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sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

POESIA: A FLOR DO MARACUJÁ - FAGUNDES VARELLA - COM GABARITO

Poesia: A FLOR DO MARACUJÁ
          
     Fagundes Varella

Pelas rosas, pelos lírios,
Pelas abelhas, sinhá,
Pelas notas mais chorosas
Do canto do sabiá,
Pelo cálice de angústias
Da flor do maracujá!

Pelo jasmim, pelo goivo,
Pelo agreste manacá,
Pelas gotas de sereno
Nas folhas do gravatá,
Pela coroa de espinhos
Da flor do maracujá!

Pelas tranças de mãe-d’água
Que junto da fonte está,
Pelos colibris que brincam
Nas alvas plumas do ubá,
Pelos cravos desenhados
Na flor do maracujá!

Pelas azuis borboletas
Que descem do Panamá,
Pelos tesouros ocultos
Nas minas do Sincorá,
Pelas chagas roxeadas
Da flor do maracujá!

Pelo mar, pelo deserto,
Pelas montanhas, sinhá!
Pelas florestas imensas,
Que falam de Jeová!
Pela lança ensanguentada
Da flor do maracujá!

Por tudo o que o céu revela,
Por tudo o que a terra dá
Eu te juro que minh’alma
De tua alma escrava está!…
Guarda contigo este emblema
Da flor do maracujá!

Não se enojem teus ouvidos
De tantas rimas em – á -
Mas ouve meus juramentos,
Meus cantos, ouve, sinhá!
Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!
                                      Fagundes Varela. Clássicos da poesia brasileira. São Paulo: O Estado de São Paulo, Klick Editora, s.d.
                                                                   Fonte:  Livro –Coleção ALET – Língua Portuguesa – 5ª Série – Editora Positivo,2007 – p. 169-0.
Entendendo a poesia:
01 – O autor utilizou repetidamente, no final dos versos, palavras acentuadas.
a)   Quais são as palavras?
Sinhá; sabiá; maracujá; manacá; gravatá; está; ubá; panamá; Sincorá; dá.

b)   Como são classificadas?
Elas classificam-se em oxítonas.

c)   Qual o efeito do recurso para o leitor?
É o ritmo provocado pela repetição da tonicidade, o que fica mais evidente se a poesia for declamado em vez de lido.

02 – Observe as palavras: Secretaria/secretária; sabia/sabiá; polícia/policia; está/esta; contrária/contraria. Qual a importância de se conhecer a sílaba tônica das palavras?
      A sílaba tônica permite a pronúncia adequada e o significado dentro do contexto em que as palavras estão inseridas.


terça-feira, 10 de abril de 2018

POEMA: NOTURNO - FAGUNDES VARELA - COM GABARITO

Poema: NOTURNO
              Fagundes Varela



Nem uma luz de esperança              Quero morrer! Não é crime
Nem um sopro de bonança               O fardo que me comprime,
Na fronte sinto passar!                      Dos ombros lança-lo ao chão;
Os invernos me despiram                 Do pó desprender-me rindo
E as ilusões que fugiram                   E as asas brancas abrindo
Nunca mais hão de voltar!                Perder-se pela amplidão!

Tombam as selvas frondosas           Vem, oh! Morte! A turba imunda
Cantam as aves mimosas                 Em sua ilusão profunda
As nêmias de viuvez                         Te odeia, te calunia,
Tudo, tudo, finando                           Pobre noiva tão formosa
Mas eu pergunto chorando               Que nos espera amorosa
Quando será minha vez?                  No termo da romaria!

No véu etéreo os planetas                Virgens anjos e crianças
No casulo as borboletas                   Coroadas de esperanças
Gozam de calma final                       Dobram a fronte a teus pés!
Porém meus olhos cansados           Os vivos vão repousando!
São de mirar condenados                 E tu me deixas chorando!
Dos seres o funeral!                         Quando virá minha vez?

Quero morre! Este mundo                Minha alma é como um deserto
Com seu sarcasmo profundo           Por onde o romeiro incerto
Manchou-me de lodo e fel!               Procura uma sombra em vão;
Minha esperança esvaiu-se             É como a ilha maldita
Meu talento consumiu-se                 Que sobre as vagas palpita
Dos martírios ao tropel!                    Queimada por um vulcão!

