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terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

PEÇA TEATRAL: GOTA D'ÁGUA - (FRAGMENTO) - CHICO BUARQUE E PAULO PONTES - COM GABARITO

 Peça teatral: Gota d’Água – Fragmento  

                       Chico Buarque e Paulo Pontes

        [...]

        JOANA — Cê lembra de mim, Jasão?

                          Ainda lembra?...

        JASÃO — O que é que eu falei?...

        JOANA — Lembra, não.

                          Cê gosta da filha do Creonte, Jasão?

        JASÃO — Não quero falar nisso agora...

        JOANA — Gosta não.

                          Tá só perturbado, né? Responde pra mim...

        JASÃO — Tava falando, deixa eu continuar, sim?

        JOANA — Responde duma vez, homem, toma coragem.

                          Você gosta mesmo da moça?...

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjB1lV43gIzBzTyYy63uusI69ARR_5XOtvgrAT871ftwI0m6GnOguE6ZulkhfLzZXjK-rJLlN2RT5gTrt3w42Z3KfdlgBSWyy-5kP29-998lLdjEksCoNOQbvodVOaULkaqdFsVJaadPThS8rLP3WfV5VRALkmYgCwvPcGiJIr4W02xMmrHkhbCYMd-BPY/s320/GOTA.jpg 


        JASÃO — (Gritando:)

                          Mulher, para,

                          deixa eu falar... (Tempo.) Você sabe...

                          eu não tenho cara pra chutar vocês pra córner...

                          É sacanagem 

                          que eu não vou fazer. Mas também veja o meu lado.

                          Cedo ou tarde a gente ia ter que separar.

                          Quando eu te conheci, tava pra completar 

                          vinte anos, não foi? Eu nem tinha completado 

                          Você tinha trinta e quatro mas era bem 

                          conservada, a carroceria, bom molejo 

                          e a bateria carregada de desejo.

                          Então não queria saber de idade, e nem 

                          quero saber, por que pra mim quem gosta gosta

                          e o amor não vê documento nem certidão.

                          Só que dez anos se passaram desde então 

                          e a diferença, que mal nem se via, a bosta 

                          do tempo só fez aumentar. Vou completar 

                          trinta e você tá com quarenta e quatro, agora.

                          É claro que, daqui pra frente, cada hora 

                          do dia só vai servir pra nos separar.

                          E quando eu estiver apenas com quarenta 

                          e cinco anos, na força do homem, seguro 

                          de mim, vendendo saúde, moço e maduro;

                          você vai ter seus cinquenta e nove, sessenta,

                          exausta, do reumatismo, da menopausa, 

                          da vida. E vai controlar ciúme, rancor, 

                          vai aguentar a dor de corno, o mau humor? 

                          Ou quer que eu também fique velho, só por causa

                          da tua velhice?... Acho melhor procurar

                          uma pessoa na mesma faixa de idade... 

                          Quero dizer...

                          JOANA — Jasão, pega a tua mocidade

                          e enfia...

                          [...]

CÍRCULO DO LIVRO S.A. Caixa postal 7413 São Paulo, Brasil.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 36-37.

Entendendo a peça teatral:

01 – Qual é o tema central do diálogo apresentado no fragmento?

      O fragmento gira em torno do término do relacionamento entre Joana e Jasão. Jasão busca justificar sua decisão de se separar, enquanto Joana tenta fazê-lo confessar que está interessado em outra mulher, a filha de Creonte.

02 – Qual é a principal alegação de Jasão para justificar a separação?

      Jasão alega que a diferença de idade entre eles se tornou um problema com o passar dos anos. Ele argumenta que Joana está envelhecendo e que ele, por sua vez, ainda está na juventude e precisa seguir em frente com sua vida.

03 – Como Joana reage às justificativas de Jasão?

      Joana demonstra indignação e desprezo pelas justificativas de Jasão. Ela o acusa de ser hipócrita e de usar a diferença de idade como desculpa para se afastar dela.

04 – Qual é a importância da personagem Creonte na trama?

      Creonte é o pai da nova mulher que Jasão deseja. Sua importância reside no fato de que ele representa a possibilidade de ascensão social para Jasão, já que o casamento com a filha de Creonte lhe traria benefícios e poder.

05 – Qual é o tom geral do diálogo entre Joana e Jasão?

      O diálogo é marcado por tensão, acusações e mágoa. Joana se sente traída e abandonada, enquanto Jasão tenta se justificar de forma racional, mas demonstra insensibilidade e falta de empatia com os sentimentos de Joana.

 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

PEÇA DE TEATRO: SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO - WILLIAM SHAKESPEARE - ATO III - CENA II - COM GABARITO

 PEÇA DE TEATRO: SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO

                            William Shakespeare

ATO III,Cena II


Outra parte do bosque. Entra Oberon.

OBERON - Saber eu desejara se Titânia já despertou, e mais: o que primeiro lhe caiu sob os olhos, de que esteja perdida de paixão. Mas eis que chega meu mensageiro.
(Entra Puck.)
Então, travesso espírito, qual foi a brincadeira mais estranha que aparelhaste neste bosque mágico?

