sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

CRÔNICA: INQUILINOS - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 CRÔNICA: INQUILINOS

                   Luís Fernando Veríssimo

 

Ninguém é responsável pelo funcionamento do mundo. Nenhum de nós precisa acordar cedo para acender as caldeiras e checar se a Terra está girando em torno do seu próprio eixo na velocidade apropriada, e em torno do Sol de modo a garantir a correta sucessão das estações. Como num prédio bem administrado, os serviços básicos do planeta são providenciados sem que se enxergue o síndico - e sem taxa de administração. Imagine se coubesse à humanidade, com sua conhecida tendência ao desleixo e à improvisação, manter a Terra na sua órbita e nos seus horários, ou se - coroando o mais delirante dos sonhos liberais - sua gerência fosse entregue a uma empresa privada, com poderes para remanejar os ventos e suprimir correntes marítimas, encurtar ou alongar dias e noites e até mudar de galáxia, conforme as conveniências de mercado, e ainda por cima sujeita a decisões catastróficas, fraudes e falência.

É verdade que, mesmo sob o atual regime impessoal, o mundo apresenta falhas na distribuição dos seus benefícios, favorecendo alguns andares do prédio metafórico e martirizando outros, tudo devido ao que só pode ser chamado de incompetência administrativa. Mas a responsabilidade não é nossa. A infraestrutura já estava pronta quando nós chegamos. Apesar de tentativas como a construção de grandes obras que afetam o clima e redistribuem as águas, há pouco que podemos fazer para alterar as regras do seu funcionamento.

Podemos, isto sim, é colaborar na manutenção da Terra. Todos os argumentos conservacionistas e ambientalistas teriam mais força se conseguissem nos convencer de que somos inquilinos no mundo. E que temos as mesmas obrigações de qualquer inquilino, inclusive a de prestar contas por cada arranhão no fim do contrato. A escatologia cristã deveria substituir o Salvador que virá pela segunda vez para nos julgar por um Proprietário que chegará para retomar seu imóvel. E o Juízo Final, por um cuidadoso inventário em que todos os estragos que fizemos no mundo seriam contabilizados e cobrados.

– Cadê a floresta que estava aqui? - perguntaria o Proprietário. - Valia uma fortuna.

– Este rio não está como eu deixei… E, depois de uma contagem minuciosa:

– Estão faltando cento e dezessete espécies.

A Humanidade poderia tentar negociar. Apontar as benfeitorias - monumentos, parques, áreas férteis onde outrora existiam desertos - para compensar a devastação. O Proprietário não se impressionaria.

– Para o que eu quero o Taj Mahal? Sete Quedas era muito mais bonita.

– E a catedral de Chartres? Fomos nós que construímos. Aumentou o valor do terreno em…

– Fiquem com todas as suas catedrais, represas, cidades e shoppings. Quero o mundo como eu o entreguei.

Não precisamos de uma mentalidade ecológica. Precisamos de uma mentalidade de inquilinos. E do terror da indenização.

 Fonte: Jornal A Gazeta – Rio de Janeiro (RJ) – 12/jul/2007.

VERISSIMO, Luís Fernando. O mundo é bárbaro: e o que nós temos a ver com isso. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008. p. 19.

 

Fonte da imagem -  https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitEbosvJ1uCsua3a5bBZVs0WC3ZUIVOOG3KvqdlPgOQZoeuMPhLVCgTYSOP3hz4bF__MDA-M8pKtxaUdj6p4nCiQuHq_WOcnsMLnLl7LPx3IwOJnKgv5boSKdiArznxhNFSfzngA3Cr9Xhq_mWxrmK-7Zrzpg5G0uOvInOxUwcOlR6G75NNLq_XlKO/s320/planeta-terra.jpg

Entendendo o texto

 01. Que temática é abordada na crônica?

Funcionamento e manutenção do Planeta Terra.

02. O cronista compara o funcionamento do mundo com o quê?

Como um prédio bem administrado.

03. Qual a crítica feita a humanidade?

Que ela é conhecida por sua tendência ao desleixo e a improvisação, que na ordem humana constitui um defeito incorrigível, estão perversamente implicados na política e na economia.

