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domingo, 7 de agosto de 2022

DEBATE: PROGRAMA RODA VIVA - PARTE 2 - VEJA/ABRIL - COM GABARITO

 Debate: Programa Roda Viva – Parte 2

Leia outro trecho do debate:

 Eduardo Giannetti: Já que você tocou no problema da China, essa é uma das outras coisas que me faz perder o sono. A China vai passar os Estados Unidos como o maior emissor de dióxido de carbono nos próximos cinco anos. Já passou a União Europeia. A China sozinha já emite mais gases do que toda a União Europeia. Eu estou com um dado aqui do consumo de automóvel na China. O mercado de automóvel na China já é o terceiro maior do mundo e cresce 15% ao ano. Em 2010 vão estar sendo vendidos nove milhões de carros novos na China.

        Paulo Markun: Quase o dobro do que o Brasil vende. Estou em dúvida, mas acho que é cinco milhões.

        Eduardo Giannetti: Eles vão comprar nove milhões de carros por ano em 2010. Lembrando o seguinte, o consumo per capita, a emissão per capita de gases do chinês é 19 vezes menor do que a do americano. E eles em cinco anos vão estar conjuntamente emitindo mais gases do que todo os Estados Unidos. Está muito longe ainda de estar claro como é que vai fechar essa conta.

        Marcelo Furtado: Essa conta, Giannetti, só fecha se o chinês entender que ele não vai poder ter um carro por habitante, como o americano.

        Paulo Markun: Mas aí como é que você convence...

        Eduardo Giannetti: Agora que chegou a vez da Índia e da China, e eles fizeram um brutal esforço para conseguir isso, não pode mais...

        Marcelo Furtado: E essa conta vale para nós também. Essa discussão que o Miguez colocou: “temos o direito de desenvolver, a culpa não é nossa, são os outros”. A verdade é: o planeta é um só, nós temos um grande desafio e cada um tem a sua parcela de responsabilidade. Obviamente esses países têm uma parcela maior que a nossa, mas nós temos uma lição de casa a fazer.

        Paulo Markun: Bem, nós vamos fazer mais um intervalo e voltamos com o Roda Viva daqui a instantes, que está sendo acompanhado esta noite na plateia por: Teo Leão do Carmo, estudante de geografia; Juliana Gil, gestora ambiental; Eduardo Carlini, estudante de geografia; e Wilson Cardoso de Sá, jornalista.

        [...]

Programa Roda Viva. Debate aquecimento global. Disponível em (programa na íntegra): www.rodaviva.fapesp.br/mteria/297/entrevistados/debate_aquecimento_global_2007.htm.  Acesso em: 20 jan. 2016.

               Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 310-2.

Entendendo o debate:

01 – A quem se referem os pronomes destacados a seguir, que fazem parte das opiniões dos participantes do debate?

a)   Eles vão comprar nove milhões de carros...

Aos chineses.

b)   [...] só fecha se o chinês entender que ele não vai poder ter um carro por habitante, como o americano.

Ao povo chinês.

c)   Mas aí como é que você convence...

Aos ambientalistas, aos formadores de opinião.

d)   E essa conta vale para nós também.

Ao povo brasileiro.

02 – Em um gênero oral como o debate, muitos complementos não precisam ser explicitados. Observe:

Paulo Markun: Mas aí como é que você convence...

Eduardo Giannetti: Agora que chegou [...] não pode mais...

Paulo Markun: Quase o dobro do que o Brasil vende. Estou em dúvida, mas acho que é cinco milhões.

Marcelo Furtado: [...] Obviamente esses países têm uma parcela maior que a nossa...

        Por que isso acontece? Explique.

      Porque os termos podem ser identificados pelo contexto: convence os chineses; chegou a oportunidade de comprar carro; não pode mais comprar carro; essa conta refere-se à diminuição de emissão gases; cinco milhões de carros que o Brasil vende; parcela de responsabilidade.

03 – Leia:

        Modalizador é um elemento linguístico (tempos e modos verbais, verbos, locuções verbais, advérbios, orações) por meio do qual o locutor/autor expressa determinadas atitudes, sentimentos ou posicionamentos a respeito de um assunto sobre o do qual fala ou escreve. Os modalizadores podem expressar:

·        Dúvida, quando o locutor não assume inteiramente o que afirma: talvez, sem dúvida, a meu ver.

·        Um fato ou um desejo: eu vou, eu queria ir.

·        Necessidade, obrigatoriedade: você deve fazer, é necessário.

·        Certeza, assertividade em relação ao que se afirma: certamente; sempre.

·        Probabilidade, relativização em relação ao que se afirma: provável, usualmente, possível, às vezes.

