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domingo, 1 de junho de 2025

POEMA: OS CORTEJOS - MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: Os cortejos

             Mário de Andrade

Monotonias das minhas retinas...

Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...

Todos os sempres das minhas visões! "Bon Giorno, caro".

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5oBec4uoOuK4I1zlfWTmaL33TxJJw8eKWiCsy9bmo8GHeptXRnb4Ab6ZY2S9oSkwmTFJkrbqUTT3z6huSNXhjR2RkVJj0jSD46y4A48fekT79zEC3NPUNpNmcgFkKwLOmlcHcLNTcxfgPBGMYArMzvDpbIYTviThvDrw3g9BJ9nwj2Nc-CNDYsxysdKI/s320/cortejo-ao-mar-fotos-carlos-de-los-santos-1-720x475.jpg

Horríveis as cidades!

Vaidades e mais vaidades...

Nada de asas! Nada de poesia! Nada de alegria!

Oh! os tumultuários das ausências!

Paulicéia — a grande boca de mil dentes;

e os jorros dentre a língua trissulca

de pus e de mais pus de distinção...

Giram homens fracos, baixos, magros...

Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...

 

Estes homens de São Paulo,

todos iguais e desiguais,

quando vivem dentro dos meus olhos tão ricos,

parecem-me uns macacos, uns macacos.

Poesias completas. São Paulo: Círculo do Livro. s. d. p. 40.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 95.

Entendendo o poema:

01 – Qual a sensação inicial expressa pelo eu lírico em relação às suas próprias percepções ("Monotonias das minhas retinas...") e como ele descreve o movimento das pessoas que observa?

      A sensação inicial expressa pelo eu lírico é de monotonia em suas próprias percepções ("Monotonias das minhas retinas..."). Ele descreve o movimento das pessoas que observa como "Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...", sugerindo um fluxo contínuo, talvez repetitivo e inquietante, de indivíduos.

02 – Como o eu lírico expressa sua aversão às cidades na segunda estrofe? Quais elementos ele associa a essa crítica?

      O eu lírico expressa sua aversão às cidades chamando-as de "Horríveis!" e as associa a "Vaidades e mais vaidades...". Ele sente falta de elementos que considera essenciais, como "Nada de asas! Nada de poesia! Nada de alegria!". A cidade é vista como um lugar de "tumultuários das ausências", onde algo fundamental está faltando.

03 – Que imagem forte e negativa o eu lírico utiliza para descrever a cidade de São Paulo ("Paulicéia")?

      O eu lírico utiliza a imagem forte e negativa de "Paulicéia — a grande boca de mil dentes; / e os jorros dentre a língua trissulca / de pus e de mais pus de distinção...". Essa metáfora apresenta a cidade como uma entidade voraz e doentia, com uma linguagem corrompida pela superficialidade e pela busca incessante por distinção social.

04 – Como o eu lírico descreve fisicamente os homens de São Paulo que observa, e a que comparação depreciativa ele os associa quando os vê através de seus "olhos tão ricos"?

      O eu lírico descreve fisicamente os homens de São Paulo como "fracos, baixos, magros...". Quando os observa através de seus "olhos tão ricos", ele os associa a uma comparação depreciativa, chamando-os de "uns macacos, uns macacos", sugerindo uma visão de inferioridade, imitação ou falta de individualidade.

05 – Qual a principal crítica social e/ou existencial que parece emergir do poema "Os Cortejos"?

      A principal crítica que emerge do poema parece ser uma crítica à superficialidade, à monotonia e à falta de autenticidade da vida urbana moderna, especialmente em São Paulo. O eu lírico expressa um profundo desencanto com as vaidades sociais, a ausência de poesia e alegria, e a aparente homogeneização e perda de individualidade dos habitantes da cidade, vistos como seres repetitivos e até mesmo animalescos. O poema revela um olhar crítico e desiludido sobre a sociedade e a condição humana no contexto urbano.

