo. E decidiram que, ao recomeçarem as aulas, em janeiro, eu teria finalmente as minhas calcinhas de menino e um lugar nos bancos da escola.

Viriato Corrêa. Cazuza. 27. ed. São Paulo: Nacional, 1997. p. 16-7.

Entendendo a crônica:

01 – Por que o narrador expressa sua vontade de estudar no primeiro parágrafo da crônica?

      O narrador expressa sua vontade de estudar no primeiro parágrafo da crônica devido ao desejo de deixar de vestir roupas de menina e usar calças, motivado pelo anseio de ser reconhecido como um menino.

02 – Quais são os dois motivos que levaram o narrador a ter vontade de estudar?

      Os dois motivos que levaram o narrador a ter vontade de estudar foram o desejo de deixar de usar vestidinhos de menina em favor das calças e a impressão positiva que teve da escola ao presenciar a "festa da palmatória".

03 – O que representava a "festa da palmatória" nas escolas antigas mencionadas na crônica?

      A "festa da palmatória" representava o encerramento do ano escolar, onde os alunos celebravam de maneira alegre e festiva, homenageando a palmatória que, apesar de temida, era vista como um elemento simbólico na escola.

04 – Como o professor encerrava as aulas durante a "festa da palmatória"?

      Durante a "festa da palmatória", o professor encerrava as aulas com um discurso, desejando felicidades nas férias aos alunos e relembrando a importância das lições aprendidas, bem como dos deveres de moral e disciplina.

05 – Qual foi a impressão que a "festa da palmatória" deixou no narrador em relação à escola?

      A "festa da palmatória" deixou no narrador a impressão de que a escola era um lugar agradável e prazeroso, contribuindo para despertar nele o desejo de estudar.

06 – O que o narrador fazia ao pegar um livro durante sua infância?

      Quando o narrador pegava um livro durante sua infância, ele abria-o com solenidade e recitava em voz alta o que lhe vinha à cabeça, fingindo que estava lendo, demonstrando seu interesse e entusiasmo pela ideia de estudar.

07 – Qual foi a decisão tomada pelos pais do narrador em relação à sua educação ao final da crônica?

      Ao final da crônica, os pais do narrador decidiram que, ao recomeçarem as aulas em janeiro, ele finalmente teria suas calcinhas de menino e um lugar nos bancos da escola, atendendo ao desejo manifestado pelo narrador ao longo do texto.

 

CRÔNICA: PINGUINHO - VIRIATO CORRÊA - COM GABARITO

 Crônica: Pinguinho

               Viriato Corrêa

        No lugarejo em que nasci dava-se uma singularidade que eu não sei se ocorria em outra parte do mundo: o dia mais alegre era aquele em que morria alguma pessoa.

        Explica-se. No povoado, quando alguém estava para morrer, mandava-se avisar à gente da redondeza. E, logo que o doente fechava os olhos, a sua casa se enchia. Vinham, não só os vizinhos ali de perto, como os de cinco, sete e mesmo de dez léguas distantes.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipwPTWJ8KFncKk3kzavf2MY1AcJ3G11mb66zoFXcMAM03nni926Scw9LmQcLCzMKWHqG1HRnvMIB2YwnZcXou35HjLXMy419vYeX358yYFMtkLUPzpTnIfFXU86sSW-OLQod4A8_PjN4t_n60NDwjZH_5dXCDGK4wRzQRUdn2YaiO2cSI_RlwQF_CQlNc/s320/POVOADUUU.jpg


        O trabalho paralisava. Os lavradores não iam às roças; os vaqueiros não iam ao campo; a escola não se abria e até as casas de negócios fechavam as portas.

        E o lugarejo, dorminhoco e triste dos dias comuns da vida, agitava-se, vivamente, nos raros dias de morte.

        A todo o instante chegavam bandos de homens e mulheres, ora em cavalos que alegravam os ares com relinchos, ora em carros de bois que vinham chiando pelos caminhos.

        A povoação transformava-se num formigueiro ruidoso de crianças. No sertão, quando uma família sai de casa para ir à de um defunto, sai completa, os grandes, a filharada e até mesmo os cachorros.

        Os grandes ficam na sala e no terreiro do morto, a prestar as homenagens do costume; a meninada, essa vem para fora, para a sombra das árvores, brincar em liberdade.

        No meu tempo, quando morria alguém no povoado, para nós, os pequeninos, o dia inteiro era de traquinada, de algazarra e de alegria. Os taludos juntavam-se lá com os taludos; nós, pequeninos, brincávamos com os pequeninos.

        Talvez fôssemos mais de trinta, mais de quarenta. Mas nenhum, nenhum tão afoito e tão disposto a brincar como o Pinguinho.

        O Pinguinho devia ser o mais velho de todos nós, mas, tão franzino e tão frágil, que parecia o mais novo. Magro, pescoço comprido, ombros estreitos, ossinhos de fora.

        Uma tossezinha seca. Mãos sempre geladas, testa sempre quente.

        Mas, o que nele havia de belo, de vivo e de brilhante, eram os olhos, dois grandes olhos negros e febris, como que iluminados por um eterno desejo de viver.

        Como não podia correr porque cansava e não podia gritar porque tossia, o Pinguinho animava a brincadeira. Se a cabra-cega ia aborrecendo, fazia-nos mudar para a boca-de-forno; se a boca-de-forno já não despertava entusiasmo, lembrava a gangorra, o remporeá, o anel, ou qualquer outro brinquedo.

        Foi ele que, uma vez (na manhã da morte do Chico da Lúcia), se apresentou entre nós com quatro rodas de ferro, encontradas atrás da casa da máquina de descaroçar algodão.