·        Ênfase: sem dúvida, é óbvio, é lógico.

·        Análise ou julgamento: infelizmente, felizmente.

        Baseando-se nas informações anteriores, explique o que expressam os modalizadores empregados pelos participantes do debate.

a)   Podemos entrar em uma era de extremos, com danos pesados para o meio ambiente, agricultura e a vida no planeta.

O locutor não quer ser assertivo, incisivo e relativiza o que é afirmado.

b)   Eu vou tentar responder do ponto de vista dos oceanos, que é a minha especialidade. Eu acho que esse relatório coloca uma importância grande do papel dos oceanos nas mudanças climáticas.

O locutor não quer ser assertivo, nem incisivo e relativiza o que é afirmado.

c)   [...] mas que realmente é o momento em que individualmente, localmente, regionalmente, países, nações se unam para combater esse aspecto nada favorável para nós.

O locutor é assertivo e enfatiza o que afirma.

d)   Evidentemente esse relatório é um marco no conhecimento científico sobre a questão de mudanças climáticas globais.

O locutor é assertivo e enfatiza o que afirma.

e)   Obviamente esses países têm uma parcela maior que a nossa [...].

O locutor é assertivo e não dá margem de dúvida a seu ouvinte.

04 – A modalidade oral tem algumas marcas diferentes da escrita. Uma delas é a correção, quando o locutor reelabora sua fala. Que expressão, no trecho abaixo, é uma marca de correção?

        Evidentemente esse relatório é um marco no conhecimento científico sobre a questão de mudanças climáticas globais. Porque até o momento, quer dizer, os modelos não davam as respostas em que os cientistas confiariam o suficiente para dar um recado importante para o planeta como um todo.

      Quer dizer.

05 – Que variedade linguística os participantes do debate empregaram nos trechos lidos? Explique.

      Variedade urbana de prestígio com emprego de expressões coloquiais e linguagem figurada. Exemplos: “essa conta não fecha”; “outra coisa que me faz perder o sono”; “colocou a humanidade contra a parede”; “dar um recado importante para o planeta como um todo”.

DEBATE: PROGRAMA RODA VIVA - PARTE 1 - VEJA -ABRIL - COM GABARITO

 Debate: Programa Roda Viva – Parte 1

           Paulo Markun: Boa noite. O relatório da ONU sobre as mudanças no clima colocou a humanidade contra a parede. Os níveis do dióxido de carbono na atmosfera são os maiores já registrados e o aquecimento global é um fato irreversível. A culpa é do homem. As consequências, já manifestadas, podem piorar: mais chuvas, mais seca, furacões e tempestades mais intensos e invernos mais quentes. Podemos entrar em uma era de extremos, com danos pesados para o meio ambiente, agricultura e a vida no planeta. Os estudos que levam a essas previsões são mais precisos do que os anteriores. Foram feitos com mais tecnologia e melhores recursos, o que aumentou o grau de certeza sobre os efeitos do aquecimento da Terra, das mudanças do clima e da influência humana nesse processo. O desafio que isso representa é o tema do Roda Viva de hoje. Reunimos uma bancada de cientistas e especialistas que têm se dedicado à questão, e vamos discutir com eles a dimensão do diagnóstico feito pela ONU, e também, como e quando essas consequências poderão chegar até nós. O relatório feito pelo painel de cientistas, organizado pela ONU, comprova que o aquecimento global é causado por atividades humanas e que se tornou um desafio sério, que deve influenciar bastante o debate político e econômico no planeta. Esse diagnóstico assustou e chegou a ser chamado de alarmista, mas foi também anunciado como um relatório mínimo, já que representa o consenso entre cientistas de todo o mundo. Para eles, as consequências do aquecimento da Terra foram, até agora, subestimadas. O clima mudou muito mais do que se previa e muito antes do que se imaginava.

        [...] Para o debate neste Roda Viva especial nós convidamos Eduardo Giannetti, economista, sociólogo e professor do Ibmec São Paulo; convidamos também Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP e membro do IPCC, o Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas; está aqui também Ricardo de Camargo, professor de meteorologia do IAG-USP, Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP; Ilana Wainer, coordenadora do Laboratório de Oceanografia, Física e Clima do Instituto Oceanográfico da USP; Marcelo Furtado, diretor de campanhas do Greenpeace [Organização global e independente que atua na defesa do meio ambiente e na promoção da paz, conscientizando as pessoas para mudarem atitudes e comportamentos, além de investigar, expor e confrontar crimes ambientais, desafiando tomadores de decisão a reverem suas posições e mudarem seus conceitos]; José Antônio Marengo, pesquisador climatologista do Cptec-Inpe, Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, no Intituto de Pesquisas Espaciais e também membro do IPCC, Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.(...) Então, o que eu queria começar a questionar é o seguinte: em que medida esse documento divulgado pelos cientistas muda alguma coisa na percepção que a sociedade tem do problema, e mais ainda, em que medida ele muda o conhecimento que a gente tem sobre este problema? Começamos pela Ilana.