 

 

POEMA: O GATO - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

 Poema: O GATO

             Mário Quintana

O gato chega à porta do quarto onde escrevo...
Entrepara... hesita... avança...
Fita-me.
Fitamo-nos.
Olhos nos olhos...
Quase com terror!
Como duas criaturas incomunicáveis e solitárias
que fossem feitas cada uma por um Deus diferente.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhELi7a90tErOi9chfbTAr-E77rhOgkzS9S9eSeoO_TchAOlHsX_3tII5W0XEFqK9M3XJs1ygXkQsujgq7e6bEnNmQNEoE6bPWhWxc_VbY42JA-913pdQ51Zr3y0dblpjyCQxVUYWm-xfdbrnSnhdpIK9XueX3p3SQx2D-CsF1nNMW-NqHjrLxCSug-C3A/s320/vida-de-gato.jpg


Mario Quintana. Preparativos de viagem. São Paulo: Globo, 1997. p. 25.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 204.

Entendendo o poema:

01 – Descreva a progressão da chegada do gato ao quarto do eu lírico, destacando os verbos utilizados.

      A chegada do gato é descrita em etapas, com verbos que indicam cautela e hesitação: "chega", "Entrepara", "hesita", "avança". Essa progressão lenta e gradual cria uma atmosfera de expectativa e um certo estranhamento no encontro.

02 – Qual a ação recíproca que ocorre entre o eu lírico e o gato após a entrada do animal no quarto?

      Após a entrada do gato, ocorre uma troca de olhares intensa: "Fita-me. / Fitamo-nos. / Olhos nos olhos...". Essa ação recíproca estabelece um momento de conexão visual direta entre os dois seres.

03 – Que emoção é quase explicitamente mencionada em relação a esse encontro visual?

      A emoção quase explicitamente mencionada em relação a esse encontro visual é o "terror". Essa palavra forte sugere um sentimento de estranheza profunda ou até mesmo de reconhecimento de algo desconhecido e potencialmente perturbador no outro.

04 – Qual a comparação utilizada pelo eu lírico para descrever a sensação de distância e incompreensão mútua entre ele e o gato?

      O eu lírico compara a sensação de distância e incompreensão mútua à de "duas criaturas incomunicáveis e solitárias / que fossem feitas cada uma por um Deus diferente". Essa comparação enfatiza a ideia de origens distintas e, consequentemente, de uma barreira fundamental na comunicação e na compreensão entre os dois seres.

05 – Qual a principal reflexão ou sentimento que o poema evoca sobre a natureza da comunicação e da solidão, mesmo em um encontro aparentemente simples?

      O poema evoca uma reflexão sobre a complexidade da comunicação e a persistência da solidão, mesmo em um encontro direto. A troca de olhares, apesar de intensa, não elimina a sensação de estranhamento e incomunicabilidade. A comparação com criaturas feitas por "Deus diferente" sugere uma barreira essencial que transcende a simples interação física, revelando a potencial solidão intrínseca a cada ser, mesmo na presença do outro.

 

 

quarta-feira, 9 de abril de 2025

POEMA: SE UM POETA FALAR GATO - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

 Poema: Se um poeta falar num gato

             Mário Quintana

Se o poeta falar num gato, numa flor,
Num vento que anda por descampados e desvios
E nunca chegou à cidade...
Se falar numa esquina mal e mal iluminada...
Numa antiga sacada... num jogo de dominó...
Se falar naqueles obedientes soldadinhos de chumbo
[que morriam de verdade...
Se falar na mão decepada no meio de uma escada de caracol...
Se não falar em nada
E disser simplesmente tralalá... Que importa?
Todos os poemas são de amor!

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuXMZ1bON9UQyI13q8x3dn7H3RlWYuDsHluJ2ciPr-eqgSEqRjQixX2Lb54Eh4cJcaikGJ-VkI-KR7WxPOU1AdOPym5DiySnQTHOYLJYaOvA0ky2XR4dKz_tfLBCpHZWMlZxxlbvFKjI79jENVMc7UV23F4fce9zvFisx9AHJtFhkuhB6CFfxcpxkOciU/s320/gato-para-colorir1.jpg


Antologia poética. Porto Alegre: Globo, 1972. p. 105.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 65.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema central do poema?

      O tema central do poema é a universalidade do amor na poesia. Mário Quintana sugere que, independentemente do assunto abordado, todos os poemas, em sua essência, são manifestações de amor.