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVZziG4uPdrIK1ViGfosH5185E7p84KnNtcNNjJMzfv_892urUgE2nvdGWkphAJyAivlIdpzyHab0S_SJE3Vdt9r0uHS4wSzOIBUYb2r-prRIbmaD7qvQCyxN9ybU6mClmtskdlZfFSRu3lnSkMjEiM0iIebdHqRzqoAPjU62Pq7I83fqXUBDf_Fi42BA/s320/BOSQUE.jpg



PUCK - A rainha se encontra loucamente de um monstro apaixonada. Quase em frente do sagrado lugar em que ela a sono mui tranquilo se achava em abandono, unia tropa de artífices de Atenas, capazes de trabalho rude, apenas, para ganhar o pão com o suor do rosto, ensaiava uma peça de mau gosto, para o dia solene do himeneu da Amazona garbosa e o grão Teseu. O casca-grossa de mais rude engenho de todos eles, que, com muito empenho, de Píramo fazia, a cena deixa por um momento, à espera de sua deixa. Eu, então, da ocasião me aproveitando para em um monstro o transformar, infando, sobre os ombros lhe pus, sem mais demora, de burro uma cabeça. Eis chegada a hora da resposta de Tisbe, o instante azado para na peça eu por o meu bocado. Ao vê-lo, os outros, tal como bulhento bando de patos bravos, no momento em que percebem caçador matreiro que para eles se arrasta sorrateiro, ou como gralhas de pés rubros, quando a um tiro súbito, a gritar, voando, se espalham pelo céu - cheios de medo
também se afundam logo no arvoredo. Para mais assustá-los, sapateio sem parar, deles todos pelo meio: uns sobre os outros caem, por socorro gritando, em desespero: Atenas! Morro! Minguando-lhes o senso na medida que aumenta o medo, quanto não tem vida lhes causa dano, que, pelos caminhos vão deixando
nas pontas dos espinhos aqueles membros do teatro imbele parte das roupas, dos chapéus, da pele.
Dominados, assim, todos do medo, deixei-os ir. Só fica no brinquedo nosso Píramo, em burro transformado. Nesse instante, porém, tendo acordado. Titânia, apaixonou-se loucamente do belo monstro que lhe estava em frente.

OBERON - Eu próprio melhor plano não teria podido excogitar. Mas a magia da planta no ateniense já puseste, conforme te falei, de peito agreste?

PUCK - A dormir o encontrei, Já liquidado ficou também esse negócio. Ao lado dele estava a ateniense desprezada que por ele vai ser alcandorada.
(Entram Demétrio e Hérmia)

OBERON - Põe-te de lado; eis o ateniense duro.
PUCK - Ela é a mesma; mas que este é outro eu juro.
DEMÉTRIO - Por que tais expressões gastais comigo? Deixai rigores para o vosso inimigo.


HÉRMIA - Com censuras agora me contento, mas sobejas razões teu ardimento num crescendo me dá de amaldiçoar-te. Se de Lisandro a vida, em qualquer parte, no sono tu tiraste, e já manchado de sangue tens o pé, nenhum cuidado te cause prosseguir na furibunda devastação: a perna inteira afunda,.. Oh!
mata-me, também! O sol não era tão fiel ao dia, como ele a mim. Possível lhe seria fugir de mim, para fazer-me guerra? Mais fácil fora acreditar que a terra se deixasse furar por uma pua e que emitisse através dela a lua sua luz clara para, do outro lado, deixar o irmão ao meio-dia enfiado. Dúvida já não tenho: és assassino; esse rosto o proclama, o olhar ferino.

DEMÉTRIO - O aspecto devo ter de assassinado, não de assassino, porque transpassado me deixou tua insólita crueldade. Mas brilhas com tão grande claridade, apesar da feição dura e severa, como a luzente Vênus na alta esfera.

HÉRMIA - A que vem isso com Lisandro, agora? Ah, bom Demétrio, dá-mo sem demora.

DEMÉTRIO - Antes eu dera aos cães sua carcaça.

HÉRMIA - Sai, monstro! Cão! Desfaçatez tão crassa minha paciência virginal esgota. Já não tenho esperança nem remota. Sei que o mataste; mas, como um bargante, dos homens fugir deves de ora em diante. Oh! Por amor de mim, conta-me tudo, que em minha grande dor encontro escudo. De frente a olhá-lo sempre te abstiveste, e, no sono, o mataste? Oh peito agreste! Poderia algum verme, alguma cobra, tão depressa causar tão hedionda obra? Víbora, disse, que ela mais pungente picada do que tu não
dá, serpente!

DEMÉTRIO - Funda-se nalgum erro o teu cuidado. Se Lisandro está mal, não sou culpado, nem sei que morto esteja ele, também.

HÉRMIA - Dize, então, por favor, que ele está bem.

DEMÉTRIO - Se o disser, que vantagem me vem disso?

HÉRMIA - A de jamais me ver; maior serviço possível não será, como ora o faço, sejas ou não culpado em seu trespasso.
(Sai.)

DEMÉTRIO - Nessa disposição não há segui-la. Vou esperar que fique mais tranquila e procurar dormir.
Quando em falência se acha o sono, menor é a resistência ao peso da tristeza. Desta sorte talvez melhor esse ônus eu suporte.
(Deita-se e dorme.)

OBERON - Que fizeste? Houve engano manifesto; foi posto o suco em um amante honesto; deixaste falso um fido namorado, sem que o remisso fosse castigado.

PUCK - O fado o quis; para um sincero amante, mil falsos há de haver a cada instante.

OBERON - Percorre a mata, mais veloz que o vento, e acha Helena de Atenas num momento. De aqui trazê-la ficas incumbido, enquanto o peito eu mudo ao moço infido.

PUCK - Já vou! Já vou! Vê como eu vou ligeiro, tal qual seta de Tártaro guerreiro.
(Sai.)

OBERON - Botão de rosa ferido pela flecha de Cupido,
(Espreme a flor nos olhos de Demétrio.) no espírito entra vencido deste moço adormecido. Ao despertar, ao ruído que ela fizer, que rendido se lhe torne o peito fido.
(Volta Puck.)

PUCK - Capitão do nosso bando de duendes, já vem andando para cá Helena bela e o jovem da tal querela por mim causada, também. Ora dizei se convém prosseguir na brincadeira, porque a tenhamos
inteira. Oh mestre! Como são loucos os mortais! De senso há poucos.

OBERON - Retira-te; ao vir o par vai Demétrio despertar.

