Pecados Mortais da Dissertação
Vestibulares e concursos – Aplica-se este item à dissertação exigida nos vestibulares e concursos, cuja composição é feita de forma manuscrita.
Decifrando
a escrita – Não se consegue valorizar ou admirar o que é
incompreensível. O professor encarregado da avaliação tem tempo estipulado para
concluir o trabalho de correção. Não pode, pois, perder tempo tentando
adivinhar (às vezes decifrar) o que o candidato escreveu. Não se exige do
redator letra bonita; exige-se letra legível, de fácil compreensão.
Solução –
Depois de uma certa idade, é quase impossível mudar totalmente o aspecto
da caligrafia. Mas é possível melhorá-la, atentando no formato de algumas
letras. Às vezes, a leitura torna-se difícil por causa do m, do n e
do u que se confundem no papel. Outras vezes, o l e o t são
grafados de tal forma (ou tamanho) que atrapalham a compreensão das palavras
contidas nas linhas superiores ou inferiores. Uma vez identificado o problema,
deve-se escrever com mais apuro, principalmente quando se produz texto para ser
avaliado por alguém.
PECADO
2– Fuga do assunto
Falha
grave – É, com certeza, o pior deslize numa dissertação.
Se o trabalho vale nota, a fuga do tema conduz ao zero por falta de adequação
entre o texto ou título proposto e as ideias expostas pelo candidato. Escrever
fugindo do assunto sugere:
a) Falta de planejamento
sobre o que se está produzindo.
b) Pouca capacidade de
concentração.
c) Incapacidade de
delimitação do assunto.
d) Desvio intencional para
tópicos decorados previamente.
Fuga
parcial – Às vezes, os rodeios, a preparação excessiva para
finalmente falar se do tema constituem fugas parciais que, dependendo de quem
está avaliando o trabalho, também conduzem ao zero. O tema “Violência urbana”
pode virar livro nas mãos de escritor habilidoso. O que se quer do aluno é
apenas uma dissertação de, no máximo, trinta e cinco linhas. Falar de Abel e
Caim, da violência praticada em Roma à época dos Césares é fugir do assunto
porque não há espaço (nem tempo) para tantos dados. O melhor caminho é falar da
violência urbana hoje, apontando causas, consequências e, se possível, soluções
para o problema abordado.
Solução –
É preciso organizar-se didaticamente para escrever bem. A elaboração de
rascunho, enumerando tópicos como causas, consequências, soluções, ideias
contra ou a favor ajuda o redator a manter-se fiel ao tema, além
de garantir uma sequência lógica para os parágrafos da dissertação.
PECADO
3– Uso de gírias
Linguagem
formal – No texto narrativo, a gíria é, em certos
momentos, perfeitamente cabível. Às vezes, faz parte dos traços individuais da
personagem. No dissertativo, porém, é um desastre. Isso porque a dissertação
exige uma linguagem formal, não necessariamente erudita, mas pelo menos bem
elaborada. Veja expressões que não têm espaço em dissertações:
1. Esses caras.
2. Maneiro.
3. Saia dessa.
4. Estou noutra.
5. O meganha.
6. O maior barato.
7. Esse papo não cola.
8. Mina.
9. Gente da pesada.
10. Cada um na sua.
11. Pra cima de mim, não.
12. Tudo em cima.
13. Muito legal.
14. Bicho.
15. Não enche.
16. Tudo em riba.
Solução –
O uso de gírias em textos dissertativos só acontece, pela lógica, com os
adolescentes. Pessoas adultas têm um senso de correção (e de ridículo)
mais apurado quando se trata de texto escrito.
PECADO
4 – Provérbios, frases feitas, ditos populares.
As frases feitas, os
provérbios, os ditos que estão na boca de todo mundo empobrecem a redação,
dando a impressão de que o autor não tem criatividade. Veja expressões que você
deve evitar.
a) Primeiro parágrafo
Para iniciar a dissertação
(primeira linha do primeiro parágrafo), NÃO
use:
1. Atualmente...
2. Antigamente...
3. Hoje em dia...
4. Nos dias de hoje...
5. No mundo de hoje...
6. Dando início ao meu
trabalho...
7 Desde os primórdios da
nossa existência...
Observação:
Algumas das expressões acima
podem ser usadas no corpo dos parágrafos sem que isso implique lugar-comum.
b) Último parágrafo
Para iniciar o último
parágrafo da dissertação, não use:
1. Finalizando o meu
trabalho...