    04.Para bem comparar o funcionamento do mundo à boa administração de um prédio, o autor do texto se vale do fato de que, em ambos os casos,

         a. as necessidades humanas imprimem a tudo as leis do mercado, a fim de evitar nossas falhas pessoais.

        b. a distribuição e a qualidade dos serviços costumam ser justas, salvo em casos excepcionais.

        c. a presença de um síndico só se faz sentir de modo positivo quando se trata de prevenir catástrofes.

      d. a infraestrutura se acomoda às necessidades dos usuários, não cabendo falar em incompetência administrativa.

      e. os serviços se oferecem com certa naturalidade, sem que se perceba a presença de um responsável.

 

05.Atente para as seguintes afirmações:

I.             O autor mostra-se descrente quanto à competência dos homens para administrar o funcionamento do mundo, tal como acusa o segmento mesmo sob o atual regime impessoal.

II.           As expressões “gerência (…) entregue a uma empresa privada” e “conveniências do mercado” ajudam a ilustrar o que entende o autor por sonhos liberais.

III.         Ao dizer que a infraestrutura já estava pronta quando nós chegamos, o autor exime a humanidade de responder pelo que seriam as falhas de funcionamento do mundo natural.

Em relação ao texto, está correto o que se afirma em

a.    I, II e III.

b.    I e II, apenas.

c.    I e III, apenas.

d.    II e III, apenas.

e.    II, apenas.

06. Quem ousará remanejar os ventos e suprimir correntes marítimas, se tais poderes estivessem à disposição dos nossos interesses e caprichos?

       Na opinião do autor do texto, o síndico ideal seria aquele cujos serviços sequer se notem, pois ele manterá com discrição sua eficiência e sua dedicação ao trabalho.

 

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

MÚSICA(ATIVIDADES): DONA DE MIM - IZA - COM GABARITO

 MÚSICA(ATIVIDADES): DONA DE MIM

                 IZA

 Já me perdi tentando me encontrar,

Já fui embora querendo nem voltar.

Penso duas vezes antes de falar,

 Porque a vida é louca, mano!

A vida é louca!

 

“Penso duas vezes antes de falar”.

Resposta pessoal.

 

Sempre fiquei quieta, agora vou falar.

 Se você tem boca, aprenda a usar.

Sei do meu valor e a cotação é dólar. Porque a vida é louca, mano!

A vida é louca!

 

“Sempre fiquei quieta, agora vou falar”.

Resposta pessoal.

 

Me perdi pelo caminho.

Mas não paro não.

Já chorei mares e rios.

Mas não afogo não.

 

“Me perdi pelo caminho. Mas não paro não”.

Resposta pessoal.

 

Sempre dou o meu jeitin.

 É bruto, mas é com carin.

Porque Deus me fez assim.

Dona de mim!

Deixo a minha fé guiar.

Sei que um dia chego lá.

Porque Deus me fez assim.

Dona de mim!

 

“Sempre dou o meu jeitin”.

Resposta pessoal.

 

Já não me importa a sua opinião.

O seu conceito não altera a minha visão.

Foi tanto sim, que agora digo “não”.

Porque a vida é louca, mano!

A vida é louca!

 “O seu conceito não altera a minha visão”.

Resposta pessoal.

 Fonte da imagem:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2ZWHPq1a_fY4Q95NkaqpVz_0HjZ37e9SSRytUBqP1AlGXL9Ta140ExTMnhW_ITZW2-HJfJ56Oi58gNIrcTuNg4NYY6YYOlsTIJlDK9_Qr3UetgQvRNq95t5ZWhtdmYbkfIvcpquX7vtLqjIF9NCuUnyAiryLrVJkCJS_kOsO7aciBjFyvp8A5jEED/s320/IZA.jpg


 

Quero saber só do que me faz bem.

Papo furado não me entretém.

Não me limite que eu quero ir além.

Porque a vida é louca, mano!

A vida é louca!

 

“Não me limite que eu quero ir além”.

Resposta pessoal.