02 – Que tipo de imagens o poeta evoca no poema?

      O poeta evoca imagens simples e cotidianas, como um gato, uma flor, o vento, uma esquina mal iluminada, uma sacada antiga, um jogo de dominó, soldadinhos de chumbo e uma escada de caracol. Essas imagens criam uma atmosfera nostálgica e melancólica.

03 – Qual o significado da expressão "tralalá" no poema?

      A expressão "tralalá" representa a liberdade poética. Mário Quintana sugere que, mesmo que o poeta não expresse nada concreto, a essência do poema ainda será o amor.

04 – O que o poema sugere sobre a relação entre a poesia e a vida cotidiana?

      O poema sugere que a poesia pode encontrar beleza e significado nas coisas mais simples da vida cotidiana. As imagens evocadas no poema são todas retiradas do dia a dia, mostrando que a poesia está presente em todos os lugares.

05 – Qual a mensagem principal que Mário Quintana transmite com esse poema?

      A mensagem principal é que o amor é a força motriz por trás de toda a criação poética. Mesmo quando os versos parecem tratar de assuntos diversos, o sentimento que os permeia é sempre o amor.

 

 

 

POEMA: OS DEGRAUS - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

 Poema: OS DEGRAUS

             Mário Quintana

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBeKW_sbzqqn5JWqBqCC7l0TgGp6J6IM5Y3aaSGa_qV9uyDHacZu4Xz53qB2v_P0DSKp7t7RIEU0EOO7y4VvUGLTqEGNuiJjZ-CglZJPi-ztVZgGIZME261-qjU9wXn3qpSCo7CMphWjaHscpiKZrf8oRSVj9mTiK-Cdi3joqn-T4XFxEJlhd6PkWXSOE/s320/degraus1.jpg

Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...

Mário Quintana. Antologia poética. Porto Alegre: L&PM, 2003. p. 94.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 130.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema central do poema?

      O tema central do poema é a exploração do mistério da vida e a importância de permanecer no presente. Mário Quintana sugere que a busca por respostas em outros lugares (sonhos ou planos superiores) pode ser perigosa e que o verdadeiro mistério reside na experiência cotidiana.

02 – Qual o significado da metáfora dos "degraus do sonho"?

      A metáfora dos "degraus do sonho" representa a busca por conhecimento ou experiências que estão além da realidade imediata. O poeta adverte para não se aventurar nesse território, pois pode despertar "monstros", ou seja, enfrentar medos e angústias desconhecidas.

03 – Como a imagem dos "sótãos" contribui para o significado do poema?

      A imagem dos "sótãos" simboliza os lugares onde os "deuses" ocultam seus enigmas, representando os planos superiores da existência, onde se busca respostas para os mistérios da vida. O poeta adverte que esses lugares podem ser perigosos, pois os "deuses" usam máscaras, escondendo a verdade.

04 – Qual a mensagem principal do verso "O mistério está é na tua vida"?

      Esse verso é a chave para a interpretação do poema. Mário Quintana sugere que a busca por respostas para os mistérios da vida em outros lugares é inútil, pois o verdadeiro mistério reside na própria experiência cotidiana. O poeta convida o leitor a apreciar a vida em sua totalidade, com seus mistérios e incertezas.

05 – Qual o significado da expressão "E é um sonho louco este nosso mundo"?

      Essa expressão final do poema reforça a ideia de que a vida é um mistério insondável. O poeta reconhece a natureza caótica e imprevisível do mundo, mas convida o leitor a abraçar essa loucura e a encontrar beleza e significado na experiência cotidiana.

 

sexta-feira, 28 de março de 2025

CONTO: CONTO DE TODAS S CORES - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

 Conto: Conto de todas as cores

           Mário Quintana

        Eu já escrevi um conto azul, vários até. Mas este é um conto de todas as cores. Porque era uma vez um menino azul, uma menina verde, um negrinho dourado e um cachorro com todos os tons e entretons do arco-íris.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjOGpvNWGoqb-wWTBEQ05-D0E4uKzi658beSNewtXc3Mtipg2EicopHWttBO4y0uJWRAdlU3TM7kgdsKXNFgvBf7xZXWNEI1VjbMc3w7diQOi6XrLPnmEchxBr-Q1E-cvr6hM473Ql_01O5h4gzQ8MC1VN-34s3t1PHUrgVFvBK2hdxpNesY-NA5XvXO8/s1600/1469963_661473227238343_1256354448_n.jpg


        Até que apareceu uma Comissão de Doutores, os quais, por mais que esfregassem os nossos quatro amigos, viram que não adiantava... E perguntaram se aquilo era de nascença ou se... 