2. Concluindo...
3. Resumindo tudo o que eu
disse antes...
4. Em síntese...
5. Em resumo...
c) Em qualquer parte do
texto
De modo geral, não use as
expressões seguintes em texto dissertativo:
1. Como já dizia meu avô...
2. A esperança é a última
que morre...
3. Quem avisa amigo é...
4. Quem espera sempre
alcança...
5. Dar a volta por cima...
6. Agradar a gregos e a
troianos...
7. Colocando um ponto
final...
8. De mão beijada...
9. De vento em popa...
10. Depois de um longo e tenebroso
inverno...
11. Ensaiar os primeiros
passos...
12. Faca de dois gumes...
13. Fazer das tripas
coração...
14. Passar em brancas
nuvens...
15. Pôr a casa em ordem...
16. Procurar chifre em
cabeça de cavalo...
17. Tábua de salvação...
18. Tirar o cavalo da
chuva...
Observação:
Algumas das expressões
listadas podem ser empregadas coerentemente, desde que predomine a
criatividade. Às vezes, os lugares-comuns denotam ironia. Nesse caso, ao invés
de depreciar, valorizam o texto em que se inserem.
PECADO
5 – Incluir-se na dissertação
Indecisão
Dissertar é emitir sua visão
(crítica, de preferência) sobre um assunto proposto. É analisar de modo
impessoal e com total objetividade. Mas o que fazer diante o emprego
do “eu” ou do “nós” em dissertações bem estruturadas. O que acontece, às vezes,
é o uso de tais pronomes sem argumentação que os justifique. Ao invés de
mostrar firmeza e segurança, o aluno passa ao examinador a ideia de indecisão e
de fraqueza.
Expressões
pessoais
Outro aspecto negativo é a
mistura de problemas pessoais ou particulares com a problemática sobre a qual
se está dissertando. Aconselha-se, pois, que o candidato evite o uso das
expressões seguintes. Se forem empregadas, entretanto, de forma adequada, no
momento certo, podem estar coerentes e ser valorizadas pelo examinador.
1. Na minha opinião...
2. No meu entender...
3. Ao meu ver...
4. No meu ponto de vista...
5. Eu vejo por mim mesmo...
6. Como já aconteceu
comigo...
7. Isso é o que eu penso...
8. Conforme a minha visão do
mundo...
9. Eu acho...
10. Eu imagino que...
11. Eu penso que...
12. Eu concluo que...
Solução
Deve-se adotar na
dissertação uma atitude crítica, dizendo verdades universais, aplicáveis a
todos. A questão pessoal soa como depoimento, e dissertar, exige mais que isso:
tem-se de argumentar, sustentando ideias que convençam.
PECADO
6 – Misturar dissertação com religião
Argumentação
A dissertação é baseada
sempre na argumentação cuja base é a lógica. Misturá-la com questões de fé é
inconcebível, pois os dogmas religiosos, os preceitos e as crendices independem
de provas ou de evidências constatáveis.
Veja
algumas construções que denotam fanatismo e exagero por
parte de quem as usa:
1. A solução para a
violência urbana está em Jesus Cristo, nosso salvador.
2. Frequentar a igreja
regularmente e confessar-se uma vez por semana: é o conselho que dou para quem
está passando por conflitos familiares.
3. O conflito pela posse da
terra só acontece no Brasil por falta de leitura da Bíblia. Tanto o Velho
quanto o Novo Testamento trazem ensinamentos que, se aplicados ao campo
brasileiro, resolveriam o problema da Reforma Agrária.
4. Antes de cultura e de
educação, o povo brasileiro precisa mistificar-se, aceitar Jesus como salvador
universal. Aí, sim, todos os problemas de injustiças sociais serão resolvidos.
Em nenhuma hipótese,
crendices ou dogmas devem servir de base para a composição de textos
dissertativos. Os aspectos místicos ou esotéricos não combinam com visão
crítica.
PECADO
7 – Emoções exageradas Emoções pessoais
Às vezes, o tema que se está
explorando na dissertação engloba problemas e/ou situações pelos quais o
escrevente já passou (ou está passando). Nesse caso, devem-se evitar as emoções
pessoais. Elas denotam revolta, e o registro no papel pende para o exagero.
Veja algumas construções que
depreciam o exto dissertativo:
1. Os autores do último
pacote econômico deveriam ser exterminados, um a um, pelo mal que fizeram à
economia do Brasil.