Uma pessoa pode ser tão grande quanto ela queira ser. Se você acredita em si mesmo e tem coragem, determinação, dedicação, iniciativa e se você está disposto a sacrificar as pequenas coisas da vida e pagar o preço pelas coisas que valem a pena, isso pode ser feito.

                                                                      IZA


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CRÔNICA: DESABAFO DE UM MARIDO - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 CRÔNICA:  DESABAFO DE UM BOM MARIDO

                    Luís Fernando Veríssimo


       Minha esposa e eu temos o segredo pra fazer um casamento durar: duas vezes por semana, vamos a um ótimo restaurante, com uma comida gostosa, uma boa bebida, e um bom companheirismo. Ela vai às terças-feiras, e eu às quintas.

      Nós também dormimos em camas separadas. A dela é em Fortaleza e a minha em São Paulo. Eu levo minha esposa a todos os lugares, mas ela sempre acha o caminho de volta. Perguntei a ela onde ela gostaria de ir no nosso aniversário de casamento. 'Em algum lugar que eu não tenha ido há muito tempo!' ela disse. Então eu sugeri a cozinha.

       Nós sempre andamos de mãos dadas. Se eu soltar, ela vai às compras. Ela tem um liquidificador elétrico, uma torradeira elétrica, e uma máquina de fazer pão elétrica. Então ela disse: 'Nós temos muitos aparelhos, mas não temos lugar pra sentar'. Daí, comprei pra ela uma cadeira elétrica.

       Lembrem-se, o casamento é a causa número um para o divórcio. Estatisticamente, 100 % dos divórcios começam com o casamento. Eu me casei com a 'Sra. Certa'. Só não sabia que o primeiro nome dela era 'Sempre'.

       Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de interrompê-la. Mas tenho que admitir, a nossa última briga foi culpa minha. Ela perguntou: 'O que tem na TV?' E eu disse 'Poeira'.

       No começo Deus criou o mundo e descansou. Então, Ele criou o homem e descansou. Depois, criou a mulher. Desde então, nem Deus, nem o homem, nem Mundo tiveram mais descanso.

 Fonte da imagem -https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghr1lG2lKzDbLVmkTMhourBWvmbVlaEUEitqm_j3xPDxO5Us19luWeDJT_6fQOL7wDS0ur_4r3kOBBB3YH0HH_y7DvZzJX_y-_6e5Z_qM05PsVsRb2cA1sMmvmjZmVewYJ63XlEcZFGbnaIu4Jx2e9qLT7od9mVrUUGMkiz9BKuDoEz13HnIwTHBXt/s320/MARIDO.jpg


       'Quando o nosso cortador de grama quebrou, minha mulher ficava sempre me dando a entender que eu deveria consertá-lo. Mas eu sempre acabava tendo outra coisa para cuidar antes: o caminhão, o carro, a pesca, sempre alguma coisa mais importante para mim.

      Finalmente ela pensou num jeito esperto de me convencer. Certo dia, ao chegar em casa, encontrei-a sentada na grama alta, ocupada em podá-la com uma tesourinha de costura. Eu olhei em silêncio por um tempo, me emocionei bastante e depois entrei em casa.

       Em alguns minutos eu voltei com uma escova de dentes e lhe entreguei.' - Quando você terminar de cortar a grama,' eu disse, 'você pode também varrer a calçada.'

       Depois disso não me lembro de mais nada. Os médicos dizem que eu voltarei a andar, mas mancarei pelo resto da vida'. 'O casamento é uma relação entre duas pessoas na qual uma está sempre certa e a outra é o marido...

 

Fonte: UOL MAIS. UOL Site. Disponível on-line em: . Acesso em 19-08-2013.

Fonte: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ. Disponível on-line em: . Acesso em 24 ago. 2013.

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2013/2013_fafipa_port_pdp_tatiana_sanches_caniatti_biudes.pdf

 Entendendo o texto

 01. Com base na leitura do texto Desabafo de um Bom marido, leia as questões 1 à 10 e assinale com um (X) a opção correta:

 

1. No texto Desabafo de um bom marido, o narrador satiriza a relação marido e mulher, utilizando alguns recursos expressivos para criar o efeito humorístico que cativa o leitor. Dentre esses recursos destacamos a quebra de expectativa, em que uma afirmação quebra a expectativa criada por uma afirmação anterior. Esse recurso é observado no trecho:

(A) Minha esposa e eu sempre andamos de mãos dadas. Se eu soltar, ela vai às compras.