        -- Mas nós não nascemos – interrompeu o cachorro. – Nós fomos inventados!

QUINTANA, Mário. A Vaca e o Hipogrifo. 3. ed. Porto Alegre, L&PM, 1979. p. 34.

Fonte: Português. Série novo ensino médio. Volume único. Faraco & Moura – 1ª edição – 4ª impressão. Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 33.

Entendendo o conto:

01 – Qual a característica peculiar dos personagens no conto de Mário Quintana?

      Os personagens possuem cores incomuns: um menino azul, uma menina verde, um negrinho dourado e um cachorro com todas as cores do arco-íris.

02 – Quem aparece para interagir com os personagens e qual a reação deles?

      Uma Comissão de Doutores aparece e tenta, sem sucesso, mudar as cores dos personagens.

03 – Qual a resposta inusitada do cachorro quando questionado sobre a origem das cores?

      O cachorro afirma que eles não nasceram, mas foram inventados.

04 – Qual a possível interpretação da presença da "Comissão de Doutores" na história?

      A Comissão de Doutores pode representar a sociedade e suas normas, que tentam padronizar e homogeneizar os indivíduos, desconsiderando a diversidade.

05 – Qual a principal mensagem que Mário Quintana transmite com este conto?

      A mensagem central do conto é uma celebração da diversidade e da individualidade, além de uma crítica à tentativa de padronização imposta pela sociedade.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

POEMA: O CIRCO - O MENINO - A VIDA - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

 Poema: O CIRCO – O MENINO – A VIDA

             Mário Quintana

A moça do arame 

Equilibrando a sombrinha 

Era de uma beleza instantânea e fulgurante! 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiThIwUCXHq14Zrxz7PXxN16Mu_GvTAiNLfbStUnMylyACFz-PjFTFO3hqCToN5cVY3Vvmm-4rzdpnNGzEPiB713TC4v3F4rWWnuJQjtD3TDTl_bplV_-Uk8wVKy-KsfIlRR9ghJj1C6wj2_1RGZCKLIdB2_i4hnE3ld5Qt6GugHkGDjatpot6tMFHju6s/s1600/CHUVA.jpg


A moça do arame ia deslizando e despindo-se. 

Lentamente. 

Só para judiar. 

E eu com os olhos cada vez mais arregalados 

Até parecerem dois pires:

Meu tio dizia:

“Bobo!” 

Não sabes 

Que elas sempre trazem uma roupa de malha por baixo? 

(Naqueles voluptuosos tempos não havia nem maiôs nem biquínis...) 

Sim! Mas toda a deliciante angústia dos meus olhos virgens

Segredava-me 

Sempre: 

“Quem sabe?”

Eu tinha oito anos e sabia esperar.

Agora não sei esperar mais nada 

Desta nem da outra vida.

No entanto

O menino 

(que não sei como insiste em não morrer em mim) 

ainda e sempre 

apesar de tudo 

apesar de todas as desesperanças,

o menino 

às vezes

segreda-me baixinho 

“Titio, quem sabe?...”

Ah, meu Deus, essas crianças!

Mario Quintana. Nova antologia poética. 2. ed. Porto Alegre: Globo, 1987, p. 86-87.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 32-33.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal sensação que o eu lírico experimenta ao observar a moça do arame?

      O eu lírico experimenta uma intensa e fulgurante beleza, misturada com uma crescente expectativa e desejo. A moça, com seus movimentos lentos e sensuais, desperta nele uma curiosidade quase infantil, aguçada pela incerteza sobre o que se esconde por baixo de suas roupas.

02 – Qual o papel do tio na percepção do eu lírico?

