Poema: Rosa murcha
Casimiro de Abreu
Esta rosa desbotada
Já tantas vezes beijada,
Pálido emblema de amor;
É uma folha caída
Do livro da minha vida,
Um canto imenso de dor!
Há que tempos ! Bem me lembro...
Foi num dia de Novembro:
Deixava a terra natal,
A minha pátria tão cara,
O meu lindo Guanabara,
Em busca de Portugal.
Na hora da despedida
Tão cruel e tão sentida
P’ra quem sai do lar fagueiro;
Duma lágrima orvalhada,
Esta rosa foi-me dada
Ao som dum beijo primeiro.
Deixava a pátria, é verdade,
Ia morrer de saudade
Noutros climas, noutras plagas;
Mas tinha orações ferventes
Duns lábios inda inocentes
Enquanto cortasse as vagas.
E hoje, e hoje, meu Deus?!
— Hei de ir junto aos mausoléus
No fundo dos cemitérios,
E ao baço clarão da lua
Da campa na pedra nua
Interrogar os mistérios!
Carpir o lírio pendido
Pelo vento desabrido...
Da divindade aos arcanos
Dobrando a fronte saudosa,
Chorar a virgem formosa
Morta na flor dos anos!
Era um anjo! Foi pr’o céu
Envolta em místico véu
Nas asas dum querubim;
Já dorme o sono profundo,
E despediu-se do mundo
Pensando talvez em mim!
Oh! esta flor desbotada,
Já tantas vezes beijada,
Que de mistérios não tem!
Em troca do seu perfume
Quanta saudade resume
E quantos prantos também!
ABREU, Casimiro de.
Rosa murcha. Lisboa, 1855. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/wk000458.pdf.
Acesso em: 5 jun. 2020.
Fonte: Língua
Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020
– editora Ática – p. 261-2.
Entendendo o poema:
01 – Você leu o poema “Rosa
murcha”, escrito por Casimiro de Abreu, poeta brasileiro que viveu no século
XIX. Sabendo que o poema também fala de um beijo de amor, que pistas o uso do
adjetivo murcha pode dar para o
leitor?
Uma rosa pode ser
símbolo de beleza, de amor, de paixão. Uma rosa murcha é sinal de algo que
acabou. O adjetivo murcha pode dar
pistas de que o poema deve ser triste, melancólico, e falar de algo que morreu,
que teve fim.
02 – Na primeira estrofe, a
ideia do beijo está ligada a um sentimento de alegria ou de dor? Por quê?
A ideia do beijo
está ligada a um sentimento de dor, pois o poeta fala que a rosa tantas vezes
beijada é agora um pálido emblema, uma folha caída. Percebe-se uma atmosfera de
grande sofrimento, reforçada principalmente pelos adjetivos desbotada e caída.
03 – Em qual situação
acontece o primeiro beijo do casal?
O eu lírico recebe o primeiro beijo da
amada quando está deixando o Brasil (o Rio de Janeiro, pela referência à baía
de Guanabara) rumo a Portugal.
04 – O que a rosa representa
nesse contexto?
A rosa é uma espécie de amuleto, que vai
fazer com que o poeta se lembre da amada e de seu beijo de despedida.
05 – Como o eu lírico se
sente? Que versos explicitam esse sentimento?
O eu lírico se
sente triste, pesaroso por deixar a terra natal. Os versos “Na hora da
despedida / Tão cruel e tão sentida” explicitam esse sofrimento.
06 – O que consola o eu
lírico em sua viagem para Portugal?
O eu lírico
ampara-se nas orações ferventes da amada que havia fiado no Brasil.
07 – O reencontro amoroso do
eu lírico com sua amada vai se concretizar? Explique.
Não, porque a amada morreu, tornando-se
inalcançável. Isso é evidenciado pelo uso de termos como mausoléus (túmulos),
cemitérios, pedra nua (lápide). O eu lírico chora copiosamente, interrogando-se
e questionando a morte da amada.
08 – Que visão o eu lírico
tem da amada nesta última estrofe?
A amada, depois
da morte, é transformada em um anjo, em um ser sublime, etéreo: ela vai para o
céu em um místico véu, nas asas de um querubim, de um anjo.
09 – O que a rosa representa
neste trecho?
A rosa representa a amada, que, por estar
morta, só pode ser beijada por meio da rosa.