PUCK - Dois namorados para uma só mulher! Não há nenhuma brincadeira que me agrade, como ciúme de verdade.
(Entram Helena e Lisandro.)

LISANDRO - Por que dizes que tudo é só ironia? Se assim fosse, tão fundo eu não chorara. No meu pranto comprova-se a magia que exerce em mim tua figura rara. Como haveria em meu amor suspeita, se minha fé se encontra a ti sujeita?

HELENA - Vossa ousadia aumenta; é uma querela santa e infernal matar o amor com juras. Vossa fé é só de Hérmia; abris mão dela? Vossas juras são falsas e inseguras. Como conto falaz é o juramento que a ela e a mim fazeis num só momento.

LISANDRO - Ao lhe jurar amor, não tinha eu senso.

HELENA - E ao deixarde-la, menos; é o que eu penso.

LISANDRO - Demétrio a Hérmia idolatra e vos detesta.

DEMÉTRIO (despertando) - O Helena, deusa, ninfa sublimada, que há de mais fascinante que a alvorada desses olhos tão lindos? Tosco e baço é o cristal junto deles; um pedaço de cereja esses lábios tentadores que a toda hora me falam só de amores. A neve virginal do Tauro altivo, sempre apagada pelo vento estivo, em corvo se transforma, horrente e feio, quando agitas a mão, num galanteio. Oh! Vou beijar a sede da ventura, essa princesa feita de luz pura!

HELENA - Oh dor! Vejo que estais de acordo, acinte, para de mim zombar com tal requinte. Se em vós houvesse sombra de respeito, jamais me ofenderíeis desse jeito. Odiar-me não vos basta; a zombaria nesta farsa a vosso ódio se associa. Se fôsseis homens, como a forma o mostra, não daríeis de vós tão triste mostra, zombando assim de mim, com tantas juras, porque me causem tão-somente agruras. Sois rivais, porque tendes amor a Hérmia, e ainda rivais para zombar de Helena. Oh feito altivo! Oh sublimada empresa! Fazer chorar quem se acha ora indefesa. Cavalheiro nenhum ofenderia uma virgem qualquer, nem tiraria a paciência dela, por folia.

LISANDRO - Demétrio, sois cruel; tenho certeza de que a Hérmia amais. Usemos de franqueza: de todo o coração te cedo a parte que eu ter pudesse em seu amor; desta arte me cedereis também vosso quinhão do amor de Helena, a quem estendo a mão-

HELENA - Jamais se ouviu tão vã declaração.

DEMÉTRIO - Lisandro, não me causas alegria; de Hérmia saber não quero. Se algum dia lhe tive amor, está tudo acabado. Tal amor foi um simples convidado que em seu peito morou, mas que, ao presente, para Helena retorna alegremente.

LISANDRO - Não creias nisso, Helena.

DEMÉTRIO - Não permito que menoscabes o meu peito aflito. Se insistes, provarás a minha espada. Mas eis que vem chegando a tua amada.
(Entra Hérmia.)

HÉRMIA - A noite que da vista tira tudo deixa o ouvido dez vezes mais agudo. Quanto parece a vista ter perdido, em agudeza ganha o outro sentido. Bom Lisandro, não foste ora encontrado com o auxílio da vista. Se ao teu lado me vejo, é que tua voz estremecida de guia me serviu nesta corrida. Por que me abandonaste tão sozinha?

LISANDRO - Para ir ver meu amor, minha rainha.

HÉRMIA - Que rainha ou amor de mim te aliena?

LISANDRO - A amada de Lisandro, a bela Helena, que ao teu lado ficar não me deixava e que brilha, com sua coma flava, por tudo iluminando a noite escura mais do que esses luzeiros de luz pura. Por que me buscas? Pois não viste ainda que por ti sinto antipatia infinda?

HÉRMIA - Não dizes o que pensas; é impossível.

HELENA - Hérmia está ao lado deles; será crível? Vejo que os três estão, de igual maneira, mancomunados nesta brincadeira, para rirem de mim. Ó ingrata Hérmia, jovem maldosa, de comum
acordo vos pusestes com estes dois mancebos. para tamanho escárnio me atirardes? As confidências que fazer soíamos, nossos votos de irmã, tantos momentos de conversa amigável, quando o tempo de passadas velozes nós culpávamos por nos vir separar: tudo esquecestes? A amizade dos bancos escolares? A inocência da infância? Hérmia, nós duas como deusas prendadas, muitas vezes a mesma flor tecemos com agulhas, de um modelo valendo-nos, sentadas numa almofada só, cantarolando sempre
no mesmo tom iguais cantigas, como se corpos, mãos, almas e vozes em comum nós tivéssemos. Desta arte crescemos juntas, aparentemente separadas, mas, ainda assim, unidas; dois frutos amorosos num só talo, um coração apenas em dois corpos ao parecer, tal como dois escudos encimados por uma crista
apenas. Quereis romper uma amizade dessas, para ao lado vos pordes desses moços que escarnecem de vossa pobre amiga? Não é procedimento de amizade, nem é conduta feminil, tampouco. Por mim, todo o meu sexo te condena, muito embora eu, somente, a injúria sinta.

HÉRMIA - De espanto me enche esse discurso insólito. De vós não zombo; o que suponho certo, é que alvo sou de vossa zombaria.

HELENA - Instigado por vós não foi Lisandro a me seguir e me fazer encômios por pura zombaria, enaltecendo-me os olhos e a figura? Não fizestes que este outro vosso admirador, Demétrio - que, até há pouco, com o pé me repelia - me chamasse de ninfa, deusa, rara, preciosa, celestial, irresistível? Por que fala desta arte a quem detesta? Por que razão Lisandro ora se mostra perjuro ao vosso amor que a alma lhe adorna, e afeição me protesta formalmente, se instigado por vós não se encontrasse? Por ser
destituída dos encantos que vos são próprios e não ter nenhuma sorte no amor, amando como o faço, sem ser correspondida? Isso piedade despertar deveria, não desprezo.

