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sexta-feira, 15 de outubro de 2021

CONTO: O PÉ DO DIABO(FRAGMENTO) - ARTHUR CONAN DOYLE - COM GABARITO

 CONTO: O pé do diabo

          Arthur Conan Doyle

        [...]

        Foi na primavera de 1897 que a constituição férrea de Holmes mostrou alguns sintomas de esgotamento em face do trabalho árduo e constante de um tipo extremamente opressivo, agravado, talvez, por imprudências ocasionais dele próprio. Em março daquele ano, o Dr. Moore Agar, de Harley Street, cuja dramática apresentação a Holmes posso contar algum dia, ordenou expressamente que o famoso agente particular abandonasse todos os seus casos e se entregasse a um completo repouso se desejasse evitar um colapso total. O estado de sua saúde não era um assunto que despertasse nele próprio o mais leve interesse, pois seu alheamento mental era absoluto, mas finalmente ele foi induzido, sob a ameaça de ficar permanentemente incapacitado para o trabalho, a se proporcionar uma mudança completa de cenário e ares. Foi assim que, no início da primavera daquele ano, encontramo-nos juntos num pequeno chalé perto de Poldhu Bay, na extremidade da península córnica.

        Era um local singular e peculiarmente adequado ao humor soturno de meu paciente. Das janelas de nossa casinha caiada, no alto de um promontório relvado, contemplávamos todo o sinistro semicírculo da Mounts Bay, aquela antiga armadilha mortal para veleiros, com sua orla de penhascos negros e recifes traiçoeiros, em que muitos homens do mar haviam perdido a vida. Sob uma brisa norte, a baía parecia plácida e abrigada, convidando a embarcação sacudida pela tempestade a entrar em busca de descanso e proteção. Começa então o súbito redemoinho do vento, o vendaval furioso do sudoeste, a âncora pesada, a praia ao abrigo do vento e a última batalha nos vagalhões espumantes. O marinheiro sensato permanece longe desse lugar funesto.

        [...] O encanto e o mistério do lugar, com sua atmosfera sinistra de nações esquecidas, falavam à imaginação do meu amigo, e ele passava grande parte de seu tempo na charneca, em longas caminhadas e solitárias meditações [...], quando de repente, para meu pesar e seu genuíno deleite, encontramo-nos, mesmo naquela terra de sonhos e em nossa própria porta, mergulhados em um problema que parecia mais intenso, mais absorvente e infinitamente mais misterioso que qualquer um dos que nos haviam afastado de Londres. Nossa vida simples, nossa rotina pacata e saudável foram violentamente interrompidas e vimo-nos lançados no meio de uma série de eventos que causaram a mais extrema comoção não apenas na Cornualha, mas em todo o oeste da Inglaterra. Muitos de meus leitores talvez guardem alguma lembrança do que foi chamado na época de “o horror córnico”, embora só um relato extremamente imperfeito do assunto tenha chegado à imprensa de Londres. Agora, passados treze anos, darei ao público os verdadeiros detalhes desse caso inconcebível.

        Como eu disse, as torres espalhadas assinalavam as aldeias que pontilhavam essa parte da Cornualha. A mais próxima delas era o pequeno povoado de Tredannick Wartha, onde as cabanas de uns duzentos habitantes se agrupavam em torno de uma igreja antiga, coberta de musgo. O vigário da paróquia, Mr. Roundhay, era uma espécie de arqueólogo e por isso Holmes travara conhecimento com ele. Era um homem de meia-idade, corpulento e afável, com grande conhecimento das tradições e crenças populares do lugar. A seu convite, havíamos tomado chá no presbitério e conhecêramos também Mr. Mortimer Tregennis, um cavalheiro independente que aumentava os parcos recursos do sacerdote alugando aposentos em sua casa ampla e espalhada. O vigário, sendo um solteirão, apreciava muito esse marmanjo, embora tivesse pouco em comum com seu inquilino, um homem magro, moreno e de óculos, tão encurvado que parecia ter uma deformidade física real. Lembro-me de que, durante nossa curta visita, o vigário nos pareceu loquaz, mas seu inquilino mostrou-se estranhamente reticente, um homem tristonho, introspectivo, que mantinha os olhos desviados de nós, aparentemente ruminando seus próprios negócios.