        Ilana Wainer: Eu vou tentar responder do ponto de vista dos oceanos, que é a minha especialidade. Eu acho que esse relatório coloca uma importância grande do papel dos oceanos nas mudanças climáticas. Uma delas é a capacidade que o oceano tem de armazenar e redistribuir esse calor. Então, o oceano tem um papel, funciona como um refrigerador no planeta. Ele recebe o excesso de calor das regiões tropicais, que é redistribuído para as regiões de déficit, as regiões polares, e através de correntes muito profundas, ocorre uma redistribuição, resfria-se o planeta levando essas correntes mais densas e frias para a região tropical. O que acontece é que com o aquecimento do planeta – não vou entrar em detalhes desses processos agora – essa corrente acaba se desintensificando, ela fica menos intensa, redistribui-se menos excesso de calor para as regiões de déficit, e, consequentemente, aumentam os contrastes de temperatura. [...].

        Paulo Artaxo: Evidentemente esse relatório é um marco no conhecimento científico sobre a questão de mudanças climáticas globais. Porque até o momento, quer dizer, os modelos não davam as respostas em que os cientistas confiariam o suficiente para dar um recado importante para o planeta como um todo. Esse relatório muda esse patamar porque ele dá um nível de confiabilidade muito grande e as previsões hoje do relatório, das quais algumas delas foram feitas na introdução do programa, são realmente importantes do ponto de vista das alterações do clima físico e vão ter consequências importantes do ponto de vista socioeconômico e político para o nosso planeta. E a repercussão dessas conclusões foram muito importantes, não só no Brasil, como no mundo todo.

        Marcelo Furtado: E acho que vale a pena, Markun, a gente colocar um ponto importante, que é a dimensão política disso. Esse documento foi feito para tomadores de decisão. [...]

        José Antônio Marengo: Eu acho que é importante considerar que esse é um relatório do grupo 1, que é o relatório científico, e como o Marcelo mencionou, é o chamado “Sumário para tomadores de decisão”, um documento curto. O relatório 1 possivelmente tem 1500 páginas. Então, eu concordo com Artaxo, é um marco épico para nós, meteorologistas, se comparado àquele relatório publicado em 2001, o terceiro relatório. Em 2001 se falava que o aquecimento chegaria a 5,8°, agora se fala em 4° ou 4,5°; melhores modelos, melhores apresentações, melhores observações e técnicas estatísticas, o que é importante, talvez. Em 2001 se falava que a conclusão principal era: o aquecimento global não é unicamente consequência de variação natural do clima. Agora já se fala claramente: é estatisticamente significativa a ação humana. [...]

        Ricardo de Camargo: A questão das incertezas terem diminuído, como foi mencionado, e termos colocado nesse patamar de um panorama de certo risco, e o aumento da certeza de que realmente tem uma parcela humana nisso, e mesmo minimizado, seja para os tomadores de decisões, ou porque não é em todos os lugares que os aumentos vão ser tão grandes, seja do nível do mar, seja das temperaturas, seja das chuvas, eu acho que o marco foi realmente alcançado, não no sentido do alarmismo que se fez na população mundial, mas que realmente é o momento em que individualmente, localmente, regionalmente, países, nações se unam para combater esse aspecto nada favorável para nós.

        [...]

               *Na transcrição do debate, o negrito foi empregado para destacar o nome dos participantes e o nome do programa.

Programa Roda Viva. Debate aquecimento global. Disponível em (programa na íntegra): www.rodaviva.fapesp.br/mteria/297/entrevistados/debate_aquecimento_global_2007.htm.  Acesso em: 20 jan. 2016.

                Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 307-10.

Entendendo o debate:

01 – De acordo com o texto, qual o significado da palavra Mitigação?

      Significa atenuação.

02 – Qual foi o fato gerador desse debate?

      A divulgação do relatório da ONU que apresentou dados mais precisos que os anteriores sobre as mudanças no clima, as causas e consequências do aquecimento global, indicando que o aquecimento é causado por atividades humanas.

03 – Qual é o objetivo do debate?

        No debate, os participantes apresentam diferentes opiniões que circulam na sociedade a respeito da questão discutida. Trata-se de um momento privilegiado para que se tome consciência da pluralidade de opiniões e da importância de respeitar posições divergentes.