HÉRMIA - De vossa fala o nexo não percebo.

HELENA - Continuai a fingir olhares tristes e, quando eu me virar, fazei caretas; um para o outro piscai; levai avante vossa pilhéria fina; a brincadeira bem planejada vai passar à história. Se de moral, piedade, ou sentimento fosseis dotados, não me escolheríeis para objeto de vosso passatempo. Mas passai bem; em parte é minha a culpa; a ausência ou a morte ensejará o remédio.

LISANDRO - Não vás, gentil Helena; ouve-me os votos, amor, vida, minha alma, Helena linda!

HELENA - Admirável!

HÉRMIA - Meu bem, não troces dela.

DEMÉTRIO - Se com seus rogos Hérmia o não convence a força empregarei.

LISANDRO - Tuas ameaças me obrigam tanto quanto o seu pedido. Amo-te, Helena. Sim, por minha vida, por esta vida que por ti arrisco, juro provar que falsidade afirma quem se atreva a dizer que eu não te adoro.

DEMÊTRIO - Maior que o dele é o meu amor. afirmo-o.

LISANDRO - Então vinde comigo.

DEMÊTRIO - Neste instante.

HÉRMIA - A que tende, Lisandro, a brincadeira?

LISANDRO - Para trás, negra etíope!

DEMÉTRIO - Ele finge que está furioso mas, realmente, abstém-se de me seguir. Homem pacato,vamos!

LISANDRO (a Hérmia) - Gata, vai te enforcar! Bardana! Monstro! Se não, serás tratada como víbora.

HÉRMIA - Por que tão rude assim ficais de súbito? Qual a causa, meu bem, dessa mudança?

LISANDRO - Teu bem, Tártara escura? Para trás, vomitório! Veneno odioso, fora!

HÉRMIA - Estais brincando?

HELENA - Sim, e vós com ele.

LISANDRO - Demétrio, manterei minha palavra.

DEMÉTRIO - Quisera ter a obrigação escrita por vossa própria mão, pois estou vendo que obrigação mui fraca ora vos prende. Vossa palavra para mim não vale.

LISANDRO - Como! Devo bater-lhe? Assassiná-la? Embora a odeie, mal não lhe desejo.

HÉRMIA - Como! É possível maior mal do que isso de me odiardes assim? Ódio votardes-me? Por quê? Por quê? Oh Deus! Amor, que houve? Hérmia não sou e vós não sois Lisandro? Sou tão formosa agora quanto era antes. Amáveis-me esta noite, e nesta mesma noite me rejeitais. Serei forçada, pois, a pensar - oh! Deus tal não permita! - que de caso pensado me deixastes. Dizei: é isso?

LISANDRO - Sim, por minha vida, e não te quero ver nunca jamais. Perde, pois, a esperança; não te iludas, não me faças perguntas sem sentido. Não é pilhéria, podes estar certa; nada há mais verdadeiro; tenho-te ódio e apaixonadamente a Helena adoro.

HÉRMIA - Ai de mim! Feiticeira! Vil gusano, ladra de amor! Durante a noite viestes para roubar o coração do peito do meu amado?

HELENA - Fina, realmente! Pudor não tendes virginal, modéstia, resquício de vergonha? Será crível?
Quereis forçar-me a gentil boca a dar-vos respostas impacientes? Oh! Que opróbrio! Fora, boneca falsa!

HÉRMIA - É assim: boneca! Esclarece-se agora a brincadeira. Começo a perceber que ela o confronto fez de nossas alturas, insistindo no seu porte mais alto, na aparência mais elevada, em sua alta compostura, e desse modo pode seduzi-lo. Subistes tanto em sua estima, apenas por eu ser anãzinha e diminuta? Qual é minha estatura? Vamos, fala, varapau rebocado. Sou pequena, não é verdade? Mas não tanto, ainda, que com as unhas os olhos não te alcance.

HELENA - Senhores, muito embora estejais todos de mim fazendo troça, por obséquio não consintais que mal ela me cause. Nunca fui má, nem queda jamais tive para essas discussões; mulher me sinto até mesmo na minha covardia. Não deixeis que me bata, pois decerto não pensais que por ela ser mais baixa do que eu, serei capaz de dominá-la.

HÉRMIA - Baixa, baixa outra vez.

HELENA - Hérmia bondosa, não vos mostreis zangada assim comigo. Sempre vos tive amor; ofensa alguma jamais vos fiz e sempre fui discreta com relação a vossas confidências. Sim, por amor, apenas, de Demétrio, lhe revelei que havíeis combinado fugir para este bosque; ele seguiu-vos; eu o segui, também, por amor dele, mas fui por ele repelida, sobre me ver ameaçada de pancada e até mesmo de morte. Mas agora, se deixardes que em paz eu me retire, não mais vos seguirei; torno com a minha loucura para
Atenas. Sim, deixai-me; bem vedes como eu sou simples e dócil.

HÉRMIA - Voltai logo; quem é que vos retém?

HELENA - O louco coração que atrás eu deixo.

HÉRMIA - Com Lisandro, não é?

HELENA - Não, com Demétrio.

LISANDRO - Não tenhas medo, Helena; nenhum dano ela te causará.

DEMÉTRIO - De nenhum modo, senhor, ainda mesmo que do lado dela vos coloqueis.

HELENA - Quando zangada, sarcástica ela fica e arrebatada. Verdadeira raposa era na escola; apesar de pequena, é perigosa.

HÉRMIA - "Pequena", sempre; é só "pequena" e "baixa". Permitis que me insulte desse modo?
Deixai-me segurá-la um só momento.