                                                                                                                                                                                    Fagundes Varela.
Entendendo o poema:
01 – Percebemos pela leitura do texto que o poeta NÃO:
      a) Está desesperançoso diante da vida.
      b) Passa por situações de agonia de viver causada pelas frustações e ausência de ilusões.
      c) Vê na morte a saída para a melancolia e dolorida situação por que passa.
     d) Se indigna porque a morte não o toma de vez, a ele que tanto sofre e não tem motivos para viver.
     e) Estabelece com a realidade um vínculo de afeto. Enquanto tem na sua noiva uma pessoa a quem amar.

02 – No texto, há versos cujo significado remete à morte de maneira eufemística. Dentre os que foram transcritos, um NÃO pode ser visto assim. Assinale-o:
     a) “... Gozam da calma final;”
     b) “... Do pó desprender-me rindo...”
     c) “... No termo da romaria! ...”
     d) “... Os vivos vão repousando! ...”
     e) “... Procura uma sombra em vão; ...”

03 – Sobre o texto:
     a) Explique a metáfora contida no verso 43.
      O poeta compara a sua alma a um deserto, visto que noção de vazio, solidão, dor que caminha é transportada deste para aquele.
     b) É característica da poética romântica a fuga da realidade, motivada por várias situações de vida que passam pelo sofrimento e pelas frustações. No texto não é diferente, visto que o poeta busca o infinito como saída.
Transcreva um verso no qual tal fato esteja registrado.
      “Perder-me pela amplidão.”
     c) “Viver é sofrer. Morrer é ser feliz”
Que estrofe do texto melhor comprovaria essa máxima?
      Quinta estrofe.
     d) Retire da última estrofe uma hipérbole e comente o seu emprego estilístico relacionado à projeção do eu lírico no texto.
      “Queimada por um vulcão.” – A hipérbole no Romantismo está associada diretamente à prática poética dos sentimentos exagerados.
     e) Com base no texto, relacione três características que marcaram a 2ª Geração romântica conhecida como Mal-do-século:
      - Profunda melancolia.
      - Desilusões.
      - Vontade de morrer.

04 – A presença da mulher no Romantismo comumente marca-se pela idealização e pela distância entre o poeta e ela, objeto de seu amor, tornando-a inacessível. Destaque uma passagem da primeira estrofe que comprove tal situação.
       “Perdoa-me, visão dos meus amores, / se a ti ergui meus olhos suspirando”.

05 – Na segunda estrofe, percebe-se a proximidade da morte, situação típico da Segunda Geração romântica, de que o texto é representante. A que o poeta atribuiu a sua morte?
       As dores do amor.

06 – Na terceira estrofe, o poeta acaba especificando a referida causa para a morte que se aproxima. Transcreva o verso no qual a causa esteja anunciada.
       “A dor de um desengano me devora.”

07 – Sendo o Romantismo a apologia dos sentimentos, da valorização do conteúdo, que contraste há entre este pensamento e a forma do poema?
       O texto é um soneto, forma rígida, contrastando com a valorização das emoções do autor, as quais fluem livremente.

08 – O poema é um exemplo da poesia ultrarromântica, poesia do Mal-do-século? Justifique sua afirmação.
       Tematiza o amor não correspondido e as frustações e dores. Em função disso, e como decorrência final, o sentimento de morte, a vontade de morrer.


quarta-feira, 23 de agosto de 2017

POEMA: CÂNTICO DO CALVÁRIO - FAGUNDES VARELA - COM GABARITO


 POEMA:CÂNTICO DO CALVÁRIO

Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. – Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, -- a inspiração, -- a pátria,
O porvir de teu pai! – Ah! no entanto,
Pomba, -- varou-se a flecha do destino!
Astro, -- engoliu-te o temporal do norte!
Teto, caíste! – Crença, já não vives!
(...)



Que belos sonhos! Que ilusões benditas!
Do cantor infeliz lançaste à vida,
Arco-íris de amor! Luz da aliança,
Calma e fulgente em meio da tormenta!
Do exílio escuro a cítara chorosa
Surgiu de novo e às virações errantes
Lançou dilúvios de harmonia! – O gozo
Ao pranto sucedeu. As férreas horas
Em desejos alados se mudaram.
Noites fugiam, madrugadas vinham,
Mas sepultado num prazer profundo
Não te deixava o berço descuidoso,
Nem de teu rosto meu olhar tirava,
Nem de outros sonhos que dos teus vivia!