        Geralmente abordando um tema controverso, o debate não tem como objetivo a tomada de decisão, mas a apresentação de diferentes posições com a finalidade de influenciar a posição do outro ou a própria.

      Discutir a seguinte questão: em que medida o documento da ONU muda a percepção que a sociedade tem do problema que é o aquecimento global e que medidas serão tomadas.

04 – Que critérios foram usados para selecionar os debatedores?

      Eles são especialistas no assunto debatido: pesquisadores e especialistas envolvidos no estudo do aquecimento global e suas consequências.

05 – Mediador ou moderador é a pessoa que coordena um debate. É seu papel indicar a vez de falar de cada um, controlar o tempo da fala, interferir quando sentir que é necessário pedir novos esclarecimentos, acrescentar um novo questionamento. Qual foi o objetivo da fala inicial do mediador do Programa Roda Viva, Paulo Markun?

      Cumprimentar a audiência; contextualizar o assunto, fazer uma breve exposição a respeito de um relatório feito pelo painel de cientistas, organizado pela ONU, que comprova que o aquecimento global é causado por atividades humanas e que o clima “mudou muito mais do que se previa e muito antes do que se imaginava”; apresentar os debatedores e dirigir a 1ª pergunta a uma debatedora.

06 – Em um debate, é comum a divergência de opiniões, já que os participantes expõem pontos de vista diferentes. Esse trecho da transcrição do debate que você leu revela mais divergência ou convergência de pontos de vista em relação ao relatório? Justifique com trechos do texto.

      Convergência em relação à importância do relatório. Exemplos: Ilana Wainer: “Eu acho que esse relatório coloca uma importância grande do papel dos oceanos nas mudanças climáticas.” Paulo Artaxo: “Evidentemente esse relatório é um marco no conhecimento científico sobre a questão de mudanças climáticas globais.” Marcelo Furtado: “E acho que vale a pena, Markun, a gente colocar um ponto importante, que é a dimensão política disso.” José Antônio Marengo: “Então, eu concordo com Artaxo, é um marco épico para nós, meteorologistas, se comparado àquele relatório publicado em 2001, o terceiro relatório.”

07 – Pelo que você lê, estuda e observa, responda:

a)   Os problemas climáticos expostos no debate foram atenuados ou agravados? Explique.

Os alunos devem perceber, de acordo com a fala do mediador e dos participantes, que os problemas climáticos no planeta vêm se agravando.

b)   Em sua opinião, a sociedade, especialmente os jovens, está mais consciente e comprometida com a resolução desse problema? Explique.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Leve os alunos a argumentarem embasando seus pontos de vistas a partir de leituras e do conhecimento de mundo adquirido sobre o tema.

08 – Explique a que se refere o uso da primeira pessoa do plural, nós, e sua variante informal, a gente, nos seguintes trechos do debate:

a)   [Paulo Markun:] Para o debate neste Roda Viva especial nós convidamos [...]

A primeira pessoa do plural refere-se à equipe responsável pelo programa em que se inclui o mediador.

b)   [Paulo Markun:] [Nós] Começamos pela Ilana.

Refere-se a si mesmo e todos os que participantes do debate.

c)   [Marcelo Furtado] E acho que vale a pena, Markun, a gente colocar um ponto importante, que é a dimensão política disso.

A gente refere-se a todos os participantes do debate.

domingo, 31 de outubro de 2021

DEBATE: A POSTURA DO BRASILEIRO DIANTE DAS LEIS - PARTE 02 - DIÁLOGOS NA USP - COM GABARITO

 Debate: A postura do brasileiro diante das leis Parte 2


TRECHO 3:
Pequenas e grandes corrupções

        Rollemberg: Nós temos de pensar... Nós estamos falando de corrupção, claro... nós sempre pensamos em situações grandes: malas com dinheiro, essas coisas todas. Mas vamos pensar no dia a dia... As pequenas corrupções, as pequenas infrações, os pequenos deslizes [...] durante muito tempo o Brasil, os brasileiros ou uma parte dos brasileiros se orgulhou do chamado jeitinho brasileiro [...] Está tudo bem, professor?

        Justino: Alguns pontos para a gente compreender esse comportamento [...] Dois pontos essenciais. Existe uma expressão muito típica da Ciência da Administração que é: Not in my backyard (não no meu jardim/quintal). O que significa isso? Eu entendo que aquela providência, que aquela ferramenta, que aquele posicionamento, que aquela atitude é importante, é relevante, ela é ética, mas não comigo. [...]

        Rollemberg: Filosoficamente é muito bom, mas na prática, não. É isso?