LISANDRO - Para trás, anãzinha! Dedo mínimo, ser composto de grama retardante, semente, conta de rosário, fora!

DEMÉTRIO - Insistis por demais junto a uma dama que não desce a aceitar-vos os serviços. Deixai-a só; não mais faleis de Helena, nem tomeis seu partido, pois se a mínima demonstração de amor lhe revelardes, pagareis caro.

LISANDRO - Ela já não me prende. Se tens coragem, segue-me; vejamos qual de nós dois a Helena tem direito.

DEMÉTRIO - Seguir-te? Não! Irei junto contigo, rosto com rosto.
(Saem Lisandro e Demétrio.)

HÉRMIA - Vós, senhora, a causa sois dessa briga; não convém sairdes.

HELENA - Em vós eu não confio; não me agrada ficar em companhia amaldiçoada. Se dessas mãos me podem vir feridas, para correr tenho eu pernas compridas.
(Sai.)

HÉRMIA - Não sei o que pensar dessas mexidas.
(Sai.)

OBERON - Tudo provém de tua negligência. Sempre te enganas, caso não se trate de alguma brincadeira voluntária.

PUCK - Ó rei das sombras, podeis crer-me: houve erro. Não disseste que fácil me seria reconhecer o moço, pelas vestes de modelo ateniense? Não mereço censura desta vez, pois encantado deixei de Atenas jovem namorado. Mas alegra-me ver tudo assim torto, que para mim não há melhor desporto.

OBERON - Viste que os dois rivais foram em busca de uma clareira para duelo. Embrusca depressa a noite, bom Robim; defronte deles espalha as trevas do Aqueronte; aparta um do outro os moços
namorados e os faze andar por diferentes lados. Imita de Lisandro a voz aguda, porque mais a Demétrio o ódio sacuda; ou de Demétrio finge a voz, de modo que não se encontrem nunca e, sobremodo cansados, possa o sono, irmão da morte, surpreendê-los com seu pesado porte, infundindo-lhes plácido sossego com suas tenras asas de morcego. Depois, nos olhos de Lisandro espreme desta outra plantazinha o suco estreme, que apresenta a virtuosa propriedade de lhes restituir a claridade, da ilusão lhes deixando
inteiramente liberta a vista, o coração e a mente. Despertos, pensarão que esta balbúrdia tivesse sido, tão-somente, estúrdia visão, talvez um simples sonho, apenas. Voltarão, desse modo, para Atenas os dois casais de fidos namorados, em laços sempiternos amarrados. Enquanto isso fizeres com carinho, pedirei a Titânia o pajenzinho, da vista logo lhe tirando o encanto que a faz de um monstro apaixonar-se tanto.

PUCK - Meu rei dos duendes, isso vai ser, feito com toda a pressa, como o pede o pleito, que os velozes dragões da noite escura não cessam de apartar com a viatura aquelas nuvens negras. Não demora, vai nos surgir o anunciar da aurora, ante o qual os espíritos nefandos procuram logo o cemitério, aos bandos; os espectros de quantos pelas ondas, ou nas encruzilhadas, as hediondas sepulturas tiveram, para os leitos de vermes já se foram, com trejeitos; de medo de mostrar suas vergonhas, escondem da luz clara as carantonhas, ocultando de grado o aspecto impuro na negra noite de sobrolho escuro.

OBERON - Nossa essência, porém, é diferente. Com o amante da Aurora, no nascente rubicundo costumo divertir-me; às vezes, como caçador, a firme terra me apraz cortar, até que a rubra porta ecoa a
Netuno nos descubra, com amarelo de ouro colorindo a verde superfície do mar lindo. Mas apressa-te; a mágica abrevia; urge fazer tudo isso antes do dia.
(Sai Oberon.)

PUCK - Com toda a velocidade vou trazê-los. Nenhum há de me escapar. Minha vontade nas choupanas, na cidade, por tudo tem validade. Trazê-los vou, sem maldade, com toda a velocidade. Lá vem um.
(Entra Lisandro.)

LISANDRO - Tua fúria, Demétrio, deu em nada?

PUCK - Aqui, vilão! Arranca logo a espada!

LISANDRO - Já vou! Já vou!

PUCK - Então, para a clareira me acompanha.
(Sai Lisandro, na direção da voz.)
(Volta Demétrio.)

DEMÉTRIO - Lisandro, essa carreira de veloz gamo impede que eu conheça em que buraco escondes a cabeça.

PUCK - Covarde, com as estrelas é tua briga? Ou com as árvores? Mandas que te siga, e te escondes de mim? Bonito duelo! Vem, menino; uma vara de marmelo tenho aqui, pois vergonha fora, imensa, com ferro te punir por esta ofensa.

DEMÉTRIO - Já vais ver. Onde estás?

PUCK - É muito fácil seguir-me a voz tua figura grácil.
(Saem.)
(Volta Lisandro.)

LISANDRO - Sempre me vai à frente em meu caminho; mas, ao querer pegá-lo, estou sozinho. Corro a valer, mas ele é mais veloz; só tem forças nas pernas e na voz. Exausto estou de tanta correria.
Vou descansar. (Deita-se.) Vem, abençoado dia! Se eu vir de novo a tua luz risonha, me pagará Demétrio esta vergonha.
(Dorme.)
(Voltam Puck e Demétrio.)

PUCK - Olá, covarde! Em que lugar te escondes?

DEMÉTRIO - para, se tens coragem. Não respondes? Por tudo corres, a mudar de posto, sem que jamais eu possa ver-te o rosto. Onde estás?

PUCK - Aqui mesmo; não me fujas.

DEMÉTRIO - Vamos brigar no claro; só corujas podem ver em tamanha escuridão. Se eu te pegar de dia... A lassidão me constrange a medir a compostura em qualquer parte...nesta pedra dura.
(Deita-se e dorme.)
(Volta Helena.)

