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sábado, 27 de agosto de 2022

POEMA: ROSA MURCHA - CASIMIRO DE ABREU - COM GABARITO

 Poema: Rosa murcha

              Casimiro de Abreu

Esta rosa desbotada
Já tantas vezes beijada,
Pálido emblema de amor;
É uma folha caída
Do livro da minha vida,
Um canto imenso de dor!

Há que tempos ! Bem me lembro...
Foi num dia de Novembro:
Deixava a terra natal,
A minha pátria tão cara,
O meu lindo Guanabara,
Em busca de Portugal.

Na hora da despedida
Tão cruel e tão sentida
P’ra quem sai do lar fagueiro;
Duma lágrima orvalhada,
Esta rosa foi-me dada
Ao som dum beijo primeiro.

Deixava a pátria, é verdade,
Ia morrer de saudade
Noutros climas, noutras plagas;
Mas tinha orações ferventes
Duns lábios inda inocentes
Enquanto cortasse as vagas.

E hoje, e hoje, meu Deus?!
— Hei de ir junto aos mausoléus
No fundo dos cemitérios,
E ao baço clarão da lua
Da campa na pedra nua
Interrogar os mistérios!

Carpir o lírio pendido
Pelo vento desabrido...
Da divindade aos arcanos
Dobrando a fronte saudosa,
Chorar a virgem formosa
Morta na flor dos anos!

Era um anjo! Foi pr’o céu
Envolta em místico véu
Nas asas dum querubim;
Já dorme o sono profundo,
E despediu-se do mundo
Pensando talvez em mim!

Oh! esta flor desbotada,
Já tantas vezes beijada,
Que de mistérios não tem!
Em troca do seu perfume
Quanta saudade resume
E quantos prantos também!

ABREU, Casimiro de. Rosa murcha. Lisboa, 1855. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/wk000458.pdf. Acesso em: 5 jun. 2020.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 261-2.

Entendendo o poema:

01 – Você leu o poema “Rosa murcha”, escrito por Casimiro de Abreu, poeta brasileiro que viveu no século XIX. Sabendo que o poema também fala de um beijo de amor, que pistas o uso do adjetivo murcha pode dar para o leitor?

      Uma rosa pode ser símbolo de beleza, de amor, de paixão. Uma rosa murcha é sinal de algo que acabou. O adjetivo murcha pode dar pistas de que o poema deve ser triste, melancólico, e falar de algo que morreu, que teve fim.

02 – Na primeira estrofe, a ideia do beijo está ligada a um sentimento de alegria ou de dor? Por quê?

      A ideia do beijo está ligada a um sentimento de dor, pois o poeta fala que a rosa tantas vezes beijada é agora um pálido emblema, uma folha caída. Percebe-se uma atmosfera de grande sofrimento, reforçada principalmente pelos adjetivos desbotada e caída.

03 – Em qual situação acontece o primeiro beijo do casal?

      O eu lírico recebe o primeiro beijo da amada quando está deixando o Brasil (o Rio de Janeiro, pela referência à baía de Guanabara) rumo a Portugal.

04 – O que a rosa representa nesse contexto?

      A rosa é uma espécie de amuleto, que vai fazer com que o poeta se lembre da amada e de seu beijo de despedida.

05 – Como o eu lírico se sente? Que versos explicitam esse sentimento?

      O eu lírico se sente triste, pesaroso por deixar a terra natal. Os versos “Na hora da despedida / Tão cruel e tão sentida” explicitam esse sofrimento.

06 – O que consola o eu lírico em sua viagem para Portugal?

      O eu lírico ampara-se nas orações ferventes da amada que havia fiado no Brasil.

07 – O reencontro amoroso do eu lírico com sua amada vai se concretizar? Explique.

      Não, porque a amada morreu, tornando-se inalcançável. Isso é evidenciado pelo uso de termos como mausoléus (túmulos), cemitérios, pedra nua (lápide). O eu lírico chora copiosamente, interrogando-se e questionando a morte da amada.

08 – Que visão o eu lírico tem da amada nesta última estrofe?

      A amada, depois da morte, é transformada em um anjo, em um ser sublime, etéreo: ela vai para o céu em um místico véu, nas asas de um querubim, de um anjo.