        Justino: Isso também é... é algo que acontece muitos nas análises pessoais e interpessoais, né? É como se, sua pergunta foi bem nessa linha, é como se o tema da corrupção envolvesse apenas grandes corrupções. Então ela é uma corrupção política, dos agentes políticos... Aquilo que tem a ver com a minha esfera mais próxima, a esfera familiar, a esfera do trabalho, a esfera das relações interpessoais como um todo é como se eu tivesse uma autorização para agir conforme meus melhores interesses.

        [...] Uma outra questão também é o que ninguém vai ver, ninguém vai saber. Então tem também aquela sensação da impunidade, sim, a sensação de que não vou ser pego. Isso é do ser humano e aí quando você não tem bases éticas muito sólidas em uma sociedade... E, infelizmente, nós temos que dizer que, não generalizando, as bases éticas da sociedade brasileira hoje, elas estão um pouco nebulosas...

        Rollemberg: Você está sendo eufemístico.

        Justino: [...] Existe essa questão de que, sim, a corrupção existe, mas ela está longe. Existe também o tema da corrupção, mas ela tem de ser grande para ser um problema e existe também uma questão de que as minhas atitudes, elas são justificadas por mim, porque há uma percepção (esse é o ponto) de que ninguém vai ver e de que eu não serei punido. Então é claro que isso não vale para todas as pessoas, mas nós não chegaríamos ao momento em que nós chegamos, me parece [...] Há uma relação forte entre a grande corrupção, da corrupção política, da corrupção constitucional, da corrupção que hoje é endêmica no Brasil com as pequenas corrupções.

        Rollemberg: [...] O senhor comentou que é como isso vai se dando quando nós não temos bases éticas sólidas e não temos tido. Aí a pergunta para a professora Marilene: não temos tido ou nunca tivemos?

        Marilene: Não. Eu acho que nós temos bases éticas sólidas. Quer dizer, o Brasil é um dos países que tem uma das Constituições mais fortes no sentido dos direitos sociais, de mostrar quais são os direitos do cidadão brasileiro, de defender esses direitos. Nós somos signatários de declarações: Declaração universal dos direitos humanos, declaração dos direitos da pessoa com deficiência. Quer dizer, nós temos inúmeras participações como país em movimentos internacionais éticos que estão sendo também trazidos como políticas públicas. [...] Veja então você tem princípios éticos que estão o tempo todo sendo trazidos, inseridos, defendidos por muitas pessoas no campo social. É que de fato essa tensão, essa polarização que a gente tem de valores no campo social, geralmente, faz com que esses valores que são os negativos, que são aqueles que são os piores, os mais perversos ocupem um espaço muito grande de visibilidade, mas também nós precisaríamos dar visibilidade para aquelas questões que são éticas, pela defesa dos princípios éticos, pelas ações éticas que têm no campo social.

TRECHO 4: Em busca de saídas

TRECHO 4: Em busca de saídas

        Rollemberg:  [...] como fazer o cidadão comum se imbuir da necessidade da aceitação, mais do que aceitação, da necessidade de seguir esses preceitos. Isso é uma questão de educação também?

        Marilene: Sem dúvida nenhuma é uma questão educação, é uma questão de participação social nesses processos. [...] A crítica é fundamental. Nós temos que fazer a crítica, nós temos de produzir a crítica, mas nós temos de produzir as saídas. [...] Então nós precisamos superar o nosso discurso crítico para as práticas políticas e para as políticas públicas e para as ações nos mais diversos campos que a gente chegue nos indivíduos, chegue nas pessoas e que elas possam viver e pensar alternativas para sair do problema.

Unidade 6

228mais diversos campos que a gente chegue nos indivíduos, che-gue nas pessoas e que elas possam viver e pensar alternativas    

        [...]

        Rollemberg: Professor Justino, e como o Direito pode ajudar nisso? No dia a dia, mesmo? Quer dizer, como é que nós mudamos ou podemos ajudar nessa reformatação do pensamento comum da sociedade?

        Justino: É importante dizer o seguinte: a lei é um componente para mudança de comportamento, mas ela em si, sozinha, ela não muda uma cultura, ela não muda um comportamento. Esse é um primeiro ponto. O Direito então tem funções, o Direito tem uma função de, sobretudo, regulamentar as relações entre as pessoas, do espaço privado com o espaço público, estabelecer, obviamente, comando, estabelecer sanções. Mas o Direito tem uma função transformadora e cada vez mais. No entanto, ele não é o único. Ele não pode ter essa força, na verdade, ele não tem essa força de mudar tudo sozinho.