HELENA - Ó noite tediosa e cansativa, passa depressa! Vem, radiante aurora! porque a Atenas eu possa chegar viva, livre de quem minha alma em vão implora. Sono, que esquecer fazes a agonia, liberta-me da minha companhia.
(Deita-se e dorme.)

PUCK - Somente três? Falta gente porque o outro par descontente fique completo. Coitada! Como vem triste e cansada, por Cupido transtornada!
(Volta Hérmia.)

HÉRMIA - Jamais tal dor senti, tanto cansaço; toda molhada estou, dilacerada; não me é possível dar mais um só passo; os pés não me obedecem quase nada. Aqui esperarei o dia belo;Deus proteja a
Lisandro nesse duelo.
(Deita-se e dorme.)

PUCK - No solo duro dorme; conjuro de grande efeito transforme o peito também deste namorado.
(Deita o suco da planta nos olhos de Lisandro.)
Quando acordares com novos ares, fiques rendido do peito fido de que já foste afeiçoado. Cada mulher com um varão, proclama velho rifão com muita boa intenção. Com prosa lhana João pega Joana. Quem boa potranca tem, acha que tudo está bem.
(Sai.)

Entendendo o texto

01. Quem é o primeiro personagem a aparecer na Cena II do Ato III?
      a) Oberon
      b) Puck
      c) Demétrio
      d) Titânia
02. Qual foi a brincadeira feita por Puck com um dos artesãos?
      a) Transformou-o em burro.
      b) Colocou-o para dormir.
      c) Fez com que ele se apaixonasse por Titânia.
      d) Tirou a voz dele.
03. Por que Titânia se apaixona por um monstro?
      a) Foi uma maldição de Oberon.
      b) Por causa do feitiço da flor mágica.
      c) Ela estava sonhando.
      d) Foi enganada por Puck.
04. Que erro Puck comete ao usar o suco da flor mágica?
     a) Aplica o suco em Lisandro em vez de Demétrio.
     b) Aplica o suco na pessoa errada e cria mais confusões.
     c) Não usa a flor mágica corretamente.
     d) Faz com que Oberon perca a paciência.

05. Qual é o sentimento predominante de Hérmia quando descobre que Lisandro a rejeita?
      a) Raiva.
      b) Tristeza e incredulidade.
      c) Desprezo por Helena.
      d) Confusão.

06. Como Helena interpreta o comportamento de Lisandro e Demétrio ao se declararem para ela?
     a) Ela acredita que é uma piada cruel contra ela.
     b) Ela pensa que eles estão apaixonados por ela de verdade.
     c) Ela acredita que ambos estão enfeitiçados.
     d) Ela desconfia de Hérmia.

07. O que Oberon ordena a Puck fazer para consertar a confusão?
     a) Trazer Helena até eles.
     b) Fazer Lisandro voltar a amar Hérmia.
     c) Usar o feitiço no momento certo.
     d) Transformar Demétrio em outro animal.
08. O que causa o conflito entre Hérmia e Helena?
    a) O ciúme e a desconfiança de Hérmia.
    b) A acusação de Helena de que Hérmia ajudou na zombaria.
    c) As declarações de amor feitas por Lisandro e Demétrio a Helena.
    d) A traição de Demétrio.
09. Qual é a principal emoção demonstrada por Helena durante a cena?
    a) Gratidão.
    b) Indignação e tristeza.
    c) Alegria.
    d) Raiva por Hérmia.
10. No final da Cena II do Ato III, o que Oberon pretende fazer para resolver a situação?
    a) Fazer com que Demétrio ame Helena de verdade.
    b) Separar Lisandro de Helena imediatamente.
    c) Reverter o feitiço em Lisandro.
    d) Acalmar todos os personagens para evitar mais conflitos.

 

domingo, 31 de dezembro de 2023

PEÇA DRAMÁTICA: O FANTÁSTICO MISTÉRIO DE FEIURINHA - COM GABARITO

 Peça dramática: O Fantástico Mistério de Feiurinha

Peça teatral em um ato

Personagens:

Escritor

Caio, o Lacaio

Dona Branca Encantado

Dona Cinderela Encantado

Dona Rapunzel Encantado

Dona Bela Adormecida Encantado

Dona Bela-Fera Encantado

Senhorita Chapeuzinho Vermelho

Jerusa

Feiurinha

Príncipe

Ruim

Malvada

Piorainda

Belezinha

Pai da Feiurinha

Mãe da Feiurinha

Bode Encantado (pode ser uma marionete)

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHl1AarIfVpy71Acv9Ad2D3LzGS3GcJqCyZoBikKMciXIU_x92jAVIVA1qNU7qic6pNFOsrdifKLRo2Z22waxnwhVMW0L80gCtYvY7xW6RT0lEn71xuOOTQ_UCeZgwb3DuZf4gX04XiaqW1WERtp0rUYZOXUxP32zK5rfPg2QUpQ8iQINgXDGmNCarffE/s320/feiurinha04.jpg

Cenários:

        São quatro ambientes. Os três primeiros vão alternar-se no centro do palco e o quarto (a sala de trabalho do Escritor) estará o tempo todo à esquerda do proscênio

        1º cenário: O salão do castelo da Dona Branca Encantado, que deve sugerir o luxo de histórias de fadas. Cadeiras de espaldar alto, forradas de vermelho e pintadas de dourado, um canapé do mesmo jeito, cortinas de veludo vermelho, um grande espelho com moldura exagerada e a esquadria de uma imponente porta de entrada do salão protegida por batedeiras pretas. Ao fundo, rotunda preta. O ambiente aristocrático e de luxo pode ser sugerido por uma grande janela, com vitrais coloridos, por onde passa luz, projetando as cores por todo o cenário.  Ao lado da cadeira principal, que será ocupada pela Dona Branca Encantado, desce do alto um vistoso puxador de campainha, com o qual ela chamará Caio, o Lacaio.