09 – O que a rosa representa neste trecho?

      A rosa representa a amada, que, por estar morta, só pode ser beijada por meio da rosa.

 

terça-feira, 12 de outubro de 2021

POEMA: MEUS OITO ANOS - CASIMIRO DE ABREU - COM GABARITO

 POEMA: MEUS OITO ANOS

            Casimiro de Abreu


Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!


Como são belos os dias
Do despontar da existência!
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor!

Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!

Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

Entendendo o poema

01.        No poema o eu lírico fala de quê?

Fala do sentimento de saudades da infância e os

elementos da natureza reforçam uma idealização tipicamente romântica.

02.               De que forma o eu lírico demonstra a sua proximidade com a natureza?

Ele retrata que viveu sua infância num lugar de belas paisagens, como mar, cachoeiras, campinas, laranjais, borboletas azuis, diz ele “céu bordado d’estrelas”.

03.   Em que versos fica perceptível que o eu lírico já não tem mais aquela felicidade plena e a inocência da infância agora está exposto às dificuldades e dores da vida adulta?

"Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais!"

04.               O eu lírico busca por meio  da volta ao passado, sua infância, como um escape. Por quê?

Por não aceitar a realidade em que se encontra.

    05. O poema de Casimiro de Abreu reflete sobre a infância, vista no texto de maneira idealizada. De acordo com o eu-lírico:

a)   A infância sempre parecerá aos olhos do indivíduo como pura e perfeita, porém logo percebe-se de que tudo é idealização.

b)   Apenas a infância vivida no campo, no meio da natureza, pode ser considerada feliz e completa.

c)   As saudades que sentimos da infância revelam nosso grau de contentamento com essa fase da vida.

d)   O modo como vivemos na infância influenciará na maneira como iremos vivenciar nossa vida adulta.

e)   O presente revela-se triste e repleto de desilusões, contrastando com um passado feliz, cheio de realizações.

 06. A palavra abaixo que pode definir a infância do eu lírico é:

a) angústia.

b) melancolia.

c) contentamento.

d) aspereza. 


07. A finalidade do eu lírico no poema é:

a) revelar sua saudade da meninice e da terra natal.

b) impactar o leitor com narrativas infelizes.

c) instruir as pessoas a valorizarem o passado.

d) idealizar a vida adulta em detrimento da infância.

08. O sentimento que o eu lírico possui pela infância que não volta mais é:

a) recordação nostálgica.

b) melancolia extrema.

c) ternura profunda.

d) consternação prazerosa.

09. Sobre o poema, assinale a opção INCORRETA.

a) O eu lírico viveu sua infância em um lugar rodeado por muita natureza. 

b) O eu lírico sente um desejo profundo de retornar ao passado. 

c) As rotinas urbanas e rurais fizeram parte da infância do eu lírico.

d) Existe um sentimento de lembranças deleitosas pelo passado.


10. O verso que melhor expressa um sentimento do eu lírico é:

a) “Como são belos os dias”

b) “À sombra das bananeiras”

c) “O céu bordado d’estrelas”

d) “Que amor, que sonhos, que flores”


11. No verso: “Naquelas tardes fagueiras”, a palavra grifada significa

a) contrariedade.

b) adversidade.

c) satisfação.

d) ansiedade.


12. Subentende-se que o eu lírico, agora adulto, está exposto a uma vida

a) simples. 

b) dolorosa.

c) agradável.

d) vultosa.


13. Um verso que dá um tom coloquial na linguagem do poema é:

a) “O céu bordado d’estrelas”

b) “À sombra das bananeiras”

c) “Que aurora, que sol, que vida”

d) “O mar é – lago sereno”


14. Os versos que revelam um sentimento de liberdade e de felicidade são:

a) “Que aurora, que sol, que vida / Que noites de melodia”

b) “À roda das cachoeiras / Atrás das asas ligeiras / Das borboletas azuis!”

c) “Eu ia bem satisfeito / Da camisa aberto o peito / Pés descalços, braços nus”

d) “Oh! dias da minha infância! / Oh! meu céu de primavera!”