        [...] Em síntese, não é um tema único e exclusivo do poder judiciário. Não cabe só ao judiciário enfrentar o problema de combate à corrupção. Não é só um caso de responsabilização. É um caso de contenção, prevenção. São várias ações [...] Porque é o que a professora mencionou todos nós temos uma parcela de responsabilidade nesse tema.

        Rollemberg: Não podemos, na verdade, passar a bola para o outro, seja judiciário, seja legislativo, seja executivo, parte de nós. [...] Nós somos atores sociais importantíssimos na resolução desse problema. É isso, professora Marilene? Antes de mais nada, nós temos que pensar que o problema é nosso também.

        Marilene: Exatamente. Nós estamos falando em cidadania. Cabe a todos nós. Nenhum de nós está isento da sua parcela de participação, talvez alguns de nós tenhamos mais elementos institucionais de participação, outros menos, mas cada um tem sua responsabilidade social. E ao mesmo tempo nós também podemos mobilizar os nossos entornos.

        [...]

OLIVEIRA, Justino de; SOUZA, Marilene Proença Rebello de. Debate [2017].

Mediador: Marcello Rollemberg. São Paulo: Rádio USP FM 93,7 (SP). Debate promovido pelo programa Diálogos na USP com o tema “Especialistas discutem a postura do brasileiro diante das leis”. Publicado no site da emissora em 10

nov. 2017.  Disponível em: <https://jornal.usp.br/atualidades/especialistas-discutem-postura-do-brasileiro-diante-das-leis/>. Acesso em: 16 jul. 2018.

Transcrição feita para esta edição.

Fonte: Língua Portuguesa – Programa mais MT – Ensino fundamental anos finais – 9° ano – Moderna – Thaís Ginícolo Cabral. p. 300-8.


Entendendo o debate


01 – Converse com seus colegas e professor sobre as hipóteses levantadas antes da leitura.

a)   O que você listou como grande e pequena corrupções apareceu na conversa entre mediador e debatedores?

Resposta pessoal do aluno.

b)   As hipóteses que você levantou sobre as saídas para o problema da corrupção se confirmaram após a leitura?

Resposta pessoal do aluno.

02 – Releia a primeira intervenção do mediador no trecho 3.

a)   O mediador emprega a primeira pessoa do plural para formular a pergunta ao debatedor. A quem ele se refere ao usar esse pronome? Explique.

O emprego do pronome nós se refere a uma opinião ligada ao senso comum e não necessariamente a ele, mediador, e aos debatedores.

b)   Nesse trecho, o mediador emprega uma frase em que reformula o que havia dito anteriormente, demonstrando certa hesitação. Identifique e transcreva essa frase.

“[...] durante muito tempo o Brasil, os brasileiros ou uma parte dos brasileiros se orgulhou do chamado jeitinho brasileiro [...]”.

c)   Observe que no trecho 3 as reticências são usadas com duas funções.

·        Dê um exemplo de quando ela é utilizada para indicar trechos de supressão.

“Os pequenos deslizes [...] durante muito tempo o Brasil, os brasileiros ou uma parte dos brasileiros se orgulhou do chamado jeitinho brasileiro [...] Está tudo bem, professor?”.

·        Também exemplifique quando sinalizam a hesitação do interlocutor no momento da fala.

“Nós temos de pensar... nós estamos falando de corrupção, claro... nós sempre pensamos em situações grandes: malas de dinheiro, essas coisas todas. Mas vamos pensar no dia a dia... as pequenas corrupções, as pequenas infrações”.

d)   Dentro do contexto do debate o que você entende quando lê a expressão jeitinho brasileiro?

É o comportamento de quem procura levar vantagem em pequenas ações do cotidiano.

03 – Marque as afirmações verdadeiras sobre a resposta do professor Justino ao mediador acerca do jeitinho brasileiro.

a)   O professor de Direito responde sem rodeios à pergunta do mediador.

b)   O professor de Direito problematiza a questão na tentativa de compreender o problema. 

      b)   O professor de Direito justifica o problema, com uma citação em inglês da Ciência da Administração.

d)   O professor de Direito sinaliza que o comportamento pode ser compreendido a partir de duas perspectivas.

04 – Como você resumiria os pontos essenciais levantados pelo professor para a compreensão do comportamento relacionado aos pequenos deslizes?

      De acordo com o professor Justino, as pessoas cometem pequenas corrupções por dois motivos, sentem-se autorizadas em agir conforme seus interesses e têm como parâmetro a sensação de impunidade.

05 – Releia o seguinte trecho da fala do professor Justino.