Como eras lindo! Nas rosadas faces
Tinhas ainda o tépido vestígio
Dos beijos divinais, -- nos olhos langues
Brilhava o brando raio que acendera
A benção do Senhor quando o deixaste!
Sobre o teu corpo a chusma dos anjinhos,
Filhos do éter e da luz, voavam,
Riam-se alegres, das caçoilas níveas
Celeste aroma te vertendo ao corpo!
E eu dizia comigo: -- teu destino
Será mais belo que o cantar das fadas
Que dançam no arrebol, -- mais triunfante
Que o Sol nascente derrubando ao nada
Muralhas de negrume!... irás tão alto
Como o pássaro-rei do Novo Mundo!
(...)
                                              Fagundes Varela. In: Faccioli, V. e Olivieri, A. C.
                                                   Antologia de poesia brasileira. Romantismo.
                                                                                         São Paulo, Ática, 1985.

1 – Você percebeu que os versos do poema são totalmente irregulares, sem rima? Que nome se dá a versos assim?
      Versos brancos.

2 – O “eu-lírico” dirige-se a uma segunda pessoa (o filho). Geralmente se usa, no texto, uma figura de linguagem que o define. Qual é? Exemplifique.
      A metáfora. Exemplos: “Eras na vida a pomba predileta”; “Eras o idílio de um amor sublime”.

3 – O poema é feito, basicamente, de momentos de enlevo de um pai diante do filho recém-nascido. São momentos de expressão de felicidade. Descreva um trecho do poema que não se enquadra nessa análise.
      “Pomba, -- varou-te a flecha do destino! / Astro, -- engoliu-te o temporal do norte! / Teto, caíste! – crença, já não vives!”

4 – Extraia, da última estrofe transcrita, exemplos de uma postura romântica. Explique-a.
      “E eu dizia comigo: -- teu destino / Será mais belo que o cantar das fadas / Que dançam no arrebol, -- mais triunfante / Que o Sol nascente derrubando ao nada / Muralhas de negrume! ... irás tão alto / Como o pássaro-rei do Novo Mundo!”
      O “eu-lírico” sonha com um destino condoreiro para seu filho.

05 – Considere, nos três primeiros versos, as metáforas “pomba predileta”; “mar de angústias” e “ramo da esperança”. Explique a relação de sentido que há entre elas.
      O poeta explora a imagem da pomba que sai da Arca de Noé e voa sobre a terra transformada em mar, buscando um lugar para pousar. Nela se depositam as esperanças dos sobreviventes do Dilúvio. Consequentemente o poeta cria um eu lírico para a qual o filho era a pomba predileta, aquela que traria a esperança de um novo mundo, que o faria deixar o “mar de angústias” em que vivia.

06 – Identifique as metáforas presentes nestes versos:
        “(...) – Eram a estrada
        Que entre as névoas do inverno cintilava
        Apontando o caminho ao pegureiro.”

        Relacione essas metáforas com as metáforas destacadas no questão 5.
      O filho era a estrela. As névoas do inverno eram a vida do eu lírico. O filho indicaria o caminho a ser seguido peleou lírico, comparando ao pastor que, sem a luz da estrela, não sabe o caminho a tomar. O poeta retoma a ideia da esperança da salvação, expressão nos três primeiros versos.

07 – Identifique as antíteses presentes nestes versos:
        Pomba, -- varou-se a flecha do destino!
        Astro, -- engoliu-te o temporal do norte!
        Teto, caíste! – Crença, já não vives!”

        Explique o efeito que essas antíteses produzem no texto.
      A cada associação, segue-se uma ideia que a destrói. O filho é associado a ideia de pomba, mas é morto pela flecha do destino; é associado a ideia de astro, mas é “engolido” pelo temporal; de teto, mas cai; de crença, mas morre. Essas antíteses reforçam a ideia da desesperança que invade o eu lírico, mergulhando-o na angústia.

08 – Quem é o “gênio horrendo” a que se refere o eu lírico no verso 25?
      A morte.

09 – Explique a metáfora do último verso: “Foste o escolhido na tremenda ceifa!”
      A morte é vista como uma espécie de colheita (a “tremenda ceifa”) dos seres humanos. O eu lírico lamenta que seu filho tenha sido vítima dessa colheita.