        2° cenário: A humilde casa dos pais de Feiurinha.

        3° cenário: O interior da pavorosa casa das bruxas.

        4° cenário: A sala de trabalho do Escritor, que deverá permanecer durante toda a peça. Uma estante cheia de livros, uma mesa com uma máquina de escrever, atulhada de papéis em desordem, a cadeira de trabalho do Escritor e uma pequena poltrona de visita na frente da mesa. [...]

        Piorainda: Aqui está, querida Feiurinha!

        Malvada: Este é o nosso presente de casamento!

        Ruim: Quem vestir esta pele de urso será linda para sempre e feliz para toda a eternidade!

        Feiurinha: Obrigada! Vocês são tão bondosas... Não precisavam se incomodar!

        Piorainda: Incômodo nenhum, queridinha... É nossa obrigação...

        Belezinha: Vamos, vista!

        De costas para a plateia, Feiurinha veste a pele de urso. Abaixa a cabeça, vestindo a cabeleira, o chapéu e a máscara de bruxa. Efeito de explosão de gelo-seco, fumaça e tudo o mais. Feiurinha volta-se para a plateia transformada em bruxa.

        Feiurinha: Socorro! O que aconteceu comigo?

        As quatro bruxas pulam de alegria e dançam felizes em volta da nova companheira.

        Belezinha: Ah, ah, ah! Agora você é uma de nós!

        Ruim: Esta pele de urso é o feitiço mais poderoso da Terra!

        Malvada: Torna velha uma mulher jovem...  

        Piorainda: ... e feia se ela for linda!

        Feiurinha: Não! Não!

        Belezinha: Pensou que podia fugir da gente? Ah, ah! Pois fuja agora!

        Ruim:  E não adianta tentar tirar a pele de urso!  É um feitiço poderosíssimo que só pode ser desatado por uma certa espada de prata!

        Piorainda: Ui, como nós somos terríveis!

        Malvada: Onde estão seus dentes brancos, Feiurinha?

        Piorainda: Cadê seus cabelos de seda?

        Belezinha: E seus olhos de água?

        Feiurinha: Não! Não!

        Ruim: Agora você já tem verrugas! Ah, ah!

        Malvada: Não está contente, Feiurinha? Vamos, dance com a gente!

        Belezinha: Agora somos cinco! Ah, ah, ah!  

        Piorainda: Ui, como nós somos terríveis!

        Feiurinha cai de joelhos e esconde o rosto nas mãos.

        Feiurinha: Não! Oh, não!

        Belezinha: Feiurinha! Agora você é a bruxa Feiurinha!

        Ruim: Para sempre!

        Malvada: Para sempre!

        Piorainda: Ui, como nós somos terríveis!

        Ouvem-se galopes de cavalos.  Todas param de fazer barulho.  Feiurinha ergue a cabeça. Ouvem-se clarins e entra o Príncipe, ricamente vestido e de espada na cinta.

        Todas: O Príncipe Encantado!

        Príncipe: Suas bruxas malvadas! Onde está a Feiurinha?

        Feiurinha: (Correndo para ele:) Sou eu, meu amor!  Essas malvadas me transformaram em bruxa! Salve-me!

        Belezinha:  Não acredite nela, meu querido!  Feiurinha sou eu!  Eu é que fui enfeitiçada!

        Malvada: (Agarrando-se às vestes do Príncipe:) Não!  Sou eu a Feiurinha! Não acredite em mentiras! Case comigo!

        Ruim:  Todas elas mentem, meu Príncipe!  Eu sou a Feiurinha!  Você tem de casar comigo!

        Piorainda:  Feiurinha sou eu!  Sou eu!  Fui enfeitiçada para enganá-lo!  Case comigo! Você prometeu!

        Príncipe: (Desembainhando a espada de prata:) Suas ruindades!  O que fizeram com a minha amada?  Só uma de vocês está falando a verdade.  Todas as outras mentem. Quando eu descobrir quem são, juro que vou cortar a cabeça de todas com esta espada!

        Piorainda: Isso mesmo! Case-se comigo e mate as outras!

        Belezinha: Não! Comigo! As outras devem morrer!

        Malvada: É comigo que ele vai casar! Morte às outras!  

        Ruim: Comigo! Que morram as outras!

        Feiurinha: (Ajoelhando-se e abraçando-se às pernas do Príncipe:) Não, meu amor, não faça isso!  Elas são malvadas, mas me criaram desde pequenininha.  Me judiaram e me fizeram trabalhar demais, mas eu não quero mal a elas. Pelo meu amor, poupe a vida delas!

        Príncipe: (Pegando Feiurinha pelos ombros e levantando-a:) Meu amor! Só você pode ser a Feiurinha! Só uma menina maravilhosa como a Feiurinha poderia ser tão generosa! O que essas malvadas fizeram com você?

        Feiurinha:  Elas me fizeram vestir esta pele de urso.  É um feitiço que me transformou em bruxa. Só pode ser desatado por uma certa espada de prata...

        Príncipe: Então, que essa espada de prata seja a minha espada!

        O Príncipe saca a espada e corta os cordões que atam a pele de urso. Explosão de gelo-seco. Cai a pele e surge Feiurinha. [...]

Pedro Bandeira. O fantástico mistério de Feiurinha: teatro. São Paulo: FTD, 2001. Fragmento.

Fonte: Coleção Desafio Língua Portuguesa – 5° ano – Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Roberta Vaiano – 1ª edição – São Paulo, 2021 – Moderna – p. MP209-215.

Entendendo a peça dramática:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Proscênio: palco.

·        Espaldar: o encosto da cadeira.