        Estes foram os dois homens que entraram abruptamente em nossa salinha de estar na terça-feira, 16 de março, pouco depois de tomarmos o desjejum, quando fumávamos juntos, preparando-nos para nossa excursão diária pela charneca.

        “Mr. Holmes”, disse o vigário, alvoroçado, “o fato mais extraordinário e trágico aconteceu durante a noite. É uma história das mais inauditas. Só podemos considerar uma Providência especial que o senhor esteja por acaso aqui neste momento, pois é em toda a Inglaterra o único homem de que precisamos.”

        Fuzilei o importuno vigário com os olhos; Holmes, porém, tirou os cachimbos dos lábios e empertigou-se em sua cadeira como um velho cão de caça que ouve as trombetas. Indicou-lhe o sofá com um gesto, e nosso trêmulo visitante e seu agitado companheiro sentaram-se nele, lado a lado. Mr. Mortimer Tregennis estava mais controlado que o clérigo, mas as contrações de suas mãos e o brilho de seus olhos escuros mostravam que os dois partilhavam a mesma emoção.

        “Quem fala, eu ou o senhor?”, perguntou ele ao vigário.

        “Bem, como o senhor parece ter feito a descoberta, seja ela qual for, e o vigário teve conhecimento dela em segunda mão, talvez seja melhor que fale”, disse Holmes.

        Dei uma olhadela no clérigo vestido às pressas, com o inquilino formalmente vestido sentado a seu lado, e diverti-me com a surpresa que a dedução simples de Holmes produziu em seus semblantes.

        “Talvez seja melhor eu dizer algumas palavras primeiro”, disse o vigário, “depois o senhor poderá decidir se ouvirá os detalhes de Mr. Tregennis, ou se não deveríamos ir depressa, imediatamente, para o cenário desse misterioso acontecimento. Posso explicar, então, que nosso amigo aqui passou o serão, ontem à noite, na companhia de seus dois irmãos, Owen e George, e de sua irmã Brenda, em Tredannick Wartha, a casa deles, que fica perto da velha cruz de pedra na charneca. Ele os deixou, pouco depois das dez horas, jogando cartas em volta da mesa de jantar, em excelente saúde e humor. Costuma acordar cedo, e esta manhã caminhou naquela direção antes do desjejum e foi alcançado pela carruagem do Dr. Richards, que lhe explicou que acabara de receber um chamado de extrema urgência de Tredannick Wartha. Ao chegar à casa, ele encontrou um estado de coisas extraordinário. Seus dois irmãos e a irmã estavam sentados em volta da mesa, exatamente como os deixara, as cartas ainda espalhadas diante deles e as velas queimadas até os bocais. A irmã estava reclinada em sua cadeira, morta, enquanto os dois irmãos, sentados um de cada lado dela, riam, gritavam e cantavam, inteiramente fora de si. Todos três, a mulher morta e os dois dementes, conservavam no rosto uma expressão do mais intenso horror – uma convulsão de terror que era horrível de se ver. Não havia sinal da presença de ninguém na casa, exceto Mrs. Porter, a velha cozinheira e governanta, que declarou que havia dormido profundamente e não ouvira nenhum som durante a noite. Nada fora roubado ou desarrumado, e não há absolutamente nenhuma explicação de qual pode ter sido o horror que matou uma mulher de susto e tirou dois homens fortes de seu juízo. Esta, em resumo, é a situação, Mr. Holmes, e se puder nos auxiliar a elucidá-la terá feito um grande trabalho”. [...]