(B) Quando o nosso cortador de grama quebrou, minha mulher ficava sempre me dando a entender que eu deveria consertá-lo.

(C) Mas tenho que admitir, a nossa última briga foi culpa minha.

(D) No começo Deus criou o mundo e descansou. Então, Ele criou o homem e descansou.

(E) Os médicos dizem que eu voltarei a andar, mas mancarei pelo resto da vida’.

 

2. A palavra desabafo, no título do texto, anuncia que o marido

(A) analisará o comportamento de um bom marido.

(B) atestará a experiência feliz que é seu casamento.

(C) exaltará o relacionamento entre marido e mulher.

(D) falará dos problemas que enfrenta no casamento

(E) dará conselhos sobre como ser um bom marido.

3. A afirmação “Eu me casei com a ‘Sra. Certa’. Só não sabia que o primeiro nome dela era ‘Sempre’.” (linha 04), leva à compreensão de que

(A) a esposa é sempre fiel ao marido.

(B) o marido encontrou a pessoa certa para ele.

(C) a esposa acha que sempre tem razão.

(D) o marido não compreende a esposa.

(E) a esposa é sempre dedicada ao marido.

 

4. No trecho “Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de interrompê-la.’ (linhas 04 e 05), a situação é apresentada de forma exagerada para expressar que

(A) a esposa é uma pessoa que fala demais.

(B) o marido nunca interrompe a fala da esposa.

(C) o marido não fala com a esposa há 18 meses.

(D) não há diálogo entre marido e mulher.

(E) a esposa está ausente há 18 meses.

 

5. Ao podar a grama alta com uma tesourinha de costura, a esposa estava

(A) tentando aliviar o estresse do dia a dia.

(B) limpando o jardim que estava muito sujo.

(C) mostrando ao marido como se apara grama.

(D) provocando o marido que não consertava o aparador de grama. (E) executando uma tarefa doméstica de rotina.

 

6. A resposta do marido à pergunta “O que tem na TV?” (linha 06) causou uma briga entre o casal porque

(A) a pergunta feita pela esposa foi ofensiva.

(B) o marido não entendeu a pergunta da esposa.

(C) a resposta do marido mostrava a indiferença dele em relação à esposa.

(D) o marido aproveitou a ambiguidade da pergunta para provocar a esposa.

(E) a esposa não entendeu a resposta do marido.

 

7. O discurso direto, predominante no texto, é utilizado quando o narrador tem a intenção de

(A) mostrar o marido tentando controlar a esposa.

(B) descrever uma cena do cotidiano do casal.

(C) dar voz ao marido ou à esposa.

(D) tecer considerações sobre o comportamento do casal.

(E) ressaltar que a esposa nunca concorda com o marido.

8. A oração “Quando o nosso cortador de grama quebrou,...” (linha 09) expressa, em relação à oração que a segue, a ideia de

(A) modo.

(B) lugar.

(C) tempo.

(D) causa.

(E) propósito.

  

9. Em relação aos trechos abaixo

 I “Se eu soltar, ela vai às compras.” (linha 01)

 II “Só não sabia que o primeiro nome dela era ‘Sempre’.” (linha 04) III “Já faz 18 meses que não falo com minha esposa.” (linhas 04 e 05) é correto afirmar que as palavras se, só e já expressam, respectivamente,

(A) tempo, condição e restrição.

(B) condição, restrição e tempo.

(C) condição, tempo e restrição.

(D) restrição, condição, tempo.

(E) tempo, restrição e condição.

 

10. O texto enfatiza a ideia de que um bom marido é aquele que

(A) não faz gozação com a esposa.

(B) é prestativo nas atividades domésticas.

(C) faz tudo que a esposa quer.

(D) admite que a esposa sempre tem razão.

(E) não provoca brigas.