        Justino: [...] Existe essa questão de que, sim, a corrupção existe, mas ela está longe. Existe também o tema da corrupção, mas ela tem de ser grande para ser um problema e existe também uma questão de que as minhas atitudes, elas são justificadas por mim, porque há uma percepção (esse é o ponto) de que ninguém vai ver e de que eu não serei punido. Então é claro que isso não vale para todas as pessoas, mas nós não chegaríamos ao momento em que nós chegamos, me parece [...] Há uma relação forte entre a grande corrupção, da corrupção política, da corrupção constitucional, da corrupção que hoje é endêmica no Brasil com as pequenas corrupções.”

OLIVEIRA, Justino de; SOUZA, Marilene Proença Rebello de. Debate [2017].

Mediador: Marcello Rollemberg. São Paulo: Rádio USP FM 93,7 (SP). Debate promovido pelo programa Diálogos na USP com o tema “Especialistas discutem a postura do brasileiro diante das leis”. Publicado no site da emissora em 10

nov. 2017.  Disponível em: <https://jornal.usp.br/atualidades/especialistas-discutem-postura-do-brasileiro-diante-das-leis/>. Acesso em: 16 jul. 2018.

Transcrição feita para esta edição.

a)   Como você já sabe, o debate é um gênero oral. Encontre duas marcas de oralidade mantidas nesse trecho transcrito e editado.

A repetição do verbo existe e o predomínio de frases curtas e simples.

b)   O professor defende que a corrupção deve ser grande para ser um problema? Justifique sua resposta.

Não. Pelo contrário, ele rebate essa posição. Para o professor, o tema da corrupção envolve a grande corrupção e pequenas corrupções cotidianas. Em sua opinião, as duas têm um forte vínculo cultural e sistêmico.

c)   A palavra endêmica na última oração do trecho poderia ser substituída por qual outra, sem alterar o sentido do texto?

A palavra endêmica poderia ser substituída pela palavra enraizada.

06 – Releia agora a seguinte interação entre debatedor e mediador.

        Justino: [...] e aí quando você não tem bases éticas muito sólidas em uma sociedade... E, infelizmente, nós temos que dizer que, não generalizando, as bases éticas da sociedade brasileira hoje, elas estão um pouco nebulosas...

        Rollemberg: Você está sendo eufemístico.”

OLIVEIRA, Justino de; SOUZA, Marilene Proença Rebello de. Debate [2017].

Mediador: Marcello Rollemberg. São Paulo: Rádio USP FM 93,7 (SP). Debate promovido pelo programa Diálogos na USP com o tema “Especialistas discutem a postura do brasileiro diante das leis”. Publicado no site da emissora em 10

nov. 2017.  Disponível em: <https://jornal.usp.br/atualidades/especialistas-discutem-postura-do-brasileiro-diante-das-leis/>. Acesso em: 16 jul. 2018.

Transcrição feita para esta edição               

a)   Qual é o ponto de vista defendido pelo debatedor?

Justino defende que a sociedade brasileira não tem bases éticas muito sólidas.

b)   Na frase “elas estão um pouco nebulosas”, o pronome elas se refere a quê?

Se refere à expressão bases éticas.

c)   Que figura de linguagem é utilizada pelo professor para expressar, pela segunda vez, seu ponto de vista? Por que ele a utiliza?

O professor utiliza o eufemismo. Ele utiliza essa figura de linguagem para suavizar a afirmação anterior, fazendo uma ressalva contra a generalização e ilustrando sua visão. Assim, demonstra sua incerteza em relação às bases éticas.

d)   O mediador concorda ou discorda do debatedor? Justifique sua resposta com um trecho do texto.

O mediador concorda com o debatedor. Isso se evidencia no seguinte trecho: “O senhor comentou que é como isso vai se dando quando nós não temos bases éticas sólidas e não temos tido. Aí a pergunta para a professora Marilene: não temos tido ou nunca tivemos?”. Ou seja, o mediador já exclui da sua pergunta a possibilidade de o Brasil ter bases éticas sólidas.

07 – Sobre a primeira intervenção da professora Marilene no trecho 3, responda:

a)   Marilene concorda ou discorda do posicionamento defendido pelo professor Justino?

Ela discorda do posicionamento do professor Justino.

·        Transcreva o trecho do texto que comprove sua resposta.

“Eu acho que nós temos bases éticas sólidas”.

b)   Compare a forma como a professora Marilene e o professor Justino expressam seus pontos de vista a respeito da questão: quem é mais e quem é menos contundente?

A professora Marilene é mais contundente que o Professor Justino no momento de expressar seu posicionamento. Ele faz uma afirmação, mas depois tenta suavizá-la.

c)   Quais argumentos a professora Marilene utiliza para defender seu ponto de vista?