                         DOYLE, Arthur Conan. O pé do diabo. O último adeus de Sherlock Holmes. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 181-4.

Entendendo o texto:

01 – Como você já sabe, quem narra as aventuras de Sherlock Holmes é seu fiel amigo, Watson, também personagem da história. Trata-se, portanto, de um narrador-personagem. Copie em seu caderno o único trecho que não apresenta as marcas textuais que comprovam a existência de um narrador-personagem.

a)   “Foi na primavera de 1897 que a constituição férrea de Holmes mostrou alguns sintomas de esgotamento em face do trabalho árduo e constante de um tipo extremamente opressivo, agravado, talvez, por imprudências ocasionais dele próprio.”

b)   “Foi assim que, no início da primavera daquele ano, encontramo-nos juntos num pequeno chalé perto de Poldhu Bay, na extremidade da península córnica.”

c)   “Era um local singular e peculiarmente adequado ao humor soturno de meu paciente. Das janelas de nossa casinha caiada, no alto de um promontório relvado, contemplávamos todo o sinistro semicírculo da Mounts Bay [...]”.

d)   “Como eu disse, as torres espalhadas assinalavam as aldeias que pontilhavam essa parte da Cornualha.”

02 – Por que Holmes saiu de Londres e se mudou temporariamente para um vilarejo distante?

      Porque começou a mostrar sinais de esgotamento diante do trabalho árduo e constante, e seu médico, o Dr. Moore Agar, recomendou-lhe repouso completo para evitar um colapso.

03 – Releia o trecho a seguir e observe a expressão destacada:

        “[...] O encanto e o mistério do lugar, com sua atmosfera sinistra de nações esquecidas, falavam à imaginação do meu amigo, e ele passava grande parte de seu tempo na charneca, em longas caminhadas e solitárias meditações [...], quando de repente, para meu pesar e seu genuíno deleite, encontramo-nos, mesmo naquela terra de sonhos e em nossa própria porta, mergulhados em um problema que parecia mais intenso, mais absorvente e infinitamente mais misterioso que qualquer um dos que nos haviam afastado de Londres.”

·        Por que Watson ficou aborrecido ao perceber que estavam diante de uma situação tão intrigante?

Watson sabia que Holmes, contrariando as ordens médicas, não resistiria ao desafio de desvendar o mistério.

04 – Explique resumidamente qual é o mistério a ser desvendado nessa narrativa de enigma.

      Desvendar o que pode ter provocado a morte da irmã de Mr. Tregennis e horrorizado tanto seus irmãos a ponto de deixá-los fora de si.

05 – Releia este trecho descritivo do texto:

        “Era um local singular e peculiarmente adequado ao humor soturno de meu paciente. Das janelas de nossa casinha caiada, no alto de um promontório relvado, contemplávamos todo o sinistro semicírculo da Mounts Bay, aquela antiga armadilha mortal para veleiros, com sua orla de penhascos negros e recifes traiçoeiros, em que muitos homens do mar haviam perdido a vida. Sob uma brisa norte, a baía parecia plácida e abrigada, convidando a embarcação sacudida pela tempestade a entrar em busca de descanso e proteção. Começa então o súbito redemoinho do vento, o vendaval furioso do sudoeste, a âncora pesada, a praia ao abrigo do vento e a última batalha nos vagalhões espumantes. O marinheiro sensato permanece longe desse lugar funesto.

·        Em seu caderno, transcreva as palavras ou expressões utilizadas para caracterizar os seguintes elementos destacados no trecho:

A casinha – caiada.

A armadilha – antiga e mortal para veleiros.

A âncora – pesada.

O promontório – relvado.

Os penhascos – negros.

O lugar – funesto.

O semicírculo da baía Mounts Bay – sinistro.

Os recifes – traiçoeiros.

O redemoinho de vento – súbito.

O vendaval – furioso.

06 – A que classe gramatical pertencem as palavras e expressões que você transcreveu?