·        Canapé: um tipo de sofá.

·        Rotunda: pano de fundo.

·        Aristocrático: relacionado à nobreza.

·        Clarins: instrumentos musicais d sopro, trombetas.

02 – Faça a leitura dos trechos abaixo:

        Trecho original:

        “Belezinha: Feiurinha! Agora você é a bruxa Feiurinha!

        Ruim: Para sempre!”

        Trecho modificado:

        Belezinha: Feiurinha? Agora você é a bruxa Feiurinha?

        Ruim: Para sempre?

a)   A forma de ler cada trecho foi a mesma? Explique.

A forma de ler cada trecho não foi a mesma, pois a pontuação é diferente e interfere na entonação da leitura.

b)   Os trechos tem o mesmo sentido?

Os trechos não tem o mesmo sentido. No trecho original, as personagens estão fazendo exclamações e, no trecho modificado, elas estão fazendo perguntas.

03 – Leia as palavras a seguir.

Proscênio – rotunda – esquadria – ruindades – aristocrático – atulhada – clarins – explosão – enfeitiçada – poderosíssimo.

a)   Em quais palavras você precisa aprimorar a leitura?

Resposta pessoal do aluno.

b)   Treine a leitura das palavras, até ler todas corretamente e sem pausas.

Resposta pessoal do aluno.

c)   Das palavras do quadro, quais você teria mais dificuldade para escrever? Justifique.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: espaldar com u no lugar do l; rotunda com m no lugar do n; poderosíssimo com z no lugar s.

d)   Para um estudante que está aprendendo a escrever, na sua opinião, qual dificuldade encontraria ao escrever as palavras proscênio e explosão?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Em proscênio usaria s no lugar de sc; explosão usaria x no lugar do s.

04 – Após ler o texto dramático, responda:

a)   Quem era as vilãs da história?

Ruim, Malvada, Piorainda e Belezinha.

b)   Quem foi o herói da história?

O Príncipe.

c)   As personagens Feiurinha e Belezinha tinham esses nomes por causa de sua aparência física? Explique.

Não. O nome das personagens reflete o oposto de sua aparência física, pois Feiurinha é uma jovem bonita e Belezinha é uma bruxa feia.

d)   Como o Príncipe descobriu qual das bruxas era Feiurinha?

O Príncipe ameaçou matar quem tinha enfeitiçado Feiurinha, e a verdadeira Feiurinha que era generosa, pediu a ele que poupasse a vida das bruxas.

05 – Releia o trecho:

        “Feiurinha: Socorro! O que aconteceu comigo?

        As quatro bruxas pulam de alegria e dançam felizes em volta da nova companheira.

        Belezinha: Ah, ah, ah! Agora você é uma de nós!

        Ruim: Esta pele de urso é o feitiço mais poderoso da Terra!

        Malvada: Torna velha uma mulher jovem...  

        Piorainda: ... e feia se ela for linda!”.

a)   O que a pele de urso causou em Feiurinha?

Transformou a personagem em uma bruxa feia.

b)   O trecho mostra a fala de quais personagens?

Feiurinha, Belezinha, Ruim, Malvada e Piorainda.

c)   Sublinhe no trecho a rubrica que indica a ação das personagens.

As quatro bruxas pulam de alegria e dançam felizes em volta da nova companheira.

06 – Releia as rubricas abaixo.

(C) “1° cenário: O salão do castelo da Dona Branca Encantado, que deve sugerir o luxo de histórias de fadas.”

(A) “[...] Feiurinha veste a pele de urso.”

(B) “(Ajoelhando-se e abraçando-se às pernas do Príncipe:)”

(D) “Ouvem-se galopes de cavalos.”

* Agora, relacione as funções abaixo às rubricas que você leu.

(A) Indicar o figurino da personagem.

(B) Indicar o movimento da personagem na cena.

(C) Indicar como deve ser o cenário.

(D) Indicar o efeito sonoro presente na cena.

07 – Releia o trecho da peça dramática.

        “Príncipe: (Pegando Feiurinha pelos ombros e levantando-a:) Meu amor! Só você pode ser a Feiurinha! Só uma menina maravilhosa como a Feiurinha poderia ser tão generosa! O que essas malvadas fizeram com você?

        Feiurinha:  Elas me fizeram vestir esta pele de urso.  É um feitiço que me transformou em bruxa. Só pode ser desatado por uma certa espada de prata...”.

a)   Copie do trecho a rubrica presente nele.

(Pegando Feiurinha pelos ombros e levantando-a:)

b)   O que essa rubrica índica?

Indica a ação do Príncipe na cena: ele pega Feiurinha pelos ombros e levanta-a.

c)   Qual é a função dos pontos de exclamação na fala do Príncipe?

Expressam os sentimentos de surpresa, alegria ou admiração.

d)   Qual é o tema central deste trecho?

O feitiço que transformou Feiurinha.

08 – No trecho dessa peça, as falas das personagens são de que tipo?

(X) Diálogo.

(  ) Monólogo.

(  ) Aparte.

09 – Releia as informações sobre o cenário no início do texto dramático.

a)   Em qual dos cenários é mais provável que tenha ocorrido o trecho que você leu da peça teatral?

(  ) no 1° cenário, o salão do castelo da Dona Branca Encantado.

(  ) No 2° cenário, a pobre casa dos pais de Feiurinha.

(X) No 3° cenário, a horrível casa das bruxas.

(  ) No 4° cenário, a sala onde trabalha o Escritor.

b)   Qual dos cenários permanece o tempo todo no palco?

O quarto cenário, a sala de trabalho do Escritor.

c)   É correto afirmar que essa peça teatral tem apenas um ato? Por quê?

Não, pois a peça possui quatro cenários, e cada vez que a história se desenvolve em um cenário diferente constitui-se um novo ato.