      O tio representa a figura da razão e da experiência, tentando conter a imaginação do menino e apresentar uma visão mais realista da situação. Ele tenta desmistificar a beleza da moça, revelando a roupa de malha por baixo, mas não consegue apagar a fantasia do sobrinho.

03 – Como a visão de criança e a visão de adulto se contrapõem no poema?

      A visão de criança é marcada pela imaginação, pela esperança e pela capacidade de esperar. O menino acredita que tudo é possível e se encanta com a beleza e o mistério da moça. Já a visão de adulto é mais realista e pragmática, marcada pela experiência e pela consciência das limitações.

04 – Qual o significado da frase "Agora não sei esperar mais nada"?

      Essa frase revela uma sensação de desencanto e perda da capacidade de sonhar. O eu lírico adulto, ao contrário do menino, perdeu a esperança e a capacidade de esperar pelo futuro, sentindo-se frustrado e desiludido.

05 – Qual a mensagem final do poema?

      O poema transmite uma mensagem sobre a passagem do tempo e a perda da inocência. A criança, com sua capacidade de imaginar e esperar, representa a esperança e a beleza da vida. No entanto, a vida adulta traz consigo a desilusão e a perda da capacidade de sonhar. Apesar disso, o poema sugere que a criança interior nunca morre completamente, e que a esperança pode renascer, mesmo nos momentos mais difíceis.

 

 

domingo, 29 de dezembro de 2024

POEMA: CANÇÃO - (FRAGMENTO) - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

 Poema: CANÇÃO – Fragmento

             MÁRIO QUINTANA

Cheguei a concha da orelha à concha do caracol.

Escutei
vozes amadas
que eu julgava
eternamente perdidas.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTuyTtRYbX3VwTBtFlkmesglreMQ0mxerS1Epbu8PmPodbOxjJLXrslzmZCcrhUXYIVaISy6TLIcF1RxjAiA1oeS_ePwZIViLp9ZeKyYR0Gn1fm5pmAG8jZWhIWynhJCIPt1dgtGpPjkxF4W0SoCThZ4tSGMyp73Srv9gQm1CKirvpbycMFW2p2UkCb6U/s320/som-do-mar-na-concha.jpg


Uma havia
que dentre as outras mais graves
tão clara e alta se erguia…

que eu custei mas descobri
que era a minha própria voz:
sessenta anos havia
ou mais
que ali estava encerrada.

Meu Deus, as coisas que ela dizia!
as coisas que eu perguntava!

Eu deixei-as sem resposta.

[...]

QUINTANA, Mário. In: CARVALHAL, Tania Franco (Org.). Mário Quintana: poesia completa. São Paulo: Nova Aguilar, 2005. p. 389-390. Fragmento.

Fonte: Português – Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 426.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal metáfora utilizada no poema e qual seu significado?

      A principal metáfora é a comparação entre a concha da orelha e a concha do caracol. A concha do caracol representa um espaço interior, um microcosmo onde se guardam memórias, sentimentos e pensamentos. Ao aproximar a concha da orelha da concha do caracol, o eu lírico estabelece uma conexão com seu passado e com suas próprias vozes internas.

02 – Que emoções são despertadas no eu lírico ao ouvir as vozes?

      O eu lírico experimenta uma mistura de emoções: surpresa ao encontrar vozes que julgava perdidas, saudade e nostalgia pelas lembranças evocadas, e um certo arrependimento por não ter respondido a essas vozes no passado.

03 – Qual a importância da voz própria dentro do conjunto de vozes ouvidas?

      A voz própria do eu lírico se destaca entre as outras por sua clareza e intensidade. Ela representa a essência do indivíduo, suas dúvidas, anseios e questionamentos. Ao reconhecer sua própria voz, o eu lírico estabelece uma conexão mais profunda consigo mesmo.

04 – Que reflexão sobre o tempo o poema nos apresenta?

      O poema nos convida a refletir sobre a passagem do tempo e a importância de valorizar os momentos presentes. Ao descobrir que sua própria voz estava encerrada na concha do caracol há tanto tempo, o eu lírico percebe a fugacidade do tempo e a importância de aproveitar cada momento.

05 – Qual a mensagem principal do poema?