      À classe dos adjetivos e das locuções adjetivas.

07 – Em sua opinião, qual pode ter sido a intenção do autor ao usar essas palavras e expressões para caracterizar os elementos que compõem a cena?

      Resposta pessoal do aluno. Espera-se que o aluno perceba que a escolha dos adjetivos e das locuções adjetivas contribui para o envolvimento do leitor em um clima de mistério, confirmando o fato de o caso ser “infinitamente misterioso” e, assim, despertando sua curiosidade.

 

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

CONTO: A LIGA DOS CABEÇAS VERMELHAS - ARTHUR CONAN DOYLE - COM GABARITO

 CONTO: A liga dos cabeças vermelhas

         Arthur Conan Doyle

        Um dia de outono do ano passado, ao fazer uma visita a meu amigo Mr. Sherlock Holmes, encontrei-o entretido numa conversa com um cavalheiro de certa idade, muito gordo, rosto vermelho e uma cabeleira cor de fogo. Pedindo desculpas pela intromissão, já me retirava quando Holmes me puxou abruptamente para a sala e fechou a porta atrás de mim.

        — Não poderia ter chegado em melhor hora, meu caro Watson — disse cordialmente.

        — Receei que estivesse ocupado.

        — De fato, estou. E muito.

        — Nesse caso, posso esperar na outra sala.

        — De maneira alguma. Sr. Wilson, este cavalheiro tem sido meu assistente e colaborador em muitos dos meus casos mais bem-sucedidos, não tenho dúvidas de que me será de grande valia também no seu.

        O gordo cavalheiro soergueu-se ligeiramente e fez-me um cumprimento de cabeça, lançando-me uma olhadela inquisitiva com seus olhinhos empapuçados.

        — Acomode-se no canapé — disse-me Holmes, voltando a refestelar-se em sua poltrona e unindo as pontas dos dedos, como era seu costume quando imerso em reflexão. — Sei, meu caro Watson, que você partilha do meu gosto por tudo que é extravagante, que escapa das convenções e da pasmaceira do dia a dia. Mostrou seu gosto por essas coisas com o entusiasmo com que se dispôs a relatar, e, se me permite dizê-lo, a embelezar um pouco, tantas de minhas pequenas aventuras.

        — Seus casos realmente foram do maior interesse para mim.

        — Talvez lembre que comecei outro dia, pouco antes de enfrentarmos aquele problema muito simples apresentado por Miss Mary Sutherland, que, se quisermos encontrar efeitos estranhos e combinações extraordinárias, devemos procurar na própria vida, que vai sempre muito mais longe do que qualquer esforço da imaginação.

        — Uma posição que tomei a liberdade de pôr em dúvida.

        — De fato, doutor, mas terá de concordar comigo, pois do contrário continuarei a impingindo fato sobre fato, até que sua razão desabe sob o peso deles e reconheça que estou certo. Pois bem, Mr. Jabez Wilson, aqui, teve a bondade de recorrer a mim esta manhã e iniciar uma narrativa que promete ser das mais singulares que ouço nos últimos tempos. Você já me ouviu observar que as coisas mais estranhas e insólitas estão muitas vezes associadas não aos maiores, mas aos menores crimes, e às vezes mesmo a casos em que há margem para se duvidar de algum crime propriamente dito foi cometido. Pelo que ouvi até agora não me é possível dizer se o presente caso configura ou não um crime, mas o curso dos acontecimentos está sem dúvida entre os mais incomuns de que já tive notícia. Talvez pudesse fazer a grande gentileza, Mr. Wilson, de recomeçar sua narrativa. Peço-o não apenas porque meu amigo, o Dr. Watson, não ouviu o início, mas também porque a natureza peculiar da história deixa-me ansioso por não ouvir dos seus lábios todos os detalhes possíveis. Em regra, depois de ouvir uma ligeira indicação do curso dos eventos, sou capaz de me orientar com base nos milhares de outros casos semelhantes que me acorrem à memória. Na presente situação, porém, sou obrigado a admitir, em sã consciência, que os fatos parecem inauditos.