        Não sei onde se foi buscar um caixão de bacalhau, não sei onde se arranjaram martelo e pregos. Em pouco, estava armado um carro.

        E o carro encheu-nos o grande dia. Dois garotinhos dentro, outros dois empurrando e a pequenada a revezar-se dirigida pelo Pinguinho que, por ser doentio e dono das rodas, não empurrava nunca e era empurrado sempre.

        A morte parecia-nos um bem que Deus mandava às crianças da terra para que elas brincassem em liberdade.

        Vivíamos a desejá-la através dos nossos sonhos como se deseja um brinquedo através dos vidros de uma vitrina.

        Quando o enterro saía e a meninada de fora partia com os pais, as nossas almas ficavam mais tristes do que as casas em que o luto havia entrado. Para nós, que nada sabíamos da morte, nada mais tinha havido do que um maravilhoso dia de brinquedo, que terminava inesperadamente.

        E as nossas cabecinhas inconscientes punham-se então a fazer cálculos, desejando outro dia como aquele. Quando haveria de novo tanta criança, tanta alegria e tanta liberdade? Quando morreria outra criatura?

        Quem mais acertava nos cálculos era a Chiquitita. Bastava dizer que um doente morreria em breve, para que o doente não durasse um mês.

        Vivíamos sonhando com os dias de luto que traziam grandes dias de folguedos.

        O Maneco repetia constantemente com a boca cheia de língua:

        — Se eu fosse Deus Nosso Senhor, três vezes por semana tinha que haver um defunto.

        De uma feita, a Tetéia nos encheu de inveja. Garantiu-nos que em breve a brincadeira seria no seu quintal. Tinha em casa três pessoas para morrer: a tia velha, a avó e o padrasto de sua mãe.

        Para nosso entendimento aquilo era uma fortuna. Nós que nada sabíamos da vida, só víamos na morte motivo de brinquedo.

        Um dia, quando brincávamos a cabra-cega, o Pinguinho, ao amarrar a venda nos olhos da Rosa, sentiu uma dor no peito, uma sufocação e quis gritar. Mas, em vez de grito, o que lhe saiu da boca foi uma golfada de sangue.

        Carregamo-lo nos braços para casa.

        À noite, o pobrezinho ardia em febre. Não comeu mais, não saiu mais do fundo da rede. De quando em quando — golfadas de sangue. E emagrecendo, emagrecendo — ficou pele e osso.

        Não lhe saíamos de perto. Quando podíamos enganar a vigilância de nossos pais, íamos para junto dele, consolar-lhe os sofrimentos.

        Numa manhã, linda manhã em que as andorinhas brincavam no céu como garotinhos travessos, ele morreu.

        O povoado encheu-se. Foi criança, criança, como eu nunca vi tanta na minha vida.

        Não podia haver dia melhor para se brincar. Mas (surpresa para toda a gente!) nenhum de nós brincou. Nenhum de nós saiu, sequer, para o terreiro.

        Ficamos todos em derredor do cadáver, sossegadinhos, tristes, silenciosos. Quando queríamos falar uns aos outros, era baixinho, aos cochichos, como se temêssemos perturbar a majestade da dor que nos afligia.

        Tínhamos, pela primeira vez, compreendido a morte. Era a primeira vez que ela nos tocava de perto.

        E, dali por diante, quando alguém morria no povoado, nunca mais enchemos de alaridos os terreiros e os quintais.

        Nunca mais fizemos de um dia de luto um dia de festa.

        Dali por diante, a morte ficou sendo para nós uma coisa séria, muito séria e muito triste.

Viriato Corrêa. Cazuza. 27. ed. São Paulo: Nacional, 1997. p. 16-7.

Entendendo a crônica:

01 – Qual era a peculiaridade do lugarejo em que o narrador nasceu em relação aos dias de morte?

      No lugarejo, o dia mais alegre era aquele em que morria alguma pessoa.

02 – Quando alguém estava prestes a morrer no povoado, o que acontecia na comunidade?

      A comunidade era avisada, e as atividades cotidianas paravam. As pessoas da redondeza se dirigiam à casa do doente, e o lugar ficava agitado e movimentado.

03 – Como as crianças do povoado reagiam quando alguém morria?

      As crianças viam o dia de morte como uma oportunidade de brincadeira e liberdade. Elas se reuniam para divertir-se enquanto os adultos prestavam homenagens ao falecido.

04 – Como o Pinguinho se destacava entre as crianças durante os dias de morte?

      O Pinguinho, apesar de franzino e doentio, era o mais afoito e disposto a brincar. Ele animava as brincadeiras, sugerindo novos jogos e trazendo elementos como um carro improvisado.

05 – Como as crianças enxergavam a morte durante as brincadeiras nos dias de luto?

      As crianças viam a morte como um bem que Deus mandava para que pudessem brincar em liberdade. Elas ansiavam por dias de luto, associando-os a grandes momentos de folguedos.

06 – O que mudou na percepção das crianças em relação à morte após a experiência com o Pinguinho?

      Após a morte do Pinguinho, as crianças passaram a compreender a morte de uma maneira mais séria e triste. O evento marcou uma mudança significativa na percepção delas em relação aos dias de luto.

07 – Como a morte do Pinguinho influenciou o comportamento das crianças em relação aos dias de morte no povoado?

      A morte do Pinguinho trouxe uma compreensão mais profunda e triste da morte para as crianças. A partir desse momento, elas deixaram de transformar os dias de luto em dias de festa, passando a encarar a morte de maneira mais séria.