      A mensagem principal do poema é a importância da introspecção e da escuta interior. Ao se conectar com suas próprias vozes internas, o eu lírico encontra respostas para suas dúvidas e um maior autoconhecimento. O poema nos convida a olhar para dentro de nós mesmos e a valorizar a riqueza de nossas experiências e memórias.

 

 

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

POEMA VI - NA MINHA RUA HÁ UM MENININHO DOENTE - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

 Poema: VINa minha rua há um menininho doente

             Mário Quintana

Na minha rua há um menininho doente.
Enquanto os outros partem para a escola,
Junto à janela, sonhadoramente,
Ele ouve o sapateiro bater sola.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHB-nZow3_Oi_T8X_sBgZPEJnHDYoZ5SSnqP6j4pHimVnEqyhv2QbQXNW7aG8EJP5eF2G9DMgyb0v7ijk0oFCdHWl0FAhTf2yQ2PVRev6rBvZddoCOkeNwdYmRJl4Nn16UuEqoqHpvixI6jYQyM-gq1r1BaQ94UhWCo2IKlZFxlbhj8y8DpOLmEitE0NQ/s320/menino-olhando-a-chuva-pela-janela-400-183715.jpg


Ouve também o carpinteiro, em frente,
Que uma canção napolitana engrola.
E pouco a pouco, gradativamente,
O sofrimento que ele tem se evola…

Mas nesta rua há um operário triste:
Não canta nada na manhã sonora
E o menino nem sonha que ele existe.

Ele trabalha silenciosamente…
E está compondo este soneto agora,
Pra alminha boa do menino doente…

 In: A Rua dos Cata-ventos. São Paulo: Globo @ by Elena Quintana.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 6º ano. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. 7ª edição reformulada – São Paulo: ed. Saraiva, 2012. p. 161.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Engrolar: pronunciar de maneira imperfeita, recitar mal.

·        Evolar: evaporar, dissipar.

·        Soneto: tipo de poema formado por quatro estrofes, as duas primeiras com quatro versos e as duas últimas com três versos.

02 – Quem é o personagem principal do poema e qual é a sua situação?

      O personagem principal é um menino doente que, ao contrário de outras crianças, não pode ir à escola. Ele passa o tempo junto à janela, ouvindo os filhos da rua.

03 – Quais filhos o menino ouve da sua janela?

      O menino ouve o sapateiro bater sola e o carpinteiro cantando uma canção napolitana. Esses filhos ajudam a aliviar o sofrimento do menino.

04 – O que acontece com o sofrimento do menino ao ouvir os filhos da rua?

      Conforme o menino ouve os filhos da rua, seu sofrimento parece diminuir gradativamente, como se fosse se evaporando.

05 – Qual personagem no poema não é notado pelo menino?

      Há um operário triste que trabalha silenciosamente e não canta nada. O menino não sabe que ele existe.

06 – Qual é a relação do operário com o menino?

      O operário, que trabalha em silêncio, está compondo o soneto que lemos, como uma forma de homenagear e aliviar o sofrimento do "menino doente".

 

domingo, 25 de agosto de 2024

POEMA: CADEIRA DE BALANÇO - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

 Poema: Cadeira de balanço

             Mário Quintana

Quando elas se acordam
do sono, se espantam
das gotas de orvalho
na orla das saias,
dos fios de relva
nos negros sapatos,
quando elas se acordam
na sala de sempre,
na velha cadeira
que a morte as embala...

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijHQJvlhqycfJDE4bfzRSmkhVJ2qzDxbukXof7s2VUmf9OH440PVYYGM1HEA2uZXzjhbUSv-E3DTNn1vO2uS_Ohjc2mTpw1Ypc4ROOmR6oqXhBrpLhajNEynFYXE1AQ00MDUI1mT12AdHXyHzHReqd_OliPrf_n4RWaKVmIVcdoP1F8P3XWsv1aExz9cw/s320/CADEIRA.jpg



E olhando o relógio
de junto à janela
onde a única hora,
que era a da sesta,
parou como gota que ia cair,
perpassa no rosto
de cada avozinha.

um susto do mundo
que está deste lado...