        O corpulento cliente estufou o peito, revelando uma ponta de orgulho, e puxou do bolso interno do paletó um jornal sujo e amassado. Enquanto ele passava os olhos pela coluna de anúncios, a cabeça espichava e o jornal alisado sobre os joelhos, dei-lhe uma boa espiada, esforçando-me por detectar, ao estilo de meu companheiro, os indícios que seu traje ou sua aparência poderiam conter.

        Mas minha inspeção não me revelou grande coisa. Nosso visitante tinha todas as características do comerciante britânico banal e mediano; era gordo, presunçoso e bronco. Usava calças bem largas de lã cinza quadriculada, uma sobrecasaca preta cuja limpeza deixava a desejar, desabotoada, e um colete pardacento sobre o qual brilhava uma grossa corrente Albert de latão de que pendia, como um berloque, uma peça de metal quadrada e furada. Em cima de uma cadeira, a seu lado, via-se um desbotado sobretudo marrom, a gola de veludo amassada. No conjunto, por mais que eu olhasse, nada havia de notável no homem, exceto seu cabelo de um ruivo chamejante e uma expressão de extrema consternação e contrariedade estampada no rosto.

        O olhar arguto de Sherlock Holmes percebeu rapidamente do que eu me ocupava, e, sacudiu a cabeça com um sorriso ao notar meu exame atento, comentou: — Além das evidências de que ele trabalhou como operário em alguma época, cheira rapé, é maçom, esteve na China e tem escrito muito ultimamente, não consigo deduzir mais nada.

        Mr. Jabez Wilson teve um sobressalto na sua cadeira; seu dedo indicador estava no jornal, mas os olhos no meu companheiro.

        — Céus! Como ficou sabendo de tudo isso, Mr. Holmes? — perguntou. — Como soube, por exemplo, que fui trabalhador braçal? É a mais perfeita verdade, comecei como carpinteiro de navio.

        — Suas mãos, meu caro senhor. A direita é bem maior que a esquerda. Trabalhou com ela e os músculos são mais desenvolvidos.

        — Mas e o rapé. E a maçonaria?

        — Não insultarei sua inteligência dizendo-lhe como adivinhei isso, especialmente porque, e na verdade contrariando as severas regras de sua ordem, o senhor usa um alfinete de gravata com arco e compasso.

        — Ah! Claro, esqueci-me disso. Mas, e a escrita?

        — Que outra coisa poderia indicar esse seu punho direito com uns doze centímetros tão lustrosos e a manga esquerda puída perto do cotovelo, onde a esfrega na mesa?

        — Bem, e a China?

        — O peixe que tem tatuado logo acima do pulso direito só poderia ter sido feito na China. Fiz um pequeno estudo das tatuagens e cheguei mesmo a contribuir para a literatura sobre o assunto. Essa habilidade de pintar escamas de peixe de um cor-de-rosa delicado é inteiramente peculiar à China. Quando, além disso, vejo uma moeda chinesa pendurada na corrente do seu relógio, a questão se torna ainda mais simples.

        Mr. Jabez Wilson deu uma gargalhada.

        — Vejam só! A princípio pensei que o senhor havia feito algo de extraordinário, mas vejo que, afinal, não foi nada de mais.

        — Começo a achar, Watson — disse Holmes —, que cometo um erro ao explicar. Omne ignotum pro magnifico, você sabe, e minha reputação, já modesta, ficará arruinada se eu continuar sendo tão franco.

        [...]

DOYLE, Arthur Conan. A liga dos cabeças vermelhas. As aventuras de Sherlock Holmes. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro Zahar, 2010.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 177-180.

Entendendo o texto:

01 – Quais são as personagens que aparecem no texto?

      Sherlock Holmes, Watson e Jabez Wilson.