15. Prosopopeia ou personificação é a atribuição de características humanas a seres não humanos ou inanimados. Um verso do poema que mostra um exemplo de personificação é:

a) “Trepava a tirar as mangas”

b) “Que os anos não trazem mais!”

c) “Que amor, que sonhos, que flores”

d) “As ondas beijando a areia”

quinta-feira, 13 de maio de 2021

SONETO: A VALSA - CASIMIRO DE ABREU - COM GABARITO

 SONETO: A VALSA

     Casimiro de Abreu

Tu, ontem,

Na dança

Que cansa,

Voavas

Co'as faces

Em rosas

Formosas

De vivo,

Lascivo

Carmim;

Na valsa

Tão falsa,

Corrias,

Fugias,

Ardente,

Contente,

Tranquila,

Serena,

Sem pena

De mim!

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

 

Senti!

Quem dera

Que sintas!...

- Não negues,

Não mintas...

- Eu vi!...

Valsavas:

- Teus belos

Cabelos,

Já soltos,

Revoltos,

Saltavam,

Voavam,

Brincavam

No colo

Que é meu;

E os olhos

Escuros

Tão puros,

Os olhos

Perjuros

Volvias,

Tremias,

Sorrias,

P'ra outro

 

Não eu!

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

Senti!

Quem dera

Que sintas!...

- Não negues,

Não mintas...

- Eu vi!...

Meu Deus!

Eras bela

Donzela,

Valsando,

Sorrindo,

Fugindo,

Qual silfo

Risonho

Que em sonho

Nos vem!

Mas esse

Sorriso

Tão liso

 

Que tinhas

Nos lábios

De rosa,

Formosa,

Tu davas,

Mandavas

A quem?!

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

Senti!

Quem dera

Que sintas!...

- Não negues,

Não mintas...

- Eu vi!...

Calado,

Sozinho,

Mesquinho,

Em zelos

Ardendo,

Eu vi-te

Correndo

 

Tão falsa

Na valsa

Veloz!

Eu triste

Vi tudo!

Mas mudo

Não tive

Nas galas

Das salas,

Nem falas,

Nem cantos,

Nem prantos,

Nem voz!

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

Senti!

Quem dera

Que sintas!...

- Não negues

Não mintas...

- Eu vi!

Na valsa

 

Cansaste;

Ficaste

Prostada,

Turbada!

Pensavas,

Cismavas,

E estavas

Tão pálida

Então,

Qual pálida

Rosa,

Mimosa

No vale

Do vento

Cruento

Batida,

Caída

Sem vida,

No chão!

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

Senti!

 

Quem dera

Que sintas!....

- Não negues

Não mintas,

- Eu vi!

ABREU, Casimiro de. A valsa. In: GONÇALVES, Magaly Trindade; THOMAS DE AQUINO, Zina. Antologia de antologias - 101 poetas brasileiros "revisitados". São Paulo: Musa, 1995. p. 228-230.

FONTE: Andrea Ebert/Arquivo da editora.

Fonte: Livro: Língua Portuguesa: linguagem e interação/ Faraco, Moura, Maruxo Jr. – 3.ed. São Paulo: Ática, 2016. p.127-128.

Entendendo o texto

1.   Os versos desse poema são bem curtos. Ao ler em voz alta o poema, que tipo de ritmo se pode perceber (rápido, lento, cadenciado)? Que sensação a leitura em voz alta desse poema provoca?

Provocam um ritmo rápido e cadenciado, que lembra a sonoridade e os movimentos de uma valsa.

2.   Que relação essa sensação pode ter, em sua opinião, com o sentido do poema e com a situação que ele procura descrever? Explique.

          Resposta pessoal.

3.   Explique o recurso que Casimiro de Abreu utilizou para representar sensorialmente o tema indicado no título do poema.

Utilizou o uso de uma cadência de palavras, que ao declamarmos a poesia somos levados pelo “ritmo ternário “do poema igual os passos de uma valsa ( 1,2,1,)

4.   O poeta  apresentou  seus versos com forma de quê?

         embalo das rimas,

         jogos de sons,

        repetições,

        frases curtas e diretas,

        pleonasmos.

5.   Como o poema está dividido?

          Possui 155 versos breves, com métrica dissilábica ( 2 ) e acento regular e divididos em estrofes combinadas de 25 versos cada uma.