Que sonho sonhei
que sinto inda um gosto
de beijo apressado?
- diz uma e se espanta:
Que idade terei?
Diz outra:
- Eu corria
menina em um parque...
e como saberia
o tempo que era?

Os pensamentos delas
já não têm sentido.

A morte as embala,
as avozinhas dormem
na deserta sala
onde o relógio marca
a nenhuma hora

enquanto suas almas
vêm sonhar no tempo
o sonho vão do mundo...
e depois se acordam
na sala de sempre

na velha cadeira
em que a morte as embala...

QUINTANA, Mario. Cadeira de balanço. In: Quintana, Mario. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006. p. 448-450.

Fonte: Linguagens em Interação – Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Juliana Vegas Chinaglia – 1ª edição, São Paulo, 2020 – IBEP – p. 76.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Inda: forma antiga de “ainda”.

·        Orla: borda.

·        Relva: vegetação rasteira.

·  Sesta: período de tempo após o almoço em que uma pessoa dorme ou descansa.

·        Vão: irreal.

02 – Qual é o tema central do poema "Cadeira de Balanço"?

      O tema central do poema é o ciclo da vida e a proximidade da morte, representada pela imagem das "avozinhas" que dormem na cadeira de balanço, embaladas pela morte.

03 – O que a "velha cadeira" simboliza no poema?

      A "velha cadeira" simboliza a passagem do tempo e a chegada da morte, que embala suavemente as personagens do poema, as levando de volta ao mundo dos sonhos e memórias.

04 – Como o poema retrata a percepção do tempo pelas "avozinhas"?

      O poema mostra que as "avozinhas" têm uma percepção confusa do tempo. Elas se perguntam sobre sua idade e têm lembranças difusas da infância, indicando que o tempo, para elas, é um conceito esvaído, quase irrelevante.

05 – Qual é o papel do relógio no poema?

      O relógio, que parou na hora da sesta, simboliza o tempo que se deteve para as "avozinhas". Ele representa um momento estático, onde o tempo do mundo exterior não mais importa para elas, que vivem em uma realidade onde o tempo é fluido e indistinto.

06 – O que a imagem das gotas de orvalho e dos fios de relva nos sapatos sugere sobre as "avozinhas"?

      Essas imagens sugerem que as "avozinhas" têm uma conexão com o mundo natural e talvez com memórias de um tempo passado. Elas acordam com vestígios de uma realidade diferente, como se estivessem em um limiar entre o sonho e a vigília.

07 – Como a morte é personificada no poema?

      A morte é personificada como uma força tranquila e inevitável que embala as "avozinhas" na velha cadeira, levando-as de volta ao mundo dos sonhos e ao passado, em um processo contínuo de adormecimento e despertar.

08 – Qual é a atmosfera predominante no poema?

      A atmosfera do poema é melancólica e reflexiva, com um tom de aceitação tranquila da passagem do tempo e da chegada da morte, criando uma imagem de serenidade e resignação diante do inevitável fim.

 

domingo, 23 de junho de 2024

POEMA: O AUTORRETRATO - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

 Poema: O AUTORRETRATO

              Mário Quintana

No retrato que me faço
— traço a traço —
Às vezes me pinto nuvem,
Às vezes me pinto árvore…

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3VcMz9avkEIaoBOxzl5xdc_gOvx3GmozvpAT0qaYvIo1VhnYrqPO78KXVBXqkXhMJu145y1yH2026ukhzvnYRTKUKsQACA7fKdGtNIPlVSTmoTWv7SKSLm9-HV-6VmBOb7TweVqfBkI_Bvu8LsNOhB-68sA28kSiaclgGeyunRyOjsqZ0ZWh0pDMhWfI/s320/AUTORRETRATO.jpg


Às vezes me pinto coisas
De que nem há mais lembrança…
Ou coisas que não existem
Mas que um dia existirão…

E, desta lida, em que busco
— pouco a pouco —
Minha eterna semelhança,

No final, que restará?
Um desenho de criança…
Corrigido por um louco!

 Mario Quintana. O autorretrato. In: QUINTANA, Mário. Apontamentos de história sobrenatural. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. 

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 1. Língua Portuguesa – 7º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 09.