02 – Transcreva um trecho do texto que nos permite imaginar que Sherlock Holmes é um detetive.

      Sr. Wilson, este cavalheiro tem sido meu assistente e colaborador em muitos dos meus casos mais bem-sucedidos, não tenho dúvidas de que me será de grande valia também no seu.” Ou “Pois bem, Mr. Jabez Wilson, aqui, teve a bondade de recorrer a mim esta manhã e iniciar uma narrativa que promete ser das mais singulares que ouço nos últimos tempos. Você já me ouviu observar que as coisas mais estranhas e insólitas estão muitas vezes associadas não aos maiores, mas aos menores crimes, e às vezes mesmo a casos em que há margem para se duvidar de algum crime propriamente dito foi cometido.”

03 – Releia o trecho a seguir:

        “O olhar arguto de Sherlock Holmes percebeu rapidamente do que eu me ocupava, e, sacudiu a cabeça com um sorriso ao notar meu exame atento, comentou: — Além das evidências de que ele trabalhou como operário em alguma época, cheira rapé, é maçom, esteve na China e tem escrito muito ultimamente, não consigo deduzir mais nada.”. Qual era a possível intenção de Sherlock Holmes ao fazer uma análise minuciosa da figura de seu cliente, Jabez Wilson?

      Sherlock quis provar a Wilson que era um bom investigador e, portanto, capaz de desvendar o crime que ele havia lhe contado. Além disso, quis mostrar a Watson que conseguia, sem esforço de imaginação, encontrar evidências sobre a história de vida de seu cliente.

04 – Identifique cada detalhe que Sherlock observou para descobrir os aspectos da vida de seu cliente. Em seguida, indique o que cada detalhe lhe revelou.

      As mãos: a direita era mais desenvolvida que a esquerda, o que lhe permitiu concluir que o cliente trabalhara em serviço pesado utilizando as mãos. Ser maçom: o cliente usava um prendedor de gravata com esquadro e compasso, símbolos da maçonaria. Escrever muito nos últimos tempos: o homem apresentava uma marca lustrosa no punho direito da camisa e outra, puída, no cotovelo esquerdo, demonstrando que se apoiava em uma escrivaninha. Ter estado na China: a tatuagem de peixe no punho, com as escamas coloridas de rosa próprias daquela região, e a confirmação com o uso de moeda chinesa pendurada à corrente. Cheirar rapé: O cheiro que ele exalava.

05 – Além de excelente observador, Sherlock possui outras características que o ajudam a tirar suas conclusões. Quais são elas?

      Além de observador, Sherlock é uma pessoa vivida, que tem experiências: já escreveu um tratado sobre as tatuagens chinesas, conhece os símbolos da ordem da maçonaria, etc. Seus conhecimentos lhe permitem estabelecer relações e tirar conclusões. Ele também domina o método dedutivo, essencial para relacionar os detalhes que observa ao repertório que acumulou.

06 – A expressão latina “Omne ignotum pro magnifico” pode ser traduzida da seguinte forma: “tudo que é ignorado é tido como magnífico”. Baseando-se nessa informação, responda: Por que Sherlock afirma que sua reputação ficará arruinada se ele continuar sendo tão franco?

      Sherlock sabe que, se continuar mostrando para as pessoas como chega às suas conclusões, elas perceberão que seu método não é sobrenatural, mas simples, pois trabalha com a lógica e as evidências.

07 – Releia o primeiro parágrafo do texto e responda: Que marcas textuais nos permitem afirmar que o narrador da história e uma personagem que participa da trama?

      O uso do verbo e dos pronomes pessoais na primeira pessoa do singular: “encontrei-o”, “já me retirava quando Holmes me puxou abruptamente para a sala e fechou a porta atrás de mim”.

08 – Que personagem nos conta a história? Identifique-a e copie o trecho do texto em que o detetive demonstra ter consciência de que essa personagem é a divulgadora de suas aventuras.