10 – Que ironia do destino lamenta o eu lírico?
      Que a morte tenha levado quem mal tivesse nascido e tenha deixado vivo quem tanto a desejava. O eu lírico ansiava pela morte, no entanto não foi escolhido para a “tremenda ceifa”.

        


terça-feira, 16 de maio de 2017

POEMA: NOTURNO - FAGUNDES VARELA - COM GABARITO

POEMA – NOTURNO
                  Fagundes Varela 

Nem uma luz de esperança,
Nem um sopro de bonança
Na fronte sinto passar!
Os invernos me despiram
E as ilusões que fugiram
Nunca mais hão de voltar!


Tombam as selvas frondosas,
Cantam as aves mimosas
As nênias da viuvez;
Tudo, tudo, finando,
Mas eu pergunto chorando:
Quando será minha vez?

No véu etéreo os planetas;
No casulo as borboletas
Gozam da calma final;
Porém meus olhos cansados
São a mirar condenados
Dos seres o funeral!

Quero morrer! Este mundo
Com seu sarcasmo profundo
Manchou-se de lodo e fel!
Minha esperança esvaiu-se,
Meu talento consumiu-se
Dos martírios ao tropel!

Quero morrer! não é crime
O fardo que me comprime,
Dos ombros, lança-lo ao chão;
Do pó desprender-me rindo
E as asas brancas abrindo
Perder-me pela amplidão!

Vem, oh! Morte! A turba imunda
Em sua ilusão profunda
Te odeia, te calúnia,
Pobre noiva tão formosa
Que nos espera amorosa
No termo da romaria!

Virgens, anjos e crianças
Coroadas de esperança
Dobram a fronte a teus pés!
Os vivos vão repousando!
E tu me deixas chorando!
Quando virá minha vez?

Minha alma é como deserto
Por onde o romeiro incerto
Procura uma sombra em vão;
É como a ilha maldita
Que as vagas palpita
Queimada por vulcão!
                                                     Fagundes Varela, Poesia, Rio de Janeiro: Agir.

1 – No Romantismo, o tema da morte prematura e constante. No texto, que motivos o eu lírico tem pra querer morrer
       Não há mais ilusões, sonhos, esperanças que lhe dêem razão para viver.

2 – Na sétima estrofe, o poeta manifesta um sentimento de indignação. A que se deve essa manifestação interior?
       A manifestação deve-se ao fato de o eu lírico ver morrerem os que não deviam, mas a morte não o leva, e ele quer morrer.

3 – Os vocábulos “rindo” e “chorando” representam momentos distintos na exposição dos sentimentos do poeta, e constituem ideias em oposição.
a)     Que nome se dá a essa figura semântica?
Antítese.

b)    Que fundo ela exerce na expressão lírica do poeta?
A oposição entre vida e morte, sendo que a primeira o faz chorar, pois lhe traz infelicidades; a segunda traz-lhe satisfação, pois representa o fim do sofrimento.

4 – A disposição das palavras no texto pode servir para realçar elemento do plano do conteúdo. É o que acontece nos dois versos finais do trecho a seguir, em que não foi apenas para manter a estrutura de rima que o poeta usou o artifício:
                                       “Porém meus olhos cansados
                                       São a mirar condenados
                                       Dos seres o funeral!”
a)     Que nome se dá a tal recurso utilizado nesta passagem?
Inversão.

b)    Reescreva o trecho, dando-lhe a disposição considerada direta, “natural” ou “normal” segundo o padrão culto.
Porém, meus olhos cansados/são condenados a mirar o funeral dos seres.

5 – No trecho a seguir ocorre o conector e que, além de ligar partes do texto, estabelece uma certa relação semântica:
                                        “Os vivos vão repousando!
                                        E tu me deixas chorando!”
a)     Que valor semântico esse conector estabelece?
Adversidade.

b)    O trecho não teria o seu sentido alterado se substituíssemos o e por outro conector?
Mas.

6 – Há palavras que, no texto, no processo coesivo, retomam uma outra palavra. O pronome pessoal reto tu retoma que substantivo?
       Morte.

7 – Em que aspectos poéticos os textos se aproximam
       Preocupação existencial e pessimismo.