Ela utiliza argumentos de comprovação. Cita a Constituição Federal e as declarações internacionais dos Direitos Humanos e dos Direitos das Pessoas com Deficiência, assinadas pelo Brasil, para comprovar que o país tem bases éticas fundamentadas nas leis que prescrevem direitos e deveres aos cidadãos. Também argumenta que o país participa de movimentos internacionais éticos.

d)   Nesse trecho, a professora diz: “Nós somos signatários de declarações”. Qual o significado do termo signatários?

Segundo o Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, signatário é aquele que assina ou subscreve um texto, um documento, etc.

e)   É possível estabelecer uma relação entre esses argumentos e o fato de o interlocutor da professora ser da área do Direito? Justifique sua resposta.

Possivelmente, ela citou esses marcos legais, porque seu debatedor é da área do Direito. Implicitamente, ela parece chamar a atenção dele para o fato de o Brasil ter uma Constituição cidadã e ser signatário de tratados internacionais.

f)    Que reivindicação a professora faz no encerramento de sua fala? Por que ela faz esse pedido?

Ela reivindica que as questões/ações éticas no campo social tenham mais visibilidade, pois enxerga que predominam os valores negativos e a polarização de valores.

08 – Releia, no trecho 4, a primeira pergunta de Rollemberg.

a)   Com base no contexto, substitua a palavra imbuir por outra, sem alterar o sentido da questão.

“[...] como fazer o cidadão comum se convencer da necessidade da aceitação, mais do que da aceitação da necessidade de seguir esses preceitos.”

b)   Como você reformularia essa questão para que ela fosse publicada em site, por exemplo?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Como convencer o cidadão comum sobre a necessidade de agir e seguir de acordo com princípios éticos? É uma questão relacionada à educação?

09 – Qual é o ponto de concordância entre os debatedores em relação à saída para o problema da corrupção?

      Eles concordam que todos têm de assumir sua parcela de responsabilidade em relação ao problema e modificar a si e os demais no combate à corrupção.

10 – Sobre as saídas propostas pela professora Marilene, responda:

a)   Ela defende que a solução passa apenas pela educação? Justifique sua resposta.

Não. A professora acredita que a educação é um caminho. No entanto, também enfatiza a importância de práticas políticas e de políticas públicas, bem como da participação social e do comprometimento individual, para superar o problema da corrupção.

b)   Você concorda com a afirmação da professora de que todos podem mobilizar seus entornos sobre o tema da corrupção? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal do aluno.

11 – Como o professor Justino vê o papel do Judiciário em relação às saídas para o problema da corrupção?

      Ele defende que o Judiciário pode contribuir com o combate à corrupção, principalmente em relação às medidas de responsabilização.

·        Essa visão é coerente com a visão apresentada por ele sobre a corrupção no início do debate?

Não. Ele ressalta que não cabe ao Judiciário enfrentar sozinho esse problema, uma vez que são necessárias várias ações em diferentes esferas e comprometimento social.

12 – Leia o trecho de encerramento do debate:

        Rollemberg: É um assunto que daria mais uma hora fácil de programa, mas o Diálogos na USP está chegando ao seu final. Queria agradecer muitíssimo a presença do professor Justino de Oliveira, que é professor de Direito Administrativo da Faculdade de Direito da USP, advogado, consultor jurídico e árbitro especializado em Direito Público. Muito obrigado a professora Marilene Proença Rebello de Souza, professora titular da Universidade de São Paulo, pesquisadora do programa de pós-graduação em Psicologia Escolar e Desenvolvimento humano e atual diretora do Instituto de Psicologia da USP.”

OLIVEIRA, Justino de; SOUZA, Marilene Proença Rebello de. Debate [2017].

Mediador: Marcello Rollemberg. São Paulo: Rádio USP FM 93,7 (SP). Debate promovido pelo programa Diálogos na USP com o tema “Especialistas discutem a postura do brasileiro diante das leis”. Publicado no site da emissora em 10

nov. 2017.  Disponível em: <https://jornal.usp.br/atualidades/especialistas-discutem-postura-do-brasileiro-diante-das-leis/>. Acesso em: 16 jul. 2018.

Transcrição feita para esta edição.

a)   Quem faz o encerramento?

É o mediador, o jornalista Marcello Rollemberg.

b)   Quais são os dois momentos do encerramento?

São a despedida e o agradecimento aos participantes.

c)   Por que há repetição de dados já apresentados na abertura do debate?

Provavelmente, o mediador repete os dados referentes à apresentação dos participantes, pois alguém da audiência pode ter começado a acompanhar o debate após a abertura.

 

 

       

 

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