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domingo, 15 de maio de 2022

POEMA: O HAICAI - MATSUO BASHÔ - COM GABARITO

 Poema: O Haicai   

      O Haicai é uma forma fixa de poema surgida no Japão a partir de uma longa tradição, que remonta ao século VII. Em sua forma mais antiga, era a estrofe inicial de uma forma poética mais longa, mas, com o tempo, passou a ser conhecido como estrutura autônoma, independente. Na cultura japonesa, essa composição poética teve seu auge com Matsuo Bashô, poeta que viveu no século XVII e infundiu ao texto a importância da simplicidade e o olhar atento sobre a natureza.

        O Haicai japonês é constituído por três segmentos e 17 fonemas. No Brasil, tornou-se consagrada a forma proposta pelo poeta Guilherme de Almeida nos anos 1940: um poema de uma estrofe com três versos, sendo o primeiro e o terceiro compostos por cinco sílabas e rimados entre si, e o segundo verso composto por sete sílabas poéticas e rima interna entre a segunda e a sétima sílaba. Dentro de uma forma tão estrita, o haicai deve registrar a impressão de um momento e toda a reflexão que pode estar contida nele. Difícil? Veja como se saíram os poetas a seguir na elaboração de seus haicais.      

                                O ocaso

                                          Abel Pereira

                  No rio profundo

                  O sol parece outro sol

                  A emergir do fundo.

                                          PEREIRA, Abel. In: GUTTILLA, R. W.; op. cit.

                                Infância

                                          Guilherme de Almeida

                  Um gosto de amora

                  Comida ao sol. A vida

                  Chamava-se “Agora”.

                                          ALMEIDA, Guilherme de. In: GUTTILLA, R. W., op. cit.

                                O Haicai

                                           Guilherme de Almeida

                  Lava, escorre, agita

                  A areia. E enfim, na bateia,

                  Fica uma pepita.

                                           ALMEIDA, Guilherme de. op. cit.

Fonte: Livro – Viva Português 2° – Ensino médio – Língua portuguesa – 1ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2011. Ed. Ática. p. 161-3.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Bateia: recipiente com fundo em formato de cone, utilizado na exploração de pedras preciosas.

·        Emergir: aparecer, vir à tona.

·        Pepita: fragmento de metal (em geral, de ouro).

·        Ocaso: 1 – O aparente declínio de um astro no horizonte, do lado oeste; poente. 2 – O lado do horizonte onde o sol parece esconder-se; ocidente. 3 – Fim, final, limite. 4 – Que se encaminha para a ruína, queda, decadência.

02 – Que movimento aparente do sol o poema apresenta?

      O poema apresenta o pôr do sol.

03 – Como o sol é observado pelo eu lírico? De forma direta ou indireta?

      Indireta, pois ele o observa por meio de sua imagem refletida no rio.

04 – A palavra responsável pela ideia de movimento do poema é o verbo emergir. Considere o seu significado e explique o que o eu lírico vê exatamente.

      O eu lírico vê o movimento do sol refletido na água do rio, o que lhe dá a impressão de que o astro, em lugar de se pôr, surge, vem à tona de dentro da água.

05 – A visão espelhada do sol aparece na composição do poema, ou seja, ele está também presente na forma. Identifique o recurso usado pelo poeta para construir essa imagem.

      No segundo verso, a palavra sol aparece duas vezes: quase no seu início e no seu fim – “o sol parece outro sol”.

06 – Um dos sentidos da palavra ocaso, de acordo com o dicionários, refere-se a fim, final, limite, significado conotativo que enfatiza a ideia de término, normalmente atribuída a pôr do sol. Ao enxergar o sol a emergir do rio profundo, que nova interpretação o eu lírico propõe para o ocaso?

      Dependendo do ponto de vista, é possível alimentar a ilusão de que o final pode também representar um começo.

07 – Releia o poema “Infância”, de Guilherme de Almeida, observando como a intensidade das experiências da infância foi representada nesse haicai.

a)   O eu lírico destaca três dos cinco sentidos. Quais são eles? Que termos os representam?

Paladar (gosto de amora); visão (sol). Tato (ao sol).

b)   Essa intensidade é reforçada, ainda, por uma marca temporal no texto. Identifique-a e dê o significado que ela adquire no contexto.

Trata-se da palavra “Agora”, representando a despreocupação com o futuro e o envolvimento com as experiências do momento presente.

c)   O último verso apresenta um verbo no pretérito imperfeito: “chamava-se”, referindo-se à vida. Se a vida chamava-se “Agora” durante a infância do eu lírico, o que pode fazer parte do seu tempo presente?

As preocupações com o futuro, talvez a incapacidade de viver intensamente cada momento, de entregar-se de corpo aberto às experiências.

08 – Releia o poema “O Haicai”, de Guilherme de Almeida. Observe que ele compara a elaboração de um haicai à busca por uma pedra preciosa. Considere o conteúdo desse poema e a estrutura dos demais haicais deste estudo e responda: segundo o eu lírico de “O Haicai”, em que consistiria a elaboração desse pequeno poema?

      Resposta pessoal do aluno.