      Watson é o narrador das histórias de Sherlock. “— Sei, meu caro Watson, que você partilha do meu gosto por tudo que é extravagante, que escapa das convenções e da pasmaceira do dia a dia. Mostrou seu gosto por essas coisas com o entusiasmo com que se dispôs a relatar, e, se me permite dizê-lo, a embelezar um pouco, tantas de minhas pequenas aventuras.”

09 – Em sua opinião, qual pode ser a intenção de um escritor ao optar pelo foco narrativo em 1ª pessoa?

      Se o foco narrativo está em 1ª pessoa, o leitor lê os fatos narrados como verdadeiros, pois eles foram testemunhados por uma personagem que os vivenciou. Nesse caso, portanto, o modo de ver os fatos restringe-se à visão de uma personagem, que pode ou não contar a verdade dos fatos ao leitor.

10 – Leia estes trechos do texto:

I – “Um dia, no outono do ano passado, ao fazer uma [...]”.

II – “De fato, estou. [...]”.

III – “[...] Peço-o não apenas [...]”.

IV – “Bem, e a China?”.

V – “Suas mãos, meu caro senhor”.

        Quando lemos esses trechos isoladamente, sem nos esquecermos de que foram retirados de um texto, quais deles não podem ser compreendidos? Por quê?

      O primeiro e o terceiro enunciados, pois não apresentam uma ideia completa, não têm sentido completo.

11 – Agora, leia estes outros enunciados:

I – “Vejam só!”.

II – “Mas e a escrita?”.

a)   Eles apresentam sentido completo?

Sim, ambos têm sentido completo.

b)   Observe sua estrutura e indique em que se diferenciam.

O enunciado I possui verbo e o II, não.

 