2. Pessoas como essas, que
estupram e matam, devem arder para sempre no fogo do inferno.
3. Morte aos monstros que
assaltam e roubam em nome do progresso...
4. A morte é castigo muito
pequeno para quem estupra e mata...
5. Criminosos assim não
merecem a pena de morte. Merecem uma doença incurável, que provoque o
apodrecimento lento do corpo e da alma...
6. Pessoas assim não devem
morrer. Devem ficar presas para sempre, mesmo depois de mortas, para que suas
almas não cometam crimes por aí.
7. O abuso sexual contra
crianças deve ser punido com a morte. Não a morte pura e simples, por meio de
choque elétrico ou de injeção letal. Os pedófilos devem, antes de morrer,
passar pelo estupro, para que sintam a mesma dor que provocaram em suas
vítimas.
PECADO
8 – Abreviações e números
Caráter
didático
O caráter didático da
dissertação poda inovações e vícios próprios da pressa ou do desleixo. Por
isso, as expressões numéricas devem ser escritas por extenso, e as abreviações
devem ser usadas com cautela, até pelo aspecto da correção gramatical. Poucos
têm segurança no momento de grafar por extenso determinados números e de
abreviar determinadas palavras. Veja exemplos que a norma culta condena:
1. O vestibular é injusto e
ñ (não) mede capacidade de ninguém.
2. É c/ (com) desespero que
notamos o aumento da criminalidade no Brasil.
3. Faz-se necessária uma
reforma profunda no ensino p/ (para) q/ (que) se possa exigir mais do aluno
brasileiro.
4. Nos E.U.A. (Estados
Unidos), o racismo é mais forte que no Brasil.
5. Pesquisas atestam que 90%
(noventa por cento) do povo brasileiro votam sem consciência político-social.
PECADO
9 – Repetições
Vocabulário
escasso
A repetição (quer da ideia,
quer da mesma palavra) causa impressão desagradável a quem lê: sugere pobreza
de vocabulário.
Faz-se mister, nesse caso, o
uso de sinônimos adequados.
Veja construções erradas;
compare-as, a seguir, com o modelo correto.
1. Errado – A
poluição, por sua vez, prejudica qualquer tentativa de desenvolvimento, pois o
desenvolvimento só consegue beneficiar o homem se estiver dissociado da
poluição.
Certo – A poluição, por
sua vez, prejudica qualquer tentativa de desenvolvimento, pois as inovações só
conseguem beneficiar o homem se estiverem dissociadas de qualquer aspecto
maléfico.
2. Errado – A
inflação gera desemprego; para combater a inflação, o governo deve atacar o
déficit público e abaixar as taxas de juros, pois com juros tão elevados, os
ricos é que se beneficiam do fenômeno da inflação.
Certo – A inflação gera
desemprego; para combatê-la, o governo deve atacar o déficit público e abaixar
as taxas de juros, pois é sabido que o fenômeno inflacionário beneficia os
ricos e prejudica os pobres.
PECADO
10 – Inovações na caligrafia
Letra
grande
Numa dissertação de vinte
linhas (tamanho mínimo exigido em concursos e vestibulares), se a letra do
aluno é muito grande, esse mínimo deve ser ampliado para vinte e cinco, trinta
linhas. A razão é óbvia: muitos alunos aumentam a letra para alcançar a
quantidade de linhas exigidas no exame.
Espaços
entre as palavras
Os espaços em branco entre
as palavras constituem recurso muito usado por quem tem dificuldade de
escrever. Porém os professores encarregados da correção conhecem bem esse
artifício. Por isso, se você, naturalmente, escreve assim, tente evitar os
espaços exagerados entre as palavras. Se não for possível, escreva uma
dissertação com bastantes linhas.
Letra
muito pequena
Há alunos com letra tão
reduzida que, dependendo do caso, o professor, mesmo de óculos, não consegue
ler. Pior ainda: o próprio aluno, quando questionado sobre o que escreveu,
também não consegue.
Letra
ilegível
Às vezes, o aluno demonstra
que vai fazer vestibular para Medicina por meio da grafia das palavras: já
exibe letra de médico. Para decifrá-la, só pedindo ajuda ao pessoal que
trabalha em farmácias. Não se trata de letra feia, mas de escrita ilegível. A
sua grafia pode ser feia e legível. Nesse caso, tudo bem.
Dissertação
não é um concurso de caligrafia