Entendendo o poema:

01 – Você sabe dizer que tipo de texto é “O autorretrato” de Mário Quintana? Justifique sua resposta.

      Um poema, porque está escrito em versos e não é narrada nenhuma história. Aceite como corretas respostas semelhantes a essa.

02 – Do que fala o texto?

      O texto é a voz de uma pessoa dizendo pintar seu retrato com palavras. E que no final sai um desenho de criança corrigido por um louco. A ideia é que o estudante apenas parafraseia o texto.

03 – A voz que fala em textos poéticos se caracteriza como “eu lírico”. No poema de Mário Quintana, ele é percebido pelo uso de quais classes de palavras?

      Pelos pronomes pessoais e pelos verbos.

04 – Quando alguém escreve sobre si mesmo, seja na forma de poema ou na forma narrativa, temos que tipo de conteúdo?

      Autobiografia.

 

 

domingo, 9 de junho de 2024

POEMA: OH! AQUELE MENININHO - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

 Poema: Oh! Aquele menininho

             Mário Quintana

Oh! aquele menininho que dizia
“Fessora, eu posso ir lá fora?”
Mas apenas ficava um momento
Bebendo o vento azul…
Agora não preciso pedir licença a ninguém.
Mesmo porque não existe paisagem lá fora:
Somente cimento.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjADNCspiFrOPqU0HmZybv6dECeHPtZj7R1mVxL6dBLhQCKrvDmu7PWKMj2uuaESLoIEfKp0mqw70Jy22xDzxY5o1V_z7x9siOudDQ9xB1w0NPkjJAu-MTDKZPUfcoG4HR0U4ERXP2FoRu4OUdN5elhOJmD6qx91euVactFWhyjBZXxMfZZbzLBCLr9dg/s1600/MENINO.jpg


O vento não mais me fareja a face como um cão amigo…
Mas o azul irreversível persiste em meus olhos.

QUINTANA, Mario. Poema. In: FERRAZ, Eucanaã (Org.). A lua no cinema e outros poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 39. © by Elena Quintana.

Fonte: Língua Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem. Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição. São Paulo, 2016. p. 313.

Entendendo o poema:

01 – Observe o emprego do pronome me no oitavo verso e responda: quem é o “menininho” de que fala o eu lírico?

      O “menininho” é o próprio eu lírico, no passado.

02 – De que maneira se constroem as referências temporais desse poema?

      O pronome aquele estabelece a distância do passado do eu lírico e contrasta com o advérbio agora, de seu tempo presente.

03 – Em “Fessora, eu posso ir lá fora?”, encontramos uma fórmula usada socialmente, em algumas regiões, para evitar o uso de outra considerada menos educada ou meio constrangedora. Qual seria?

      O pedido para “ir ao banheiro”.

04 – Que imagem usada no poema traduz o prazer sentido pelo eu lírico ao sair para o espaço aberto e livre?

      A imagem contida em “bebendo o vento azul”.

05 – Que paisagem é construída no verso “somente cimento”? De que forma se constrói essa referência?

      O verso constrói uma imagem de obstrução e monotonia pela repetição do fonema /s/ e pela referência ao cimento, que alude às construções e cria um efeito monocromático.

06 – O verso “Agora não preciso pedir licença a ninguém” expressa uma satisfação ou insatisfação? Por quê?

      A princípio, representaria algo satisfatório, com a eliminação da autoridade que poderia impedir a realização do desejo, mas torna-se insatisfatório quando se evidencia, no verso seguinte, que a presença de uma autoridade já é irrelevante, pois as condições de realização do desejo não existem mais.

07 – Cada ocorrência de lá fora tem um sentido no poema. Quais são elas?

      No primeiro caso, trata-se de uma referência espacial: lá fora significa “fora da sala de aula”. No segundo, além da referência espacial, pode também aludir a “fora do sujeito”, fora da interioridade.

08 – Como você interpreta a imagem final, o “azul irreversível” que persiste nos “olhos” do eu lírico?

      Resposta pessoal. O “azul irreversível” pode ser interpretado como a sensibilidade da infância, o gosto pela vida, o prazer, que persistem dentro do eu lírico.