segunda-feira, 17 de junho de 2019

CONTO: A FAIXA MANCHADA - (FRAGMENTO) - ARTHUR CONAN DOYLE - COM GABARITO

Conto: A faixa Manchada

             Arthur Conan Doyle

        Helen Stoner é irmã gêmea de Julia, vivem com o padrasto o Dr. Roylott que estudou medicina na Índia e conhecera a mãe das gêmeas quando elas tinha dois anos. Nessa época sua mãe casaria de novo, viúva e com boa quantia de dinheiro deixou que o Dr. Administrasse a herança com um acordo: ele daria uma quantia anual para elas quando se casassem.
        Contudo, um tempo depois de voltarem para a Inglaterra, a mãe morre. Após esse acontecimento, o comportamento dele mudou, tornou-se meio psicótico, criava uma pantera e um babuíno trazidos da Índia, saia pouco de casa e quando saia discutia com os vizinhos.
        Voltando ao presente, Julia havia morrido há dois anos, ela havia conhecido um major da marinha com quem se noivou. Porém duas semanas antes do casamento algo horrível aconteceu.
        Julia perguntou a Helen se ela não teria escutado assobios nas noites anteriores, Helen negou e Julia foi para o seu quarto. Helen estava dormindo quando do seu quarto escutou gritos de uma mulher, reconheceu a voz que era de Julia. Então ela saltou da cama e saiu para o corredor, abriu a porta escutou um assobio. Quando abriu a porta viu sua irmã em meio aos gritos:
        “– Helen foi a faixa manchada! A faixa manchada! “
        Queria dizer algo a mais, porém, não conseguiu e caiu no chão morta. A polícia concluiu que Julia estava sozinha quando morreu, não havia marcas de violências no corpo.
        Depois de algum tempo, Helen iria se casar, há dois dias estavam ocorrendo reformas na casa e furaram a parede do quarto dela. Ela teve que se mudar para o quarto onde sua irmã havia morrido. Porém o que assustou Helen foi que nesses dias, estava escutando o mesmo assobio daquela noite tão triste.
        Ela contratou o detetive Sherlock Holmes e seu assistente Dr. Watson, para investigar o caso. O detetive e seu assistente vão para a casa de Helen investigar, pois o padrasto não voltaria tão cedo. Eles examinam o quarto de Helen, foram para o quarto de Julia em que Helen estava ocupando devido a reforma de seu quarto, examinou cada coisa que estava no quarto, viram uma campainha ao lado da cama, Helen contara que a campainha era nova, há dois anos havia sido instalada. Desconfiado, Holmes puxa a campainha e conclui que ela é falsa. Depois foram para o quarto do Dr., Holmes viu um cofre e perguntou para Helen o que havia dentro do cofre, Helen respondeu que o cofre estava cheio de papéis. Porém quando abrem o cofre não havia nada dentro, e sobre o cofre havia um pires de leite. Holmes fala para Helen que eles terão que dormir no quarto de Julia, pois eles investigariam o barulho que a incomodava.
        Naquela noite Holmes e Watson investigavam, mas o Dr. Roylott não desconfiou. De repente, às três horas eles escutam um assobio, Holmes ascende um fósforo e bate com uma bengala na corda da campainha, Holmes perguntou a Watson se ele não havia visto nada, mas Watson estava com sono e não havia percebido nada. Porém em segundos, começaram a ouvir gritos de dor, então Watson pega seu revólver automático e segue Holmes, que ia em direção ao quarto do Dr., bateu na porta, sem resposta. Entraram no quarto, em cima da mesa havia uma lamparina, o cofre estava aberto, ao lado da mesa estava o Dr.Roylott, com um olhar para cima e fixo, havia uma faixa estranha na testa. Então Holmes fala para Watson:
        “-- A faixa! A faixa manchada!”
        De repente do cabelo do Dr., saiu uma nojenta cobra. Holmes falara que era a cobra do brejo, a mais venenosa da Índia, o padrasto morrera pouco tempo depois de ter sido mordido.
        Holmes concluiu que a cobra descia pela campainha falsa e para que a vítima não visse a cobra, o padrasto assobiava para a cobra voltar, devia ter treinado a cobra com pires de leite. O Dr. havia morrido pela sua própria armadilha.
                                                 Arthur ConanDoyle
Entendendo o conto:

01 – Em relação à estrutura textual do conto.
a)   Quantos parágrafos tem o conto?
Doze parágrafos.

b)   Narrador:
(   ) Participa da história.
(X) Conta os fatos sem participar da história.

02 – Qual é a tipologia predominante no conto:
(X) Narrativa.
(   ) Argumentativa.
(   ) Descritiva.

03 – Quais os personagens que fazem parte dessa história?
      Helen, Julia, Dr. Roylott, a viúva, Sherlock Holmes, Dr. Watson e a cobra do brejo.

04 – Por que Helen procura o detetive após a morte de sua irmã?
      Porque Helen ficou noiva e ouviu um assobio igual ao da noite da morte da irmã, então temeu também ser morta.

05 – Julia antes de morrer disse para Helen que havia sido a faixa manchada. A que/quem ela se referia?
      A cobra do brejo, a mais venenosa da Índia.

06 – Qual o cenário em que se desenvolve a história.
      Dentro de uma casa.

07 – Em que momento surge o conflito da história?
      Quando morre Julia Stoner.

08 – Em que passagem do texto ocorre o clímax, ou seja, o momento de maior tensão da história? Explique.
      Quando o detetive e seu assistente ouvem um assobio, logo em seguida gritos de dor e vai até o quarto do Dr. Roylott e vê uma cobra em seus cabelos.

09 – Que fato provocou o desenrolar dos acontecimentos descritos no texto?
      O fato de a mãe de Julia e Helen ter uma boa quantia em dinheiro e ter feito um acordo com o padrasto delas que deveria dar uma quantia anual para elas quando se casassem.

10 – Qual o desfecho (epílogo ou conclusão) da história?
      O padrasto morre pouco tempo depois de ter sido mordido pela cobra, ou seja, pela sua própria armadilha.